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O acesso de jovens ao ensino superior no Estado do Rio de Janeiro

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O acesso de jovens ao ensino superior no Estado do Rio de

Janeiro

Giovani Quintaes* Andréia Arpon* Adriana Fontes* Beatriz Cunha*

Palavras-chave: educação; universidade; jovens; favelas.

Resumo

O artigo analisou a desigualdade de acesso à universidade entre os jovens de diferentes segmentos da sociedade e as características familiares e pessoais que influenciam na probabilidade deles alcançarem o nível superior. Mais especificamente, comparou as condições educacionais dos jovens, entre 17 e 25 anos de idade, que moram nas favelas do Rio de Janeiro em relação ao restante do estado. Também buscou mensurar os retornos do ensino superior.

O ensino superior atinge pequena parcela da população adulta no Rio de Janeiro e, nas favelas, as condições são ainda piores - apenas 14% e 2%, respectivamente, completaram ao menos 1 ano do nível superior. Este quadro permanece perverso para a população de 17 a 25 anos, que a princípio deveria estar na universidade. A distância no acesso a universidade entre os jovens moradores das favelas e do Rio sem Favelas é ainda maior nas faixas etárias mais elevadas. O acesso das pessoas com 26 a 30 anos no Rio sem favelas é 5,4 vezes maior que o das pessoas com a mesma idade residentes em favelas. Para os maiores de 50 anos essa distância sobe para 11,1.

Outra questão diz respeito a probabilidade de entrada na universidade, onde o estudo sugere que melhorar as condições dos ambientes familiares aumenta as chances de ingresso. Residir em favelas é um fator que reduz em 34% a probabilidade. Em contrapartida, o ingresso em uma universidade mostrou-se um bom indicador de melhoria de bem-estar, visto que proporciona melhor inserção no mercado de trabalho e maior ascensão social.

A partir desses resultados, conclui-se que o debate sobre a qualidade da educação de nível de superior é fundamental, mas para a maioria dos jovens e, sobretudo os moradores das favelas, o acesso à universidade ainda é a primeira barreira a ser quebrada.

Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-

(2)

O acesso de jovens ao ensino superior no Estado do Rio de

Janeiro

Giovani Quintaes* Andréia Arpon* Adriana Fontes* Beatriz Cunha*

1.

Introdução

1

A importância da educação para o desenvolvimento, em todos os sentidos, tanto do indivíduo quanto do local onde ele está inserido, é atualmente um fato bem aceito por todos. Em contrapartida, o amplo acesso à educação, principalmente de níveis superiores, ainda está distante de se tornar realidade. Esse artigo pretende contribuir para este debate a partir da análise dos ganhos de renda com o aumento da escolaridade, em especial, de nível superior, e a desigualdade de acesso à universidade entre os jovens de diferentes segmentos da sociedade. Mais especificamente, a idéia é comparar as condições educacionais dos jovens, entre 17 e 25 anos de idade, que moram nas favelas2 do Rio de Janeiro em relação às demais áreas do estado. Além disso, analisa-se a influência de características familiares e pessoais sobre a entrada desses jovens no ensino superior.

2.

Desigualdade de acesso

A tabela 1 é o retrato de uma parte dos graves problemas educacionais existentes no estado do Rio. Entre a população adulta (25 anos ou mais de idade), 21% não concluíram nem sequer o primeiro ciclo do ensino fundamental (antigo primário), sendo que nas favelas esse percentual chega a quase 33%. Além de demonstrar os baixos níveis de escolaridade da população, verifica-se uma alta desigualdade de acesso à educação entre os moradores das

favelas e do restante do estado. O ensino superior é restrito a apenas 14% da população adulta

do estado, sendo que entre os moradores de favelas somente 2% conseguem ingressar na universidade.

