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O julgamento antecipado parcial do mérito à luz da Lei 13.105/15

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ROBERTHA CONSTANTINO DA SILVEIRA

O JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO À LUZ DA LEI 13.105/15

Tubarão 2017

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ROBERTHA CONSTANTINO DA SILVEIRA

O JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO À LUZ DA LEI 13.105/15

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade

Orientador: Prof. José Paulo Bittencourt Junior, Esp.

Tubarão 2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, inicialmente, a Deus, por estar sempre presente em minha vida, guiando-me pelos melhores caminhos e dando-me forças para superar as dificuldades.

Aos meus pais, Benivio Borges da Silveira e Joseane Albertina Constantino, por todo o esforço despendido para que esse sonho pudesse tornar realidade, por acreditarem em minha capacidade e por darem todo o amor, carinho e atenção nos momentos em que mais precisei. Sem vocês essa conquista não seria possível.

As minhas irmãs, Tuanny Constantino Nandi e Mariah Constantino Bittencourt, por estarem sempre ao meu lado, não só durante esta jornada, mas em todos os momentos da vida.

Ao meu namorado, Alan de Oliveira Martins, pela paciência e compreensão durante a elaboração deste trabalho, além do carinho, companheirismo, incentivo e apoio incondicional.

Ao meu tio, João Manoel Constantino Neto, por fomentar a minha paixão pelo Direito, apoiando-me durante toda a minha trajetória.

As minhas amigas de faculdade, Angélica da Rosa Vieira, Daiane Stiegler Garcia Prudêncio, Jéssica Borges, Rubia Araujo, Sarah Silva Fernandes, Sthefanni Ribeiro Coradini Mendes e Thayná de Jesus Costa, que se fizeram presente em minha jornada, compartilhando alegrias e tristezas, levarei vocês para sempre.

Ao meu orientador, José Paulo Bittencourt Júnior, pela dedicação e apoio durante a realização deste trabalho.

Aos amigos do escritório de advocacia De Nadal, Duarte & Fernandes, em especial ao Dr. Zulmar Duarte de Oliveira Junior, pelos sábios conselhos.

Aos demais amigos e familiares, que contribuíram de alguma forma para a conclusão de mais uma etapa em minha vida.

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RESUMO

O presente trabalho monográfico possui como objetivo analisar o instituto do julgamento antecipado parcial do mérito à luz da Lei 13.105/15 e seus desdobramentos. O método de abordagem utilizado neste trabalho foi o dedutivo, pois se partiu de uma premissa geral em direção à outra, particular. Quanto ao nível de profundidade, este trabalho é classificado como exploratório. Já no que diz respeito à abordagem da pesquisa, esta é considerada qualitativa. Por fim, quanto ao procedimento empregado para a coleta de dados, utilizou-se o procedimento bibliográfico. Verificou-se, neste trabalho, que o julgamento antecipado parcial poderá ocorrer após o encerramento do prazo para apresentação de contestação pelo réu, nas hipóteses de cumulação de pedidos, quando um ou mais dos pedidos formulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso, não houver necessidade de produção de outras provas, além daquelas constantes no processo ou, ainda, nos casos de revelia com presunção de veracidade dos fatos, desde que não haja pedido de produção de provas pelo réu revel. Outrossim, constatou-se que tal instituto não se confunde com a hipótese prevista no artigo 273, §6º, da Lei 5.869/73, pois além da sistemática do antigo código não comportar o julgamento fracionado do mérito, a hipótese do mencionado artigo referia-se a uma espécie de tutela antecipada, onde o magistrado realizava um juízo de cognição sumária, passível de alteração. Ainda, demonstrou-se que a natureza jurídica da decisão que julga antecipadamente o mérito é de decisão interlocutória definitiva de mérito, impugnável via agravo de instrumento e, consequentemente, não possui efeito suspensivo automático, gerando controvérsias na doutrina. Por conta disso, verificou-se a possibilidade de liquidação e execução provisória da mencionada decisão. Ademais, a decisão que julga parcialmente o mérito poderá ser acobertada pela coisa julgada material, sendo cabível, portanto, a ação rescisória. Contudo, constatou-se não ser possível a remessa necessária das decisões desfavoráveis à Fazenda Pública, sendo esta uma das grandes problemáticas do instituto. Conclui-se portanto, que o julgamento antecipado parcial do mérito é uma inovação de extrema importância para o ordenamento jurídico brasileiro, como meio de garantir a efetividade e celeridade processual, todavia apresenta problemáticas ainda não solucionadas, cabendo à doutrina e aos Tribunais superiores debaterem o assunto, a fim de consolidar uma orientação.

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ABSTRACT

This thesis aims to analyze partial judgment on the pleadings in Law 13.105/15 and its ramifications. Deductive reasoning, which is a logical process that starts from a general statement to reach a logically certain conclusion, was used. Exploratory, qualitative, and bibliographic research was done. It was ascertained that there could be partial judgment on the pleadings after the defendant’s deadline to present his/her defense is over if one or more claims are undisputed, discovery is not necessary to prove one or more claims or the defendant is in default, that is, he/she has failed to respond to the complaint. Furthermore, it was established that the judgment on the pleadings in Law 13.105/15 is not to be confused with the judgment on the pleadings in article 273, paragraph 6, Law 5.869/73, since the latter was an interlocutory decree and the former is a final judgment on the merits, however subject to an interlocutory review as opposed to an appellate review which doesn’t automatically halt the judgment. Because of this, enforcement of the judgment is possible. Also, partial judgment on the pleadings is bound to claim preclusion and thus an action vacating the judgment is possible. It was disclosed that mandatory review of judgments against the government does not apply to partial judgments on the pleadings, this being one the biggest problems regarding the aforementioned judgment. It was concluded that partial judgment on the pleadings was an extremely important innovation for Brazilian civil procedure as a way of ensuring a speedy and effective action. Nonetheless, it has unsolved problems and it is up to doctrine and Superior Courts to discuss the matter in order to establish guidelines.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 8

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ... 8

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 10

1.3 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ... 10

1.4 JUSTIFICATIVA ... 11

1.5 OBJETIVOS ... 12

1.5.1 Geral ... 12

1.5.2 Específicos ... 12

1.6 DELINEAMENTO METODOLÓGICO ... 13

1.7 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS ... 13

2 INSTITUTOS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO ... 15

2.1 JURISDIÇÃO ... 15

2.2 AÇÃO ... 17

2.2.1 Condições da ação ... 19

2.2.1.1 Legitimidade ... 21

2.2.1.2 Interesse de agir processual ... 22

2.3 PROCESSO ... 23

2.3.1 Pressupostos processuais ... 25

2.3.2 Processo e procedimento ... 28

3 PEDIDOS NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO ... 31

3.1 ELEMENTOS DA DEMANDA ... 31 3.2 O PEDIDO ... 32 3.3 ESPÉCIES DE PEDIDO ... 35 3.3.1 Pedido genérico ... 35 3.3.2 Pedido alternativo ... 36 3.3.3 Pedidos cumulados ... 38

3.3.3.1 Cumulação própria de pedidos ... 40

3.3.3.2 Cumulação imprópria de pedidos ... 41

4 O JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO À LUZ DA LEI 13.105/15 ... 43

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 43

(8)

4.1.2 Antecedentes históricos ... 47

4.2 HIPÓTESES DE CABIMENTO E SEUS PRESSUPOSTOS ... 50

4.3 NATUREZA JURÍDICA E RECURSO CABÍVEL ... 51

4.4 INSTITUTOS PROCESSUAIS RELACIONADOS AO JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO ... 53

4.4.1 Coisa julgada material e ação rescisória ... 53

4.4.2 Efeito suspensivo e a execução da decisão ... 56

4.4.3 Remessa necessária ... 58

5 CONCLUSÃO ... 61

REFERÊNCIAS ... 63

ANEXOS ... 70

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1 INTRODUÇÃO

O tema da presente monografia é o instituto do julgamento antecipado parcial do mérito, criado pela Lei 13.105/15, ou seja, o Código de Processo Civil de 2015, e seus desdobramentos na sistemática do processo civil brasileiro.

