• Nenhum resultado encontrado

Evidências Farmacológico-Clínicas para o Uso das Heparinas de Baixo Peso Molecular nas Síndromes Coronarianas Agudas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Evidências Farmacológico-Clínicas para o Uso das Heparinas de Baixo Peso Molecular nas Síndromes Coronarianas Agudas"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

184 184 184 184 184

Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Correspondência: Guido Aranha Rosito - Serviço de Cardiologia - Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Rua Ramiro Barcelos, 2350 - 90035-007 - Porto Alegre - RS - E-mail: guidorosito@cpovo.net

Recebido para publicação em 9/6/00 Aceito em 25/10/00

Guido Aranha Rosito, Otávio Berwanger da Silva, Jorge Pinto Ribeiro

Porto Alegre, RS

Evidências Farmacológico-Clínicas para o Uso das Heparinas

de Baixo Peso Molecular nas Síndromes Coronarianas Agudas

As síndromes coronarianas agudas incluem quadros clínicos com prognóstico variável, como infarto agudo do miocárdio não-Q e angina instável 1-4. A unificação de

dife-rentes manifestações de isquemia miocárdica sob um termo comum, embora discutível, reflete sua fisiopatologia similar. Erosão, fissura ou ruptura de placa aterosclerótica 5-7

relati-vamente pequena, obstruindo habitualmente menos de 50% da luz arterial 8-10, acarreta ativação plaquetária e

gera-ção de trombina, formando um trombo 11,12.

Dessa forma, a inibição da atividade da trombina com heparina, adicionada a um inibidor da agregação plaque-tária, como a aspirina, parece uma abordagem racional. Essa hipótese foi testada por vários estudos randomizados 13-17,

com resultados favorecendo o uso desta combinação, po-rém com eficácia questionável para a heparina. Metanálise publicada por Oler e cols. 18 confirmou esses achados,

de-monstrando que a heparina adicionada à aspirina reduziu em 33% um desfecho combinado de morte e infarto agudo do miocárdio. É importante salientar que, isoladamente, os estudos incluídos nessa revisão apresentaram limitações metodológicas e resultados heterogêneos. Além disso, desvantagens clínicas e práticas da heparina, como a neces-sidade de monitorizar o tempo de tromboplastina parcial ativado, uma resposta anticoagulante pouco previsível e a indução de trombocitopenia, levaram a aumentado interesse pelas heparinas de baixo peso molecular 19,20. Recentemente,

a eficácia desses fármacos na angina instável e infarto agudo do miocárdio sem supradesnível do segmento ST foi testada em diversos estudos randomizados 21-27,

destacando-se o FRISC 22, o FRISC II 23 , o FRIC 24, o

ESSENCE 25, o FRAXIS 26 e o TIMI 11B 27. A análise

conjunta dos estudos citados sugere uma eficácia diferenciada para as heparinas de baixo peso molecular nas síndromes coronarianas agudas. A disparidade de resultados poderia ser explicada por aspectos da farmacologia de cada heparina de baixo peso molecular ou das características de cada estudo. Neste artigo, analisam-se as evidências farmacológico-clínicas que apóiam o uso das heparinas de baixo peso molecular nas síndromes coronarianas agudas.

Farmacologia comparada das heparinas de

baixo peso molecular

O conhecimento de aspectos da farmacologia funda-mental deve constituir-se em base teórica para hipóteses a serem testadas pela pesquisa clínica, na busca da melhor evi-dência, além de racionalizar e individualizar a terapêutica 28-30.

Várias vantagens teóricas na farmacologia das heparinas de baixo peso molecular, em relação à heparina não fracionada, têm sido apontadas. Estas vantagens traduzem-se em um efeito anticoagulante mais previsível e duradouro. No entanto, isto não caracteriza as heparinas de baixo peso molecular como um grupo homogêneo. Algumas pecu-liaridades farmacodinâmicas e farmacocinéticas de cada medicamento poderiam explicar as diferenças de eficácia no tratamento das coronariopatias.

A primeira descrição de um processo para obter-se uma heparina de baixo peso molecular pertence a um cientista brasileiro, Dietrich, na década de 60 31-33. Parte do

efeito anticoagulante das heparinas de baixo peso mole-cular ocorre através da ativação da antitrombina (previa-mente conhecida como antitrombina III), principal meca-nismo de ação da heparina não fracionada 34. Contudo, ao

contrário da heparina convencional, as heparinas de baixo peso molecular possuem a maior atividade contra o fator Xa, o qual inibe a transformação da protrombina em trombina, resultando em maior razão anti Xa/IIa 35. Desta forma, o

principal mecanismo de ação das heparinas de baixo peso molecular dá-se em etapa anterior à trombina, impedindo sua geração.

