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UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE AS SITUAÇÕES DE ESCRITA EM CONTEXTOS COMUNICATIVOS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO INICIAL

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Academic year: 2021

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16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 1

Título do artigo:

UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE AS

SITUAÇÕES DE ESCRITA EM CONTEXTOS

COMUNICATIVOS NO

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO INICIAL

Disciplina:

Alfabetização

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16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 2 As práticas de alfabetização estão estreitamente relacionadas com a forma

como a escrita é concebida. A escrita pode ser considerada como um sistema de representação da linguagem ou como um código de transcrição gráfica da fala. A forma como a escrita é conceitualizada traz implicações pedagógicas. Pensar a escrita como codificação é tratá-la como uma técnica que precisa ser transmitida aos alunos. Nesta perspectiva, o ensino da escrita é reduzido à transmissão de um código e o aluno tem papel passivo em seu processo de aprendizagem. Por outro lado, conceitualizar a escrita como um sistema de representação é tratá-la como um conteúdo de natureza conceitual, que para ser compreendido exige análise e reflexão sobre seu funcionamento e suas regras de geração. Nesta perspectiva, o aluno é entendido como um sujeito intelectualmente ativo, que formula hipóteses na busca de compreender o que a escrita representa e como um sujeito que aprende através de suas ações sobre os objetos do mundo.

Conceber que a escrita é um sistema de representação implica em reconhecer dois processos para a aprendizagem da leitura e da escrita:

1. compreender a natureza do sistema alfabético de escrita (a

representação gráfica da linguagem) – as relações entre letra-som, a segmentação entre as palavras, as restrições ortográficas;

2. compreender o funcionamento da linguagem escrita – suas

características específicas, suas diferentes formas, gêneros e discursos.

Esses dois processos acontecem simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo que o aluno reflete e aprende sobre o sistema alfabético de escrita, ele aprende como a língua escrita é utilizada socialmente.

Isso quer dizer que não basta ensinar aos alunos as características e o funcionamento da escrita, pois esse tipo de conhecimento não os habilita para o uso da linguagem em diferentes situações comunicativas. E, por outro lado, não basta colocar os alunos diante das mais variadas situações de uso da linguagem para que

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16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 3 aprendam o funcionamento da escrita. Isso significa dizer que o trabalho pedagógico

de alfabetização precisa articular as atividades de uso da linguagem com as atividades de reflexão sobre a escrita. Portanto, a aprendizagem inicial da leitura e da escrita não pode dar-se sem a presença da cultura escrita. Isso quer dizer que não se trata de ensinar isoladamente os conteúdos envolvidos na língua escrita, mas também as práticas sociais em que estão inseridas. A língua deve entrar na escola da mesma forma que existe vida afora, ou seja, pelas práticas sociais de leitura e escrita: ler por prazer, para se divertir, para buscar alguma informação específica, para compartilhar emoções com outros, para contar para os outros, para recomendar... ; escrever para expressar as ideias, para organizar os pensamentos, para aprender mais, para registrar e conservar como memória, para informar, para expressar sentimentos, para comunicar-se à distância, para influenciar os outros... (GOUVEIA e ORENSZTEJN, 2000). E ao colocar os alunos em contato com essas práticas, é possível planejar atividades sobre o sistema de escrita, dessa forma, ele pode atribuir muito mais sentido e participar de práticas mediadas pela escrita. As autoras Castedo e Molinari (2008, p. 13) afirmam que:

Na concepção de ensino que considera como conteúdo escolar as práticas sociais de leitura e escrita, a língua escrita não pode reduzir-se a um conjunto de elementos gráficos e suas variantes tipográficas. A língua escrita é uma construção histórica, um objeto social. Envolve práticas particulares da linguagem de acordo com os diferentes âmbitos da esfera humana, que estão atravessadas pela cultura; práticas históricas que se comunicam entre os usuários e se transformam. Estes usos se concretizam em gêneros diversos com propósitos específicos, e que estão relacionados a cada evento comunicativo.