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

Inicialmente, antes de adentrar efetivamente no tema proposto para a presente monografia, vê-se necessário explanar sobre direito de ação e processo judiciais.

O Direito de Ação, previsto no artigo 5º, inciso XXXV da Constituição da República Federativa do Brasil, segundo Didier Júnior (2015, p. 281) trata-se de “um direito fundamental (situação jurídica, portanto) composto por um conjunto de situações jurídicas que garantem ao seu titular o poder de acessar tribunais e exigir deles uma tutela jurisdicional adequada, tempestiva e efetiva”.

Isto é, qualquer pessoa que se sinta ameaçada ou tiver seu direito lesado, poderá recorrer ao Poder Judiciário, a fim de fazer cessar a ameaça ou requerer a restituição do referido direito.

Uma vez fixadas essas premissas acerca do direito de ação, surge à possibilidade de exercício deste direito pelo cidadão, por meio da interposição do que chamamos de demanda judicial. Por sua vez, a demanda judicial “é instrumentalizada em um processo. Processo aqui entendido, ao menos para fins didáticos, como o instrumento ou meio adequado pelo qual o Estado presta a tutela jurisdicional.” (MEIRELES, 2016).

Outrossim, segundo Ávila (2013), processo é um “mecanismo de legitimação do poder estatal, um instrumento para a obtenção de uma tutela justa. Através dele busca-se a prestação de uma solução jurisdicional com maior rapidez, aceitação, satisfação e confiança da sociedade.”

Ocorre que a morosidade do judiciário na prestação da tutela jurisdicional "está conduzindo cada vez mais o direito ao acesso à justiça a precariedade e ao descrédito; direito este que pode ser encarado como o mais básico dos direitos humanos de um sistema jurídico moderno” (BARROSO, 2009, p. 45).

Em suma, não basta apenas garantir ao lesado o direito de ação, é necessário dar efetividade à tutela postulada. Para tanto, deve-se atentar ao princípio da celeridade processual, previsto no artigo 5º, inciso LXXVII da Constituição da República Federativa do

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Brasil que garante a todos “a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação” (BRASIL, 1998).

Assim, como meio de garantir a celeridade processual e a fim de evitar que a tutela jurisdicional entre em descrença na população que visa à proteção de um direito lesado, a Lei 13.105/15, comumente nomeada como Código de Processo Civil de 2015 instituiu a possibilidade do julgamento antecipado parcial do mérito.

Tal inovação possui amparo legal no artigo 356 do código supracitado, no qual prevê que o juiz decidirá antecipadamente parte do mérito, quando houver pedido incontroverso ou estiver em condições de julgamento imediato, nos casos do artigo 355 do mesmo código (BRASIL, 2015).

Extrai-se da leitura do artigo 356 do Novo Código de Processo Civil, mais precisamente pelo termo “decidirá”, que o novo sistema processual civil não trouxe uma faculdade para o juiz, mas sim um dever de julgar antecipadamente parte do mérito nos casos em que se enquadram no artigo supracitado.

Segundo Ferrari Neto (2017):

Na vigência do CPC/73, não havia disposição expressa que autorizasse o juiz a julgar o mérito de forma parcial. Não obstante, já havia vozes na doutrina afirmando sua possibilidade, com fundamento no art. 273, §6º, havendo até mesmo quem afirmasse existir uma sentença parcial, sendo possível a interposição de uma “apelação por instrumento”, algo que contrariava até mesmo o princípio da taxatividade, uma vez que só é recurso aquilo que a lei diz sê-lo.

Contudo, importante ressaltar que a apreciação imediata não diz respeito à tutela antecipada prevista no artigo 273, §6º, do antigo Código de Processo Civil, já que tal decisão não pode ser revogada e não precisa ser confirmada em posterior sentença de mérito. Trata-se, de fato, de uma decisão que julga definitivamente parte do mérito, fazendo coisa julgada material, embora esta qualidade não atinja todos os pedidos formulados (MACHADO, 2015).

Com isso, o instituto do julgamento antecipado parcial do mérito é considerado uma inovação do Código de Processo Civil de 2015, pois na vigência do antigo Código, “ressalvado nos casos excepcionais, como procedimentos especiais que contemplassem de forma expressa sentenças de primeira e segunda fases [...], todo o julgamento da causa deveria concentrar em um só provimento jurisdicional” (ROQUE, 2016a, p. 162).

Passou-se a admitir, então, a apreciação imediata dos pedidos cumulados, ou parte deles, que estão aptos para julgamento, evitando a espera demorada da prestação jurisdicional, em razão da necessidade de produção de provas para análise dos demais (NEVES, 2016, p. 1126).

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Assim, deve ocorrer o julgamento fracionado do mérito, segundo Tucci (2015), “toda vez que o juiz se encontre devidamente instruído acerca dos fatos submetidos à sua apreciação, podendo aplicar o direito ao caso concreto, independentemente da produção de qualquer outra prova, além da documental já constante dos autos”.

Nesse contexto, sabe-se que seria inviável atrasar a solução de parte do litígio apenas para garantir a possibilidade de cumulação de pedidos, visto que o referido ato violaria, dentre outros princípios, o da celeridade processual (MACHADO, 2015).

Por fim, salienta-se que o objetivo da presente monografia é abordar o tema inovador trazido pelo Código de Processo Civil de 2015, conceituando-o, diferenciando-o da hipótese prevista no artigo 273, §6º, do Código de Processo Civil de 1973, expondo as hipóteses de cabimento, a natureza jurídica, o recurso cabível e o efeito suspensivo, a (im)possibilidade da decisão ser acobertada pela coisa julgada, a (im)possibilidade de ação rescisória, a (im)possibilidade de liquidação e execução da decisão, a (im)possibilidade de remessa necessária, bem como as problemáticas e discussões doutrinárias a respeito do tema.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Quais os desdobramentos do instituto do julgamento antecipado parcial do mérito à luz da Lei 13.105/15?

1.3 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS

Para o entendimento do tema proposto, necessário expor o que significa o

Julgamento Antecipado Parcial do Mérito e os seus desdobramentos.

Destarte, entende-se como julgamento antecipado parcial do mérito a possibilidade de o juiz antecipar a decisão definitiva de um dos pedidos realizados pela parte autora, que seria dado apenas no final do processo com a prolação da sentença, pelo fato de este ser incontroverso ou por estar em condições de imediato julgamento, nos termos do artigo 355 do Código de Processo Civil1 (FREIRE; CUNHA, 2017, p. 517, grifo nosso).

É o caso, por exemplo, de uma ação de indenização por danos materiais e morais, em que o réu admite que o valor referente aos danos materiais seja devido, mas, quanto aos

1 Dispõe o artigo 355 do Código de Processo Civil: O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença

com resolução de mérito, quando: I - não houver necessidade de produção de outras provas; II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349.

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danos morais, entende que é excessivo. Neste caso, o juiz deverá julgar antecipadamente o pedido incontroverso, qual sejam os danos materiais, e determinar a instrução do processo com produção de provas, qual sejam provas testemunhais, periciais e afins, no referente aos danos morais (SANTOS, 2016).

