TAMIRIS SEVERINO TRAVASSOS
AVALIAC
¸ A
˜ O DE ESCALA DE
DEPENDE
ˆNCIA FUNCIONAL SEGUNDO
O PONTO DE VISTA DA PSICOMETRIA
CLA
´ SSICA E DA TEORIA DE RESPOSTA
AO ITEM
Nitero´i - RJ, Brasil 13 de julho de 2017
Universidade Federal Fluminense
TAMIRIS SEVERINO TRAVASSOS
AVALIAC
¸ A
˜ O DE ESCALA DE
DEPENDÊNCIA FUNCIONAL
SEGUNDO O PONTO DE VISTA DA
PSICOMETRIA CLÁSSICA E DA
TEORIA DE RESPOSTA AO ITEM
Trabalho de Conclus˜ao de Curso Monografia apresentada para obten¸c˜ao do grau de Bacharel em Estatística pela Universidade Federal Fluminense.
Orientador: Prof. Licínio Esmeraldo da Silva (D. Sc.)
Co-orientadora: Jamaci de Almeida Machado Corrˆea Lima (M. sc.)
Nitero´i - RJ, Brasil 13 de julho de 2017
Universidade Federal Fluminense
TAMIRIS SEVERINO TRAVASSOS
AVALIAC
¸ A
˜ O DE ESCALA DE
DEPENDE
ˆNCIA FUNCIONAL SEGUNDO O
PONTO DE VISTA DA PSICOMETRIA CLA
´ SSICA
E DA TEORIA DE RESPOSTA AO ITEM
Monografia de Projeto Final de Graduac˜ao sob o t´ıtulo
“AVALIAC¸ A˜O DE ESCALA DE DEPENDEˆNCIA FUNCIO- NAL SEGUNDO O PONTO DE VISTA DA PSICOMETRIA CLA´SSICA E DA TEORIA DE RESPOSTA AO ITEM”, de-
fendida por TAMIRIS SEVERINO TRAVASSOS e aprovada em 13 de julho de 2017, na cidade de Niter´oi, no Estado do Rio de Janeiro, pela banca examinadora constituída pelos pro- fessores:
Prof. Dr. Lic´ınio Esmeraldo da Silva Orientador
Departamento de Estatística – UFF
Profa. Dra. Ludmilla da Silva Viana Jacobson Departamento de Estatística – UFF
_________________________________
Profa. Dra. Vilma Duarte Cˆamara Faculdade de Medicina – UFF
Ficha catalográfica automática - SDC/BIME Gerada com informações fornecidas pelo autor
Bibliotecário responsável: Ana Nogueira Braga - CRB7/4776 T779a Travassos, Tamiris Severino
Avaliação de escala de dependência funcional segundo o ponto de vista da Psicometria Clássica e da Teoria de Resposta ao Item / Tamiris Severino Travassos ; Licínio Esmeraldo da Silva, orientador. Niterói, 2017.
75 f. : il.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Estatística)-Universidade Federal Fluminense, Instituto de Matemática e Estatística, Niterói, 2017.
1. Declínio funcional de idosos. 2. AIVD. 3. Psicometria clássica. 4. TRI. 5. Produção intelectual. I. Silva, Licínio Esmeraldo da, orientador. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Matemática e Estatística. III. Título.
-Resumo
A presente monografia volta-se ao protocolo “Escalas Instrumentais de Vida Di´aria”
de Lawton e Brody, no sentido de identificar caracter´ısticas do instrumento que possam contribuir com o aprofundamento do entendimento da capacidade funcional de idosos
nas avalia¸c˜oes neuropsicol´ogicas envolvendo neurocogni¸c˜ao. A capacidade funcional ´e en-tendida como uma entidade n˜ao observ´avel cuja mensura¸c˜ao depende um instrumento de
medida (usualmente denominado escala) constitu´ıdo de itens baseados em uma concep¸c˜ao te´orica espec´ıfica para o construto em investiga¸c˜ao. As escalas, por serem instrumentos de
medida de natureza indireta, necessitam ser analisadas por meio de t´ecnicas pr´oprias da psicometria. Atualmente, os m´etodos de an´alise se baseiam nos m´etodos da psicometria
cl´assica e da vertente moderna da Teoria da Resposta ao Item – TRI. A partir de registros de avalia¸c˜ao da funcionalidade de idosos de um hospital universit´ario, investe-se na an´alise
da Escala de Lawton e Brody, com o suporte computacional do software R, com vistas a avalia¸c˜ao dos itens desse instrumento no que se refere `a dificuldade que eles apresentam
aos idosos com funcionalidade diminu´ıda e `a sua capacidade de discrimina¸c˜ao de n´ıveis de funcionalidade diferenciados, assim como permitir, para as categorias de funcionalidade
indicadas pelo escore alcan¸cado no instrumento, estimar o n´ıvel de decl´ınio funcional de cada idoso. Os m´etodos da TRI permitir˜ao obter a fun¸c˜ao de informa¸c˜ao dos itens e
do protocolo de modo a contribuir para o refinamento da an´alise da funcionalidade nas avalia¸c˜oes neuropsicol´ogicas.
Agradecimentos
Agrade¸co primeiramente a Deus por ter me concedido for¸ca e determina¸c˜ao durante todo o Curso. A minha querida e amada fam´ılia, pelo apoio incondicional. Aos meus pais por todo apoio, amor e confian¸ca. Ao Gabriel, por ser t˜ao compreensivo e incentivador. A minha inesquec´ıvel av´o Carmem...(in memorian). Aos meus amigos Raphael, Gabrielle, Yasmin, Graziele e Fernanda que sempre estiveram ao meu lado nos momentos alegres e tristes. A todos os professores do curso, que foram t˜ao importantes na minha vida acadˆemica e no desenvolvimento desta Monografia. Ao meu orientador Lic´ınio por toda sua sabedoria, dedica¸c˜ao e paciˆencia durante esse ano. Agrade¸co aos membros da minha banca, Ludmilla e Vilma por todo conhecimento que foi passado.
Sum´
ario
Lista de Figuras Lista de Tabelas 1 Introdu¸c˜ao p. 12 1.1 Tema do Estudo . . . p. 12 1.2 Quest˜ao de Estudo . . . p. 12 1.3 Delimita¸c˜ao do problema . . . p. 13 1.4 Finalidade do Estudo . . . p. 13 1.5 Justificativa do Estudo . . . p. 13 1.6 Hip´otese . . . p. 14 1.7 Estrutura do TCC . . . p. 14 2 Objetivos p. 15 2.1 Objetivo Geral . . . p. 15 2.2 Objetivos Espec´ıficos . . . p. 153 Fundamenta¸c˜ao Te´orica p. 16
3.1 Tra¸co Latente . . . p. 16
3.2 Escalas . . . p. 17
3.2.1 Escalas de Thurstone . . . p. 19
3.2.2 Escalas de Likert . . . p. 20
3.3 Validade e Confiabilidade Dos Instrumentos . . . p. 22
3.4 Dependˆencia Funcional . . . p. 23
3.4.1 Senescˆencia, Senilidade e Funcionalidade . . . p. 23
3.4.2 Atividades da vida di´aria . . . p. 24
3.4.2.1 Independˆencia funcional . . . p. 25
3.4.2.2 Atividades B´asicas de Vida Di´aria . . . p. 25
3.4.2.3 Atividades Instrumentais de Vida Di´aria . . . p. 25
4 Materiais e M´etodos p. 28
4.1 Teoria Cl´assica Dos Testes . . . p. 28
4.1.1 Escore bruto e Escore verdadeiro . . . p. 28
4.1.2 Axiomas e resultados iniciais da teoria psicom´etrica . . . p. 29
4.1.3 Coeficiente de confiabilidade de um teste . . . p. 30
4.1.3.1 Sobre a confiabilidade de um teste subjetivo . . . p. 31
4.1.3.2 Formas paralelas de testes . . . p. 32
4.1.3.3 Coeficientes de confiabilidade . . . p. 32
4.1.3.4 M´etodos para estimar o coeficiente de confiabilidade . p. 34
4.1.4 Caracter´ısticas psicom´etricas dos itens e dos testes . . . p. 35
4.2 Teoria de Resposta ao Item . . . p. 37
4.2.1 Fundamentos . . . p. 37
4.2.2 Motiva¸c˜oes para a TRI a partir da Psicometria Cl´assica . . . p. 37
4.2.3 As solu¸c˜oes da Teoria de Resposta ao Item . . . p. 38
4.2.4 Postulados da TRI . . . p. 39
4.2.4.1 A Unidimensionalidade . . . p. 39
4.2.4.2 A Independˆencia Local . . . p. 39
4.2.4.3 A Curva Caracter´ıstica do Item – CCI . . . p. 40
4.2.4.5 As caracter´ısticas do item . . . p. 41
4.2.4.6 Fun¸c˜ao de informa¸c˜ao do item e fun¸c˜ao de informa¸c˜ao
do teste . . . p. 43
4.3 Fonte de dados . . . p. 43
4.4 Etica . . . .´ p. 43
4.5 Vari´aveis a serem estudadas . . . p. 44
4.6 An´alise de dados . . . p. 44
4.7 Suporte Computacional . . . p. 46
5 An´alise dos Resultados p. 48
5.1 An´alise pela Teoria Cl´assica . . . p. 49
5.2 An´alise pela Teoria de Resposta ao Item . . . p. 52
5.2.1 Curva de Informa¸c˜ao do Item . . . p. 52
5.2.2 Curva de Informa¸c˜ao do Teste . . . p. 55
5.2.3 An´alise dos n´ıveis de dependˆencia estimados para os sujeitos . . p. 55
6 Conclus˜ao p. 57
Referˆencias p. 58
ESCALA DAS ATIVIDADES DA VIDA DI ´ARIA – AVD (Lawton &
Brody, 1969) p. 62
Curvas de Categoria de resposta por Item p. 68
Curva de Informa¸c˜ao dos Itens p. 72
Curvas de Informa¸c˜ao dos Itens por dom´ınio p. 73
Lista de Figuras
1 Modelo dualista do ser humano. . . p. 16
2 Trecho de instrumento para medir atitudes constru´ıdo para mensurar
atitudes face `a igreja . . . p. 20
3 Excerto dos itens do instrumento WHOQOL-BREF da OMS para medir
Qualidade de Vida . . . p. 20
4 Esquema interativo das atividades de vida di´aria . . . p. 24
5 Curva Caracter´ıstica de um Item. . . p. 42
6 Distribui¸c˜ao dos Escores segundo a Escala CDR . . . p. 50
7 Curva de Categoria de Resposta do Item Alimenta¸c˜ao . . . p. 52
8 Curva de Informa¸c˜ao do Item . . . p. 53
9 Curva de Informa¸c˜ao do Item Alimenta¸c˜ao . . . p. 53
10 Curva de Informa¸c˜ao do Teste . . . p. 55
11 Distribui¸c˜ao dos N´ıveis de Dependˆencia Estimados segundo a Escala
CDR . . . p. 56 12 Item 1 ao 6 . . . p. 68 13 Item 7 ao 11 . . . p. 69 14 Item 12 ao 15 . . . p. 69 15 Item 16 ao 18 . . . p. 70 16 Item 19 ao 22 . . . p. 70 17 Item 23 ao 27 . . . p. 71 18 Item 28 ao 30 . . . p. 71
20 Curva de Informa¸c˜ao do Item . . . p. 74
Lista de Tabelas
1 Sexo e Escolaridade por gravidade de demˆencia . . . p. 48
2 Idade por gravidade de demˆencia . . . p. 48
3 Propor¸c˜ao por N´ıvel de Resposta . . . p. 49
4 Escores na Escala AVD . . . p. 50
5 Teste Kolmogorov . . . p. 51
6 An´alise de Variˆancia dos Escores . . . p. 51
7 Teste Games-Howell . . . p. 51
8 Dificuldade e Discrimina¸c˜ao de cada Item . . . p. 54
9 Descri¸c˜ao estat´ıstica dos n´ıveis estimados de dependˆencia funcional,
se-gundo os grupos da escala CDR . . . p. 55
10 An´alise de Variˆancia dos N´ıveis de Dependˆencia Funcional nos grupos da
Escala CDR . . . p. 56
12
1
Introdu¸
c˜
ao
1.1
Tema do Estudo
A d´ecada de 1960 foi prof´ıcua na gera¸c˜ao de protocolos de avalia¸c˜ao da funcionalidade das pessoas, em especial dos idosos. Tais instrumentos de avalia¸c˜ao, dentro das condi¸c˜oes para real capta¸c˜ao do conceito em avalia¸c˜ao, necessitam cumprir certas exigˆencias de qualidade m´etrica, tais como validade e confiabilidade, de modo a apresentarem real ade-qua¸c˜ao ao que deve ser mensurado. Al´em dessas exigˆencias, os itens que comp˜oem o protocolo devem identificar a dificuldade com que as pessoas submetidas ao protocolo apresentam para desempenhar aquilo que ´e investigado pelos itens, sua capacidade discri-minat´oria e sua resistˆencia `as respostas casuais (as quais, no presente caso, seriam aquelas que possam escamotear a real resposta).
