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Relatório sobre o papel das autoridades locais e regionais na gestão das migrações no Mediterrâneo

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COR-2014-01464-00-03-TCD-TRA (FR) 1/13 6.ª reunião plenária

15 de dezembro de 2014

Relatório sobre o papel das autoridades locais e regionais

na gestão das migrações no Mediterrâneo

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O presente relatório, elaborado por António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa (PT), foi adotado em 15 de dezembro de 2014, na 6.ª reunião plenária da ARLEM, que teve lugar em Antália (Turquia).

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1. Introdução / Contexto:

A região euro-mediterrânica sempre foi um espaço de contacto entre povos e um palco de movimentos migratórios significativos, que moldaram a sua atual paisagem demográfica, social, económica e cultural. As migrações, internas e internacionais, voluntárias e forçadas, na bacia do Mediterrâneo devem-se a fatores de natureza económica, social, política, demográfica e pessoal e são um fenómeno complexo com profundas implicações sociais, económicas, políticas e culturais.

Existe uma mudança de paradigma da migração nos países do sul e leste do Mediterrâneo. Além de importantes países de origem de imigrantes a residir legalmente na UE1, são países de trânsito e de destino de fluxos do Médio Oriente e da África subsariana, acolhendo importantes contingentes de imigrantes do Sudão, Eritreia e Somália, entre outros2. Os conflitos e a situação de instabilidade política e de insegurança no Médio Oriente e na África subsariana continuarão a originar fluxos migratórios que afetarão toda a região do Mediterrâneo.

Mais recentemente, no rescaldo da Primavera Árabe, os fluxos migratórios intensificaram-se, afetando não apenas a Europa, mas toda a região euro-mediterrânica, resultando em crises humanitárias e criando pressão contínua sobre os governos e as autoridades locais dos países de acolhimento, em especial os países mais próximos das zonas de conflito. O conflito na Líbia provocou uma deslocação maciça de pessoas (800 000) para os países vizinhos, em especial a Tunísia e o Egito3. Desde 2011, o conflito na Síria originou uma vaga de refugiados na região (2,9 milhões), sobretudo na Jordânia (604 000), Líbano (1,1 milhão), Turquia (795 000), Egito (138 000) e Iraque (220 000)4. Apenas um reduzido número de refugiados sírios chegou à UE (desde 2011, cerca de 83 000 pedidos de asilo)5. Este fluxo tem uma particular repercussão ao nível local, já que são os municípios desses países que, muitas vezes, estão na linha da frente do acolhimento dos refugiados sírios, enfrentando enormes dificuldades para assegurar serviços básicos, como a gestão do lixo, o saneamento, fornecimento de água potável, serviços de saúde, de educação, etc.6. Por isso, a ARLEM reitera o seu pedido à UE e à comunidade internacional no sentido de assegurar às coletividades territoriais os meios suficientes para dar assistência aos refugiados sírios7.

1

Em 2013, residiam legalmente 20,4 milhões de nacionais de países terceiros na UE (4% da sua população), constituindo os imigrantes de nacionalidade turca e marroquina as duas primeiras comunidades. Comunicação «Quinto relatório anual sobre a imigração e o asilo», COM(2014) 288, 22.5.2014.

2

Cfr. Manuel Manrique Gil e outros, «Mediterranean flows into Europe: Migration and the EU’s foreign policy», Departamento de Políticas – Direção-Geral de Políticas Externas, Parlamento Europeu, março de 2014, in:

http://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/briefing_note/join/2014/522330/EXPO-JOIN_SP(2014)522330_EN.pdf 3

Comunicação «Um diálogo sobre migração, mobilidade e segurança com os países do Sul do Mediterrâneo», COM(2011) 292 final, 24.5.2011.

4

ACNUR, http://data.unhcr.org/syrianrefugees/regional.php. No tocante à Jordânia, o número total de refugiados sírios, incluindo os que não se apresentaram ao ACNUR, está estimado em cerca de 1 200 000.

5

Comunicação «Quinto relatório anual sobre a imigração e o asilo», COM(2014) 288, 22.5.2014. 6

«Les municipalités en première ligne – les effets de la crise syrienne sur les collectivités locales frontalières à la Syrie (Turquie, Jordanie, Liban)» – Relatório de missão e recomendações (2013) – uma iniciativa da CGLU.

