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CLUBE DE P&I: ausência de responsabilidade pelos atos do armador associado

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CLUBE DE P&I: AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE PELOS ATOS DO ARMADOR ASSOCIADO

Patrícia Pinheiro Almeida

Rio de Janeiro 2019

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Bibliotecária responsável: Josiane Braz de Assis - CRB7/5708

ARMADOR ASSOCIADO / Patrícia Pinheiro Almeida ; Guilherme Scorzelli, orientador. Niterói, 2019.

11 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)-Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Direito, Niterói, 2019.

1. Direito marítimo. 2. Seguro. 3. Produção intelectual. I. Scorzelli, Guilherme, orientador. II. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Direito. III. Título.

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-1

PATRÍCIA PINHEIRO ALMEIDA

CLUBE DE P&I: AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE PELOS ATOS DO ARMADOR ASSOCIADO

Artigo científico apresentado como exigência de conclusão de Curso de Graduação em Direito da Universidade Federal Fluminense.

Professor Orientador: Guilherme Scorzelli

Professores participantes da banca: Manoel Martins Junior

Índio do Brasil Cardoso

Rio de Janeiro 2019

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CLUBE DE P&I: AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE PELOS ATOS DO ARMADOR ASSOCIADO

Patrícia Pinheiro Almeida Aluna concluinte da Universidade Federal Fluminense (UFF). Estagiária do Escritório Kincaid – Mendes Vianna Advogados.

Resumo – No direito marítimo o instituto do Clube de P&I são figuras essenciais, posto que tem como finalidade o seguro mútuo dos riscos não abrangidos pelas apólices securitárias convencionais. Sendo certo que as figuras dos Clubes de P&I e das Seguradoras distinguem-se contundentemente na forma de atuação no mercado internacional, especialmente no que tange a responsabilidade de responder por dívida de Amador Associado/ Segurado. Dessa forma, o presente artigo busca aprofundar o estudo sobre a natureza dos Clubes de P&I, bem como as diferenças com as atividades securitárias, por fim analisando a jurisprudência pátria sobre a possibilidade de responsabilização do Clube de P&I por dívidas a terceiros.

Palavras-chave – Direito Marítimo. Clube de P&I. Responsabilidade Civil. Jurisprudência Pátria. Responsabilidade perante terceiros.

Abstract – In Maritime Law the P&I Club institute are essential figures, since it has the purpose of mutual insurance of risks not covered by conventional insurance policies. It is true that the figures of the P&I Clubs and the Insurers are strikingly distinguished in the form of operation in the international market, especially reggarding the responsibility to answer for Associate / Insured debt. Thus, the present article seeks to deepen the study on the nature of the P&I Clubs, as well as the differences with the securitary activities, finally analyzing the jurisprudence of the country on the possibility of responsibility of the P&I Club for debts to third parties.

Keywords – Maritime Law. P&I Club. Civil Responsability. Brazilian Jurisprudence. Liability to third parties.

Sumário – Introdução. 1. O instituto do Clube de P&I 2. Disparidades entre a figura da Seguradora e o Clube de P&I. 3. A ausência de responsabilidade do Clube de P&I perante terceiros por atos do Armador associado. Conclusão. Referências.

INTRODUÇÃO

O tema deste artigo está voltado para o Clube de P&I e suas disparidades com as Seguradoras, notadamente na responsabilidade perante terceiros. O grande objetivo deste Trabalho de Conclusão de Curso é aprofundar os estudo acerca dos Clubes de P&I –

Protection and Indemnity Clubs , bem como trazer à discussão um dos pontos mais

controvertidos no que tange às ações de responsabilidade civil por dívidas de Armadores Associados perante terceiros que englobam a esfera do direito marítimo.

Para enriquecer a discussão, abordam-se conceitos providos pela legislação aplicável, bem como doutrina e jurisprudência que discutem a problemática.