(2)

185 185 185 185 185 Além desse mecanismo de ação principal outros

também poderiam contribuir para a o efeito antitrombótico das heparinas de baixo peso molecular, como a liberação do inibidor do fator tissular, a modulação do endotélio vascular e a estimulação da fibrinólise. Além disso, estudos in vitro têm sugerido que esses fármacos possuem ação antipla-quetária, via inibição do fator de von Willebrand e da expressão de P-selectina 36,37.

As principais diferenças farmacocinéticas entre as heparinas de baixo peso molecular e a heparina não fracio-nada basicamente são explicadas por uma menor interação com proteínas plasmáticas, células endoteliais, plaquetas e macrófagos 38, acarretando maior biodisponibilidade. As

heparinas de baixo peso molecular possuem pouca meta-bolização hepática e uma excreção renal lenta e prepon-derante, com meia-vida duas a quatro vezes mais longa. A melhor biodisponibilidade, a excreção dose-independente e a menor afinidade por proteínas implicam uma resposta anticoagulante previsível (tab. I). Assim, a monitorização laboratorial é desnecessária na maioria dos pacientes, à exceção daqueles com insuficiência renal e com peso menor de 50kg ou maior de 80kg 39, para os quais pode ser útil a

aferição do fator Xa.

O principal risco associado ao uso de heparinas de baixo peso molecular é a formação de hematoma no local da injeção. Nos estudos clínicos citados anteriormente, a incidência de sangramentos maiores foi aceitável, variando de 0 a 6,5%, não havendo diferenças clinicamente rele-vantes entre as heparinas de baixo peso molecular e a heparina não fracionada. 40 Os sangramentos menores, por

sua vez, foram mais comuns com as heparinas de baixo peso molecular. No estudo ESSENCE 25, por exemplo, seria

necessário que 21 pacientes recebessem enoxaparina para que um deles sofresse um episódio de sangramento menor, sendo que o número necessário para o dano foi de 12 no estudo FRISC 22. Contudo, tal diferença deveu-se

basica-mente a hematomas nos locais de injeção do fármaco. Outros eventos indesejáveis, como trombocitopenia e reações alérgicas, foram raros nos diferentes estudos, com taxas inferiores a 1%. A grande desvantagem das heparinas de baixo peso molecular em relação à heparina não fracio-nada é a ausência de um antídoto com resposta dose-dependente. No entanto, a protamina pode ser utilizada para antagonizar parte da ação das heparinas de baixo peso molecular.

As heparinas de baixo peso molecular exibem dife-renças estruturais e farmacológicas que, teoricamente, poderiam ser responsáveis pelos diferentes resultados obtidos nos ensaios em síndromes isquêmicas agudas. As heparinas de baixo peso molecular são obtidas da heparina através de diferentes processos físicos e/ou químicos. Nadroparina e dalteparina têm como método de preparação a clivagem deaminativa com óxido nitroso e a enoxaparina por benzilação e um tratamento alcalino.

A farmacocinética destas três substâncias também mostra diferenças (tab. II). A absorção da nadroparina é mais lenta que a da dalteparina, que por sua vez é mais lenta que a da enoxiparina. A dalteparina tem a meia-vida mais curta e enoxaparina a mais longa. A razão anti fator Xa/IIa, o dado farmacodinâmico mais importante nesta classe de anticoagulantes, é maior na enoxaparina, sendo o dobro ou mais que da dalteparina e semelhante à nadroparina. A importância da ação sobre o fator Xa no tratamento das síndromes isquêmicas agudas ainda não está totalmente esclarecida. A partir dos resultados do FRIC (dalteparina) 24

e do TIMI 11B (enoxaparina) 27, foi possível observar que os

pacientes tratados com enoxaparina exibiram maiores taxas de atividade anti-Xa (0,5-0,6 anti-Xa UI/ml) em relação aqueles que receberam dalteparina (0,35-0,37 UI/ml). Essa diferença sugere que possa ter havido um efeito anticoa-gulante subótimo no estudo FRIC 24, o que pode ter

con-tribuído para a ausência de benefício da dalteparina sobre a heparina regular. Outro parâmetro bioquímico que recen-temente tem sido objeto de pesquisa experimental e clínica é a ação das heparinas de baixo peso molecular sobre o fator de von Willebrand. A elevação precoce dos níveis do fator de von Willebrand associou-se com maior incidência de eventos cardiovasculares, e a enoxaparina foi capaz de bloquear tal mecanismo 41, mas não a heparina

conven-cional. O perfil farmacocinético e farmacodinâmico da enoxaparina parece mais favorável (tab. II), por ser absor-vida mais rapidamente, ter maior duração de ação e maior razão anti fator Xa/IIa do que nadroparina e dalteparina. Este perfil poderia explicar a maior eficácia da enoxaparina quando comparada à heparina não fracionada.