(3)

Tabela 1

Distribuição da população adulta (25 anos ou mais) por faixa educacional no Rio de Janeiro

Anos de estudo Total Rio sem favelas Favelas

0 a 3 21,0 19,9 32,6 4 17,1 16,8 20,6 5 a 7 12,6 12,1 18,0 8 12,2 12,2 12,4 9 a 10 4,9 4,9 4,4 11 18,5 19,3 10,0 12 e mais 13,7 14,8 2,0

Fonte: Tabulação construída pelo IETS com base no Censo Demográfico de 2000 (IBGE).

O alcance de níveis mais altos de escolaridade nas favelas é notoriamente desfavorável quando comparado ao restante do estado. A tabela 2 mostra que as taxas de retenção3 para a população com mais de 25 anos entre os moradores das favelas são superiores em mais de 40% aos demais moradores do estado. A taxa de retenção no nível médio está em torno de 57% para o total do estado, enquanto que nas favelas sobe para 83%, ou seja, dos moradores que conseguem a “façanha” de concluir o ensino médio apenas 17% continuam estudando.

Tabela 2

Total Rio sem Favelas Favelas Retenção da 1ª até 3ª série do ensino fundamental 14,3 13,6 22,5 Retenção da 4ª série do ensino fundamental 21,6 20,9 30,5 Retenção da 5ª até a 7ª série do ensino fundamental 20,4 19,2 38,5 Retenção da 8ª série do ensino fundamental 24,7 23,8 42,9 Retenção da 1ª a 3ª série do ensino médio 63,0 62,1 87,7 Retenção na 3ª série do ensino médio 57,4 56,6 83,1 Fonte: Tabulação construída pelo IETS com base no Censo Demográfico de 2000 (IBGE).

Taxa de retenção escolar da população adulta (25 anos ou mais) no Rio de Janeiro

A tabela 3 mostra o percentual de pessoas que chegaram a completar pelo menos um ano de universidade por faixa etária. Percebe-se que os índices das favelas são inferiores em todos os grupos etários, sendo que a faixa etária com maior acesso ao nível superior nas

favelas é composta por pessoas com 26 a 30 anos. Esse grupo apresenta um percentual de

2,8%, quase o triplo do registrado na faixa etária com mais de 50 anos. Nota-se que no Rio

sem favelas, o grupo com maior acesso a universidade é aquele que está entre 40 e 45 anos -

quando 18,2% passaram pelo primeiro ano superior. Os menores percentuais são observados,

3 Taxa de retenção é a porcentagem de pessoas que concluíram um determinado ano escolar e pararam de

(4)

tanto nas favelas quanto no restante do estado, para os mais jovens entre 17 e 20 anos e para aqueles com mais de 50 anos.

Tabela 3

Porcentagem de pessoas que ao menos completaram 1 ano do nível superior por faixa etária

Faixa etária Estado Rio sem Favelas Favelas

Total (17 ou mais) 12,5 13,6 1,9 17 a 25 anos 8,8 9,7 1,7 17 a 20 anos 4,0 4,4 0,7 21 a 25 anos 13,0 14,3 2,5 26 ou mais 13,7 14,7 2,0 26 a 30 anos 13,7 15,0 2,8 31 a 35 anos 14,2 15,6 2,6 36 a 40 anos 15,4 16,7 2,1 40 a 45 anos 16,8 18,2 1,8 46 a 50 anos 16,3 17,5 1,8 Mais de 50 anos 10,6 11,2 1,0

Fonte: Censo Demográfico de 2000.

Apesar das distâncias entre as favelas e o asfalto serem muito significativas em todas os grupos de idade, elas são menores nas faixas etárias mais jovens. No Gráfico 1 pode-se visualizar o número de vezes que o percentual da população residente no Rio sem favelas, que ao menos completaram 1 ano do ensino superior, é maior que o apresentado pelos residentes em favelas. O acesso das pessoas com 26 a 30 anos no Rio sem favelas é 5,4 vezes maior que o acesso das pessoas com a mesma idade residentes em favelas. Para os mais velhos (mais de cinqüenta anos) essa distância dobra. Destaca-se ainda que a distância na faixa etária de 17 a 20 anos é maior que a seguinte (21 a 25 anos), o que deve estar relacionado ao fato dos residentes em favelas entrarem um pouco mais tarde na universidade.

