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Sistema financeiro público estadual: a trajetória CODESC (poder, espaço público e ciclo institucional)

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(1)

UNIVERSIDADE

FEDERAL DE sANTA

CATARINA

-

UESC

CENTRO

sÓCIO-ECONÔMICO

-

CsE

DEPARTAMENTO

DE

CIÊNCIAs

DA

ADMINISTRAÇÃO

PROGRAMA

DE Pós-GRADUAÇÃO

EM

ADMINISTRAÇÃO

ÁREA

DE

CONCENTRAÇÃOz

POLÍTICAS

E

PLANEJAMENTO

GOVERNAMENTAL

Sistema

Financeiro Público

estadual:

a

trajetória

da Codesc

(Poder,

Espaço

Público

e

Ciclo

Institucional)

Rogério Santos

da

Costa

Dissertação

de

Mestrado

apresentada ao

Programa

de

Pós-

Graduação

em

Administração,

Área

de Concentração

em

Políticas e

Planejamento

Governamental da

Universidade

Federal

de

Santa

Catarina, sob

a

orientação

do

Professor

Doutor

Emi

José

Seibel.

(2)

Esta Dissertação foi julgada

adequada

para a' obtenção

do

grau de Mestre

em

Administração

e

aprovada

em

sua

forma

final pelo

Programa

de Pós-graduação

em

Administração,

Área

de

concentração

em

Políticas e Planejamento Governamental.

BANCA

EXAMINADORA:

`z

ÊL

r

Professor Dr. "

Professor Dr.

Emi

José Seibel - Orientador

Prof

ssor Dr. Sérgio Schmitz

/

`

,P -Oi . ›¿<_

v1o \ nio Ferraz Cário

/@wWm~'W

Professora Dra.

V

ska

Nahas

Guimarães

(3)

III

Dedico

este trabalho

a

Patrícia

Aguiar dos

Santos,

pelo

amor

e solidariedade

aos

meus

pais,

Valmor

e Justa,

pelo

irrestrito apoio

e

em

memória

de

Redson

Faraco,

_

(4)

AGRADECIMENTOS

'

Ao

professor e

amigo

Emi

José Seibel, pela genialidade

com

que

trata e transmite suas interpretações sobre os

fenômenos

sociais, e pela dedicação à orientação deste trabalho.

Aos

funcionários

da

Companhia

de Desenvolvimento

do

Estado

de

Santa Catarina

-

Codesc.

Do

seu presidente ao contínuo, todos

foram

de fundamental importância para a

consecução

deste trabalho.

Às

diversas instituições pesquisadas, dentre as quais destaco a

Assessoria Coletiva

do

Partido dos Trabalhadores

na

Assembléia Legislativa de Santa

Catarina e

o

Sindicato

dos

Bancários

de

Florianópolis.

Ao

CNPq

pela apoio financeiro

através

da

bolsa

de

estudos.

Ao

amigo

Benilson Borinelli pelas fundamentais e incessantes conversas e discussões,

o

que

foi

de

suma

importância para as análises desta dissertação,

bem

como

pela solidariedade nos

momentos

dificeis por

que

passamos. Outras pessoas igualmente

contribuíram

em

diversos

momentos

do

trabalho, entre elas Jorge

Gouvêa,

Silvana

Granemann,

Patrícia Aguiar, Valdir Alvim, Daniel Passos, Célio Espíndola, Maurício Sardá,

Valmir da

Costa, Belo,

Marcelo

Aguiar e Ricardo Guerreiro.

Aos

amigos, professores e fimcionários

do

CPGA

pela convivência

enriquecedora.

Aos

meus

familiares, por estarem ao

meu

lado

em

todos os

momentos,

em

especial ao netinho

que

chegou

nos

dando

muita alegria.

À

família

Aguiar dos

Santos, pelo incentivo e apoio constantes, sou

extremamente

grato.

Aos

amigos

do

Dieese e dos sindicatos

com

os quais estivemos trabalhando

durante

um

ano

e meio, agradeço a oportunidade e a experiência.

Finalmente agradeço a todos

que de

uma

forma ou

de outra contribuíram para a

(5)

V

RESUMO

A

presente dissertação analisa a trajetória

da

Companhia

de Desenvolvimento

do

Estado de

Santa Catarina

-

Codesc, desde sua criação até a atualidade, enfocando as relações de

poder

no

aparelho

de

Estado,

com

ênfase nas empresas

do

Sistema Financeiro

Público Estadual (SFP),

bem

como

no

seu próprio ciclo institucional. Trata-se

de

um

estudo

institucional exploratório

com

análise intensiva e

aprofimdada do

objeto de estudo.

A

Codesc

foi criada

em

1975

e tinha três grandes eixos de atuação:

Companhia

de

Desenvolvimento, holding

do

Sistema Financeiro Público Estadual e administradora

de

ações

de

propriedade

do

Estado.

Seu

raio de controle e ingerência diante

do

SFP

e até para

além

deste colocavam-na,

por

um

lado,

como

uma

grande possibilidade de ser

um

espaço privilegiado

de

ação política,

o que

resultou na alavancagem

de

seu primeiro presidente

Jorge

Konder

Bomhausen

ao governo

do

Estado; por outro,

como

o

alvo principal na luta

por autonomia

das instituições

que

eram

por ela controladas.

Estes fatores, aliados

ao

derradeiro término

do

período desenvolvimentista

no

final

dos

anos setenta, trazem para a

Codesc

uma

seqüência de esvaziamento de funções e

de

poderes, resultando

na

sua quase extinção

no

início de 1983.

Porém,

tendo apenas as prerrogativas

de

adrninistração das ações

do

Estado, notadamente

o

controle acionário

do

Banco

do Estado de

Santa Catarina - Besc, revelaàse ainda

um

importante espaço público,

instrumento tanto para políticas públicas,

como

para as relações políticas

que

se estabelecem a partir

do

aparelho

de

Estado.

Assim, tendo apenas esta

fimção

original de administradora de ações, e devido

principalmente à capacidade e criatividade

da

sua burocracia, à

Codesc

são passadas e retiradas várias funções a partir

de

1983

o que

garante

uma

sobrevida e lhe confere

um

ciclo institucional característico. Atualmente, tem-se

uma

Codesc

prestadora

de

serviços

no

-

e

para

o

-

aparelho

de

Estado, enquanto

o

Sistema Financeiro Público estadual

seus dias

(6)

ABSTRACT

This dissertation analyzes the path

of

the

Companhia

de Desenvolvimento

do

Estado

de

Santa Catarina - Codesc, since its creation until

now,

focusing the

power

relationships in the device

of

State, with emphasis in the

companies of

the state Public Financial

System

(SFP), as well as in its

own

institucional cycle. It consists in a exploratory institucional study

and

also in an intensive and

deepened

analysis to the study object.