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Contudo, para discutir tal responsabilidade é preciso, primeiramente, fazer uma análise das características intrínsecas das atividades e obrigações dos Clubes de P&I diferenciando assim este instituto das Seguradoras, para que assim possamos afastar qualquer confusão entre esses dois conceitos. Sob esta égide, ressalta-se que o intuito é discutir a impossibilidade de ajuizamento de demanda judicial em face do P&I por atos do Armador Associado, analisando dessa forma o entendimento da jurisprudência pátria quanto a esse assunto.

Considerando que o instituto do Clube de P&I é de certa forma desconhecido na legislação pátria, há uma confusão quanto as suas obrigações, portanto não é surpreendente que haja ações judiciais que visam imputar ao P&I a responsabilidade por débitos de seus membros, sob o pretexto de equiparação a Seguradoras.

O tema apesar de ser uma matéria extremamente recorrente nas relações comerciais internacionais, posto que a Internacional Group of P&I Clubs , ou seja, a associação dos mais tradicionais Clubes de P&I embarcam 90% da frota mundial, não havia até 2018 um entendimento claro dos tribunais brasileiros.

Este trabalho se inicia com a definição do instituto dos Clubes do P&I, expondo suas particularidades, para alcançar um entendimento vasto da evolução histórica que culminou no modelo de associação de mútuo-socorro. Ato contínuo, segundo capítulo trata sobre distinção entre a figurado da Seguradora e dos Clubes de P&I sob a ótica do Código Civil e a legislação aplicável.

O terceiro e último capítulo trata sobre a ausência de responsabilidade do Clube de P&I perante terceiros por atos do Armador Associado, tal tema será abordado sob a ótica do entendimento aplicado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

1. O INSTITUTO DO CLUB DE P&I

Antes de elucidar a responsabilidade do Clube de P&I de acordo com o entendimento jurisprudencial, é necessário qualificar os agentes que permeiam a relação jurídica a ser estudada.

Primeiramente é preciso frisar que o P&I é uma associação de mútuo-socorro formada pelos próprios armadores/operadores e afretadores, sendo certo que o escopo dessa associação como mencionado acima é o seguro mútuo dos riscos advindos da exploração dos navios, não abrangidos pelas apólices securitária.

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Destaca-se que essa concepção foi uma alternativa encontrada pelos agentes não contando com qualquer fim lucrativo, posto que os valores investidos correspondem no exato valor das indenizações, despesas e custos. Cria-se o conceito “pay to be paid” onde membro deve realizar o pagamento a terceiro para fazer jus ao reembolso dos prejuízos sofridos. Isto porque o dever do Clube de P&I não é perante terceiros, ou seja, não cabe a ele indenizar ou garantir adimplemento dos seus membros. O principal objetivo do P&I é reembolsar seu membro por prejuízos na exploração da embarcação protegida.

Como mencionado previamente os Clubes de P&I com maior representatividade atualmente englobam 90% da frota mundial, sendo esses: Britannia, Shipowners, West of England, North of England, London Club, Swedish Club, Liverpool & London, Standard Club, Skuld, Gard, Steamship Mutual, American Club, Japan Club. A maioria dos clubes tem origem europeia, contudo sua operação englobam praticamente todos os portos do mundo, contando com correspondentes que prestam o suporte necessário.

Para se tornar um membro é necessário o preenchimento de um formulário de admissão, denominado Entry Form/Certificate of Entry, nesse documento deve haver todos as principais informações quanto a embarcação e do membro, sendo certo que as informações prestadas nesse documento são doutadas de boa-fé contratual, posto que o fornecimento irrestrito dessas informações é necessário para formar o conhecimento do Clube de P&I sobre o risco assumido. Ainda é de praxe a realização de vistorias por peritos indicados pelo P&I para atestar as condições da embarcação, bem como observar possíveis focos de riscos. Destaca-se que em caso de avaria ou defeitos prévios na embarcação não impede a sua admissão, contudo será feita uma ressalva, denominada de Defects Warranty, que tem o intuito de informar a inexistência de cobertura por prejuízos proveniente de tal circunstância.

Após a analise extensiva dos documentos e das vistorias será calculada a avaliação de riscos daquela embarcação e consequentemente a contribuição a ser paga. Ressalta-se que para organização do clube e o rateio de prejuízos, os membros devem contribuir anualmente com a advance call, sendo certo que no caso de necessidade de cobrir excessos podem ser requisitadas supplementary calls.

