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Determinantes Demográficos do Envelhecimento Brasileiro

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Academic year: 2021

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Determinantes Demográficos do Envelhecimento Brasileiro

Morvan de Mello Moreira1

Introdução

O processo de envelhecimento da população brasileira, manifestadamente visível nos anos 90, quando a generalizada queda da fecundidade, iniciada nos anos 60, se traduz em uma diminuição absoluta no contingente de menores de 5 anos de idades, é um dos mais rápidos processos de envelhecimento populacional observável no atual conjunto dos países mais populosos do mundo. Na experiência histórica da maioria dos países hoje desenvolvidos poucos apresentam velocidade similar àquela a ser vivenciada pelo Brasil. Isto porque, no Brasil, os níveis de mortalidade e fecundidade, quando do início do processo de declínio, são excepcionalmente elevados quando comparados com os daqueles países, gerando uma estrutura etária muito jovem, a qual, em combinação com as amplas e velozes reduções da mortalidade e, particularmente, da fecundidade, potencializa profundas variações na estrutura etária em um muito curto lapso de tempo. Na maioria dos países hoje desenvolvidos, os historicamente baixos níveis de fecundidade e mortalidade experimentados pelos mesmos forjaram uma estrutura etária relativamente envelhecida, que se modifica lentamente, em função das vagarosas mudanças nos já baixos níveis de fecundidade e mortalidade.2

O determinante chave da conformação da estrutura etária de uma população fechada e sua evolução ao longo do tempo em direção ao envelhecimento é o nível da fecundidade e sua trajetória temporal. Enquanto os níveis de fecundidade forem elevados e declinantes, a mortalidade tem um papel muito pouco expressivo, usualmente contrapondo-se ao efeito envelhecimento gerado pela queda da fecundidade. Entretanto, quando os níveis de mortalidade já são bastante baixos e todo o potencial declínio da fecundidade já foi quase completamente realizado, a mortalidade passa a ser o elemento central do envelhecimento demográfico.

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O papel da migração, seletiva por sexo e idade, muito concentrada sobre as populações em idade produtiva, usualmente tende a envelhecer a população de origem e rejuvenescer a de destino.

O objetivo deste trabalho é identificar o papel das variáveis demográficas no processo de envelhecimento demográfico brasileiro, através dos indicadores de envelhecimento subjacentes, comparando a evolução projetada da população nacional, em função de hipotetizados comportamentos futuros dos níveis e padrões de fecundidade e mortalidade, com as populações esperadas a partir de hipóteses que as componentes demográficas se mantenham constantes ao longo do período considerado.

Envelhecimento Demográfico

Do ponto de vista demográfico, uma população envelhece quando a taxa de crescimento da população considerada idosa é superior à da população jovem por um período sustentado de tempo. Como decorrência modifica-se a estrutura etária, aumentando a participação relativa dos idosos no total da população, amplia a razão entre a população idosa e a jovem e a idade média da população incrementa.

O envelhecimento populacional tanto pode ocorrer por meio de uma redução da fração da população jovem, sem igual e concomitante variação na população idosa, configurando-se o envelhecimento pela base, ou por um aumento da participação do contingente idoso, sem igual variação no percentual dos jovens, definindo o envelhecimento pelo topo. Usualmente, a estes dois processos de envelhecimento estão associados distintos papéis das variáveis demográficas. A queda da fecundidade é o determinante chave do envelhecimento pela base, enquanto a redução dos níveis de mortalidade responde pelo envelhecimento pelo topo. Estes papéis diferenciados associam-se, também, aos diferentes estágios em que se encontra o país no processo de transição demográfica. Naqueles onde os níveis de fecundidade e mortalidade ainda são elevados, o efeito da redução da fecundidade é o determinante chave do envelhecimento, sobrepujando o efeito da queda da mortalidade, que tende a rejuvenescer a população. Nos países em que os níveis de fecundidade e mortalidade já

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são muito baixos, e onde há espaço apenas para a queda da mortalidade, é esta o determinante principal do continuado envelhecimento populacional.3

