FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS) E ESTÁGIO SUPERVISIONADO SOB UMA PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR
Jocélia de Jesus Rêgo da Silva - UPEi Adelina Maria Salles Bizarro - UPEii Monise Ravena de Carvalho Sousa - UPEiii
RESUMO
A formação de professores(as) continua sendo uma das mais discutidas nos dias atuais, tendo em vista a relevância do seu papel no processo de construção, aprimoramento e consolidação do conhecimento. Desse modo, o presente estudo tem o objetivo de refletir sobre a formação de professores(as) e o estágio supervisionado, com o intuito de identificar as contribuições da interdisciplinaridade no processo de formação do profissional docente. Para atingir aos objetivos propostos, utilizou-se como percurso metodológico a pesquisa bibliográfica, a fim de realizar um breve mapeamento de estudos desenvolvidos na área. Como aporte teórico, este estudo teve como respaldo autores clássicos na área, como: Bochniak (1998), Fazenda (2001; 2012), Magalhães (2011), Pimenta (2004), Souza (2006), Vasconcelos (2002), entre outros. O intento de trazer à tona a interdisciplinaridade, como abordagem no processo de ensino-aprendizagem, parece nos permitir reconhecer a sua potencialidade para práticas pedagógicas que visam uma aprendizagem mais significativa, voltada à formação humana integral, pois a distância existente entre teoria e prática na perspectiva de parceria com as escolas de Educação Básica e outras instituições educativas pode ser minimizada por meio das ações que se realizam no interior da universidade. Assim, torna-se relevante evidenciar as contribuições do estágio supervisionado nas licenciaturas como possibilidade de superação dessa visão dicotômica entre teoria e prática, de resgate da valorização da docência como atividade intelectual, crítica e reflexiva, da construção da identidade do(a) professor(a) frente ao encontro e ao confronto com a realidade escolar. Dessa maneira, de forma crítico-reflexiva, este texto levanta discussões importantes para pensar a formação de professores(as), na atualidade, a partir do estágio supervisionado numa perspectiva interdisciplinar. Ademais, espera-se que este estudo possa contribuir com novas discussões acerca do objeto em análise.
Palavras-chave: Formação Docente. Estágio Supervisionado. Interdisciplinaridade.
INTRODUÇÃO
A formação docente continua se apresentando como um desafio que implica, em parte, o futuro da educação e da própria sociedade. Diante das mudanças ocorridas, ao longo do tempo, mais do que nunca, há a necessidade de se pensar na construção de um projeto político e educacional, que tenha por objetivo, uma formação integral do ser humano, que estimule o senso crítico, através de uma educação firmada em bases consistentes e interdisciplinares entre teoria e prática, fundada nos princípios de qualidade e desenvolvimento social.
Nesse contexto, o estágio supervisionado se apresenta como um marco na formação de professores(as), pois se configura como um dos canteiros para ascensão profissional. Parece ter como objetivo, a (re)elaboração contínua da prática pedagógica. Para tal, observa-se não ser possível, nem tampouco admissível, dissociar os conhecimentos teóricos dos conhecimentos empíricos. Assim, Pimenta (2004) corrobora que o estágio supervisionado tem sido alvo de preocupação dos(as) educadores(as), tendo em vista que, comumente, existe uma cisão entre eles.
Desse modo, surge como problema de pesquisa do presente estudo, a seguinte indagação: Quais contribuições do estágio supervisionado na formação de professores(as) numa perspectiva interdisciplinar?
Ademais, esta pesquisa se torna relevante na medida em que possibilita a reflexão sobre formação de professores(as) e contribuição do estágio supervisionado numa perspectiva interdisciplinar nesse processo de formação.
ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS) COM UM VIÉS INTERDISCIPLINAR: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Observa-se que o Estágio Supervisionado integrado aos demais componentes curriculares, na formação de professores(as), ainda, representa um desafio a partir da revisão bibliográfica realizada.
