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Sexta-feira, 25 de maio de 2018 I Série Número 89 XIII LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA ( ) REUNIÃO PLENÁRIA DE 24 DE MAIO DE 2018

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XIII LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2017-2018)

REUNIÃO PLENÁRIA DE 24 DE MAIO DE 2018

Presidente: Ex.

mo

Sr.

Eduardo Luís Barreto Ferro Rodrigues

Secretários: Ex.mos Srs. Emília de Fátima Moreira Santos

Sandra Maria Pereira Pontedeira Diogo Feijóo Leão Campos Rodrigues

S U M Á R I O

O Presidente, após ter declarado aberta a sessão às 15

horas e 5 minutos, anunciou a realização da eleição, na Sala D. Maria, durante a reunião plenária, de um membro efetivo e de um membro suplente, propostos pelo Grupo Parlamentar do BE, para o Conselho de Administração da AR.

Ao abrigo da alínea b) do n.º 3 do artigo 64.º do Regimento, teve lugar um debate, requerido pelo PSD, sobre políticas fiscais e de preços para os combustíveis, tendo-se pronunciado, a diverso título, além do Deputado Cristóvão Norte (PSD), que também abriu o debate, os Deputados

Carlos Pereira (PS), Bruno Dias (PCP), Pedro Mota Soares

(CDS-PP), Fernando Anastácio e Hugo Costa (PS), Carlos Santos Silva (PSD), Heitor Sousa (BE), Sara Madruga da Costa (PSD), Cristóvão Crespo (PSD), Jamila Madeira e Luís

Moreira Testa (PS), Hélder Amaral (CDS-PP) e Emídio Guerreiro (PSD), que encerrou o debate.

Deu-se conta da apresentação dos projetos de resolução n.os 1647 e 1648/XIII (3.ª) e dos projetos de lei n.os 885 a 888/XIII (3.ª).

Foram lidos e aprovados os seguintes votos de pesar: N.º 549/XIII (3.ª) — De pesar pelo falecimento de António Arnaut, apresentado pelo Presidente da AR e subscrito por Deputados do PSD, do PS e do BE;

N.º 550/XIII (3.ª) — De pesar pelo falecimento de Júlio Pomar, apresentado pelo Presidente da AR e subscrito por Deputados do PS, do BE e do PSD.

A seguir à aprovação daqueles votos, foi guardado 1 minuto de silêncio.

(2)

Foram ainda aprovados os seguintes votos:

N.º 547/XIII (3.ª) — De louvor pelos resultados desportivos alcançados na taça do mundo de canoagem, apresentado pelo BE e pelo PCP e subscrito por Deputados do PSD e do PS;

N.º 551/XIII (3.ª) — De louvor a Fernando Pimenta e à equipa portuguesa de canoagem, apresentado pelo CDS-PP e subscrito por Deputados do PS e do PSD;

N.º 548/XIII (3.ª) — De louvor pela nomeação de D. António Marto para o Colégio Cardinalício, apresentado pelo CDS-PP e subscrito por Deputados do PSD e do PS (que foi lido).

Foram aprovados, na generalidade, os projetos de resolução n.os1251/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a requalificação da EN124 situada nos concelhos de Silves e Portimão (BE) e 1544/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que proceda, com caráter de urgência, à requalificação da EN124 entre Silves e Porto de Lagos (PCP).

Foram aprovados, na generalidade, os projetos de resolução n.os 1368/XIII (3.ª) — Em defesa de uma Linha Ferroviária do Oeste integralmente requalificada e com um

serviço de transporte de qualidade (BE) e 1557/XIII (3.ª) — Pela defesa da Linha do Oeste, garantindo um serviço público de transporte de qualidade para as populações (Os Verdes). Foi aprovada, na generalidade, na especialidade e em votação final global, a proposta de lei n.º 104/XIII (3.ª) — Transpõe as alterações introduzidas pela Diretiva (UE) 2015/1794 à Diretiva 2001/23/CE e à Diretiva 2009/38/CE, no que respeita aos marítimos.

Foi aprovado, em votação final global, o texto final, apresentado pela Comissão de Saúde, relativo às apreciações parlamentares n.os54/XIII (3.ª) (BE) e 55/XIII (3.ª) (PCP) — Decreto-Lei n.º 13/2018, de 26 de fevereiro, que define o regime jurídico da formação médica pós-graduada, designada de internato médico, e estabelece os princípios gerais a que deve obedecer o respetivo processo.

Deu-se conta da apresentação da apreciação parlamentar n.º 66 /XIII (3.ª) e dos projetos de resolução n.os 1650 a 1653/XIII (3.ª).

O Presidente encerrou a sessão eram 17 horas e 7 minutos.

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O Sr. Presidente: — Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, vamos dar início à nossa sessão plenária.

Eram 15 horas e 5 minutos.

Os Srs. Agentes da autoridade podem abrir as galerias, por favor.

Antes de entrarmos no ponto fundamental da nossa ordem do dia, peço aos Srs. Deputados que não se esqueçam que está a decorrer, na Sala D. Maria, durante a nossa sessão, a eleição de um membro efetivo e de um membro suplente para o Conselho de Administração da Assembleia da República.

Vamos, então, dar início ao debate, por marcação do PSD, sobre «políticas fiscais e de preços para os combustíveis».

Para abrir o debate, tem a palavra o Sr. Deputado Cristóvão Norte.

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os portugueses vivem hoje, com sofrimento e indignação, o pesadelo do preço dos combustíveis. A fatura fiscal bate todos os recordes.

Os portugueses pagam hoje, 24 de maio de 2018, por litro, mais 14 cêntimos de impostos no gasóleo e 9 cêntimos na gasolina, por comparação com 11 de fevereiro de 2016, dia anterior ao mais espetacular aumento de impostos sobre os combustíveis jamais registado em Portugal.

Os portugueses pagam hoje, 24 de maio de 2018, 72 cêntimos em impostos por litro de gasóleo, quando a 11 de fevereiro de 2016 já entregavam ao Estado 59 cêntimos.

Os portugueses pagam hoje, 24 de maio de 2018, 95 cêntimos em impostos por litro de gasolina, quando a 11 de fevereiro de 2016 já entregavam ao Estado 86 cêntimos.

Os portugueses pagaram em ISP (imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos) mais 395 milhões de euros em 2016, por comparação com 2015, mais 447 milhões de euros em 2017 e até ao final de 2018 o valor vai largamente ultrapassar os 500 milhões de euros. Serão, pelo menos, 1350 milhões a mais para o Governo e a menos no bolso dos cidadãos.

Os portugueses pagam hoje dos combustíveis mais caros da Europa. Os portugueses pagam hoje mais 13 cêntimos no gasóleo e 26 na gasolina do que os espanhóis, quando antes pagavam mais 9 e 19 cêntimos, respetivamente.

Este é, Sr.as e Srs. Deputados, o retrato fiel da austeridade dissimulada ao serviço de um Governo glutão, insaciável na arrecadação de impostos, e que tudo fez, e a nada se opôs, para que os portugueses se encontrassem nesta situação desesperante que põe em causa as famílias e a esmagadora maioria das empresas.

Isto é, Sr.as e Srs. Deputados, o milagre afamado do Governo! Tem um número: 1350 milhões de euros. Tem rostos: PS, PCP e Bloco de Esquerda. Tem uma vítima: o contribuinte.

Este é, Sr.as e Srs. Deputados, um traiçoeiro exercício de manipulação. O Governo prometeu que, se o preço subisse, o imposto descia. Ora, o preço subiu e o Governo mentiu.

O Governo rompeu um contrato de confiança que tinha com o País em fevereiro de 2016, quando aumentou os impostos relacionados com os combustíveis em 7,4 cêntimos, 6 do ISP e 1,4 do IVA (imposto sobre o valor acrescentado).

O Governo tinha como objetivo, e passo a citar, «ajustar o preço dos produtos petrolíferos à redução do IVA cobrado por litro de combustível, atendendo à oscilação da cotação internacional dos combustíveis».

Disse, por esses dias, o Ministro Eduardo Cabrita: «o Governo assume o compromisso de proceder a revisões trimestrais do valor do ISP» e este «é o mecanismo adequado face à volatilidade dos mercados».