Associar a queda da mortalidade como determinante central do envelhecimento é uma concepção equivocada, quando se considera o processo de envelhecimento de populações como a do Brasil. Uma das idéias equivocadas é que com a redução da mortalidade amplia a população sobrevivente que constituirá a população idosa. Entretanto, como o processo de declínio da mortalidade, historicamente experimentado pelo Brasil desde os anos 40, beneficiou muito mais a população jovem do que a idosa, a conseqüência foi o de rejuvenescer a população brasileira e não envelhece-la. Apenas quando os níveis de mortalidade geral forem baixos e também os níveis de fecundidade o forem é que a queda da mortalidade determinará o envelhecimento demográfico nacional.4 Outra razão para associar-se envelhecimento com queda de mortalidade tem a ver com a experiência histórica dos países desenvolvidos que sempre apresentaram populações relativamente envelhecidas e, por longo período, experimentaram quedas nos níveis de mortalidade. O que se deve ter em conta é que os mesmos, também, experimentaram significativas reduções em seus níveis de fecundidade. De forma similar, o terceiro fator que subsidia esta associação indevida resulta de comparações entre tabelas de sobrevivência. Nelas encontra-se que aquelas de menor nível de mortalidade são as que, também, apresentam populações mais envelhecidas, e as de mortalidade mais elevadas as que apresentam menores proporções de idosos. Como o número de nascimentos é igual em ambas (a raiz da tabela) poder-se-ia ser tentado a concluir que os níveis de fecundidade são os mesmos. Entretanto, para igual número de nascimentos, na população estacionária de menor mortalidade, a fecundidade tem que ser mais baixa, uma vez que terá mais mulheres em cada idade, por ser maior a probabilidade de sobrevivência entre o nascimento e uma idade qualquer. Na população

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Caselli e Vallin (1990) mostram que na Itália, mesmo que o atual já baixo nível de fecundidade de 1,4 filhos por mulher se mantenha até 2040, para este período, mais da metade do incremento na proporção da população italiana de 60 anos e mais será devido à variação nos níveis de mortalidade. Para a França esta proporção é ainda maior, atingindo quase 70%.

4 Em uma população quase-estável, como parece ter sido a brasileira desde os anos 40 até a generalização da queda da fecundidade a partir dos anos 70, na qual os níveis de fecundidade foram relativamente constantes e a mortalidade sofreu maiores reduções, podemos imputar que as transformações da estrutura etária se devem quase que exclusivamente à mortalidade, por ser a única a variar. Esta estrutura etária

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de maior mortalidade, o nível da fecundidade terá de ser mais elevado para compensar o menor número de mulheres em cada idade, em razão das mais baixas chances de sobrevivência desde o nascimento até uma idade qualquer.5

População Estável

Uma adequada apresentação dos impactos da mortalidade e da fecundidade sobre a distribuição etária é realizada por Coale, em artigo de 1956, complementado pelo capítulo sobre a população estável em seu livro de 1972.6 Para tal lança mão da análise da população estável, que é uma população fechada para a qual supõe-se que os níveis e padrões de fecundidade e de mortalidade por idade e sexo mantiveram-se constantes por um longo período de tempo. Independente de qual tenha sido a conformação inicial da estrutura etária proporcional, a estabilidade das funções mortalidade e fecundidade, por lapso de tempo suficiente para que as gerações sejam integralmente substituídas por gerações nascidas sob a égide das taxas estáveis, resulta em uma taxa de crescimento estável e igual para todos os grupos de idades (taxa intrínseca de crescimento), gerando, em conseqüência, uma distribuição etária proporcional estável, e taxas de natalidade e mortalidade constantes. 7 A taxa de crescimento desta população pode ser não nula (o que significa que pode crescer ou decrescer em termos absolutos) mas é estável, e igual às taxas de crescimento de cada um dos grupos etários, em razão de taxas de natalidade e mortalidade estáveis. Quando a taxa de crescimento da população estável é nula, define-se uma população estacionária, que apresenta todas as características da população estável, além de apresentar constante a distribuição etária em termos absolutos.