Codesc

was

created in 1975 and

had

3 great performance axis: development

company,

state Public Financial

System

holding

and

State's shares administrator. Its ray

of

control

and

mediation ahead

and even

for

beyond of

the

SFP

placed it,

on

an

way,

as a great

possibility

of

being a privileged space

of

politic action,

which

resulted in the leverage

of

its

first president Jorge

Konder

Bomhausen

to the

government of

the State,

on

other way, as the

main

target in the fight for the life

of

the institutions that

were

controled for them.

These

factors, allies to the last ending

of

the development period in the

end of

the Seventies, bring for the

Codesc

a sequence

of

functions and

power

empties, almost resulting in its extinguishing in the beginning

of

1983.

However,

having only the prerogatives

of

management

of

State shares, specialy the shareholding control

of

the

Banco do

Estado

de

Santa Catarina - Besc, still

tum

out to

be

an important public space, both instrument for public politics

and

for politic relationships established

fiom

the device

of

State.

Thus, having only this original share administrator function,

and

mainly

due

.to the capacity

and

creativity

of

its bureaucracy,

some

fiinctions are passed

and

removed

to the

Codesc

from

1983. It guarantees a supervened

and

confers it a characteristic institucional

cycle. Currently,

Codesc

is rendering services in -

and

for - the device

of

State, while the state Public Financial

System

is imminent to

end

as state public agent before face

of

privatization threat.

(7)

LISTA

DE

SIGLAS E

ABREVIATURAS

ADESG

- Associação dos

Diplomados

da Escola Superior de

Guerra

ADF

SC

- Administradora Financeira Catarinense

S/A

AG

- Assembléia Geral

AGE

- Assembléia Geral Extra-Ordinária

AGO

- Assembléia Geral Ordinária

Arena

- Aliança

Renovadora

Nacional

BA

-

Estado

Burocrático Autoritário

Badesc

-

Banco

de Desenvolvimento do Estado

de Santa Catarina

BC

-

Banco

Central

do

Brasil

BDE

-

Banco

de Desenvolvimento do

Estado de Santa Catarina

Besc

-

Banco do

Estado

de

Santa Catarina

S/A

Bescam

-

Besc

Corretora

de

Títulos, Valores e

Câmbio

Bescor

-

Besc

Corretora

de

Seguros

Bescredi -

Besc

Financeira

S/A

- Crédito, Financiamento e Investimentos

Besctur -

Besc Turismo

S/A

V

Bescval -

Besc

Distribuidora

de

Títulos e Valores Mobiliários

z

Bird -

Banco

Intemacional para Reconstrução e Desenvolvimento

BNDE

-

Banco

Nacional

de Desenvolvimento

Econômico

BNDES

-

Banco

Nacional

de Desenvolvimento

Econômico

e Social

BRDE

-

Banco

Regional

de Desenvolvimento do

Estremo

Sul

Casan

-

Companhia

Catarinense

de

Águas

e

Saneamento

CDE

-

Conselho de Desenvolvimento

Econômico

CDS

-

Conselho de

Desenvolvimento Social

Cede

-

Conselho

Estadual

de Desenvolvimento

Econômico

CEDS

-

Conselho

Estadual

de

Desenvolvimento Social

Ceesa

- Caixa

Econômica

Estadual

S/A

(8)

Celesc - Centrais Elétricas

de

Santa Catarina

S/A

Cimenvale

-

Mineração

e

Cimento

Vale

do

Itajaí

S/A

CMN

-

Conselho Monetário

Nacional

Codesc

-

Companhia

de Desenvolvimento

do

Estado

de

Santa Catarina

S/A

Codesul

-

Conselho de

Desenvolvimento

do Extremo

Sul

Codisc-

Companhia

de

Distrito Industrial Sul Catarinense

Comcap

-

Companhia

de

Melhoramentos da

Capital

Conad

-

Conselho de

Administração

Confis

-

Conselho

Fiscal

Consul

-

Conselho

Consultivo

Copla

-

Comitê de

Planejamento

CPF

-

Conselho de

Política Financeira

DER

-

Departamento de

Estradas de

Rodagem

Direx - Diretoria Executiva

Esag

- Escola Superior de Administração e Gerência

Esg

- Escola Superior de

Guerra

Fatma

-

Fundação

de

Amparo

à Tecnologia e

Meio

Ambiente

Fiesc - Federação das Indústrias

do Estado de

Santa Catarina `

Fundesc

-

Fundo

de

Desenvolvimento

do

Estado

de

Santa Catarina

Fusesc -

Fundação Codesc

de Seguridade Social

Gaplan

- Gabinete

do

Planejamento e

Coordenação

Geral

Ibad - Instituto Brasileiro

de

Ação

Democrática

hico -

Banco

Indústria e

Comércio

Invesc- Santa Catarina Participações e Investimentos

S/A

Ipes - Instituto

de

Pesquisas e Estudos Sociais

Itag - Instituto Técnico de Administração e Gerência Itep - Instituto Técnico de

Economia

e Planejamento

Ladesc

- Liga

de

Apoio

ao

Desenvolvimento Social Catarinense

Lotesc - Loteria Estadual

de

Santa Catarina

(9)

Metanol

- Pesquisas e Projetos de

Can/ão Ltda

PND

- Plano Nacional de Desenvolvimento

PDS

- Partido

Democrático

Social

PFL

- Partido

da

Frente Liberal

PG

- Plano

de

Govemo

PKB

- Paulo

Konder

Bomhausen

Plameg

- Plano

de

Metas do

Govemo

PMDB

- Partido

do

Movimento

Democrático

Brasileiro

POE

- Plano de

Obras

e

Equipamentos

PPB

- Partido Progressista Brasileiro

Procape

-

Programa de

Capitalização de

Empresas

Prodasc

-

Companhia

de

Processamento de

Dados

do

Estado de Santa Catarina

Profluxo

-

Programa

de

Ajustamento

de

Fluxos de Caixa

PSD

- Partido Social

Democrático

PT

- Partido

dos

Trabalhadores

Raet-

Regime

de Administração Especial Temporária

Refloresc

-

Besc

S/A

- Reflorestadora

Santinvest - Santa Catarina Investimentos

S/A

Secom

- Secretaria Extraordinária

de

Comunicação

Social

SFBesc

- Sistema Financeiro

Besc

SFP

- Sistema Financeiro Público estadual Sidersul - Siderurgia Sul Catarinense

S/A

Sudesul - Superintendência Para

o

Desenvolvimento

do

Sul

Telesc - Telecomunicações de Santa Catarina

(10)