Evidências de estudos randomizados e

contro-lados

Alguns estudos iniciais compararam as heparinas de baixo peso molecular com placebo. O pioneiro estudo de Gurfinkel e cols. testou o efeito da nadroparina adicionada Tabela I - Mecanismos responsáveis pelas vantagens farmacocinéticas

das heparinas de baixo peso molecular em relação à heparina não racionada

Vantagem Mecanismo

Resposta anticoagulante mais Menor ligação com proteínas

previsível plasmáticas

Melhor biodisponibilidade Menor ligação com o endotélio Excreção independente da dose Menor ligação com macrófagos Meia-vida mais longa Menor ligação com macrófagos Adaptado de Weitz JI. N Engl J Med 1997; 337: 688-97.

Tabela II - Peso molecular e características farmacológicas das heparinas de baixo peso molecular em humanos

Peso Biodispo- Meia-vida Acão

molecular nibilidade Xa/IIa

Enoxaparina 3000 91% 4,5h 3.9

Nadroparina 3000 67% 3h 3.5

(3)

186 186 186 186 186

ao ácido acetilsalicílico no tratamento em 211 pacientes com síndromes coronarianas agudas 21. Pela análise de intenção

de tratar, houve uma pequena eficácia para o desfecho de angina refratária fatal. Nenhum paciente que recebeu heparina de baixo peso molecular apresentou o desfecho de infarto do miocárdio contra 9,5% do grupo tratado apenas com aspirina. Esse ensaio, devido ao seu baixo poder estatístico e baixa incidência de eventos, deve ser consi-derado uma evidência preliminar.

O estudo FRISC randomizou 1.506 pacientes para receber, além do tratamento antianginoso e ácido acetil-salicílico, dalteparina ou placebo 22. Ao final de seis dias de

tratamento, obteve-se redução para o desfecho combinado de morte e infarto agudo do miocárdio. Esse benefício permaneceu significativo após 40 dias de tratamento, sendo perdido após 150 dias de seguimento.

O FRISC II teve um delineamento fatorial, permitindo duas comparações simultâneas: dalteparina versus placebo e estratégia conservadora versus invasiva. Houve dife-rença favorável à dalteparina para o desfecho combinado de morte por todas as causas e infarto do miocárdio em um mês. Entretanto, após três e seis meses a diferença anterior-mente encontrada perdeu significância 23.

O FRIC foi o primeiro grande estudo randomizado (n=1.482) comparando as heparinas de baixo peso mole-cular e não fracionada adicionadas ao ácido acetilsalicílico no tratamento de angina instável e infarto do miocárdio sem supradesnível do segmento ST 24. Na fase aguda (seis

dias), não se encontrou diferença entre a dalteparina e a heparina convencional para um desfecho de mortalidade total, infarto do miocárdio e angina recorrente. Entre 6 e 45 dias, a taxa do evento combinado foi de 12,3 % em ambos os grupos (intervenção e controle), concluindo-se que a dalteparina não conferiu nenhum benefício adicional ao tratamento controle.

No estudo ESSENCE, 3.171 pacientes com angina instável e infarto agudo do miocárdio sem supradesnível do segmento ST foram randomizados para receber enoxaparina ou heparina não fracionada 25. Após 14 dias, houve redução

do desfecho primário combinando mortalidade total, infarto e angina. Esse benefício deveu-se principalmente à redução de 17% na incidência de angina recorrente. O efeito sobre mortalidade total e infarto agudo do miocárdio, quando avaliados isoladamente, não atingiu significância esta-tística. O seguimento demonstrou que o efeito benéfico da enoxaparina foi mantido após um ano de tratamento. Pela primeira vez, demonstrou-se vantagem sobre uma com-binação de desfechos relevantes de uma heparina de baixo peso molecular em relação à heparina convencional em síndrome coronariana aguda.

Recentemente, foram publicados os resultados do estudo FRAXIS 26. Randomizaram-se 3.468 pacientes em

três grupos, sendo que um recebeu nadroparina por seis dias, outro por 14 dias e o 3º recebeu heparina não fracio-nada por seis dias. Após 6, 14 e 90 dias, a taxa absoluta de um desfecho combinado (mortalidade total, infarto agudo do

miocárdio, angina recorrente e necessidade de revas-cularização) foi semelhante nos três grupos.