Para as autoras, a Ed. Infantil e as primeiras séries do Ensino Fundamental têm o desafio de inserir os alunos nas práticas sociais da leitura e da escrita, para que sejam praticantes da cultura escrita. Essa concepção descrita acima se opõe ao contexto em que as atividades de alfabetização são propostas de uma forma mecânica e sem sentido, em que os alunos têm pouca oportunidade de acionar seus conhecimentos e de aprender novos elementos presentes na cultura escrita.

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16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 4 O desafio, portanto, é planejar projetos e sequências didáticas articulados às

práticas sociais comunicativas.

Vejamos dois exemplos de projetos desenvolvidos com crianças de 1º ano em que os propósitos didáticos são interdependentes dos propósitos comunicativos da linguagem.

Exemplo 1 – Projeto indicações literárias. A professora propõe aos alunos que escolham os seus livros preferidos para escreverem uma indicação para outras crianças. A proposta é compartilhar com os outros grupos quais são os livros preferidos deste 1º ano. Para escrever a indicação, as crianças precisam conhecer bem os livros do acervo da escola (ou da sua sala), definir o que irão escrever e como farão isso. O objetivo do projeto é criar um contexto em que os alunos tenham a oportunidade de desenvolver novos comportamentos leitores e escritores e refletir sobre o funcionamento do sistema de escrita. Ao escolher uma história, o aluno precisará justificar o motivo da escolha e o que o encanta tanto neste livro. Este é um desafio que leva os alunos a pensarem nas características das histórias escolhidas e em suas qualidades. Uma ótima oportunidade para desenvolverem comportamentos leitores. Depois de definirem os títulos preferidos e justificarem suas escolhas, o desafio seguinte é pensar o que irão escrever na indicação. Ler pequenas resenhas literárias publicadas em catálogos de editoras, jornais e revistas poderá ajudá-los a se aproximarem e conhecerem um pouco mais a forma desses textos, o que eles comunicam e alguns elementos específicos da linguagem escrita. Ao iniciarem a escrita das indicações o desafio será no como escrever, isto é, que letras usar, quantas e em que ordem. Depois das primeiras versões de escritas o passo seguinte será a revisão, tanto do ponto de vista discursivo, como notacional. Ou seja, propõe-se uma revisão dos aspectos discursivos do texto escrito (considerando se o leitor irá entender, se o texto comunica o que de melhor tem a história, se está muito repetitivo ou se pode ser melhor escrito), e também dos aspectos notacionais, discutindo com todo o grupo as escritas produzidas pelas crianças, perguntando se alguém tem sugestões de mudanças, se alguma palavra pode ser escrita de outra forma, se concordam com a

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16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 5 segmentação do texto. Em resumo, os objetivos principais das revisões são:

reencontrar o texto para avaliar se o leitor compreenderá a indicação e se pode ser melhor escrito, e para propor uma análise e reflexão do sistema de escrita. A revisão é parte integrante do processo de produção de texto e, por isso, é imprescindível que seja proposta com as crianças, mesmo quando ainda não são escritoras convencionais. Portanto, as revisões não são correções e não têm como objetivo corrigir as escritas para deixá-las corretas e convencionais. Neste projeto o que se espera é propor boas oportunidades de reflexão sobre o sistema, para que avancem em sua compreensão da escrita e, ao mesmo tempo, que se apropriem de práticas da linguagem exercidas na vida social. As primeiras indicações podem ser escritas no coletivo para modelizar e compartilhar comportamentos escritores, e depois podem ser produzidas em duplas.

Exemplo 2 – Projeto animais vertebrados e invertebrados1. Os conteúdos de leitura e escrita propostos neste projeto são: práticas de leitura e escrita, a reflexão sobre o sistema de escrita e os comportamentos leitores e escritores durante o processo de produção textual. O objetivo do projeto é criar um contexto de estudo sobre os animais vertebrados e invertebrados em que os alunos tenham a oportunidade de desenvolver novos comportamentos leitores e escritores e refletir sobre o funcionamento do sistema de escrita. A proposta ao grupo é que no decorrer de algumas aulas pesquisem sobre semelhanças e diferenças que existem entre os animais. Para introduzir o tema, a professora mobiliza o interesse das crianças com algumas perguntas, como por exemplo: Como é formado o corpo dos animais? Em que

eles se parecem e se diferenciam? Será que todos têm quatro patas? Em seguida as

crianças fazem leituras exploratórias de livros, previamente selecionados pela professora, na tentativa de buscarem respostas a algumas perguntas e outras informações sobre os animais. Neste momento é interessante explicar como funciona o índice da enciclopédia, dos livros para que ajude a localizar o que procuram. Durante