Fernando Rocha Andrade, hoje Deputado, à época Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, dizia mesmo, categórico: «4 cêntimos de aumento nos combustíveis permitem reduzir 1 cêntimo». Chamaram-lhe princípio da neutralidade fiscal.

A montanha pariu um ratinho logo em 2016. Os combustíveis subiram 19 cêntimos no gasóleo e 16 na gasolina e o Governo apenas reduziu 2 no gasóleo e 1 na gasolina. Os 4 cêntimos restantes ficaram guardadinhos no bolso do Governo, num desvio estimado em mais de 250 milhões de euros.

Em 2017, nem montanha, nem rato, nem ratinho! O Governo decidiu encontrar um sucedâneo, um novo modelo para substituir o que não tinha cumprido: o gasóleo profissional.

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O Primeiro-Ministro ainda se atreveu a dizer, aqui mesmo, que, e passo a citar: «em 2017, o Orçamento do Estado não prevê a revisão trimestral porque prevê a manutenção do gasóleo profissional».

O Governo fez de conta que 1000 empresas era a mesma coisa que 10 milhões de cidadãos. Com os preços dos combustíveis a subir, houve muitos milhões de razões para que assim fosse.

O Governo mudou as regras do jogo, viciado na maior carga fiscal de sempre, num campo inclinado e a apitar sempre contra os portugueses. Nem palavra, nem muito menos honrada! Desapareceram o mecanismo adequado e as revisões trimestrais. Desapareceu tudo menos o fortíssimo aumento de impostos.

Os portugueses estão a sofrer muito mais por causa do Governo.

Sr.as e Srs. Deputados: É falso, rotundamente falso, absurdo mesmo, o que ontem foi aqui dito a respeito da variação de preço não encontrar explicação em razões fiscais. São afirmações sem fundamento que servem apenas para encobrir decisões e responsabilidades de alguns.

É um facto óbvio que o preço dos combustíveis sobe em parte por força da evolução do custo do petróleo, mas sobe em parte maior, maioritária, por força do valor de impostos cobrados.

Por referência aos preços médios anuais, se compararmos 2018 com 2015, regista-se que 75% do aumento preço do gasóleo tem explicação em variações do ISP e do IVA e que para a gasolina são 68 %. Os mercados têm os seus efeitos — sim, de acordo. São efeitos exógenos que o País não pode influenciar ou dominar, seja a produção da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), a evolução da economia chinesa, as mutações cambiais ou qualquer outra razão que provoque fortes oscilações no preço. Mas o País pode, isso sim, dominar a fatura fiscal, esta mesma que foi utilizada indiscriminadamente e que hoje é responsável por grande parte do que está a suceder.

Sr.as e Srs. Deputados: Estas decisões conduzem a perdas para as famílias, para as empresas, para a economia, para o País. Ninguém escapa quando os combustíveis sobem — nem rico, nem pobre, nem grande, nem pequeno, todos sofrem, sofrendo mais quem é mais frágil, quem tem menor rendimento.

Estas políticas, a política deste Governo em relação aos combustíveis, só amplia as desigualdades sociais, já que estes impostos indiretos são por natureza regressivos.

Uma economia robusta, competitiva, não impõe uma fatura fiscal a níveis intoleráveis para os combustíveis, sobretudo num País em que o tecido empresarial de pequenas e médias empresas é frágil, em que os portugueses têm pouco poder de compra e em que se deve promover a competitividade e não fazê-la desaparecer.

O que é isto se não austeridade pura e dura? Pior: austeridade encapotada, insidiosa na forma, perniciosa nos efeitos, anestesiando os seus destinatários quando os preços estavam baixos, mas revelando agora, da pior forma possível, toda a sua crueldade quando os preços sobem.

Aplausos do PSD.

Por isso, o PSD entregou, ontem mesmo, um projeto de resolução que visa garantir que o Governo passa a cumprir os compromissos que fez com o País: que cumpra a neutralidade fiscal; que desça, de forma imediata, o imposto sobre os produtos petrolíferos na medida da arrecadação de receita em excesso, como se tem verificado em 2018 com as sucessivas revisões em alta do preço.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Os portugueses não devem pagar mais do que aquilo que resulta da evolução dos mercados.

Cabe aos Srs. Deputados e às Sr.as Deputadas a escolha do lado em que querem ficar: se dos portugueses que encontram justiça na medida que o PSD propõe, se de um Governo que os enganou e os castiga, sem misericórdia, condenando-os a viver uma realidade que sempre lhes negaram vir a acontecer;

se dos portugueses que têm direito a uma redução do ISP, se do Governo que rejeita essa redução e ainda tem o descaramento, como ontem aqui fez o Primeiro-Ministro, de ensaiar, com escassa convicção, a falácia de que a carga fiscal diminuiu nos combustíveis;

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se dos portugueses que viram as suas legítimas expectativas frustradas, se de um Governo que as frustrou, sem razão, sem lealdade e transparência, sempre assente em sucessivos logros, na esperança de que o confronto com a realidade nunca se desse;

se dos portugueses que hoje, perante o preço dos combustíveis, vivem um tempo de dificuldade, se do Governo que faz por ignorar a situação e se alheia do problema, desresponsabilizando-se, evitando, até, este debate e não tomando o seu lugar no Parlamento hoje.

No fundo, Sr.as e Srs. Deputados, têm de escolher se ficam do lado da verdade ou da mentira, da reparação ou da injustiça flagrante.

Aplausos do PSD.

Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Jorge Lacão.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, a Mesa recebeu duas inscrições para pedidos de esclarecimento. Como pretende responder?

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Responderei em conjunto, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Pereira. O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Cristóvão Norte, quero começar por sublinhar que o meu grupo parlamentar é sensível a esta matéria dos combustíveis e ao aumento dos preços pelo efeito que tem na vida dos cidadãos. Que não haja a menor dúvida sobre isso!

Queria também dizer ao Sr. Deputado que, na sua intervenção, não disse de forma clara aquilo que devia ter dito. Se é certo que o preço dos combustíveis é afetado pela carga fiscal, também é certo que esse preço dos combustíveis é afetado, e muito, pelo preço da matéria-prima.

Sr. Deputado, o senhor ocultou o que também sabemos, e que os cidadãos portugueses sabem, porque é notícia diária, ou seja, que a componente da matéria-prima no preço do petróleo em maio de 2015 era de 38,5%, mas em maio de 2018 já é de 44,5%, no que diz respeito ao gasóleo, e de 35%, no que diz respeito à gasolina. Isto é, houve claramente uma subida no preço da matéria-prima que afetou o preço dos combustíveis.

A segunda nota que queria deixar é que uma das preocupações substanciais do Grupo Parlamentar do Partido Socialista relativamente a esta matéria, mas não apenas sobre a matéria dos combustíveis, tem a ver com duas questões essenciais: rendimento disponível dos cidadãos portugueses e competitividade da economia portuguesa. Essas foram, aliás, duas linhas que nortearam a ação do Governo do Partido Socialista nos últimos tempos.

Sr. Deputado, lembramo-nos muito bem de como encontrámos o País em 2015! A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — Tenha vergonha!

O Sr. Carlos Pereira (PS): — Encontrámos o País, em 2015, com a maior carga fiscal que os portugueses alguma vez suportaram.

A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — Tenha vergonha!

O Sr. Carlos Pereira (PS): — Encontrámos o País, em 2015, com dificuldades de crescimento.

Aplausos do PS.

Encontrámos o País, em 2015, com os portugueses completamente depauperados. Encontrámos o País com dificuldades de competitividade. E o esforço que fizemos ao longo dos tempos…

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Sr.ª Deputada, deixe-me terminar!

O esforço que fizemos ao longo destes últimos anos foi para restabelecer o rendimento disponível das famílias e dos portugueses e para garantir o aumento da competitividade.

Sr. Deputado Cristóvão Norte, queria deixar duas notas que o senhor não referiu. Primeiro, em 2015, no

ranking da competitividade, de que os senhores gostam de falar, Portugal ocupava a 36.ª posição; em 2018,

ocupa a 33.ª. Portanto, ultrapassámos esse esforço de aumentar a competitividade do País.

Mais, sobre o rendimento disponível, Sr. Deputado, em 2015, o das famílias portuguesas era de 29,578 €, em 2018, é de 30,725 €. Aumentámos o rendimento disponível das famílias!

