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Avaliação da biodegradabilidade aeróbia de efluentes vinícolas da região dos vinhos verdes

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Avaliação da biodegradabilidade aeróbia de efluentes vinícolas da

região dos vinhos verdes

Dissertação de Mestrado em Enologia

António Manuel Viana Oliveira

Orientador: Professor Doutor António José Duque Pirra

Composição do Júri:

Professora Doutora Ana Alexandra Mendes Ferreira Doutor Pedro Neves de Carvalho

Professora Doutora Carla Maria Amaral Marinho Professor Doutor António José Duque Pirra

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Dissertação original apresentada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Enologia.

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A meus pais e ao Amadeu, amigo de sempre, por me terem ensinado que

“sem esforço e sem sofrimento não há glória”.

À Barbara, ao Pedro e ao Átila,

por lhes ter sonegado, durante dois anos, o melhor que tenho para lhes dar - tempo.

A um qualquer Deus improvável, que me faz continuar a acreditar que o

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Em 1854 "O Grande Chefe Branco de Washington " (o presidente norte-americano Franklin Pierce), fez uma oferta por uma grande área de território indígena e prometeu uma reserva para os índios.

Extrato da resposta do chefe nativo Seattle: “A água brilhante que se move nos riachos e rios não é simplesmente água, mas o sangue dos nossos ancestrais. Se nós vendermos a terra vocês devem lembrar-se de que ela é o sangue sagrado dos nossos ancestrais. Se nós vendermos a terra vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e vocês devem ensinar aos vossos filhos que ela é sagrada e que cada reflexo do além na água clara dos lagos fala de coisas da vida de meu povo. O murmúrio da água é a voz do pai do meu pai.

Os rios nossos irmãos saciam a nossa sede. Os rios levam as nossas canoas e alimentam as nossas crianças. Se vendermos a nossa terra vocês devem lembrar-se de ensinar aos vossos filhos que os rios são irmãos nossos e vossos, e que vocês devem ter para com os rios o mesmo carinho que têm com os vossos irmãos.

O que é a vida, se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou as conversas dos sapos, à noite, em volta de uma lagoa?”

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AGRADECIMENTOS

Um trabalho desta natureza implica um envolvimento holístico de pessoas e entidades, atendendo ao número e às caraterísticas das diferentes fases envolvidas, bem como ao período de tempo que lhe está associado. Não sendo possível, por estas razões, enumerar todos os intervenientes, gostaria de expressar, em particular, os meus agradecimentos mais sinceros:

Ao orientador, Professor Doutor António Pirra, pelo apoio, ensinamentos teóricos e práticos e acompanhamento empenhado, dentro e fora do horário “normal” de trabalho, ultrapassando aquilo que julgo serem os deveres de orientador, ao longo de um ano de trabalho.

À Professora Doutora Fernanda Cosme do Departamento de Engenharia Biológica e Ambiental da UTAD, pela imensa disponibilidade, formação e apoio “invisível”, sem os quais o estudo dos compostos fenólicos do efluente não teria sido possível.

À Professora Doutora Carla Amaral do Departamento de Engenharia Biológica e Ambiental da UTAD, pelo apoio, formação e críticas ao texto relativo ao estudo da população microbiana do reator, e a todos os assuntos relacionados com a microbiologia do processo de tratamento.

Ao Luís Fernando, técnico do Laboratório do Departamento de Engenharia Biológica, e Ambiental da UTAD, pelo paciente apoio prático e pelo trabalho voluntariamente efetuado.

À Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, nomeadamente ao Eng.º Rocha Fernandes, pela compreensão da importância deste trabalho e flexibilidade laboral facultada.

Aos colegas da Delegação Regional de Basto e Douro, por cumprirem algumas das minhas responsabilidades nos períodos em que não me era possível estar presente.

Ao Eng.º António Maria, técnico da Adega Cooperativa de Amarante, pelo fornecimento dos efluentes e total disponibilidade demonstrada.

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RESUMO

Um curso de água é considerado poluído ou contaminado quando a composição, o estado ou a qualidade da água são modificados, nomeadamente por ação antrópica. Os resíduos com origem na atividade agroalimentar são poluentes, originando a destruição da fauna e flora dos ecossistemas.

Os efluentes vinícolas (EVs) classificam-se como águas residuais industriais: todos os efluentes provenientes de qualquer atividade, que não possam ser classificadas como águas residuais domésticas ou pluviais. Estes, são cerca de 10 a 100 vezes mais poluentes que os efluentes de origem doméstica. A atividade vinícola da região Minho origina anualmente cerca de 250 milhões de litros (L) de efluentes.

O tratamento de EVs da região Minho através de processos biológicos aeróbios (lamas ativadas), permite reduzir a respetiva carga poluente, em termos de Carência Química de Oxigénio (CQO), Sólidos Suspensos Totais (SST) e pH, para valores muito próximos dos limites legais estabelecidos para a descarga de efluentes em meio hídrico.

Neste trabalho pretende determinar-se a carga volúmica poluente mais adequada ao processo de tratamento por lamas ativadas (LA), e verificar a influência da correção do pH e da adição dos macronutrientes azoto (N) e fósforo (P) ao efluente bruto, na melhoria da respetiva tratabilidade.

Utilizou-se inicialmente efluente bruto e, após identificação das suas características, procedeu-se a um segundo grupo de ensaios com o efluente corrigido em termos de pH, N e P, visando o estudo da influência destes parâmetros na eficácia do processo de tratamento.

Concluiu-se que o tratamento por LA é eficaz na remoção da carga poluente aplicada, medida como CQO, SST e pH. Verificou-se que os melhores resultados foram obtidos na modalidade com correção de nutrientes e pH, para carga volúmica até 3 g de CQO L-1 dia-1, removendo-se neste caso até 96% do CQO do efluente bruto, o que origina um efluente tratado com CQO residual de 210 mg L-1, SST de 170 mg L-1 e pH de 6.8. Este efluente será passível de descarga em meio hídrico após tratamento de acabamento.

Palavras-chave: biodegradabilidade aeróbia, tratamento de efluentes, efluentes vinícolas,

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ABSTRACT

A watercourse is considered polluted or contaminated when the composition, the state or the quality of the water are changed by anthropic action. Residues from the agri-food system are pollutant and cause the destruction of the fauna and flora.

Winery effluents are classified as industrial wastewaters: all effluents originating from any activity that cannot be classified as domestic wastewater or surface runoff are classified as industrial wastewaters. These are about 10 to 100 times more pollutant than domestic wastewater effluents. The production of wine in the region of Minho generates, yearly, around 250 million liters of effluents.

The treatment of winery effluents of the Minho green wines region using aerobic biological processes (activated sludge system) allows for the reduction of the pollutant load measured on chemical oxygen demand (COD), total suspended solids (TSS) and pH levels to values very close to the legal limits established by law for the discharge of effluents into water bodies.

Here we intend to determine the pollutant load volume that is most adequate to the activated sludge (AS) system treatment. We also intend to verify the influence that the correction of the pH and macronutrient concentrations of the raw effluent has on the improvement of the treatment process.

First we used a non-corrected effluent sample, and after characterization we tested the corrected effluent varying the pH, nitrogen and phosphorus levels, aiming at studying the influence of these parameters on the effectiveness of the treatment process.

We concluded that the AS system treatment is effective for removing pollutant loads of COD, TSS and pH levels. We verified that the best results were obtained when the effluent was corrected, for up to 3 g COD L-1 day-1, removing up to 96% of the pollutant load, which generates a treated effluent with a 210 mg L-1 residual COD level, a 170 mg L-1 TSS and a 6.8 pH level, adequate for discharge into water bodies after finishing treatment.