No ensaio clínico TIMI 11B, 4.021 pacientes foram randomizados para testar a hipótese de que a enoxaparina é superior à heparina não fracionada durante a fase aguda (oito dias) e superior ao placebo em 35 dias em relação a desfechos combinados 27. Ao final de 14 dias, houve

redução na incidência morte, infarto e revascularização. Esse efeito benéfico inicial da enoxaparina manteve-se após 43 dias de tratamento, não havendo necessidade de estender o tratamento além da fase aguda.

Antman e cols. 42 realizaram metanálise (TESSMA)

comparando a enoxaparina com a heparina não fracionada, utilizando os dados dos estudos ESSENCE e TIMI 11B. Comparada à heparina não fracionada, a enoxaparina reduziu em 23% um desfecho de morte e IAM em oito dias. Houve aumento, contudo da incidência de sangramentos entre os que receberam enoxiparina.

Eikelboom e cols 43 publicaram recentemente

meta-nálises sobre o uso de heparina não fracionada comparada ao placebo, heparina não fracionada comparada às hepa–– rinas de baixo peso molecular na fase hospitalar e uso domiciliar heparina de baixo peso molecular. Os resultados sugerem que, na angina instável e infarto não Q, há superio-ridade de qualquer tipo de heparina em relação ao placebo, equivalência entre as heparinas não fracionada e de baixo peso molecular e nenhuma vantagem em estender o trata-mento além do período inicial. A metanálise dos estudos comparativos entre heparinas de baixo peso molecular e heparina não fracionada vem sendo objeto de críticas devido ao fato de alguns desses estudos terem apresentado uma baixa incidência de eventos. Desta forma, haveria pouco poder estatístico dessa metanálise para a detecção de diferenças entre tratamentos, levando a um erro tipo II.

Limitações metodológicas

Baseado nos resultados desses ensaios clínicos, pode-se concluir que as heparinas de baixo peso molecular são pelo menos tão eficazes quanto a heparina não fracio-nada e que a enoxaparina foi a única heparina de baixo peso molecular a demonstrar alguma superioridade sobre a heparina não fracionada 44. Esses achados sugerem que

possa haver diferenças de eficácia entre as heparinas de baixo peso molecular 29. Tanto diferenças farmacológicas

quanto metodológicas poderiam explicar os discrepantes resultados entre os ensaios clínicos randomizados (tabs. II, III e IV).

Quanto ao critério de seleção nos estudos ESSENCE 25

e TIMI 11B 27, os pacientes que foram randomizados haviam

tido o episódio de dor torácica até 24h antes, enquanto que nos ensaios FRIC 24 e FRAXIS 26, até 72h. Outra diferença

se refere ao risco dos pacientes selecionados em cada estudo. Teoricamente, quanto maior o risco absoluto do indivíduo, maior o benefício potencial de uma intervenção terapêutica ou preventiva 28. Nos dois estudos que

(4)

187 187 187 187 187 heparina não fracionada, a amostra possuía maior risco

potencial. Por exemplo, no ESSENCE 25 e no TIMI 11B 27

havia uma proporção maior de pacientes com infarto agudo do miocárdio não-Q (21 e 34%, respectivamente) em relação ao estudo FRIC 24, no qual apenas 16% tinham esse

diag-nóstico. Adicionalmente, as taxas de revascularização miocárdica, as quais também são um marcador de risco, variaram entre os diferentes ensaios clínicos. Por exemplo, a taxa cumulativa de revascularização, tanto no braço inter-venção quanto no braço placebo do estudo FRIC 24, foi

aproximadamente 19%, a qual é substancialmente menor do que os valores do ESSENCE 25, que foram de 32,2% e de 27%

nos grupos controle e intervenção respectivamente. As doses das heparinas de baixo peso molecular e mesmo das heparinas não fracionadas foram diferentes de estudo para estudo, de modo que a intensidade da anticoa-gulação provavelmente variou entre os ensaios clínicos.

Viabilidade econômica

Dentro da perspectiva de uma prática médica baseada não somente em evidências mas também em custo-efetivi-dade, cada vez mais tem se dado ênfase às análises econô-micas 45. Já existia evidência satisfatória de que as heparinas

de baixo peso molecular eram mais custo-efetivas do que a heparina convencional em outras situações clínicas, como no tratamento e prevenção da trombose venosa profunda 46-48.