7

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Por outro lado, na era da mobilidade, a Europa vai continuar a acolher imigrantes, requerentes de asilo e refugiados da região do Mediterrâneo ou em trânsito pela região. Tendo em consideração o aumento da sua dependência da mão de obra imigrante devido à baixa natalidade e uma população em envelhecimento, a imigração terá um papel importante na realização da sua Estratégia Europa 2020 de crescimento e emprego8, pelo que é espectável que os fluxos migratórios se intensifiquem. Por outro lado, as diferentes evoluções demográficas sentidas na Europa (em declínio demográfico) e no sul, em especial no continente africano (com o aumento contínuo da sua população), conduzirão a que os fluxos migratórios se intensifiquem em direção aos Estados-Membros da União Europeia.

Os fluxos migratórios no Mediterrâneo são, assim, um processo complexo que coloca importantes desafios, mas também oportunidades para a Europa e para todos os países do leste e sul do Mediterrâneo, que devem ser aproveitadas em benefício da integração socioeconómica de toda a região euro-mediterrânica.

Ao nível da UE, o desenvolvimento de uma política de migração, asilo e integração iniciou-se com o Conselho Europeu de Tampere (1999) e teve um impulso com o Pacto Europeu sobre a Imigração e o Asilo (2008)9 e o Programa de Estocolmo (2009). No quadro das orientações estratégicas para os próximos anos, o Conselho Europeu de 26-27 de junho de 201410 reiterou a necessidade de a Europa promover a imigração legal e a proteção das pessoas que dela necessitam, reforçar a luta contra a migração irregular, agindo sobre as suas causas profundas, e intensificar a cooperação com os países de trânsito e de origem, de acordo com o princípio «mais por mais».

As migrações e a mobilidade são também um aspeto essencial das relações da UE com os países do Mediterrâneo no quadro da Política Europeia de Vizinhança (PEV), revista em 201111, e da sua renovada Abordagem Global para a Migração e Mobilidade (AGMM)12, que estabelece o quadro estratégico para a política externa da UE em matéria de imigração e asilo, assente em quatro pilares13. O respeito pelo direito de sair de qualquer país e de regressar ao seu país de origem, o respeito dos direitos humanos dos migrantes, incluindo nas ações contra a migração irregular, a promoção da migração legal, a garantia do direito a obter proteção internacional na UE são aspetos centrais da

8

De acordo com a Comissão Europeia, prevê-se que em 2060 existam menos 50 milhões de trabalhadores ativos se os níveis de imigração se mantiverem estáveis e, se eles se reduzissem, seriam necessários 110 milhões de trabalhadores para garantir a sustentabilidade dos sistemas de segurança social. http://ec.europa.eu/news/justice/110526_pt.htm.

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O Pacto estabeleceu cinco compromissos em matéria de política de imigração e asilo da UE: organização da imigração legal, luta contra a imigração irregular, reforço das fronteiras externas da UE, construção do sistema europeu comum de asilo e criação de uma parceria global para a migração e desenvolvimento.

10

JO C 240 de 24.7.2014, p. 13. 11

Comunicação conjunta «Uma nova estratégia para uma vizinhança em mutação», COM(2011) 303 final, 25.5.2011; Comunicação conjunta «Política Europeia de Vizinhança: rumo a uma Parceria reforçada», JOINT(2013) 4 final, 20.3.2013. 12

Comunicação «Abordagem Global para a migração e a mobilidade», COM(2011) 743 final, 18.11.2011. 13

Reforço da migração legal e facilitação da mobilidade; prevenção e luta contra a migração irregular e o tráfico de seres humanos; maximização do impacto das migrações no desenvolvimento; promoção da proteção internacional.

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política externa da UE em matéria de migrações aos quais o Comité das Regiões dá especial importância14.

Na sequência das mudanças ocorridas no Norte de África, a UE propôs aos países do sul do Mediterrâneo um diálogo estruturado sobre a migração, mobilidade e segurança15. Neste quadro, foram assinadas parcerias para a mobilidade com Marrocos (2013) e com a Tunísia (2014), foi lançado um diálogo estruturado sobre migração, mobilidade e segurança com a Jordânia (2014), com vista à celebração de uma parceria para a mobilidade, estando a UE a envidar esforços para avançar com novos diálogos em matéria de migração, mobilidade e segurança com o Egito, a Líbia, a Argélia e o Líbano. As parcerias para a mobilidade poderão ser uma oportunidade para uma melhor gestão das migrações, desde que sejam devidamente implementadas e permitam assegurar de forma proativa a mobilidade e os interesses dos países do sul do Mediterrâneo.