Key words: aerobic biodegradability, wastewater treatment, winery wastewater, correction of

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ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS………..……. v RESUMO……….… vii ABSTRACT……….…….. ix ÍNDICE GERAL ………. ……….…… xi ÍNDICE DE TABELAS ……… .. xv

ÍNDICE DE FIGURAS ………...………... xvii

LISTA DE ABREVIATURAS………..…...xviii

PARTE I – Componente teórica

Capítulo 1- Introdução

1. Estrutura da dissertação ... 1

2. Considerações gerais ... 2

3. A enologia sustentável como ferramenta de marketing ... 5

Capítulo 2 - Caraterização sumária do setor vitivinícola

1. Território nacional ... 9

2. Região vitivinícola Minho ... 12

Capítulo 3 – Legislação relativa aos efluentes vinícolas

1. Legislação comunitária ... 15

2. Legislação nacional ... 16

3. A atitude dos operadores nacionais perante a legislação... 19

3.1. Relativa ao ambiente em geral ... 19

3.2. Relativa ao setor vinícola em particular ... 20

Capítulo 4 – Os efluentes vinícolas

1. Origem ... 25

2. Caraterísticas gerais ... 28

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4. Estratégias para a redução da quantidade e do teor em poluentes dos efluentes

vinícolas ... 34

4.1. Redução da quantidade de efluente ... 35

4.2. Redução da carga poluente do efluente ... 36

5. Processos de tratamento secundário de efluentes vinícolas ... 40

5.1. Tratamento biológico anaeróbio ... 44

5.2. Tratamento biológico aeróbio ... 46

5.2.1. Processo contínuo (Lamas Ativadas - LA) ... 50

5.2.2. Processo descontínuo (Sequencing Batch Reator - SBR) ... 51

5.2.3. Tratamento por lagunagem ou armazenamento arejado ... 52

5.2.4.Distribuição de efluentes no solo ... 54

5.2.5.Tratamento de efluentes vinícolas associado ao tratamento de efluentes urbanos . 57 5.3. Microbiologia sumária do processo aeróbio ... 57

5.4. Razão F/M ... 63

6. Tratamentos de acabamento ... 64

6.1. Leito de macrófitas emergentes ... 65

6.2. Leito de areia ... 66

6.2.1. Filtração por areia, areia e antracito e membranas semipermeáveis ... 66

6.3. Filtro de pouzzolane com recirculação ... 66

6.4. Oxidação química ... 67

6.5. Adsorção em carvão ativado ... 67

7. Destino das lamas produzidas ... 68

8. Composição fenólica dos efluentes vinícolas ... 70

PARTE II – Componente prática

Capítulo 5 – Ensaios realizados

1. Objetivos do trabalho ... 73

2. Material e métodos ... 73

2.1. Processo de tratamento ... 73

2.1.1. Componentes estruturais do sistema ... 73

2.1.2. Funcionamento do reator ... 75

2.2. Amostra utilizada ... 77

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2.4. Composição fenólica do efluente ... 78

2.5. População microbiana do reator ... 78

3. Delineamento experimental ... 79

3.1. Tratabilidade do efluente ... 80

3.2. Composição fenólica do efluente ... 81

3.3. População microbiana do reator ... 82

4. Resultados e discussão ... 82

4. 1. Tratabilidade do efluente ... 83

4.2. Composição fenólica do efluente ... 88

4.3. População microbiana do reator ... 90

5. Conclusões ... 93

6. Considerações finais ... 94

7. Propostas de trabalho futuro ... 95

PARTE III – Bibliografia e Anexos

1.Bibliografia ... 97

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Caraterização sumária do setor vitivinícola nacional ... 11

Tabela 2 – Caraterização sumária da região vitivinícola Minho ... 13

Tabela 3 – Sumário da principal legislação comunitária relativa à proteção das águas ... 16

Tabela 4 – Sumário da principal legislação nacional relativa aos efluentes industriais e ambiente ... 17

Tabela 5 – Principais VLE de descarga de água residuais ... 18

Tabela 6 – Análise às empresas mais representativas do setor vitivinícola, relativa ao cumprimento da legislação ambiental (2004) ... 21

Tabela 7 – Volume de efluente gerado e respetiva carga poluente, por operação ... 28

Tabela 8 – Composição dos EVs por fase … ... 29

Tabela 9 – Caraterísticas gerais dos efluentes doméstico e vinícola ... 30

Tabela 10 – Caraterísticas médias do efluente durante a prensagem de uvas brancas ... 31

Tabela 11 – Caraterísticas da água de lavagem de um sistema de refrigeração de uma adega da região vitivinícola Minho ... 31

Tabela 12 – Caraterísticas do efluente resultante da filtração por terras (kieselguhr) ... 32

Tabela 13 – Caraterísticas de um EV resultante da destartarização ... 32

Tabela 14 – Efeito dos diferentes tipos de poluição causada por EVs ... 34

Tabela 15 – Principais vantagens e desvantagens do tratamento de efluentes pelos sistemas anaeróbio e aeróbio ... 48

Tabela 16 – Eficiência de alguns sistemas utilizados no tratamento secundário de EVs em função da CQO aplicada ... 49

Tabela 17 - Teores em N, P e K nos efluentes de duas regiões demarcadas e nas borras de vinho ... 56

Tabela 18 – Resumo dos níveis de tratamento a que pode ser submetido um efluente ... 68

Tabela 19 – Delineamento do ensaio de tratabilidade nas modalidades Sem Correção (SC) e Com Correção (CC) ao pH, N e P, ao longo do tempo e para as diferentes Cargas Volúmicas (CV) aplicadas ... 81

Tabela 20 –Delineamento do ensaio para determinação dos compostos fenólicos (CF) totais, antocianinas totais e taninos totais na modalidade efluente CC, ao longo do tempo e para as diferentes CV aplicadas ... 81

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Tabela 21 – Delineamento do ensaio para a caraterização das populações de heterotróficos,

fungos filamentosos e leveduras do reator na modalidade CC, ao longo do tempo e para as diferentes CV aplicadas ... 82

Tabela 22 – Caraterísticas gerais do efluente bruto utilizado ... 83 Tabela 23 – Teores em CF totais, taninos totais e antocianinas totais do efluente tratado para

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Limites e localização geográfica relativa da região vitivinícola Minho ... 13

Figura 2 – Número de empresas notificadas pela IGAOT e resultados obtidos (2005) ... 22

Figura 3 – Número de empresas mais representativas do setor vinícola (produção> 1 000 hL) e postura face às obrigações legais em 2004/2005 ... 23

Figura 4 – Balanço de massa aplicado a uma adega cooperativa da região Minho em 2004 . 26 Figura 5 – Fluxo de matérias numa adega ... 27

Figura 6 – Processos de tratamento biológico aeróbio mais utilizados no tratamento de EVs ... 50

Figura 7 – Evolução das populações de microrganismos em tratamentos aeróbios ... 60

Figura 8 – Processo microbiológico heterotrófico ... 60

Figura 9 – Esquema dos fatores que afetam o processo de floculação de LA ... 62

Figura 10 – Esquema de funcionamento do sistema de tratamento biológico aeróbio contínuo (lamas ativadas) utilizado, e principais componentes ... 74

Figura 11 – Valores médios de Carga Volúmica (CV) removida em função da CV aplicada, nas modalidades Sem Correção (SC) e Com Correção (CC) ... 83

Figura 12 – CV removida em função da CV aplicada, nas modalidades SC e CC ao longo do tempo ... 84

Figura 13 – Remoção de CQO (%) em função da CV aplicada, nas modalidades SC e CC ao longo do tempo ... 85

Figura 14 – Evolução do pH em função da CV aplicada, nas modalidades SC e CC ao longo do tempo ... 86

Figura 15 – Evolução dos SST em função da CV aplicada, nas modalidades SC e CC ao longo do tempo ... 87

Figura 16 – Evolução dos SSV em função da CV aplicada, nas modalidades SC e CC ao longo do tempo ... 88

Figura 17 –Evolução do teor de CF totais em função da CV aplicada, ao longo do tempo ... 90

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LISTA DE ABREVIATURAS

Abs - Absorvância

ADP - Adenosina difosfato AMP - Adenosina monofosfato ATP - Adenosina trifosfato BAL - Bactérias ácido láticas

CAE - Código da atividade económica CBO - Carência bioquímica de oxigénio CC - Com correção

CCDR - Comissão de coordenação e desenvolvimento regional CQO - Carência química de oxigénio