Os estágios supervisionados têm como respaldo legal e etapa obrigatória aqueles previstos na Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008, o qual se configura numa oportunidade de (re)elaboração contínua da prática pedagógica numa parceria de indissociabilidade entre teoria e prática para o conhecimento da realidade e o estabelecimento de finalidades com vistas a uma transformação, permitindo ao(à) licenciando(a) assumir o papel ativo na sociedade, mediante o desenvolvimento dos saberes necessários à educação, de forma integrada, numa perspectiva de currículo interdisciplinar.
Os anseios pela interdisciplinaridade, segundo Siebeneichler (1989 apud AZEVEDO e ANDRADE, 2011), pautam-se em três elementos fundamentais: a superação dos limites das disciplinas especializadas, a retomada de um desejo humanista e o medo diante da ameaça de autodestruição da espécie humana e do planeta Terra. Assim, a interdisciplinaridade configura-se como um dos elementos fundamentais para pensar um currículo de formação de professores(as) com o intuito de promover uma nova forma de pensar o conhecimento, onde seja possível a integração entre indivíduos-sociedade-conhecimentos, possibilitando, assim, uma conexão das
práticas docentes e um elo entre os(as) profissionais de ensino (AZEVEDO e ANDRADE, 2011).
Nessa perspectiva, dentro do currículo de formação de professores(as), vivenciamos o Estágio Supervisionado, o qual não deve se apresentar, apenas, como a parte prática do curso, mas como momento de articulação teórica e prática, através do contato direto com o futuro campo de atuação do(a) estagiário(a). Nesse sentido, Souza (2006) indica a necessidade de superação da fragmentação do conhecimento por meio da utilização de metodologias interdisciplinares e transdisciplinares e de se recriar o currículo das licenciaturas.
Partindo desse pressuposto, parece existir necessidade de intervenções interdisciplinares no contexto educacional como elemento que deve permear todo o currículo escolar e nutrir as práticas pedagógicas, enfatizando as interdisciplinares, tendo como ponto inicial a valorização da experiência concreta como fonte de conhecimento (VASCONCELOS, 2002).
Desse modo, o Estágio Supervisionado se configura como uma possibilidade de aproximação do(a) professor(a) em formação com a realidade concreta, pautando-se nos fundamentos de uma escola que conduza aos(às) alunos(as) perceberem e refletirem a estrutura e o funcionamento da sociedade, parecendo obter, assim, condições de transformá-la. Nesse sentido, a interdisciplinaridade não se apresenta, apenas, como uma forma de aproximar as disciplinas afins, mas como uma proposta de superar uma visão fragmentada que, ainda, mantemos em nós mesmos, do mundo e da realidade que nos cerca (BOCHNIAK, 1998).
Nessa perspectiva, um dos caminhos possíveis para reversão da descontextualização são os projetos colaborativos, que segundo Parrila (1996 apud DAMIANI, 2008), “são aqueles em que todos os componentes compartilham as decisões tomadas e são responsáveis pela qualidade do que é produzido em conjunto, conforme suas possibilidades e interesses” (p. 214).
Há uma correspondência dessas ideias com o pensamento de Boavida e Ponte (2002), pois, de acordo com estes, a colaboração é uma estratégia essencial para enfrentar problemas de natureza complexa, como por exemplo, a prática pedagógica. Comungando com a ideia dos autores supracitados, Nono e Mizukami (2001) advogam que a colaboração pode possibilitar o desenvolvimento da criticidade, da resolução de problemas e tomada de decisões, demonstrando ser um bom caminho na busca da interdisciplinaridade pedagógica, promovendo uma aprendizagem significativa e eficaz
aos(às) alunos(as), propiciando-lhes uma melhor compreensão da realidade e aumentando suas possibilidades de sucesso na vida acadêmica e profissional.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Como percurso metodológico, para este estudo, utilizou-se a pesquisa bibliográfica com o objetivo de mapear parte do conhecimento científico produzido acerca da temática, através da revisão de literatura, a qual possibilitou um maior aprofundamento teórico e, assim, refletir sobre a dimensão prática. Nesse sentido, Gil (2008, p. 50) explica que “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído, principalmente, de livros e artigos científicos”, com o objetivo de analisar posições diversas em relação a um determinado assunto.