TABELA

1 -

Anos

de criação de empresas

govemamentais

... ._

ANEXO

1 - Codesc:

Número

de Resoluções Direx, por ano e por grupos

ANEXO

2 - Codesc:

Composições

Direx,

Conad,

Confis

e Consul

ANEXO

3

- Codesc: Indicadores

Econômicos

e Financeiros

ANEXO

4

- Codesc: Carteira

de

Ações

ANEXO

5

- Codesc:

Número

de

Funcionários

ANEXO

6

-

Ata da

Assembléia Geral

de

Constituição da

Codesc

(11)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

... _.

CAPÍTULO

1 - Contextualização geral

da

criação

da

Codesc

... ..

1.1. Intervenção estatal: perspectivas intemacionais eprincipais dilemas ... ..

1.2.

O

“padrão” de intervenção estatal

no

Brasil ... ..

1.3. 1964: os militares e as reformas institucionais ... ..

CAPÍTULO

2- Santa Catarina: poder oligárquico e a

formação do

Sistema

Financeiro Público ... ..

2.1.

A

luta política das oligarquias: instrumentalização para

o

exercício

do

poder

... .; ... ... ..

2.2.

A

fonnação do

Sistema Financeiro Público de Santa Catarina e a “experiência”

de

holding financeira ... ..

CAPÍTULO

3

-

A

articulação

do

Sistema Financeiro Público de Santa Catarina para a realização

de

um

projeto político: a

Codesc no

govemo

Konder

Reis (1975-1979) ... ..

3.1.

Da

autorização à estruturação: a criação

de

espaços públicos para

o

exercício

do poder

... ..

3.1.1. Origens

da

Codesc: instxumentalização

de

um

projeto político .... ..

3.1.2.

A

Comissão

Constitutiva ... ..

3.1.3. Perfil

da empresa

criada: estrutura, objetivos e competências ; ... ..

3.1.4.

Os

órgãos

da

Codesc: competências, atribuições e composições

3.2. Constituição e primeiros anos

de

atuação ... ._

3.2.1.

A

consolidação

de

empresa

holding ... ..

3.2.2.

A

companhia de

desenvolvimento

em

ação: para além

do

Sistema

Financeiro Público estadual ... ..

3.3.

O

exercício

do

poder: referendo a Jorge

Bomhausen

... ..

(12)

3.3.2.

A

dinâmica dos Órgãos da Codesc: referendando Jorge

Bornhausen

3.4.

Assume

Eduardo

Santos Lins: a luta por espaços e a insubordinação _.

CAPÍTULO

4 -

Deslocamento do

poder decisório e esvaziamento de funções:

A

Codesc

no

governo

Jorge Bornhausen/Henrique

Córdova

(1979-1983) ... _.

4.1.

A

hegemonia do

Gaplan:

uma

nova

estratégia centralizadora ... ._

4.2. Codesc: o esvaziamento das fiinções de desenvolvimento ... ..

4.3.

A

gestão “ao, ao” de

Marcos

Henrique Buechler ... _.

4.3.1.

A

hegemonia do Conselho

de Administração

- Conad

... _.

4.3.2. “Prestígio”

sem

status: personagens da era Buechler e seus espaços

privilegiados ... __

4.3.3. Codesc: espaço público instrumental ... _.

4.3.4.

O

enfraquecimento diante

do

SFP

e as

mudanças

de

rumo

... ._

4.4. 1982: Paulo

Konder

Bornhausen

e a “operação eleição” ... ..

CAPÍTULO

5

~

Codesc: sobrevivência e ciclo institucional ... ._

5.1.

Govemo

Esperidião

Amin

e a lógica patrimonialista

no

Sistema

Financeiro Público estadual (1983-1987): “ao vencedor pertence a

pilhagem” ... ._

5.1.1.

Enxugamento

e o periodo

"nômade

silencioso” ... ._

5.1.2.

O

“boom” com

a informática e as diretorias regionais. ... _.

5.2.

Govemo

Pedro

Ivo/Casildo Maldaner: formalização

da

ruptura da

Codesc

com

o Sistema Financeiro Público e novas funções (1987- 1991) ... ._

5.2. 1. Crise

no

Sistema Financeiro Público estadual e a “caça às bruxas”

5.2.2.

Autonomia

e controle institucional: a vitória

do Besc

sobre a

Codesc

5.2.3. Codesc:

novo enxugamento

e o

“boom”

da “raspadinha” ... _.

5.3.

A

“passagem” do

govemo

Vilson Kleinübing: alavancagem de recursos e

prestação

de

serviços (1991-1994) ... ._

5.4.

Governo

Paulo Afonso: a

Codesc

e as possibilidades de privatização

do

97

104 109 111 115

119

119 121

124

133 141 149 149 149

157

162 162

166

172 175

(13)

Sistema Financeiro Público estadual (1995-1998)

CONCLUSÃO

... ..

BIBLIOGRAFIA

... ..

(14)

Problemática

e objetivo

O

processo de redemocratização da sociedade brasileira, iniciado basicamente

em

1985, encontra-se atualmente

numa

fase de

ampla

redefinição das funções

do

Estado. Fruto

de

relações sociais, a materialização

do

Estado e das politicas públicas reflete estas relações enquanto

campo

e espaço público estratégico de exercício de

poder

e

dominação

entre classes, grupos e frações de classe. Inserido nesta perspectiva,

o

debate sobre a

forma

do

Estado

que

a sociedade pretende para si, deve

ser precedido pelo conhecimento das formas

com

que

estão arraigadas estas relações

sociais.

Para

o

sujeito social envolvido

com

política e gestão públicas, é pressuposto

um

entendimento sobre a

forma

histórica

com

que

se materializa institucionalmente

o

Estado, sobre qual a lógica das relações de poder subjacentes a esta materialização

institucional, e sobre a cultura politica que permeia este processo social. Auxiliar

no

debate sobre a questão

do

Estado é

o

estímulo maior

do

presente estudo.

As

empresas

do

Sistema Financeiro Público estadual catarinense, entendido

como

o

conjunto

de

empresas estatais

do ramo

financeiro sob controle

do

govemo

de

Santa Catarina, estão entre as instituições

que

historicamente servem de instrumento

de

política pública.