Em 1998, foi publicado um subestudo econômico a partir do ensaio clínico ESSENCE, envolvendo 923 pacientes 49. O

custo médico total por paciente não foi diferente para a enoxaparina e a heparina convencional na hospitalização inicial (U$ 11,857 e U$ 12,620, respectivamente). Em 30 dias de tratamento, contudo, obteve-se uma economia cumula-tiva de U$ 1,172 por paciente com o emprego da enoxapa-rina. O delineamento mais adequado para avaliar-se a ques-tão seria a análise de custo-utilidade (que leva em conta quantidade e qualidade de vida); contudo, na ausência dessa, pode-se considerar que a enoxaparina apresenta vantagem econômica sobre a heparina não fracionada. Uma análise comparativa entre custos diretos da utilização de heparina fracionada e de baixo peso realizada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre mostrou um custo semelhante entre as heparinas. Levando em consideração gastos com os fármacos, de laboratório e utilização de bombas de infusão o resultado foi favorável às heparinas de baixo peso mole-cular. Com esse resultado favorável, julgou-se desne-cessária um análise de custo-efetividade

Conclusão

A partir dos resultados das evidências revisadas conclui-se que as heparinas de baixo peso molecular possuem recomendação classe I no tratamento das síndro-mes coronarianas agudas (ou seja, indicação baseada em

Tabela III - Características dos estudos randomizados de fase aguda que compararam heparinas de baixo peso molecular com a heparina não fracionada em angina instável

Características ESSENCE TIMI 11B FRIC FRAXIS Gurfinkel

0HBPM Enoxaparina Enoxaparina Dalteparina Nadroparina Nadroparina

30mg em bolo

Posologia 1mg/kg bid 2-8dias 1mg/kg bid 3-8dias 120UI/kg bid 6dias 87UI/kg bid 6dias 214UCI/kg bid 6dias

HNF Bolo+infusão Bolo+infusão Bolo+infusão Bolo+infusão Bolo+infusão

2-8 dias 3-8 dias (bid após 48h) 6dias 6 dias 5-7 dias

Angina Instável 70% 59% 84% 75% 62% IAM não-Q 21% 34% 16% 15% 38% Hipertensão 54% 50% 39% 54% 32% IAM prévio 46% 32% 25% - 29% Fumantes 24% 27% 27% 23% 20% Uso de AAS 62% 83% 56% 56% 36%

IAM- infarto agudo do miocárdio; AAS- ácido acetilsalicílico.

Tabela IV - Resumo do efeito das heparinas de baixo peso molecular versus heparina não fracionada sobre desfechos combinados (morte, infarto do miocárdio, angina refratária ou necessidade urgente revascularização) nos grandes ensaios clínicos randomizados

Estudo Desfecho Seguimento HBPM Heparina NNT (Intervalo de Confiança 95%)

FRIC Morte/IAM/angina 6 dias 9.3% 7.6% 59 (NND 90 até ! até NNT 22)

ESSENCE Morte/IAM/angina 14 dias 16.6% 19.7% 31 (17 até 191)

FRAXIS Morte/IAM/angina 14 dias 17.8% 18.1% 333 (NND 35 até ! até NNT 29)

TIMI 11B Morte/IAM/revasc. 14 dias 24.6% 26.2% 62 (NND 91 até ! até NNT 23)

* os intervalos de confiança de 95% para o NNT (número necessário para tratar) estão expressos segundo a recomendação de Altman DG. Confidence intervals for the number needed to treat. Br Med J 1998; 317: 1309, onde NND = número necessário para o dano; IAM- infarto agudo do miocárdio;

(5)

188 188 188 188 188

Referências

evidências obtidas em estudos randomizados adequada-mente delineados, com desfechos clinicaadequada-mente relevantes e poder estatístico). Até o momento, a enoxaparina é a única heparina de baixo peso molecular que mostrou-se superior à heparina não fracionada, sendo a dalteparina e a nadro-parina no mínimo tão eficazes quanto a henadro-parina não fracio-nada (fig. 1). Isto sugere que a enoxaparina deve fazer parte do tratamento padrão atual da angina instável e infarto sem supradesnível do segmento ST, o que foi corroborado por diretrizes conjuntas recentes da Associação Americana de Cardiologia e Colégio Americano de Cardiologia 50. A

hepa-rina não fracionada seria utilizada em pacientes de alto risco sujeitos a angiografia, angioplastia e antagonistas IIb/IIIa, embora existam estudos em andamento sobre a utilização de heparinas de baixo peso molecular em angioplastia coro-nariana. Adicionalmente, as heparinas de baixo peso mo-lecular tornam-se opções atrativas em síndromes coro-narianas agudas, visto que a monitorização é desnecessária na maior parte dos pacientes e dispensa-se o uso de bombas de infusão endovenosa e ajustes constantes de dose.