Houve consulta aos artigos científicos e livros da área em estudo, realizando-se leitura e avaliação crítica do material selecionado, para verificar se respondiam, momentaneamente, ao objetivo da pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi discutido, até o presente momento, há indícios que o(a) professor(a) parece realizar um trabalho social específico, não que seja melhor ou pior que os(as) demais trabalhadores(as), porém,ele(a) tem um diferencial: é formador(a) de opiniões e possui a capacidade de lidar com as ideias, com a formação de indivíduos mais críticos e reflexivos, devendo lançar mão de práticas pedagógicas interdisciplinares e contribuindo, assim, para a superação das condições sociais desfavoráveis.
Nesse sentido, cabe ao(à) professor(a) realizar a tarefa de (re)humanização do homem e da mulher, sendo capaz de intervir e sensibilizar, através de uma proposta inter e transdisciplinar, pautada na articulação de saberes, na compreensão, no diálogo e na reflexão, estabelecendo uma razão-afetivo-sensível (MAGALHÃES, 2011), considerando o estágio supervisionado um dos componentes curriculares obrigatório de grande importância nesse percurso inicial da formação.
Nesse contexto, para que existam práticas pedagógicas interdisciplinares nas escolas e em outros espaços educativos, numa perspectiva de educação emancipadora, o diálogo é essencial (FAZENDA, 2012; AZEVEDO e ANDRÉ, 2011).
Assim, provisoriamente, a conclusão que se pode registrar é apontar a grande importância para que o Estágio Supervisionado seja conduzido e realizado, pautado em práticas pedagógicas interdisciplinares, de forma a desenvolver aos(às) licenciandos(as) um (re)pensar no fazer educação para a promoção da transformação social.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Maria Antonia Ramos; ANDRADE, Maria de Fátima R. de. O papel da interdisciplinaridade e a formação do professor: aspectos histórico-filosóficos. In: Educação Unisinos. v. 15, nº 3, set/dez, 2011.
BOAVIDA, A M.; PONTE, J. P. Investigação colaborativa: Potencialidades e problemas. In: GTI (Org), Reflectir e investigar sobre a prática profissional. Lisboa: APM, p. 43-55, 2002.
BOCHNIAK, Regina. Questionar o conhecimento. São Paulo: Loyola, 1998.
BRASIL. Lei nº 11.788 de 25 de setembro de 2008. Ministério da Educação. Brasília, 2008.
DAMIANI, M. F. Entendendo o trabalho colaborativo em educação e revelando seus benefícios. Educar em Revista, v 31, p. 213-230, 2008.
FAZENDA, Ivani Catarina. Interdisciplinaridade, história, teoria e pesquisa. 8. ed., Campinas-SP: Papirus, 2001.
_________. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia. 5. ed., São Paulo: Loyola, 2012.
Gil, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. - 6. ed. - São Paulo: Atlas, 2008.
MAGALHÃES, Solange Martins Oliveira. Afetar e sensibilizar na educação: uma proposta transdisciplinar. In: Linhas Críticas, Brasília, v. 17, n. 32, p. 168-181, jan./abr, 2011.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da metodologia científica. 5. ed., São Paulo: Atlas, 2003.
NONO, M. A.; MIZUKAMI, M. G. N. Aprendendo a ensinar: futuras professoras. In PARRILA, A.; DANIELS, H. Criação e desenvolvimentos de grupos de apoio para professores. São Paulo: Loyola, 2004.
PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. 2. ed., São Paulo: Cortez, 2004.
VASCONCELOS, Eduardo M. Complexidade e pesquisa interdisciplinar. Petrópolis-RJ: Vozes, 2002.
i
Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares (PPGFPPI) da Universidade de Pernambuco (UPE) - Campus Petrolina.
ii
Professora Adjunta da Universidade de Pernambuco e Orientadora da mestranda Jocélia de Jesus Rêgo da Silva no Mestrado em Educação do Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares (PPGFPPI), da Universidade de Pernambuco (UPE) - Campus Petrolina.
iii
Bacharela em Administração Pública pela Universidade Federal do Piauí. Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia e aluna especial do PPGFPPI, UPE – Campus Petrolina.
