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ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA DISCURSIVA: UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS AMBIENTALISTAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA)

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ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA: UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS AMBIENTALISTAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA)

Lilia Paula Andrade

Doutoranda em Administração

Professora na Faculdade Presbiteriana Gammon/FAGAMMON liliapaulandrade@yahoo.com.br

Mozar José de Brito

Professor de Pós-Graduação em Administração - PPGA – UFLA Universidade Federal de Lavras – UFLA

mozarjb@dae.ufla.br

Valéria da Glória Pereira Brito

Doutora em Administração

Professora da Universidade Federal de Lavras vgbrito@prgdp.ufla.br

Odemir Vieira Baeta

Doutorando em Administração Universidade Federal de Lavras odemirbaeta@posgrad.ufla.br

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi analisar as estratégias como práticas de responsabilidade ambiental da Universidade Federal de Lavras (Ufla), tendo em vista o seu contexto macrossocial e histórico. Para essa compreensão, foi feita uma Análise Crítica do Discurso (ACD) das práticas discursivas ambientalistas desta instituição. Percebeu-se uma reprodução discursiva de elementos socialmente e historicamente construídos. Foi revelada também uma transformação discursiva que tem provocado na universidade novos efeitos a partir da década de 2000. Foi perceptível a influência tanto de características micro organizacionais como também do contexto macrossocial.

Palavras-chave: Análise crítica de discurso; Estratégia como prática; Responsabilidade ambiental.

STRATEGY AS PRACTICE: AN ANALYSIS OF OF ENVIRONMENTAL PRACTICES BY LAVRAS FEDERAL UNIVERSITY (UFLA)

ABSTRACT

This study aims to analyze strategies and environmental responsibility practices by Federal University of Lavras (Ufla), regarding their macro-social and historical context. To this end, we applied a Critical Discourse Analysis (ACD) of environmentalist’s discursive practices of this institution. The evidences indicate a discursive reproduction of social and historical elements. Furthermore, we find a discursive transformation that has caused new effects on the university since the 2000s. Finally, the results suggest the influence of both micro organizational characteristics and macro-social context.

Key words: Critical discourse analysis; Environmental responsibility; Strategy as practice.

RGSA – Revista de Gestão Social e Ambiental ISSN: 1981-982X

DOI: http://dx.doi.org/10.5773/rgsa.v10i2.1129

Organização: Comitê Científico Interinstitucional Editor Científico: Jacques Demajorovic

Avaliação: Double Blind Review pelo SEER/OJS Revisão: Gramatical, normativa e de formatação

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Estratégia como prática: uma análise das práticas ambientalistas da Universidade Federal de Lavras (UFLA) 1 INTRODUÇÃO

Com o interesse de contribuir para os estudos em estratégia como prática, foi elaborada esta pesquisa. O foco da análise se concentrou nas práticas estratégicas ambientalistas da Universidade Federal de Lavras (Ufla) e na relação destas com o contexto macrossocial e histórico em que emergiram. Foi utilizado o referencial teórico e metodológico da Análise Crítica do Discurso (ACD).

A ACD se preocupa com a forma como a estratégia emerge das interações entre os atores e seus contextos (Jarzabowski, 2005). A prática social torna-se uma abordagem relevante para se tratar as estratégias nas organizações. A estratégia não existe antes das práticas, mas é um produto delas e demanda articulação de interesses comuns e divergentes ao mesmo tempo (Tureta; Lima, 2011). Nesta dimensão, a preocupação está nas circunstâncias e no contexto organizacional (Fairclough, 2001). Portanto, uma maneira de se compreender a estratégia como prática é por meio da compreensão do discurso. Fairclough (2001) considera o discurso como sendo um momento da prática social e, por assim ser, é possível, por meio de sua compreensão, o entendimento de uma faceta da estratégia como prática.

Já a temática de responsabilidade ambiental foi escolhida para a investigação, pois tem sido amplamente discutida no atual contexto social e organizacional. Além das práticas ambientalistas serem questões de sobrevivência, elas têm se tornado também um discurso das organizações para alcançarem outros objetivos que vão além da contribuição com o planeta e a natureza. Principalmente após a década de 1990, depois de acontecidos importantes debates e conferências globais sobre o tema, este se tornou evidentemente uma estratégia das organizações. Desse modo, o discurso de “responsabilidade ambiental” passou também a fazer parte do contexto organizacional e das universidades. Tais práticas tornaram-se exigências do Estado e da sociedade. Tornou-se interesse das organizações serem reconhecidas como “ambientalmente corretas” (Faria, 2013).

A fim de compreender esta estratégia de responsabilidade ambiental na Universidade Federal de Lavras (Ufla) foram traçadas as seguintes questões norteadoras: Como a estratégia de responsabilidade ambiental da Ufla tem sido construída e reconstruída ao longo do tempo? Como os aspectos contextuais têm contribuído para a legitimação da estratégia de responsabilidade ambiental na Universidade Federal de Lavras? Quais os efeitos discursivos advindos da estratégia de responsabilidade ambiental na referida instituição? O objetivo geral é: analisar as estratégias como práticas discursivas de responsabilidade ambiental da Ufla, tendo em vista o seu contexto macrossocial e histórico.

Quanto à escolha da Ufla para a investigação da estratégia como prática de responsabilidade ambiental, esta é interessante, pois, a instituição tem sido destaque quanto às suas práticas ambientalistas. A instituição foi considerada a primeira universidade do país a estar inserida no ranking Green Metric 2012. A Ufla ficou ainda em 1° lugar do mundo entre outras 21 instituições no quesito uso e tratamento de água. Além dessas premiações, o estudo das práticas dessa instituição se torna importante visto que uma universidade pode ser comparada a uma cidade, haja vista a quantidade populacional e infraestrutura que deve possuir. Caso as práticas ambientalistas não sejam bem pensadas, uma universidade possui potencial para causar grandes danos ao meio ambiente (Tauchen; Brandl, 2006; Jabbour, 2010).

Este trabalho preenche uma lacuna existente na área de estratégia como prática, visto que não foram encontrados trabalhos com objetivos, fundamentações e metodologias semelhantes às escolhidas para a realização desta pesquisa. Portanto, esse artigo contribui para a compreensão da temática da estratégia como prática, e ainda pode motivar outras pesquisas a compreenderem a estratégia de responsabilidade ambiental considerando o contexto em que emergiu. Whittington (2006) e Jarzabowski e Spee (2009) ressaltam que esta área ainda precisa de contribuições. São necessários estudos que considerem a estratégia em relação e em interação com o seu contexto.

Da mesma maneira, também o papel da história tem sido, até então, ausente na literatura em estratégia como prática. É preciso compreender a estratégia no contexto temporal, de modo que é

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relevante uma postura dialógica com o passado. A dimensão histórica deve ser considerada viva e capaz de moldar as atividades orientadas para o futuro. São necessários estudos que direcionem o interesse para a questão ontológica do ser humano, de maneira dialógica com a tradição, e considerando as conexões com o mundo a as relações com outras pessoas (Ericson; Melin, 2010).