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Bem lembrado!

O Sr. Carlos Pereira (PS): — E isto não é matéria menor! É neste mix de políticas que introduzimos que é possível fazer aumentar o rendimento disponível e a competitividade e não apenas olhar para aquilo que é um fogacho que dá manchetes em jornais e que faz, de facto, esta política populista irresponsável do PSD.

Aplausos do PS.

Queria, pois, dizer ao Sr. Deputado que o que interessa aos portugueses, de facto, é o que compram, o que adquirem com o dinheiro que têm e, relativamente aos combustíveis, é bom que os senhores clarifiquem nesta Câmara o que querem fazer de diferente.

Já mostrei um gráfico, mas julgo que o terei de mostrar novamente: que combustível conseguem os portugueses comprar com 20 €? Se o Sr. Deputado olhar para o gráfico verá que há muitas alterações. Naturalmente que há subidas e descidas mas, em maio de 2012, os portugueses compravam 13,3 litros de gasóleo e em 2108 compram 14,6 litros, ou seja, compram mais do que compravam durante a vossa governação.

Aplausos do PS. Protestos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Atenção ao tempo, Sr. Deputado.

O Sr. Carlos Pereira (PS): — É isto que é essencial para os portugueses: rendimento disponível. Mas há mais, Sr. Deputado.

Protestos do Deputado do PSD Cristóvão Norte.

Sr. Deputado, olhe para este gráfico, ele não é inventado! Durante os anos da vossa governação, entre 2011 e 2015, sabe qual foi o preço médio do gasóleo? O preço médio do gasóleo para os consumidores foi de 1,34 €. Sabe qual é o preço médio do gasóleo neste Governo do PS? É de 1,24 €. É isto que os portugueses querem e estamos a fazer um esforço para garantir que não percam rendimento disponível, o que os senhores não fizeram durante quatro anos.

Aplausos do PS. Protestos do PSD.

Mas há mais, Sr. Deputado. Queria terminar colocando perguntas concretas. O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado, atenção ao tempo.

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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — É, Sr. Deputado, mas a convenção que se estabeleceu em Conferência de Líderes é que, nestas circunstâncias, as perguntas dispõem do dobro do tempo regimental normal, ou seja, 4 minutos, e já lá vão mais de 5 minutos.

O Sr. Carlos Pereira (PS): — Preciso só de 30 segundos, Sr. Presidente, para colocar algumas perguntas ao Sr. Deputado Cristóvão Norte.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Faça favor, Sr. Deputado.

O Sr. Carlos Pereira (PS): — Tomámos várias medidas, no que diz respeito aos combustíveis, ao longo deste tempo: criámos a moratória relativamente ao biocombustível, para impedir que ele crescesse, o que os senhores não fizeram, mantendo o gasóleo mais barato; conseguimos criar os postos de abastecimento low cost

— fomos nós que o fizemos! —; criámos o gasóleo profissional… Protestos do PSD.

… e a pergunta que lhe quero fazer é esta: quais foram as medidas que os senhores tomaram durante o vosso Governo?

Lamento que o Sr. Deputado não tenha referido na sua intervenção, nem tenha citado, o que o Governo da República pediu à Autoridade da Concorrência. Em janeiro de 2017 — e espero que o Sr. Deputado responda a esta questão —, o Governo do Partido Socialista pediu à Autoridade da Concorrência que avaliasse o que se passava com as margens de comercialização dos combustíveis, que, como sabe, é um fator importante, e que têm vindo a subir, de 2011 a 2016, de 19% para quase 30%.

Sr. Deputado, entre janeiro de 2017 até hoje não houve nenhuma resposta por parte da Autoridade da Concorrência.

Protestos do PSD.

Pergunto-lhe, Sr. Deputado, se está disponível para apoiar o requerimento do Partido Socialista para chamar a Autoridade da Concorrência a avaliar estas razões e saber porque é que, até hoje, ainda não deu resposta.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Srs. Deputados, faço o apelo à vossa autocontenção, para o cumprimento das regras que temos estado a aplicar.

Tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias, do PCP, para um pedido de esclarecimentos.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Cristóvão Norte, a abordagem que o PSD fez na abertura deste debate ao problema do preço dos combustíveis levanta, desde logo, duas perplexidades. A primeira tem a ver com a total ausência no vosso discurso de toda a realidade que esteja para lá das questões fiscais.

O Sr. Deputado desconheceu e ignorou completamente a realidade do que se passa no setor, na cadeia de valor dos combustíveis e no setor energético no seu todo, desde o problema da formação de preços e da falta de transparência dos grandes interesses do poder económico, aquém e além-fronteiras, até a esta realidade concreta que se verifica no nosso País com os lucros escandalosos que são amassados pelas grandes petrolíferas à custa dos sacrifícios de milhões de pessoas e de micro e pequenas empresas.

Vozes do PCP: — Bem lembrado!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — A segunda perplexidade tem a ver com a profunda diferença entre a atuação do PSD quando está no governo e quando está fora dele.

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Vozes do PCP: — Bem lembrado!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Os senhores, nos sucessivos governos do PSD e do PSD/CDS, liquidaram o setor público e entregaram-no aos interesses dos grupos económicos das petrolíferas. Os senhores liberalizaram os preços — tenho aqui a Portaria n.º 1423-F/2003, assinada por Manuela Ferreira Leite e Carlos Tavares, a valorizar extraordinariamente a concorrência e os benefícios que a liberalização dos preços teria para os consumidores e a economia — e deixaram em roda livre a atuação das petrolíferas, aumentaram sistematicamente o ISP sempre que estiveram no governo, tornaram a aumentar esse imposto já no anterior Governo e, Sr. Deputado, num contexto com uma particular tendência de preços elevados, numa alta de preços, os senhores impuseram um novo acréscimo através da introdução da taxa de carbono, em 2014.

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Não é verdade!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — É que ao introduzirem a taxa de carbono, em 2014, fizeram um aumento do ISP que penalizou as populações e as empresas.

Enquanto o Sr. Deputado faz a sua diatribe relativamente ao que está a acontecer a uma parte da realidade, ignora que os lucros da GALP — só falando desta empresa — cresceram 25% em 2017, para 602 milhões de euros, e no quarto trimestre a subida dos lucros foi de 54%?!

Pergunto-lhe, Sr. Deputado, qual é a motivação para que o PSD procure ignorar e ocultar esta realidade dos lucros escandalosos dos grupos económicos, que estão a ser amassados à custa do sacrifício das pessoas e da economia real. Por que é que os senhores não falam disto?

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Cristóvão Norte, do PSD. O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, em primeiro lugar, quero agradecer as questões formuladas e, desde logo, dizer que estou compungido com a sensibilidade extraordinária do Sr. Deputado Carlos Pereira. Ficámos a saber que o PS tem muita sensibilidade para a questão, mas nada faz a respeito dela.

Aplausos do PSD.

Vozes do PSD: — Ora, nem mais!

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — E, pior do que isso, é que o Sr. Deputado fez o mesmo exercício que o Sr. Deputado Bruno Dias. No fundo, esta matéria é explicada pelos mercados e pela evolução internacional, e nada, nada do que sucede é responsabilidade do Governo! É responsabilidade do Governo! 14 cêntimos do gasóleo e 9 cêntimos da gasolina resultam da fiscalidade.

Em dois anos, isso representou mais de 1350 milhões de euros em ISP e ainda estamos para determinar o que isto representará em IVA.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — A receita fiscal é uma coisa, a carga fiscal é outra!

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Mas é também importante dizer que o Sr. Deputado Bruno Dias faz uma grande diatribe em relação às empresas mas esquece-se do que está aqui: 75% do aumento que se verificou nos últimos dois anos no gasóleo e 68% na gasolina é explicado pela fiscalidade e a ideia que os Srs. Deputados querem perpassar é a de que o Governo que apoiam nada tem a ver com esta matéria. Esta é uma ideia absolutamente infundada, filiada na forma distorcida como o Sr. Primeiro-Ministro apresentou esta matéria ao Parlamento, ontem, no debate quinzenal.

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Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — É importante dizer mais, Sr. Deputado Carlos Pereira: o Sr. Primeiro-Ministro, no final de 2017, prometeu que iria fazer alterações em 2018 e que iria internalizar custos nos combustíveis.