Dessa forma, o tema do presente trabalho de conclus˜ao de curso se concentra na investiga¸c˜ao das potencialidades de um protocolo tradicionalmente em uso para avaliar a funcionalidade do ser humano nas atividades vivenciadas no seu dia-a-dia.
1.2
Quest˜
ao de Estudo
Ap´os a edi¸c˜ao da Escala para as AIVDs (Atividades Instrumentais de Vida Di´aria), proposta por Lawton e Brody (1969) [1], as suas aplica¸c˜oes apresentaram varia¸c˜oes da vers˜ao original. Cada servi¸co adaptou a sua aplica¸c˜ao `a luz das necessidades locais ou das orienta¸c˜oes recebidas de organismos oficiais. No Brasil, o Minist´erio da Sa´ude distribuiu uma vers˜ao cujos itens apresentam escalonamento diferente da escala original.(Brasil, 2006, pag. 147)[2]
O problema que se coloca de in´ıcio na abordagem do tema em estudo refere-se a quais sejam as potencialidades do protocolo “Escala das Atividades Instrumentais de Vida Di´aria” de Lawton e Brody (1969)[1] para avaliar a perda de funcionalidade (e
con-1.3 Delimita¸c˜ao do problema 13
sequente dependˆencia funcional) de idosos em investiga¸c˜ao de presen¸ca de transtornos neurocognitivos maior que, segundo a classifica¸c˜ao do DSM-51 (Apa, 2014, p´ag. 591)[3], s˜ao “baseados na evidˆencia de um decl´ınio de uma ou mais ´areas de dom´ınio cognitivo rela-tado e documenrela-tado atrav´es de testes padronizados, causando preju´ızo na independˆencia do indiv´ıduo para as suas atividades da vida di´aria” (Ara´ujo e Latufo Neto, 2013, p´ag. 113). [4]
1.3
Delimita¸
c˜
ao do problema
O foco de aten¸c˜ao do trabalho est´a concentrado na vers˜ao da Escala de Atividades Instrumentais de Vida Di´aria utilizada pelo Servi¸co de Neuropsicologia do Centro de Referˆencia em Assistˆencia `a Sa´ude do Idoso (CRASI) do Hospital Universit´ario Antonio Pedro (HUAP) da Universidade Federal Fluminense (UFF).
1.4
Finalidade do Estudo
A presente Monografia tem por finalidade avaliar as caracter´ısticas psicom´etricas da Escala das AIVDs de Lawton e Brody (1969)[1] utilizada pelo Servi¸co de Neuropsicologia do Centro de Referˆencia em Assistˆencia `a Sa´ude do Idoso do Hospital Universit´ario Anto-nio Pedro da Universidade Federal Fluminense (CRASI/HUAP/UFF) pelos m´etodos da psicometria cl´assica e pelos da Teoria da Resposta ao Item.
1.5
Justificativa do Estudo
A avalia¸c˜ao da potencialidade da escala para captar o “desempenho funcional da pes-soa idosa em termos de atividades instrumentais que possibilita que a mesma mantenha uma vida independente” (Brasil, 2006, p´ag. 147)[2] apresenta alguns benef´ıcios de imedi-ato nas propostas terapˆeuticas dos idosos avaliados, assim como para a equipe de avalia¸c˜ao neuropsicol´ogica.
Quanto ao primeiro grupo de benef´ıcios, as propostas terapˆeuticas, tanto de esti-mula¸c˜ao cognitiva quanto de reabilita¸c˜ao cognitiva, poder˜ao ser planejadas de acordo com a capacidade de informa¸c˜ao que cada item pode ter para a compreens˜ao
aprofun-1DSM-5 ´e a sigla para a quinta edi¸c˜ao do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders,
1.6 Hip´otese 14
dada daquilo que busca captar, assim como com a capacidade global de informa¸c˜ao do protocolo sobre o n´ıvel de dependˆencia dos idosos com algum n´ıvel de comprometimento cognitivo.
Essas informa¸c˜oes s˜ao desej´aveis para as discuss˜oes interdisciplinares das equipes en-volvidas no diagn´ostico e tratamento dos transtornos neurocognitivos n˜ao s´o dos idosos, mas como base para o cuidado institucional que deve ser dado `as pessoas respons´aveis por esses idosos e `a orienta¸c˜ao `as fam´ılias, as quais, muitas das vezes, n˜ao tˆem no¸c˜ao de como lidar com o decl´ınio cognitivo e com o decl´ınio funcional.
Para a equipe de avalia¸c˜ao neuropsicol´ogica, a an´alise dos itens poder´a trazer be-nef´ıcios de ganho de tempo, especialmente nos servi¸cos p´ublicos destinados `a aten¸c˜ao desse tipo de paciente, uma vez que itens pouco informativos ou discriminativos poder˜ao ser suprimidos com base em crit´erios objetivos, no sentido de que os tempos de atendimento possam vir a ser reduzidos, dando capacidade de aumento no volume de atendimento.
1.6
Hip´
otese
Como hip´otese a ser constatada, acredita-se que a totalidade de itens do protocolo “Escala das Atividades B´asicas de Vida Di´aria – AVD” e Escala das Atividades Instru-mentais da Vida Di´aria” - AIVD vide(Anexo 6) utilizado na UFF ´e capaz de contribuir com informa¸c˜oes adequadas para a proposta terapˆeutica dos idosos que s˜ao avaliados segundo seus parˆametros.
1.7
Estrutura do TCC
No presente est´agio (Projeto Final II) desta Monografia, inclui os resultados da an´alise de dados, da discuss˜ao destes com os achados da literatura e da conclus˜ao da Monografia. Esses cap´ıtulos iniciais cont´em as informa¸c˜oes b´asicas para a especifica¸c˜ao do projeto encontram-se descritas no cap´ıtulo introdut´orio. O atingimento da finalidade proposta encaminha-se para a apresenta¸cao dos objetivos a serem alcan¸cados no Cap´ıtulo 2, para a fundamenta¸c˜ao te´orica dos m´etodos e t´ecnicas da teoria psicom´etrica e da teoria de resposta ao item e dos conceitos e tipifica¸c˜ao da independˆencia/dependˆencia funcional no Cap´ıtulo 3, seguindo-se o cap´ıtulo de apresenta¸c˜ao dos m´etodos e t´ecnicas utilizados na an´alise dos itens (Cap´ıtulo 4).
15
2
Objetivos
2.1
Objetivo Geral
Investigar a qualidade dos itens da Escala de Atividades Instrumentais de Vida Di´aria utilizada pelo Servi¸co de Neuropsicologia do Centro de Referˆencia em Assistˆencia `a Sa´ude do Idoso (CRASI/HUAP/UFF) com vistas `a qualifica¸c˜ao e classifica¸c˜ao do decl´ınio fun-cional em idosos avaliados sob a ´otica dos transtornos neurocognitivos.
2.2
Objetivos Espec´ıficos
(a) Analisar a Escala das Atividades Instrumentais da Vida Di´aria `a luz da teoria psi-com´etrica cl´assica;
(b) Analisar a Escala das Atividades Instrumentais da Vida Di´aria do ponto de vista da Teoria da Resposta ao Item;
(c) Investigar diferen¸cas do n´ıvel de dependˆencia entre o estadiamento da demˆencia pela escala CDR da Escala AIVD.