Em uma avaliação em termos estáticos, mas que também é útil para identificar os efeitos das mudanças das componentes demográficas sobre a distribuição etária, conforme mostra Coale (1956), entre duas populações estáveis, com iguais níveis de

5

Vide United Nations (1954)

6

Vide Coale (1956, 1972, 1972a). Veja, também, Stolnitz (1956), Hermalin (1966) e Keyfitz (1968).

7

Em verdade é necessário que todas as gerações nascidas anteriormente à estabilidade da fecundidade e mortalidade tenham sido substituídas por gerações nascidas sob as novas condições, o que significa dizer que o lapso de tempo necessário para a completa estabilidade da distribuição etária proporcional é igual à duração da vida humana da população em tela. Como a fecundidade, e não a mortalidade, é o elemento chave na determinação da estrutura etária, para que os efeitos da estabilidade já sejam notados, é suficiente que a distribuição etária das mulheres em idade reprodutiva tenha atingido a estabilidade.

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mortalidade, aquela que apresenta maiores níveis de fecundidade será a mais jovem, com maior proporção de jovens e menor proporção de idosos. Coale (1956) mostra que a maior proporção de população jovem, entre a população estável de fecundidade elevada, permanece até a idade média das idades médias de ambas as populações, momento a partir do qual a distribuição etária proporcional da população de menor fecundidade passa a apresentar maiores proporções de população nos grupos etários subseqüentes, apresentando-se, assim, mais envelhecida.

O efeito sobre a distribuição etária das diferenças nas taxas de específicas de mortalidade entre duas populações estáveis, com a mesma fecundidade, depende em qual o grupo etário concentra-se a diferença: se na infância; se entre os 5 e 45-50 anos de idade; se após os 45-50 anos. Coale (1956) mostra que, se o diferencial de mortalidade concentra-se sobre o primeiro agrupamento (0 < a < 5), gera praticamente o mesmo efeito que aquele derivado das diferenças na fecundidade, de tal forma que a população com maiores taxas de sobrevivência apresentará maiores percentuais nos grupos etários anteriores à idade média e menores daí em diante. A conseqüência de menores níveis de mortalidade em uma população do que outra, acima dos 45 ou 50 anos, é ampliar a proporção deste grupo aberto naquela população de menores níveis de mortalidade. Como esta idade identifica o limite superior das idades reprodutivas, variações nos níveis de mortalidade acima desta idade não afetam a taxa de crescimento populacional e, portanto, seu efeito sobre os grupos etários mais jovens implica tão somente em uma igual e modesta redução nos mesmos, uma vez que o incremento observado no grupo mais velho tem que ser compensado por uma redução nos demais, de tal forma a preservar a distribuição etária proporcional. No intervalo etário que compreende as idades reprodutivas, se as diferenças de sobrevivência entre as duas populações é constante então não haverá diferenças entre as distribuições etárias, pois o efeito da mais elevada sobrevivência, que tenderia envelhecer a população, é contrabalançado pela mais elevada taxa de crescimento populacional, que tende a rejuvenescer a população.

O efeito conjunto destas três possíveis variações da mortalidade, usualmente, é o de ampliar a participação do grupo etário abaixo da idade média na população de mais

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baixa mortalidade e, eventualmente a do grupo etário acima do limite superior da idade reprodutiva.

No Gráfico 1 são apresentadas as distribuições etárias das populações estáveis de 1980 e 2020, com base nas funções fecundidade e mortalidade nestes dois momentos. As distribuições etárias das populações estáveis geradas a partir de combinações das funções fecundidade e mortalidade mostram o papel das componentes demográficas na determinação das transformações na estrutura etária, onde fica claro o papel hegemônico da fecundidade, mensurado pelo distanciamento entre os traçados quando são mantidos os níveis de mortalidade.