As regras da relação entre o Clube e seus membros estarão descritas no Club

Rulebooks, que serão interpretadas conjuntamente com o Entry Form, com os Atos do Clube

de P&I e outros documentos trocados. Portanto não há a figura de apólice nessa relação. Nota-se que diante de um sinistro é necessário que o membro informe de pronto imediato o Clube de P&I para que as medidas cabíveis sejam tomadas para mitigar o prejuízo. Essa notificação é denominada de Prompt Notice.

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Diante do acima noticiado, verifica-se as particularidades que os Clubes de P&I foram desenvolvidas com o específico intuito de diluir prejuízos suportados por um, dessa forma o modelo o qual hoje é empregado foi evoluindo com as novas práticas na exploração de navios. Observa-se, por fim, a importância dessa figura no mercado internacional marítimo, sendo muito relevante para os integrantes do setor marítimo, por permitir diversas relações que não seriam possíveis sem o resguardo que proporciona aos agentes.

2. DISPARIDADES ENTRE A FIGURA DA SEGURADORA E O CLUBE DE P&I.

Diante da ausência da figura do Clube de P&I no ordenamento brasileiro, é comum ver equiparação entre o P&I e Seguradoras, contudo tal confusão é equivocada posto que as companhias de seguros convencionais têm objetivos e finalidades completamente distintas as dos clubes. Isto porque é a assistência concedida não se comunica com o seguro previsto numa apólice, entre outras diversas diferenças.

Primeiramente preciso ressaltar que o contrato de seguro é um contrato típico. O artigo 7571, do Código Civil determina que mediante a pagamento de prêmio, compete a seguradora garantir interesse legitimo.

Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legitimo do segurado, realtivo a pessoas ou a coisa, contra riscos predeterminados.

Parágrafo único. Somente pode ser parte no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada.

A tipicidade do contrato de seguro traz exigências como o pagamento de prêmio, estipulação de riscos predeterminados e a emissão de apólice, requisitos esses que não se aplicam aos Clubes de P&I. Pode se observar que o prêmio pago á seguradora não tem relação direta ao sinistro que supostamente pode vir a ocorrer, ressalta-se que o prêmio é devido mesmo que o risco não se configure.

Logo pode se notar que o prêmio pago não está relacionado ao sinistro em si, mas está vinculado a garantia prestada, valendo destacar o entendimento de Fábio Ulhoa Coelho2 sobre a matéria: “a remuneração paga pelo contratante em contrapartida à garantia conferida pela seguradora”. Essa percepção não se aplica nas atividades dos Clubes de P&I, os

1 ______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/

ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 2 jun. 2019.

2 Coelho, Fábio Ulhoa apud BURANELLO, Renato Macedo. Contrato de seguro. 1. Ed. São Paulo: Quartier

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membros associados irão efetuar pagamento anualmente, bem como quando necessário para cobrir excessos derivados de prejuízos causados por atividades os membros irão efetuar pagamento complementar.

É evidente a distinção entre as contribuições pagas pelo membros dos prêmios pagos pelos segurados quando se analisa sob a ótica da devolução de valores, no caso do valores estimados a maior pode ocorrer a devolução ou o abatimento de futuras contribuições, uma vez que o Clube de P&I não tem fins lucrativos, visando apenas o reembolso de prejuízos. Diferentemente do clube, o setor securitário é regido pelo princípio da indivisibilidade do prêmio, posto que o segurado adquiri definitivamente o prêmio correspondente, não podendo alterar/devolver o valor calculado.

Considerando que as finalidades de ambas as figuras são diametralmente opostas, portanto, qualquer possível equiparação está fada ao fracasso. A ausência de fins lucrativos é essencial para o Clube de P&I, bem como a empresarialidade é essencial a atividade securitária, enquanto a contribuição do membro é de igual valor ao prejuízo a ser reembolsado, o valor dos prêmio é necessariamente superior ao valor a ser indenizado pelo suposto sinistro, para que assim possa auferir lucro, componente básico nas atividades das seguradoras.