16
3
Fundamenta¸
c˜
ao Te´
orica
3.1
Tra¸
co Latente
Tra¸co latente ´e uma disposi¸c˜ao ps´ıquica que, segundo a vis˜ao psicom´etrica, se define como um conjunto de processos cognitivos necess´arios `a execu¸c˜ao de determinadas tarefas. Pasquali(1996, p´ag 74)[5]
O termo “tra¸co latente” tem sido referido na literatura especializada por diversos outros termos: vari´avel hipot´etica, fator, constructo, vari´avel fonte, conceito, tra¸co de personalidade, comportamento cognitivo e outros. Por´em, em s´ıntese, tra¸co latente ´e uma entidade n˜ao observ´avel, capaz de apresentar intensidades distintas, que s´o podem ser captadas indiretamente atrav´es de est´ımulos aos quais os sujeitos respondem com um comportamento espec´ıfico. (Pasquali, 2009)[6]
A denomina¸c˜ao consolidada no campo da psicologia para o tra¸co latente ´e theta (Θ) e para o comportamento ´e tau (τ ): a aparˆencia do theta ´e o tau, no sentido que o tau ´e o observ´avel e o theta ´e o tra¸co latente.
Figura 1: Modelo dualista do ser humano.
3.2 Escalas 17
3.2
Escalas
A compreens˜ao dos fenˆomenos da realidade exige que tenhamos sobre eles o conhe-cimento de suas caracter´ısticas e, consequentemente, a identifica¸c˜ao da grandeza dessas caracter´ısticas naqueles indiv´ıduos que comp˜oem a popula¸c˜ao-alvo imersa na realidade desse fenˆomeno. S˜ao os indiv´ıduos dessa popula¸c˜ao que permitir˜ao que se compreenda a dinˆamica do fenˆomeno e, com isso, se tenha o dom´ınio de sua permanˆencia na realidade, no sentido de que sempre que ele venha a ocorrer, n˜ao se seja surpreendido com o re-sultado que possa produzir. Essencialmente, essa ´e a necessidade visceral que se tem ao realizar medidas.
Trˆes problemas principais surgem com a necessidade da mensura¸c˜ao: o primeiro relaciona-se ao tipo de objetos a serem medidos, o segundo `a caracter´ıstica que deve ser medida nesses objetos e o terceiro ao instrumento adequado a realizar essa medida. (Souza, 2005, p´ag.1)[8]
Quanto ao tipo de objetos, devem ser consideradas as diferentes formas de se captar as grandezas dos mesmos e as suas caracter´ısticas envolvidas no fenˆomeno. Segundo Pasquali (1996, p´ag. 27)[5], “uma das taxionomias mais ´uteis consiste em distinguir trˆes formas diferentes de mensura¸c˜ao: medida fundamental, medida derivada e medida por teoria”.
A primeira delas, tamb´em denominada medida direta, ´e a forma de medir que se baseia no estabelecimento de uma medida natural e extensiva, no sentido de que existe a possibilidade de concatena¸c˜ao de dois objetos: o que ´e medido e o que mede. Como exemplo, pode-se citar a medida de um comprimento por meio de instrumento concreto padr˜ao para aquela medida: o “metro” ´e usado para medir metros (de comprimento).
A segunda forma, medida derivada, ´e constitu´ıda por caracter´ısticas que n˜ao admitem uma medida extensiva como no caso anterior, uma vez que n˜ao h´a qualquer medida fundamental que seja capaz de captar a dimens˜ao da caracter´ıstica. Tais caracter´ısticas podem, no entanto, ser resultado de uma rela¸c˜ao entre medidas fundamentais (extensivas), sustentada por um arcabou¸co te´orico que as definem. Por exemplo, a medida da velocidade s´o ´e poss´ıvel atrav´es das medidas fundamentais de espa¸co e tempo, segundo o modelo de que a velocidade de um m´ovel ´e o quociente entre o espa¸co percorrido e o tempo de percurso, os quais admitem medidas fundamentais.
A terceira forma, medida por teoria, refere-se `as caracter´ısticas n˜ao acess´aveis direta-mente. S˜ao de natureza imanente aos sujeitos:
3.2 Escalas 18
“H´a outros atributos da realidade — e ´e o caso de quase todos em ciˆencias sociais e do comportamento — que, al´em de n˜ao se apresentarem como dimens˜oes extensivas, portanto incapa-zes de medida fundamental, tamb´em n˜ao podem ser expressos em termos de componentes extensivos e n˜ao possuem uma unidade-base natural, n˜ao per-mitindo, portanto, medida derivada. Estes s˜ao mensur´aveis somente com base em leis e teorias cient´ıficas.” (Pasquali, 1996, p´ag. 29)[5]
Nesse contexto enquadram-se os construtos que, em ciˆencia, designam conceitua¸c˜oes te´oricas de entidades n˜ao observ´aveis, leia-se “n˜ao mensur´aveis diretamente”, constru´ıdas como
“elabora¸c˜oes ideativas (intencionais) criadas ou adotadas com determinada finalidade cient´ıfica, de modo consci-ente e sistem´atico e representa o passo inicial em dire¸c˜ao `a formula¸c˜ao de uma teoria. Referem-se a esquemas te´oricos e se relacionam, de diversas formas, com outros construtos (menos ou mais abstratos) e intentam defini¸c˜oes e especifica¸c˜oes que permitam sua ob-serva¸c˜ao e mensura¸c˜ao...” Freitas(1994, p´ag. 103)[9]
Exemplos de construto s˜ao centro de massa, distribui¸c˜ao de probabilidade, persona-lidade, amor, medo, depress˜ao, funcionalidade. Tais conceitos s˜ao usados na linguagem comum, mas para se tornarem um construto cient´ıfico necessitam de uma defini¸c˜ao clara e de um embasamento emp´ırico. (Asendorpf e Neyer, 2012).[10]
3.2 Escalas 19
A observa¸c˜ao e mensura¸c˜ao dos construtos se fazem atrav´es de instrumentos, deno-minados protocolos ou testes, constitu´ıdos de conjuntos de itens que procuram captar as caracter´ısticas que determinam, segundo um modelo te´orico, os comportamentos dos in-div´ıduos naqueles aspectos tratados nos itens. Em geral, os diversos itens de um protocolo ou teste possuem uma mesma escala, ou, se diferente, com a estrutura mantida.
Os principais tipos de escalas utilizados nesses instrumentos s˜ao escalas de Thurstone, de Likert e de Guttman.
3.2.1
Escalas de Thurstone
Louis Leon Thurstone (1887-1955) foi pioneiro na mensura¸c˜ao de construtos, tendo idealizado uma abordagem de medida sustentada pela Lei dos Julgamentos Comparati-vos, a qual ele construiu com base nos seus trabalhos como psicof´ısico, criando o conceito de escalas de atitudes. Para um determinado construto, o seu m´etodo se constitui de identificar um conjunto extensivo de declara¸c˜oes com as quais uma pessoa deve concordar ou discordar de cada uma delas, marcando a sua atitude frente `as coloca¸c˜oes delas cons-tantes. Os itens devem ter associado valores num´ericos para cada declara¸c˜ao, os quais indicam os pesos atribu´ıdos a cada um deles. A medida do construto para um indiv´ıduo ´e obtida pela m´edia dos pesos dos itens com os quais concordou. (Cunha, 2007, p´ag. 20)[11]
´
E interessante observar que cada resposta ´e indicada em escala dicotˆomica cujos va-lores lingu´ısticos s˜ao dois polos que servem de ˆancora para a atitude: “concordo” e “dis-cordo”
A Figura 2 exemplifica um trecho de um instrumento para medir atitudes onde as pontua¸c˜oes `a frente dos itens indicam seu peso no conjunto completo de itens, os quais n˜ao s˜ao apresentados aos respondentes.
3.2 Escalas 20
Figura 2: Trecho de instrumento para medir atitudes constru´ıdo para mensurar atitudes face `a igreja
Fonte: Cunha, 2007, p´ag.20 [11]
3.2.2
Escalas de Likert
Rensis Likert (1902-1981) criou, em 1932, uma escala com base nas polaridades das escalas de Thurstone, admitindo, no entanto, a possibilidade de escalonar alternativas nos segmentos negativo e positivo, equidistantes a partir da alternativa central de indecis˜ao. De modo diferente de Thrustone, os itens s˜ao pontuados, em geral de 1 a 5, conforme a resposta do sujeito, e todas as respostas tˆem mesmo peso igual a 1, o que implica que os itens tˆem a mesma importˆancia na escala somativa do instrumento. A Figura 3 ilustra a aplica¸c˜ao dos conceitos de Likert com dois itens do instrumento WHOQoL-BREF para avalia¸c˜ao da qualidade de vida das pessoas, constru´ıdo pelo Grupo de Qualidade de Vida da Organiza¸c˜ao Mundial de Sa´ude - OMS.
Figura 3: Excerto dos itens do instrumento WHOQOL-BREF da OMS para medir Qua-lidade de Vida
3.2 Escalas 21
A escala desenvolvida por Likert tinha 5 pontos, mas pode ser constitu´ıda de qualquer quantidade ´ımpar de pontos a partir de 3 pontos. ´E usual se encontrar escalas de 7 pontos e, com menor freq¨uˆencia, de 9 ou de 11 pontos. O refinamento da escala deve ser feito de modo a permitir o escalonamento da atitude em um n´ıvel que n˜ao confunda o sujeito respondente na escolha da melhor alternativa para sua atitude frente ao construto.
Quando h´a necessidade de posicionamento efetivo do sujeito na dire¸c˜ao de um dos pontos-ˆancoras da escala, admite-se a supress˜ao do ponto central, gerando-se escalas com quantidade par de pontos, em geral, 4 pontos.
A concordˆancia do sujeito com as declara¸c˜oes de todos os itens do instrumento obt´ em-se somando a pontua¸c˜ao dos itens ou mesmo calculando-se a m´edia aritm´etica das pon-tua¸c˜oes de todos os itens. (Cunha, 2007, p´ag. 24)[11]
3.2.3
Escalas de Guttman
Louis Guttman (1916-1987) idealizou uma escala cuja caracter´ıstica principal ´e a de ser uma cole¸c˜ao de alternativas escalonadas de modo cumulativo, no sentido de que, quando o sujeito, concorda com uma das alternativas, intrinsecamente ele concorda com as alternativas que lhe antecedem e discorda das que se seguem, criando um escalonamento de atitudes. Um exemplo cl´assico de uma escala do tipo Guttman ´e a Escala de Distˆancia Social de Bogardus, na qual solicita-se a uma pessoa que indique qual das alternativas de resposta ´e aquela que melhor representa sua disposi¸c˜ao quanto `a aceita¸c˜ao da proximidade social com o outro. Por exemplo, considere a situa¸c˜ao migrat´oria de povos na atualidade e indique qual ´e a alternativa escolhida dentre as declara¸c˜oes a seguir apresentadas:
1. “ Eu n˜ao me sentiria incomodado se uma pessoa do pa´ıs (X) viesse morar em meu pa´ıs.
