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PRÁTICAS CORPORAIS E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS INDÍGENAS E SUAS RELAÇÕES COM OS JOGOS DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL

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Academic year: 2021

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PRÁTICAS CORPORAIS E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

INDÍGENAS E SUAS RELAÇÕES COM OS JOGOS DOS POVOS

INDÍGENAS DO BRASIL

Bruna Maria de Oliveira(¹); Elcione Trojan de Aguiar(2) ;Beleni Salete Grando(3)

1.Acadêmica de Educação Física e Bolsista PIBIC/CNPq–UNEMAT-Cáceres bruninha06@gmail.com; 2.Acadêmica de Educação Física e Bolsista do Projeto de Pesquisa – PROBIC/UNEMAT-Cáceres. eftojan@gmail.com; 3.Professora Orientadora, Depto de Educação Física, UNEMAT-Cáceres. beleni.grando@gmail.com

Resumo: O presente texto resulta da pesquisa que busca investigar as práticas

corporais esportivas indígenas, para compreensão das suas relações com os Jogos Indígenas do Brasil. Para entender as práticas e técnicas corporais das diferentes etnias e analisar/apontar as influências que elas sofrem nas relações com a sociedade envolvente e assim, avaliar o impacto cultural que este evento causa aos povos indígenas. O levantamento bibliográfico contribui para entender as práticas corporais e sua verdadeira função de formar identidade cultural de um grupo, compreendendo estas práticas como “fato social”. Estas são entendidas como as formas de movimentar, andar, correr, nadar entre outras e aparecem de diferentes maneiras em uma mesma sociedade ou etnia, além de serem utilizadas como formas de se comunicar e se identificar em distintas culturas. O trabalho iniciou em março e nesta fase, possibilitou a sistematização das entrevistas realizadas com três indígenas em Tangará da Serra, de duas etnias que participaram dos Jogos. As entrevistas contribuíram para a descoberta das práticas esportivas e culturais presente no contexto da aldeia, nos aproximando da realidade indígena para o trabalho de pesquisa em andamento, renovando nosso olhar para esses povos, superando a visão do “índio genérico” que se estuda na escola. Além de que os Jogos Indígenas é um espaço de intercâmbio entre as etnias participantes e também com a sociedade que prestigiam o evento, são nesses momentos que mostram a sua cultura, sua dança, sua pintura, seus artesanatos e despertam o interesse dos jovens por aspectos da sua cultura, ou seja, mantêm essas manifestações vivas e presentes na sua aldeia. Ainda em fase inicial, a pesquisa mostra sua importância para compreensão mais ampla do processo de produção e reprodução das culturas tradicionais, pois ao relacionar essas práticas indígenas com a formação de identidade da sociedade colaboramos para valorização destes povos.

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INTRODUÇÃO

O projeto busca compreender as relações dos Jogos dos Povos Indígenas do Brasil com as práticas corporais esportivas e lúdicas presentes nas aldeias indígenas, entender as práticas e as técnicas corporais presentes nas diferentes etnias participantes dos jogos, apontar/analisar o choque cultural que este evento nacional ocasiona. A pesquisa em andamento procura identificar as manifestações dos grupos étnicos e relacioná-las com a formação de identidade individual e coletiva da sociedade, contribuindo com uma melhor compreensão dos fatores que possibilitam a manutenção das tradições culturais.

O processo de colonização do Brasil é um grande marco na história dos povos nativos e influenciou fortemente as características das formas culturais que identificam os brasileiros atuais e as relações conflituosas marcadas por preconceitos étnicos-raciais presentes em nossa sociedade. A história do Brasil para os povos indígenas não tem sido fácil, tiveram que lutar para sobreviver à epidemias, guerras, escravidão, e o genocídio que eliminou inúmeros povos nativos, poucos foram os que conseguiram superar os 500 anos de “descobrimento”. E essa situação de exploração persiste até hoje em nossa sociedade, pois o índio continua sendo vítima do preconceito, visto como um “ser genérico”. A maioria do brasileiro não reconhece a diversidade étnica dos indígenas que continua sendo ignorada pela educação escolar.

Como afirma Grando (2004, p 02), os brasileiros descendentes dos ameríndios continua sendo considerado “cultura, isto é, sem–terra, sem-comida, sem-saúde, sem-educação, sem-cidadania”. No entanto, a cultura e a riqueza do Brasil deve-se em grande parte a estes povos que mantém nas diversidades de ser e de viver neste país, a grande possibilidade de enfrentar as novas demandas sócio ambientais do planeta. A cultura, como um meio de constituir-se como humano, é a possibilidade concreta de sermos únicos ao mesmo tempo em que somos sociedade. Através da cultura produzimos a nós mesmos e com o constante convívio ocorrem trocas de maneiras de ser.