Além da divergência do prêmio a ser pago, pode se observar que inexiste a figura da apólice, conforme mencionado previamente. Tal obrigação é atribuída pelo Decreto-Lei 116 de 25 de janeiro de 19673:

Art. 9º Os seguros serão contratados mediante propostas assinadas pelo segurado, seu representante legal ou por seu corretor habilitado, com emissão das respectivas apólices, ressalvado o disposto no artigo seguinte

(...)

Vale destacar que há previsão no Club Rulebook que prejuízos não acordados a priori possam ser reembolsados se permitidos pelos diretores do clube, essa cláusula é denominada

omnibus clause. Sendo essa conduta vedada pelo artigo 757 do Código Civil, que determina

que sejam predeterminadas a cobertura dada pela seguradora. Contudo como a finalidade do Clube de P&I é o rateio de todo prejuízo incorridos tal conduta é condizente a sua atividade

Em suma, orientação do Clube de P&I é incompatível com a das Seguradoras, a ausência de aferição de lucro nas atividades impede que sejam aplicados os institutos e obrigações de uma seguradora a seu segurado ao clube e seus membros. A inaplicabilidade

3 BRASIL. Decreto-Lei 116, de 25 de janeiro de 1967. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/

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dos institutos das companhias de seguros ao clube se estende a relação a terceiros, como será demonstrado no capítulo a seguir.

3 A AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO CLUBE DE P&I PERANTE TERCEIROS POR ATOS DO ARMADOR ASSOCIADO.

Conforme apresentado no capítulo 1 e 2 do presente artigo, o Clube de P&I é uma associação sem fins lucrativos de mútuo socorro cujo o objetivo é a proteção dos risco e prejuízo inerentes a navegação, regido pelo princípio “ pay to be paid”, o que impede ação direta de terceiro prejudicado em face do Clube de P&I.

Esse foi o entendimento da 6ª Câmara Cível do Rio de Janeiro4, conforme o julgado a

seguir colacionado:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO MARÍTIMO. AÇÃO DECLARATÓRIA. SEGURADORA. PEDIDO DE RECONHECIMENTO DE SOLIDARIEDADE DO CLUBE DE PROTEÇÃO E INDENIZAÇÃO (P&I CLUB) DEMANDADO E O ARMADOR INTEGRANTE DA ASSOCIAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. 1. Ação declaratório proposta pelo ora apelante, pleiteando o reconhecimento de solidariedade entre o ora apelado e o armador integrante da associação-Ré, em virtude de sinistro ocorrido durante o transporte marítimo de carga. Ação de regresso anteriormente ajuizada pela seguradora do destinatário da carga em face do armador, na qual restou reconhecida a responsabilidade deste pelos danos causados. Pretensão da sociedad sdp 2 brasileira para processar e julgar ações que têm por objeto obrigação a ser cumprida no Brasil ou cujo fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Preliminar de incompetência afastada. 2.2. Ilegitimidade ativa. A parte Autora, embora ostente legitimidade ad causam para pleitear direito seu em nome próprio, no caso, o crédito próprio e autônomo, fruto dos honorários sucumbenciais reconhecidos nos autos do processo nº 0712934 -07.2000.8.06.0001 movido em face do armador associado do P&I Club (SCANSCOT), não possui legitimidade para perseguir interesses de terceiros em nome próprio, ainda que estes interesses sejam de clientes patrocinados pela sociedade de advogados. O que pretende a parte Autora é a defesa em nome próprio do interesse da seguradora sem qualquer respaldo legal, em frontal violação do art. 18 do NCPC. Essa é conclusão que se extrai da leitura dos pedidos feitos na petição inicial, em especial, daqueles constantes dos itens B e C dos pedidos. Ilegitimidade reconhecida. 2.3 . Ilegitimidade passiva. A demanda sob exame tem por objeto a declaração da existência de relação jurídica entre a parte Autora, sociedade de advogados titular do crédito decorrente de honorários advocatícios reconhecidos nos autos de ação judicial movida em face de integrante do clube de P&I, e o próprio clube de P&I. Tal circunstância é suficiente para caracterizar a legitimidade passiva, na medida em que a parte Autora busca a responsabilização direta da Ré, isto é, de quem entende ser, in status assertionis, coobrigado de relação jurídica obrigacional. Ilegitimidade