CF - Compostos fenólicos COT - Carbono orgânico total CV - Carga volúmica

DL - Decreto-lei

DR - Diário da República

DOC - Denominação de origem controlada EVs - Efluentes vinícolas

ETAR - Estação de tratamento de águas residuais IGP - Indicação geográfica protegida

IGAOT - Inspeção-geral do ambiente e do ordenamento do território IVV - Instituto da vinha e do vinho

JLR - Jet loop reator L - Litro

LA - Lamas ativadas mm - milímetros

NADH2 - Nicotinamida-adenina dinucleótido nm - Nanómetro

OIV - Organização internacional da vinha e do vinho PAC - Política agrícola comum

PCA - Plate count agar PDA - Potato dextrose agar ppm - Partes por milhão

PRODER - Programa de desenvolvimento rural do continente QREN - Quadro de referência estratégico nacional

SBR - Sequencing batch reactor SAU - Superfície agrícola útil SC- Sem correção

SST – Sólidos suspensos totais SSV - Sólidos suspensos voláteis TRH - Tempo de retenção hidráulica UE - União europeia

UFC - Unidades formadoras de colónias UV - Ultra violeta

VLE - Valor limite de emissão

VQPRD - Vinho de qualidade produzido em região demarcada YM - Yeast malt agar

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PARTE I – Componente teórica

Capitulo 1 – Introdução

1. Estrutura da dissertação

O objetivo principal a que nos propusemos neste trabalho, foi o de conhecer a carga volúmica poluente mais adequada ao processo de tratamento por lamas ativadas (LA) de um efluente vinícola (EV) da região Minho, e verificar a influência que a correção do pH e a adição dos macronutrientes azoto (N) e fósforo (P) ao efluente têm, na melhoria da respetiva tratabilidade.

A importância deste estudo está baseada no facto da região Minho produzir valores estimados entre 90 a 271 milhões L/ano de efluentes1, não se conhecendo o destino da maioria destas águas residuais, nem a melhor forma de as tratar localmente, atendendo, entre outros, ao seu desequilíbrio em nutrientes, pH ácido e elevado teor em compostos fenólicos (CF).

O trabalho encontra-se repartido em duas secções principais: a Componente teórica (pesquisa bibliográfica) e a Componente prática (trabalhos realizados).

A primeira secção encontra-se dividida em 4 capítulos. No 1º capítulo são tecidas algumas considerações gerais relativas à importância que a água tem à escala global, às suas diversas utilizações, às implicações negativas associadas à poluição dos recursos hídricos e às vantagens comerciais que podem ser exploradas através da prática de uma enologia sustentável.

No 2º capítulo faz-se uma caracterização geral do setor vitivinícola nacional e da região vitivinícola Minho, por ser a região demarcada que enquadra o trabalho experimental desenvolvido.

No 3º capítulo identifica-se a legislação comunitária e nacional mais diretamente relacionada com os EVs, bem como a atitude dos operadores nacionais do setor vinícola relativamente à legislação em vigor.

O capítulo 4º é dedicado aos EVs, nomeadamente à sua origem e caraterísticas, bem como às diferentes estratégias para a redução do respetivo volume e carga poluente. São

1

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também identificadas as principais técnicas de tratamento e o destino a dar às lamas produzidas.

Pelo facto de, na componente experimental, se ter submetido o efluente a um processo de tratamento biológico aeróbio por LA e de termos estudado sumariamente alguns dos principais grupos de microrganismos associados a este tipo de tratamento, foi ainda incluída neste capítulo uma abordagem mais detalhada ao modo de funcionamento de um reator biológico e respetiva biomassa.

A segunda secção (Componente prática) é constituída pelo capítulo 5º onde se especifica o objetivo do trabalho e se descrevem os métodos utilizados para a concretização do mesmo, nomeadamente a recolha e caracterização do efluente bruto e as condições em que decorreu o biotratamento. Incluímos também neste capítulo o estudo da composição fenólica do efluente tratado e o número de Unidades Formadoras de Colónias (UFC) presentes no reator nas diferentes modalidades do ensaio. Finalmente, apresentamos os resultados obtidos e as conclusões resultantes da experimentação.

2. Considerações gerais

O número de habitantes da Terra atingiu os 7 mil milhões em outubro de 2011. Em 1974 era 4 mil milhões (Gilbert, 2001). Ou seja, em apenas 37 anos a população do planeta quase duplicou.

Esta simples constatação deveria, por si só, ser suficiente para encararmos a defesa dos recursos naturais do planeta, nomeadamente a água, como um dos principais desafios da espécie humana.

O consumo direto de água, a sua utilização como fonte de vida para a fauna e para a flora, solvente universal, matéria-prima industrial, base da indústria da pesca, suporte de atividades lúdico-desportivas, estética, medicina, geração de energia, transportes, depuração de efluentes, pecuária, agricultura e abastecimento público, fazem dela o mais importante e mais frágil recurso natural. A sua disponibilidade e qualidade transformam-na numa aferidora da ocupação territorial e da qualidade de vida das respetivas populações.

Apesar de ocupar cerca de 70% da superfície do planeta, apenas 2,7% da água é doce2. Desta, cerca de 77% ocorre nas calotes polares, 22 % é água subterrânea, 0,35% está

2

Chama-se “água doce” à água dos rios, lagos e maioria dos lençóis subterrâneos, com uma salinidade próxima de zero, por oposição à água do mar (que tem geralmente uma salinidade próxima de 35 gramas de sais dissolvidos / L).

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retida em lagos e pântanos, 0,04% circula na atmosfera e apenas 0,01% circula nos rios (Leme, 2010) o que reforça a premência da proteção da respetiva qualidade.

Assumir direitos sobre o uso da água tem sido mais fácil do que reconhecer as suas fragilidades e do que responder por obrigações de preservação e de proteção. Torna-se portanto imprescindível criar e/ou fortalecer uma ética da água, que implique consumir menos, sempre que possível, e proteger os ecossistemas aquáticos, mesmo que tal implique o sacrifício de alguns interesses financeiros de curto prazo.

Os conhecimentos e as tecnologias de que dispomos atualmente podem reduzir significativamente os impactos ambientais. No entanto, a sua utilização plena permanecerá reduzida enquanto os ecossistemas continuarem a ser olhados apenas como fornecedores eternos, indiferentes, ilimitados e gratuitos.

O modo como cada país trata os seus resíduos é, hoje em dia, considerado um indicador civilizacional. A prática de descarregar efluentes, sobretudo os não tratados, em linhas de água, aumenta o consumo de água poluída de forma direta ou indireta, num ciclo cada vez mais curto, mais caro e mais perigoso.

As atividades agropecuárias e agroindustriais têm um impacto económico significativo em algumas regiões portuguesas e, por isso, interferem na fixação da população ativa, absorvendo desempregados de outros sectores, reduzindo a tensão social daí resultante e contrariando o efeito de desertificação social. No entanto, são atividades que determinam um grau de poluição quase sempre superior à das restantes atividades económicas das zonas rurais onde se inserem.

A partir da reforma da Política Agrícola Comum (PAC) de 2003, a política agrícola nacional e comunitária passou a estar orientada para o mercado. Esta liberalização, baseada num modelo comunitário menos intervencionista, foi acompanhada por maiores exigências em termos de qualidade final dos produtos, segurança alimentar e ambiente. É pois obrigatório e urgente que o sector agroindustrial internalize os custos ambientais como custos de produção. A indústria vinícola, porque contribui para esta realidade, não pode alhear-se das suas responsabilidades.

O crescimento populacional e a tendência do ser humano para se aglomerar em núcleos urbanos cuja localização geralmente coincide com as zonas de maior disponibilidade hídrica, têm originado a poluição e a contaminação dos corpos de água. Leme (2010), faz a distinção entre as duas palavras; considera que poluição diz respeito à influência dos efluentes sobre a fauna e flora ambientais, e que contaminação diz respeito à influência dos efluentes sobre a saúde humana. Contraditoriamente as massas de água

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funcionam assim como fonte de abastecimento e como veículo e recetor de esgotos industriais, domésticos e agrícolas.