Para além destas plataformas bilaterais de diálogo e cooperação entre a UE e os parceiros do Mediterrâneo, são também relevantes os diversos processos de diálogo sobre migrações ao nível mundial (Diálogo de Alto Nível da ONU sobre migração e mobilidade internacional, Fórum Global sobre Migrações e Desenvolvimento), regional (Parceria Estratégica UE-África para a migração, mobilidade e emprego, Parceria do Sul do Mediterrâneo) e sub-regional (Processo de Rabat, 1.ª reunião ministerial euro-mediterrânica sobre migração16, Diálogo do Mediterrâneo Ocidental 5+5).

Tendo em consideração as diferentes estruturas de diálogo e cooperação, a União para o Mediterrâneo (UM) pode ser uma plataforma de diálogo para a definição de soluções comuns para uma gestão global, integrada e sustentável dos fluxos migratórios na região euro-mediterrânica17.

É ao nível local que o impacto das migrações sobre o tecido socioeconómico se faz sentir com maior intensidade e que se colocam os problemas diários de integração e acolhimento dos imigrantes. Muitas autoridades locais e regionais (ARL), especialmente as que se localizam nas fronteiras externas dos Estados-Membros da ARLEM e nos grandes centros urbanos, estão a ser especialmente afetadas por fluxos crescentes de migrantes, requerentes de asilo e refugiados, sendo responsáveis pelo seu acolhimento e integração.

14

Parecer do CR (CIVEX-V-027) sobre «A Abordagem Global das Migrações e Mobilidade», adotado na reunião plenária de 18 e 19 de julho de 2012 (relator: Nichi Vendola).

15

COM(2011) 292 final, Comunicação da Comissão Europeia «Um diálogo sobre migração, mobilidade e segurança com os países do Sul do Mediterrâneo».

16

A primeira reunião ministerial euro-mediterrânica sobre migrações, realizada em 18 e 19 de novembro de 2007, lançou uma agenda de cooperação e diálogo entre os países da região baseada em três eixos estratégicos: migração legal, migração e desenvolvimento, combate à migração irregular.

http://www.sef.pt/documentos/56/AGREEDCONCLUSIONS18NOVEMBER.pdf. 17

Na declaração de 1 de abril de 2014, a Mesa da Assembleia Parlamentar da UM, reunida em Lisboa, sublinhou a necessidade de uma abordagem equilibrada e coerente entre as políticas de migração e asilo e as políticas económicas, demográficas, de emprego e de integração e desenvolvimento. Também apelou à necessidade de promover canais de migração legal para maximizar os impactos positivos da mobilidade humana e uma melhor repartição de responsabilidades, baseada no princípio da solidariedade, para fazer face à pressão migratória sobre os países do Mediterrâneo; http://www.paufm.org/bureau/Docs/1April2014_Lisbon/Declaration_FR.pdf.

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Como vem sido reiterado pelo Comité das Regiões, a abordagem global das migrações requer uma governação a vários níveis, que garanta o envolvimento das ARL e reconheça o seu papel-chave na promoção e execução de políticas sociais, de emprego, de acolhimento e integração, na gestão da migração irregular e no estabelecimento de diálogo e cooperação com as suas contrapartes nos países de origem e de trânsito18.

Neste contexto, deve ser reconhecido à ARLEM, enquanto parte integrante da estrutura de governação da UM que representa a sua dimensão territorial, o seu papel de fórum privilegiado para o diálogo político com as ARL da região euro-mediterrânica no domínio da gestão das migrações na região, bem como na implementação da AGMM19.

2. A gestão das migrações no Mediterrâneo

2.1 Resposta eficaz às situações de crise humanitária no Mediterrâneo: papel das cidades/regiões

Nos últimos anos, o Mediterrâneo tem sido palco de tragédias nas quais milhares de pessoas (imigrantes económicos, refugiados, requerentes de asilo, vítimas de tráfico de seres humanos, menores não acompanhados) perderam a vida a tentar entrar irregularmente na UE20. Em 2013, a Comissão Europeia estima que tenham chegado à Europa 40 000 pessoas por via marítima, das quais pelo menos 600 perderam a vida na travessia21. Este fenómeno da migração irregular no Mediterrâneo alcançou particular visibilidade política com o incidente de 3 de outubro de 2013, quando o naufrágio de um barco ao largo de Lampedusa, que transportava mais de 500 imigrantes, causou a morte a 360 imigrantes. O incidente de 6 de fevereiro de 2014, quando 15 imigrantes africanos perderam a vida a tentar entrar em Ceuta, também ilustra o drama humanitário que se está a viver na Rota do Mediterrâneo Ocidental. Desde 2011, a pressão migratória em Ceuta e Melilla (mas também em outras regiões de Espanha, como por ex. Valência, para onde os migrantes são transferidos) está constantemente a aumentar, com milhares de imigrantes de países subsarianos, mas também sírios e argelinos, a entrar irregularmente no espaço europeu através destas cidades22. Estes e outros incidentes são marcos trágicos, que colocaram a necessidade de prevenção da migração irregular no Mediterrâneo no topo da agenda política.