Suas

dinâmicas institucionais revelam partes importantes da

materialização das relações de força

no

seio da sociedade, devido, principalmente, ao

alcance de suas incursões e às possibilidades de alavancagem de recursos,

com

amplas

implicações para

o

desenvolvimento

econômico

estadual.

Por

isto,

não

só são espaços

públicos privilegiados

de

açoes govemamentais,

como

também

de incursões de grupos

de

interesses,

notadamente o

empresariado.

Por

outro lado, estão na mira

do

discurso da privatização,

com

alegações

que

vão

desde a necessidade

do saneamento do

Estado

que

está

em

crise fiscal, passando

pela retórica

da

intrínseca ineficiência, alcançando as “concepções” de

que

o Estado

(15)

|¡¡

5

“neoliberal”,

que

por sua própria natureza é a-histórica e atemporal.

Muitos

dos que

hoje discursam neste sentido, foram bastante privilegiados através da

ocupação do

espaço público representado nestas instituições. 1

Q Diante desta perspectiva, parece relevante-resgatar a forma

como

se

ocupou

e

se utilizou este .espaço público representado nas empresas

do

Sistema Financeiro

Público de Santa Catarina,

numa

abordagem

histórica

que

contemple a materialização

de relações de

poder no

aparelho

do

Estado.

Tendo

o Sistema Financeiro Público

como

foco

de

estudo, analisa-se a trajetória da

Companhia

de Desenvolvimento

do

Estado de

Santa Catarina

S/A

- Codesc. ~ _

VA

Codesc

é

uma

sociedade de

economia

mista

criada

em

1975, e sua efetiva constituição

em

1976

está cercada de significados econômicos, 'administrativos e

políticos. Suas funções

podem

ser agregadas

em

três grandes eixos:

4 `

~

1) Controlar e coordenar as atividades das empresas integrantes

do

Sistema

Financeiro Público estadual, atuando

como

holding

do

também

instituído “Sistema

Codesc”, -

2) Elaborar projetos e -promover ações direcionadas ao desenvolvimento de

Santa Catarina, sendo estas as suas -prerrogativas 'enquanto

companhia

de

desenvolvimento; '

1

'

3)

Manter

e

administrar participações e controles acionários,

ou

seja,

administrar

uma

carteira de ações de propriedade

do

Estado.

Com

o

passar

do

tempo, a

Codesc

perde as duas primeiras e principais funções para as quais foi criada, as desenvolvimentistas e as de holding.

A

partir de 1983 é

praticamente

uma

carteira

de

ações, apesar de formalmente ter

como

objetivo orientar as aplicações das

empresas

das quais participa acionariamente. Nesta trajetória, passa por períodos

de

quase extinção, retoma as atividades

com

outras funções, e isto lhe

imprime

uma

dinâmica institucional particular.

De

coordenadora

do

Sistema Financeiro

Público estadual e de

promotora do

desenvolvimento catarinense, a

Codesc

passa a

representar apenas

uma

empresa que

detém

ações

de

outras empresas estatais.

Além

do

seu estreito relacionamento

com

o Sistema Financeiro Público

. estadual, a

não

extinção

da

Codesc

mesmo

após perder seus principais objetivos, e isto

lhe conferindo

um

característico ciclo institucional, é

um

campo

a mais a ser analisado

1

(16)

enquanto espaço público

em

que

se materializam relações sociais. Assim, constitui-se objetivo geral deste estudo analisar a trajetória

da

Companhia

de

Desenvolvimento

do

Estado de Santa Catarina

- Codesc,

enfocando

sua relação

com

o

Sistema

Financeiro Público estadual e o seu próprio ciclo institucional.

Metodologia

Esta pesquisa caracteriza-se

como

um

estudo institucional exploratório,

com

enfoque

predominantemente

qualitativo,

numa

perspectiva histórica,

com

análise

intensiva e aprofundada

do

objeto

de

estudo.

A

coleta de dados teve

um

princípio básico: toda e qualquer informação

que

pudesse ser de caráter público. Procurou-se

fazer

um

inventário da empresa, o

que

esteve dificultado pela inexistência de

um

acervo sistematizado e reunido

de

documentação.

'Também

não existem trabalhos

acadêmicos que

contemplem

uma

análise da trajetória da Codesc, fato este

que

acabou

incentivando ainda mais esta pesquisa. Assim, este estudo

compõe

uma

sistematização e análise inéditas sobre a instituição Codesc.

Cabe

revelar

algumas

especificidades sobre a coleta de dados e sobre a

abrangência temporal

do

estudo.

Quando

se estava pesquisando sobre o Sistema

Financeiro estadual

em

1994,

com

objetivo de elaborar o projeto de pesquisa, soube-se

que

a

Codesc

era holding de direito,

mas

não de fato.

Uma

investigação preliminar

revelou a importância

da

Codesc no

aparelho estatal nos seus primeiros anos de

atuação,

bem como

a presença

de

grandes personalidades políticas e empresariais de

Santa Catarina

em

seus cargos diretivos, fatores

que

impulsionaram o estudo

institucional.

Naquele

momento

a investigação estaria limitada ao

ano

de 1994.

Porém,

quando

se tentou aprofiindar a coleta de dados, devido a resistências internas e,

principalmente, ao calendário eleitoral, teve-se grandes dificuldades para a

tomada

das informações. Isto é

uma

marca

da

Codesc

e

de

seus funcionários,

que

a cada

govemo

que

está entrando

passam

pela síndrome da extinção.

Devido

a este fato, e a

compromissos

particulares, a

retomada

dos trabalhos se deu apenas

no

início de 1997, e a coleta dos

dados

se efetivou

em

novembro

deste

mesmo

ano.

Dadas

as perspectivas

(17)

7

ainda,

que

a

Codesc

continuou existindo, resolveu-se trazer a delimitação temporal até os dias atuais.

A

seguir, tem-se o arcabouço básico de informações

que fazem

parte do

presente estudo

com

as formas de tratamento respectivos:

Legislação:

Desde

a autorização para a constituição da

Codesc

até os dias

atuais, fonna-se

um

conjunto de leis que estão direta

ou

indiretamente ligados à

empresa

e ao Sistema Financeiro Público estadual.