A quase totalidade da mudança na estrutura etária entre 1980 e 2020 é na direção de um amplo processo de envelhecimento demográfico, com um expressiva redução na proporção da população jovem e um amplo crescimento da população idosa. Ainda que a fecundidade seja o elemento mais importante na profunda variação na composição etária da população brasileira no período 1980-2020, a mortalidade tem impacto significativo sobre a porção final da distribuição etária, particularmente sobre a população acima de 70 anos, conforme mostra o Gráfico 1, no qual a separação observada entre os traçados, para iguais níveis de fecundidade, dá a medida da significância do aumento da sobrevivência entre os idosos. O crescente papel da mortalidade pode ser apreendida pela comparação entre os segmentos etários acima de 70 anos de idade nas populações estáveis construídas com a fecundidade de 2020 e a mortalidade de 1980 e aquela gerada a partir da fecundidade e mortalidade de 2020.

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Gráfico 1 - Brasil – População Estável Segundo Diferentes Combinações de Funções Fecundidade e Mortalidade e População Observada – 1980 e 2020

7 5 3 1 1 3 5 7 00 - 04 05 - 09 15 - 19 20 - 24 30 - 34 35 - 39 45 - 49 50 - 54 60 - 64 65 - 69 75 - 79 80 + Grupos de Idades Percentagem 1980 - Estável 1980 - Observada 2020 - Estável 2020 - Observada Homens Mulheres 1980 - Estável 2020 - Estável F80-M20 F20-M80

A comparação das populações observadas em 1980 e 2020 mostra que enquanto a população observada de 80 ainda guardava resquícios da quasi-estabilidade das décadas anteriores, pouco se afastando da estrutura estável correspondente, a população observada de 2020 guarda muito pouca similitude com a correspondente população estável.

Envelhecimento da População Brasileira

De acordo com as projeções das Nações Unidas (United Nations, 1999), a população brasileira, no período 1950-2050, apresentará um dos mais rápidos processos de envelhecimento demográficos, entre os 51 países que, em 2030, terão pelo menos 30 milhões de habitantes, só sendo superado, na América Latina pelo intenso envelhecimento a ser experimentado pela Venezuela.8 As projeções das Nações Unidas apontam que o Brasil teria, em 2000, uma população de 170 milhões de habitantes, dos quais 49 milhões abaixo de 15 anos de idade e 8,7 milhões acima de 65 anos. Projeções para 2020 sugerem que o Brasil atingiria 209 milhões de habitantes, sendo que 48,9

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milhões com menos de 15 anos (23,3%) e 17,8 milhões com pelo menos 65 anos de idade (8,5%). Para 2050, as projeções indicam que a população nacional ascenderia a 244 milhões de pessoas, das quais 49 milhões teriam menos de 15 anos e 42,2 milhões acima de 65 anos. Fruto de tão expressivas diferenças de crescimento entre os dois grupos etários, os jovens, que em 2000 representavam 28,8% da população, em 2050, responderão por 20,1%, diferentemente da população idosa, que em 2000 respondia por 5,1% da população total do País e, que, em 2050, participaria em 17,3%.

As projeções do IBGE (1997), utilizando níveis e padrões de fecundidade e mortalidade distintos daqueles utilizados pelas Nações Unidas, e cobrindo um período de tempo mais curto (1980-2020), mostram uma evolução mais conservadora da população nacional que passaria de 167,4 milhões, em 2000, para 200,4 milhões, em 2020 e na qual a dimensão e o peso do contingente jovem é menos expressivo. Em 2000 não seriam amplas as diferenças entre a projeção do IBGE e das Nações Unidas: o IBGE projeta uma população jovem da ordem de 48 milhões (28,7%) e 9 milhões de idosos (5,4%). Entretanto, em 2020, já há uma certa expressividade nas diferenças entre as projeções do IBGE e das Nações Unidas, diferença esta que se concentra na população jovem, pois a projeção do IBGE sugere que o Brasil teria 43,1 milhões de menores de 15 anos, participando com 21,5% do contingente brasileiro (48,9 pelas Nações Unidas, representando 23,3%) e 17,1 milhões de idosos, correspondendo a 8,5% da população brasileira (e 17,8 milhões e os mesmos 8,5%, de acordo com as projeções das Nações Unidas).