Eu esperava duas coisas: primeiro, que o PS, desde logo, afastasse essa ideia de aumento de impostos — como o deveriam fazer também os partidos que apoiam o Governo — mas, por outro lado, que pensasse no Congresso que tem para a semana e na sensibilidade da matéria e revisse a sua orientação em relação a isto. É que isto é um logro que corrói a confiança dos cidadãos e é uma promessa não cumprida, ilegítima, por parte do Governo.

Quero dizer, para terminar, que os portugueses estão a sofrer muito com este aumento. Os senhores têm de meter a mão na consciência. Esta matéria não pode ser tratada com esta desconsideração, este desrespeito, esta passividade. Ajam, olhem para os portugueses e tomem decisões, para que esta matéria seja invertida e os portugueses tenham uma vida melhor.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Antes de dar a palavra ao Sr. Deputado inscrito, lembro a todos que está a decorrer a eleição de um membro efetivo e de um membro suplente para o Conselho de Administração da Assembleia da República. Por favor não se esqueçam dessa votação.

Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro Mota Soares, do CDS.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em fevereiro de 2016, perante um preço do petróleo histórico mas transitoriamente baixo, o Governo do Partido Socialista decidiu aumentar o imposto sobre a gasolina e o gasóleo em 6 cêntimos por litro.

Quando o Governo apresentou esta sobretaxa justificou-se dizendo que o fazia com uma perspetiva de neutralidade fiscal, ou seja, que aumentava o imposto sobre os combustíveis para recuperar o que estava a perder em receita do IVA.

No dia da apresentação desta medida, o Ministro das Finanças prometeu aos portugueses que o aumento do imposto sobre o gasóleo e a gasolina iria compensar «exatamente aquilo que se perdeu em IVA. O princípio é o da neutralidade fiscal».

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — É, é!…

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — No dia 12 de fevereiro de 2016, o Primeiro-Ministro António Costa prometeu a neutralidade fiscal deste aumento de impostos.

No dia 18 de fevereiro, o então Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais garantiu o mesmo princípio. Dizia ele: «Este é o compromisso que nós assumimos e é isso que pretendemos fazer: manter a neutralidade fiscal». Até o Deputado Galamba, do Partido Socialista, numa das suas típicas e acaloradas tiradas, dizia: «O imposto foi calibrado de modo a que os preços sejam inferiores ao que existia a 1 de janeiro de 2016».

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Sabemos hoje que a neutralidade fiscal que o Governo e o Partido Socialista anunciaram não se verifica. De acordo com os cálculos da UTAO para 2016, e usando o mesmo método de cálculo para 2017 e 2018, o Estado já arrecadou 600 milhões de euros acima da prometida neutralidade fiscal. Isto quer dizer que este aumento de impostos foi tudo menos neutral, quer para os cofres do Estado, quer, e acima de tudo, para os bolsos dos portugueses.

Aplausos do CDS-PP.

Isto quer dizer que este aumento de impostos significou um saque de cerca de 600 milhões de euros aos contribuintes; 600 milhões de euros tirados às famílias que precisam do automóvel na sua vida diária; 600 milhões de euros que pesam sobre os transportes públicos, que aumentaram neste período cerca de 4%, muito

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acima da inflação verificada; 600 milhões de euros arrancados às empresas, que precisam de entregar as suas mercadorias, receber as suas matérias-primas e transportar os seus trabalhadores.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, sucede que hoje o preço do petróleo já não está baixo. Só nas últimas dez semanas, o preço dos combustíveis subiu sempre e em cada semana.

Hoje, face a janeiro de 2016, antes do aumento da sobretaxa do ISP, a gasolina custa mais 28 cêntimos por litro e o gasóleo custa mais 34 cêntimos.

Para um português que ateste o carro com 60 litros de gasóleo, a fatura fica 20 € mais cara do que antes deste aumento de impostos.

Para isso contribui, sem sombra de dúvida, a subida do preço do petróleo, mas contribui também, e numa percentagem muito maior, a subida da carga fiscal sobre os combustíveis, que é, neste momento, uma das mais elevadas da União Europeia.

Com a criação da sobretaxa dos combustíveis, Portugal passou de uma posição em que estava abaixo da média da União Europeia para uma posição em que está claramente acima dessa média, não tendo, como é óbvio, nem o PIB, nem o poder de compra dos outros países da União Europeia.

A isto acresce a quebra da promessa do Governo de rever trimestralmente a taxa de imposto, de forma a baixar o preço pago pelos contribuintes.

Depois da criação desta sobretaxa nos combustíveis, em cada litro de gasóleo 55% são impostos, em cada litro de gasolina 62% do preço vai diretamente para os cofres do Estado.

Uma família que abasteça 90 € de gasolina, está a pagar 34 € de combustível e os restantes 56 € vão diretamente para os cofres do Ministério das Finanças.

Uma empresa que ateste uma carrinha de gasóleo com 100 €, paga 45 € pelo combustível e 55 € ao Estado em impostos.

De facto, o único momento em que «somos todos Centeno» é quando vamos à bomba de gasolina!

Aplausos do CDS-PP.

Já nada justifica a manutenção desta sobretaxa a não ser a voracidade fiscal do Governo e dos partidos que o suportam.

O tão falado princípio da neutralidade fiscal foi apenas um saque de cerca de 600 milhões de euros aos contribuintes.

Uma família que gaste 60 litros de gasolina por semana, ao fim de um ano pagou quase 5000 € de combustível, dos quais 3100 € são impostos que vão diretamente para o bolso do Ministro Centeno.

Este imposto, ainda por cima, é cego, afeta todos por igual, independentemente da sua condição económica, social ou geográfica. Foi exatamente por esta razão que o CDS denunciou sempre este aumento.

Foi exatamente por isso que o CDS foi sempre contra esta sobretaxa. E se os portugueses estão hoje a pagar mais, quando vão abastecer a uma bomba de gasolina, isso deve-se a uma opção errada não só do Governo mas também do Partido Socialista, do Partido Comunista Português e do Bloco de Esquerda, que chumbaram as nossas propostas de eliminação deste aumento.

É por isso que quero usar esta intervenção para anunciar à Câmara que, já no próximo dia 21 de junho, o CDS vai propor a eliminação desta sobretaxa dos combustíveis, dando um alívio às famílias e à economia, numa fatura que tanto lhes pesa.

Aplausos do CDS-PP.

É a quarta vez que o CDS leva a votos uma iniciativa como esta. Das outras três vezes chumbaram-nas, com os votos contra do Partido Socialista, do Bloco de Esquerda, do Partido Comunista Português e de Os Verdes.

Desta vez, se os partidos forem consequentes com tudo o que têm dito nesta Câmara, sabemos que a nossa iniciativa vai passar, sabemos que vamos conseguir baixar a fatura da gasolina e do gasóleo aos portugueses.

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Garante?!

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Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Inscreveu-se, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Fernando Anastácio, do PS.

Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Pedro Mota Soares, a respeito dos tais 600 milhões de euros, o Sr. Deputado usou a palavra «saque». Ora, queria fazer-lhe esta pergunta muito direta: como é que qualifica o «brutal aumento de impostos» do Governo de que o senhor fez parte? Gostava que me dissesse qual é o outro adjetivo para qualificar o «brutal aumento de impostos» de Vítor Gaspar, num Governo em que o senhor tomou assento.

Protestos do CDS-PP.

Mas, para além desta pergunta, para a qual fico ansiosamente à espera de uma resposta, gostaria também de chamar a sua atenção para algumas questões.

Como já foi hoje aqui dito, este é um tema que abre telejornais, encabeça títulos de jornais e, tendencialmente, a abordagem, por vezes, não é a mais séria. E como também já hoje aqui foi dito, o que, de facto, importa é perceber o que está na génese do custo efetivo dos combustíveis. Isto já foi amplamente explicitado, mas continuam sistematicamente a desvalorizar aquilo que é o mercado e o aumento das matérias-primas.

Mais importante do que tudo isto é percebermos o que é o rendimento disponível e quais são as políticas que temos.

O Sr. João Paulo Correia (PS): — Muito bem!