As

principais são os rearranjos administrativos

de

início

de

govemo

e

no

seu decorrer, determinando as vinculações e respectivos status das instituições da administração pública, e ainda

dando

novas

feições e fiinções a estas. Procurou-se destacar as que direta

ou

indiretamente relacionam-se à Codesc, detectando principalmente os vínculos

no organograma

estadual, as funções legais atribuídas e as implicações para a sua dinâmica institucional.

__

Resoluções

da

Diretoria Executiva:

As

tomadas

de decisões da

Codesc

são

formalizadas

em

resoluções.

As

que dizem

respeito à Diretoria Executiva (Direx)

foram

agrupadas por ano, contendo

o número,

a data e a ementa.

A

ementa

traz

em

seu bojo

o

assunto

de que

trata a resolução e mostra significativamente a atuação

da

empresa.

Em

algumas

resoluções achou-se necessário

uma

análise

do

teor para maior

esclarecimento

de

seu significado.

Porém,

isto

somente

foi possível para os anos de

1976

a 1978.

As

resoluções agrupadas,

conforme

citado, são analisadas

de

forma

quantitativa e qualitativa. Verificou-se o

número

de

resoluções por ano, por períodos

determinados e por grupos de resoluções agregadas a partir

de

temas,

conforme

o

Anexo

1. Esta agregação

em

grupos possibilita

uma

visualização das decisões

emanadas da

Direx

no

período estudado, ora

com

ênfase

em

um

grupo

ora

em

outro e

que dizem

respeito ao

que

fez primordialmente a Codesc.

Atas

de

assembléias e reuniões

dos

órgãos

da

sociedade: Analisou-se todas as atas das Assembléias Gerais Ordinárias

ou

Extraordinárias e das reuniões

do

Conselho

Consultivo - Consul (extinto

em

1983),

do

Conselho de Administração -

Conad

e

do Comitê

de Planejamento/Executivo (este último existente apenas

em

1982). Deste material coletou-se, principalmente, o dia da realização, os assuntos tratados, as deliberações tomadas, discursos e as pessoas que participaram

ou

que

ao

menos

assinaram estes documentos.

A

análise destas informações

foram

feitas,

como

(18)

especificidades estão por conta da forma e conteúdo

com

que foram tratados os diversos temas (que neste caso, não

foram

agregados

em

grupos), os discursos relatados, as decisões e, objetiva e subjetivamente as não decisões,

bem como

a

freqüência e a participação dos sujeitos envolvidos. Nestas análises, fez-se

também

uma

coleta para

montagem

da composição

histórica dos conselhos e da Direx

(Anexo

2).

Nesta

coleta específica, procurou-se investigar a trajetória das pessoas que

passaram

ou

estão

em

cargos de

“confiança”

quais suas origens, formação

ou

atividade e seus vínculos orgânicos

com

partidos

ou

outras instituições.

Relatórios

de

atividades: Estes relatórios existem para os anos

de 1976

a

1981 e 1985. Analisa-se os temas tratados e o conteúdo dos

mesmos,

tanto nas

atividades realizadas

como

nos planos de trabalho. Estes relatórios

foram de

suma

importância para a

composição

histórica

da

carteira de ações e

do

número

de

funcionários.

Balanços

anuais: Coletou-se todos os balanços

do

período estudado e

agrupou-se as principais informações anualmente

em

duas partes: Balanço Patrimonial

(Ativo e Passivo);

Balanço

de Resultados.

Dos

quadros

formados

(Anexo

3)

selecionou-se quatro indicadores:

1) Rentabilidade

do

Patrimônio Líquido;

2) Rentabilidade

do

Ativo; 3)

Retomo

dos Investimentos;

4) Endividamento.

Estes indicadores

(bem

como

outros dos balanços)

dão

uma

visão anual da

situação

econômica da

entidade e a

comparação

anual possibilita

uma

visualização histórica

em

todo o periodo. Trata-se, adverte-se desde já, de

um

grupo

de

informações

que

um

entendimento panorâmico,

com

limitações de

ordem

técnica

(pela possibilidade de manipulação contábil dos dados

ou

pelas inúmeras

modificações

das formas e critérios para a elaboração das contas das empresas

de

Sociedade

Anônima)

e ainda, limitações quanto ao alcance para todas as empresas cujas ações a

Codesc

controla

em

parte. Juntou-se a estes indicadores o

desempenho de

outros

(19)

9

Carteira

de

ações

da

Codesc:

Desde

a sua criação a

Codesc

mantém

o

controle de ações de propriedade

do

Estado de Santa Catarina.

Montou-se

quadros

(Anexo

4)

que

mostra este controle por ano, destacando a

empresa

e o percentual

do

controle.

A

partir disto, pôde-se visualizar as

mutações

que ocorreram durante o periodo e a utilização pelo Estado catarinense

do

patrimônio público administrado via

Codesc. Esta análise é muito significativa para este estudo,

dado

que a administração destas ações foi a única grande função

que

restou à

empresa

desde a sua criação.

Número

de

funcionários:

A

partir de dados coletados e sistematizados junto

ao

Departamento

de Pessoal da

empresa

e dos relatórios de atividade,

montou-se

um

quadro

(Anexo

5)

que

traz

o

“estoque” anual de funcionários da empresa. Neste quadro, tentou-se estabelecer

não

só o

número

anual de funcionários, mas,

quando

possível, a situação

em

que

se

encontravam

perante a Codesc.

Estatutos:

O

Estatuto

da Codesc

define, entre outras coisas, suas funções,

competências, objetivos, fiincionamento.

Enfim,

explicita formalmente

uma

normatização para a entidade.

Toda

transformação neste âmbito normativo reflete-se

numa

reformulação estatutária. Juntou-se então, todos os estatutos

da companhia

desde o periodo

da

criação e fez-se

uma

análise

da

evolução dos

mesmos.

Esta análise é

uma

comparação

entre

o

estatuto vigente e o seu antecessor, feita a partir da

primeira

modificação

estatutária e tentando abarcar toda e qualquer

modificação que

pudesse ter relevância para

o

estudo.

No

Anexo

7 consta o primeiro e o mais recente

(1997) dos estatutos.

Depoimentos:

Foram

tomados

seis depoimentos internos gravados

com

funcionários

que

estão

na

Codesc

desde os primeiros anos de atividade. Estes

depoimentos

objetivaram

como

objetivo

complementar

as análises

que

haviam

sido

feitas sobre a Codesc, e ainda detectar

0 que

não aparece formalmente nos dados

coletados. Secundariamente tem-se

uma

aproximação

do

que seria a percepção destas

pessoas sobre a história

da

instituição. Foi~lhes garantido anonimato tentando

com

isto

evitar problemas políticos para os

mesmos

e

uma

razoável fidedignidade nas

informações relatadas.