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este estudo está intimamente ligado ao surgimento e a evolução da preocupação mundial em torno dos assuntos ambientalistas e à compreensão do contexto macrossocial e histórico em que se insere a Ufla. Por esse motivo, as seções que configuram este referencial são: as conceituações de estratégia como prática, o surgimento do discurso de responsabilidade ambiental e como este tem sido utilizado pelas universidades e, por fim, a apresentação do lugar da pesquisa.

2.1 Estratégia como prática: uma visão sobre a estratégia

O movimento que culminou no surgimento desta abordagem derivou dos estudos da teoria social, desenvolvidos nos anos 1980, e foram inspirados em teóricos como Bourdieu, Giddens e Focault (Walter; Augusto; Fonseca, 2011).

O primeiro estudo sobre esta abordagem data de 1996, em Whittington (2006) e, no Brasil, a primeira publicação teórico-empírica foi encontrada apenas seis anos depois (Walter; Augusto, 2012). Whittington (2006) enfatizou que o campo da pesquisa em estratégia possui diversas teorias, entretanto a “nova” abordagem representaria a possibilidade de os pesquisadores e profissionais em Administração andarem por “novos caminhos” até então pouco explorados. O foco dessa abordagem ocorre no entendimento da estratégia como um bem social e prático. Apesar da existência de diversos trabalhos que objetivam compreender a estratégia sob a perspectiva da prática social, é possível identificar lacunas e carências nas pesquisas sobre estratégia como prática social (Jarzabowski; Spee, 2009).

Cabe salientar que, embora já se encontrem muitos métodos inovadores para a investigação das práticas sociais, grande parte dos estudos em estratégia como prática social não rompeu, de fato, com as perspectivas tradicionais e racionalistas do processo estratégico (Chia; Mackay, 2007; Jarzabowski; Spee, 2009; Albino et. al., 2010). Falta-se ainda a compreensão das estratégias inseridas em seu contexto macrossocial e histórico.

Então, é necessário destacar que neste artigo são dispendidos esforços para que a estratégia seja compreendida como uma prática socialmente e historicamente construída; e que recebe influências e é capaz de influenciar o contexto macro e micro organizacional em que emergem as práticas.

2.2 Discurso de responsabilidade ambiental: dos primórdios à atualidade

O desenvolvimento desta temática no Brasil se deu após a chegada da família real em 1808, quando trabalhos dos naturalistas europeus se estenderam ao país. Neste momento, o foco das práticas ambientalistas era acerca da preservação e conservação de áreas paisagísticas (Afonso, 2006).

Ao final da década de 1950, se discutiam questões ambientais, entretanto não eram discutidas políticas a esse respeito, mas apenas questões ligadas à ciência. Já em 1960, iniciou-se a mudança de cenário visto que surgiram movimentos sociais, tal como o movimento hippie, que representou nesta época uma mudança de valores sociais. Além deste movimento hippie, surge também o movimento dos ambientalistas (Afonso, 2006; Lima, 2003). Os envolvidos neste movimento estavam preocupados com o contexto em que se dava o desenvolvimento da industrialização e urbanização, após a Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, Faria (2013) afirma que embora este discurso tenha chamado atenção de uma parcela da sociedade, ele não era um

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discurso hegemônico sendo propagado principalmente por ambientalistas e organizações não-governamentais e era secundário para a maioria das organizações.

A partir da década de 1960, com a divulgação das catástrofes mundiais, foram criadas conferências internacionais, tais como a Conferência da Biosfera em 1968 e a Conferência de Estocolmo em 1972. Estas conferências propiciaram o surgimento de discussões que tiveram consequências também para o Brasil, tanto que nos anos 1980, foram aqui promulgadas leis federais e estaduais de proteção ambiental.

Os anos 1990 foram marcados por discussões ambientais ainda mais intensas. Era ressaltado que seria papel das organizações contribuírem com ações para promover o desenvolvimento sustentável (Kavinski, 2009). Foi então que o discurso de desenvolvimento sustentável passou a fazer parte do ambiente organizacional e se tornou um discurso “estratégico”. Como consequência da intensificação dessas discussões, surgiram normatizações que tinham como finalidade a padronização de práticas de gestão ambiental como, por exemplo, as normas ISO 9000 e 14000 (Faria, 2013).

Como apontado por Brito (2013) e Faria (2013), a década de 1990 foi marcante para que o discurso de sustentabilidade se tornasse hegemônico, ou seja, para que passasse a ser amplamente aceito e legitimado no âmbito organizacional. Um dos eventos que marcou este período, foi a realização da Rio-92. Esta conferência reforçou parte dos debates acontecidos na Conferência de Estocolmo e, ao mesmo tempo, reforçou que todos possuem interesses, mas as ações devem ser realizadas em prol de um mesmo sistema global (Oliveira, 2012; Faria, 2013). Foi a partir daí que o discurso de desenvolvimento sustentável se consolidou como preocupação de alguns órgãos, tais como o governo, as empresas, universidades e associações civis.

Quanto ao desenvolvimento do discurso de responsabilidade ambiental na década de 2000, este continuou com novas conferências e discussões. Surgiram propostas como a Rio + 10 em 2002 e Rio +20 em 2012. Apesar dessas novas discussões, Guimarães e Fontoura (2012) fizeram uma análise de discurso dos acontecimentos e documentos da Rio + 20 e concluíram que o discurso e as práticas econômicas ainda são predominantes e se sobressaem no discurso de sustentabilidade. Assim as organizações, apesar de se posicionarem como sustentáveis, não desejam modificar suas práticas relativas à produção, distribuição e gestão de seus produtos.

Depois traçar esse panorama do contexto macrossocial de desenvolvimento do discurso responsabilidade ambiental, é necessário apresentar como tem sido discutida essa temática nas organizações universitárias.

2.3 O discurso de Responsabilidade Ambiental nas universidades

As práticas de responsabilidade ambiental e social nas universidades têm se tornado uma preocupação comum em diversos países e entre instituições públicas e privadas. As universidades possuem a capacidade de causar impactos ao meio ambiente, e, ao mesmo tempo, possuem uma condição singular de atuar na formação e na aplicação prática de atitudes sustentáveis e em favor do meio ambiente.

A sustentabilidade nas universidades tem se tornado uma preocupação mundial para os planejadores das universidades. Esse debate também tem se intensificado pela pressão governamental, das agências de proteção, dos movimentos de sustentabilidade, bem como pelo ativismo estudantil de Ongs (Cole, 2003; Alshuwaikhat; Abubakar, 2008; Nejati et. al, 2011). Alshuwaikhat e Abubakar (2008) enfatizam que, em 2000, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos emitiu um alerta que explicou que as faculdades e universidades estavam utilizando-se dos mesmos padrões que a indústria em relação às questões de saúde humana e do meio ambiente. Também Nejati et. al (2011) e Mason et. al (2003) afirmam que as instituições de ensino nem sempre colocam em prática o discurso de responsabilidade ambiental que sempre é pregado nos seminários e nas conferências. Portanto alcançar a sustentabilidade nas universidades não tem sido uma tarefa fácil (Alshuwaikhat; Abubakar, 2008).