4 Idem. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. 6ª Câmara Cível. Apelação nº 0189045-59.2016.8.19.0001 Relator:

Teresa de Andrade. Disponível em <

http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.aspx?UZIP=1&GEDID=00045BD5CD63821B93851F3D8AA51F CFE36BC508204F1E64 >. Acesso em: 2 junho. 2019.

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passiva afastada. 2.4. Cerceamento de defesa. Como se pode notar, os pedidos foram julgados improcedentes, não sendo possível falar em nulidade quando nenhum prejuízo foi sofrido por quem o alega. Aplicação do princípio de que inexiste nulidade sem prejuízo. 2.5 De mais a mais, a sentença proferida nos autos da ação promovida pela Itapu Seguros, da qual não fez parte a apelada, não pode -lhe ser imputada. Isto porque, a coisa julgada só se opera entre as partes, via de regra. É o que estabelece a regra do 506 do NCPC. 3. Entretanto, deve -se adentrar no mérito, pois há casos excepcionais em que se permite terceiro responder por uma obrigação da qual não tem vínculo direto. Não é a extensão do que lá foi decidido, até porque aqui se veria apenas a relação existente ou não entre a apelante e a apelada. 3.1. O cerne da controvérsia reside em definir se a Ré, assim entendida como associação de mútuo auxílio formada por armadores/transportadores, pode ser considerada devedora solidária de um de seus membros em condenação judicial oriunda de sinistro envolvendo o transporte marítimo de cargas. Com efeito, busca a parte sdp 3 Autora ver reconhecida a qualidade de seguradora da Ré e, assim, obter a sua responsabilização direta pelas obrigações inadimplidas pelo segurado. 4. P&I Club. Clube de proteção e indenização de natureza associativa dirigida ao mútuo auxílio econômico -financeiro formada por armadores/transportadores de carga por via marítima, que tem por objeto “segurar, mutuamente, responsabilidades, perdas, custos e despesas incorridos pelos membros com relação direta à operação das embarcações registradas na associação e participar de outras atividades relacionadas”. De outro lado, a relação jurídica que se pretende ver reconhecida tem sua origem numa relação jurídica de direito processual, surgida no processo nº 07212934 -07.2000.8.06.0001, entre a Autor e um dos membros do clube de proteção e indenização constituído pela Ré. Trata -se de um direito de crédito originado de ônus processual imposto ao armador membro do clube de P&I e Réu naquela ação, em decorrência de sua sucumbência nos autos da demanda regressiva movida pela cliente da sociedade de advogados -Autora. 5. Em primeiro lugar, sob o aspecto processual, afigura -se inadmissível reconhecer, ainda que por meio de uma ação judicial de natureza declaratória, o dever de terceiro, ainda que garantidor, assumir para si o ônus de processo que sequer foi parte. Some -se a isso o fato de que, partindo da premissa de que a Ré eventualmente funcionasse como espécie de seguradora, não haveria óbice à sua participação na demanda movida pela vítima do sinistro em face do causador do dano – no caso, o armador segurado – na qualidade de litisdenunciada, conforme art. 70, III, do CPC/73, vigente à época da propositura da ação, ocasião em que esta atuação estaria limitada à lide secundária formada a partir de sua denunciação à lide. Como é cediço, os honorários sucumbenciais nessa espécie de demanda estariam delimitados por sua eventual resistência na lide principal, caso houvesse e caso, na qualidade de denunciada, aderisse à defesa do segurado, acrescentando fatos e fundamentos novos; caso contrário, a discussão acerca dos honorários restringir -se -iam aos litigantes da lide secundária. Precedentes. Mesmo que eventualmente houvesse figurado, na condição de seguradora, como parte na ação principal movida em face do armador integrante do P&I Club, é possível que os consectários da sucumbência processual não pudessem sequer ser oponíveis à parte Ré. Em segundo lugar, como já mencionado acima, os honorários advocatícios decorrem de uma relação jurídico -processual. Não há relação direta com o sinistro em que se fundamenta a ação de regresso. 6. Ademais, ainda partindo do pressuposto de que a Ré sdp 4 poderia ocupar a posição de seguradora, o fato de que, para se admitir o ajuizamento da demanda em face da seguradora do causador do dano a fim de se ressarcir pelos prejuízos sofridos, a jurisprudência exige a participação deste último na demanda. Este é o teor do julgamento do REsp nº 962.230/RS, apreciado sob a sistemática dos recursos repetitivos, cristalizado na súmula nº 529 da Corte Superior. Daí a impossibilidade