(5)

Gráfico 1

Distância entre o percentual de pessoas que ao menos completaram 1 ano do nível superior no Rio sem Favelas e nas Favelas por faixa etária

6,5 5,6 5,4 5,9 7,8 10,2 10,0 11,1 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

17 a 20 anos 21 a 25 anos 26 a 30 anos 31 a 35 anos 36 a 40 anos 40 a 45 anos 46 a 50 anos Mais de 50 anos

faixa de idade d e ve ze s

Fonte: Tabulação construída pelo IETS com base no Censo Demográfico de 2000 (IBGE).

Desta forma, pode-se dizer que os mais jovens estão conseguindo reduzir a desigualdade no acesso da população residente em favelas a universidade, apesar do fosso continuar enorme. Uma outra forma de observar isso é através do Gráfico 2 que mostra a distribuição etária das pessoas que concluíram pelo menos um ano do ensino superior. Percebe-se que enquanto no Rio sem favelas há uma certa equidade entre as faixas etárias, com exceção do grupo com mais de 50 anos (passa dos 20%), nas favelas existe uma clara predominância das pessoas com 21 a 35 anos.

(6)

Gráfico 2

Distribuição etária das pessoas que concluíram pelo menos 1 ano do nível superior

3,4 12,6 12,2 12,4 13,5 13,2 11,0 21,8 4,5 20,2 19,6 17,4 12,8 8,9 6,9 9,6 0 5 10 15 20 25

17 a 20 anos 21 a 25 anos 26 a 30 anos 31 a 35 anos 36 a 40 anos 40 a 45 anos 46 a 50 anos Mais de 50 anos

(%)

Rio sem Favelas Favelas

Fonte: Tabulação construída pelo IETS com base no Censo Demográfico de 2000 (IBGE).

Os jovens de 17 a 25 anos são, em princípio, o público-alvo do ensino superior. Analisando especificamente esses jovens, confirmam-se as dificuldades de acesso à universidade e a desigualdade educacional existente entre os moradores das favelas e do restante do Rio.

O Gráfico 3 apresenta a escolaridade média dos jovens de 17 a 25 anos de idade comparando os setores habitacionais. Nota-se que ela é crescente de acordo com a idade e que a escolaridade média dos jovens que residem em favelas é sempre mais baixa que a registrada para os demais. A disparidade educacional é evidente para estes jovens, e tende a crescer conforme o aumento da idade. Aos 18 anos a diferença entre a educação média dos jovens que moram em favelas e dos que residem no restante do estado é de cerca de 1 ano de estudo, enquanto que para os que têm 24 anos esta diferença aumenta para 2 anos de estudo.

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Gráfico 3

Escolaridade média por idade no Estado do Rio de Janeiro

5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Idade Es co la ri da de m éd ia

Total Rio sem favelas Favelas

Fonte: Tabulação construída pelo IETS com base no Censo Demográfico de 2000 (IBGE).

A distribuição dos jovens de 17 a 25 anos por nível de escolaridade no Gráfico 4 demonstra que a defasagem educacional entre os moradores das favelas e do setor denominado Rio sem Favelas ainda é enorme. Enquanto mais da metade desses jovens que residem nas favelas não possuem nem o ensino fundamental completo, esse percentual cai para cerca de 36% entre os jovens do restante do estado.

O ensino superior, que alcança somente 8,8% dos jovens de 17 a 25 anos residentes no estado do Rio, é praticamente desconhecido entre os jovens moradores das favelas - apenas 1,7% dos estudantes concluíram pelo menos um ano de estudo no nível superior.