2. Eu n˜ao me sentiria incomodado se uma pessoa do pa´ıs (X) viesse morar em minha cidade.
3. Eu n˜ao me sentiria incomodado se uma pessoa do pa´ıs (X) viesse morar na rua onde eu moro.
4. Eu n˜ao me sentiria incomodado se uma pessoa do pa´ıs (X) viesse morar no aparta-mento ao lado do meu.
5. Eu n˜ao me sentiria incomodado se um(a) filho(a) meu se casasse com uma pessoa do pa´ıs (X).”
3.3 Validade e Confiabilidade Dos Instrumentos 22
Caso o sujeito escolha a resposta 3, automaticamente ele aceita como resposta tamb´em as alternativas anteriores (1 e 2) e n˜ao aceita as seguintes (4 e 5).
´
E pr´atica corrente a constru¸c˜ao de instrumentos que contenham mais de um item constru´ıdo com base na escala de Guttman e a gera¸c˜ao de uma escala somativa com base nos pontos de cada resposta dos itens.
De todas as trˆes escalas apresentadas acima, a que iremos nos basear para este estudo ´e a Escala de Likert.
3.3
Validade e Confiabilidade Dos Instrumentos
Os testes psicol´ogicos possuem basicamente duas caracter´ısticas fundamentais: vali-dade e precis˜ao (confiabilidade).
Para Gressler (1989; apud Martins, 2006)[13], “a quest˜ao fundamental para se admitir a validade de um instrumento de medidas ´e dada pela resposta `a seguinte pergunta: Ser´a que se est´a medindo o que se crˆe que deva ser medido? Se a resposta for sim, sua medida ´e v´alida, se for n˜ao, n˜ao ´e”. (Martins, 2006, p´ag. 5)[13]
“A validade de um teste se maximiza na medida em que o n´ıvel de dificuldade do mesmo se aproxima do n´ıvel de habilidade do sujeito.“ (Pasquali e Primi, 2003, p´ag. 101).[14]
Todo instrumento que pretende medir um construto tem de apresentar caracter´ıstica de qualidade quanto `a sua real utilidade.
“Quando se diz que um teste ´e va-lido, estamos assumindo uma posi¸c˜ao ontol´ogica de que o atributo sendo medido existe e afeta o resultado do procedimento de medida” (Borsboom e cols., 2004, apud Pasquali, 2007)[15]
A validade de um teste, segundo Ramos (1987)[16], “´e o grau com que os indicado-res unidimensionais da escala medem com consistˆencia interna as dimens˜oes que foram designadas para medir”. (Bem et al, 2011, p´ag. 376) [17]
3.4 Dependˆencia Funcional 23
em que uma escala produz resultados consistentes quando se realizam medi¸c˜oes repetidas das caracter´ısticas em an´alise.” (Bem et al, 2011, p´ag. 376).[17] Esses mesmos autores asseguram que a precis˜ao (confiabilidade) est´a intrinsecamente associada ao conceito es-tat´ıstico de correla¸c˜ao, uma vez que esta constitui a principal t´ecnica que a teoria cl´assica dos testes utilizada para a estimativa da sua confiabilidade.
3.4
Dependˆ
encia Funcional
3.4.1
Senescˆ
encia, Senilidade e Funcionalidade
O envelhecimento traz para os seres humanos a possibilidade de diversos tipos de decl´ınios. Tomando por base os conceitos da Teoria das Objetividades, que adota um modelo trinit´ario para a compreens˜ao da realidade objetiva centrado em trˆes dom´ınios (l´ogico, concreto e simb´olico) (Sampaio, 1977, p´ag. 344-350)[19], pode-se tratar o decl´ınio do ser humano com foco em trˆes n´ıveis: biol´ogico, psicol´ogico e o sociol´ogico, como o faz Rodrigues (2014, p´ag. 2)[20]. O presente trabalho focaliza o decl´ınio biol´ogico, essenci-almente marcado por altera¸c˜oes f´ısicas que modificam estruturalmente o funcionamento dos v´arios sistemas do corpo humano. Tal tipo de decl´ınio pode ter como consequˆencia a redu¸c˜ao do desempenho dos sistemas vitais do ser humano, dentre eles a cogni¸c˜ao.
Rodrigues (2014)[20]referencia a obra de Papalia, Olds e Feldman (2001)[21] para con-siderar que “a senescˆencia corresponde ao envelhecimento prim´ario”, entendido como “o processo gradual e inevit´avel de deteriora¸c˜ao corporal que ocorre durante todo o ciclo de vida, acentuando-se ap´os a idade adulta”. A senescˆencia deve, assim, ser entedida como a “progress˜ao natural do ciclo de vida e n˜ao como um processo patol´ogico”(Rodrigues, 2014)[20]. Por outro lado, os sujeitos “submetidos a condi¸c˜oes de sobrecarga, como, por exemplo, doen¸cas, acidentes e estresse emocional”, apresentam o envelhecimento tipifi-cado como senilidade, que “pode ocasionar uma condi¸c˜ao patol´ogica que requeira as-sistˆencia”(Brasil, 2006, p´ag. 8)[2]
O funcionamento do ser humano enquanto indiv´ıduo inserido na realidade pode ser idealizado sob a concep¸c˜ao trinit´aria objetiva em trˆes contextualiza¸c˜oes: uma, a mais essencial, referida `a natureza de manuten¸c˜ao de sua integridade biof´ısica, uma segunda de natureza de intera¸c˜ao com o meio f´ısico em que est´a inserido e que se subordina `a primeira e uma terceira, que se subordina `as outras duas, de natureza das intera¸c˜oes com outros indiv´ıduos ou com os produtos decorrentes de suas a¸c˜oes. (Figura 4)
3.4 Dependˆencia Funcional 24
Figura 4: Esquema interativo das atividades de vida di´aria
A interrela¸c˜ao entre essas atividades se d´a com o reconhecimento de que sem a capa-cidade de manter sua integridade enquanto esp´ecie, o indiv´ıduo n˜ao ser´a capaz de exercer outras que sejam necess´arias ao seu desempenho no mundo concreto, usalmente deno-minado meio ambiente. Sem ambas funcionando a contento n˜ao haver´a possibilidade de estabeler rela¸c˜oes com os seus semelhantes. Com o preju´ızo total ou parcial de algumas das capacidades, o sujeito pode necessitar de ser custodiado por outrem, no sentido de cuidado, aten¸c˜ao e interven¸c˜oes necess´arios `a continuidade de seu estar no mundo.
3.4.2
Atividades da vida di´
aria
As Atividades de Vida Di´aria – AVDs s˜ao atividades desempenhadas pelo ser humano como “tarefas pessoais, concernentes aos autocuidados, e tamb´em `as outras habilidades pertinentes ao (seu) cotidiano”. (Brasil, 2014, p´ag. 8).[2]
“Na verdade, o que est´a em jogo na velhice ´e a autonomia, ou seja, a capacidade de determinar e executar seus pr´oprios des´ıgnios.” Isso pode ocorrer, mesmo que o idoso seja portador de alguma patologia crˆonica. “O importante ´e que, como resultante de um tratamento bem-sucedido, ela mant´em sua autonomia, ´e feliz, integrada socialmente e, para todos os efeitos, uma pessoa idosa saud´avel.” (Ramos, 2003, p´ag. 794)[16]
O decl´ınio cognitivo, no entanto, ´e a amea¸ca mais significativa ao envelhecimeto saud´avel e bem sucedido, conforme assinala Stott (2006).[22]
3.4 Dependˆencia Funcional 25
3.4.2.1 Independˆencia funcional
A funcionalidade dos seres humanos est´a ligada fundamentalmente ´a atividades que desenvolve durante a vida. Pode-se classificar as atividades de vida di´aria em dois tipos: as ligadas ao autocuidado (enquanto capacidade b´asica essencial se manter ´ıntegro enquanto esp´ecie) e as ligadas `as tarefas que exigem a utiliza¸c˜ao de fun¸c˜oes cognitivas superiores (de natureza instrumental).
Njegovan et al (2001)[23] estudaram a perda da funcionalidade associada ao decl´ınio cognitivo identificando uma hierarquia de perdas funcionais a partir de diversos estudos das duas ´ultimas d´ecadas do s´eculo XX.
3.4.2.2 Atividades B´asicas de Vida Di´aria
Katz et al (1963) [24]teorizavam sobre essa rela¸c˜ao de decl´ınio cognitivo e decl´ınio funcional, declarando que “a ordem de recupera¸c˜ao das fun¸c˜oes do ´Indice 5 em pacien-tes com deficiˆencia ´e notalvelmente semelhante `a ordem do desenvolvimento das fun¸c˜oes prim´arias em crian¸cas”. A partir dessa sugest˜ao te´orica, Katz e sua equipe construiram o ´Indice como uma escala para graduar a independˆencia em seis fun¸c˜oes b´asicas da vida di´aria, “considerando esse paralelismo, al´em da similaridade de comportamento de po-vos primitipo-vos” baseado nas fun¸c˜oes s´ocio-psico-biol´ogicas que refletem a adequa¸c˜ao das respostas organizadas dos sistemas neurol´ogicos e locomotor.