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de se pretender transferir ao terceiro -segurador, via ação judicial própria e sem a participação do armador - segurado, obrigações impostas apenas a este. Cuida -se de verdadeira extensão indevida dos limites subjetivos da coisa julgada a quem não participou da demanda. 7. Por fim, como já descrito alhures, o vínculo jurídico que liga o armador (causador do dano) e a Ré não constitui liame contratual bilateral, como ocorre nos contratos de seguro, entre a seguradora e o segurado. Antes, cuida -se de vínculo associativo entre particulares que constituem uma corporação de mútuo auxílio. Resulta dessa forma de organização algumas regras próprias que se distinguem sobremaneira daquelas vigentes nos contratos de seguro de dano tradicionais. A primeira delas diz respeito à forma de contribuição para a associação, que diversamente das prestações pagas nos contratos de seguro, servem exclusivamente para constituir um fundo garantidor, que eventualmente, pode ser suplementado pelas designadas “chamadas” ou calls (regra 13 do estatuto da Ré – fl. 380), no caso de necessidade de cobrir eventos que superem o montante do fundo. Uma vez que caso tais contribuições superem o sinistro, os valores aportados pelos membros são reembolsados (regra 17 do estatuado da Ré – fl. 381). Por seu turno, no caso dos prêmios pagos à seguradora, além de remunerarem a própria atividade desempenhada pela seguradora, vige o princípio da indivisibilidade do prêmio, que preconiza que os riscos devem ser considerados não isoladamente – tal como no caso dos P&I Clubs – mas no seu conjunto, pois os riscos não se distribuem igualmente por todo período de vigência do contrato. Dessa forma, afigura -se inadmissível a devolução do prêmio ao segurado no caso de não ocorrência do sinistro ou no caso de que este não supere o valor aportado pelos contratantes 8. Outra característica ainda mais relevante que afasta o regime securitário do regime dos clubes de proteção e indenização relaciona -se com a natureza garantidora do seguro de dano de responsabilidade civil, no caso, insculpida no art. 787 do Código Civil. Depreende -se da leitura do dispositivo transcrito acima que a seguradora garante não apenas o reembolso do que o segurado for obrigado a ressarcir, mas, antes, o pagamento do que, a título de perdas e sdp 5 danos, for devido pelo segurado ao terceiro prejudicado, isto caso tenha sido contratado o seguro contra terceiros. Isso porque, muito embora frequentemente o termo garantia tenha seu significado dependente de uma prestação principal, no contrato de seguro a garantia é a própria prestação principal. Assim, a prestação principal da seguradora, no seguro facultativo de responsabilidade civil, é a de que eliminará os efeitos patrimoniais da imputação de responsabilidade civil e, verificada a dívida, fará o pagamento ao terceiro prejudicado, bem como ressarcirá os danos sofridos pelo próprio segurado. De outro lado, nos P&I Clubs, a regra associativa consubstancia-se no dever de ressarcimento do membro integrante do clube. A norma cristaliza-consubstancia-se a partir do axioma pay to be paid, ou em tradução livre, “pague para ser pago”, isto é, o dever de ressarcir institui-se em relação ao próprio integrante do clube e somente a partir do momento em que ele efetua o pagamento da indenização ao terceiro, terá direito ao reembolso. Regra 87 do estatuto da associação. Como se pode notar, sob qualquer aspecto que se analise a questão, a pretensão autoral está fadada ao insucesso. 9. Sentença mantida. 10. Recurso desprovido. Majoração dos honorários advocatícios, nos termos do art. 85, §11 do NCPC.