18

Parecer do CR (CIVEX-V-027) sobre «A Abordagem Global das Migrações e Mobilidade», adotado na reunião plenária de 18 e 19 de julho de 2012 (relator: Nichi Vendola).

19

Parecer do CR (CIVEX-V-027) sobre «A Abordagem Global das Migrações e Mobilidade», adotado na reunião plenária de 18 e 19 de julho de 2012 (relator: Nichi Vendola).

20

Em 2013, o número de imigrantes detetados a entrar irregularmente na UE subiu 48% em relação a 2012, tendo-se verificado um aumento muito significativo de imigrantes que partem do Norte de África (Líbia e Egito) e tentam atravessar o mar Mediterrâneo, colocando a sua vida em risco. Também aumentou o número de pessoas detetadas a atravessar ilegalmente o Mediterrâneo, oriundas da Eritreia, Somália, Nigéria, Mali e Senegal, percorrendo uma rota longa e perigosa. FRONTEX – «Annual Risk Analysis 2014», in http://frontex.europa.eu/assets/Publications/Risk_Analysis/Annual_Risk_Analysis_2014.pdf 21

Comunicação da Comissão «Quinto relatório anual sobre imigração e asilo», COM(2014) 288, 22.5.2014. 22

«Irregular Immigration on the European Union’s Southern Border – Report by the President of the Committee of Regions on the situation in the cities of Ceuta and Melilla (Spain)», 15.4.2014.

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Na sequência do trágico incidente ao largo de Lampedusa, foi criada a Task Force para o Mediterrâneo, presidida pala Comissão Europeia, para tomar medidas que previnam a perda de vidas humanas no mar23, cuja implementação foi considerada prioritária pelo Conselho Europeu de 26 e 27 de junho de 2014. Também foi lançada a operação italiana de patrulhamento e salvamento «Mare Nostrum», que já permitiu salvar muitas vidas.

A migração irregular e os fluxos de refugiados são um fenómeno complexo e preocupante, que tem colocado enorme pressão sobre as autoridades nacionais, regionais e locais em todos os países da região euro-mediterrânica. São as ARL, em especial as que se situam na fronteira sul (Jordânia, Turquia, Líbano, Egito), mas também as dos Estados-Membros da orla norte (Chipre, Malta, Itália, Grécia e Espanha) que estão na linha da frente do acolhimento e proteção de imigrantes e refugiados, fornecendo-lhes alojamento, alimentação, cuidados de saúde, etc. Por isso, é essencial o desenvolvimento de planos estratégicos de contingência e coordenação de todos os atores envolvidos na gestão de crises humanitárias (governos, organizações internacionais, ONG, ARL) que definam melhor as suas responsabilidades e assegurem às ARL financiamento adequado. Por outro lado, uma real partilha de responsabilidades num espírito de solidariedade exige medidas de apoio mais ativo e tangível às ARL e aos países mais direta e intensamente afetados, em especial por parte da UE e dos seus Estados-Membros do centro e norte da Europa. Neste contexto, também a ARLEM pode desempenhar um papel relevante na procura de uma resposta estruturada, estável, prática e útil às catástrofes humanitárias que se vivem na região euro-mediterrânica.

As ARL podem desempenhar igualmente um papel relevante no esforço conjunto para lutar e prevenir a migração irregular, promovendo campanhas de sensibilização junto de potenciais migrantes para as vias legais de imigração e os riscos da imigração irregular, identificando vítimas de tráfico e promovendo a reintegração dos migrantes irregulares que regressam, voluntária ou coercivamente.

A complexidade da situação exige uma resposta comum e coordenada, que deve respeitar os direitos humanos e o direito de procurar asilo, e basear-se na solidariedade com os Estados e as regiões mais afetadas e na partilha equitativa de responsabilidades entre todos os níveis de governação.

O reforço de controlos de fronteiras e as medidas de luta contra a migração irregular são essenciais, mas não podem ter precedência sobre as obrigações internacionais (UNCLOS, SOLAS e SAR) de salvamento e de respeito pelos direitos humanos, nem sobre o direito de procurar asilo na UE, que tem de permanecer um local de refúgio para as pessoas com necessidade de proteção internacional24. Por

23

Estas medidas incidem em cinco domínios de ação: (1) cooperação com os países de origem e de trânsito; (2) proteção regional, reinstalação e reforço das vias legais para entrar na Europa; (3) luta contra o tráfico e introdução clandestina de seres humanos; (4) reforço da vigilância das fronteiras, contribuindo para salvar vidas no mar; (5) assistência aos Estados-Membros que se defrontam com uma forte pressão migratória. Comunicação sobre o trabalho da Task Force Mediterrâneo, COM(2013) 869, 4.12.2013.