Nesta concepção Geertz (apud. GRANDO, 2007, p. 18) enfatiza, “assim como a cultura nos modela como espécie única e sem dúvida ainda nos está modelando, assim também ela nos modela como indivíduos separados”.

Segundo Grando (2004), a cultura pode ser compreendida a partir de traços que a diferencia nas relações de fronteiras estabelecidas com outras culturas e essas relações possibilitam a constituição de identidades individuais e coletivas. As culturas e suas fronteiras são espaços de intercâmbio de sentidos e significados que são estabelecidos por sensibilidades vivenciadas no corpo e evidenciadas de diferentes formas de conhecimentos, neste contexto, para entendermos a cultura é necessário tomar o eixo de corpo, educação e cultura.

Para a compreensão e identificação das diferenças entre as sociedades, culturais e pessoas podemos apontar as técnicas corporais, que são formas, gestos que expressam as maneiras de ser dos homens e mulheres. Então, podemos definir que essa técnica corporal é um fato social, e é através dela que reconhecemos a nos e aos outros, assim há diferentes formas de parar, sentar, de andar, de falar presentes em uma mesma cultura e sociedade, essas maneiras são utilizadas como formas de se comunicar e identificar pessoas de diferentes culturas. (GRANDO, 2007).

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MATERIAIS E MÉTODOS

Um levantamento bibliográfico foi necessário para o início da pesquisa, além de subsidiar o processo de investigação, a fim de possibilitar uma aproximação com a temática em discussão. Visando o trabalho inicial ser subsidiado por uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório, foi realizado um trabalho de campo com entrevistas com indígenas. Além deste primeiro trabalho, buscar-se-á durante o desenvolvimento do projeto obter documentos de manifestações, práticas corporais e jogos indígenas presente na aldeia.

A primeira aproximação com a realidade sócio-cultural indígena se deu durante o III Fórum e Educação e Diversidade, evento organizado pelo Núcleo de Atividades, Estudos e Pesquisa sobre Educação, Ambiente e Diversidade (NEED), cuja finalidade foi discutir as práticas educacionais e possibilidades mais justas e democráticas para índios, negros e trabalhadores rurais.

O evento possibilitou a execução de mais uma das etapas do trabalho, o grupo de pesquisa/COEDUC-UNEMAT se fez presente com oficinas e apresentações de trabalhos e com isso, tivemos a oportunidade de realizar entrevistas com três indígenas, sendo eles dois Umutinas e um Nambikwara, sobre os Jogos dos Povos Indígenas do Brasil.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao analisar as entrevistas podemos identificar diferentes opiniões sobre os Jogos dos Povos Indígenas do Brasil. A prática esportiva nos jogos foi relatada como principal objetivo o de intercâmbio cultural com outras etnias, e produção de diferentes conhecimentos entre elas, pois identificamos algumas práticas corporais que estão presentes em diferentes grupos étnicos, da mesma maneira que um grupo étnico pode se constituir com diferenças práticas culturais.

Para nosso entrevistado Nambikwara os Jogos vão além da prática esportiva, neles se encontra momentos como apresentações culturais, pinturas e danças, e desta forma podem conhecer os artesanatos e ornamentos dos outros indígenas. Para os Umutinas os Jogos incentivam os jovens a se interessarem por aspectos da sua própria cultura, a fim de ficarem mais ornamentados e bonitos para se apresentarem diante dos demais indígenas.

Conforme aponta a literatura (GRANDO, 2001, 2004, 2007), as práticas corporais vivenciadas/aprendidas pelas crianças marcam uma identidade se o constitui como pessoa. E são essas práticas que constituem um grupo social e assim nos identificamos como sujeitos.

Para os entrevistados a contribuição dos Jogos é de valorização e manutenção da cultura, além de que o esporte é um benefício à saúde e aumenta a auto-estima. Segundo os entrevistados, os Jogos têm como função o lazer e a integração, mas também fornece conhecimento teórico e prático dos esportes.

Na aldeia estão presentes as atividades práticas como: futebol, vôlei, atletismo e natação, uma evidencia da influência dos esportes não-indígenas. Porém os entrevistados também relataram que há outras práticas características das culturais indígenas, como o arco e flecha e o cabeçabol, no caso desta prática, de acordo com o Nambikwara, não é mais praticada em sua aldeia, embora seja uma prática tradicional do seu povo.