No que tangem aos desdobramentos do Julgamento Antecipado Parcial do Mérito, estes se referem às consequências jurídicas que o novo instituto traz, isto é, a controvérsia doutrinária acerca da tutela antecipada prevista no artigo 273, §6º do Código de Processo Civil de 1973, a natureza jurídica da decisão que julga antecipadamente parte do mérito, o recurso cabível e o efeito suspensivo, a (im)possibilidade da decisão ser acobertada pela coisa julgada, a (im)possibilidade de ação rescisória, a (im)possibilidade de liquidação e execução da decisão e a (im)possibilidade de remessa necessária, assuntos estes que serão abordados com afinco na presente monografia.

1.4 JUSTIFICATIVA

A escolha do tema em tela para ser abordado, na presente monografia, dá-se pela relevância do mesmo no âmbito jurídico e pela simpatia da acadêmica para com a disciplina de Direito Processual Civil, bem como para com o tema, já que estagiou na 1ª Vara da Comarca de Imbituba, Estado de Santa Catarina, na respectiva área.

Comumente tem-se falado acerca da morosidade do Poder Judiciário em resolver os litígios que são colocados a sua apreciação. Embora não haja uma causa definida dessa morosidade, entende-se que se trata de uma junção de diversos elementos, tais como a falta de aparelhamento estatal, o excesso de demandas, recursos protelatórios, dentre outros (LISBOA, 2011).

Com isso, o Novo Código de Processo Civil, como forma de amenizar a atual situação do judiciário e atender melhor aos princípios constitucionais da celeridade processual e da efetividade processual, trouxe algumas inovações jurídicas, tais como o julgamento antecipado parcial do mérito (MEIRELES, 2016).

Conforme exposto e fundamentado na presente monografia, essa inovação tem por finalidade permitir o imediato julgamento dos pedidos que se encontram aptos para tanto ou em caso de pedidos incontroversos.

Assim, vê-se a importância dessa inovação para o ordenamento jurídico, já que a parte que teve seu direito lesado poderá obter rapidamente a tutela jurisdicional do Estado,

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embora que em parte, independentemente do posterior julgamento dos demais pedidos feitos na demanda, ou de parcela deles.

Deste modo, podemos perceber a relevância jurídica do julgamento antecipado parcial do mérito, pois “nos leva a uma efetividade processual bem interessante, respeitando ainda mais o direito material das partes na medida em que prioriza a resolução dos conflitos, deixando de lado formalidades desnecessárias e evitando protelações de questões importantes” (LIMA, 2017).

É nessa perspectiva que a presente monografia mostra os desdobramentos e reflexos do referido instituto, com uma análise legal e doutrinária do tema, buscando o entendimento de doutrinadores relevantes para o Direito.

1.5 OBJETIVOS

1.5.1 Geral

Analisar os desdobramentos acerca do julgamento antecipado parcial do mérito, à luz da Lei 13.105/15.

1.5.2 Específicos

Definir o instituto do julgamento antecipado parcial do mérito. Demonstrar o entendimento doutrinário sobre o tema.

Diferenciar o julgamento antecipado parcial do mérito instituído pela Lei 13.105/15 com a tutela antecipada prevista no artigo 273, §6º da Lei 5.869/73.

Expor as hipóteses de cabimento para que ocorra o julgamento antecipado parcial do mérito.

Identificar a natureza da decisão que julga antecipadamente parte do mérito. Verificar o recurso cabível e o efeito suspensivo nas decisões que julgam antecipadamente parte do mérito.

Demonstrar a (im)possibilidade da decisão ser acobertada pela coisa julgada material.

Analisar a (im)possibilidade de liquidação e execução da decisão que julga antecipadamente parte do mérito.

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Verificar a (im)possibilidade de remessa necessária do julgamento antecipado parcial do mérito.

1.6 DELINEAMENTO METODOLÓGICO

Toda pesquisa, para que seja considerada científica, deve ser realizada de modo organizado e sistemático, seguindo os moldes do planejamento definido antecipadamente pelo pesquisador, no qual determina o caminho a ser percorrido na análise do objeto do estudo (MOTTA et al, 2013, p.105).

Diante disso, o método de abordagem da presente monografia é o dedutivo, pois partiu-se de uma premissa geral em direção a outra, particular (LEONEL; MOTTA, 2011, p.66).

Por sua vez, quanto ao nível de profundidade, este trabalho é classificado como exploratória, visto que busca “aproximar o pesquisador de um problema pouco conhecido ou sobre a qual se tenha pouca familiaridade” (MARCOMIM; LEONEL, 2015, p.12).

No que diz respeito à abordagem da pesquisa, esta é considerada qualitativa, pois, segundo Motta et al (2013, p.112), tal pesquisa busca conhecer as visões dos sujeitos pesquisados, utilizando-se da análise de palavras, discursos, narrativas, dados ou percepções destas.

Ainda, quanto ao procedimento empregado para a coleta de dados, utilizou-se o procedimento bibliográfico, já que a presente monografia busca explicar a situação problema com base em todo material teórico já publicado, como por exemplo, livros, publicações e revistas referentes ao tema pesquisado (MARCOMIM; LEONEL, 2015, p.15).

Deste modo, fez-se uma análise do Código de Processo Civil de 2015, no que diz respeito ao Julgamento Antecipado Parcial do Mérito, bem como do Código de Processo Civil de 1973, no tocante à antecipação de tutela prevista em seu artigo 273, §6º, além de todas as doutrinas e afins pertinentes ao caso.

1.7 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

A presente monografia foi dividida em três capítulos, além deste introdutório e a conclusão.

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O primeiro capítulo corresponde à análise da evolução histórica dos principais institutos do direito processual civil brasileiro, quais sejam a jurisdição, ação e processo, bem como de seus pressupostos.

Por sua vez, o segundo capítulo é reservado ao estudo dos elementos da demanda, em especial ao pedido e suas espécies, em razão da importância deste para o julgamento antecipado parcial do mérito.

Finalmente, o terceiro capítulo trata-se da análise do instituto do julgamento antecipado parcial do mérito à luz da Lei 13.105/15, ou seja, o Código de Processo Civil de 2015, e seus desdobramentos no direito processual civil brasileiro.

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2 INSTITUTOS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO

Iniciar-se-á o presente trabalho, explanando acerca dos institutos do direito processual civil brasileiro, que servirá para nortear toda a compreensão do julgamento antecipado parcial do mérito, objeto desta monografia.

2.1 JURISDIÇÃO

Por muito tempo, quando ainda não havia a figura do Estado ou, até mesmo, quando estes não possuíam o poder total, cabia exclusivamente às partes conflitantes a solução de seus litígios, por meio da chamada autotutela (GONÇALVES, 2016, p. 102).

Para Theodoro Júnior (2012, p. 45), tal época era conhecida como “os tempos de justiça privada ou justiça pelas próprias mãos, que, naturalmente, era imperfeita e incapaz de gerar a paz social desejada por todos”.

Isso porque, não havia justiça propriamente dita, mas sim uma parte que, por conta de suas habilidades em luta e com o manuseio das armas, vencia o conflito pela força (SANTANA FILHO, 2005).

Posteriormente, segundo Wambier e Talamini (2016a, p. 39):

As partes foram substituindo a força pelo diálogo, identificando modalidades autocompositivas de solução dos litígios (acordos, transações...). Passaram também a recorrer ao juízo de um terceiro, por elas eleito. Alguém em quem elas confiavam, que tinha, portanto, autoridade moral sobre elas. Esse terceiro ditava então para elas a solução do litígio.

Esse poder de solucionar os conflitos, chamado de arbitragem, era conferido, na maioria das vezes, “aos sacerdotes, cujas ligações com as divindades garantiam soluções acertadas, de acordo com a vontade dos deuses; ou aos anciãos, que conheciam os costumes do grupo social integrado pelos interessados” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 27).