A Diretiva 2000/60 do Parlamento Europeu e do Conselho, adaptada para a legislação nacional através da Lei n.º 58/2005, define poluição como “a introdução direta ou indireta, em resultado da atividade humana, de substâncias ou de energia no ar, na água ou no solo, que possa ser prejudicial para a saúde humana ou para a qualidade dos ecossistemas aquáticos ou dos ecossistemas terrestres diretamente dependentes dos ecossistemas aquáticos, que dê origem a prejuízos para bens materiais, ou que prejudique ou interfira com o valor paisagístico/recreativo ou com outras utilizações legítimas do ambiente”.

Em concreto, um curso de água é considerado poluído ou contaminado se a composição, o estado ou a qualidade das suas águas são direta ou indiretamente modificados pela ação antrópica (Leme, 2010). No entanto, a palavra poluição surge muitas vezes associada apenas a substâncias ou produtos cujos efeitos são facilmente visíveis.

Assim, todos os efluentes resultantes de atividades agroalimentares, como é o caso dos EVs, contêm substâncias poluentes que podem estar na origem da destruição da fauna e flora dos ecossistemas, particularmente dos ecossistemas aquáticos.

Numa perspetiva mais imediatista mas igualmente importante, salientamos que 69% da água consumida pelos portugueses em 2010 teve origem superficial. Este valor desceu para 63% em 2011. Em sentido inverso temos os valores de consumo da água subterrânea que em 2010 era de 31% e em 2011 de 37% (ERSAR, 2012). Daqui resulta, uma vez mais, que se impõe um reforço da proteção dos aquíferos superficiais como fonte de sustentação das necessidades das populações.

O volume de efluentes deve ser minimizado, tratado e reintegrado de forma segura no ciclo da água. Deve abandonar-se a preferência por sistemas centralizados e convencionais de águas residuais em zonas de pequenos aglomerados populacionais. Esta opção é reforçada ao constatarmos que a grande maioria de terra arável está muito próxima das zonas habitadas, tornando viável a reutilização do efluente no interior da própria empresa/comunidade que o gera (Santos e Mancuso, 2007).

Outra razão que sustenta aquele ponto de vista é o facto de a poluição dever estar confinada à menor área possível, evitando assim quer a exportação para zonas limpas, quer

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o aumento dos custos de tratamento. Em caso de rutura/acidente nas instalações, os efeitos serão tão diminuídos quanto menor for a estação de tratamento.

A discussão da temática “sustentabilidade da utilização da água” é recorrente e de abrangência mundial, tal como se verificou recentemente no Fórum Lisboa 21 em 2011, ou na conferência das Nações Unidas Rio+20 em 2012, ainda que a generalidade das promessas e compromissos assumidos venham sendo sucessivamente adiados pelos países participantes.

Apesar dos melhoramentos introduzidos nos últimos anos a qualidade das águas da UE continua a ser insatisfatória. A Comissão Europeia definiu em novembro 2012 um plano destinado a preservar, até 2015, os recursos hídricos da Europa, que reforça a necessidade de atingir os objetivos definidos na Diretiva-Quadro Água (Diretiva 60/200). Trata-se de uma estratégia tendente a garantir a disponibilidade de água de boa qualidade em quantidade suficiente para dar resposta às necessidades das populações, da economia e do ambiente (Sitio 1).

O respeito pelas questões ambientais é, cada vez mais, essencial para a competitividade da indústria alimentar. Sendo a vitivinicultura uma porta-bandeira de valores patrimoniais, culturais, estéticos e ecológicos, deve adaptar as suas práticas de forma a limitar os impactos ambientais negativos. Alterações nos processos de produção, recuperação de subprodutos e reutilização de efluentes, são algumas das medidas possíveis que as empresas produtoras de vinho, sem exceção, devem implementar, tendo em vista uma política de eco-eficiência e redução da sua pegada ecológica e hídrica.

Esta problemática assume especial relevo na indústria enológica uma vez que esta produz e rejeita efluentes, principalmente para o meio hídrico, que pela sua composição, cargas orgânicas associadas e volume, representam um sério problema ambiental em Portugal.

3. A enologia sustentável como ferramenta de marketing

A Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) formalizou o conceito de vitivinicultura sustentável (resolução CST 1/2004), como sendo a “abordagem abrangente para dimensionar os sistemas de produção e de transformação de uvas associados à perenidade económica das infraestruturas e do território, obtenção de produtos de

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qualidade, consideração pelas exigências da viticultura de precisão e pelos riscos ligados ao ambiente, segurança alimentar dos produtos e saúde dos consumidores, e a valorização dos aspetos patrimoniais, históricos, culturais, ecológicos e paisagísticos” (Sítio 8).

Sendo a atividade vinícola um setor de particular importância em Portugal e na europa devido às suas raízes culturais, à sua extensão geográfica e à sua dimensão socioeconómica, a poluição dos recursos naturais constitui para a vinicultura um agente perturbador do setor produtivo, e para a enologia e comercialização dos vinhos uma ameaça.

A relação custo/benefício do tratamento dos efluentes, numa lógica simples e imediatista, parece desaconselhar o investimento. Mas, pelo marketing e pelas estratégias de comunicação, o produto (vinho) pode ser alavancado com base nessa mais-valia.

O tratamento dos EVs promove a sustentabilidade estratégica de longo prazo, sem descurar a necessidade de obter lucros ou maximizar a utilização dos ativos existentes, e é uma forma de adaptar a organização para obter proventos futuros, reconhecendo o constrangimento associado aos recursos ambientais. As empresas associadas a esta prática social e ambiental (obrigatória por lei, de resto) estarão a privilegiar a satisfação das necessidades e desejos dos consumidores (cada vez mais esclarecidos e sensíveis à temática da sustentabilidade), fidelizando-os através de estratégias de marketing relacional em detrimento do marketing transacional puro.

O complemento de caraterísticas estimula o crescimento e o aparecimento de sinergias, isto é, produz resultados globais superiores à soma das parcelas pelos efeitos multiplicadores e pelas externalidades geradas. Associar as caraterísticas intrínsecas do produto à sustentabilidade produtiva contribuirá para melhorar a imagem pública da organização, dos produtos e/ou dos serviços, melhorará a capacidade de penetração em mercados com preocupações ambientais, contribuirá para a criação de uma imagem da organização com preocupações ecológicas e discriminará positivamente os produtos com melhor ecocompatibilidade.

Outra vertente, mais direta e objetiva, a explorar com base no tratamento dos efluentes que poderá trazer benefícios para as empresas, passa por identificar os segmentos e/ou nichos de mercado que mais valorizam os vinhos associados a práticas sustentáveis. O vinho obtido a partir de uvas com origem em modos de produção integrado ou biológico é já um bom exemplo da aceitação destas práticas por parte dos consumidores. De resto, esta tendência tem vindo a crescer visivelmente como se prova através do facto de, na edição

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2012 da ProWein na Alemanha (a maior feira mundial de vinhos), haver um pavilhão destinado exclusivamente a este tipo produto. O tratamento dos EVs, associado ou não a esta filosofia de produção, constituiria uma outra forma de manter alguma excitação sobre os vinhos, surpreendendo constantemente os consumidores e reforçando ou aumentando a fidelização à marca.

A origem, as castas, os métodos de vinificação e conservação/estágio, as características químicas e organoléticas e a roupagem, são elementos fortemente diferenciadores dos vinhos, embora estes fatores passem muitas vezes desapercebidos ao consumidor comum, por erros na estratégia de comunicação do lado da produção. Instruir e educar os consumidores continuará a ser, por isso, uma prioridade. Ainda assim, potenciar e comunicar novas mais-valias para destacar determinado produto na mente dos consumidores, reforçando os benefícios da sustentabilidade enológica associada ao tratamento dos efluentes, é também uma forma de valorizar o produto final. Ou seja, a comunicação deve apresentar o produto e os seus aspetos tangíveis, associados às vantagens intangíveis, sendo uma delas a “ambientalmente responsável”.

Se até ao momento, a imagem de um vinho estava ligada ao triângulo casta/terroir/vinificação, deverá futuramente estar associada ao quadrado casta/terroir/vinificação/responsabilidade ambiental.