Na Tabela 1, são apresentados indicadores provenientes de projeção da população brasileira a partir de 1980, utilizando as funções fecundidade e as taxas de sobrevivência utilizadas pelo IBGE para projetar a população brasileira até 2020. Para projetar o período 1980-1990 foram utilizadas as funções de uma projeção anterior (IBGE, 1994) às daquela do período 1990-2020 (IBGE, 1997). A projeção para o período 2020-250 foi elaborada mantendo-se constante, para todo o período, as funções fecundidade e mortalidade vigentes no período 2015-2020.

O conjunto de indicadores apresentado na Tabela 1 aponta para uma unívoca tendência de envelhecimento da população brasileira. A redução na participação da população jovem, a ampliação da fração dos idosos, o incremento no Índice de Idosos e a

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ampliação da idade média da população são marcas inequívocas do rápido processo de envelhecimento da população brasileira. A redução da participação da população jovem para menos da metade daquela observada em 1980, associada à mais do que quadruplicação da importância relativa da população idosa, implica em um incremento no Índice de Idosos que quase decuplica no período, apontando por um envelhecimento demográfico cuja intensidade não tem correspondência na experiência histórica dos países hoje desenvolvidos e que se inscreve entre os mais vigorosos em escala mundial.9 Tabela 1 - Brasil – Indicadores Selecionados da População Projetada – 1980-2050

Período População menor de 15 anos (percentual) População de 65 anos e mais (percentual) Índice de Idosos Idade Média 1980 38,2 4,0 10,5 24,7 1985 36,5 4,0 10,9 25,2 1990 35,0 4,2 12,0 26,0 1995 32,2 4,7 14,7 27,3 2000 29,1 5,2 18,0 28,7 2005 26,1 5,9 22,5 30,2 2010 24,4 6,5 26,6 31,6 2015 23,1 7,3 31,8 33,0 2020 21,9 8,6 39,1 34,4 2025 20,6 10,1 49,2 35,8 2030 19,5 12,0 61,6 37,1 2035 18,7 13,6 72,5 38,2 2040 18,3 14,9 81,3 39,1 2045 17,9 16,3 90,8 39,9 2050 17,6 17,8 101,0 40,5

Fonte: Projeções do autor

A dimensão e a intensidade do envelhecimento demográfico nacional podem ser avaliadas pelo fato de, em 2050, o número de idosos vir a superar o número de jovens e no intervalo de uma centúria este índice quase se decuplicar.

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Determinantes Demográficos do Envelhecimento da População

Brasileira

O rápido processo de envelhecimento da população brasileira está intimamente associado à velocidade com que a fecundidade das mulheres brasileiras declina ao longo do tempo. A simples análise dos gráficos da distribuição etária da população brasileira no período 1940-1970, quando os níveis de mortalidade nacional declinavam rapidamente e a fecundidade mantinha-se praticamente estável, mostra que a composição etária da população brasileira pouco se modificou neste período de intensa queda da mortalidade. Em contraste, a partir dos anos 90, quando as novas gerações nascidas sob níveis de fecundidade declinantes adentram a idade reprodutiva e passam a determinar o número de nascimentos a cada ano, é expressiva a modificação na estrutura etária da população brasileira.

No Gráfico 2 são apresentadas as distribuições etárias proporcionais da população brasileira no período 1940-1970, onde fica claro a similitude entre as mesmas, a despeito da queda da mortalidade observada no período. Neste período as pirâmides etárias têm a conformação típica das populações com altas taxas de crescimento, resultantes de elevadas taxas de mortalidade, mas que são amplamente superadas pelas mais do que proporcionalmente altas taxas de natalidade.

Para contrastar com a relativa estabilidade das estruturas etárias no período anterior a 1970, no Gráfico 3 são apresentadas as distribuições etárias proporcionais da população brasileira no período 1970-1991, no qual fica evidente o impacto da redução da fecundidade iniciada nos meados da década de 60 e que resulta em um estreitamento da base da composição etária de 1991. Este movimento se transformará em uma onda que se propagará na estrutura etária futura, e quando atingir as idades reprodutivas, combinada com a eventual continuidade da redução dos níveis de fecundidade acelerará o movimento de envelhecimento, pela base, da população brasileira.