Comparações diretas entre a enoxaparina, a daltre-pariana e a nadroparina, ficam comprometidas pelas diferenças farmacológicas e metodológicas entre os estudos, o que só seria possível com estudos randomizados comparativos delineados com tal objetivo.

No contexto do manejo contemporâneo das síndro-mes coronarianas agudas, as heparinas de baixo peso mole-cular podem ser utilizadas conforme a estratificação do risco dos pacientes. Pacientes de baixo risco devem receber ácido

Fig. 1- Efeito das HBPM sobre desfecho combinado nos grandes estudos randomizados

acetilsalicílico, betabloqueadores, nitratos e realizar testes não invasivos de indução de isquemia. Para pacientes com risco intermediário deve ser adicionado heparina de baixo peso molecular. Finalmente, pacientes de alto risco, caracte-rizados por alterações extensas no eletrocardiograma e au-mento de marcadores séricos de isquemia e lesão, poderiam receber, além das heparinas de baixo peso molecular, inibi-dores dos receptores da glicoproteína IIb/IIIa por via intra-venosa e devem ser considerados para revascularização miocárdica. Neste caso, pode-se optar pelo uso de heparina não fracionada até que novas evidências indiquem qual conduta é mais eficiente.

1. Simoons ML, Boersma E, van der Zwaan C, Deckers JW. The challenge of acute coronary syndromes. Lancet 1999; 353(suppl II): 1-4.

2. Theroux P, Fuster V. Acute coronary syndromes. Unstable angina and non-Q wave myocardial infarction. Circulation 1998; 97: 1195-206.

3. Cannon CP, Mccabe CH, Stone PH, et al. The electrocardiogram predicts one-year outcome of patients with unstable angina and non-Q wave myocardial infarction: results of the TIMI III Registry ECG Ancillary Study. J Am Coll Cardiol 1997; 30: 133-40.

4. Nyman I, Areskog M, Areskog NH, Swahn E, Wallentin L. Very early risk stratification electrocardiography at rest in men with suspectes unstable coronary heart disease. The RISC Study Group. J Intern Med 1993; 234: 293-301. 5. Libby P. Molecular bases of the acute coronary syndromes. Circulation 1995; 91:

284- 51.

6. Fuster V, Gotto AM, Libby P. Matching the intensity of risk factor management with the hazard for coronary disease events. Pathogenesis of coronary disease: the biologic role of risk factors. J Am Coll Cardiol 1996; 27: 964-76. 7. Davies MJ, Richardson PD, Woolf N, et al. Risk of thrombosis in human

atherosclerotic plaques: role of extracellular lipid, macrophages, and smooth muscle content. Br Heart J 1993; 69: 377-81.

8. Ambrose JA, Tannenbaum M, Alexpouloos D, et al. Angiographic progression of coronary artery disease and the development of myocardial infarction. J Am Coll Cardiol 1988; 12: 56-62.

9. Little WC, Connstanninescu M, Applegate RJ, et al. Can coronary angiography predict the site of a subsequent myocardial infarction in patientes with mild-to-moderate coronary artery disease? Circulation 1998; 78: 1157-66. 10. Stary HC, Chandler AB, Dinsmore RE, et al. A definition of advanced type of

atherosclerotic lesions and a histological classification of atherosclerosis. A report from the Committee on Vascular Lesions of the Council on Arteriosclerosis, American Heart Association. Circulation 1995; 92: 1355-74.

11. Fernandez-Ortiz A, Badimon J, Falk E, et al. Characterization of the relative thrombogenicity of atherosclerotic plaque components: implications for consequences of plaque rupture. J Am Coll Cardiol 1994; 23: 1562-9. 12. Falk E, Shah PK, Fuster V. Coronary plaque disruption. Circulation 1995; 92:

657-71.

13. The RISC Study Group. Risk of myocardial infarction and death during treatment with low dose asporin and intravenous heparin in men with unstable coronary artery disease. Lancet 1990; 336: 827-30.

14. Theroux P, Ouimet H, McCans J, et al. Aspirin, heparin or both to treat acute unstable angina. N Engl J Med 1988; 319: 1105-11.

15. Cohen M, Adams PC, Parry G, et al. Combination antithrombotic therapy in resting angina pectoris or non-Q wave myocardial infarction in preventing death and myocardial infarction. Am J Cardiol 1990; 66: 1287-92.