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Assim como o surgimento do discurso de responsabilidade ambiental também a preocupação das universidades em torno desta temática tem se intensificado e desenvolvido desde a declaração de Estocolmo em 1972 que foi a primeira a fazer referência para a sustentabilidade no ensino superior e reconheceu a interdependência entre a humanidade e o meio ambiente (Alshuwaikhat; Abubakar, 2008). Em 1990, mais de 300 administradores de universidades em mais de 40 países assinaram o Talloires, declaração de um plano de ação de 10 pontos que incorporaram a sustentabilidade no ensino, pesquisa e extensão das universidades. Um ano mais tarde, em Halifax no Canadá, administradores universitários chamaram a atenção para a contínua degradação do meio ambiente. Durante a Declaração de Swansea em 1993, os participantes de mais de 400 universidades buscaram juntos encontrar formas pelas quais as universidades poderiam se unir para implantarem recursos para responderem adequadamente ao desafio de encontrar o equilíbrio entre a busca humana por razões econômicas e o desenvolvimento tecnológico e preservação ambiental. Como resultado, várias universidades começaram a incorporar a sustentabilidade em seus sistemas. Estas iniciativas estavam baseadas nos objetivos da gestão universitária (Nejati, et. al, 2011; Alshuwaikhat; Abubakar, 2008; Mason et. al, 2003).

Cole (2003 p.30) enfatiza que uma universidade sustentável é aquela que “[...]age de acordo com suas responsabilidades locais e globais para proteger e melhorar a saúde e bem-estar dos seres humanos e ecossistemas”. Para tanto uma universidade deve se envolver ativamente no conhecimento da comunidade universitária para resolver os desafios sociais enfrentados na atualidade e no futuro.

Para Alshuwaikhat e Abubakar (2008), um campus sustentável deve ser ambientalmente saudável, deve ter economia de energia, deve buscar a conservação de recursos, redução de resíduos e promover a equidade e justiça social em seus assuntos. Existe um entendimento comum na literatura que um campus sustentável implica um melhor equilíbrio entre objetivos econômicos, sociais e ambientais na formulação de políticas e deve ainda ter uma visão de longo prazo. A sustentabilidade afeta todas as esferas de uma universidade, a partir das salas de aula, dos laboratórios e todos os serviços dentro do campus (Alshuwaikhat; Abubakar, 2008).

A responsabilidade ambiental é um pré-requisito para a sobrevivência e prosperidade do ser humano. As questões ambientais estão diretamente ligadas aos direitos humanos, ao envolvimento da comunidade e desenvolvimento de outros temas de responsabilidade social (Nejati et. al, 2011).

Tem sido desenvolvido estudos tendo como foco as práticas de responsabilidades ambientais, tais como Nejati et. al (2011), que destacaram as ações de dez universidades que têm sido exemplos ao redor do mundo. Eles concluíram que a adoção dessas práticas tem contribuído para a criação de um ambiente de compreensão mútua, e ainda servido de exemplo para outras organizações e para a sociedade como um todo.

A fim de compreender essas práticas no estudo desenvolvido neste artigo é importante apresentar o local escolhido para a investigação, ou seja, a Universidade Federal de Lavras (UflA).

2.4 Universidade Federal de Lavras: o local onde se desenvolveram as práticas ambientalistas

A Universidade Federal de Lavras (Ufla) está localizada sul de Minas Gerais na cidade de Lavras/MG. A universidade possui hoje 23 cursos de graduação presenciais e 5 de graduação a distância (Universidade Federal de Lavras, 2014).

No ano de 1908, ela foi fundada pelo presbiteriano norte-americano Samuel Rhea Gammon, como Escola Agrícola de Lavras (EAL). No ano de 1917, foi reconhecida pelo estado de Minas Gerais e, em 1938, passou a se chamar Escola Superior de Agricultura de Lavras (Esal). Na década de 1960, a instituição que até então era privada, entrou em uma crise administrativa e financeira e em meio a muitas reivindicações foi federalizada e passou a pertencer ao Estado. Na década de 1970, foram criados os primeiros cursos de pós-graduação stricto sensu e, em 1989, o primeiro doutorado. Já na 1990 foram firmados convênios com instituições internacionais e, em 1994, a Esal

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Estratégia como prática: uma análise das práticas ambientalistas da Universidade Federal de Lavras (UFLA)

foi transformada em Universidade Federal passando a se chamar Universidade Federal de Lavras (Ufla). No entanto, foi apenas na década de 2000 que este status foi consolidado, quando a universidade aderiu a Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e passou a contar com mais fontes financiadoras e a atuar em outras áreas do conhecimento além das ciências agrárias.

A Ufla foi considerada, em 2012, a primeira, com o maior Índice Geral dos Cursos, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), entre as universidades de Minas Gerais e 3° entre as universidades brasileiras (Universidade Federal de Lavras, 2014). Desde a criação da instituição, a universidade se encontra em expansão. Quanto às práticas ambientalistas, a Ufla é hoje considerada referência nacional de organização sustentável. Em 2008, a instituição criou o Plano Ambiental e Estruturante, que tem transformado as práticas ambientalistas na organização. Tal Plano tem recebido transformações e contribuído para as mudanças nas práticas da Ufla. Esse é um dos principais motivos que justifica a escolha desta organização como o lugar de realização desta pesquisa.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Antes de detalhar as principais escolhas metodológicas da pesquisa, é necessário explicar e apresentar as especificidades do referencial teórico e metodológico escolhido para essa pesquisa, ou seja, a Análise Crítica do Discurso (ACD).

3.1 Análise Crítica do Discurso: o referencial teórico e metodológico escolhido

A Análise Crítica do Discurso (ACD) surgiu em resposta às abordagens que se concentravam nos aspectos microlinguísticos do discurso, negligenciando os aspectos sociais ou macro (Phillips, Sewell e Jaynes, 2008). Foi criada tendo em vista o caráter interdisciplinar e sua relação com a mudança social (Fairclough 2001; 2005; Ramalho; Resende, 2011).

Para a ACD, é importante se relacionar o nível micro da utilização da linguagem com o nível macro do contexto e estrutura social. A linguagem pode ser moldada pelas estruturas sociais e pode também transformar essas estruturas (Phillips, Sewell e Jaynes, 2008). Para a compreensão da ACD, é necessário entender que o discurso pode ter orientações de ordem econômica, ideológica, cultural ou política (Fairclough, 2001; 2005). É necessário compreender que a linguagem como prática social envolve a compreensão da linguagem como um modo de ação historicamente situada. Neste tipo de pesquisa, a subjetividade e interpretação do pesquisador são partes da pesquisa (Fairclough, 2001; 2005).