O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Obviamente que, em 2016, o Governo do Partido Socialista optou, e muito bem, pela questão da neutralidade fiscal, porque era impossível aos portugueses continuarem a pagar os impostos que os senhores tinham criado. Por isso, era preciso resolver o problema.

Hoje, a propósito do que temos em cima da mesa e do que temos no Orçamento, chego à proposta que enunciou e que já deu entrada na Assembleia da República. Ora, se se quer, de uma forma séria e tendo em consideração a redação daquela proposta, defender que o Estado português prescindirá do imposto sobre os combustíveis — que é o que lá está escrito —, o que se está a fazer, no fundo, é a eliminar a portaria que permite ao Governo regulamentar esse imposto, não repristinando nada.

Por isso é que lhe pergunto se, sinceramente, o CDS defende que a solução para os portugueses é que não se pague qualquer imposto sobre os combustíveis. E, se o defende, já agora, diga aos portugueses quais são os impostos que quer aumentar. É que, obviamente, as responsabilidades são conhecidas e não acredito que o CDS defenda a posição de acabar com a receita dos combustíveis e que assuma claramente que não é preciso compensá-la fiscalmente.

Portanto, para a sua proposta ser viável, o desafio é dizer-me quais são os impostos que vai colocar à consideração dos portugueses. Qual é o aumento de impostos que defende? É o aumento dos impostos sobre os rendimentos do trabalho ou é outra coisa qualquer?

Esta é a pergunta que queria deixar-lhe e é a resposta que os portugueses gostariam de saber.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Mota Soares. O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Fernando Anastácio, vou explicar-lhe, Sr. Deputado, a diferença entre um saque e o «brutal aumento de impostos». É uma diferença de seriedade.

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Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — É mais sério! É carrancudo!

Risos do BE e do PCP.

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — É que o «brutal aumento de impostos» foi para pagar as dívidas que os senhores criaram e que deixaram o País na bancarrota.

Aplausos do CDS-PP e de Deputados do PSD. Protestos do PS.

Mas há uma outra diferença, no que toca a seriedade, Sr. Deputado. É que «saque» é prometer aos portugueses que há um princípio de neutralidade — isto é, o Estado, se estiver a receber menos, aumenta o imposto e, se estiver a receber mais, diminui o imposto — mas, depois, quando o Estado passa a receber mais, os senhores esquecerem-se de baixar o imposto. Ou seja, quando é contra os portugueses, os senhores estão lá, mas, quando é a favor dos portugueses, os senhores deixam de lá estar. Isto tem um nome: «saque»! Foi isto que os senhores criaram!

Convém que todos os dias sejam confrontados com isso.

Convém que todos os portugueses, quando vão abastecer, hoje, os seus carros, as suas motos, as suas carrinhas, com gasóleo ou gasolina, se lembrem de que estão a pagar mais por causa da vossa mentira, por causa da palavra que vocês deram e que não souberam honrar.

Convém que toda a gente que está lá fora se lembre disso.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Não respondeu à pergunta!

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Costa, do PS. O Sr. Hugo Costa (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Ao longo desta Legislatura, os preços da energia têm evoluído no sentido de o Governo tomar medidas com vista a uma maior defesa dos consumidores, medidas essas espelhadas num conjunto de áreas como, por exemplo, na eletricidade, concretamente na descida da tarifa de acesso à rede, na primeira descida deste século da tarifa regulada ou nas reduções da tarifa de gás natural, de 20%.

Entre os consumidores que pretendemos beneficiar, ao longo destes dois anos e meio, temos os mais vulneráveis. Relembro, a título de exemplo, que cerca de 800 000 famílias são hoje beneficiárias da tarifa social de eletricidade, com uma redução de 33% do custo. Para isso, bastou tornar o acesso a essa tarifa social automático, medida contra a qual o PSD e o CDS sempre se posicionaram.

Durante o anterior Governo, esta medida, pura e simplesmente, não foi aplicada, prejudicando as famílias. E, mesmo sendo um debate sobre combustíveis, era um bom momento para o Partido Social Democrata pedir desculpa aos portugueses e colocar a mão na consciência perante as mais de 800 000 famílias que não tiveram direito à tarifa social de eletricidade devido à política que os senhores aplicaram.

Em relação ao debate de hoje — sobre combustíveis e a fiscalidade nos mesmos —, relembro que foi o PSD que aplicou o famoso «enorme aumento de impostos», em 2012, anunciado indisfarçavelmente pelo então Ministro Vítor Gaspar. Esse aumento de impostos foi cego, atacando visceralmente o rendimento das pessoas, cortando salários e subsídios e colocando os portugueses mais pobres. Era o «ir além da troica», que o anterior líder do Partido Social Democrata tanto apregoava. Foi a «corda na garganta» para muitos agregados familiares! Em relação ao mercado de combustíveis, o preço dos mesmos é um custo que não pode ser negligenciado nem pelas famílias, nem pelas empresas. Podem contar com o Grupo Parlamentar do Partido Socialista para a defesa dos consumidores nesse setor. Reconhecemos a existência de dúvidas legítimas sobre o mercado da

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concorrência e estamos em crer que uma auditoria global e independente seria uma boa medida, conforme já foi referido e aprovado em debates anteriores.

Cumprindo uma deliberação desta Assembleia, foi solicitado pelo Governo junto da Comissão Europeia um pedido de apoio, com vista a garantir, de forma clara, o cumprimento das regras da concorrência.

O Grupo Parlamentar do Partido Socialista defende a transparência no setor. Nessa medida, apresentámos, em fevereiro deste ano, uma iniciativa legislativa que visa dar uma informação total ao consumidor de energia, seja na eletricidade, no gás natural ou nos combustíveis.

A aprovação desta proposta, que se encontra em sede de discussão na especialidade, vai contribuir para uma sociedade onde os consumidores possuem mais informação, permitindo eventuais baixas nos preços. Os impostos, as taxas, os vetores do défice tarifário ou a incorporação obrigatória de biocombustível vão ser obrigatórios. Informação a mais? Não! Uma informação importante, porque, certamente, todos vamos aprender a ler e a olhar melhor para as faturas dos combustíveis.

Ao longo desta Legislatura, apresentámos outras propostas, como a alteração do quadro regulatório, permitindo, quando em definitivo, a transferência para a ERSE, com ganhos claros de economias de escala para o setor.

Em relação aos custos, nomeadamente para as empresas de transporte de mercadorias, o atual Governo apresentou o regime do gasóleo profissional, garantindo competitividade fiscal a nível europeu. Esta medida tem um balanço muito positivo. Os últimos dados indicam que cerca de 1800 empresas são hoje beneficiárias, e falamos de reembolsos de mais de 36 milhões de euros.

Outra matéria que merece a maior atenção do Governo é a das eventuais irregularidades na entrada de combustíveis em Portugal, prejudicando as empresas concorrentes e indiretamente todos os consumidores.

Em relação à atual subida do preço dos combustíveis, muita desinformação tem circulado, como já assistimos neste debate, por parte do PSD. É importante referir que o peso da fiscalidade nos combustíveis está abaixo da média da zona euro, ao contrário do que tem sido divulgado.

Vozes do PS: — Muito bem!

O Sr. Hugo Costa (PS): — E, sim, as atuais subidas têm como base um aumento do Brent. Senão, vejamos: o mesmo estava em 30 dólares americanos, em janeiro de 2016, em cerca de 65 dólares, no final do ano de 2017, e, agora, está praticamente nos 80 dólares.

Obviamente, o ISP, sendo uma percentagem, varia conforme os valores. Mas queremos ou não estabilidade fiscal?!

As alterações climáticas obrigam a alterações no paradigma energético, nomeadamente com a aposta em energias renováveis e na mobilidade elétrica, mas essa aposta não pode ser feita à custa de uma pressão sobre os custos para os consumidores. Ora, nós estamos a seguir um caminho não só no sentido de apostar em novas energias mas também no de atuar sobre o mercado.

O Partido Socialista está ao lado dos consumidores, na procura de medidas para mitigar os impactos dos preços dos combustíveis sobre as famílias, aumentando a sua qualidade de vida. É para esse objetivo que trabalhamos e vamos continuar a trabalhar.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Santos Silva, do PSD.