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Para as duas etnias os Jogos só vêm a somar com os povos indígenas, todavia, o Nambikwara expõe sua preocupação com o fascínio dos indígenas com novos lugares, podendo mudar seus valores culturais indígenas.

De acordo com os entrevistados, não há nenhuma preparação das etnias para os Jogos, porém se a aldeia preferir ela acontece com objetivo melhorar as apresentações culturais. No relato do Nambikwara: “Não há necessidade de uma preparação, ele já é preparado, ele já tá preparado para apresentar sua cultura a todo o momento.” (José Ângelo da aldeia Nambikwara)

O Umutina relata que essas atividades estão presentes no dia-a-dia da comunidade e não existe uma preocupação de treinamento esportivo, até porque os Jogos são celebrações culturais e não competições.

A sistematização das entrevistas permitiu um olhar diferenciado pela produção dos Jogos dos Povos Indígenas do Brasil. Eles renovam as relações de igualdade com a sociedade e possibilita o respeito às diferenças, gerando a diversidade cultural presente no Brasil.

Os Jogos Indígenas são um momento de grande intercâmbio entre as etnias, fato que é muito valorizado pelos participantes, eles vão aprender/rever manifestações, danças, pinturas e artesanatos. A influência dos não-indígenas é constante nas organizações e também em algumas práticas dentro da aldeia, como é o caso do futebol, do vôlei e do atletismo, as práticas que são características indígenas são pouco presentes, como exemplo o cabeçobol da aldeia Nambikwara, que não é muito freqüente. Segundo os entrevistados, os não-índios colaboram com a organização dos Jogos, pois eles estão aptos a esse tipo de atividade.

Em nossa conclusão, neste primeiro momento de pesquisa, a visão dos Jogos é muito positiva para os indígenas, é um meio de divulgar suas práticas corporais e assim mantê-las. São estas relações de diferentes formas de ser que possibilitam a constituição das identidades coletivas e individuais da nossa sociedade.

São essas práticas corporais que contribui na formação do corpo e para identidade do grupo. Essas manifestações corporais transmitidas dos mais velhos aos jovens se renovam a cada geração e garante a continuidade da cultura (GRANDO, 2005).

CONCLUSÃO

Os Jogos dos Povos Indígenas do Brasil são fonte de manutenção das atividades culturais indígenas, e são essas manifestações que os identificam. Há um processo de manutenção cultural neste evento, em que os jovens vão ter que sentar com os mais velhos para aprenderem sobre o artesanato, a pintura, etc., e isso corrobora para o interesse da juventude em estar buscando saberes da sua cultura e desta forma, produzindo e transmitindo esses valores culturais, fortalecendo a união dos povos indígenas. Além disso, existem benefícios na saúde com a prática dessas atividades esportivas. Conclui-se, de acordo com os relatos das duas etnias, que os Jogos possuem uma gama de contribuições para a população indígena, principalmente por oportunizar o encontro entre vários povos.

A influência do não-indígena é evidente, dentro da organização dos Jogos e também nos jogos esportivos que ocorrem dentro da aldeia, porém, vale ressaltar que estes não visam o esporte de alto rendimento, embora se organize tomando-o como exemplo. Esta prática é assim, contraditória, pois ao mesmo tempo em que promove a competição entre os indígenas, afirma e promove a celebração do

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encontro interétnico e intercultural e contribui para a preservação de diferentes práticas. O slogan é “o importante não é competir, e sim, celebrar”.

Todavia, é preciso sempre estar atendo para que essas manifestações indígenas não sejam esquecidas, pois os índios são parte importante da história do Brasil e se não tivermos compromisso com seus valores e culturas, contribuímos para o desaparecimento de suas práticas e o empobrecimento da nossa própria cultura nacional, que se qualifica na diversidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GRANDO, BS. Corpo E Cultura: A Educação do Corpo em Relações de Fronteiras Étnicas e Culturais e Constituição e a Identidade Bororo em Meruri-MT. Pensar a Prática 8/2: 163-179 Jul./Dez. 2005.

________, BS. Corpo educação e cultura: as práticas corporais e a constituição da identidade. In: Corpo, educação e cultura: práticas corporais e maneiras de ser. Cáceres-MT: Editora Unemat, 2007. (pág. 17- 47)

________, BS. Jogos dos Povos Indígenas: tradição, cultura e esporte na escola indígena. In: Desafios Atuais da Educação Escolar Indígena. São Paulo. 2005 (Pág. 176-187)

MAUSS, M. Técnicas Corporais. In: Sociologia e antropologia. São Paulo: EDUSP, 1974. (pág 212-218)

Referências

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