16. Cohen M, Adams PC, Parry G, et al. Combination antithrombotic therapy in resting angina and non-Q wave myocardial infarction in non prior aspirin users: primary endpoint analysis from the ATACS Trial. Circulation 1994; 89: 81-8. 17. Holdright D, Patel D, Cunningham D, et al. Comparison of the effect of heparin and

aspirin versus aspirin alone on transient myocardial ischemia and in-hospital prognosis in patientes with unstable angina. J Am Coll Cardiol 1994; 24: 39-45. 18. Oler A, Whooley MD, Oler J, Grady D. Adding heparin to aspirin reduces the incidence of myocardial infarction and death in patients with unstable angina: a meta-analysis. JAMA 1996; 276: 811-5.

19. Cairns JA, Lewis HD, Meade TW, et al. Antithrombotic agents in coronary artery disease. Fourth ACCP Consensus Conference on Antithrombotic Therapy. Chest 1995; 108(supll 4): 380S-400S.

20. Weitz JI. Low-molecular-weight heparins. N Engl J Med 1997; 337: 688-98. 21. Gurfinkel EP, Manos EJ, Mejaíl RI, et al. Low molecular weight heparin versus

regular heparin or aspirin in the treatment of unstable angina and silent ischemia. J Am Coll Cardiol 1995; 26: 313-8.

(6)

189 189 189 189 189

22. FRISC Study Group. Low-molecular-weight heparin during instability in coronary artery disease (FRISC). Lancet 1996; 347: 561-8.

23. FRISC II Investigators. Long-term low molecular-mass heparin in unstable coronary-artery disease: FRISC II Prospective Randomised Multicentre Study. Lancet 1999; 354.

24. Klein W, Buchwald A, Hillis SE, et al. Comparison of low-molecular weight heparin with unfractionated heparin acutely and with placebo for 6 weeks in the management of unstable coronary artery disease. Fragmin in unstable coronary artery disease study (FRIC). Circulation 1997; 96: 61-8.

25. Cohen M, Demers C, Gurfinkel EP, et al. A comparison of low-molecular-weight heparin with unfractionated heparin for unstable coronary artery disease. The efficacy and safety of subcutaneous enoxaparin in non-Q-wave coronary events study group (ESSENCE). N Engl J Med 1997; 337: 447-52.

26. The FRAXIS Study Group. Comparison of two treatment durations (6 days and 14 days) of a low molecular weight heparin with a 6 day treatment of unfrac-tionated heparin in the initial management of unstable angina or non-Q wave myocardial infarction: FRAXIS (Fraxiparine in Ischaemic Syndrome). Eur Heart J 1999; 20: 1553-62.

27. Antman EM, McCabe CH, Gurfinkel EP, et al. Enoxaparin for the acute and chronic management of unstable angina/non-Q wave myocardial infarction: Results of TIMI 11B. Circulation 1999; 100: 1593-601.

28. Sackett DL, Rosemberg WM, Gray JAM, et al. Evidence based medicine: what it is and what it isn’t. BMJ 1996; 312: 71-2.

29. Evidence-Based Medicine Working Group. Evidence-based medicine: a new approach to teaching the practice of medicine. JAMA 1992; 208: 2420-5. 30. Sackett DL, Haynes RB. On the need for evidence-based medicine.

Evidence-Based Medicine 1995; 1: 4-5.

31. Dietrich CP, Nader HB, McDuffie CP. Eletrophocusing of heparin - Presence of 21 monomeric and dimeric molecular species in heparin preparations. Anais da Academia Brasileira de Ciências 1975; 47: 301-9.

32. Bianchini P, Osima B, Dietrich CP, et al. Pharmacological activities of heparins obtained from different tissues: enrichment of heparin fractions with high lipoprotein lipase, antihemolytic and anticoagulant activities by molecular sieving and antithrombin III affinity chromatography. Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics. 1992; 220: 406-10.

33. Bianchini P, Osima B, Parma B, et al. Lack of correlation between “in vitro” and “in vivo” antithrombotic activity of heparin fractions and related compounds: heparin sulfate as an antithrombotic agent “in vivo”. Thrombosis Research 1985; 40: 597-607.

34. Harenberg J. Pharmacology of low-molecular-weight heparins. Semin Thromb Hemost 1990; 16(suppl): 12-8.

35. Huang ZF, Wun TC, Broze GJ Jr. Kinectics of factor Xa inhibition by tissue factor pathway inhibitor. J Biol Chem 1993; 268: 2650-5.