1

Exemplo resumido da sequência didática Pesquisando e escrevendo sobre os animais, publicada no site da revista Nova Escola e adaptada da Sequência Didática: Prácticas del lenguaje en contexto de estudio - Animales, elaborada pela equipe de Práticas de Linguagem da Divisão de Educação Primária de Buenos Aires, sob a coordenação da pesquisadora argentina Mirta Castedo. Acesso em http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/sequencia-didatica-pesquisando-escrevendo-animais-680667.shtml?page=all

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16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 6 a leitura exploratória, pode-se fazer algumas intervenções como: pedir que marquem

com um papel a página em que há informações que estão procurando, perguntar por que acham que esta página pode oferecer informações sobre o corpo de algum animal, perguntar como encontraram as informações etc. Depois de os grupos selecionarem os materiais e as respectivas páginas, pode-se pedir que compartilhem os resultados da leitura exploratória. As crianças ainda não são leitoras convencionais, portanto, para buscarem as informações nos livros, irão acionar todo o conhecimento que dispõem sobre a escrita para descobrir o que não sabem. As intervenções ajudam a criar uma situação de análise e reflexão sobre a escrita. Depois da coleta de informações, pode-se propor a escrita de legendas para imagens dos animais estudados e também produzir textos informativos. Dependendo do tempo que se planeja para o projeto pode-se criar mais situações de leituras exploratórias, mais contextos de estudo sobre os animais e novas situações de produção de texto. Prioritário é considerar que se for propor a escrita de textos informativos para os alunos, eles precisarão conhecer melhor esses textos, ter repertório, para compreender a sua forma e seu conteúdo temático.

Nesses dois exemplos, os alunos de 1º anos, ainda não leitores e escritores convencionais, têm a oportunidade de resolver problemas relacionados à compreensão do sistema de escrita e, também, de enfrentar desafios relacionados à produção textual, à escrita de indicações literárias, de legendas... portanto, são exemplos em que os alunos aprendem a escrever escrevendo no contexto das práticas sociais, em que refletem sobre o uso da linguagem escrita e sobre o funcionamento do sistema de escrita.

O compromisso político é alfabetizar - formar alunos leitores e escritores competentes, e para tanto, é necessário assegurar as melhores condições de ensino para as crianças avançarem em seus conhecimentos na interação com as práticas sociais, com seus colegas e professores.

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16ª Edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CASTEDO, M. e MOLINARI, C. A escrita na alfabetização inicial: produzir

em grupos na escola e na Educação Infantil. La Plata: Dir. General de Cultura y

Educación de La Provincia de Buenos Aires, 2008.

GOUVEIA, B. E Orensztejn, M. Alfabetizar em Contextos de Letramento.

Publicado no caderno Salto para o Futuro em novembro de 2000. Disponível em: www.tvbrasil.org.br/.../livros/livro_salto_praticas_de_leitura_e_escrita.pdf

 MOLINARI, C. Projetos para saber mais sobre um tema no início da

alfabetização. Revista Nova Escola. São Paulo, ed. 265, setembro 2013.

 Projeto didático: Galeria de Bruxas, publicado no site da revista Nova

Escola e adaptado do Projeto didático El Mundo de las Brujas, da Direção Provincial de

Educação Primária, da Direção Geral de Cultura e Educação de Buenos Aires, na Argentina. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/galeria-bruxas-555315.shtml

 Sequência didática: Pesquisando e escrevendo sobre os animais,

publicada no site da revista Nova Escola e adaptada da Sequência Didática: Prácticas

del lenguaje en contexto de estudio - Animales, elaborada pela equipe de Práticas de Linguagem da Divisão de Educação Primária de Buenos Aires, sob a coordenação da

pesquisadora argentina Mirta Castedo. Disponível em:

http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/sequencia-didatica-pesquisando-escrevendo-animais-680667.shtml?page=all

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