Os

depoimentos

foram

feitos de

forma

aberta, semi-estruturada.

Tentou-se

tomar depoimento de

alguns dos mais importantes dirigentes da Codesc,

mas

estas incursões esbarraram seja na negação por parte de alguns, seja pelas limitações

de

tempo

e recursos para tal realização.

No

entanto, acha-se

que

a coleta de

(20)

dados

e as informações obtidas nos depoimentos internos foram suficientes para cobrir as grandes lacunas

que

surgiram na análise.

Fontes

externas:

São

informações diversas,

como

mensagens do

govemo

à

Assembléia Legislativa; relatórios e publicações das entidades

do

Sistema Financeiro

Público estadual; jornais; publicações de outras instituições; livros e trabalhos sobre

Santa Catarina,

além de

depoimentos

não

gravados de alguns atores envolvidos

com

as

empresas

do

Sistema Financeiro Público estadual.

A

análise

da Codesc

foi feita a partir

do

cruzamento analítico das diversas

informações, através

da

triangulação das

mesmas,

tentando

recompor

historicamente

fatos e processos

que

dêem

conta

de

uma

explicação para a trajetória

da

Codesc

perante o Sistema Financeiro Público estadual,

bem como

do

seu próprio ciclo

institucional. Para guiar esta análise, levantou-se três grandes hipóteses sobre as

origens

da-Codesc que parecem melhor

explicar, tanto a sua aparição

como

o

seu ciclo

institucional.

A

primeira hipótese é

de que

a

Codesc

e' criada

no

bojo de

um

processo

desenvolvimentista brasileiro,

que

tem

na expansão da atividade empresarial via

empresa

estatal

um

espaço privilegiado.

A

segunda

é

de que

a

Codesc

surge

no

bojo

do

ciclo desenvolvimentista

como

um

mecanismo de

controle institucional das empresas

do

Sistema Financeiro Público estadual,

que

estariam atuando

de forma

descoordenada.

A

terceira hipótese é

de que

a Codesc, enquanto

companhia

de

desenvolvimento e holding, seria

um

instrumento para catapultar

um

dos maiores

expoentes

da

oligarquia

Konder-Bornhausen,

Jorge

Konder

Bomhausen,

seu primeiro

presidente executivo.

_ Esta dissertação

não

tem

pretensões teóricas,

no

sentido

de

querer aplicar

ou

ver a aplicabilidade de determinado arcabouço

ou

matriz teórica, por isto

mesmo,

não

um

capítulo teórico inicial,

mas

sim

um

histórico-teórico. Assim, o

cruzamento

analítico das informações e a leitura dos fatos e processos foi feita

com

auxílio de

detemiinadas categorias

como

Estado, poder, burocracia e patrimonialismo, e que

aparecem

com

o

desenvolvimento

da

dissertação, principalmente

no

primeiro capítulo.

Mas

não

se

tem

a pretensão de ver corroborada

ou não

determinada teoria.

(21)

Il

Duas

outras categorias importantes nesta dissertação são rapidamente

caracterizadas e operacionalizadas, espaço público e ciclo institucional.

Espaço

público é

uma

categoria

que

estará

sempre

em

delimitação, pois

que

se refere principalmente

aos lirnites entre o público e o privado, e aqui estará representada pelo aparelho estatal

do Poder

Executivo,

ou

seja, é

uma

parte

do

espaço público social. Ciclo institucional é algo

pouco

analisado

em

trabalhos acadêmicos, e nesta dissertação é entendido

como

as diversas fases por

que

passa

uma

instituição pública,

no

caso a Codesc.

Neste

trabalho tem-se

uma

preocupação especial

com

o registro histórico da

instituição Codesc. Adverte-se

que

são abundantes as siglas e abreviaturas e, para

deixar

o

texto mais limpo e facilitar a leitura, os quadros e tabelas feitos pelo autor estao todos

em

anexo.

Organização do

trabalho

O

presente trabalho está organizado de

forma

cronológica, abarcando os

períodos

de

govemo

e destes, os principais

momentos

da

Codesc

avaliados

na

análise

das informações coletadas. Assim,

além

de abranger

uma

análise

da empresa

em

relação

ao

Sistema Financeiro Público estadual, esta

forma

de apresentação procurou

demarcar

pen'odos distintos

que

caracterizam

o

seu ciclo institucional.

São

cinco capítulos

além

desta introdução e da conclusão.

No

primeiro capítulo faz-se

uma

contextualização geral da Codesc, abarcando

o

processo desenvolvimentista intemacional e nacional, principalmente

no que

diz

respeito

ao

padrão

da

intervenção estatal, aos dilemas das empresas estatais e às

reformas institucionais implementadas pelo

govemo

militar

no

Brasil instaurado

com

o

golpe de 1964.

No

capítulo dois, faz-se

uma

abordagem

sobre a

forma

oligárquica de

dominação

em

Santa Catarina, resgatando suas lutas históricas e suas implicações para

as origens

do

Sistema Financeiro Público e para a Codesc. Neste capítulo tem-se ainda

uma

brevíssima experiência de holding

do

setor financeiro público catarinense

em

1970.

(22)

No

capítulo três é feita

uma

análise da

Codesc no

govemo

de

Konder

Reis, período áureo da empresa,

com

amplitude de poder e raio de ação para além

do

Sistema Financeiro Público estadual,

com

status de secretaria de Estado,

com

as

funções desenvolvimentistas, de holding e de administradora de ações.

Uma

característica marcante é a centralização de poderes na Diretoria Executiva, mais

precisamente

no

seu presidente executivo Jorge

Konder

Bornhausen.

No

capítulo quatro a

empresa

sofre

um

processo de esvaziamento institucional e

em

1982

tem

uma

função estratégica nas eleições estaduais.

Com

a criação

do

Gaplan

perde as funções

de

desenvolvimento e,

no

decorrer

do

período, sofre

um

enfraquecimento

do

controle institucional

que

exercia

no

Sistema Financeiro Público estadual.

O

período

também

é

marcado

pela utilização

do

espaço público representado na

empresa

para

fins

políticos e de políticas governamentais pontuais, e pelas

mudanças de

rumo

que

marcam

seu ciclo institucional.