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quando o atual Governo do PS procedeu a um grande e injustificado aumento de impostos sobre os combustíveis, deu a sua palavra aos portugueses, comprometendo-se a diminuir o valor do ISP em 1 cêntimo por cada 4 cêntimos de aumento do preço do petróleo nos mercados internacionais.

Ora, esta palavra dada não foi palavra honrada! Vozes do PS: — Foi, foi!

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O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Pelo contrário, estamos na nona semana consecutiva de aumento do preço dos combustíveis — e já se anuncia que não vai parar — e o que faz o Governo? Vira a cara para o lado e faz de conta que não é nada com ele.

O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Muito bem!

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Os portugueses estão numa espécie de autoestrada sem limite de velocidade. É sempre a «abrir»!

A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — Bem lembrado!

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Sabem porquê, Srs. Deputados? É que este Governo encontrou uma nova espécie de imposto, que não consta do código fiscal mas é uma nova espécie de imposto, que é o chamado «combustível fiscal».

Se este aumento de imposto, em tempos, era a austeridade encapotada, agora é a austeridade aditivada. Eu explico: este Governo, em 2016, ludibriou os portugueses, quando aproveitou a circunstância de os preços dos combustíveis estarem baixos nos mercados internacionais para acomodar, no combustível, a receita fiscal necessária para fazer face à despesa pública do Estado, alegando que estava a diminuir os impostos e que as pessoas já sentiam isso na carteira. Mentira! Engordaram discretamente, nas costas dos portugueses, o valor do ISP, levando ao ponto em que aquilo que pagamos hoje, em média, por litro de combustível, na bomba de gasolina, seja quase 70% de imposto, isto é, em cada 100 € na fatura apenas 30 € são matéria-prima, o resto, os 70%, é para o Estado.

Acontece que agora, quando se dá a retoma dos preços nos mercados de combustíveis, temos esses preços altamente aditivados e é evidente que o Estado já não pode sobreviver sem recurso a este imposto.

Portanto, este é o resultado das vossas escolhas, das políticas de intrujice e oportunismo político, de dar com uma mão e retirar com a outra.

Não vamos permitir que continuem a enganar os portugueses! Temos, hoje, não os combustíveis mais elevados do mundo, no seu preço, mas sim os combustíveis com a maior «canga» fiscal do mundo!

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Pergunto-lhe, Sr. Deputado Hugo Costa, sendo que, em 2011, o preço do barril do petróleo era superior a 100 dólares e o preço do litro de combustível era, sensivelmente, de 1,5 €, como é que explica que hoje o custo do barril seja na ordem dos 80 dólares e o preço do combustível, por litro, esteja em 1,68 €.

O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Muito bem!

O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Sr. Deputado Hugo Costa, aqui ao lado, em Espanha, o litro de gasolina custa menos 0,23 € e uma bilha de gás custa menos 8 €. Pergunto-lhe qual é o racional disto, porque eles compram exatamente ao mesmo preço!

Protestos de Deputados do PS e do Deputado do PCP Bruno Dias.

Sr. Deputado Hugo Costa, qual é o vosso racional para a manutenção deste nível de carga fiscal e para o crescimento económico e a competitividade da nossa economia?!

Esta austeridade não é só para quem anda na estrada, é para todos os portugueses.

Ainda relativamente à Autoridade da Concorrência (AdC), pensei que o Sr. Deputado também vinha fazer essa referência, mas vou dizer-lhe que a Autoridade da Concorrência — e aqui está demonstrada a vossa falta de seriedade — está impedida de efetuar investigações, está impedida de pagar rendas do seu próprio

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edifício-sede, do ano de 2017. É que as cativações do Sr. Ministro Mário Centeno afetaram a Autoridade da Concorrência e foi por isso que eles ainda não responderam.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Costa.

O Sr. Hugo Costa (PS): — Sr. Presidente, em primeiro lugar, para esclarecer o Sr. Deputado Carlos Silva, devo dizer que não temos a maior carga fiscal a nível europeu. No gasóleo, por exemplo, a média europeia está na casa dos 56% e, em Portugal, está na casa dos 55%. É bom ler os dados e é bom ver os resultados!

Vozes do PS: — Muito bem!

Protestos do PSD.

O Sr. Hugo Costa (PS): — Depois, é óbvio que o mercado dos combustíveis tem um conjunto de variáveis e, nomeadamente, quando comparados com Espanha, temos de comparar dados como, por exemplo, o dos biocombustíveis, que em Espanha são 5% e em Portugal são 7,5%. Mas também temos de comparar questões como, por exemplo, a parte dos mercados.

Protestos do Deputado do PSD Cristóvão Norte.

Já aqui pedimos que fosse feita, no mercado, uma investigação da Autoridade da Concorrência quanto à estrutura do mercado e às margens do mercado.

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — E cativam verbas à Autoridade da Concorrência?!

O Sr. Hugo Costa (PS): — É que, da parte do PSD, apenas existe a questão da margem fiscal, mas temos de descobrir todo o funcionamento do mercado e todas as margens do mercado, não apenas a parte fiscal.

Por isso, o Partido Socialista está disponível para debater toda a área dos combustíveis, não só a parte fiscal mas toda a informação sobre os preços, nomeadamente como é construído e as margens do setor.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem agora a palavra o Sr. Deputado Heitor Sousa. O Sr. Heitor Sousa (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PSD decidiu fazer hoje uma cruzada contra a fiscalidade sobre os combustíveis e, ao fazê-la, esconde uma realidade que tem a ver com a circunstância de o mercado dos combustíveis ser profundamente concentrado — um mercado em que, nuns subsetores, dominam monopólios e, noutros setores, dominam oligopólios — e, portanto, a formação dos preços não ser tão livre como os Srs. Deputados pintam.

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Pudera!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Sr. Deputado, é verdade que, hoje em dia, a fiscalidade sobre os combustíveis — toda a fiscalidade sobre os combustíveis! — equivale, grosso modo, a 65% do preço de venda do produto. Mas é preciso que se saiba que a formação dos preços dos combustíveis não é feita com base na determinação de percentagens mas, sim, em várias parcelas, algumas das quais são tabeladas com base em quantidades fixas e aprovadas anualmente na Lei do Orçamento, outras são efetivamente percentagens que têm a ver com o imposto sobre o valor acrescentado, que é um imposto decidido com base em tabelas percentuais.

Por isso, Srs. Deputados, querer alterar o valor do ISP com base numa redução percentual desse valor é ilegal e não é aplicável, porque a tabela do ISP é construída com base em valores que, para sua informação,

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Sr. Deputado Cristóvão Norte, em 2016, correspondiam a 0,556 € por litro de combustível. Esta tabela vigora para o ano inteiro e, portanto, não é possível alterá-la no meio do ano…

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Isso foi alterado em fevereiro, por portaria!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — … porque há uma lei de valor reforçado por detrás disto, que é a Lei do Orçamento.

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — As portarias são alteradas a meio do ano!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Portanto, Sr. Deputado, se for necessário — e é necessário! — corrigir o adicional que o ISP teve em 2016, tendo por referência o valor do IVA, que é uma taxa percentual, é possível fazê-lo, mas apenas na próxima discussão do Orçamento do Estado para 2019.

Protestos do Deputado do PSD Cristóvão Norte.

Nós estamos de acordo em reconhecer que esse adicional — que foi aprovado em 2016, com o argumento de manter estável o nível de receitas do IVA —, agora, que desapareceu a razão de ser da sua criação,…

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Agora, não! Já desapareceu há muito tempo!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — … a qual tinha a ver com o facto de o preço do petróleo estar baixo nos mercados internacionais e isso afetar o valor da receita de IVA, seja revisto e que isso deva ser feito, como o Sr. Deputado do Partido Socialista acabou de referir, à luz de uma revisão global da formação de preços no mercado dos combustíveis.

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — E o preço continua assim?!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Sr. Deputado, temos de nos lembrar de uma vox populi que todos reconhecemos quando circulamos nas estradas, sobretudo nas autoestradas, e quando há variações do preço do Brent no mercado internacional. Todos sabemos que quando o preço do Brent no mercado internacional sobe, imediatamente isso se reflete no preço de venda dos combustíveis, mas quando o mercado internacional tem preços de Brent baixos, a redução do preço de venda dos combustíveis ao público é bastante mais baixa do que aquela que presidiu à sua subida.