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Gráfico 2 - Brasil – Estrutura Etária Proporcional – 1940-1970 9 7 5 3 1 1 3 5 7 9 00-05 05-10 15-20 20-25 30-35 35-40 45-50 50-55 60-65 65-70 75-80 80 e + Grupos de Idades Percentagem 1940 1950 1960 1970 Homens Mulheres

Fonte: IBGE. Censos Demográficos de 1940, 1950, 1960, 1970.

Gráfico 3 - Brasil – Estrutura Etária Proporcional – 1970-19910

9 7 5 3 1 1 3 5 7 9 00-05 05-10 15-20 20-25 30-35 35-40 45-50 50-55 60-65 65-70 75-80 80 e + Grupos de Idades Percentagem 1991 1980 1970 Homens Mulheres

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fecundidade. A persistência deste movimento é o elemento chave da trajetória de modificação da estrutura etária nacional e do envelhecimento da população brasileira no período de 1950-2050, apresentado na Tabela 1. Ele resulta em uma diminuição no número de nascimentos, contraindo a base da pirâmide de idades e a conseqüente ampliação da proporção dos idosos no total da população.

Sob a hipótese de ser fechada a população brasileira, a comparação da projeção da população no período 1980-2050, supondo constantes os níveis de fecundidade e mortalidade vigentes em 1980, com aquela projetada a partir de variações nos níveis e padrões da fecundidade e da mortalidade, permite aferir os impactos sobre os indicadores de envelhecimento populacional gerados pela inércia da estrutura etária. Se a estrutura etária e os indicadores de envelhecimento gerados por esta população, projetada por meio de níveis e padrões constantes de fecundidade e mortalidade correspondentes a 1980, são comparadas às estruturas etárias e aos indicadores provenientes de similar projeção, na qual é permitida a evolução da fecundidade, pode-se identificar o impacto gerado pela variação da fecundidade.

Se a comparação é efetuada com uma população projetada na qual as variações na mortalidade são incorporadas, então é possível estabelecer o impacto gerado pelas mudanças na mortalidade. Tal conjunto de comparações está apresentado na Tabela 2.

Tabela 2 - Brasil – Indicadores Selecionados do Envelhecimento Populacional por Hipóteses de Variação nas Componentes Demográficas e Efeitos da Variação entre 1980 e 2050 – 1980 e 2050

1980 2050

Indicadores Observada Estável Projeção Fecundidade Constante Mortalidade Constante Mortalidade e Fecundidade Constantes % 60 anos e mais 6,1 8,1 24,3 9,8 21,6 8,6 % 65 anos e mais 4,0 5,3 17,8 6,8 14,9 5,6 Idade média 24,7 27,0 40,5 28,1 39,3 27,6 Índice de Idosos 10,5 14,9 101,0 19,8 84,3 16,4 Menos de 15 anos 38,2 35,5 17,6 34,6 17,7 34,4 Menos de 20 anos 49,7 45,1 23,7 44,0 24,0 43,9

Variação entre Efeito Total Efeito Efeito Estrutura

1980 e 2050 Interação da da Etária

Líquido mortalidade Fecundidade

% 60 anos e mais 1,5 18,3 1,2 13,0 2,5 % 65 anos e mais 1,7 13,8 1,2 9,3 1,6 Idade média 0,7 15,8 0,4 11,7 3,0 Índice de Idosos 13,3 90,5 3,4 68,0 5,9 Menos de 15 anos -0,3 -20,6 0,2 -16,7 -3,9 Menos de 20 anos -0,4 -25,9 0,2 -19,9 -5,8

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A ampla distância entre a população estável e a projetada mostra o efeito das variações na fecundidade e da mortalidade e sua interação com as mudanças na estrutura etária inicial delas decorrentes ao longo do período considerado e seu forte impacto sobre o envelhecimento da estrutura etária. Por outro lado, a comparação da população observada em 1980 e a estável gerada a partir da fecundidade e da mortalidade vigente em 1980 mostra que a manutenção destas componentes nos níveis correntes muito pouco resultaria em envelhecimento da população brasileira que tenderia a manter sua estrutura etária jovem.