Estudos recentes baseados em inquéritos a produtores de 25 países, revelaram que o elemento mais importante para o sucesso da atividade vitivinícola é, para 36% dos inquiridos “a sustentabilidade ambiental”. Este valor sobe para 66% se nos reportarmos apenas aos produtores da Austrália e Nova Zelândia. Nos EUA atinge os 43%. Esta percentagem ultrapassa mesmo a importância que os inquiridos atribuíram à casta, que foi de 35% (Jones, 2011).

À pergunta “quais as principais medidas a implementar para transformar a respetiva empresa numa empresa ambientalmente responsável” cerca de 60% dos inquiridos portugueses responderam “o tratamento de efluentes” (Jones, 2011).

Os produtores reconhecem assim a importância crescente da prática de medidas ambientalmente responsáveis, como chave para o sucesso comercial (presente e futuro) dos seus vinhos.

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Capítulo 2 – Caraterização sumária do setor vitivinícola

1. Território nacional

A importância da cultura da vinha em Portugal não se afere apenas através dos valores gerados nos mercados do vinho. A função social, as receitas geradas indiretamente pelo setor (na atividade turística, p. ex.), ou o impacto que tem no ordenamento do território ao nível ambiental e paisagístico, mas também ao nível das comunidades rurais, são exemplos da importância global da atividade. O facto dos locais de vinificação geralmente estarem próximos dos locais de produção, dá origem à criação de mais-valias económicas, que serão incrementadas caso a venda seja também local.

Os efeitos sobre o meio podem no entanto ser positivos ou negativos. Se por um lado a viticultura pode funcionar como agente protetor dos solos contra a erosão, (considerando a sua perenidade), ou contra o avanço dos fogos (considerando a sua baixa densidade de plantação), pode também estar na origem de processos erosivos (p. ex., devido à incorreta armação do solo ou à mecanização inadequada), bem como ser fonte de poluição (por excesso de nutrientes ou fitofármacos, por tratamentos fitossanitários incorretos, etc.).

Por sua vez o vinho, para além das suas qualidades intrínsecas, possui também um elevado valor cultural, mas na sua origem poderá igualmente estar um foco de poluição causado por uma gestão inadequada dos subprodutos e/ou dos efluentes, bem como pela pegada de carbono associada às diferentes etapas produtivas.

A superfície média de uma exploração vitícola dedicada à produção de vinhos com denominação de origem controlada (DOC) em Portugal é de 0,98 ha. Na união europeia (UE) a 25 esta é de 3,7 ha (MADRP/IVV, 2009).

Em 2003 existiam em Portugal 264 450 explorações vitícolas. Destas, 123 360 estavam afetas à produção de vinhos DOC, ocupando 121 360 ha e 141 090 à produção de vinho de mesa, ocupando 87 990 ha (MADRP/IVV, 2009). O número de explorações vitícolas portuguesas corresponde a 14% do total de explorações vitícolas na UE a 25 (MADRP/IVV, 2009).

Na campanha de 2005/2006 foram reconhecidos pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), 38 683 locais de vinificação (MAOTDR/MADRP, 2007). No entanto, este número

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será na realidade muito superior, considerando que das 123 360 explorações afetas à produção de vinhos DOC, cerca de 50% produzem vinho, isto é vinificam, o que corresponderia a 61 680 locais de vinificação (MADRP/IVV, 2009), ou seja, a número idêntico de centros de produção de efluentes, em maior ou menor quantidade. As restantes 50% vendem a uva em fresco.

Do total de adegas em laboração a grande maioria são pequenas ou muito pequenas (64% dos produtores obtém produções inferiores a 10 hL, representando apenas 2% da produção nacional de vinho) e apenas 475 adegas produzem mais de 1 000 hL (193 em Lisboa e vale do Tejo, 153 a norte do rio Douro, 66 no região centro, 61 no Alentejo e 2 no Algarve), o que corresponde a cerca de 85% da produção nacional (MAOTDR/MADRP, 2007).

Em 2004/2005, mais de metade da produção nacional de vinho (54%) teve origem na região situada a norte do rio Douro (IGAOT, 2005).

O número total de explorações vitícolas (264 450) representava cerca de 58% do número total de explorações agrícolas portuguesas no ano de 2003. Esta é a maior percentagem na UE a 25 (a segunda maior é a Itália, com 37%) (MADRP/IVV, 2009).

Em 2003 o valor comercial da produção vitícola correspondia a 8,3% do valor da produção agrícola nacional, ou seja, a cerca de 541 milhões de euros (MADRP/IVV, 2009).

O rendimento médio das explorações vitícolas é de 28 hL vinho/ha (metade do valor italiano e francês), sendo que na UE a média é de 48 hL/ha. Na Alemanha é de 100 hL/ha (MADRP/IVV, 2009).

O rendimento obtido pelas explorações vitícolas portuguesas é superior à média dos rendimentos do conjunto de todas as outras culturas em cerca de 15%. Se considerarmos apenas as explorações com uvas aptas a produzir vinhos DOC esta percentagem sobe para 32%. As explorações vitícolas são as segundas mais rentáveis, logo depois das explorações agrícolas com culturas aráveis (MADRP/IVV, 2009).

A superfície de vinha em Portugal tem vindo a aumentar desde 1996. Só no período 2010/2011 e ao abrigo do Programa de Reestruturação da Vinha, foram plantados 3 509,9 ha (MAMAOT/IVV, 2011). Em todo o território a taxa de renovação da vinha é de 3,5% ao ano (considerada a taxa ótima para manter as áreas em plena produção) (MADRP/IVV, 2009).

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A cultura de vinha ocupa atualmente cerca de 237 786 ha (MADRP/IVV Anuário 2010/11). Este valor corresponde a cerca de 6,9% da superfície agrícola útil (SAU) e 2,6% do território continental. Na região a norte do rio Douro a SAU ocupada pela vinha sobe para os 14%. Nas zonas agrícolas desfavorecidas (zonas de montanha, nas quais a atividade agrícola é necessária a fim de salvaguardar o espaço natural) a vinha é a principal cultura, ocupando 67% da SAU (MADRP/IVV, 2009).

A produção de vinho em Portugal é uma componente importante da atividade agrícola, representando em 2007 cerca de 13% do valor total gerado pela agricultura. Este valor era de 9,1% no período 1980-1989. (MADRP/IVV, 2009 e INE, 2010). A produção de vinhos DOC e vinhos com indicação geográfica protegida (IGP) tem vindo a aumentar a nível nacional, tendo atingido na campanha 2008/2009 cerca de 75% da produção total.

A principal região produtora de vinhos de qualidade produzidos em região demarcada (VQPRD) é o Douro (cerca de 40% do total), seguida pelo Minho (24%) e Alentejo (14%). Considerando o período 1980-2007, verifica-se que a produção de vinho desceu em média cerca de 0,8% ano-1, mas cresceu em valor cerca de 7,3% ano-1. Este aumento reflete o peso crescente dos VQPRD na produção total que atualmente é de 16% (INE, 2010 e MADRP/IVV, 2009).

Em 2010 Portugal produziu cerca de 650 milhões L de vinho, sendo o 5º maior produtor da UE, atrás da Itália, França, Espanha e Alemanha e o 11º a nível mundial. Este valor será na realidade superior já que não considera o volume de mosto concentrado utilizado anualmente. Não há praticamente consumo de sumo de uva em fresco. Cerca de 61% da produção nacional corresponde a vinho tinto (MADRP/IVV, Anuário 2010/2011).

Para a região do Douro, Pirra (2005), estimou uma produção de EVs de 1 a 3 L /L de vinho produzido. Assim, considerando o volume de vinho produzido no país em 2010, terão sido produzidos entre 650 a 1 950 milhões L de EVs.

Na Tabela 1 encontra-se sumariada a informação sobre o setor vitivinícola nacional.