(8)

Gráfico 4

Distribuição dos jovens de 17 a 25 anos por nível de escolaridade

8,7 6,8 20,9 12,7 17,8 23,4 9,7 14,7 11,1 30,6 14,6 14,3 13,0 1,7 0 5 10 15 20 25 30 35

Até 3 4 5 até 7 8 9 até 10 11 Mais que 11 Anos de estudo

%

Rio sem Favelas Favelas

Fonte: Tabulação construída pelo IETS com base no Censo Demográfico de 2000 (IBGE).

Em relação às características pessoais dos jovens de 17 a 25 anos que ao menos concluíram um ano do ensino superior, as mulheres apresentam certo destaque. No entanto, a razão entre a participação das mulheres e dos homens é similar nos dois universos observados. Já a análise por raça mostra uma situação bem diferente: enquanto no Rio sem

favelas a predominância de jovens brancos é 4 vezes maior que a de negros, dentro das favelas não chega a ser o dobro. As diferenças raciais parecem ser mais fracas dentro das favelas, provavelmente porque a pobreza e o preconceito encontrados pelos estudantes que

moram neste setor atinja a todos com a mesma intensidade.

Tabela 4

Total Rio sem Favelas Favelas

Total 8,8 9,7 1,7

Mulher 10,0 11,0 2,0

Homem 7,6 8,4 1,4

Não branco 3,2 3,5 1,3

Branco 13,8 14,9 2,2

Porcentagem de jovens entre 17 e 25 anos que ao menos concluiram 1 ano do nível superior no Rio de Janeiro

(9)

dos jovens de 17 a 25 anos também apresentarem baixos índices de ingresso na universidade é ainda mais preocupante, uma vez que eles pertencem a faixa etária “alvo” do ensino superior.

3. A inserção do jovem no nível superior

O ambiente familiar exerce grande influência sobre o ingresso de um jovem no ensino superior. Assim, nesta parte, pretende-se mensurar a intensidade (positiva ou negativa) da influência familiar no aumento ou redução da probabilidade deste jovem freqüentar ou ao menos ter freqüentado algum ano educacional no nível superior.

Observa-se na tabela 7 as estatísticas relativas ao impacto de algumas variáveis selecionadas sobre a probabilidade dos filhos com 17 a 25 anos freqüentarem ou já terem freqüentado a universidade. Os coeficientes positivos revelam que a probabilidade citada aumenta com o nível de renda domiciliar per capita, a idade do filho, ser da raça branca e o nível máximo de instrução entre o chefe e o cônjuge do domicílio. Por exemplo, o acréscimo de um ano de estudo do responsável mais escolarizado da família corresponde a um aumento de 22,6%4 na probabilidade destes jovens terem tido acesso à universidade, assim como o jovem ser de raça branca caracteriza um aumento de cerca de 85% nesta probabilidade. Em sentido oposto, o fato do jovem ser do sexo masculino reduz esta probabilidade em cerca de 52%. Os resultados reforçam a idéia de que os brancos e as mulheres tendem a ser mais escolarizados. É importante ressaltar ainda que todos os coeficientes são significativos, conforme pode ser visto pelos p-valores iguais a zero.

Tabela 7 Total Coeficiente P-valor (%) Nº de obs 148717 Intercepto -45,8 0 Idade 3,28 0 Idade ao quadrado(x100) -7,18 0 Raça(branca) 0,62 0 Gênero(masculino) -0,73 0

Renda domiciliar per capita(log) 0,96 0

Educação máxima entre os responsáveis 0,20 0 Presença de criança(0-16) na família -0,37 0

Favelas -0,44 0

Fonte: Tabulação construída pelo IETS com base no Censo Demográfico de 2000(IBGE).

Probabilidade de filhos entre 17 e 25 anos frequentar ou já ter frequentado o nível superior no Rio de Janeiro

Numa comparação entre Rio sem favela e favelas é observado um decréscimo de 34%5 na probabilidade de acesso a uma universidade quando o jovem reside em uma favela.