3.4.2.3 Atividades Instrumentais de Vida Di´aria
A d´ecada de 1960 foi prof´ıcua na gera¸c˜ao de protocolos de avalia¸c˜ao da funcionalidade das pessoas, em especial dos idosos. Al´em de Katz muitos outros desenvolveram instru-mentos voltados `a identifica¸c˜ao do n´ıvel funcional no envelhecimento. Lawton e Brody (1969)[1] destacaram que o uso de dispositivos formais para avalia¸c˜ao funcional se tornava naqueles tempos um procedimento padr˜ao nas organiza¸c˜oes que prestavam servi¸cos aos idosos. Esses autores relatam o lan¸camento, ao final dos anos 1950, de um edital para contratar um estudo sobre avalia¸c˜ao funcional pela Sociedade Gerontol´ogica da Am´erica que gerou a proposi¸c˜ao de uma variedade de escalas de rateio, listas de verifica¸c˜ao (check lists) e montagens de outras t´ecnicas que eram usadas em situa¸c˜oes espec´ıficas. Durante
5“´Indice” (Index, no texto original), nesse contexto significa o “´Indice de Independˆencia nas Atividades
de Vida Di´aria” (ADL, da sigla americana do termo) proposto por Katz e colaboradores para “estudar os resultados de tratamentos e progn´osticos no envelhecimento e nas enfermidades crˆonicas” (Katz et al, 1963). [24]
3.4 Dependˆencia Funcional 26
a d´ecada dos anos 1960 havia um esp´ecie de compuls˜ao interna dos pesquisadores de produzirem suas pr´oprias escalas acreditando que as escalas dos outros n˜ao atingiriam os mesmos objetivos e aspectos da funcionalidade humana. (Lawton e Brody, 1969, p´ag. 179)[1]
Dentro desse cen´ario, Lawton e Brody lan¸cam sua pr´opria escala constitu´ıda a partir de outras duas: uma j´a existente e praticada por grande parte dos pesquisadores e profis-sionais da ´epoca – Escala de Autocuidado F´ısico (Physical Self-Maintenance Scale), que repetia a estrutura da escala de Katz para as atividades b´asicas da vida di´aria; outra, por eles denomiada de Escala de Atividades Instrumentais da Vida Di´aria (Instrumental Activities of Dailing Living Scale), a qual abordou n´ıveis funcionais que as outras escalas existentes `a ´epoca n˜ao abordavam com adequa¸c˜ao na avalia¸c˜ao da competˆencia funcional di´aria. Assim surgiu o que hoje se conhece como a Escala de Atividades Instrumentais de Vida Di´aria (AIVDs) de Lawton e Brody, cuja aplica¸c˜ao vem sempre conjugada com a escala das atividades b´asicas da vida di´aria. (Lawton e Brody, 1969)[1]
Ambas as escalas s˜ao constru´ıdas com cada um dos seus itens escalonados segundo a t´ecnica proposta por Guttman na qual um conjunto de itens ou declara¸c˜oes s˜ao enunciados de tal maneira que a pessoa que responde optando por uma das alternativas de resposta da lista apresentada tamb´em concorda com todas as respostas que antecedem aquela, gerando uma m´etrica de natureza cumulativa. (Trochim, 2006)[25]
O desempenho do paciente na realiza¸c˜ao das AIVD’S foi analisado de acordo com a escala de Guttman, que atribui a pontua¸c˜ao para cada item de 0 a 3 (0 representa independˆencia completa, e a 3, dependˆencia completa). Com isso, quanto menor o escore final, maior a independˆencia do indiv´ıduo.
O escore resulta da soma da pontua¸c˜ao das AIVD’S e varia para as mulheres entre 0 a 86 pontos e para os homens entre 0 e 78 pontos, correspondendo ao n´umero de AIVD’S em que o idoso ´e independente. Isso se deve ao fato de terem 3 itens que s´o podem ser respondidos por mulheres e um que s´o pode ser respondido por homens. Assim, no banco, as 4 alternativas direcionadas `as mulheres foram codificadas com 0 para os homens e vice-versa, para que pudesse haver uma compara¸c˜ao.
No Brasil a orienta¸c˜ao para o uso dessa escala nos servi¸cos de aten¸c˜ao `a pessoa idosa est´a apresentada no Caderno de Aten¸c˜ao B´asica no. 19 do Minist´erio da Sa´ude
(Bra-sil, 2006)[2], onde ´e possivel observar um modo diferenciado, embora ainda escolanado segundo o esp´ırito das escalas de Guttman, de pontuar as respostas dos pacientes.
3.4 Dependˆencia Funcional 27
As an´alises das escalas utilizadas por Lawton e Brody (1969) referentes `as suas valida-des e confiabilidade usualmente s˜ao realizadas por m´etodos da teoria psicom´etrica cl´assica. Com o advento e operacionaliza¸c˜ao da Teoria da Resposta ao Item (TRI) atualmente tem sido realizadas pesquisas para avalia¸c˜ao pela TRI dos itens dessas escalas (C´esar et al, 2015[26]; McGRORY, 2015[27]; McGRORY et al, 2014a[28]; McGRORY et al, 2014b[29]; Ard et al, 2013 [30]; Fieo et al, 2011 [31]; Spector e Fleishman, 1998).[32]
28
4
Materiais e M´
etodos
4.1
Teoria Cl´
assica Dos Testes
4.1.1
Escore bruto e Escore verdadeiro
A psicologia foi a respons´avel pela introdu¸c˜ao e sistematiza¸c˜ao dos testes de natureza comportamental e sua origem remonta ao final do s´eculo XIX, quando Alfred Binet prop˜oe seus primeiros testes de inteligˆencia cuja sedimenta¸c˜ao se deu pela publica¸c˜ao da Escala de Binet-Simon de Inteligˆencia em 1905, posteriormente revista e divulgada em 1908.
Naquela ´epoca, fins do s´eculo XIX e princ´ıpio do s´eculo XX, um outro psic´ologo inglˆes de forma¸c˜ao estat´ıstica, Charles Edward Spearman, propˆos e desenvolveu um m´etodo de an´alise que futuramente passou a ser conhecido como An´alise Fatorial. Spearman desenvolveu a Teoria Bifatorial da Inteligˆencia, constitu´ıda de dois fatores: o fator “G” (de natureza geral) subjacente a todas as fun¸c˜oes intelectuais, estas constitu´ıdas de um fator “S” espec´ıfico de cada fun¸c˜ao.
Os testes, assim, buscavam mensurar o construto de inteligˆencia por meio da capta¸c˜ao dos processos cognitivos pelos comportamentos expressos pelos indiv´ıduos como resposta a cada item do protocolo aplicado. Dessa forma, a intensidade do construto ´e captada por uma entidade abstrata denominada vari´avel aleat´oria, cujos valores s˜ao a medida desse construto.
Suponha, assim, uma popula¸c˜ao P de indiv´ıduos os quais s˜ao submetidos a um teste para captar a intensidade de um estado intr´ınseco desses sujeitos, como, por exemplo, sua capacidade cognitiva ou seu estado depressivo, dentre outros. Represente por X o escore bruto2 de um indiv´ıduo da popula¸c˜ao P, escolhido aleatoriamente entre os n indiv´ıduos
integrantes dessa popula¸c˜ao.
Seja X a medida do construto (o que se chamou acima de estado intr´ınseco do
su-2Considerando o teste como um conjunto de itens, chama-se escore bruto do teste `a soma dos pontos
4.1 Teoria Cl´assica Dos Testes 29
jeito). A teoria desenvolvida por Spearman e detalhada por Harold Gulliksen(1903-1996) estabelece que X expressa o valor verdadeiro da medida (V) acrescido de um erro (ε) cuja natureza pode ser a mais variada, mas que certamente inclui uma componente de aleatoriedade:
X = V + ε.
isto ´e, o escore bruto (tamb´em chamado de escore emp´ırico) ´e a soma do escore verdadeiro com o erro. Pasquali(2009, p´ag. 994)[6] chama a aten¸c˜ao para o fato de que o erro ´e devido “a toda uma gama de fatores estranhos, (. . .) tais como defeitos do pr´oprio teste, estere´otipos e vieses do sujeito, fatores hist´oricos e ambientais aleat´orios”. Esse erro ´e entendido como o erro aleat´orio (ε) da medida.
4.1.2
Axiomas e resultados iniciais da teoria psicom´
etrica
Essa medida, para a teoria psicom´etrica, est´a subjugada a duas propriedades es-tat´ısticas que funcionam como “condi¸c˜oes extras de profundo significado emp´ırico e ne-cess´arias `a formula¸c˜ao te´orica” Souza(1988, p´ag.18)[8] , as quais se expressam da seguinte maneira:
(a) E(ε) = 0, isto ´e, o erro do teste subjetivo tem valor esperado nulo; e
(b) ρ(V, ε) = 0, isto ´e, o escore verdadeiro e o erro n˜ao se correlacionam, isto ´e s˜ao independentes.
“A decomposi¸c˜ao do escore bruto na soma dos escore verdadeiro com o erro, jun-tamente com os dois axiomas acima enunciados, facultam os elementos m´ınimos para desenvolver o teoria estat´ıstica cl´assica dos testes subjetivos.” (Souza, 1988, p´ag. 19)[8] Os primeiros teoremas que sustentam teoricamente o desenvolvimento das m´etricas rela-cionadas a construtos s˜ao indicados abaixo por Teorema 1 e Teorema 2.
Teorema 1 – Se X = V + ε ´e a decomposi¸c˜ao do escore bruto do teste subjetivo, ent˜ao os escores bruto e verdadeiro apresentam o mesmo valor esperado, isto ´e, em m´edia s˜ao iguais.
Demonstra¸c˜ao:
Se X = V + ε , ent˜ao E(X) = E(V + ε) = E(V ) + E(ε) = E(V ) Pela propriedade do valor sabe-se que E(X) = E(V ) + E(ε). Considerado o axioma (a), E(X) = E(V).
4.1 Teoria Cl´assica Dos Testes 30
Teorema 2 – Se X = V + ε, ent˜ao a variˆancia do escore bruto ´e igual `a soma das variˆancias do escore verdadeiro e do erro.
Demonstra¸c˜ao:
Se X = V + ε , ent˜ao V ar(X) = V ar(V + ε).