24

Parecer do CR (CIVEX-V-027) sobre «A Abordagem Global das Migrações e Mobilidade», de 18 e 19 de julho de 2012 (relator: Nichi Vendola); Parecer do CR (CIVEX-V-047) sobre «O futuro das políticas da UE nos domínios da Justiça e Assuntos Internos», adotado na reunião plenária de 25-26 de junho de 2014 (relatora: Lotta Håkansson Harju).

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outro lado, estas medidas têm-se revelado insuficientes para evitar a perda de vidas humanas e percursos migratórios desumanos. Como reconhece a OIM, a falta de canais legais de acesso à UE tem conduzido a que os imigrantes, refugiados e requerentes de asilo procurem redes de tráfico que os canalizam através de rotas cada vez mais perigosas25. Assim, são necessárias medidas que garantam uma efetiva proteção aos refugiados, evitem a perda de vidas humanas e sejam expressão de solidariedade com as regiões mais afetadas e de uma real partilha de responsabilidades.

Neste contexto, a extensão do Programa Regional de Proteção no Norte de África e a criação de um novo Programa Regional de Desenvolvimento e Proteção na região vizinha da Síria, para melhorar a situação de proteção dos refugiados sírios, são um contributo para reforçar a capacidade de proteção na região. O aumento da reinstalação de refugiados na UE também deve fazer parte integrante dos esforços da UE para apoiar os Estados do sul e leste do Mediterrâneo confrontados com grandes afluxos de refugiados26. Este é um domínio onde as cidades e regiões europeias têm desempenhado um importante papel, promovendo a integração dos refugiados nas comunidades locais e tomando medidas de promoção da coesão social.

No entanto, deveriam ser exploradas medidas preventivas da migração irregular, que criem rotas legais e seguras para a Europa para evitar mais perdas de vidas humanas em viagens perigosas, como o estabelecimento de um «corredor humanitário» através de uma utilização mais ampla de vistos humanitários e a criação de centros de acolhimento nos países de trânsito para processar pedidos de asilo ou determinar a elegibilidade para entrada legal nos países da UE27. Também aqui as ARL poderiam prestar apoio.

A mais longo prazo, um modelo eficaz de gestão dos fluxos migratórios no Mediterrâneo deve basear-se numa estratégia de migração legal, na relação positiva entre migração e desenvolvimento28 e na cooperação mais efetiva com os países de trânsito e de origem em todos os domínios das migrações, incluindo medidas destinadas a remediar as causas profundas da migração irregular (pobreza, violação de direitos humanos, má governação, conflitos, falta de perspetivas económicas, desemprego, más condições de trabalho, etc.). Nesta linha, a estratégia para 2014-2017 estabelecida na Declaração UE-África sobre Migração e Mobilidade, adotada na 4.ª cimeira UE-África, de 2 e 3 de abril de 2014, é um passo importante para uma abordagem global das migrações.

25

Recomendações da OIM para a Presidência italiana do Conselho da UE (julho-dezembro de 2014), http://eea.iom.int/index.php/news-events/214-iom-recommendations-to-the-italian-presidency-of-the-council-of-the-european-union; Documento de reflexão da OIM: «Adressing Complex Migration Flows and Upholding the rights of Migrants along the Central Mediterranean Route» (21 de outubro de 2013).

26

Em 2007, acolhiam 39% do total de refugiados no mundo. Philippe Fargues (ed.) «CARIM Mediterranean Migration 2008-2009 Report», Robert Schuman Centre For Advanced Studies, European University Institute, 2009, in

http://cadmus.eui.eu/bitstream/handle/1814/11861/CARIM%20Migration_Report%202008-2009%20revised%20Oct09.pdf?sequence=3

27

Documento de reflexão da OIM: «Adressing Complex Migration Flows and Upholding the rights of Migrants along the Central Mediterranean Route» (21 de outubro de 2013); Comunicação «Como conseguir uma Europa aberta e segura», COM(2014) 154 final, 11.3.2014.

28

Ricard Zapata-Barrero, «The external dimension of Migration Policy in the Mediterranean Region: Premises for normative debate», Revista del Instituto Español de Estudios Estratégicos, n.º 2/2013.