36. Sobel M, McNeill PM, Carlson PL, et al. Heparin inhibition on von Willebrand factor-dependet platelet function in vitro and in vivo. J Clin Invest 1991; 87: 1787-93.

37. de Roumeuf C, Mazurier C. Heparin binding assay of von Willebrand factor (vWF) in plasma mileu. Thromb Haemost 1993; 69: 436-40.

38. Young E, Wells P, Holloway S, Wietz J. Ex-vivo and in vitro evidence that low-molecular-weight heparins exhibit less binding to plasma proteins than unfractionated heparin. Thromb Haemost 1994; 71: 300-4.

39. Bratt G, Tornebohm E, Lockner D, Bergstrom K. A human pharmacological study comparing conventional heparin and a low-molecular-weight heparin fragment. Thromb Haemost 1985; 53: 208-11.

40. Cohen M. Low-molecular-weight heparins in the management of unstable angina/ non-Q wave myocardial infarction. Sem Thromb Hemost 1999; 25: 113-21. 41. Montalescot G, Philippe, Annick A, et al. Early increase of von Willebrand

factor predicts adverse outcome in unstable coronary artery disease. Benefical effects of enoxaparin. Circulation 1998; 98: 294-9.

42. Antman EM, Cohen M, Radley D, et al. Enoxaparin for unstable angina/non-Q wave myocardial infarction: Meta-analysis of TIMI 11B and ESSENCE. Circulation 1999; 100: 1602-8.

43. Eikelboom JW, Anand SS, Malmberg K, Weitz JI, Ginsberg JS, Yusuf S. Unfractioned heparin and low-molecular weight heparin in acute coronay syndrome without ST elevation: a meta-analysis. Lancet 2000; 355:1936-42

44. Natajaran MK. Unstable angina. Clinical Evidence 1999; 1: 454-64. 45. Laupacis A, Sackett Dl, Roberts RS. An assesment of clinically useful measures of

the consequences of treatment. N Engl J Med 1988; 318: 1728-33.

46. Rodger M, Bredeson C, Wells PS, et al. Low molecular weight heparin was more cost-effective than unfractionated heparin for treating deep venous thrombosis in several clinical settings. CMJA 1998; 159: 931-8.

47. Bergqvist D, Lindgren B, Matzsch T, et al. Comparison of the cost of preventing postoperative deep venous thrombosis with either unfractionated or low molecular weight heparin. Br J Surg 1996; 83: 1548-52.

48. Hull RD, Raskob GE, Rosenbloom D, et al. Treatment of proximal vein thrombo-sis with subcutaneous low molecular weight heparin vs. Intravenous heparin. An economic perspective. Arch Int Med 1997; 157: 289-94.

49. Mark DB, Cowper PA, Berkowitz SD, et al. Economic assessment of low molecular weight heparin (enoxaparin) versus unfractionated heparin in acute coronary syndrome patients. Results from the ESSENCE randomized trial. Circulation 1998; 97: 1702-7.

50. Braunwald E, Antman EM, Beasley JW, et al. ACC/AHA guidelines for unstable angina and non-ST-segment elevation myocardial infarction. J Am Coll Cardiol 2000; 36: 970-1062.

Referências

Documentos relacionados

A malha empregada ´ e formada por elementos triangulares, com sugere a figura Fig.1, para c´ alculo do funcional pelo m´ etodo dos Elementos Finitos [Bathe; 1996] com nove n´ os e

Confirmando-se através de dados obtidos com a aplicação de questionários com os segmentos de clientes envolvidos, de que o modelo de negócio realmente solucionaria alguns

Entre os dois limiares, pelo menos para certos valores dos parâmetros (isto é, com certas condições adicionais que certamente não são ótimas), foi possível provar a existência de

The molecular cytogenetic technique of comparative array genomic hybridization (array-CGH) is recommended as the first-tier genetic test for BDD and investigates

Assim, além de suas cinco dimensões não poderem ser mensuradas simultaneamente, já que fazem mais ou menos sentido dependendo do momento da mensuração, seu nível de

As famílias mais representativas nesta área (impactada) foram Rhodomelaceae, Dictyotaceae e Corallinaceae, sendo que nesta área os indivíduos representantes de Dictyotaceae

No segundo semestre de 2014 e já cursando o doutorado, tive a oportunidade de lecionar como docente substituta, da área de Administração, no Instituto Federal do Rio Grande do Sul

• Grupo de recrutamento em que se encontra provido(a) ou colocado(a) (código dos grupos de recrutamento - Decreto-Lei n.º 27/2006, de 10 de fevereiro e Decreto-Lei n.º 176/2014 de