Para a compreensão da ACD é preciso explicar o modelo tridimensional proposto por Fairclough (2001). Este é constituído por três dimensões: o texto, as práticas discursivas e as práticas sociais. No entendimento de Diniz (2012), a compreensão do nível textual envolve o entendimento do que está presente e ausente no texto. Torna-se relevante a compreensão das relações de sentido entre elementos do texto e suas relações lexicais e gramaticais. Já as práticas discursivas e sociais, estas fazem interação com o contexto externo ao texto. Compreender as práticas discursivas é compreender a relação do texto com o contexto. É possível entender porque são selecionadas determinadas possibilidades linguísticas em detrimento de outras.

Já as práticas sociais, para essa autora, exigem a observação de informações reveladas e estabelecidas pelas análises textuais e discursivas. Percebe-se neste último nível como os argumentos são legitimados, reproduzidos e transformados. Trata-se da relação entre o nível particular e o universal. Qualquer exemplo de discurso pode ser considerado simultaneamente um texto, uma prática discursiva ou uma prática social. Estes níveis não podem ser compreendidos de maneira isolada e se apresentam inter-relacionados (Fairclough, 2001).

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3.2 A definição do corpus e as escolhas metodológicas

Este estudo foi caracterizado como o tipo de pesquisa qualitativa circular. Spradley (1980) ressalta que pesquisa circular é aquela em que os objetivos, problemas e métodos são constantemente revistos durante o processo da pesquisa. Ainda de acordo com este autor, essa característica é comum nas pesquisas qualitativas. Em todas as etapas foram constantes as modificações nas pressuposições iniciais e, até mesmo, a reformulação dos objetivos de pesquisa. Quanto ao corpus (material escolhido para a análise discursiva), foram considerados pertinentes para a constituição do corpus desta pesquisa, documentos relacionados à estratégia de responsabilidade ambiental e também ao contexto social e histórico da universidade, tais como Plano Ambiental e Estruturante, Plano de Desenvolvimento Institucional, jornais, símbolos, notícias, vídeos institucionais, políticas educacionais e leis. Esses documentos foram importantes, pois fornecerem informações sobre a história, as práticas de responsabilidade ambiental e a compreensão do ambiente macrossocial.

Houve também a ampliação do corpus pela realização de cinco entrevistas. A entrevista, nesse caso, foi tida como prática discursiva, pois foi necessária sua compreensão como uma ação e forma de interação (Pinheiro, 2004). Considerou-se que a entrevista acontece em um contexto e está em uma relação constantemente negociada. Quanto à seleção desses entrevistados, Fairclough (2001) sugere que podem ser entrevistadas pessoas envolvidas como participantes na composição do corpus, não somente para estimular suas interpretações sobre, mas também como uma oportunidade para o (a) pesquisador (a) experimentar novos problemas. Portanto, foram selecionados a fazer parte da pesquisa, três servidores públicos envolvidos no processo de construção Plano Ambiental e Estruturante da Ufla e dois ex-funcionários da instituição que participaram do processo de construção das práticas de responsabilidade ambiental desde as décadas de 1950 e que, portanto, ajudaram na compreensão do contexto macrossocial e histórico em que esta estratégia emergiu.

As entrevistas foram guiadas por um roteiro a fim de nortear a conversação e os entrevistados deixados à vontade para compartilharem as informações que considerassem pertinentes. Quanto ao local de realização das entrevistas, três delas aconteceram no trabalho dos entrevistados e as outras duas nas residências dos ex-funcionários. As entrevistas foram gravadas e transcritas.

Para a apresentação dos resultados, foram utilizadas algumas siglas para facilitar a compreensão das análises. Os documentos analisados foram denominados como: texto 1, texto 2, texto 3 e texto 4 de acordo com a ordem de apresentação neste artigo. Do mesmo modo os entrevistados foram denominados de En (entrevistado) 1, En 2, En 3, En 4 e En 5.

Após a coleta dos documentos e realização das entrevistas buscou-se compreender como foi construída a estratégia de responsabilidade ambiental na Ufla. Para tanto, foram confrontados os discursos disponibilizados nos documentos bem como aqueles obtidos pela realização das entrevistas. Deve-se destacar que a interpretação do pesquisador esteve presente em toda a investigação. Fairclough (2001) ressalta que a interpretação e subjetividade é uma característica própria da ACD e ainda que neste tipo de investigação não é possível se delinear claramente cada procedimento da pesquisa, mas trata-se do tipo de pesquisa que se aprende a fazer fazendo.

Portanto, as informações foram analisadas conforme as recomendações de autores, tais como Fairclough (2001; 2005), Diniz (2012) e Phillips, Sewell e Jaynes, (2008). Esses resultados são apresentados nas próximas três seções deste artigo.

4 RESULTADOS

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Estratégia como prática: uma análise das práticas ambientalistas da Universidade Federal de Lavras (UFLA)

As práticas de responsabilidade ambiental sempre estiveram presentes na UFL, ainda que apenas como tema relacionado ao ensino e à formação profissional. A própria especialidade das ciências agrárias, que, apesar da conotação de exploração, também surgiu juntamente com práticas discursivas de manutenção e utilização correta dos recursos naturais.

Tais evidências foram encontradas nos dois primeiros discursos analisados, ou seja, nos textos 1 e 2. O texto 1 foi escrito pelo fundador da escola que originou a Ufla em 1908 e o texto 2 por ex-dirigentes da instituição em 1936. O texto 1 versa sobre a criação da Escola Agrícola e o segundo sobre o seu desenvolvimento até então. Em ambos os documentos são utilizados termos lexicais próprios do meio ambiente com o objetivo de comparar a criação e o desenvolvimento da instituição com o da natureza. É comum a utilização de metáforas para representar uma parte do mundo, sendo estendidas para outro (Misoczky, 2005). Para se fazer tal aproximação foram utilizadas metáforas como: “nutrir”, “desfrutar”, “frutos”, “folhagens vistosas”, “floração” e “ramificações”.

Foram reconhecidos elementos que evidenciam a também existência de práticas discursivas de exploração na história da Ufla. Portanto, enunciados como: “aproveitar as riquezas naturais da terra”, “clima salubre e favorável”, “desfrutar essas ricas dádivas da generosa providência”, “depuração das raças” e “optimos frutos” também apareceram nos textos referidos. Para Thomas (1989), civilização e exploração tiveram, ao longo da história da humanidade, significados semelhantes. Essa relação foi percebida, no texto 2, quando é afirmado que os profissionais formados pela EAL proporcionavam à “[...]terra os elementos do progresso, decorrentes de sua inteligência, da sua cultura científica, do seu esforço e do seu patriotismo”.

Outra característica que reforça a tentativa discursiva de aproximação da instituição à natureza, foi encontrada no texto 2. Neste texto, o sucesso no desenvolvimento da escola é comparado ao desenvolvimento de uma “boa árvore” de ótimos frutos. É destacado que a instituição propiciou com que todo o “Brasil colhesse os mais benéficos resultados da educação”. Dentre esses benefícios estava “o enriquecimento do povo sem se depauperar o solo”. Fica implícita, nesse enunciado a importância das ciências agrárias e, sobretudo da EAL (Escola Agrícola de Lavras), para a modificação de práticas erradas de agricultura, comuns até então. Observa-se que o discurso ambiental não é introduzido na Ufla apenas na década de 2000, quando se torna hegemônico. Tanto em 1908 quanto em 1936 já existia um esforço dos dirigentes em convencer, por meio de recursos linguísticos, sobre a relação desta escola com o meio ambiente. Hoje, nas práticas discursivas da instituição, tais recursos linguísticos ainda são utilizados. No hino e na logomarca da instituição, o uso desses recursos também foi percebido.