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2.2 Gestão das migrações ao nível local e regional: desafios globais, respostas locais

As migrações na região euro-mediterrânica são um desafio e, sobretudo, uma oportunidade, pois são um fator de desenvolvimento económico, social e cultural das regiões e cidades de destino (por exemplo, satisfação de necessidades de mão de obra, sustentabilidade dos sistemas de segurança social, empreendedorismo, consumo, comércio étnico, etc.) e de origem (por exemplo, remessas, transferência de conhecimentos, investimentos da diáspora, etc.) em ambos os lados do Mediterrâneo. É necessário ter em consideração que vários países do sul do Mediterrâneo são países de acolhimento de fluxos migratórios, mas continuam a ser países de origem. Uma migração legal bem gerida do sul do Mediterrâneo para a Europa deve beneficiar não apenas os países de acolhimento, mas também os países de origem, através de medidas que garantam a mobilidade, a transferência de conhecimentos, de investimento produtivo ou do empreendedorismo («brain gain»). Também neste domínio deve ser reconhecido às ARL um papel ativo, no âmbito de uma abordagem global da gestão das migrações.

Sem prejuízo das especificidades constitucionais de cada Estado e das partilhas internas de competências entre os níveis nacional, regional e local, o impacto local das migrações internacionais faz com que as cidades e regiões desempenhem um papel crucial no sistema de governação das migrações, pois são em regra responsáveis pelo acolhimento e integração de imigrantes29, devendo, por isso, ter uma voz mais ativa no desenvolvimento das políticas de imigração.

No quadro dos processos locais de integração, as ARL adotam planos, criam estruturas30, implementam medidas de acolhimento, prestam serviços essenciais à integração dos imigrantes e à proteção dos seus direitos (educação, alojamento, apoio social, apoio jurídico, apoio à procura de emprego, formação, mediação intercultural, cursos de línguas, financiamento de microprojetos, campanhas de informação, etc.), adotam ações contra a discriminação e a segregação, promovem o diálogo intercultural e a coesão social. Também são elas que promovem projetos de cooperação entre várias partes interessadas31. Estas e outras boas práticas das ARL em ambos os lados do Mediterrâneo devem ser mais conhecidas e partilhadas.

As tendências mostram que as migrações não têm apenas lugar entre países, mas entre cidades e regiões, já que os migrantes de uma determinada cidade ou região tendem a concentrar-se em

29

Comunicação «Agenda Europeia para a integração dos nacionais de países terceiros», COM(2011) 455 final, 20.7.2011; Parecer CONST-IV-017 sobre «Uma política comum de imigração para a Europa», adotado na reunião plenária de 26 e 27 de novembro de 2008 (relator: Werner Jostmeyer) e parecer CIVEX-V-027 sobre «A Abordagem Global das Migrações e Mobilidade», adotado na reunião plenária de 18 e 19 de julho de 2012 (relator: Nichi Vendola); Declaração do Fórum de Autarcas sobre Mobilidade, Migração e Desenvolvimento, realizado no dia 20 de junho de 2014.

30

Por exemplo, Direção-Geral de Integração, Inclusão Social e Cooperação do Generalitat de Valência; Comité Interdepartamental de Imigração e Comité de Cidadania e Imigração da Catalunha; Observatório Valenciano de Migração da Fundação CeiMigra. 31

Por exemplo, o KIM – «Key Competences for Migrants» – e a AMICS – «Network Mediation Agency for Integration and Social Interaction» – na região de Valência.

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determinadas cidades ou regiões do país de acolhimento32. Tendo em consideração esta dimensão trans-local das migrações, deveria ser promovida a criação de «parcerias para a integração» entre cidades e regiões dos países de origem e de destino, para aumentar a cooperação e a confiança mútua e, assim, garantir uma gestão mais descentralizada das migrações numa perspetiva de benefícios triplos (para o imigrante, para o seu local de origem e para o local de destino). Estas parcerias poderiam incluir medidas preparatórias – cursos de línguas, formação cultural e cívica, etc. – dos projetos individuais de imigração (como, por ex., o programa de formação de trabalhadores tunisinos recrutados para trabalhar em Itália) e a execução de programas de retorno voluntário e reintegração de imigrantes. Com base em experiências, como o «Mediterranean Migration Network», deveriam ser estabelecidas redes de cooperação e intercâmbio de boas práticas entre as ARL da região euro-mediterrânica.