Este julgado é importante posto que foi a primeira vez que foi declarado expressamente pelos Tribunais brasileiros a ausência de solidariedade ou subsidiariedade por parte do Clube de P&I perante débito de Armador Associado.

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Neste precedente foi reconhecido que o vínculo jurídico entre os membros e associação é estatutário, logo afastando-se o vínculo existente nos contratos de seguro, para que assim reconheça o método utilizado pelos Clubes de P&I, “pay to be paid”, princípio essencial as atividades do clube. Sendo certo que consequentemente afasta definitivamente a obrigação que a seguradora tem de ressarcir e pagar diretamente a terceiros prejudicados.

A decisão também abarcou a questão de honorário de sucumbência do caso concreto, primeiramente que os honorários devidos não podem ser devidos a terceiro que não figurou na demanda judicial originária, devido clara violação ao contraditório e a ampla defesa. Ainda que superado este vício entendeu o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que a obrigação do P&I se limita a responsabilidade civil derivado aos prejuízos causados pela perda ou avaria da carga não podendo se arrastar a cobertura, por via judicial, para englobar honorários advocatícios.

Portanto, este julgado é histórico ao reconhecer que os Clubes de P&I não são solidários ao Armadores Associados perante débitos a terceiros prejudicados.

CONCLUSÃO

O presente trabalho teve por objetivo demonstrar que o Clube de P&I não tem o escopo de proteger a personificação da coletividade de seus membros, muito menos proteger terceiros prejudicados, que o único intuito do Clube de P&I é proteger seus membros individualmente. O clube busca reembolsar os prejuízos advindos do risco da exploração de embarcações, não cabendo, portanto, ação direta movida por terceiro prejudicado em face do Clube de P&I.

Outrossim, verifica-se que toda e qualquer equiparação entre os Clubes de P&I e as Seguradoras está fadada ao fracasso, uma vez que seus objetivos e finalidades são incompatíveis. A necessidade em divergir esses institutos é essencial para que não fundamente demandas judicias em premissas equivocadas, ou seja, os fundamentos que permitem tais demandas perante seguradoras não podem ser aplicados ao Clube de P&I. Afinal de contas, os requisitos essenciais para verificar o contrato típico de seguro não são aplicados ao P&I.

Diante de tamanha disparidade entre essas figuras se torna possível alcançar o objetivo deste artigo, observar as obrigações do Clube de P&I perante seus membros e constatar a ausência dessa obrigação perante a terceiros, sendo certo que sua responsabilidade é perante o Armador, no seu direito individual de ser ressarcido pelo prejuízo o qual o clube

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dá cobertura, não tendo este que cumprir com a garantia de indenizar ou pagar terceiro, o qual ele não possui nenhum vínculo.

Por fim, ressalta-se que diante do recente julgado é firmado pela primeira vez o entendimento que o Clube de P&I não responde diretamente por dívidas de seus Armadores Associados. Diante deste precedente histórico o Brasil se aproxima do entendimento internacional, o qual rege as relações do direito marítimo internacional, tornando o Brasil ainda mais competitivo.

REFERÊNCIAS

______.Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. 6ª Câmara Civil . Apelação Cível nº

0189045-59.2016.8.19.0001, Relatora: Desembargadora Teresa de Andrade. Disponível em <

http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.aspx?UZIP=1&GEDID=00045BD5CD63821B9 3851F3D8AA51FCFE36BC508204F1E64 >. Acesso em: 1 junho. 2019.

CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. CRUZ, Gisela Sampaio da. O problema do nexo de causalidade. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.

FILHO, Sergio Cavalieri. Programa de Responsabilidade Civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

GIBERTONI, Carla Adriana Comitre. Teoria e Prática do Direito Marítimo. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2017.

COELHO, Fábio Ulhoa apud BURANELLO, Renato Macedo. Contrato de seguro. 1. Ed. São Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2006.

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