No hino da Ufla, ou texto 3 como é denominado neste artigo, são empregados os mesmos recursos linguísticos dos textos 1 e 2. Foi comum a utilização de vocabulários do mesmo campo lexical com a finalidade de rememorar a história da universidade. Utilizou-se das metáforas: “semear”, “frutificar”, “nutrir” e “profunda raiz”. O enunciado “Ufla verde coração” torna evidente a intenção do enunciador em afirmar que o meio ambiente fez parte do surgimento e continua sendo considerado elemento vital para a organização.

Em contrapartida, assim como nos textos 1 e 2, também no 3 a ideia de exploração também foi encontrada. Tal evidência acontece já nas duas primeiras frases do texto, quando se afirma que os presbiterianos que vieram de terras distantes, “desbravando o grande sertão” e que ao lado do “homem do campo” promoviam o “desenvolvimento rural do país”. Ao mesmo tempo em que se admite que foi objetivo “desbravar o grande sertão”, também existe um esforço do enunciador em adotar recursos linguísticos que aproximam a instituição à natureza. Já a logomarca da instituição, ou texto 4, esta foi construída nas cores verde e azul. Tendo-se em vista a discussão já levantada, é possível relacionar a escolha destas cores às evidências discursivas já analisadas nos textos 1, 2 e 3 que é a de relacionar a organização de ensino ao meio ambiente.

Percebeu-se nos textos, até então analisados, características comuns de exaltação da natureza e também de busca por legitimação de práticas de exploração. Apesar disso, os entrevistados desta pesquisa revelaram em seus discursos que práticas sustentáveis existentes na Ufla hoje, são

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resultado não apenas das últimas décadas, mas de um passado construído socialmente e carregado por símbolos e discursos que têm legitimado a imagem da universidade como amiga do meio ambiente. Entretanto, nestes mesmos discursos obtidos pela transcrição das entrevistas e também naqueles presentes nos documentos estratégicos da Ufla houve indícios de momentos em que a instituição praticava ações prejudiciais à natureza e ao uso de seus recursos.

Quanto à evidencias do discurso de instituição parceira do meio ambiente, tais características têm sido encontradas nas práticas de: criação de jardins ao redor dos prédios e plantio de determinados tipos de árvores. Essas ações sempre estiveram presentes na EAL, Esal e hoje Ufla. Essa evidência foi compreendida na década de 1960, quando ocorreu um dos eventos mais importantes da instituição, a federalização. O cenário da Esal neste momento foi descrito por En 1: [...]e eu me lembro bem quando um dos professores que usou da palavra teve a coragem de dizer: vocês podem fechar as portas da Esal, mas nós iremos dar aulas debaixo das mangueiras e das árvores aos alunos, para que essa escola não se feche” (Relato de entrevista. En 1).

No relato de En 1, destaca-se um cenário composto por “mangueiras e árvores”. Estas eram características marcantes da escola no período pronunciado. De modo semelhante, En 3, destaca que essa característica, mencionada na década de 1960, sempre fez parte da instituição. Tanto que assim se expressou: [...] “isso aqui é um bosque! Por quê?! Plantamos ontem?! Não”.

Apesar de ser observada a continuidade das práticas discursivas de preservação e conservação na Esal, até a década de 1960 não foi percebida nenhuma transformação significativa daquelas já iniciadas pelos presbiterianos. Do surgimento da instituição, até a década de 1960, as principais influências contextuais que continuaram marcando o discurso ambientalista da EAL foram os valores dos fundadores, a especialidade das ciências agrárias e, também, o potencial agrícola da região. Em síntese, as principais práticas até então, estavam relacionadas às atividades de arborização e o culto à natureza. Vale lembrar que foi nesse período que os principais problemas ambientais começaram a acontecer em âmbito global.

A despeito de ainda não ser um discurso hegemônico nas organizações, essa discussão mundial iniciada na década de 1960 teve reflexos na Esal. Exemplo disso foi a criação do curso de Engenharia Florestal, na década de 1980, para atender a uma demanda criada pela Lei n° 5.106, de 1966, e pelo Decreto Lei n°1.134, de 1970 (Brito; Von Pinho, 2008). Já foi preocupação do Estado, nas décadas de 1960 e 1970, o incentivo ao reflorestamento. Esse incentivo se dava por meio da diminuição de impostos para os produtores rurais que provassem que investiam em tais práticas. A década de 1960 marcou um novo momento na história humana: o da preocupação com os rumos do desenvolvimento próprio da sociedade industrial (Kraemer, 2004). Até então, o foco das organizações era o de contribuir para a industrialização e o desenvolvimento econômico dos países.

4.2 A introdução do discurso de responsabilidade ambiental como estratégia

Até a década de 1990, apesar de a Esal já oferecer novos cursos e desenvolver pesquisas ligadas à preservação ambiental, ainda não eram institucionalizadas as modificações em suas práticas. A seguinte narrativa demonstra que todas as ações acontecidas antes da década de 2000 eram ações isoladas. En 4 relata que “[...] antes da década de 2000, havia ações isoladas de professores que trabalhavam em determinadas áreas que já fazia alguma coisa voltada para o meio ambiente” (Relato de entrevista. En 4). O objetivo do relator foi dizer que acontecia na instituição uma ou outra ação voltada para o meio ambiente. No enunciado “alguma coisa”, o enunciador não soube, ou não achou importante dizer que ações eram essas já desenvolvidas.

A intensificação das práticas de responsabilidade ambiental na Ufla passou a ocorrer apenas no final da década de 2000. Foi nesse período que a instituição se tornou de fato universidade, passando a contar com fontes financiadoras diversificadas e a atuar em outras áreas do conhecimento além das ciências agrárias. A obtenção de recursos permitiu que investimentos fossem realizados de modo a fortalecer o conjunto de práticas constitutivas da estratégia de responsabilidade ambiental.

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Estratégia como prática: uma análise das práticas ambientalistas da Universidade Federal de Lavras (UFLA)

Além disso, desenvolver-se sustentavelmente tornou-se um imperativo para que a instituição pudesse manter o seu crescimento, não apenas no momento de implantação do Reuni, mas, também, em longo prazo. Percebeu-se que se as medidas ambientais não fossem tomadas na Ufla, a instituição teria potencial para causar grandes impactos ao meio ambiente.

A primeira ação que representa essa modificação no discurso ambientalista da Ufla foi a própria introdução do Plano Ambiental e Estruturante. Para um dos entrevistados, o plano ambiental foi criado juntamente com o Reuni, para que a universidade pudesse [...] “crescer e crescer ambientalmente correta, sem agredir o meio ambiente” [...] (Relato de entrevista. En 4). Fica, portanto, implícito que, se não houvesse “planejamento”, o desenvolvimento e o crescimento da organização, juntamente com o cuidado do meio ambiente ficariam prejudicados.