Também é a nível local que se podem definir melhor as necessidades de capital humano, pelo que as cidades/regiões podem tomar medidas que permitam atrair os trabalhadores e empreendedores imigrantes de que necessitam para revitalizar a economia local (por exemplo, ao nível do acesso à habitação, cursos de línguas, apoio na navegação pela regulamentação nacional, acesso ao crédito, redes de contactos, etc.).

Muitas cidades e regiões são afetadas por um fenómeno de «supermobilidade», o que implica uma adaptação das suas políticas de integração aos movimentos migratórios temporários (por exemplo, estudantes internacionais, trabalhadores sazonais) e aos projetos de migração circular.

Na era da globalização e da competição por talento à escala mundial, a emigração de pessoas altamente qualificadas também é um desafio para as ARL, que procuram adotar medidas de limitação do «brain drain» e de potenciação dos efeitos positivos deste tipo de migração no desenvolvimento («brain gain»): promoção de emprego, medidas que promovam e facilitem o envolvimento da diáspora em projetos de investimento local, projetos de ligação à diáspora (por exemplo, «tunisiens des deux rives»), projetos de promoção do retorno e da reintegração da diáspora (por exemplo, o projeto «Brain Back Umbria»), apoio no reconhecimento de competências profissionais para evitar o «brain waste», promoção de programas de migração circular, etc.

Um outro aspeto crucial das políticas de integração prende-se com participação ativa dos imigrantes na comunidade de acolhimento, podendo aqui as ARL desempenhar um papel importante na promoção de associações de imigrantes, na sua participação em sindicatos, no seu acesso a trabalhos na administração pública, etc. Embora a atribuição de direitos de voto (ativo e passivo) aos imigrantes no país de destino e a sua participação nos processos eleitorais dos países de origem dependam da legislação nacional, a ARLEM considera que a promoção do direito de voto dos imigrantes nos processos eleitorais dos países de destino e origem favorece a sua integração, a sua ligação ao país de origem e, em geral, fortalece a democracia na região mediterrânica.

32

Cécile Riallant, Joanne Irvine, Luigi Fabbri, OIM, «Local authorities: The missing link for harnessing the potential of migration for development», in http://www.iom.int/cms/en/sites/iom/home/what-we-do/migration-policy-and-research/migration-policy-1/migration-policy-practice/issues/december-2012january-2013/local-authorities-the-missing-li.html.

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Todos estes aspetos devem ser devidamente enquadrados por uma abordagem global e integrada das migrações no Mediterrâneo, que contribua para uma real integração socioeconómica da região euro-mediterrânica e reconheça o papel crucial das ARL na gestão das políticas de imigração, proteção de refugiados, integração e desenvolvimento.

3. Recomendações

- Reconhecendo a importância do Mediterrâneo como um espaço de confluência de valores comuns, de liberdade e de diálogo;

- Reconhecendo a complexidade da gestão das migrações e as vantagens da migração e mobilidade, como veículos dinamizadores de desenvolvimento económico e social;

- Reconhecendo que a gestão das migrações no Mediterrâneo, incluindo a prevenção da migração irregular, exige uma abordagem global e holística que desenvolva políticas conjuntas baseadas nos princípios do respeito pelos direitos humanos, solidariedade, confiança mútua e partilha de responsabilidades;

- Reconhecendo que esta abordagem deve promover soluções duráveis e adaptadas à diversidade das situações e associar todas as partes interessadas de forma mais sistemática, nomeadamente as coletividades territoriais;

A ARLEM exorta as instituições da UE, os Estados-Membros da UE e os Estados parceiros da

região EUROMED a:

 Desenvolverem uma abordagem global, coerente e comum das migrações para a região EUROMED, que permita uma gestão mais descentralizada e eficaz dos fluxos migratórios, adaptada às especificidades socioeconómicas de cada região, envolva as ARL, no quadro de uma governação a vários níveis, respeite os direitos humanos, assegure a partilha equitativa de responsabilidades e seja solidária em relação às regiões mais afetadas.

 Aprofundarem o diálogo sobre migrações e mobilidade no quadro da União para o Mediterrâneo, reconhecendo-lhe um papel mais proeminente e efetivo na gestão das migrações no Mediterrâneo, como plataforma de diálogo e instância de soluções comuns, que permitam o desenvolvimento de uma política euro-mediterrânica em matéria de migrações, que garanta uma melhor coordenação entre todos os atores envolvidos, otimize os benefícios da migração legal, garanta proteção aos que dela necessitam e permita lutar com eficácia contra a migração irregular.

 Reconhecerem o papel crucial que as ARL desempenham no processo de acolhimento e integração de imigrantes, na promoção dos direitos dos imigrantes e no combate ao racismo e à xenofobia, que são aspetos essenciais na gestão dos fluxos migratórios, dando-lhes uma voz mais ativa na definição de políticas de imigração, asilo e integração.