Entre 1980 e 2050, sob a hipótese de variações nos níveis de fecundidade e mortalidade, a proporção de população de 65 anos e mais ampliaria em 13,8 pontos percentuais, passando de 4,0%, em 1980, para 17,8%, em 2050, indicando claramente a trajetória para o envelhecimento da população brasileira.10

Se os níveis e padrões da fecundidade se mantivessem constantes, em nível de 1980, durante o período de projeção, ainda assim a proporção de população idosa ampliaria 1,6 pontos percentuais, passando de 4,0%, em 1980, para 5,6%, em 2050. Qual seja, a inércia da distribuição etária geraria, por si mesmo, um movimento de relativo envelhecimento demográfico, ainda que muito modesto. Observe-se que a população projetada sob a hipótese de constância das variáveis demográficas em muito se assemelha à população estável e, portanto, apresenta indicadores muito semelhantes de envelhecimento da população, sendo praticamente indiferente qual das duas a considerar como referência para se avaliar a contribuição da composição etária inicial para as variações da mesma ao longo do tempo.

Se a população projetada sob hipóteses de estabilidade das componentes demográficas é contrastada com aquela que é elaborada a partir da constância da fecundidade, mas permitindo-se transformações na mortalidade, então as variações observadas dependem inteiramente das modificações ocorridas na mortalidade. Em 2050, em razão da queda preconizada na mortalidade, a proporção de população de 65 anos e mais supera em 1,2 pontos percentuais aquela que se encontraria em uma situação em que a mortalidade

10

Em que pese se concentrar a avaliação da contribuição das componentes demográficas tomando como referência a população de 65 anos e mais, a variação em todas as demais variáveis selecionadas para

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tivesse permanecido constante desde 1980 (6,8% - 5,6%), apontando para uma modesta contribuição da queda da mortalidade para o envelhecimento da população brasileira. Por outro lado se a comparação é quando os níveis de mortalidade são mantidos constantes e os de fecundidade são declinantes, então a população de 65 anos e mais é 9,3 pontos percentuais superior àquela gerada pela estabilidade das componentes, demonstrando o significativo papel desempenhado pela queda da fecundidade no envelhecimento da população brasileira.

O efeito líquido resultante da interação das variações nas componentes demográficas e na estrutura etária amplia o envelhecimento em 1,7 pontos percentuais, sendo o mesmo estimado como o resíduo da diferença entre o valor observado em 1980 e o projetado para 2050 e o somatório dos efeitos individuais das componentes demográficas e a sua interação com a estrutura etária. Neste sentido, as variações absolutas nas participações relativas da população idosa entre 1980 e 2050 podem ser decompostas em termos relativos, encontrando-se que a queda da fecundidade responde por algo próximo de 70% do envelhecimento da população brasileira no período considerado, enquanto que a mortalidade contribui com menos de 10% e as componentes representadas pela inércia da estrutura etária e o efeito líquido da interação em torno de 10%, cada uma.

Se tal avaliação é executada tendo em conta um período mais curto após a desestabilização da estrutura etária, então as componentes demográficas, a estrutura etária e o efeito interação líquido apresentam importância relativa distinta daquela depois de um longo lapso de tempo, conforme mostram os dados da Tabela 3.

Tabela 3 - Brasil – Indicadores Selecionados do Envelhecimento Populacional por Hipóteses de Variação nas Componentes Demográficas – 1980 e 2020

1980 2020

Indicadores Fecundidade

Observada Estável Projeção Fecundidade Mortalidade e

Constante Constante Mortalidade

Constantes % 60 anos e mais 6,1 13,0 9,0 11,6 8,0 27,2 % 65 anos e mais 4,0 8,6 5,9 7,2 5,0 21,1 Idade média 24,7 34,4 27,6 33,9 27,3 42,2 Índice de Idosos 10,5 39,1 17 33,4 14,5 127,2 Menos de 15 anos 38,2 21,9 34,8 21,6 34,4 16,6 Menos de 20 anos 49,7 29,3 44,2 29,1 44,0 22,4

