(RMN) APELREEX-26387 - SE
APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO Nº 26387/SE (0002297-92.2012.4.05.8500) APELANTE : UNIÃO
APELADO : TECIDOS BARRETO LTDA
ADV/PROC : ISMAEL ALMEIDA SANTOS E OUTRO
REMTE : JUÍZO DA 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE (ARACAJU) ORIGEM: 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL MARCO BRUNO MIRANDA CLEMENTINO (CONVOCADO)- Segunda Turma
RELATÓRIO
O Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal MARCO BRUNO MIRANDA CLEMENTINO (RELATOR CONVOCADO):
Trata-se de remessa necessária e apelação interposta pela União contra sentença proferida pelo Juiz Federal Substituto da 1ª Vara da Seção Judiciária de Sergipe, Fábio Cordeiro de Lima, que julgou improcedente o pedido de condenação da empresa Tecidos Barreto Ltda ao ressarcimento à União do montante de R$ 17.000,63 (dezessete mil, e sessenta e três centavos), pago a título de IPTU ao Município de Aracaju/SE, bem como, no tocante ao réu José Augusto Barreto, extinguiu a relação jurídico-processual sem resolução do mérito, em razão da ilegitimidade passiva do particular.
O Magistrado, após afastar as preliminares de incompetência absoluta do Juízo e litisconsorte passivo necessário do Município de Aracaju, entendeu pela ilegitimidade passiva do particular, sócio da empresa adquirente do bem imóvel. No mérito, em síntese, afastou a responsabilidade da empresa recorrida, por considerar que houve a transmissão da posse do bem imóvel desta para a União, não mais se podendo exigir, desde essa data, o IPTU do particular, atendendo à boa-fé objetiva e à desídia da União.
Em suas razões recursais (fls. 176/181), a União alegou que a aquisição da propriedade imobiliária depende do registro do título no Cartório de Imóveis, não importando a entrega das chaves ou a formalização da venda contratualmente em transferência de propriedade. Enquanto não ocorrido o registro, sustentou que detinha apenas a posse.
O tributo em questão se referia ao ano fiscal de 2009, anterior à formalização do contrato e ao registro imobiliário, devendo, assim, ser suportado pelo particular, detentor da propriedade do imóvel perante o registro imobiliário.
Como a União pagou o tributo devido pelo particular, para fins de registro do imóvel, sustentou que deveria ser restituída do valor pago, já que se sub-rogou nos direitos do credor primitivo.
A recorrida apresentou contrarrazões, aduzindo, em síntese, o acerto da sentença (fls. 216/219).
(RMN) APELREEX-26387 - SE
APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO Nº 26387/SE (0002297-92.2012.4.05.8500) APELANTE : UNIÃO
APELADO : TECIDOS BARRETO LTDA
ADV/PROC : ISMAEL ALMEIDA SANTOS E OUTRO
REMTE : JUÍZO DA 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE (ARACAJU) ORIGEM: 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL MARCO BRUNO MIRANDA CLEMENTINO (CONVOCADO)- Segunda Turma
VOTO
O Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal MARCO BRUNO MIRANDA CLEMENTINO (RELATOR CONVOCADO):
Trata-se de remessa necessária e apelação interposta pela União contra sentença, que, em sede de ação ordinária, julgou improcedente o pedido de condenação da empresa Tecidos Barreto Ltda ao ressarcimento à União de montante pago a título de IPTU ao Município de Aracaju/SE.
A sentença recorrida não merece reforma.
É verdade que na seara tributária tanto o promitente comprador do imóvel quanto o promitente vendedor são responsáveis pelo pagamento do IPTU. Contudo, a questão entre a União e o particular não é de natureza tributária, mas de obrigação de natureza civil.