 Envolverem de forma sistemática as ARL como partes interessadas na definição e implementação das políticas migratórias ao nível internacional e nacional, bem como nas ações de cooperação e diálogos com países terceiros, nos domínios das migrações, da paz e do desenvolvimento.

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 Desenvolverem, com o envolvimento das ARL, políticas que contribuam para reduzir as causas remotas da imigração irregular e promovam vias legais de imigração.

 Dotarem as ARL dos meios financeiros de que necessitam para cumprirem plenamente as suas responsabilidades em matéria de migrações e integração, assegurando-lhes o acesso a fundos nacionais e a fundos da UE (Fundo para o Asilo e a Migração, Instrumento da Política de Vizinhança, Fundo Social Europeu).

 Reconhecerem que a mobilidade de pessoas, os movimentos migratórios de empreendedores e os projetos de migração circular são essenciais para o aprofundamento da integração económica do Mediterrâneo.

 Reconhecerem que as ARL e a ARLEM podem desempenhar um papel relevante na procura de uma resposta estruturada, estável, prática e útil às catástrofes humanitárias que se vivem na região euro-mediterrânica.

 Reforçarem a ajuda humanitária às regiões vizinhas da Síria e garantirem a continuidade do programa de ajuda humanitária das Nações Unidas.

No contexto de uma abordagem global, integrada e descentralizada das migrações no Mediterrâneo, a ARLEM considera, ainda, importante:

 Assegurar uma melhor coordenação entre os diferentes níveis de governação, internacionais, nacionais e locais (Estados, UE, ACNUR, ICMPD, OIM, ARL, UM, etc.), bem como com as demais partes interessadas públicas ou privadas (associações da sociedade civil, associações de imigrantes, ONG) envolvidas na gestão do fenómeno migratório na região euro-mediterrânica, de forma a permitir uma gestão sólida e coerente das migrações.

 Envolver as ARL nas parcerias para a mobilidade e outros instrumentos internacionais de cooperação com os países do Mediterrâneo, reconhecendo o seu papel em ações nos países de origem (por ex., campanhas de sensibilização, medidas preparatórias da integração, formação, assistência em matéria de reagrupamento familiar, cursos de línguas, medidas de reforço do diálogo intercultural) e de destino (por exemplo, criação de sistemas locais de seleção de acordo com as necessidades locais, medidas de acolhimento e apoio, etc.).

 Assegurar que as parcerias para a mobilidade e outros instrumentos de cooperação bilateral têm em consideração os interesses dos países do sul do Mediterrâneo e são corretamente implementados, de forma a produzir resultados tangíveis quanto à mobilidade, que devem ser periodicamente divulgados, de forma a permitir uma melhor perceção dos seus benefícios mútuos.

 Realizar nos países de destino campanhas de informação e sensibilização que combatam estereótipos negativos relativos à imigração, como forma de reduzir manifestações de racismo e xenofobia.

 Criar estruturas descentralizadas para a execução de medidas de desenvolvimento que beneficiem os imigrantes e os seus locais de origem, como serviços locais de canalização de remessas para investimentos produtivos da diáspora, de acompanhamento social e cultural da diáspora, de apoio ao reconhecimento de competências e habilitações profissionais, de promoção do empreendedorismo, etc.

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 Desenvolver redes e instrumentos de cooperação e partilha de boas práticas ou de «parcerias para a integração» entre as ARL da região EUROMED relativas a vários aspetos da gestão das migrações (integração, inserção social, emprego, proteção de refugiados, prevenção da migração regular, programas de retorno voluntário, etc.).

 Criar instrumentos que permitam um intercâmbio de boas práticas e dos modelos de integração (por exemplo, documentos redigidos em várias línguas), que permitam a divulgação dos resultados das políticas migratórias e melhorar a comunicação e a compreensão mútua entre os atores principais na União Europeia e nos países do Mediterrâneo (a nível nacional, regional e local).

 Promover o direito de voto dos imigrantes nos processos eleitorais dos países de destino e origem, de forma a favorecer a sua integração, a sua ligação ao país de origem e, em geral, fortalecer a democracia na região mediterrânica.

Lista dos contribuintes:  Governo da Jordânia  Governo da Tunísia

 Governo da Catalunha (Espanha)  Governo de Valência (Espanha)  Governo da Úmbria (Itália)  Município de Engomi (Chipre)  Município de Nicósia (Chipre)  Município de Amã (Jordânia)  Município de Uszka (Hungria)

Referências

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