Por defini¸c˜ao de variˆancia, vem que
V ar(V + ε) = E[(V + ε)2]–[E(V + ε)]2]
Com base em Bussab e Morettin (2002, p´ag. 212)[33] obt´em-se
V ar(V ) + V ar(ε) + 2Cov(V, ε) = = V ar(V ) + V ar(ε) + 2[E(V ε) − E(V )E(ε)]
que pelo axioma (a) acarreta:
= V ar(V ) + V ar(ε) + 2[E(V ε) + 0]
Como V e ε s˜ao independentes [axioma (b)], ent˜ao, segundo Bussab e Morettin (2002, p´ag. 208, teorema 8.2)[33]
E(V ε) = E(V )E(ε)
Assim, com o apoio do axioma (a),
= V ar(V ) + V ar(ε) + 2[E(V )E(ε)] = V ar(V ) + V ar(ε) , donde se conclui que :
V ar(X) = V ar(V ) + V ar(ε)
4.1.3
Coeficiente de confiabilidade de um teste
Com base na exposi¸c˜ao te´orica apresentada em Souza (1988, p´ag. 19-46)[8], transcritas neste subtem, apresentam-se as defini¸c˜oes das propriedades m´etricas `as quais um teste deve satisfazer para captar adequadamente o construto em investiga¸c˜ao.
4.1 Teoria Cl´assica Dos Testes 31
Defini¸c˜ao 1 . Sendo X, V e ε, respectivamente, o escore bruto, o escore verdadeiro e o erro de um teste subjetivo T, chama-se coeficiente de confiabilidade deste teste o n´umero :
V ar(X) = V ar(V ) + V ar(ε) V ar(X) V ar(X) = V ar(V ) V ar(X) + V ar(ε) V ar(X) V ar(V ) V ar(X) = 1 − V ar(ε) V ar(X) ρ2 = 1 − V ar(ε) V ar(X) = V ar(V ) V ar(X) ,
isto ´e, o coeficiente de confiabilidade ρ2 do teste T iguala o quociente entre as variˆancias
do escore verdadeiro e do escore bruto.
Teorema 3 – O coeficiente de confiabilidade ρ2 do teste T ´e igual ao quadrado do coeficiente de correla¸c˜ao entre os escores bruto e verdadeiro, isto ´e,
ρ2 = Corr2[X, V ]
Demonstra¸c˜ao. Com Efeito Sendo X=V+ ε, ent˜ao se tem :
Cov(X,V)= Cov(V+ ε,V) = Cov(V,V)+Cov(ε,V)=
Var(V)
e, por seguinte, pode-se escrever que:
Corr(X, V ) = Cov(X, V ) pV ar(X)V ar(V ) = V ar(V ) pV ar(X)V ar(V ) = pV ar(V ) pV ar(X) e, desse modo, conclui-se ser
ρ2 = Corr2(X, V ).
4.1.3.1 Sobre a confiabilidade de um teste subjetivo
Existem basicamente quatro m´etodos de verifica¸c˜ao da precis˜ao: por formas alterna-tivas (paralelas), teste-reteste, divis˜ao por metades e consistˆencia interna. (Primi, 2012, p´ag. 302-303).[14]
4.1 Teoria Cl´assica Dos Testes 32
4.1.3.2 Formas paralelas de testes
Defini¸c˜ao 2 . Diz-se que dois testes subjetivos, Ti e Tj, s˜ao paralelos ou s˜ao formas
paralelas, se e somente se s˜ao satisfeitas as seguintes propriedades:
(a) Vi ∼ Vj,isto ´e, os escores verdadeiros dos dois testes s˜ao vari´aveis aleat´orias
identi-camente distribu´ıdas;
(b) σεi = σεj ,isto ´e, seus erros-padr˜oes s˜ao iguais;
(c) Corr(εi, Vj) = Corr(εj, Vi) = Corr(εi, εj) = 0.
Concebe-se que o paralelismo entre dois testes indica que eles s˜ao estat´ısticamente equi-valentes, sendo essa equivalˆencia mascarada apenas pelos erros aleat´orios que revelam escores brutos diferentes.
Defini¸c˜ao 3 . Dize-se que os p testes subjetivos T1, T2, . . . , Tp s˜ao paralelos se e somente
se eles s˜ao paralelos dois a dois.
De acordo com essas defini¸c˜oes, o coeficiente de confiabilidade ρ2 do teste subjetivo T, vem a ser o quociente:
ρ2 = V ar(V ) V ar(X).
4.1.3.3 Coeficientes de confiabilidade
H´a v´arios coeficientes para a avalia¸c˜ao da confiabilidade de testes psicol´ogicos, todos referidos ao conceito de correla¸c˜ao:
1. Coeficiente de Spearman-Brown
Esse coeficiente segundo Souza(1988, p´ag. 32)[8] relaciona o coeficiente de confiabli-dade ρ2p de uma p-forma paralela constru´ıda a partir de p testes paralelos a T com coeficiente de confiabilidade ρ2
1. Essa express˜ao de Sperman-Brown pode ser escrita
como: ρ2p = pρ 2 1 1 + (p − 1)ρ2 1 . 2. Coeficiente KR20 de Kuder-Richardson
4.1 Teoria Cl´assica Dos Testes 33
Defini¸c˜ao 4 . Um dos processos de estima¸c˜ao do coeficiente de confiabilidade de um teste subjetivo foi desenvolvido por Kuder e Richardson.A f´ormula para KR-20 para um teste com K itens, numerados i = 1 a K ´e:
r = K (K − 1) 1 − PK i=1piqi σ2 X ! .
Onde pi ´e a propor¸c˜ao de respostas corretas do teste referentes ao item i, qi ´e a
propor¸c˜ao de respostas incorretas do teste referentes ao item i (de modo que pi+qi =
1), e no denominador temos a variˆancia.
Segundo eles, o teste subjetivo T ´e constitu´ıdo por m itens Q1, Q2, . . . , Qm,
consi-derados quase-paralelos e, al´em disso, supondo que o escore bruto Xi do item Qi
(i=1,2,. . . ,m) tem a mesma decomposi¸c˜ao do escore bruto X do teste inteiro, isto ´e:
X = X1, X2, . . . , Xm
X = V + ε
Xi = Vi+ εi (i = 1, 2, . . . , m)
V = V1, V2, . . . , Vm
ε = ε1, ε2, . . . , εm
O quase paralelismo entre os m itens ´e caracterizado pelas seguintes hip´oteses:
(a) Os m escores verdadeiros (Vi , i = 1, 2, . . . , m), s˜ao identicamente distribu´ıdos,isto
´e, Vi ∼ Vj(i 6= j);
(b) E(Vj)(i = 1, 2, . . . , m), isto ´e, os erros aleat´orios tem esperan¸cas matem´aticas
nulas;
(c) Corr(εi, εj) = 0 (i 6= j), ou seja, os erros aleat´orios associados aos escores de
itens diferentes s˜ao incorrelacionados
3. Coeficiente de Cronbach
(a) Teorema 4 – Sejam T1, T2, . . . , Tn n testes subjetivos(n˜ao necessariamente
paralelos) e Xi e Vi, respectivamente, o escore bruto e o escore verdadeiro do
teste Ti (i=1,2,. . . ,n). Sejam ainda, nessa ordem, X = X1 + X2 + . . . + Xn
e V1 + V2 + . . . + Vn o escore bruto e o escore verdadeiro do n-alongamento
T = T1∪ T2∪ . . . ∪ Tn. Ent˜ao, o coeficiente de confiabilidade ρ2n do alongamento
4.1 Teoria Cl´assica Dos Testes 34 ρ2 n ≥ n n − 1 1 − Pn i=1V ar(Xi) V ar(X) .
“O coeficiente alfa (α), proposto por Cronbach (1951), para quantificar a confiabilidade de instrumentos de medidas multidimensionais, considera a homogeneidade dos itens da escala e apresenta como vantagem o fato de necessitar de uma ´unica aplica¸c˜ao do instrumento. E o m´´ etodo mais utilizado para medir a confiabilidade, quando esta for entendida como uma consistˆencia interna dos indicadores da escala, ou seja, os indicadores da escala, altamente interrelacionados, devem medir o mesmo construto la-tente.” (Bem et al, 2011, p´ag. 377).[17]
(b) A partir das concep¸c˜oes de Kuder e Richardson, Cronbach propˆos um gene-raliza¸c˜ao que consiste em dividir o teste subjetivo em k partes satisfazendo as mesmas hip´oteses de quase paralelismo entre elas e, calculando para cada parte Ti a variˆancia σ2i dos escores brutos a elas pertencentes e a variˆancia σ2
do escore bruto de todo teste subjetivo. O coeficiente definido por Cronbach chama-se coeficiente alfa e sua express˜ao ´e a seguinte:
α = k k − 1 1 − Pk i=1(σi) σ2 .
4.1.3.4 M´etodos para estimar o coeficiente de confiabilidade
(a) Teste – Reteste
A estima¸c˜ao do coeficiente de confiabilidade ρ2 de um teste subjetivo T pode ser
feito, inicialmente, por um procedimento chamado Teste-Reteste que pode ser escrito da seguinte maneira:aplica-se o teste T duas vezes ao mesmo grupo de n indiv´ıduos, obtendo-se os pares de escores brutos (Xi, Yi) (i=1,2,. . . ,n), respectivamente, na
4.1 Teoria Cl´assica Dos Testes 35
(b) Divis˜ao por Metades
Este m´etodo, baseado na f´ormula de Spearman-Brown consta do seguinte: divide-se o teste T, de comprimento n, em duas metades de comprimentos iguais a n2 de tal sorte que essas metades sejam paralelas.
4.1.4
Caracter´ısticas psicom´
etricas dos itens e dos testes
Os itens, do teste, necessitam ser analisados uma vez que esse procedimento ´e essencial para que os crit´erios de precis˜ao e validade sejam satisfeitos. (Primi, 2012)[14].
“Geralmente, as an´alises quantitati-vasincluem a an´alise da distribui¸c˜aao de respostas nos itens (ou o ´ındice de dificuldade,quando o item ´e dicoto-mico), o poder discriminativo, a an´alise das alternativas, a probabilidade de acerto ao acaso e a validade externa do item”(Almeida, 1993; apud Primi, 2012) [14]
O conceito de dificuldade de um item est´a intimamente ligado aos testes de conhe-cimento. Se N indiv´ıduos respondem o mesmo item e um total de n (≤ N) sujeitos acertam o item, segundo a teoria psicom´etrica cl´assica a dificuldade do item se expressa pela frequˆencia relativa ( Nn ), a qual pode variar de 0 (item extremamente dif´ıcil, isto ´e, ningu´em acerta) a 1 (item extremamente f´acil, isto ´e, todos acertam). Observe que a quantidade de alternativas de resposta para o item pode ser 2 ou mais; ´e necess´ario, apenas que uma delas seja a correta para que o sujeito possa acertar ou errar o item.