Tabela 1 – Caraterização sumária do setor vitivinícola nacional

Área plantada (ha) 2010 Explorações vitícolas 2003 Produção de vinho (milhões de L) 2010/11 Locais de vinificação 2006 Viticultores 2010 Volume de efluentes produzidos (milhões de L) 237 786 264 450 650 38 683 52 983 650 a 1 950 (MADRP/IVV Anuário 2010/11)

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Em 2010/2011 a elaboração de vinho foi feita pelas cooperativas (40%), empresas particulares que adquirem uva (33%) e produtores individuais (27%). Nos últimos 5 anos, a percentagem atribuída às empresas não variou significativamente, enquanto que o volume obtido pelas cooperativas tem vindo a diminuir, aumentando o número de produtores individuais (MADRP/IVV, 2009).

As adegas de maior dimensão média estão situadas no Alentejo (MAMAOT/IVV, 2011). A maior produção encontra-se nos distritos de Lisboa e Santarém com, respetivamente, 1,2 milhões de hL e 800 000 hL (MAOTDR/MADRP, 2007).

2. Região vitivinícola Minho

O Minho estende-se por todo o noroeste do país, na zona tradicionalmente conhecida como Entre-Douro-e-Minho. Tem como fronteira norte o rio Minho, sendo os limites este e sul definidos por zonas de relevo acentuado, que constituem uma barreira natural relativamente a zonas mais interiores. O oceano Atlântico constitui o seu limite natural a oeste.

A região dos vinhos verdes coincide nos seus limites com a região vitivinícola Minho e foi estabelecida em 1908, ainda que a respetiva Comissão Vitivinícola Regional apenas tivesse sido criada em 1926. Técnicas culturais, encepamentos, modos de condução das vinhas e características dos vinhos, estiveram na base da criação de nove sub-regiões no seu interior: Amarante, Ave, Baião, Basto, Cávado, Lima, Monção e Melgaço, Paiva e Sousa. Para além do DOC Vinho Verde, reconhece-se também na região a Indicação IGP Minho, correspondente à zona de produção do vinho regional Minho. A área de produção de ambas é coincidente (Sitio 11).

Os limites e o posicionamento geográfico relativo da região podem ser vistos na Figura 1.

Em 2010 estavam plantados na região cerca de 31 010 ha de vinha, sendo que número de viticultores com cadastro vitícola rondava os 34 000 (MADRP/IVV, 2010/11).

A produção em 2010/11 (mosto e vinho) foi de 90,4 milhões L (14% do total nacional), o que corresponde à terceira maior região produtora nacional, atrás do Douro e da região vinícola Lisboa. O peso da produção cooperativa no Minho é de 25% (MAMAOT/IVV, 2011).

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Dos 90,4 milhões L produzidos, cerca de 69,6 % é vinho branco, 27,0 % vinho tinto e 3,4% vinho rosado. Em média o vinho DOC corresponde a um valor entre 95 e 99% do total e o vinho regional Minho 2 a 3%, tendo o vinho de mesa uma representatividade residual (MADRP/IVV, 2009).

Em 2006 estavam contabilizadas cerca de 24 200 adegas em laboração: cerca de 9 900 no distrito do Porto, 7 800 no distrito de Braga e 6 500 no distrito de Viana do Castelo (MAOTDR/MADRP, 2007). Tal corresponde a outras tantas potenciais fontes de poluição.

Figura 1 – Limites e localização geográfica relativa da região vitivinícola Minho (Sitio 11)

Sobre o destino da grande maioria do volume de efluentes gerados não existe informação disponível.

Os dados gerais que caraterizam a região encontram-se sumariados na Tabela 2.

Tabela 2 – Caraterização sumária da região vitivinícola Minho

Área plantada 2010 Nº de viticultores 2010 Vinho produzido (milhões de L) 2010/11 Nº de adegas em laboração 2006 Volume estimado de efluentes produzidos 2010/11 (milhões L) 31 010 ha 34 000 90,4 24 200 90,4 a 271, 2

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Capítulo 3 – Legislação relativa aos efluentes vinícolas

Os aspetos jurídico-legais são um dos condicionantes da atividade vitivinícola, quer no que concerne ao seu relacionamento com a sociedade, quer no que concerne aos aspetos estritamente produtivos. Por esta razão, julgamos ser pertinente identificar os principais diplomas nacionais e comunitários que se relacionam com a temática “efluente versus ambiente”.

Todas as entidades que exerçam atividade no setor vinícola têm de estar inscritas no Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), de acordo com o DL nº 178/99 (não se aplica aos Açores e à Madeira) e com a Portaria nº 8/2000. Estão isentos desta obrigatoriedade as pessoas singulares e coletivas que se dediquem exclusivamente à produção ou comércio de Vinho do Porto, os viticultores e produtores cujo volume de produção não seja superior a 4.000 L/ano e os retalhistas (MADRP/IVV, Anuário 2010/2011).

As adegas estão sujeitas a licenciamento industrial emitido pelas direções regionais do Ministério da Economia, de acordo com o Regulamento do Licenciamento da Atividade Industrial, baseado no DR nº 8/2003, com as Normas Técnicas definidas no DL nº 69/2003 e a Classificação dos Estabelecimentos Industriais, definida pela Portaria nº 464/2003.

Os EVs enquadram-se na definição de águas residuais industriais, sendo estas “todas as águas residuais provenientes de qualquer tipo de atividade, que não possam ser classificadas como águas residuais domésticas ou águas pluviais”. (Art.3º do DL nº 236/98).

A descarga de efluentes industriais para a água ou para o solo é regulamentada por Diretivas comunitárias, transpostas já na sua maioria para legislação nacional.

1. Legislação comunitária

A primeira reunião internacional cujo objetivo principal era o de definir as regras para o uso dos recursos hídricos, incluindo a descarga de efluentes e a qualidade da água, foi realizada em Helsínquia em 1966 (Pirra, 2005 e Leme, 2010).

Em maio de 1968, o Conselho da Europa adotou a Carta Europeia da Água. Esta, no seu Artigo 4º refere que “a qualidade da água deve ser preservada a um nível que satisfaça as exigências da saúde pública”. No Artigo 10º defende que “a água é um

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património comum, cujo valor deve ser reconhecido por todos. Todos têm o dever de a economizar e de a usar com cuidado” (Leme, 2010).

Em 1973, a comunidade europeia adotou um Programa de Ação, tendo em vista definir critérios relativos aos poluentes, à qualidade da água e ao controle da rejeição de efluentes.

A partir de 1976 diversas Diretivas e Regulamentos foram aprovados, visando a defesa da qualidade das águas, dos quais destacamos os que se encontram identificados na Tabela 3.

Tabela 3 – Sumário da principal legislação comunitária relativa à proteção das águas

Legislação Resumo do conteúdo

Diretiva 76/474/CEE

Fixa, entre outras prerrogativas, os limites para descarga de águas residuais em meio hídrico.

Diretiva 78/659/CEE

Refere-se à qualidade da água doce defendendo a necessidade de ser protegida ou melhorada, para permitir a normal existência da ictiofauna.

Diretiva 91/271/CEE

Enquadra a recolha, tratamento e evacuação de águas urbanas e de alguns setores industriais, tais como a produção de álcool e bebidas alcoolizadas.

Diretiva 2000/60/CE

Define um quadro para uma política comunitária relativa à água, atualizando toda a legislação produzida anteriormente. Tem como objetivo manter a qualidade das águas superficiais e subterrâneas em todos os países da UE. Obriga os estados membros a proteger e recuperar todas as massas de água subterrâneas e de superfície, de modo a que se encontrem em bom estado até 2015.

Regulamento 852/2004

Enumera os requisitos a cumprir no que se refere a pessoal, instalações, meios de transporte, equipamentos, abastecimento de água e tratamento de resíduos, aplicável a partir de 1 de janeiro de 2006.

2. Legislação nacional

Com base em legislação criada principalmente a partir da década de 70 do século passado, as indústrias são obrigadas a gerir os respetivos efluentes. Não existem normas específicas para a descarga de EVs, por estes serem considerados genericamente como efluentes industriais.

A produção de vinho (que representa uma fração significativa destas atividades industriais) não foi obrigada aos mesmos constrangimentos, sobretudo devido à falta de dados credíveis e/ou suficientemente precisos sobre a poluição que gerava.