Mais tarde, na medida em que o Estado Moderno se fortaleceu e, principalmente, após a teoria da repartição dos Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), o Estado “assumiu para si o encargo e monopólio de definir o direito concretamente aplicável diante das situações litigiosas” (THEODORO JÚNIOR, 2012, p. 45).

Deste modo, o Poder Judiciário exerce a função jurisdicional do Estado caracterizada por “solucionar os conflitos de interesses, aplicando as leis gerais e abstratas aos casos concretos levados à sua apreciação” (GONÇALVES, 2016, p. 102).

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Para o desempenho da função acima, estabeleceu-se a jurisdição, como sendo “uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça” (CINTRA, 2009, et al apud THEODORO JÚNIOR, 2016, p. 133).

Jurisdição, sob o ponto de vista etimológico da palavra, vem de juris + dictionis, que significa “dizer o direito”. No entanto, jurisdição não diz respeito apenas à declaração de um direito no caso concreto, mas envolve, também, todos os mecanismos voltados à proteção desse direito reconhecido pelo Estado (BUENO, 2009, p. 249, grifo do autor).

Sob esse prisma, verifica-se que o Estado, por meio de um terceiro alheio, substitui a vontade das partes na resolução da lide, aplicando a lei a fim de solucionar os conflitos de modo coercitivo e imparcial (GONÇALVES, 2016, p. 103).

Nota-se que, como característica da jurisdição, não basta que haja substitutividade do Estado à vontade das partes, é essencial que essa substituição seja realizada por terceiro desinteressado e alheio ao conflito, dito juiz, a fim de garantir a imparcialidade (DIDIER JÚNIOR, 2015, p. 216).

Em razão do caráter imparcial que, necessariamente, deve ser assegurado no exercício da função jurisdicional, extrai-se que a jurisdição é condicionada à provocação das partes, ou seja, a jurisdição não pode ser, em regra, prestada de ofício (WAMBIER; TALAMINI, 2016a, p. 111). Isso porque, segundo Neves (2016, p. 120), se um juiz exerce a função jurisdicional de ofício, este tem o conhecimento da existência de um direito, fazendo com que penda em favor de uma das partes e, consequentemente, perderá a sua imparcialidade.

Por conta disso, o Código de Processo Civil é expresso em determinar em seu artigo 2º, que “o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei” (BRASIL, 2015).

Para Oliveira Junior (2011, p. 46) “a possibilidade de dar início ao processo é o objeto de expressa proteção constitucional, consistindo no direito de provocar o exercício da jurisdição com respeito a uma dada posição jurídica”.

Nessa perspectiva, tem-se o direito de ação, hoje consubstanciado no artigo 5º, inciso XXXV da Constituição da República Federativa do Brasil2, o qual assegura a todos o

2

Dispõe o artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição da República Federativa do Brasil: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

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direito de romper a inércia jurisdicional, em busca da solução do conflito posto à apreciação do Estado.

2.2 AÇÃO

Como visto, o Estado Moderno avocou para si a função jurisdicional, a fim de vedar a autodefesa e garantir o bem estar social (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 269). Isso quer dizer que “o sujeito do conflito de interesses, deduzindo sua pretensão, poderá invocar a função jurisdicional do Estado para que se exerça em face do caso concreto, compondo o conflito segundo a vontade da lei que o regula” (SANTOS, 2012, p. 181).

Deste modo, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 5°, inciso XXXV consagra o princípio da inafastabilidade da jurisdição, quando dispõe que "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988).

Consequentemente, nasce o direito de ação, como sendo “o direito fundamental de pedir tutela jurisdicional ao Estado-juiz, rompendo a inércia do Poder Judiciário, e de atuar, ao longo do processo, para obtenção daquele fim” (BUENO, 2016, p. 69).

Todavia, o conceito do direito de ação nem sempre foi o mesmo ao longo da história do direito processual civil. Desde o direito romano até o século XIX, a ação era vista como uma mera vertente do direito material. Nessa concepção, chamada de Teoria Civilista, ação nada mais era que a manifestação do direito material após sofrer uma agressão (WAMBIER; TALAMINI, 2016a, p. 196).

Logo, “caso o credor exercesse sua faculdade de levar a violação de seu crédito a juízo, o que se veria, aí, seria o próprio direito de crédito reagindo à sua violação, em movimento, e, não, um direito autônomo de acionar o judiciário para que substitua as partes e decida, imparcialmente, a lide” (HACK; GARCIA, 2016).

Para Savigny, criador da referida teoria, não poderia haver ação sem direito, nem direito sem ação, pela qual se conclui que, sobrevindo sentença de improcedência em um processo, não haveria o que se falar em ação (ARRAES, 2011).

[...] XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; [...] (BRASIL, 1988).

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No entanto, tal teoria perdeu força em meados do século XIX, quando “a célebre polêmica entre os renomados romanistas Windscheid e Muther acabou por demonstrar que são realidades distintas o direito lesado e a ação” (THEODORO JÚNIOR, 2016, p. 172).

Sob esta ótica, o direito de ação trazia a ideia de direito à prestação jurisdicional, direito este do lesado em buscar a tutela jurisdicional do Estado e deste último em fazer cessar a lesão jurídica, voltada àquele que a praticou (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 272).

Seguindo as discussões trazidas por Windscheid e Muther, em 1885, Adolph Wach, na Alemanha, elaborou a chamada Teoria do Direito Concreto de Ação, a primeira teoria a distinguir direito de ação e direito material (NEVES, 2016, p. 184).

Para ele, direito de ação é o direito de exigir a proteção jurídica do Estado no caso concreto e, justamente, por ser esta a única forma de satisfazer a tutela jurisdicional, somente existiria direito de ação com a prolação de sentença favorável ao autor (AMARAL, 2008).

Contudo, apesar desta teoria trazer o direito de ação como um direito autônomo, alheio ao conceito de direito material, na medida em que condiciona sua existência a uma sentença favorável, está vinculando-a a existência do direito material.

Por conta desta relação de interdependência, a Teoria do Direito Concreto de Ação acabou por permitir a imposição da “mesma crítica que correspondia à doutrina civilista. Identificando o conceito de ação como o direito a uma sentença favorável – como decorreria do preenchimento das condições impostas, inexplicável à ação improcedente” (OLIVEIRA JUNIOR, 2011, p. 54).

A partir, porém, dos meados do século XIX, Degenkolb e Plósz difundiram a Teoria do Direito Abstrato de Ação. Segundo eles, o direito de ação e o direito material são autônomos e, agora, independentes, haja vista que a existência do primeiro não pressupõe a existência do segundo (NEVES, 2016, p. 186).

Nesse prisma, o direito de ação era visto como “direito de se alcançar uma tutela jurisdicional, qualquer que fosse sua matéria, enquanto direitos inerentes à pessoa, uma vez que, todos detêm o direito de acionar o Poder Judiciário provocando-o, para que este desempenhe poder constitucional previsto” (AMARAL, 2008).

Deste modo:

Se o juiz julga improcedente o pedido, isso significa que o autor não tinha razão quanto ao que pediu; não tinha o direito material de obter aquilo que pretendia. No entanto, e mesmo nesse caso, o autor tinha, e exerceu, o direito de ação – tanto que pediu a atuação jurisdicional e a recebeu (ainda que mediante uma sentença desfavorável (WAMBIER; TALAMINI, 2016a, p. 199).

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Assim, para os defensores desta teoria, toda e qualquer pessoa poderia provocar o Estado a fim de obter a prestação jurisdicional, não havendo qualquer limitação para o exercício do direito de ação (NEVES, 2016, p. 186).

Enfim, em 1949, surge a Teoria Eclética da Ação, proposta pelo italiano Enrico Tullio Liebman (SÁ; FREIRE, 2012, p. 41). Tal teoria traz como conceito de ação “o direito de provocar o exercício da jurisdição e, por conseguinte, como o direito de provocar o julgamento do pedido, isto é, a decisão da lide, a análise do mérito” (OLIVEIRA JUNIOR, 2011, p. 63).