A presença de crianças com até 16 anos nos domicílios também é uma variável que apresenta um coeficiente negativo, significando uma maior dificuldade para o acesso dos jovens ao ensino superior. Os dados da tabela 8 corroboram esta característica, já que os percentuais de jovens sem acesso à universidade são maiores nos domicílios com crianças,

4 Calculado da seguinte forma:100 x (exp (0.204) - 1). 5 Calculado da seguinte forma: 100 x (exp (-0.44) – 1).

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para os moradores de favelas ou não. Os resultados mostram a importância do ambiente familiar, visto que se mostrou um fator de grande relevância para determinar o acesso à universidade

Tabela 8

Distribuição dos filhos entre 17 e 25 anos por acesso1 ao nível superior no Rio de Janeiro

Total Rio sem favelas Favelas

Não tem criança 46,4 47,7 33,1

Sem acesso 74,6 73,2 94,2

Com acesso 25,4 26,8 5,8

Tem criança 53,6 52,3 66,9

Sem acesso 90,6 89,8 97,6

Com acesso 9,4 10,2 2,4

Fonte: Tabulação construída pelo IETS com base no Censo Demográfico de 2000(IBGE). Nota: 1 - Freqüenta ou já freqüentou

4. Retornos da educação

Alcançar o nível superior ainda é uma realidade muito distante da maioria dos jovens, principalmente dos que moram em favelas. Em contrapartida, os retornos de renda com a educação superior são muito significativos e a entrada em uma universidade tem demonstrando ser um instrumento importante à mobilidade social ascendente.

A tabela 5 apresenta algumas variáveis que comprovam a melhora proporcionada, tanto para o indivíduo quanto para a sua família, pelo alcance de maiores níveis educacionais, principalmente para os que concluíram ao menos o primeiro ano do ensino superior. Os indicadores estão relacionados com a educação dos filhos, o rendimento familiar e o desempenho individual no mercado de trabalho. Com exceção da freqüência escolar dos filhos, é evidente o salto proporcionado pelo ensino superior.

O indicador ascensão social refere-se ao percentual de famílias que estão entre as 10% mais ricas na distribuição de renda domiciliar per capita e possuem como chefe do domicílio um indivíduo com determinado nível escolar. Assim, pode-se entender que para os chefes com nível escolar baixo, 0 a 3 anos de estudos, somente 1% das famílias pertencem a uma classe rica. Em contrapartida, cerca de 50% das famílias chefiadas por pessoas com 12 anos ou mais de estudo pertencem aos 10% mais ricos da população.

A entrada em uma universidade também está associada a taxas de desemprego menores – cai de 15,4% para os que possuem 11 anos de estudo para 8,2% entre os com 12 anos ou mais – e um salto enorme da renda média dos ocupados – passa de R$ 741 para R$ 1.894.

(11)

Tabela 5

Anos de estudo

0 a 3 4 5 a 7 8 9 a 10 11 12 e mais

Freqüência a escola dos filhos2

(pessoas entre 7 e 14 anos) 93,3 95,5 96,0 97,2 97,8 98,3 98,8

Ascensão social1,2 1,1 2,7 1,9 5,0 5,0 13,0 49,6

Taxa de desemprego

(15 anos ou mais) 18,3 16,5 23,0 18,9 24,3 15,4 8,2

Salário médio dos ocupados 311 404 377 489 481 741 1894

Fonte: Tabulação construída pelo IETS com base no Censo Demográfico de 2000(IBGE).

Nota: 1 - porcentagem pertencente aos 10% mais ricos da distribuição de renda domiciliar per capita. 2 - a faixa educacional refere-se ao responsável pelo domicílio.