No entanto, desde os anos 90 que se reconhece que a indústria vinícola está na origem de uma significativa poluição orgânica solúvel, sobretudo nas fases da vindima,

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vinificação e primeiras trasfegas (Jourjon at al., 2001). A regulamentação foi assim também ela evoluindo, de tal forma que hoje se considera esta indústria fonte de significativa perturbação dos ecossistemas, devendo por isso ser responsabilizada pelo tratamento dos respetivos efluentes. A legislação portuguesa regula não só a aplicação de parâmetros de qualidade da água de acordo com os seus diferentes usos, mas também a recolha, o tratamento e a descarga de efluentes no meio aquático. Desta legislação, destacamos a que se encontra resumida na Tabela 4.

Comparando as exigências de qualidade de um efluente industrial à saída da respetiva estação de tratamento de águas residuais (ETAR) definidas no DL n.º 236/98 (Tabela 5), com as exigências dos regulamentos municipais que permitem a descarga de efluentes industriais no respetivo coletor público definidas no DL 152/97, verificamos que os segundos são, obviamente, muito menos exigentes, logo, mais atrativos para a indústria vinícola ao nível de custos de tratamento.

À entidade gestora é paga uma tarifa de utilização, que varia de município para município, e que oscila entre 0,19 e 0,99 euros/m3 de efluente descarregado na rede, sendo por esta razão uma solução interessante como fonte de receita mas não como solução de tratamento (Vieira, 2009).

Tabela 4 – Sumário da principal legislação nacional relativa aos efluentes industriais e ambiente

Legislação Sumário do conteúdo

DL 46/94

Define os princípios gerais e condições de licenciamento para a rejeição de águas residuais no solo e em meio hídrico. Revogado posteriormente pela Lei 58/2005.

DR 23/95

Refere que as águas residuais das indústrias alimentares de fermentação e de destilarias só serão admitidas nos coletores públicos, desde que seja analisada a necessidade, caso a caso, de pré-tratamento.

DL 152/97

Define, entre outras, as noções de águas residuais domésticas, urbanas e industriais e as condições de descarga destas ultimas nos sistemas de drenagem e nas estações de tratamento de águas residuais urbanas.

DL

236/98

Define os parâmetros de qualidade que um efluente industrial deve ter, à saída da respetiva ETAR. Introduz o conceito de Valor Limite de Emissão (VLE). Define as normas, critérios e objetivos de qualidade, com a finalidade de proteger o meio aquático e melhorar a qualidade das águas, em função dos seus usos.

Lei

58/05

Transpõe a Diretiva 2000/60/CE. Estabelece as bases para a gestão sustentável das águas e o quadro institucional para o respetivo setor, assente no princípio da região hidrográfica como unidade principal de planeamento e gestão. Estabelece o enquadramento para a gestão das águas superficiais de forma a evitar a degradação contínua, proteger e melhorar o estado dos ecossistemas aquáticos, promover uma utilização sustentável da água e obter uma proteção reforçada do ambiente aquático. Define o princípio de poluidor-pagador.

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Tabela 4 – Sumário da principal legislação nacional relativa aos efluentes industriais e ao ambiente (contin.)

Legislação Sumário do conteúdo

DL 226A/07

Pretende pôr fim a uma filosofia considerada de “desincentivo às atividades económicas relacionadas com a água”, criando um novo quadro de relacionamento entre o Estado e os utilizadores dos recursos hídricos. Esclarece que a carga poluente resultante de rejeições de águas residuais industriais deve ser a mais reduzida possível, de acordo com os procedimentos existentes e a melhor técnica disponível.Refere que constitui contraordenação ambiental muito grave “lançar, depositar ou, por qualquer outra forma direta ou indireta, introduzir nas águas superficiais, subterrâneas ou nos terrenos englobados nos recursos hídricos, qualquer substância ou produto sólido, líquido ou gasoso, potencialmente poluente”.

DL 208/08

Transpõe a Diretiva 2006/118/CE relativa à proteção das águas subterrâneas contra a poluição e a deterioração. Determina que o licenciamento para a rejeição de águas residuais em meio natural é emitido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) da respetiva região. Refere que as entidades que infringirem as disposições legais, afetando a qualidade da água, terão a obrigação de indemnizar o Estado pelos danos provocados.

Lei 89/09

Define que a utilização dos recursos hídricos sem o respetivo título constitui uma contraordenação muito grave.

Os efluentes produzidos na região dos vinhos verdes afetam as bacias hidrográficas dos rios Minho e Douro, sendo que ambas são consideradas águas piscícolas. Alguns dos seus afluentes estão ainda classificados como massas de água para salmonídeos e ecossistemas particularmente sensíveis (de acordo com as Portarias 251/2000 e 462/2001), o que obriga a critérios qualitativos relativos à qualidade da respetiva água e dos efluentes neles descarregados, mais exigentes que os definidos para as águas píscolas (DL 236/98).

Tabela 5 – Principais VLE de descarga de águas residuais

Parâmetro VLE Expressão dos

resultados pH 6,0-9,0 Escala de Sorensen Temperatura3 Aumento de 3 °C °C CQO 150 mg L-1 SST 60 mg L-1 Fenóis 0,5 mg L-1 C6H5OH N total 15 mg L-1 N

P 10 ou 3 (em águas que alimentam lagoas ou albufeiras).

mg L-1 P

(DL 236/98)

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3. A atitude dos operadores nacionais perante a legislação

3.1. Relativa ao ambiente em geral

A incapacidade dos diferentes governos comunitários para aplicar as medidas definidas na legislação relativa ao ambiente, provoca uma perda estimada em 50 mil milhões de euros ano-1 para a economia europeia, principalmente devido aos custos daí decorrentes associados à preservação da saúde humana e do ambiente (Sítio 8).

Uma aplicação rigorosa da legislação da UE em matéria de resíduos, resultaria na criação de 400 000 novos postos de trabalho e numa poupança de cerca de 72 mil milhões de euros, comparativamente ao incumprimento dessa mesma legislação (Sítio 4).

Em 2007, uma monitorização comunitária relativa à aplicação da Diretiva Quadro da Água (Diretiva 2000/60/CE) referia que Portugal apresentava 40% das massas de água superficiais em situação de risco de incumprimento e 20% das massas de água com informação insuficiente (Sítio 2).

Em 2011, a Comissão Europeia manifestou a intenção de recorrer ao Tribunal de Justiça da UE, acusando Portugal de não cumprir a legislação no domínio dos recursos hídricos que exige a apresentação de planos de gestão das bacias hidrográficas, de acordo com a Diretiva citada anteriormente. Estes planos são indispensáveis para a UE atingir o objetivo “recursos hídricos europeus em bom estado” até 2015. Aqueles planos deveriam ter sido adotados até 22 de dezembro de 2009. O atraso na sua execução pode impedir que a água do continente europeu em geral, e a de cada um dos países em particular, sobretudo naqueles onde esta matéria não é entendida como prioritária, atinja a qualidade exigida (Sítio 2).

No que se refere ao tratamento de efluentes provenientes de atividades agropecuárias e agroindustriais, cujos impactos se fazem sentir em vastas regiões do território nacional, “continuam a persistir problemas que são graves e que estão insuficientemente enquadrados de um ponto de vista técnico e institucional” (MAOTDR/MADRP, 2007).

O relatório Mckinsey Portugal 2010 – Acelerar o Crescimento da Produtividade, citado pela IGAOT (2005), defende que uma das 6 causas que estão na origem do diferencial de produtividade entre Portugal e os restantes países da UE, é o não cumprimento de obrigações por parte dos agentes económicos. Uma dessas obrigações é a

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evasão a normas de mercado, designadamente o não cumprimento de normas de segurança e de restrições ambientais.

3.2. Relativa ao setor vinícola em particular

O processo de obtenção de autorização de laboração encontra-se legislado no DL n.º 69/2003 de 10 de abril, o qual estabelece as normas disciplinadoras da instalação, alteração e exploração de estabelecimentos industriais sujeitos a licenciamento. As normas relativas à regulamentação deste diploma estão consignadas no DR n.º 8/2003 de 11 de Abril.