O conceito de poder discriminativo de um item est´a vinculado `a correla¸c˜ao entre o item e o escore total do teste, expressa pelo coeficiente de correla¸c˜ao ponto bisserial:
rpb =
Xp−X(1−p)
4.1 Teoria Cl´assica Dos Testes 36
onde p ´e a probabilidade do item ser acertado (estimada pelo ´ındice de dificuldade do item), Sx ´e o desvio padr˜ao do escore total do teste e Xp e X(1−p) as m´edias dos escores
dos sujeitos que acertam e dos escores dos que erraram, respectivamente, para o item em an´alise.
Primi (2012, p´ag. 306)[14] chama a aten¸c˜ao de que um bom teste deve ser composto por itens com alto ´ındice de discrimina¸c˜ao e com alta correla¸c˜ao com o escore total do teste (rpb).
Bem et al (2011)[17] complementam a informa¸c˜ao sobre a validade de protocolos de avalia¸c˜ao de construtos informando que
“A literatura discute v´arias formas de se garantir a validade de um ins-trumento: validade de conte´udo, de construto, convergente, discriminante. A valida¸c˜ao de conte´udo ´e feita por meio do julgamento do pesquisador ou de especialistas quanto ao conte´udo do instrumento. A validade do cons-truto procura avaliar se a escala est´a medindo, de fato, o que se prop˜oe a medir. (...) A validade convergente mede a coerˆencia e a uniformidade entre indiv´ıduos semelhantes. A va-lidade discriminante verifica o ponto at´e onde o construto n˜ao se corre-laciona com outros construtos que dele diferem.”(Bem et al, 2011, p´ag. 377-378)[17]
4.2 Teoria de Resposta ao Item 37
4.2
Teoria de Resposta ao Item
4.2.1
Fundamentos
Na Psicometria Cl´assica os testes psicol´ogicos dependem dos itens que os constitui. Tecnicamente os testes s˜ao ditos item-dependentes e o tra¸co latente do sujeito ´e depen-dente do teste (teste-dependepen-dentes), porque, ao se querer medir o seu tra¸co latente, o resultado vai depender muito do instrumento utilizado, ou seja , dos itens que comp˜oem o teste. (Pasquali, 2007, p´ag. 11) [15]
4.2.2
Motiva¸
c˜
oes para a TRI a partir da Psicometria Cl´
assica
A Psicometria Cl´assica apresentava algumas quest˜oes de representatividade da esti-mativa do theta dos sujeitos. “Os parˆametros dos itens de um teste dependem da amostra de sujeitos em que eles foram calculados”(Pasquali, 2007) [15]. Dessa forma, a dificuldade dos itens depende da composi¸c˜ao da amostra normativa. “Desta forma, o parˆametro de dificuldade do item vai variar de pesquisa para pesquisa em fun¸c˜ao da amostra de sujeitos; isto ´e, este parˆametro ´e dependente dos sujeitos utilizados na pesquisa.”(Pasquali, 2007) [15]
Outro problema da Psicometria Cl´assica refere-se ao poder de discrimina¸c˜ao dos itens, cuja an´alise baseia-se no escore do teste, pela utiliza¸c˜ao de grupos crit´erio (grupos que s˜ao avaliados, em geral um deles tomado como controle) ou do coeficiente de correla¸c˜ao.
Ainda um outro problema se revela no conceito de fidedignidade do teste, estabelecida a partir do conceito de formas (estritamente) paralelas, nem sempre exequ´ıveis por causa da dificuldade de reproduzirem com igualdade o escore verdadeira e a mesma variˆancia. (Pasquali, 2007)[15]
Pasquali (2007) [15] levanta um outro problema que a “variˆancia dos erros de medida ´e a mesma para todos os testandos, suposi¸c˜ao de dif´ıcil sustenta¸c˜ao, pois parece ´obvio que alguns testandos realizam a tarefa mais consistentemente que outros e que a consistˆencia varia em fun¸c˜ao da habilidade dos sujeitos”
Um ´ultimo problema apresentado por Pasquali (2007) [15] retrata o fato de que “os testes s˜ao elaborados para avaliar maximamente os sujeitos de habilidades medianas, sendo, por isso, bem menos apropriados e v´alidos para avaliar sujeitos com habilidades superiores ou de pouca habilidade”.
4.2 Teoria de Resposta ao Item 38
4.2.3
As solu¸
c˜
oes da Teoria de Resposta ao Item
A TRI ´e uma teoria do tra¸co latente aplicada primariamente a testes de habilidade ou de desempenho.
“O termo teoria do tra¸co latente se refere a uma fam´ılia de modelos matem´aticos que relaciona vari´aveis observ´aveis (itens de um teste, por exemplo) e tra¸cos hipot´eticos n˜ao observ´aveis ou aptid˜oes, estes res-pons´aveis pelo aparecimento das vari´aveis observ´aveis ou, melhor, das respostas ou comportamentos emiti-dos pelo sujeito que s˜ao as vari´aveis observ´aveis.”(Pasquali, 2007, p´ag. 15)[15]
A resposta que um sujeito d´a ao item depende de sua aptid˜ao, isto ´e, do n´ıvel do seu tra¸co latente.
O respons´avel pela Teoria de Resposta ao Item foi Frederic Lord(1952) por ter elabo-rado em 1952 tanto o modelo te´orico quanto os m´etodos para estimar os parˆametros dos itens no escopo da nova teoria, utilizando o modelo da ogiva normal (distribui¸c˜ao normal acumulada). O passo importante e decisivo para o estabelecimento da TRI foi dado em 1957 por Allan Birnbaum (1923-1976) com a substitui¸c˜ao das curvas de ogiva normal por curvas log´ısticas, o que tornou o tratamento matem´atico mais facilitado.
Nessa teoria do tra¸co latente, dois postulados b´asicos s˜ao fundamentais: “1) o de-sempenho do sujeito numa tarefa (item de um teste) pode ser predito a partir de um conjunto de fatores ou vari´aveis hipot´eticas, ditos aptid˜oes ou tra¸cos latentes”, isto ´e, o tra¸co latente (θ) ´e a causa e o efeito (τ ) ´e o desempenho; “2) a rela¸c˜ao entre o desempenho e os tra¸cos latentes pode ser descrita por uma equa¸c˜ao matem´atica monotˆonica crescente, chamada de Curva Caracter´ıstica do Item - CCI”. (Pasquali, 2003, p´ag. 82-83)[7]
A TRI, em rela¸c˜ao ´a Psicometria Cl´assica, propiciou cinco grandes avan¸cos: a) o c´alculo do n´ıvel de aptid˜ao do sujeito independe da amostra de itens utilizados (diz-se que a habilidade do sujeito ´e independente do teste- n˜ao teste - dependente); b) o
4.2 Teoria de Resposta ao Item 39
c´alculo dos parˆametros dos itens(dificuldade e discrimina¸c˜ao) independe da amostra de sujeitos utilizada (diz-se que os parˆametros s˜ao independentes dos sujeitos- n˜ao grupo -dependente); c) a TRI permite emparelhar itens com a aptid˜ao do sujeito. “Isto quer dizer que se avalia a aptid˜ao de um sujeito, utilizando itens com dificuldade tal que se situam em torno do tamanho da aptid˜ao do sujeito, sendo, assim, poss´ıvel utilizar itens mais f´aceis para sujeitos com habilidades inferiores e itens mais dif´ıceis para sujeitos mais aptos, produzindo escores compar´aveis em ambos os casos”; d) a TRI n˜ao necessita supor homogeneidade dos erros de medida para todos os sujeitos; e) a TRI n˜ao tem necessidade do conceito de testes paralelos. (Pasquali, 2007, p´ag. 17) [15]
4.2.4
Postulados da TRI
A modelagem da TRI necessita de dois requisitos b´asicos para a formula¸c˜ao da teoria: princ´ıpio da unidimensionalidade e princ´ıpio da independˆencia local.
4.2.4.1 A Unidimensionalidade
Para todo sujeito, h´a apenas uma aptid˜ao (θ) envolvida na realiza¸c˜ao de um conjunto de tarefas (itens do teste). Considerando que o desempenho humano ´e multifacetado, dado que mais de um tra¸co latente entra na execu¸c˜ao de qualquer tarefa, para satisfazer tal postulado ´e suficiente admitir que haja uma aptid˜ao (um fator ou tra¸co latente) dominante respons´avel pelo desempenho do sujeito num conjunto de itens.
Formalmente, Desempenho = f (θ1, θ2, · · · , θk) onde k ´e o total de tra¸cos recrutados
pelo sujeito para o desempenho em um item.
4.2.4.2 A Independˆencia Local
Mantidas constantes as aptid˜oes envolvidas na execu¸c˜ao do teste, menos a dominante, as respostas dos sujeitos a quaisquer dois itens s˜ao estatisticamente independentes.
“Isto implica em que o desempenho do sujeito num item n˜ao afeta o seu desempenho em outro item: cada item ´e respondido exclusivamente em fun¸c˜ao do n´ıvel do seu tra¸co dominante.”(Pasquali, 2007, p´ag. 19)[15]
Formalmente, considere θj a aptid˜ao dominante do sujeito j envolvida no desempenho
de um conjunto de itens, Ui a resposta do sujeito para cada um dos n itens (Ui= 0 ou Ui=
4.2 Teoria de Resposta ao Item 40
de um sujeito j com aptid˜ao θj dada ao item i (i = 1, 2, . . . , n). A independˆencia local
´e, ent˜ao, expressa matematicamente por
P(U1, U2, · · · , Un|θj) = P (U1|θj)P (U2|θj) · · · P (Un|θj).
4.2.4.3 A Curva Caracter´ıstica do Item – CCI
O relacionamento entre a aptid˜ao do sujeito para responder um dado item de um teste e as caracter´ısticas espec´ıficas do item do teste ´e expresso por meio de uma curva (modelo) denominada Curva Caracter´ıstica do Item - CCI, isto, a curva permite determi-nar a probabilidade do sujeito responder “corretamente”3 o item, dadas a dificuldade, a
discrimina¸c˜ao e casualidade da resposta do item.