A União adquiriu o imóvel do particular, sem observar todos os ditames legais para a aquisição, o que retardou o devido registro do negócio jurídico em cartório. Verifica-se que efetivamente houve a transmissão da posse do bem imóvel do particular para a União, ainda no ano de 2008, mas, por erros no processo de aquisição, somente no ano de 2010 o contrato foi formalizado e, após a União buscar o registro do imóvel, foi-lhe cobrado o IPTU por parte do Município de Aracaju, que não reconheceu a imunidade em favor da União, com relação ao período em que o imóvel ainda estava registrado em nome do particular.
No caso concreto, é de se reconhecer a boa-fé objetiva do particular, que realizou a venda do imóvel à União, e esta passou a ocupá-lo e dele fazer uso, sem que aquele tivesse mais qualquer ingerência sobre o imóvel. Na realidade, a União era quem usufruía, gozava e dispunha do bem.
O valor pago a título de IPTU que a União pretende reaver é de período posterior à transmissão da posse do particular/vendedor para o União/compradora, não se imputando ao primeiro a obrigação de ressarcir à segunda, principalmente quanto a União, reconhecendo que adquiriu o imóvel deste o ano de 2008, buscou junto ao Município a imunidade tributária. Se o ente público
(RMN) APELREEX-26387 - SE
APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO Nº 26387/SE (0002297-92.2012.4.05.8500) APELANTE : UNIÃO
APELADO : TECIDOS BARRETO LTDA
ADV/PROC : ISMAEL ALMEIDA SANTOS E OUTRO
REMTE : JUÍZO DA 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE (ARACAJU) ORIGEM: 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL MARCO BRUNO MIRANDA CLEMENTINO (CONVOCADO)- Segunda Turma
EMENTA
CIVIL. AÇÃO REGRESSIVA. COMPRA E VENDA. ERROS NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DO IMÓVEL. DEMORA NO REGISTRO DO IMÓVEL PELA UNIÃO. PAGAMENTO DO IPTU. BOA-FÉ OBJETIVA DO PARTICULAR. IMPROVIMENTO DA REMESSA OFICIAL E DA APELAÇÃO.
1. Trata-se de remessa necessária e apelação interposta pela União contra sentença, que, em sede de ação ordinária, julgou improcedente o pedido de condenação da empresa recorrida ao ressarcimento à União de montante pago a título de IPTU ao Município de Aracaju/SE.
2. Na seara tributária tanto o promitente comprador do imóvel quanto o promitente vendedor são responsáveis pelo pagamento do IPTU. Contudo, a questão entre a União e o particular não é de natureza tributária, mas de obrigação de natureza civil.
3. A União adquiriu o imóvel do particular, sem observar todos os ditames legais para a aquisição, o que retardou o devido registro do negócio jurídico em cartório. Verifica-se que efetivamente houve a transmissão da posse do bem imóvel do particular para a União, ainda no ano de 2008, mas, por erros no processo de aquisição, somente no ano de 2010 o contrato foi formalizado e, após a União buscar o registro do imóvel, foi-lhe cobrado o IPTU por parte do Município de Aracaju, que não reconheceu a imunidade em favor da União, com relação ao período em que o imóvel ainda estava registrado em nome do particular.
4. No caso concreto, é de se reconhecer a boa-fé objetiva do particular, que realizou a venda do imóvel à União, e esta passou a ocupá-lo e dele fazer uso, sem que aquele tivesse mais qualquer ingerência sobre o imóvel. O valor pago a título de IPTU que a União pretende reaver é de período posterior à transmissão da posse do particular/vendedor para o União/compradora, não se imputando ao primeiro a obrigação de ressarcir à segunda, principalmente quando a União, reconhecendo que adquiriu o imóvel deste o ano de 2008, buscou junto ao Município a imunidade tributária. Se o ente público municipal negou-lhe o pedido de imunidade, caberia ao ente público federal buscar o reconhecimento do seu direito, e
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5a. Região, por unanimidade, negar provimento à remessa necessária e à apelação, na forma do relatório e voto constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Recife/PE, 19 de março de 2013. (data do julgamento)
Desembargador Federal MARCO BRUNO MIRANDA CLEMENTINO (Relator convocado)