Isto significa que o mercado da formação de preços nos combustíveis não é livre, é um mercado que está fortemente condicionado pelas suas características oligopolistas e pelo controlo que as multinacionais exercem na formação do preço dos combustíveis.

Protestos do Deputado do PSD Cristóvão Norte.

Portanto, nós estamos disponíveis para promover um mecanismo de revisão de preços dos combustíveis,… O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Votam a favor?!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — … não apenas para que a fiscalidade sobre os combustíveis seja mais transparente para as pessoas e para as empresas, mas também para que a formação de preços desde a sua origem seja também transparente para a população e para as empresas. E, por isso, Sr. Deputado, quanto a esta discussão — que é mais ou menos recorrente de cada vez que o preço do petróleo sobe, mas que não existe quando o preço do petróleo desce —, seria bom que a Assembleia da República adotasse como tarefa essencial procurar que, daqui até à próxima Lei do Orçamento, se pudesse promover uma revisão dos mecanismos da formação de preços dos combustíveis,…

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Protestos do Deputado do PSD Cristóvão Norte.

… em vez de anunciar grandes descidas ou grandes subidas dos impostos, as quais não resolvem o problema.

Há bocado, o Sr. Deputado Pedro Mota Soares garantia ali, da tribuna, que iria defender a baixa do ISP na formação do preço dos combustíveis. Pergunto-lhe, Sr. Deputado Pedro Mota Soares: garante a esta Câmara que essa baixa de preço não será absorvida pelos revendedores e pelas empresas produtoras e distribuidoras do mercado dos combustíveis? Ou acontecerá, mais uma vez, como aconteceu com a descida do IVA nos restaurantes, em que o IVA desceu efetivamente de 23% para 13% e, no entanto, os preços não sofreram alteração?!

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Quão difícil é falar de combustíveis!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Portanto, Sr. Deputado Pedro Mota Soares, gostaria de reforçar essa questão, perguntando-lhe se o CDS e o PSD têm segurança absoluta para poderem garantir à Câmara que, se baixarem o ISP, essa baixa se vai traduzir numa redução do preço de venda ao público ou se, pelo contrário, vamos assistir a mais uma forma de as empresas aumentarem as suas taxas de lucro, as suas margens de intermediação e, no fim, o preço não ter praticamente qualquer tipo de alteração.

Vozes do BE: — Muito bem!

Risos do Deputado do PSD Cristóvão Norte.

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Por último, Srs. Deputados do PSD e do CDS, quando falamos em transparência na formação de preços e na cadeia de valor, queremos dizer que é preciso que as pessoas saibam qual é a diferença entre o custo de extração de um barril de petróleo e o custo a que ele chega aos mercados internacionais.

Protestos de Deputados do PSD.

Sr. Deputado Cristóvão Norte, posso dizer-lhe que a taxa de lucro, ou seja, a margem financeira que existe entre o valor da extração de petróleo e o valor a que o barril de petróleo chega ao mercado internacional é acima dos 300%! Repito, é acima dos 300%!

Vozes do PSD: — Eh!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Portanto, Sr. Deputado, essa circunstância faz com que uma boa parte da formação dos preços de petróleo no mercado internacional seja influenciada por preços de natureza monopolista que são fornecidos para o mercado do Brent, ficando, com isso, fortemente condicionada a evolução do preço no mercado dos combustíveis a nível internacional.

Sr.as e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda está…

Protestos do Deputado do PSD Cristóvão Norte.

O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Está envergonhado?!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — … disponível para rever, nesta Sessão Legislativa e na próxima, a formação do preço no mercado dos combustíveis e atuar em conformidade, evitando o libelo acusatório contra a fiscalidade sobre os combustíveis e atuando sobre todas as componentes da cadeia de valor, de maneira a tornar os preços mais transparentes e, sobretudo, mais baixos.

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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Sara Madruga da Costa.

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, este debate põe a nu e revela uma vez mais a permanente contradição do Bloco de Esquerda.

Senão, vejamos: então, o Bloco aprovou com o Governo esta solução de aumento do imposto sobre os produtos petrolíferos — em 2016, em 2017 em 2018 — e ainda ontem a Sr.ª Deputada Catarina Martins veio dizer que está na altura de este Governo cumprir o prometido e baixar o ISP?!

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Sr. Deputado, com base na sua intervenção, podemos concluir que vai aprovar o projeto de resolução do PSD?!

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Exatamente! Diga lá como é que vai votar!

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Sr.as e Srs. Deputados, na realidade, o que todos nós já percebemos, e os portugueses também, é que o Bloco de Esquerda diz uma coisa mas depois, pela calada, faz outra.

O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — É à Bloco!

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — É o conhecido oportunismo político de um partido que tem sempre duas caras. O Bloco de Esquerda é como o deus Jano, o famoso deus da mitologia greco-romana que tem uma cara a olhar para a frente e outra cara a olhar para trás. Quando lhe convém finge ser oposição, quando não lhe convém fica caladinho, mas continua a mandar neste Governo.

Sr.as e Srs. Deputados, todos os portugueses sabem que o Bloco de Esquerda aprovou este aumento de impostos. Com este nono aumento do preço dos combustíveis caiu, uma vez mais, uma das muitas máscaras do Bloco de Esquerda. O Bloco bem pode continuar a dizer o que quiser, pois todos sabemos que é cúmplice do Governo neste saque ao bolso das famílias e dos empresários.

Graças ao Bloco de Esquerda, Sr.as e Srs. Deputados, os portugueses pagam os combustíveis mais caros do mundo.

Sr.as e Srs. Deputados, o que tem o Bloco de Esquerda, em especial a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, a dizer sobre aquilo que apelidou de um aumentozinho dos combustíveis?

O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — O Bloco de Esquerda mantém ou não a posição de que é preferível aplicar impostos sobre os combustíveis a prejudicar o rendimento dos portugueses? Como se isso não fosse a mesma coisa… É sempre a mesma contradição!

Vozes do PSD: — Muito bem!

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Qual é a posição do Bloco de Esquerda sobre esta matéria? O Bloco de Esquerda mudou ou não de opinião? E não venham dizer, como já disseram, que a culpa do aumento dos combustíveis é dos outros — é dos mercados, é do Trump, é do anterior Governo, é das privatizações, é da banca, é de terceiros. Sr.as e Srs. Deputados, já ninguém vai nessa conversa.

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A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Sr.as e Srs. Deputados, a culpa do aumento dos combustíveis é deste Governo, mas também é do Bloco de Esquerda. Ah, pois é!

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Muito bem!

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — O socialismo, Sr.as e Srs. Deputados, está a tornar o combustível num bem inacessível à maior parte dos portugueses. O PSD foi sempre contra este caminho e contra esta forma encapotada de fazer austeridade.

O caminho do Governo e da frente de esquerda, onde se inclui também o Bloco de Esquerda, é um caminho errado e é um caminho injusto. É um caminho errado e é um caminho injusto, porque penaliza todos por igual, sem olhar ao rendimento e às possibilidades de cada um. No final do dia, Sr.as e Srs. Deputados, todos pagam o mesmo: paga o rico, paga o pobre, paga quem ganha muito, mas também paga quem ganha pouco. E o problema é que o impacto real é em quem ganha pouco, não é em quem ganha muito.

Sr.as e Srs. Deputados, para finalizar, a história ensinou-nos que as contradições levaram ao fracasso do socialismo e diz-nos o povo que a verdade vem sempre ao de cima.

Por isso, Sr.as e Srs. Deputados, é altura de o Bloco de Esquerda assumir as suas responsabilidades e dizer se, afinal, é a favor ou contra este aumento dos impostos sobre os combustíveis. Sim ou não? Eis a questão.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Heitor Sousa.

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Sara Madruga, aconselho-a a consultar a página na internet da Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis (ENMC) para perceber como é que se forma o preço dos combustíveis e como é que se determinam as taxas do ISP, a taxa de carbono, a contribuição de serviço rodoviário. Tudo isso faz parte da fiscalidade sobre os combustíveis e é um valor fixo, Sr.ª Deputada — fixo!

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Concorda ou não?!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — O que varia ao longo do ano é a receita do IVA que incide sobre os combustíveis, isso é que varia, porque é uma percentagem. O resto é fixo, tem a ver com um valor que é anualmente aprovado na Lei do Orçamento. Percebeu?! Pronto!