4.2.4.4 A fun¸c˜ao log´ıstica
O modelo proposto por Lord em 1952, envolvendo, a distribui¸c˜ao normal acumulada (ogiva normal) foi substitu´ıda em 1957 por Birnbaum pela fun¸c˜ao log´ıstica para facilitar o desenvolvimento matem´atico dos modelos. Essa fun¸c˜ao log´ıstica toma por base n˜ao a probabilidade de acerto do item, mas a chance de que o sujeito acerte (dentro da perspectiva de teste de conhecimento) o respectivo item. Essa fun¸c˜ao foi desenvolvida em 1844-1845 por Pierre Fran¸cois Verhulst para modelar crescimento populacional. Sua express˜ao ´e a seguinte:
f (x) = L
1 + e−k(x−x0)
onde e ´e a base dos logaritmos naturais (n´umero de Euler) (e = 2,71828...), x0 ´e o valor
da vari´avel x no qual a curva apresenta seu ponto de inflex˜ao, k ´e a inclina¸c˜ao da curva no seu ponto de inflex˜ao e L ´e o valor da fun¸c˜ao quando a vari´avel x tende ao infinito por valores positivos (+ ∞ ).
Na modelagem espec´ıfica para a TRI o parˆametro L da fun¸c˜ao log´ıstica est´a limitado ao valor 1 por motivo de que f(x) representa a probabilidade de resposta “correta”4 , a
qual n˜ao pode superar o valor 1.
3termo “corretamente”est´a entre aspas por motivo de que nem sempre o item se refere a conhecimento.
O tra¸co latente investigado pode ser de outra natureza, como, por exemplo, opini˜ao, atitude, capacidade funcional, dentre outras.
4.2 Teoria de Resposta ao Item 41
4.2.4.5 As caracter´ısticas do item
Conforme observam Andrade, Tavares e Valle (2000)[34] , o modelo log´ıstico mais utilizado nas aplica¸c˜oes da TRI podem abranger tanto a an´alise de itens de m´ultipla escolha dicotomizados (corrigidos como certo ou errado), quanto para a an´alise de itens abertos (de resposta livre), quando avaliados de forma dicotomizada.
“H´a basicamente trˆes tipos de mode-los,que se diferenciam pelo n´umero de parˆametros que utilizam para descrever o item. Eles s˜ao conhecidos como os modelos log´ısticos de 1, 2 e 3 parˆametros, que consideram, respec-tivamente, (i) somente a dificuldade do item; (ii) a dificuldade e a discri-mina¸c˜ao do item; e (iii) a dificuldade, a discrimina¸c˜ao e a probabilidade de resposta correta dada por indiv´ıduos de baixa habilidade”. (Andrade, Tavares e Valle, 2000, p´ag. 8-9)[34]
O modelo completo, com os trˆes parˆametros, tem a seguinte express˜ao:
P (Ui,j = 1|θj) = ci+ (1 − ci)
1
1 + e−Dai(θj−bi)
com i = 1, 2, . . . , n e j = 1, 2, . . . , k, ´ındices para referenciar itens e sujeitos, respectivamente, onde
Ui,j ´e uma vari´avel aleat´oria para representar o acerto (Ui,j = 1) ou o erro (Ui,j = 0)
do j -´esimo sujeito no i -´esimo item;
θj ´e a aptid˜ao (tra¸co latente) do j -´esimo sujeito;
P(Ui,j = 1 — θj) ´e a fun¸c˜ao resposta do item (FRI), isto ´e, a probabilidade do j -´esimo
4.2 Teoria de Resposta ao Item 42
ai ´e o valor do parˆametro de discrimina¸c˜ao do i -´esimo item, que corresponde ao valor
da tangente do ˆangulo que a curva tangente no ponto de inflex˜ao da curva faz com o eixo horizontal; este parˆametro costuma tamb´em ser identificado como a inclina¸c˜ao da CCI do item no ponto bi.
bi ´e o valor do parˆametro de dificuldade (ou parˆametro de posi¸c˜ao) do i -´esimo item
(cuja valora¸c˜ao coincide com a valora¸c˜ao da escala do tra¸co latente)
ci ´e o valor do parˆametro que representa a probabilidade do j -´esimo sujeito dar uma
resposta correta de modo casual, aleat´orio, significando eu sua habilidade n˜ao seja sufici-entemente adequada para responder com seguran¸ca ao que o item apresenta (usualmente verbalizado como “probabilidade de acertar no “chute);
D ´e um fator de escala (esse fator ´e usualmente considerado igual a 1; quando se deseja representar probabilidades segundo uma distribui¸c˜ao normal padr˜ao acumulada, o valor de D deve ser feito igual a 1,7. No que se segue, sempre ser´a utilizado D = 1.
Graficamente a Curva Caracter´ıstica de um Item assume a seguinte forma:
Figura 5: Curva Caracter´ıstica de um Item.
4.3 Fonte de dados 43
Pasquali (2007, p´ag. 26) [15] chama a aten¸c˜ao para o fato de que tanto o parˆametro de dificuldade do item, quanto o valor do tra¸co latente do sujeito assumem qualquer valor num´erico real, isto ´e, −∞ ≤ (bi ou θj) ≤ +∞. Por´em, na pr´atica, basta considerar o
intervalo de -3 a + 3 (quando muito de -4 a + 4). Semelhantemente, o parˆametro de discrimina¸c˜ao do item varia de 0 a + ∞ ; seu uso pr´atico indica que o intervalo de 0 a 3 ´e suficiente para as aplica¸c˜oes, com o valor 3 indicando discrimina¸c˜ao praticamente perfeita.
4.2.4.6 Fun¸c˜ao de informa¸c˜ao do item e fun¸c˜ao de informa¸c˜ao do teste
O conceito de fun¸c˜ao de informa¸c˜ao ´e um m´etodo essencial da TRI para a descri¸c˜ao dos itens e do pr´oprio teste, pois al´em de detalhar os parˆametros fundamentais dos itens, refina os parˆametros do teste, a saber, a validade e a precis˜ao(confiabilidade) deste. Nesse sentido, a fun¸c˜ao de informa¸c˜ao refere-se `a adequabilidade e `a exatid˜ao dos parˆametros dos itens e do teste, dando-lhes refor¸co quanto `a qualidade daqueles parˆametros.
Quanto aos itens a fun¸c˜ao de informa¸c˜ao diz sobre o qu˜ao bem o item representa o tra¸co latente; quanto ao teste a curva de informa¸c˜ao especifica para que n´ıveis de aptid˜ao (θ) o teste traz infoma¸c˜ao adequada.
O sentido fundamental da fun¸c˜ao de informa¸c˜ao ´e verificar a faixa de aptid˜ao (θ) onde o teste fornece mais informa¸c˜ao do que erro.
4.3
Fonte de dados
Os dados a serem trabalhados nesta Monografia referem-se a registros das avalia¸c˜oes da funcionalidade de idosos realizadas nos atendimentos neuropsicol´ogicos do Servi¸co de Neuropsicologia do Centro de Referˆencia em Assistˆencia `a Sa´ude do Idoso do Hospital Universit´ario Antonio Pedro correspondentes nos anos de 2012 a 2016. No qual o ques-tion´ario j´a foi aplicado ´a uma amostra de 238 idosos .
4.4
Etica
´
Considerando que o trabalho de campo se dar´a apenas na pr´oxima etapa da prepara¸c˜ao da Monografia (Projeto Final II) a ocorrer durante o primeiro semestre letivo de 2017, ser´a
4.5 Vari´aveis a serem estudadas 44
acionado o Comitˆe de ´Etica em Pesquisa da Faculdade de Medicina/Hospital Universit´ario Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense, para cumprimento das formalidades da Resolu¸c˜ao no. 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Sa´ude.
4.5
Vari´
aveis a serem estudadas
Ser˜ao analisados os dados das seguintes vari´aveis constantes da Escala de Ativida-des Instrumentais de Vida Di´aria de Lawton e Brody (1969) (ver Anexo 6), utilizada pelo Servi¸co de Neuropsicologia do CRASI/HUAP/UFF: cuidados pessoais (alimenta¸c˜ao, vestir-se, banho, elimina¸c˜oes fisiol´ogicas, medica¸c˜ao e interesse na aparˆencia pessoal), cui-dados dom´esticos (preparo de refei¸c˜oes, arruma¸c˜ao da mesa, trabalhos dom´esticos, reparos dom´esticos e lavagem de roupas), trabalho e recrea¸c˜ao (trabalho, recrea¸c˜ao, organiza¸c˜oes e viagens), Compras e Dinheiro (Compra de comidas, uso do dinheiro e administra¸c˜ao das finan¸cas), locomo¸c˜ao (transporte p´ublico, condu¸c˜ao de ve´ıculos, mobilidade pela vi-zinhan¸ca e locomo¸c˜ao fora de locais familiares), comunica¸c˜ao (uso do telefone, conversas, compreens˜ao, leitura e escrita) e rela¸c˜oes sociais (rela¸c˜oes familiares (cˆonjuge), rela¸c˜oes familiares (crian¸cas) e amigos), al´em do escore total da escala.
A essas 30 vari´aveis dos 7 dom´ınios da Escala de Lawton e Brody (1969)[1], ser˜ao acres-cidas as vari´aveis sociodemogr´aficas (idade, sexo e tempo de estudo) e cl´ınicas (escore do miniexame do estado mental, classifica¸c˜ao na escala CDR de Morris (1993), classifica¸c˜ao da escala GDS-15 de Sheikh e Yesavage (1986)).
4.6
An´
alise de dados
Os dados do estudo foram provenientes dos registros da avalia¸c˜ao neuropsicol´ogica de idosos atendidos no Centro de Referˆencia em Assitˆencia `a S´aude do Idoso do Hospital Universit´ario Antˆonio Pedro da Universidade Federal Fluminense e durante os anos de 2012 a 2016 cujos resultados enquadram-se nos escores 0,5 , 1 e 2 da Escala Cl´ınica de demˆencia.
As avalia¸c˜oes por item das Curvas de Categoria de Resposta do Item da TRI foram realizadas especificamente para o grupo de CDR 2 em virtude de que a n˜ao resposta de alguns itens dos outros dois grupos inviabilizou o uso da biblioteca “ltm”da linguagem R.
Os m´etodos estat´ısticos a serem aplicados na an´alise de dados s˜ao fundamentalmente de natureza psicom´etrica, seja da Psicometria Cl´assica, seja da Teoria da Resposta ao