Condições sociais por nível educacional no Rio de Janeiro

Os gráficos 5, 6 e 7 mostram a relação direta entre anos de estudo completos e o salário médio recebido pelos ocupados. O Gráfico 5 ressalta o hiato de rendimento entre os ocupados no Rio sem favelas e nas Favelas. Nos quatro primeiros anos de estudo do ensino fundamental, que equivale ao antigo primário, não existe diferença, a partir daí cada ano de estudo significa ganhos salariais muito mais altos para os que não moram em favelas. As explicações para este fenômeno podem ser as seguintes: as pessoas mais escolarizadas que obtêm melhores salários acabam saindo das favelas, o preconceito contra os ocupados moradores de favelas é tão intenso a ponto de prejudicar sua remuneração, ou ainda, os moradores das favelas não possuem outras características, além da educação formal, que estão sendo muito valorizadas no mercado de trabalho (idiomas, cursos de informática,...).

O retorno salarial é explorado por outro ângulo nos gráficos 6 e 7. Os gráficos mostram que os trabalhadores ao completarem o ensino fundamental ganham em média R$ 90 a mais do que os ocupados com apenas 4 anos de estudo. Para os residentes em favelas essa variação cai para R$ 50 em média. No entanto, o indivíduo que espera que seus estudos se revertam em um aumento significativo de renda precisa concluir o terceiro grau, pois a conclusão do ensino superior6 representa um ganho salarial médio de R$ 1.100 para os trabalhadores ocupados que pertencem ao Rio sem Favela. Para os moradores das favelas, a conclusão do ensino superior também se converte em um grande salto salarial, mas consideravelmente menor.

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Gráfico 5

Relação entre escolaridade e salário mensal para os ocupados no Rio de Janeiro - 2000 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Escolaridade(anos de estudo) Sa lár io m édio( em R $ de julh o de 200

0) Rio sem favelas

Favelas

Fonte: Tabulação construída pelo IETS com base no Censo Demográfico de 2000 (IBGE).

Gráfico 6

Relação entre escolaridade e salário mensal para os ocupados - 2000 Rio sem favelas

500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 S al á rio mé di o( em R$ de jul ho de 2 000) 4 anos R$ 1100 R$ 90

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Gráfico 7

Relação entre escolaridade e salário mensal para os ocupados - 2000 Favelas 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Escolaridade(anos de estudo) S al ári o m éd io( em R$ d e ju lho de 20 00) 4 anos 4 anos R$ 400 R$ 50

Fonte: Tabulação construída pelo IETS com base no Censo Demográfico de 2000 (IBGE).

Para investigar os retornos salariais proporcionados pelo aumento da escolaridade de forma mais precisa, foi realizada uma regressão linear com o logaritmo do rendimento no trabalho principal e com as variáveis explicativas relacionadas às características pessoais, do trabalho e da localização da moradia7. Em relação ao trabalho foram selecionados três indicadores: posição na ocupação, setor de atividade e número de horas trabalhadas na semana de referência. Quanto à localidade, o fato de determinado domicílio fazer parte ou não de uma favela foi atribuído ao ocupado. E por fim as características pessoais gerais como: sexo, idade, raça, escolaridade. Em particular, a atenção está direcionada ao nível educacional adquirido por este ocupado, no entanto os outros fatores são de grande importância e foram incluídos na expectativa de controlar o fato de que existem outras diferenças fundamentais. É importante ressaltar que todos os fatores selecionados possuem impactos significativos sobre o rendimento adquirido, mesmo que outros não selecionados e/ou não observados possam explicar a aquisição destes rendimentos.

A tabela 6 apresenta os coeficientes encontrados para a regressão. A análise com ênfase na escolaridade revela que o aumento educacional tem impactos progressivos no aumento dos rendimentos dos ocupados, ratificando a sua importância. Quantificando os resultados, estes revelam que quando se compara dois ocupados em condições iguais de gênero, raça, idade, localidade e mercado de trabalho, mas com níveis educacionais extremos, o que possuir 15 anos de estudo terá um rendimento médio quase 5 vezes maior (calculado como exponencial do coeficiente para 15 anos de estudo), que o ocupado com zero anos de estudo.