Para tanto, seria necessária a verificação de certos requisitos, denominados como condições da ação, que sem os quais não seria possível o enfrentamento do mérito, quer julgando favorável, quer julgando desfavorável à pretensão. Tais condições foram nomeadas por Liebman como: legitimidade, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido, e é justamente neste ponto que a referida teoria se distingue da Teoria do Direito Abstrato de Ação (HACK; GARCIA, 2016).

O ordenamento jurídico brasileiro recepcionou a Teoria Eclética da Ação, mais precisamente no Código de Processo Civil de 1973 e, desde então, o direito de ação passou a ser entendido, em suma, como um direito fundamental, subjetivo, que assegura a todos o direito de provocar o Poder Judiciário em busca da tutela jurisdicional, adequada, tempestiva e efetiva (DIDIER JUNIOR, 2015, p. 281).

2.2.1 Condições da ação

Conforme exposto anteriormente, segundo a Teoria Eclética da Ação, “o direito de ação se subordina a certas condições, em falta das quais, de qualquer delas, quem o exercia será declarado carecedor dele, dispensando o órgão jurisdicional decidir o mérito de sua pretensão” (SANTOS, 2012, p. 202).

Logo, condições da ação são os requisitos mínimos para que alguém provoque a função jurisdicional do Estado, tendo como objetivo “evitar a propositura de ações totalmente descabidas e infundadas e, durante o processo, evitar a prática de atos desnecessários” (BUENO, 2009, p. 367).

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A par disso, o Código de Processo Civil de 1973 adotou a Teoria Eclética da Ação, ao prever expressamente o indeferimento liminar da petição inicial3, bem como a extinção do processo sem resolução do mérito, ante a ausência das condições da ação4, denominadas como: legitimidade, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 283).

No entanto, segundo Theodoro Júnior (2016, p. 176), o Código de Processo Civil de 2015 “fugiu do nomen iuris “condições da ação”, consignando, porém, que para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”.

Assim, conforme se extrai da leitura do artigo 175 e 330, incisos I e II6, do mencionado código, a legitimidade e o interesse de agir são tratados como pressupostos de admissibilidade para julgamento do mérito, razão pela qual, quando não preenchidos, ensejam, em regra, em indeferimento da petição inicial e extinção do processo sem resolução do mérito (FONSECA FILHO, 2015).

No entanto, a doutrina não é pacífica quanto à mantença da legitimidade e interesse como condições da ação, embora não nomeadas de tal modo no Novo Código de Processo Civil.

Para Didier Júnior (2015, p. 307), por exemplo, o interesse de agir e a legitimidade passaram a ser tratados como pressupostos processuais.

Não obstante, entende-se que tal fundamento é errôneo, visto que o Código de Processo Civil de 2015 “perseverou na prática de tratar as condições da ação em plano diverso dos pressupostos processuais, como topologicamente expressam os incisos IV e VI do artigo 4857” (OLIVEIRA JUNIOR, 2015, p. 188).

Ainda, segundo Câmara (2013):

A doutrina brasileira – e isto sequer precisa ser demonstrado, dada a notoriedade do ponto – sempre tratou a ação como um dos institutos fundamentais do direito processual, autônomo e

3

Dispõe o artigo 330, incisos II e III, do Código de Processo Civil de 2015: A petição inicial será indeferida quando: [...] II - a parte for manifestamente ilegítima; III - o autor carecer de interesse processual [...] (BRASIL, 2015).

4 Alude o artigo 485, inciso VI, do Código de Processo Civil de 2015: O juiz não resolverá o mérito quando: [...]

VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; [...] (BRASIL, 2015).

5 Explicita o artigo 17 do Código de Processo Civil de 2015: Para postular em juízo é necessário ter interesse e

legitimidade (BRASIL, 2015).

6 Dispõe o artigo 330, incisos II e III, do Código de Processo Civil de 2015: A petição inicial será indeferida

quando: [...] I - a parte for manifestamente ilegítima; III - o autor carecer de interesse processual [...] (BRASIL, 2015).

7 Alude o artigo 485, incisos IV e VI, do Código de Processo Civil de 2015: O juiz não resolverá o mérito

quando: [...] IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; [...] VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; [...] (BRASIL, 2015).

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distinto do processo. Consequência disso é a necessidade de distinguirem-se as “condições da ação”, que a esta (e a seu exercício) dizem respeito e os pressupostos processuais, requisitos de existência e validade do processo (e só deste).

A possibilidade jurídica do pedido, por sua vez, não foi elencada no artigo 17 do Código de Processo Civil de 2015, juntamente com a legitimidade e o interesse de agir.

Todavia, segundo Gonçalves (2016, p. 164), o juiz, ao fazer o juízo de admissibilidade da petição inicial, examinando as condições da ação, ainda verificará se o pedido é juridicamente possível, pois para que haja interesse de agir, é necessário que a pretensão postulada em juízo não seja contrária à lei.

Ademais, a inserção da possibilidade jurídica do pedido na categoria de condições da ação deu-se pela adoção da teoria de Liebman no direito processual civil brasileiro. Contudo, na terceira edição de seu manual, ele afastou o referido termo do rol de condições da ação, não justificando mais a mantença do instituto no Novo Código de Processo Civil (THEODORO JUNIOR, 2016, p. 182).

No entanto, há entendimentos divergentes na doutrina quanto à classificação da possibilidade jurídica do pedido no Código de Processo Civil de 2015. Para Fonseca Filho (2015), a possibilidade jurídica do pedido passa a ser analisada como questão de mérito, visto que se verificando que o pedido é vedado pelo ordenamento jurídico, o juiz deverá julgar improcedente o pedido, prolatando uma sentença de mérito nos termos do artigo 487, inciso I do Novo Código de Processo Civil8.

Contudo, verifica-se que o código supramencionado, implicitamente, incluiu a possibilidade jurídica do pedido no requisito do interesse de agir, pelos fundamentos expostos anteriormente.

Isto posto, passar-se-á, agora, a enumerar e analisar os pressupostos de admissibilidade para julgamento do mérito: a legitimidade e o interesse de agir.

2.2.1.1 Legitimidade

Verifica-se como legitimidade, em regra, a capacidade daquele que é titular de um direito de ser parte no processo, seja de forma ativa ou passiva (BUENO, 2009, p. 369). Deste modo, será parte legitima para figurar no polo ativo da demanda aquele que se diz titular de um direito que necessita da tutela jurisdicional do Estado, enquanto será parte passiva da

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Dispõe o artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil de 2015: Haverá resolução de mérito quando o juiz: I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção; [...] (BRASIL, 2015).

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demanda aquele que se opõe ou resiste à pretensão invocada (WAMBIER; TALAMINI, 2016a, p. 222).

Em outras palavras, “a legitimação processual é pautada na perfeita correspondência entre os fatos narrados e sua imputação ao autor e ao réu, com a atribuição das consequências derivadas” (OLIVEIRA JUNIOR, 2015, p. 190).

Todavia, é possível, em certos casos, a substituição processual, considerando a expressa determinação que consta na parte final do artigo 18 do atual Código de Processo Civil9, em que é possível um terceiro pleitear em nome próprio direito alheio, desde que permitido por lei (FREIRE; CUNHA, 2017, p. 83).

2.2.1.2 Interesse de agir processual

O exercício do direito de ação condiciona-se, também, a verificação do interesse de agir. Assim, segundo Dower (2007, p. 79), interesse de agir diz respeito à necessidade da parte acionar o Poder Judiciário, em busca da proteção de um direito lesado ou que se encontra na iminência de ser.