Dentre os motivos que impulsionaram essa mudança no discurso ambientalista estava “[...] sanar problemas do passado [...]” (Relato de entrevista. En 5). Percebe-se que apesar de existirem práticas de “responsabilidade ambiental” na instituição, desde o seu surgimento, existiam algumas práticas consideradas incorretas. Portanto, essas ações deveriam ser “sanadas”.

Existiam problemas, tais como áreas degradadas, voçorocas, utilização de fossas como armazenamento de esgoto, não existência de tratamento de resíduos químicos e utilização incorreta de energia elétrica. Ao longo do desenvolvimento da EAL, Esal e Ufla as práticas ambientais incorretas eram comuns. En 4 afirma que quando chegou na universidade “Deu vontade de chorar”. Obviamente, En 4 não quis dizer que “chorou”, no sentido próprio da palavra, entretanto, o objetivo foi deixar claro seu espanto quando chegou à instituição. Esse espanto, ao narrar eventos passados, chama ainda mais a atenção para o fato de que todas essas ações tenham sido corrigidas. Esses problemas são tratados como se já não mais existissem, conforme destacado nos relatos “[...] Então, nós tampamos esse buraco, plantamos em cima... Então, ele nem existe mais”; [...] “a gente cercou a Ufla, nós conseguimos recuperar essas áreas degradadas[...] [...] “todas as áreas foram tratadas [...]” [...](Relato de entrevista. En 4). Nota-se que o objetivo foi enfatizar que todas as práticas corretivas foram adotadas para sanar os problemas do passado.

A década de 2000 é também marcada na instituição, como o momento em que ela iniciou a reprodução do discurso gerencialista da Administração Pública, iniciado em 1995 com a Reforma do Estado. A adoção desse novo discurso explica a criação tanto do Plano Ambiental como também do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2004-2010/ 2011-2015. Neste último tem sido delineada as principais ações estratégicas bem como a missão da universidade. Quando se analisa a missão da Ufla nota-se o compromisso firmado de que a instituição deve contribuir para o “desenvolvimento social, econômico e ambiental de nosso país” (Universidade Federal de Lavras, 2011 p. 17).

Este mesmo compromisso é novamente evidenciado quando são apresentados neste mesmo documento os objetivos de Pesquisa, Extensão e Cultura. É relacionado às atividades de Pesquisa o objetivo de: formar “[...]grupos de pesquisa voltados para o desenvolvimento sustentável da sociedade[...]”; do mesmo modo é objetivo das atividades relacionadas à Extensão e Cultura promoverem “[...]o desenvolvimento cultural, socioeconômico e ambiental da sociedade” (Universidade Federal de Lavras, 2011 p. 17).

Na última frase desse mesmo enunciado, é evidenciada a influência do discurso presbiteriano, quando afirma que todas as ações tratadas anteriormente serão amparadas na “forte cultura de respeito ao meio ambiente”. O modalizador “forte” é utilizado para dar ênfase a uma cultura já existente e expressiva na instituição, de “respeito ao meio ambiente”. Como já tratado na primeira seção destes resultados, essa cultura foi implantada pelos presbiterianos fundadores da Instituição Federal de Ensino Superior (Ifes). O enunciador recorreu a um discurso consolidado historicamente para legitimar as atuais práticas de responsabilidade ambiental.

A análise do discurso evidencia que muitas das ações e práticas organizacionais realizadas na Ufla são orientadas por princípios que regem a lógica da “responsabilidade ambiental”. Tais características foram abordadas com intensidade em todo o corpus analisado.

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A redução de custos também integra o discurso e as práticas de sustentabilidade desenvolvidas na Ufla. De acordo com En 2, na Ufla depois de iniciada a gestão ambiental tem sido visível “um retorno, financeiro, e principalmente ambiental”. Portanto, outro fator que propiciou a emergência do discurso de responsabilidade ambiental na referida organização foi a economia dos custos. Além disso, observa-se que estas práticas discursivas produzem diversos efeitos organizacionais que contribuem para a consolidação dessa estratégia.

Em um dos enunciados do PDI 2011-2015 é destacado que “[...] A continuidade e aprimoramento dos processos ambientais, em curso na Ufla, também devem ser considerados como prioritários [...]” (Universidade Federal de Lavras, 2011, p.48). São utilizados os marcadores de pressuposição “continuidade” e “aprimoramento” e, pela análise de ambos, é possível pressupor que na Ufla já existem os “processos ambientais” que tratam o enunciador. O operador argumentativo “também” vem somar argumentos que fazem parte de uma mesma classe, afirmando que esses processos já existentes deverão ser “considerados prioritários”. Posteriormente, citam-se quais são essas estratégias que deverão ser mantidas na instituição e priorizadas.

Dentre elas pode ser ressaltado: o uso sustentável de energia elétrica, água, destinação e tratamento de esgoto, gerenciamento e descarte dos equipamentos eletrônicos, manutenção preventiva e corretiva das instalações elétricas e hidráulicas e preservação do meio ambiente.

Em síntese, é possível perceber que apesar de as práticas ambientalistas estarem sempre presentes na Ufla, com o passar do tempo também começaram a surgir novas demandas contextuais. Aumentaram-se, os efeitos da industrialização e da urbanização. Passaram a surgir movimentos sociais para chamar a atenção quanto aos problemas que emergiam da excessiva utilização dos recursos naturais. Apesar disso, essas ações ainda eram pautadas por práticas isoladas, inclusive na Esal. Porém, essas práticas isoladas passaram a ganhar novos contornos, a partir da década de 1990. Esse foi o momento em que, influenciadas por discussões globais, como a Conferência da Biosfera (1968), a Conferência de Estocolmo (1972), Rio 92 (1992) e recomendações da ONU às universidades, as organizações passaram a priorizar as questões ambientais e adotar, portanto, o discurso de responsabilidade ambiental como uma estratégia.

Apesar disso, somente a partir do século XXI que esse discurso se tornou, de fato, hegemônico nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, como, por exemplo, no Brasil. Essa afirmação se confirmou nas práticas discursivas da Ufla, pois, no final da primeira década de 2000, foi que uma nova configuração discursiva sustentável emergiu na instituição.

Com essa nova configuração discursiva, as práticas antes “isoladas” passaram a fazer parte de um mesmo Plano Ambiental de Desenvolvimento, que configurou a gestão ambiental da IFES. Entre os motivos que contribuíram para o surgimento desse discurso de responsabilidade ambiental, pode-se citar, também, a adesão da instituição ao Reuni e o crescimento ímpar que se iniciou neste mesmo período. Passaram a existir outras práticas discursivas ambientalistas, além das já praticadas na Ifes. A preocupação com práticas ambientalistas passou a fazer parte, ainda, de uma exigência do discurso financeiro, político, cultural e social. Portanto, houve também o papel desempenhado pelas legislações ambientalistas e educacionais, que passaram a cobrar com mais intensidade das instituições, essa contribuição ambiental.