Vozes do PSD: — Oh!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Então, Sr.ª Deputada, agora explico-lhe que o chamado «adicional do ISP» foi calculado para ser preferencialmente neutral do ponto de vista da receita do IVA — do IVA! —, que é uma receita percentual. E, por isso, esse adicional é também um valor percentual que se junta aos outros valores, que são fixos, para no fim a receita fiscal não variar em relação àquilo que estava orçamentado e projetado.

A Sr.ª Sara Madruga da Costa (PSD): — Ainda não respondeu à minha pergunta!

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Na realidade, grande parte deste aumento de impostos que hoje estamos a sofrer e do qual a Sr.ª Deputada fala tem a ver não com o aumento de impostos e taxas, mas com o aumento do preço de Brent no mercado internacional. Esse, sim, está a aumentar, e é sobre esse valor do preço no mercado internacional que, no conjunto, incidem o IVA e também o aumento da fiscalidade.

Portanto, Sr.ª Deputada, é preciso perceber quais são as várias componentes na formação do preço dos combustíveis. E, por isso, o Bloco está disponível para, de uma vez por todas, se fazer um trabalho sério e aprofundado sobre a razão de ser do aumento do preço dos combustíveis, para perceber porque é que, quando o preço do Brent aumenta, o preço dos combustíveis aumenta imediatamente, «em foguetão», e, quando o preço do Brent baixa, o preço dos combustíveis em Portugal aumenta como se fosse uma pluma, mais ou menos.

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Este tipo de desigualdade no comportamento do mercado dos combustíveis em Portugal revela que não estamos a falar de um mercado livre, de um mercado transparente, de um mercado concorrencial, mas de um mercado em que a formação de preços é fortemente condicionada pelas grandes empresas oligopolistas e monopolistas.

Portanto, Sr.ª Deputada, nós, Bloco de Esquerda, nesta Legislatura… O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado. O Sr. Heitor Sousa (BE): — Vou já concluir, Sr. Presidente.

Como dizia, nós, nesta Legislatura, pugnámos e conseguimos que a maioria política aprovasse uma sistemática redução da sobretaxa extraordinária sobre o imposto do IRS (imposto sobre o rendimento das pessoas singulares), que acabou por ser eliminada, e aumentámos o número de escalões do IRS, tendo, com isso, baixado a carga fiscal sobre as famílias.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem mesmo de concluir, Sr. Deputado.

O Sr. Heitor Sousa (BE): — Desse ponto de vista, o Bloco de Esquerda, juntamente com esta maioria política, deu provas de eliminar completamente o efeito nas famílias do formidável aumento de impostos que o PSD e o CDS decidiram no primeiro Orçamento que tiveram a oportunidade de fazer aprovar nesta Assembleia.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Bruno Dias, do PCP.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A atual situação do preço dos combustíveis — gasóleo, gasolina, GPL (gás de petróleo liquefeito), gás natural — em Portugal é inseparável da política que manteve em níveis elevados a dependência e o défice energético do País, que privatizou empresas estratégicas como a Galp, a EDP (Energias de Portugal) ou a REN (Redes Energéticas Nacionais), que liberalizou os preços, que submeteu as políticas energética e de transportes aos interesses dos monopólios, que agravou a carga fiscal sobre os produtos energéticos de diverso tipo, uma responsabilidade que é partilhada por sucessivos governos do PSD, do PSD e do CDS e do PS…

O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Do PS com o apoio do PCP!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — … e que prejudicou o País e a economia nacional.

O PCP denuncia a profunda demagogia com que o PSD e o CDS têm vindo a abordar esta matéria, visando o branqueamento das suas responsabilidades.

O Sr. António Filipe (PCP): — Exatamente!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Foi com o Governo PSD/CDS de Durão Barroso e Paulo Portas que os preços dos combustíveis foram liberalizados, aumentando desta forma os lucros das empresas petrolíferas, designadamente da Galp. Foi com o Governo PSD/CDS de Passos Coelho e de Paulo Portas que todos os produtos energéticos passaram a ter a taxa máxima de IVA, 23%.

O Sr. António Filipe (PCP): — Exatamente!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Foram o PSD e o CDS que, ao longo dos anos, votaram sucessivamente, ao lado do PS, a rejeição das muitas propostas que o PCP foi apresentando e que visavam a redução dos preços dos combustíveis e da energia elétrica e a sua harmonização com os preços praticados por outros países europeus.

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O persistente combate do PCP contra o agravamento do preço dos combustíveis, bem como dos restantes produtos energéticos, não começou hoje nem se esgota na dimensão da carga fiscal. Se a carga fiscal existente é inseparável da política de direita que, ao longo dos anos, aumentou os impostos sobre o consumo e sobre os rendimentos do trabalho, ao mesmo tempo que os reduziu sobre o grande capital, aprofundando injustiças e desigualdades na sociedade portuguesa, não é menos verdade que estes impostos não podem fazer esquecer os escandalosos lucros, quer das petrolíferas quer das empresas do sistema electroprodutor, que nem o PS nem o PSD nem o CDS questionam, lucros escandalosos que confirmam que as chamadas «entidades reguladoras» apenas contribuíram para o branqueamento de uma política ao serviço dos monopólios.

Face ao agravamento do preço do petróleo nos mercados internacionais, o PCP considera que é necessário e é possível reduzir a carga fiscal sobre os produtos energéticos. Para além do necessário ajustamento em relação ao ISP que foi prometido, e não concretizado, pelo Governo PS e da redução da incorporação obrigatória de biocombustíveis para 5,5%, proposta que o PCP apresentou no Orçamento do Estado e que foi rejeitada, porque não teve o voto favorável nem do PS nem do PSD nem do CDS,…

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Bem lembrado!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — … é urgente avançar com a redução do IVA sobre a eletricidade, sobre o gás natural e sobre o gás de botija.

Para o PCP, é necessário e é possível reduzir os lucros escandalosos das empresas do setor, em benefício dos consumidores, das populações, da economia nacional, das micro, pequenas e médias empresas, repondo a regulação dos preços numa matéria-prima que é estratégica para a economia nacional. É necessário que o Governo PS concretize as medidas plasmadas e apresentadas na Resolução da Assembleia da República n.º 240/2016, que foi aprovada neste Parlamento por proposta do Partido Comunista Português, nomeadamente o estabelecimento de um mecanismo de preços máximos tendo como referência os preços médios antes de impostos da zona euro, o desenvolvimento de redes de combustíveis alternativos — gás natural, GPL — e a avaliação das violações de concorrência no mercado de combustíveis, porque o processo que foi desencadeado relativamente à auditoria às normas de formação dos preços dos combustíveis resulta precisamente da proposta do PCP que foi aprovada e que deu origem a esta Resolução da Assembleia da República, a qual não fica por aqui relativamente ao que já está a ser concretizado.

Para o PCP, é necessário e é possível aprofundar uma política de apoio aos setores produtivos — agricultura, pesca, transporte de passageiros e mercadorias —, na qual se tem empenhado, como demonstram os avanços alcançados, por proposta do PCP, nos últimos Orçamentos do Estado, relativamente aos apoios ao gasóleo agrícola e à gasolina das pescas.

Temos desenvolvido um conjunto de propostas de forma sistemática, fundamentada, com rigor e, sobretudo, com o objetivo concreto de agir com medidas políticas para responder aos problemas que são sentidos pelas populações, pelas pequenas empresas, pelos setores produtivos, perante a política desastrosa que foi imposta ao longo destes anos, uma política de direita que tem beneficiado sistematicamente os interesses dos mais poderosos grupos económicos do setor petrolífero.

O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Não podemos continuar com esta política, não podemos continuar a deixar intocados os lucros extraordinariamente altos das empresas do setor e das multinacionais. Temos de dar uma resposta efetiva para defender o interesse da população portuguesa e da economia nacional perante este poder económico das multinacionais.

Para o PCP, é necessário e é possível abrir caminho a uma política que tenha como objetivo reduzir a dependência energética e assegurar a soberania do País também nesta dimensão, objetivo que reclama uma estratégia nacional, visando a recuperação do controlo público deste setor estratégico.

É nesse sentido que o PCP continuará a intervir.

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