A vista disso, o interesse de agir exige a presença do trinômio necessidade, adequação e utilidade do processo para o atingimento da tutela pretendida.

Deste modo, verifica-se a necessidade, como elemento do interesse processual, ante a impossibilidade de solucionar o conflito sem a intervenção do Estado, em decorrência da resistência da parte contrária à pretensão (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 281).

Ademais, para Bueno (2009, p. 372), para que o autor da demanda possua interesse de agir “o pedido da atuação jurisdicional tem de ser adequado para atingimento daquela específica situação de vantagem por ele seguida”.

Isso porque, “sendo a lide consubstanciada numa resistência à pretensão de obtenção de um bem da vida, cabe ao autor requerer uma prestação jurisdicional que seja apta a afastar essa resistência, com isso liberando seu caminho para a obtenção do bem da vida pretendido” (NEVES, 2016, p. 198).

Assim, como exposto anteriormente, o interesse de agir também abarca a questão da possibilidade jurídica do pedido, no ponto que “a adequação do pedido abrange a

9

Explicita o artigo 18, caput, do Código de Processo Civil de 2015: Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico; [...] (BRASIL, 2015).

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viabilidade jurídica da providência processual pleiteada” (WAMBIER; TALAMINI, 2016a, p. 220).

O interesse processual requer, ainda, a utilidade do processo no ponto de vista prático. Isso porque, se o autor dispõe de um cheque com eficácia executiva, deverá promover a demanda de execução de título extrajudicial, a fim de obter a satisfação material de seu direito. No entanto, se interpõe demanda de cobrança pelo rito comum, não estará atendendo ao requisito da utilidade, razão pela qual o processo deve ser extinto (VOIGT, 2011).

Denota-se, portanto, que o interesse de agir exige a junção do trinômio necessidade, adequação e utilidade, cuja verificação é indispensável para que haja a solução da lide, mediante a prolação da sentença de mérito.

2.3 PROCESSO

O Estado, ao proibir a justiça pelas próprias mãos, conhecida como autotutela, assegurou a todos o direito de acionar o Poder Judiciário a fim de fazer cessar a lesão ou ameaça de um direito. Tal faculdade, como visto, é chamada de Direito de Ação (THEODORO JÚNIOR, 2016, p. 170).

Esse poder dever atribuído ao Estado para solucionar lides é chamado de Poder Jurisdicional que, por sua vez, é exercido através de um processo. Noutras palavras, segundo Dower (2007, p. 109), o direito de ação “provoca a jurisdição que se exercita por meio de um processo”.

Deste modo, entende-se por processo o meio pela qual o Estado se vale para prestar a tutela jurisdicional, aplicando a lei ao caso concreto, englobando “todo o conjunto de atos que se alonga no tempo, estabelecendo uma relação duradoura entre os personagens da relação processual” (GONÇALVES, 2016, p. 179).

Todavia, assim como ocorreu com o direito de ação, surgiram diversas teorias acerca da natureza jurídica do processo ao longo da história do direito processual civil, as quais serão acentuadas as consideradas mais relevantes para o direito.

A primeira teoria a tratar sobre a natureza jurídica do processo foi a chamada Teoria do Processo como Contrato, tendo como criador e sustentador Pothier, inspirado em Ulpiano e Rosseau. Tal teoria foi difundida ainda quando o Estado não era forte o suficiente para intervir na sociedade, razão pela qual as partes realizavam um acordo prévio de comparecer em juízo, expor a lide ao juiz e, posteriormente, aceitar a decisão, sendo ela favorável ou desfavorável (PINTO, 2008).

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Deste modo, segundo Neves (2016, p. 234, grifo do autor), o acordo de vontade realizado entre as partes, “representado pela litiscontestatio romana, fez com que os defensores da teoria ora analisada entendessem pela existência de um negócio jurídico de direito privado, concluindo-se a partir dessa premissa que o processo seria um contrato”.

No entanto, alguns doutrinadores passaram a relativizar a ideia do processo como sendo um contrato. A partir disso, Savigny e Guényva criaram a Teoria do Processo como Quase-Contrato. Ambos acreditavam que o processo não era tipicamente um contrato, mas sim quase um contrato, em razão da inexistência de consentimento do réu no debate da lide. Para eles, o acordo era realizado entre o autor e o juiz que, desde o princípio, já concorda com a decisão que seria proferida (FERREIRA et al, 2008).

Mas, a referida teoria ainda vinculava o processo ao direito privado como uma relação jurídica, razão pela qual também perdeu força.

Assim, posteriormente, criticando a teoria supra, Bülow criou a Teoria do Processo como uma Relação Jurídica, trazendo o processo vinculado ao direito público (SÁ; FREIRE, 2012, p. 51).

Segundo ele, “no processo há uma relação entre as partes e o juiz, que não se confunde com a relação jurídica de direito material controvertida” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 304). Isso porque, antes da parte autora exercer seu direito de ação, colocando a apreciação do juiz a lide, já existe um vínculo entre ela e o réu, denominado de relação jurídica de direito material. Contudo, ao pleitear em juízo a solução da lide, nasce entre o autor e o juiz uma relação jurídica processual, que será completada com a presença do réu no processo (PINTO, 2008).

Em suma, “a relação de direito material é o objeto de discussão no processo, enquanto a relação de direito processual é a estrutura por meio da qual essa discussão ocorrerá” (NEVES, 2016, p. 235).

Não adepto a essa teoria, James Goldschmidt criou a Teoria do Processo como uma Situação Jurídica, sustentando a ideia de que o processo não é uma relação jurídica, onde são criados direitos e obrigações. O processo refere-se ao modo em que a pessoa se encontra ao esperar a prolação da sentença, praticando atos, criando expectativas e suportando ônus na busca da decisão final favorável ao seu direito (WEDY, 2007).

Todavia, entende-se que a teoria que mais se encaixa, atualmente, com a realidade processual é a Teoria do Processo como uma Relação Jurídica, que compreende como processo “o sistema de compor a lide em juízo através de uma relação jurídica vinculativa de

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direito público” (MARQUES, 1958, apud THEODORO JÚNIOR, 2012, p. 61, grifo do autor).

A par disso, verifica-se que, com o ajuizamento da demanda, nasce entre as partes e o juiz uma relação jurídico processual e, consequentemente, direitos e deveres (DOWER, 2007, p. 113).

Contudo, assim como ocorre no Direito de Ação, onde o seu exercício é condicionado à verificação de interesse e legitimidade, o surgimento do processo também depende da presença de elementos mínimos, que sem os quais não seria possível a sua existência (GONÇALVES, 2016, p. 181).

Destarte, passar-se-á a analisar os pressupostos processuais que, juntamente como as condições da ação, são considerados pressupostos de admissibilidade da atividade jurisdicional.

2.3.1 Pressupostos processuais

Como já afirmado, “a prestação jurisdicional para ser posta à disposição da parte, subordina-se ao estabelecimento válido da relação processual, que só será efetivo, quando se observarem certos requisitos” (THEODORO JÚNIOR, 2016, p. 165).

Tais requisitos são denominados pela doutrina clássica como pressupostos processuais e, juntamente com as condições da ação, são tratados como elementos de admissibilidade para o julgamento do mérito, razão pela qual, quando não preenchidos, ensejam, em regra, na extinção do processo sem resolução do mérito, nos termos do artigo 485, inciso IV do Código de Processo Civil10 (FONSECA FILHO, 2015).

Para Medina (2015, p. 464), os pressupostos processuais se apresentam sob dois aspectos, os de existência e os de desenvolvimento válido e regular do processo.