A reprodução do discurso de responsabilidade ambiental se tornou evidente na Ufla, no final da década de 2000. Foi nesse momento que as questões ambientais da instituição passaram a serem vistas do ponto de vista da gestão. Foram criados planejamentos e estratégias que possibilitaram a intensificação nas práticas discursivas sustentáveis. Nos documentos estratégicos produzidos a partir desse período na Ifes, percebeu-se a presença de intertextualidade com leis e com relatórios produzidos pelas universidades em resposta às recomendações da ONU. Além da influência desse contexto macro que tem pressionado a reprodução desse discurso ambientalista, também foi perceptível a reprodução de valores e práticas introduzidas pelos fundadores da Ifes. Esses fatores de ordem micro e macro propiciaram que a prática discursiva sustentável se tornasse uma lógica compartilhada na instituição.

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Pode-se dizer que essa estratégia tem influenciado sobremaneira o desenvolvimento da instituição. Esse discurso, introduzido pelos presbiterianos no início do século XX, ganhou novas proporções na primeira década do século XXI na Ufla provocando também novos efeitos.

4.3 Os efeitos das práticas discursivas de responsabilidade ambiental na UFLA

A Ufla é, hoje, considerada uma instituição de excelência nas práticas de responsabilidade ambiental. Em fevereiro de 2013, a instituição foi considerada a primeira universidade brasileira a fazer parte do ranking internacional de sustentabilidade, aparecendo como a “[...]primeira universidade do país no ranking Green Metric 2012” (Universidade Federal de Lavras, 2013). Dessa forma, no ranking global, ela apareceu na 70a posição, com base em critérios como estrutura do

campus e áreas verdes, consumo de energia, gestão de resíduos, uso e tratamento de água, políticas

de transportes e atividades acadêmicas relacionadas ao meio ambiente. Quando considerados alguns critérios específicos, a instituição ficou em 1° lugar do mundo no quesito uso e tratamento de água.

No site da Ufla, é afirmado que esse prêmio demonstra que “[...]é possível aliar crescimento acelerado com uma gestão que pensa nas futuras gerações e na formação de profissionais comprometidos com a preservação ambiental”. Observa-se a reafirmação de que crescer aceleradamente pode ser um desafio para o comprometimento com a preservação ambiental de uma organização. No entanto, na Ufla, esse desafio está sendo superado, sendo a instituição um exemplo para as outras. Ainda, a mesma publicação cita que “[...]as ações e resultados do Plano Ambiental e Estruturante têm evidenciado a Universidade como exemplo nacional de gestão sustentável” (Universidade Federal de Lavras, 2013, p.1).

En 4 relatou o motivo que levou a instituição a ficar em boa colocação no quesito tratamento de água, alcançando o 1° lugar. É enfatizada a questão de a Ufla “ser uma das poucas universidades que tratam a água”. Apesar de esta já ser uma prática discursiva que permite um reconhecimento em âmbito internacional da instituição, afirmou-se que as ações ainda não pararam. Desse modo, é objetivo já traçado na mente do enunciador [...] “reformar a estação de água todinha” [...] (Relato de entrevista. En 4). No último enunciado, tem-se a justificativa da continuidade dessas ações, qual seja, [...] “pensando no crescimento da universidade” (Relato de entrevista. En 4). Ainda de acordo com o mesmo relator, esse prêmio foi o que deu maior visibilidade para a instituição, atribuindo-lhe, ainda, outros benefícios, tais como a maior facilidade em obtenção de recursos.

Compreende-se que, dentre os benefícios de ser reconhecida pela gestão sustentável, está a maior possibilidade de a instituição conseguir recursos. Essa afirmação foi interpretada, a partir da narrativa de En 4, o qual afirmou que, quando precisam de recursos para a realização das práticas sustentáveis, são colocadas nas requisições de recursos as premiações que instituição já recebeu. Assim, o enunciador compartilha o ponto de vista de que as premiações aumentaram a credibilidade da Ufla perante outras instituições que investem e liberam recursos para os projetos da universidade. Observa-se que o efeito de recebimento de prêmios gerou o efeito discursivo de aumento da credibilidade da instituição perante os órgãos financiadores.

Para En 4, a instituição recebeu “prêmios” por práticas ambientais, ou seja, ele introduziu a informação de que mais um prêmio foi recebido. Ele se referiu, nesse momento, a outras duas premiações. A Ufla ficou em 1° lugar na categoria Planejamento, Orçamento, Gestão e Desempenho Institucional e em 3° lugar, na classificação geral, no 17° Concurso Inovação na Gestão Pública Federal, promovido pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Mpog) e pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap). O projeto que propiciou tal premiação retratou o Plano Ambiental e Estruturante da Ufla. Assim, “[...]a experiência ambiental da Ufla passou a ser difundida como exemplo, possibilitando sua adoção por outras organizações” (Universidade Federal de Lavras, 2013, p.1). Dentre as ações que permitiram essa premiação, foram destacadas as mesmas que também lhe deram o 1° lugar no ranking internacional de sustentabilidade.

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Portanto, as ações que geraram prêmios e possibilitaram à instituição se tornar exemplo para outras estão relacionadas com a produção do Plano Ambiental de 2008, e, sobretudo, com a gestão ambiental iniciada a partir de então. Para o reitor, a elaboração de um texto estratégico foi importante, pois possibilitou que a instituição praticasse aquilo que ela mesma ensinava (Universidade Federal de Lavras, 2013). Para uma das professoras que participou da elaboração do plano, “[...]os conceitos de sustentabilidade são muito propalados em discursos, mas pouco praticados em instituições”. Essa foi uma justificativa para dizer que, de fato, a Ufla merece destaque nas atividades sustentáveis.

Compreende-se, ainda, que a gestão ambiental iniciada em 2008 não contava com a credibilidade das pessoas, mas na medida em que os efeitos foram produzidos, a confiança nas práticas estratégicas também aumentou. Essa confiança gerada se configura em um efeito discursivo, do mesmo modo que também foi efeito o fato de a instituição ter se tornado “exemplo para outras universidades e organizações”.

Para En 5, os efeitos de práticas ambientais da Ufla são diferentes dos de outras instituições, pois “[...]as universidades cresceram, mas pouquíssimas, mas muito pouco mesmo tinham essa preocupação com a área ambiental” (Relato de Entrevista. En 5). Desse modo, En 5 exemplificou dizendo que algumas universidades que ele já visitou o deixaram “horrorizado”, pois essa preocupação com crescimento sustentável não foi evidenciada. Para ele, “ninguém se preocupou com a parte ambiental”. O relator termina dizendo que na Ufla é diferente.

Além desses dois prêmios já citados, a instituição recebeu, ainda, a premiação de uma entidade ambientalista pela realização da gestão ambiental, em novembro de 2013. No que se refere a essas práticas, a Ufla destacou-se em meio a instituições públicas e privadas. De acordo com a publicação no site da instituição, a Ufla foi a única instituição de ensino agraciada em 2013 e se destacou pelas iniciativas do Plano Ambiental e Estruturante (Universidade Federal de Lavras, 2013).