Diversos relatórios oficiais (não desagregados por regiões vinícolas), registam o incumprimento da grande maioria das empresas do setor, do que se encontra definido na lei em termos de licenciamento industrial e de descarga de EVs. Por exemplo: em 2005 a Inspeção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAOT), enviou 161 notificações postais4 ao setor da produção de vinho (Produção de vinhos comuns e licorosos – CAE 15931) relativas à campanha 2004/2005, para aferir o cumprimento da legislação ambiental. Esta legislação abrange:

● Autorização de laboração;

● Licença de utilização do domínio hídrico para captações próprias de água;

● Licença de utilização do domínio hídrico para rejeição de águas residuais;

● Autorização de ligação de descarga de águas residuais no colector municipal;

● Registo de resíduos industriais;

● Comprovativo do preenchimento das guias de acompanhamento de resíduos;

● Autocontrolo de emissões atmosféricas.

A seleção dos agentes económicos notificados incidiu principalmente sobre aqueles que eram considerados mais representativos, atendendo a critérios de dimensão, volume de produção e tipologia de produtos fabricados (mono ou multiproduto), distribuídos pelo conjunto das 8 regiões vitivinícolas de Portugal continental, abrangendo quer o setor cooperativo quer o setor privado.

O resultado das notificações encontra-se registado na Tabela 6.

4

Na realidade apenas foram enviadas 149 notificações, mas fusões e divisões das empresas inquiridas deram origem a 161 respostas consideradas válidas pela IGAOT.

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Tabela 6 – Análise às empresas mais representativas do setor vitivinícola, relativa ao cumprimento da

legislação ambiental (2004)

Identificação

Notificações enviadas 161

Empresas que não responderam à notificação 41

Notificações devolvidas 8

Notificações respondidas 112

Empresas que não cumprem na totalidade o solicitado na notificação 105

Empresas que alegam não estar abrangidas pela notificação 5

Empresas que responderam à notificação e cumprem 2 (IGAOT, 2005)

Relativamente à licença de utilização do domínio hídrico para a rejeição de águas residuais ou descarga no coletor municipal, verificou-se que das 112 empresas que responderam à notificação:

● 11 Possuíam licença para rejeição de águas residuais no domínio hídrico;

● 16 Não possuíam licença para rejeição de águas residuais no domínio hídrico, mas faziam-no;

● 46 Estavam ligadas ao coletor municipal com a devida autorização camarária;

● 7 Estavam ligadas ao coletor municipal, sem a devida autorização camarária;

● 32 Encontravam-se noutras situações: empresas que informaram que os seus efluentes são recolhidos em depósitos e transportados para tratamento no exterior, ou empresas que não apresentaram qualquer informação, nem licença de rejeição de águas no domínio hídrico ou autorização de descarga no coletor municipal, havendo ainda empresas que não enviaram qualquer tipo de informação, alegando não estarem abrangidas pela obrigatoriedade de envio da documentação por não se dedicarem à atividade industrial (IGAOT, 2005).

Daqui destacamos a gravidade da situação (Figura 2) e que resulta dos seguintes factos: das 161 notificações enviadas, apenas 57 (35%) cumprem as normas

ambientais relativas à descarga de efluentes. Acresce que, destas, apenas 11 possuem licença para descarga em meio hídrico (7%) e as restantes 46 (29%) estão ligadas à rede

(40)

municipal de esgotos com a devida autorização. Apenas 2 empresas (1%) cumprem a

totalidade das prerrogativas ambientais.

Figura 2 – Número de empresas notificadas pela IGAOT e resultados obtidos (2005)

Em complemento a esta notificação a IGAOT efetuou uma campanha de inspeções a adegas, no sentido de confirmar a informação recebida e de aprofundar a fiscalização relativa ao cumprimento da legislação ambiental em vigor. Assim, em 2005, foram inspecionadas 84 adegas espalhadas por todo o país, sendo 49 cooperativas e 35 privadas,

concluindo-se da observação das ETARs existentes, que enfrentam graves problemas de funcionamento bem como de deficiente acompanhamento técnico (IGAOT, 2005).

A dimensão deste problema agrava-se ainda mais se considerarmos que o processo de licenciamento das adegas apenas é obrigatório para os estabelecimentos cuja atividade económica esteja integrada nos CAE 15930 e 15950 (produção de vinhos comuns a partir de uvas adquiridas a terceiros; de licorosos, de espumantes e espumosos), excluindo-se os vitivinicultores que produzem vinho a partir de uvas da própria exploração (CAE 01132). Existem atualmente centenas de adegas nesta situação, que processam anualmente mais de 1 300 toneladas de uvas próprias (que poderão gerar até 3 milhões de L de efluentes), constituindo-se algumas delas como autênticas instalações industriais isentas de licenciamento (IGAOT, 2005).

Acresce ainda que aos estabelecimentos industriais que recebem o vinho a granel dos produtores e procedem à sua conservação/estágio, engarrafamento, embalagem e expedição, também não é exigido licenciamento industrial.

Na perspetiva ambiental estas duas situações revelam incongruência legislativa grave, já que existem instalações de dimensão considerável que permanecem isentas de processo de licenciamento, apesar de gerarem um significativo volume de EVs.

Num outro inquérito efetuado pelo IVV na campanha 2005/2006 a 116 adegas cooperativas espalhadas pelo território nacional continental, foi obtida resposta de apenas

161 Empresas notificadas 57 (35%) Cumprem as normas ambientais para descarga de EVs 11 (7%) Possuem licença para descarga em meio hídrico

(41)

54% dos inquiridos (60 adegas). Das 60 adegas que responderam, 26 (43%) admite não ter qualquer sistema de tratamento de efluentes (MAOTDR/MADRP, 2007).

Outra abordagem ao setor feita pela MAOTDR/MADRP (2007) refere que das 475 unidades identificadas pelo IVV como produtoras de mais de 1000 hL de vinho ano-1, as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) apenas possuem informação ambiental relativa a 79 (17%). Destas 79 adegas, apenas 33 (42%) dispõem de licenças de descarga de águas residuais em massas de água e 25 (32%) estão ligadas ao coletor municipal (Figura 3). Daqui é possível inferir que em 2004/2005 apenas 12% do

total de unidades que produziram mais de 1000 hL de vinho, estariam devidamente

autorizadas a rejeitar os respetivos EVs e a apenas 7% delas possuíam licença para

evacuar efluentes nas massas de água.

Figura 3 – Número de empresas mais representativas do setor vinícola (produção> 1 000 hL) e postura face

às obrigações legais em 2004/2005 (MAOTDR/MADRP, 2007)

Sabendo-se que o total de locais de vinificação reconhecidos pelo IVV em 2005/2006 foi de 38 683 (excluindo-se deste número os armazenistas e engarrafadores que, como se sabe, também produzem efluentes), deduz-se facilmente que a percentagem de

adegas devidamente reconhecidas e/ou licenciadas para efetuarem descargas de EVs, independentemente do volume de vinho produzido, é insignificante.

Apesar da existência de apoios financeiros significativos que podem ser utilizados na proteção ambiental, quer através do Quadro de Referencia Estratégico Nacional (QREN) 2007-2013 (consubstanciado no Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais 2007-2013), quer através do Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER), a adesão a estas medidas é muito reduzida ou nula, como se verifica através da análise aos diferentes relatórios de execução do PRODER no período 2007-2011, enquadrados no Quadro Comunitário de Apoio 2007-2013 e no âmbito

475 Unidades com produção> 1000 hL 79 (17%) Fornecem informação ambiental

33 (7%) Possuem licença para evacuar efluentes em massas de água

Imagem

Tabela 1 – Caraterização sumária do setor vitivinícola nacional  Área  plantada (ha)    2010  Explorações   vitícolas  2003  Produção de vinho (milhões de L) 2010/11  Locais de  vinificação    2006  Viticultores 2010  Volume de efluentes  produzidos (milhõ
Figura 1 – Limites e localização geográfica relativa da região vitivinícola Minho (Sitio 11)
Tabela 4 – Sumário da principal legislação nacional relativa aos efluentes industriais e ao ambiente (contin.)
Tabela  6  –  Análise  às  empresas  mais  representativas  do  setor  vitivinícola,  relativa  ao  cumprimento  da  legislação ambiental (2004)
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Referências

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