Os pressupostos de existência do processo “são assim identificados porque dizem respeito à constituição do próprio processo. São os pressupostos que, uma vez presentes, asseguram a existência jurídica do processo, não sua mera existência no plano dos fatos” (BUENO, 2009, p. 407, grifo do autor).

Nesse contexto, entende-se como elementos verificadores da existência do processo: a demanda e o órgão jurisdicional (OLIVEIRA JUNIOR, 2016a, p. 520).

10 Dispõe o artigo 485, inciso IV, do Código de Processo Civil DE 2015: O juiz não resolverá o mérito quando:

[...] IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo (BRASIL, 2015).

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À vista disso, em razão da característica de inércia da jurisdição, a parte que possuir um direito lesado ou ameaçado deverá tomar a iniciativa de buscar a tutela jurisdicional, exercendo seu direito de ação assegurado constitucionalmente (WAMBIER; TALAMINI, 2016a, p. 297).

Tal iniciativa, prevista no artigo 2º do Novo Código de Processo Civil11, dar-se-á com o ajuizamento de uma demanda, exercida por meio da interposição de uma petição inicial.

Vê-se que, ao exercer o direito de ação, a parte formula seu pedido ao órgão jurisdicional. Isso porque, o Estado assegurou para si o poder-dever de solucionar conflitos, exercendo-o por meio do processo (DOWER, 2007, p. 109).

Logo, “sem órgão jurisdicional, não temos o que falar sequer em processo, mas em mera comunicação de vontade” (OLIVEIRA JUNIOR, 2016a, p. 520).

Percebe-se que o processo, em si, existe sem o réu, pois com o ajuizamento da demanda direcionada a um órgão investido de jurisdição, nasce uma relação jurídica processual entre o autor e o Estado-juiz e, consequentemente, o processo (DIDIER JÚNIOR, 2015, p. 311).

Todavia, para o réu, o mesmo só existirá com a citação ou com seu comparecimento espontâneo, vindo a completar a relação jurídica já existente.

Após o nascimento do processo, é necessário verificar a presença de alguns requisitos para que este se desenvolva validamente e, ao final, se obtenha a sentença de mérito (WAMBIER; TALAMINI, 2016a, p. 298).

Tais pressupostos são denominados como pressupostos de desenvolvimento válido do processo, como sendo: petição inicial apta, órgão jurisdicional competente e imparcial, citação válida, capacidade de ser parte e estar em juízo e capacidade postulatória (BUENO, 2009, p. 412).

Se para a existência do processo é necessário o ajuizamento de uma demanda, por meio da interposição de uma petição inicial, para que o processo prossiga validamente, necessariamente, a petição inicial deve ser apta, observando-se os requisitos do artigo 319 do Código de Processo Civil de 201512 (CÂMARA, 2017, p. 28).

11 Explicita o artigo 2º do Código de Processo Civil de 2015: O processo começa por iniciativa da parte e se

desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei (BRASIL, 2015).

12 Dispõe o artigo 319 do Código de Processo Civil de 2015: A petição inicial indicará: I - o juízo a que é

dirigida; II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido com

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O segundo pressuposto de desenvolvimento válido do processo (órgão jurisdicional competente e imparcial) também está intimamente ligado ao segundo pressuposto de existência do processo (órgão jurisdicional).

Para Wambier e Talamini (2016a, p. 299), “se lá se exige que a demanda seja processada e decidida por órgão da jurisdição ocupado por juiz investido no cargo, aqui se requer que se trate de órgão jurisdicional competente para o conhecimento daquele determinado tipo de provimento desejado pelo autor”.

No entanto, ainda que seja um órgão dotado de jurisdição e competente para o julgamento da demanda, é necessário, também, que este seja imparcial.

Isso porque, segundo Neves (2016, p. 245), o juiz não deve ter interesse nenhum na demanda, devendo agir sempre como um terceiro desinteressado, alheio a lide, sob pena de ser considerado inválido o processo.

Como terceiro pressuposto de validade tem-se a citação válida.

Percebe-se que para que o processo exista para o réu, é necessário a sua citação. No entanto, para que tal citação seja válida, esta deverá ser realizada nos termos da lei, a fim de assegurar a ampla defesa e o contraditório, sob pena de nulidade13 (BUENO, 2009, p. 420). Convém ressaltar, todavia, que a nulidade da citação ou até mesmo a sua ausência não é absoluta. O Código de Processo Civil permite suprir as irregularidades com o comparecimento espontâneo do réu no processo14 (GONÇALVES, 2016, p. 329).

Por fim, têm-se como pressupostos de desenvolvimento válido do processo a capacidade de ser parte e estar em juízo e a capacidade postulatória, todas intimamente ligadas às partes do processo.

Enquanto a capacidade de ser parte do processo está ligada aos sujeitos titulares de direitos e obrigações, nos termos do artigo 1º do Código Civil15, a capacidade de estar em

as suas especificações; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. § 1o Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção. § 2o A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu. § 3o A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça (BRASIL, 2015)

13 Discorre o artigo 239, caput, do Código de Processo Civil de 2015: Para a validade do processo é

indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido; [...] (BRASIL, 2015).

14

Alude o artigo 239, parágrafo primeiro, do Código de Processo Civil de 2015: Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido. §1º O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação de contestação ou de embargos à execução; [...] (BRASIL, 2015).

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juízo diz respeito à aptidão da parte de praticar os atos da vida civil, com ou sem representação (BARROSO, 2007).

Assim, o menor de 18 anos possui capacidade de ser parte no processo, visto que é titular de direitos e obrigações, mas não possui capacidade de estar em juízo sozinho, dependerá da participação dos pais para pleitear a prestação jurisdicional (VEZZONI, 2011).

Todavia, para buscar a tutela jurisdicional, a parte deve ter, ainda, capacidade postulatória. Isso quer dizer que, embora ela seja titular de direitos e obrigações e tenha capacidade de estar em juízo, esta deve estar assistida em juízo por um advogado devidamente habilitado na Ordem dos Advogados do Brasil (THEODORO JUNIOR, 2016, p. 335).

Ressalta-se, no entanto, que a lei põe a salvo casos em que é dispensada a capacidade postulatória, como por exemplo, nos juizados especiais em demandas de até 20 salários mínimos, na justiça trabalhista, no habeas corpus e na ação direita de inconstitucionalidade (NEVES, 2016, p. 252).

Expostos todos os pressupostos processuais e seus desdobramentos, conclui-se que “sempre que no processo, após ter sido esgotada a possibilidade de supressão de eventual vício, faleçam os pressupostos processuais, deve o juiz extinguir o processos sem resolução do mérito” (OLIVEIRA JUNIOR, 2016a, p. 520).

2.3.2 Processo e procedimento

Consoante visto anteriormente, “é garantido a todos o acesso à justiça, o direito de obter uma resposta do poder judiciário a todos os requerimentos formulados. Desde o momento em que é proposta a demanda, haverá a formação de um processo, que é o instrumento da jurisdição” (GONÇALVES, 2016, p. 179).

Entende-se, pois, por processo o instrumento pela qual o Estado-juiz presta a tutela jurisdicional, a fim de solucionar os conflitos postos a sua apreciação (BARROSO, 2007).

Deste modo, o Código de Processo Civil de 2015 prevê duas modalidades de processo: o processo de conhecimento e o de execução (MOREIRA, 2012, p. 3).

O primeiro “é definido como sendo aquele que a parte busca o reconhecimento jurisdicional da existência ou inexistência de um direito, pleiteando ao juiz que investigue

15

Explicita o artigo 1º do Código Civil: Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil (BRASIL, 2002).

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fatos pretéritos e aplique o ordenamento de tais fatos, de modo a afirmar quem tem razão” (WAMBIER; TALAMINI, 2016a, p. 275).