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Tabela 6

Impacto das características pessoais dos ocupados sobre o rendimento mensal1 no Estado do Rio de Janeiro

Total Coeficiente P-valor(%) Nº de obs 545845 R2 0,52 Intercepto 3,20 0 Características pessoais Idade 0,06 0 Idade ao quadrado(x100) -0,05 0 Raça(branca) 0,13 0 Gênero(masculino) 0,34 0

Escolaridade(omitiu-se 0 ano de estudo)

1 ano de estudo 0,07 0 2 anos de estudo 0,10 0 3 anos de estudo 0,17 0 4 anos de estudo 0,22 0 5 anos de estudo 0,28 0 6 anos de estudo 0,34 0 7 anos de estudo 0,38 0 8 anos de estudo 0,45 0 9 anos de estudo 0,50 0 10 anos de estudo 0,57 0 11 anos de estudo 0,80 0 12 anos de estudo 1,13 0 13 anos de estudo 1,22 0 14 anos de estudo 1,32 0 15 anos de estudo 1,55 0 16 anos de estudo 1,75 0 17 anos de estudo 2,07 0

Posição na ocupação(omitiu-se com carteira)

Sem carteira -0,24 0

Conta-própra -0,06 0

Funcionário público 0,14 0

Empregador 0,75 0

Número de horas trabalhadas na semana 0,01 0

Setor de atividade(omitiu-se agricultura)

Indústria 0,40 0

Produção e distribuição de eletricidade, água, gás... 0,62 0

Construção 0,41 0

Comércio, reparação, alimentação, alojamento e transporte 0,35 0

Intermediação financeira, imobiliária 0,45 0

Adm.pública e org. internacional 0,50 0

Educação e saúde 0,29 0

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5. Conclusão

O processo de inserção do jovem na universidade impõe a todos grandes desafios. No caso do Rio de Janeiro este desafio requer atitudes imediatas, mas conscientes de que bons resultados serão colhidos em gerações futuras. O sistema de educação oferecido aos jovens possui falhas que vêm se repetindo e propagando para novas gerações.

O ensino superior absorve pequenas parcelas da população adulta no Rio de Janeiro e nas favelas as condições são particularmente piores. Este quadro permanece praticamente inalterado quando é observada a população mais jovem, em específico os jovens de 17 a 25 anos, que a princípio deveriam estar na universidade.

O ambiente familiar, a maior escolaridade dos responsáveis pela família e a renda domiciliar per capita contribuem significativamente para aumentar a probabilidade do jovem ingressar no ensino superior, tanto para os moradores de favelas quanto para aqueles que vivem nas demais áreas do Rio de Janeiro. Esses resultados sugerem que melhorar as condições dos ambientes familiares hoje aumenta a probabilidade de ingresso de jovens em universidades no futuro. Deve-se considerar ainda que os jovens moradores de favelas encontram dificuldades ainda maiores de ingressar no ensino superior.

Apesar de todos os empecilhos, o ingresso na universidade tem se mostrado um excelente indicador de melhoria de bem-estar, visto que esse aumento do nível de escolaridade proporciona melhores condições de inserção no mercado de trabalho, de rendimentos,... Em particular, foi analisada a influência direta da escolaridade formal na obtenção de melhores rendimentos. E ainda, foi observado que os baixos rendimentos não provém diretamente dos indivíduos caracterizados como moradores de favelas, mas sim por indivíduos de baixa escolaridade.

A partir desses resultados, pode-se concluir que o debate sobre a qualidade da educação de nível de superior ofertada é fundamental, mas para a maioria dos jovens e, para praticamente todos os jovens moradores das favelas, o acesso a universidade ainda é a primeira barreira a ser quebrada.

6. Bibliografia:

• Silva, Jaílson de S. “Porque Uns e Não Outros?” – Caminhada de Jovens Pobres para a Universidade. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003.

• Schwartzman, Simon. Ricos e Pobres na Universidade. www.estadao.com.br. 09/09/2003.

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