O

quinto e último capítulo, aborda o período

que

vai

da

quase extinção

em

1983, passando pela

retomada

das atividades

com

os serviços de informática

do

Sistema Financeiro Público estadual retiradas

da

Prodase/Ciasc, e ainda

com

uma

característica clara

de

utilização

do

seu espaço público

numa

lógica patrimonial pelo

govemo

Amin. Ainda

neste capítulo,

com

a entrada

do

governo

Pedro

Ivo

um

outro ciclo de esvaziamento

da

empresa. Neste subperíodo ela perde formalmente a função

de

holding e os serviços

de

informática, repassados ao

Besc

a

quem,

paradoxalmente, passa a ser vinculada. Continua

com

o controle das ações e recebe o projeto de

administrar as loterias estaduais,

um

projeto

aprovado

mas sem

efetiva realização até CYIÍ 30.

O

restante

do

capítulo, trata

do

período

que

vai

do

govemo

Vilson Kleinübing,

com

o

“boom”

da

“raspadinha catarinense” (loteria instantânea estadual) até

o

govemo

atual, de Paulo Afonso,

onde

recebe novas funções. Este terceiro período é

caracterizado pela utilização

da

empresa

como

avalista de grandes projetos, pela descapitalização via

venda

das ações de seu controle e pelas funções de agilizar processos de privatização.

Por

último têm-se a conclusão,

onde

se faz

uma

síntese das principais constatações

do

presente trabalho.

(23)

CAPÍTULO

1

Contextualização

geral

da

criação

da

Codesc

1.1.

Intervenção

estatal:

perspectivas

internacionais

e

principais

dilemas

A

intervenção estatal

na

sociedade capitalista é

uma

realidade desde seus primórdios.

Em

geral, isto se

dávcomo

garantia de continuidade

do

processo de

acumulação de

capital.

As

formas e intensidades da ação estatal estão ligadas à

dinâmica das relações de classe

no

espaço e tempo, que manifestam-se

em

crises e

retomadas

do

desenvolvimento capitalista.

O

Estado, nestas diferentes situações das relações

de

classes e suas manifestações, e enquanto fi'uto destas

mesmas

relações,

assume

formas diferenciadas de interação na sociedade.

Um

grande divisor

de

águas

da

intervenção

do

Estado na sociedade capitalista

é

o ano

de 1929. Neste

ano

ocorreu a quebra da Bolsa de Valores de

Nova

York

nos

Estados Unidos, desencadeando

uma

crise

com

repercussões

em

todo o

mundo.

A

partir de então,

toma-se

mais intensivo e sistemático o processo de intervenção

do

Estado regulando direta e indiretamente a

acumulação

de capital, período conhecido

como

da

implementação de políticas econômicas de corte keynesiano.

A

empresa

pública

toma-se

então,

um

importante instrumento deste processo.

Em

Sherwood

(1964) encontram-se explicações para a criação de empresas públicas,

exemplos de

manifestações deste tipo' de

empresa

em

países

com

desenvolvimento

econômico

diferenciado e alguns problemas e dilemas

que

enfrentam.

Quer-se crer

que

o citado estudo serve

como

um

importante introdutor

do

debate

acerca

do

objeto

que

aqui se analisa,

não

só pela variedade de exemplo,

mas

também

pela oportunidade de sua publicação

no

Brasil,

ou

seja, outubro de 1964,

em

plena

vigência

do governo

autoritário

que

se inicia

com

o Golpe

Militar

de

31 de

marçol

1

SHERWOOD,

Frank

P. Organizador. Empresas ~Públicas: textos selecionados. Rio de Janeiro.

MISSÃO NORTE-AMERICANA DE COOPERAÇAO

ECQNOIVIICA

E

TECNICA

NO

BRASIL

-

(24)

'Na

introdução, o citado autor ressalta o carater geral que orienta a criação de empresas estatais:

A

empresa pública foi criada nestes 12/rimos sessenta anos para libertar dos controles normais as atividades estatais de natureza econômica.

É

este conceito generalizado. Nestas condições. a idéia-mestra no estudo de empresas públicas são dotadas de maior autonomia. a

fim

de que

possam

tomar, mais rápida e

racionalmente. decisões de tipo comercial??

O

raciocínio acima

pode

ser traduzido: a administração pública possui

normas

rígidas de

tomada

de decisao, os “negócios comerciais” precisam de decisoes rápidas, e as empresas públicas são os agentes desta

tomada

de decisão

do

Estado

na

“área comercial”3.

Na

pratica, e'

uma

forma

da intervenção estatal se livrar das amarras

do

controle burocrático tradicional.

Os

governos

criam suas empresas por vários motivos aparentes,

em

necessidades

de

guerra (centralização), emergências

em

depressões,

com

objetivos de

longo prazo relativos ao

mercado

mundial e defesa nacional, ante o

temor

ao

monopólio

privado, considerações de lucro (baixo lucro

-

estatiza para salvar; alto

lucro

-

estatiza por causa dos consumidores)

ou

ainda empreendimentos necessários socialmente,

mas

vultosos

que o

capital privado

não

quer

ou não pode

assumir4.

De

qualquer fomia,

o

objetivo indicado

não

é suplantar a empresa privada,

mas

ter

uma

função suplementar a estas.

A V

Original: Reading on Public Enterprises. Tradução: Maria de Lourdes Lima Modiano. Trata-se de

uma

coletânea de artigos, onde o mais antigo é de 1945 e trazem

um

exemplo do que o

mundo

(principalmente o desenvolvido) indica e analisa sobre a intervenção do Estado na sociedade.

Chama

atenção, além da oportunidade da publicação, o fato de que foi editado

em

conjunto

com

Órgão

americano, cujo envolvimento no Golpe de 64 foi muito forte, ver DREIFUSS, René Armand. 196-I:

A

conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis, Vozes, 1987.

Além

disto, no

desenrolar dos fatos vieram Reformas que contribuiram para a proliferação no Brasil da empresa

pública.

2

sHERwooD,

ibiaem, p. 3.

3 “Ao

contrário das empresas públicas autônomas, os órgão tradicionais de governo carecem de

continuidade,

em

virtude das mudanças políticas e, ale'm disso, a unidade de administração desses

órgãos é restringida pelo controle financeiro e de pessoal a que são sujeitos como, por exemplo, por

parte de tribunais de contas ou de órgãos inciunbidos da aplicação de nomtas quanto ao

funcionalismo”.

DIMOCK,

Marshall Edward. “Sociedade Estatais por Ações”. Harper's Magazine.

Nova York, maio/ 1945, pp. 570-3. In: SI-IERWOOD, op. cit., pp. 6-ll, pp. 7-8.