Já o processo de execução, segundo Theodoro Junior (2016, p. 160), o direito já está reconhecido em um título judicial ou extrajudicial, e o que se pretende por meio do processo é a satisfação desse direito mediante a intervenção do Estado, independentemente da vontade do devedor.

Por outro lado, diferentemente do processo, mas intimamente ligado, tem-se o procedimento, compreendido como “o mecanismo pela qual se desenvolvem os processos diante dos órgãos da jurisdição. Trata-se do encadeamento lógico dos atos processuais, compondo certa “costura” cronológica” (WAMBIER; TALAMINI, 2016a, p. 272).

Ademais, não se tratam dos documentos físicos que compõe os autos do processo, mas sim a maneira com que os atos processuais são ligados, encadeados, em busca de um só fim: o provimento jurisdicional (BUENO, 2009, p.470).

Contudo, “para permitir a efetividade da tutela jurisdicional é imprescindível que o procedimento seja idôneo a sua obtenção, surgindo à necessidade de muitas vezes estabelecer procedimentos diferenciados, segundo o caso concreto em análise” (ÁVILA, 2013).

Deste modo, tomando-se a sistemática adotada pelo Código de Processo Civil de 201516, os procedimentos estão classificados como comum e especiais (FREIRE; CUNHA, 2017, p. 462).

Denomina-se procedimento comum, aquele que “assegura às partes as mais amplas garantias processuais, proporcionando cognição judicial plena no plano horizontal (abrangendo quaisquer matérias) e exauriente no plano vertical (com máxima profundidade)” (ROQUE, 2016b, p. 2).

Todavia, embora este procedimento seja caracterizado pela sua formalidade e complexidade, o Código de Processo Civil de 2015, visando à celeridade processual, passou a autorizar o julgador em determinados casos, a encurtar, modificar e flexibilizar o procedimento, como é o caso do negócio jurídico processual, do calendário processual e do julgamento antecipado parcial do mérito, tema da presente monografia (IMHOF, 2016).

Oposto ao procedimento comum, segundo Wambier e Talamini (2016a, p. 281) os procedimentos especiais servem para hipóteses expressamente previstas em lei, em casos

16 Dispõe o artigo 318 do Código de Processo Civil de 2015: Aplica-se a todas as causas o procedimento comum,

salvo disposição em contrário deste Código ou de lei. Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução (BRASIL, 2015).

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especiais que necessitam de atos mais adequados às suas peculiaridades, como por exemplo, as demandas possessórias.

À vista disso, conclui-se que o “processo necessita de um procedimento legítimo, que respeite os direitos tutelados, assim como o contraditório e a ampla defesa, para atingir seu escopo, qual seja, uma tutela jurisdicional efetiva” (AVILA, 2013).

Isso posto, devidamente especificados e discutidos os institutos do direito processual civil brasileiro, passar-se-á a analisar os elementos da demanda, especificamente o pedido e seus desdobramentos, que, juntamente com o tema estudado neste capítulo, colaborarão na compreensão do Julgamento Antecipado Parcial do Mérito.

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3 PEDIDOS NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO

Após analisar os institutos fundamentais do direito processual civil brasileiro, passar-se-á a explorar o pedido, elemento da demanda essencial para a compreensão do tema central da presente monografia.

3.1 ELEMENTOS DA DEMANDA

Verificando-se a existência do direito de ação, com o preenchimento dos requisitos necessários para se postular em juízo, quais sejam interesse de agir e legitimidade, necessário se faz a identificação de certos elementos que distinguem uma demanda das demais. Tais premissas são denominadas como elementos da demanda, como sendo: as partes, a causa de pedir e o pedido (GONÇALVES, 2016, p. 166).

Em regra, as partes são denominadas como “o autor e o réu, isto é, aquele que pede, em nome próprio, a prestação jurisdicional e aquele contra quem ou em face de quem o autor formula o seu pedido, ou a pluralidade de autores ou de réus, litisconsortes ativos ou passivos” (TESHEINER, 2014).

No entanto, conforme visto no tópico de legitimidade, há casos excepcionais e autorizados em lei em que terceiro vêm a juízo pleitear direito alheio, fugindo do conceito tradicional de partes do processo (FREIRE; CUNHA, 2017, p. 83).

Como segundo elemento da demanda, tem-se a causa de pedir. Trata-se, para Barroso (2007, p. 97), dos “motivos, de fato e de direito, que levam o autor a movimentar a máquina judiciária. Em simples palavras, a causa de pedir é a razão de estar em juízo ou os fundamentos para a providência requerida”.

À vista disso, verifica-se que o Código de Processo Civil de 2015 adota a Teoria da Substanciação, segundo a qual, para identificação da demanda, é necessário a descrição na petição inicial dos fatos e fundamentos jurídicos que ensejaram a pretensão do autor. (WAMBIER; TALAMINI, 2016a, p. 213).

Portanto, a causa de pedir se divide em duas: a causa de pedir próxima e a causa de pedir remota. Para Theodoro Júnior (2016, p. 192), causa de pedir próxima refere-se aos fundamentos jurídicos que embasam a reinvindicação do autor, enquanto a causa de pedir remota são os fatos em si mesmo, a própria violação do direito que se pretende proteger.

Contudo, segundo Didier Junior (2015, p. 553), fundamento jurídico não é sinônimo de fundamento legal. Isso porque, o juiz, ao prolatar a sentença, está adstrito aos

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fatos deduzidos na demanda e ao pedido formulado pelo autor, todavia, não está vinculado a norma legal trazida por este, podendo julgar a demanda com base em dispositivos legais diferentes dos elencados na petição inicial, após manifestação das partes acerca do tema17

Assim, constata-se que no processo “os fatos geram o direito material do autor, com base no qual ele propõe a providência jurisdicional para se apropriar do bem da vida, ou seja, há a exposição dos fatos (causa de pedir remota) e do direito (causa de pedir próxima) e, em seguida, a formulação do pedido [...]” (GRECO, 2015a).

À vista disso, como terceiro e último elemento da demanda, tem-se o pedido. Para Santos (2012, p. 197), pedido é o objeto da demanda, a matéria sobre a qual incidirá a atuação jurisdicional, é aquilo que o autor busca com o ajuizamento da demanda, com fundamento na causa de pedir.

Ressalta-se que o elemento do pedido será esmiuçado nos próximos tópicos deste capítulo, razão pela qual, neste momento, limitou-se apenas a sua definição.

Pelo exposto, verifica-se que ausência de quaisquer dos elementos estruturantes da demanda resultará em inépcia da petição inicial, nos termos do artigo 330, inciso I e §1º, inciso I, do Código de Processo Civil de 201518, visto que impedirá a identificação dos limites da atividade jurisdicional, impedindo-se a prolação da sentença de mérito (STRECK; NUNES; CUNHA, 2016, p. 478).

No entanto, “apesar de o art. 330, § 1º, I, referir-se à falta de pedido ou de causa de pedir, a petição inicial que não especificar um réu determinado padece igualmente de vício grave, acarretando a sua inaptidão” (TUCCI, 2017, p. 319).

3.2 O PEDIDO

Como visto anteriormente, “quem invoca a proteção da atividade jurisdicional do Estado, movimentando esse aparato estatal, o faz porque dele necessita e tem uma pretensão, a respeito da qual fará um pedido ao Poder Judiciário” (WAMBIER; TALAMINI, 2016a, p. 211).

17 Dispõe o artigo 10 do Código de Processo Civil de 2015: O juiz não pode decidir, em grau algum de

jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício (BRASIL, 2015).

18 Alude o artigo 330, inciso I e §1º, inciso I, do Código de Processo Civil de 2015: A petição inicial será

indeferida quando: I - for inepta; [...]§ 1º Considera-se inepta a petição inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; [...] (BRASIL, 2015).

Referências

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