As ações desenvolvidas que têm sido motivo das premiações foram formuladas, basicamente, em sete grupos, que são: 1) sistema de prevenção e controle de incêndios; 2) proteção de nascentes e matas ciliares; 3) saneamento básico e estação de tratamento de esgoto; 4) programa de gerenciamento de resíduos químicos, focando ações preventivas de minimização (redução, reuso e reciclagem) e uma adequação do destino final dos resíduos oriundos das atividades de ensino, pesquisa e extensão; 5) gestão de resíduos sólidos (coleta seletiva); 6) construções ecologicamente corretas; 7) sistema de prevenção de endemias.

Tais foram as ações corretivas que podem ser consideradas efeitos discursivos da estratégia de responsabilidade ambiental. Antes dessa prática se tornar uma estratégia, as ações aconteciam de maneira isolada na instituição. Percebe-se ainda, entre os efeitos do plano, a unificação dos esforços, o maior controle das ações, a divisão de responsabilidades e o aumento do compromisso de toda a comunidade acadêmica em auxiliar no desenvolvimento das práticas.

Para Diniz (2012), essa legitimidade das práticas ambientalistas contribui para tornar essas ações exemplos de práticas sociais. As práticas discursivas ambientalistas delineadas nos documentos estratégicos se tornaram, na instituição, “um significado compartilhado” que orienta e dá consistência a ação (Phillips; Sewell; Jaynes, 2008). Além desses efeitos, também tem sido um efeito das práticas ambientalistas da Ufla e das premiações já recebidas, um sentimento de satisfação nos atores organizacionais de fazerem parte de uma organização que não agride o meio ambiente e, ainda, pelo fato de ela ser internacionalmente reconhecida por isso.

Esse sentimento de satisfação foi manifestado por En 3, quando diz “[...] você pode ter orgulho que esta vai ser a primeira universidade do Brasil a ter 100% de tratamento de água e 100% de tratamento de esgoto”[...] (Relato de entrevista. Entrevista n° 3). Nota-se que En 3 utilizou a repetição de “100% de tratamento”, esse recurso linguístico foi utilizado para chamar a atenção para a ação descrita. Para o narrador, o fato de a instituição ter tratamento de água e esgoto não é uma ação qualquer, sendo necessário o destaque. Outro motivo dessa ênfase nas ações descritas é o fato de que “[...] isso é raríssimo nas universidades [...]” (Relato de entrevista. Entrevista n° 3). O fato

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de ser raro em outras universidades aumenta ainda mais a satisfação do relator em fazer parte da instituição.

Como propõe Fairclough (2001), além de esses efeitos serem fruto da reprodução do discurso de responsabilidade ambiental, eles também resultam de uma estrutura social e contextual que, continuamente, recebe e promove transformações nas práticas discursivas. Assim, a maioria desses efeitos já tratados passou a fazer parte da instituição, a partir da década de 2000, quando também esse discurso se tornou hegemônico nas organizações (Brito, 2013). Apesar disso, esses efeitos foram também frutos de uma construção social e histórica.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como objetivo analisar as estratégias como práticas discursivas de responsabilidade ambiental da Ufla tendo em vista o seu contexto macrossocial e histórico. Por meio da ACD, percebeu-se que a estratégia de responsabilidade ambiental dessa instituição tem sido uma lógica compartilhada e tem reproduzido, em suas práticas discursivas, elementos do contexto macrossocial e histórico, onde se desenvolveu.

Esta estratégia tem provado e recebido transformações ao longo da trajetória histórica da universidade. Apesar de as práticas relacionadas à estratégia de responsabilidade ambiental sempre terem existido na Ufla, ela foi durante longos anos da instituição adotada apenas por alguns atores organizacionais, e estava ligada prioritariamente aos valores institucionais. Esse cenário começou a se modificar a partir da década de 1970 quando no cenário global começaram a aparecer as primeiras consequências do excesso da industrialização. Na Ufla também foram perceptíveis os reflexos dessa preocupação, entretanto, as ações acontecidas até então eram isoladas de modo que eram comuns problemas ambientais, tais como voçorocas, endemias, áreas desmatadas dentre outros.

O discurso ambientalista apenas ganhou força nas organizações a partir da década de 1990 e se intensificou na década de 2000. Na Ufla também esse discurso passou a ser evidente, no final da primeira década de 2000, com a criação do Plano Ambiental e Estruturante. Este plano foi responsável por direcionar, planejar, criar e intensificar as ações ambientalistas. A partir desse momento, percebeu-se que outras práticas, além do paisagismo, preservação e conservação, passaram a existir da universidade. Além disso, houve outras influências nesse discurso. A sustentabilidade passou a ser uma exigência do discurso financeiro, de mercado e educacional. Houve ainda o papel das legislações ambientalistas e educacionais que passaram a cobrar das organizações uma contribuição ambiental.

Portanto, a estratégia como prática de responsabilidade ambiental tem sido uma lógica compartilhada na Ufla e tem reproduzido elementos contextuais e também históricos. Essa lógica pode ser vista como algo que tem estimulado os atores organizacionais a agirem e a desenvolverem ações também sustentáveis (Phillips; Seweel; Jaynes, 2008).

Quanto aos efeitos discursivos, percebeu-se que esta prática introduzida pelos fundadores da Ufla ganhou conotações distintas na primeira década do século XXI. Os efeitos discursivos foram intensificados na prática social e discursiva da universidade. A Ufla é considerada hoje uma instituição de excelência quanto às práticas ambientalistas. Dentre as práticas que propiciaram tal título destaca-se: tratamento de água e esgoto, recuperação de áreas degradadas, práticas de reflorestamento, conservação de ecossistemas dentre outras. Apesar de as práticas ambientalistas terem sempre feito parte da história da universidade todas essas ações corretivas somente surgiram quando a instituição precisou se expandir. Este trabalho contribui para os estudos em estratégia como prática, pois possibilita a compreensão da estratégia relacionando-a com seus aspectos de ordem micro e macro organizacional. A contribuição para os estudos organizacionais discursivos também se faz presente, visto que a ACD é um referencial teórico e metodológico que propicia a interpretação dos fenômenos organizacionais e que necessita ser ainda mais explorado. Outra contribuição deste estudo é para com as pesquisas sobre as práticas de responsabilidade ambiental.

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Esta tem sido uma preocupação comum das organizações e que, apesar de muito discutida, ainda precisa ser mais refletida. O caso da Ufla pode motivar outras instituições a repensarem suas práticas ambientalistas, buscando também novos efeitos.

Sugere-se pesquisas que empreguem a ACD para o entendimento de outros tipos de organizações, e até mesmo de outras universidades a fim de comparar as análises e interpretações com as apresentadas neste estudo.

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Data da submissão: 28/12/2015 Data da publicação: 30/04/2016

Referências

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