Variação entre Efeito Total Efeito Efeito Estrutura

1980 e 2020 Interação da da Etária

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% 60 anos e mais 0,4 6,9 1,0 3,6 1,9 % 65 anos e mais 0,4 4,6 0,9 2,2 1,0 Idade média 0,2 9,7 0,3 6,6 2,7 Índice de Idosos 3,2 28,6 2,5 18,9 4,0 Menos de 15 anos -0,1 -16,3 0,4 -12,8 -3,8 Menos de 20 anos -0,1 -20,3 0,3 -14,8 -5,7

Fonte: Projeções do autor

Considere-se que as reduções na base da estrutura etária, geradas pela permanente diminuição dos níveis de fecundidade, “sobem” em direção aos grupos etários mais velhos como bolhas sucessivas e que estas “bolhas” se contraem com mais intensidade quando as novas gerações em idades reprodutivas são constituídas pelos nascidos sob os novos níveis de fecundidade, combinando gerações sucessivamente menores com sucessivos mais baixos níveis de fecundidade. Neste caso, o que se identifica no início do processo de envelhecimento populacional é, apesar do alto percentual de mudança associada à queda da fecundidade, uma significativa importância do efeito acumulado passado das componentes demográficas sobre a estrutura etária e um quase igual impacto das variações da mortalidade que, em conjunção com as variações da fecundidade, interagem para acentuar a tendência ao envelhecimento.

A comparação da estrutura etária de 1980, com a população estável gerada pela fecundidade e mortalidade de 1980, mostra uma população observada, efetivamente, muito mais jovem do que a estável que geraria, dando uma dimensão do potencial de envelhecimento que a estrutura etária intrinsecamente carrega, permitindo, simultaneamente, identificar como seriam geradas as transformações etárias se as taxas correntes de fecundidade e mortalidade permanecessem constantes em seus níveis atuais. Em relação à população acima de 65 anos a diferença entre as proporções neste grupo etário é de 17,1 pontos percentuais (21,1 – 4,0), conforme mostram os dados da Tabela 3.

Uma avaliação da proporção da população de 65 anos e mais no período 1980-2020 mostra que a componente estrutura etária e o efeito mortalidade respondem por quase iguais proporções na variação do peso da população idosa (em torno de 20%), enquanto a queda da fecundidade representa quase a metade de toda a variação e a interação entre as componentes demográficas pelos 10% restantes.

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substituindo progressivamente os papéis desempenhados pela estrutura etária historicamente delineada pela fecundidade e mortalidade passada e as reduções nos níveis da mortalidade.

A comparação dos resultados das tabelas 2 e 3 relativos aos índices de idosos mostra que a importância da fecundidade para a mudança do índice cresce com o tempo, declinado a significância de todos os demais componentes e que a inércia da estrutura etária passa a apresentar participação relativa menos significativa do que o efeito interação, possivelmente em razão do impacto da fecundidade.

Síntese e Conclusões

O processo de envelhecimento da população brasileira é um movimento ainda em suas etapas iniciais, mas consolidado em razão de sua irreversibilidade e projetada ampliação. Ainda que em seus primórdios, a experiência projetada de envelhecimento da população brasileira no período 1980-2050 inscreve-se entre aquelas mais velozes entre países com contingentes demográficos apreciáveis. Entre 1980 e 2050 a população jovem tenderá a reduzir para a metade a sua participação na população brasileira, enquanto a população idosa mais do que quadruplicará o seu peso no contingente demográfico nacional. Mensurado em termos da relação entre a população idosa e jovem, o que se projeta para o Brasil é que, em 2050, a população idosa será ligeiramente superior à jovem, em contraste com os anos 80 quando havia apenas um idoso para cada dez jovens. Para todo o período considerado é a queda da fecundidade o determinante chave do envelhecimento demográfico brasileiro, desempenhando a mortalidade papel discreto, inferior, inclusive, ao da inércia demográfica estabelecida pela estrutura etária de partida da população e mesmo do efeito líquido da interação das componentes demográficas em conjunto com a estrutura etária. Em termos relativos a fecundidade responde por quase 70% do movimento de envelhecimento demográfico nacional, enquanto a mortalidade, a inércia populacional e a interação destes fatores respondem em torno de 10%, cada um, respectivamente.

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Referência Bibliográficas

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Referências

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