A

autonomia que os

govemantes procuram na empresa pública é neste estudo caracterizada e definida como autonomia institucional, relacionada ao controle institucional do Estado e ao controle social exercido pela

sociedade civil.

(25)

13

Assinala-se desde já

uma

situação conflitante na vida deste ente estatal,

ou

seja,

tem que

ter

um

comportamento

ligado ao interesse público

ou

geral, por ser estatal,

mas

também

um

comportamento

comercial

ou

empresarial.

A

integração entre interesse público e o privado abre

caminho

para duas questões chaves: o nível da

autonomia

institucional

que

devem

ter estes agentes estataiss, e, conseqüentemente,

o

nível de controle institucional e social a

que

devem

estar sujeitosó.

Em

diversas partes

do

mundo

durante

o

século atual, a

empresa

pública

assumiu a

forma

de Sociedade Estatal por Ações7,

conforme

expõe_Dimock

(1945),

que

a considera

como

sucedânea

da

administração burocrática:

Desde

1900, quase todas as iniciativas

em

matéria de propriedade estatal

por

toda parte

do

mundo,

tomaram a forma

de sociedade

por

ações.

Na

Europa, foi a sociedade de economia mista e

a

sociedade

anônima

estatal.

Na

Grã~Bretanha, o

monopólio de serviços públicos; nos Estados Unidos e no Canadá; tal

como na

Austrália e

na

Nova

Zelândia, a sociedade anônima estatal:

na

Rússia Soviética, o

monopólio estatal;

na

China a sociedade anônima estatal.8

Nos

Estados

Unidos

estas empresas públicas são conhecidas

como

autarquias, e

o

seu

emprego

é limitado (à

época

- 1964) a

programas

com

as seguintes características:

(..) a) que tenham natureza predominantemente comercial; b) que

produzam

rendae sejam ou

possam

ser substancialmente auto-suficientes; c) que envolvam grande

número

de transações comerciais

com

o público; d) que exijam maior flexibilidade

do

que costuma permitir o sistema

comum

de dotações orçamentárias.9

5

SHERWOOD,

op. cit., idem, ressalta que

uma

maior autonomia é

uma

solução e ao

mesmo

tempo

um

problema:

quem

deve ter esta autonomia? como a empresa vinculará os seus interesses particulares

com

os interesses sociais mais amplos? a empresa pública deve comportar-se diferentemente da privada?

como

a sociedade saberá que suas empresas públicas são razoavelmente eficientes?

6 “Nas

democracias de govemo parlamentar, a criação da empresa pública estatal tem

uma

finalidade.

A

finalidade óbvia é o exercício de celta dose de controle democrático sobre a empresa. Esse controle

visa a garantir que os procedimentos e decisões atendam ao interesse público. Vale para que as

decisões sejam acertadas e criteriosas, atendendo ao

bem

geral.

Sem

esse controle, a sociedade

anônima estatal perde sua razão de ser”.

GALBRAITH,

John Kenneth. “Administração Pública e Empresa Pública. Indian Journal of Public Administration”. out-dez - 1961, pp. .440-6. In:

SHERWOOD,

ibidem, pp. 12-18, p. 15.

7

Government Corporations, que significa sociedades por ações nas quais o Governo é o único

acionista,

DIMOCK,

op. cit., conforme Nota do Tradutor. _

8

1b1a¢m,p. 7.

9

SEMINÁRIO

DE

ILANCUN. Tradução: Hugo Wahrlich: “Os dilemas básicos na Organização de Empresas Públicas”. In:

SHERWOOD,

op. cit., pp. 54-65, p. 65.

(26)

Em

Ernmerch

(1963) encontram-se preocupações

com

a proliferação das autarquias:

A

experiência de muitos países tem evidenciado que e necessário cuidado

em

matéria de poderes e proliferação de autarquias. Se não houver a justa medida na criação dessas entidades, o que

pode

acontecer e' que as responsabilidades governamentais

se dispersem entre numerosas unidades que irão então competir

umas

com

as outras pelos limitados recursos

humanos

e materiais de que dispõe o país. Outros perigos são descoordenação das operações, ou, pior ainda,

uma

competição destrutiva, ou,

por

outro lado, tornarem-se tão independentes que por vezes

possam

agir

em

desacordo

com

a

política do governo

em

questões

da

maior relevância. 10

Principalmente nos países mais desenvolvidos o controle social e'

uma

reocu a

ão

e

uma

ré-condi ão ara evitar “desvio de fun ões” da

em

resa estatal.

P P Ç

Isto é algo

que

parece efetivamente diferenciar

o

processo de criação e

desenvolvimento

da empresa

estatal nestes países e

em

países

em

desenvolvimento,

como

no

caso

do

Brasil.

Como

instrumento-

de

política

econômica

de rápida

mobilização

em

situações emergenciais, para evitar as

nomias

rígidas

da

administração burocrática tradicional, e enquanto estratégia para suprir necessidades

onde o

capital

~ ~

privado

não

pode ou nao

quer atuar sao os principais atributos das empresas públicas, e principalmente nos países

menos

desenvolvidos,

onde

as

companhias

de

desenvolvimento

assumiram

papel relevante.

Nos

países economicamente mais desenvolvidos,

a

iniciativa privada desempenha

importante papel

na

descoberta dos recursos e

na

investigação das oportunidades econômicas. Isso se verificou particularmente

no

setor dos recursos minerais.

Nos

países

menos

desenvolvidos”, entretanto,

a

iniciativa privada tem papel

bem

mais

limitado.

É

na

pesquisa dos recursos existentes que os órgãos governamentais e as

empresas estatais têm papel mais importante.

Na

maioria dos países (não

em

todos, '

absolutamente) o levantamento dos recursos minerais esta' a cargo de

um

órgão da administração.

A

pesquisa de oportunidades de desenvolvimento e

a

divulgação dessas oportunidades geralmente é atribuição de

uma

'companhia de

EMMERCH,

Herbert. “Instituições Autônomas e Empresas Estatais”. Rio de Janeiro, Instituto

Brasileiro de Administração Pública - Manual de Administração Pública, 1963, pp. 121-28.

In:

SHERWOOD,

ibidem, pp. 45-53, p. 48.

“ “Economia subdesenvolvida é, essencialmente,

uma

economia sem suficiente desenvolvimento autônomo e carente de certos fatores essenciais ou estratégicos de produção.

De

regra, o principal

“patrimonial” desse tipo de econornia é a grande massa de mão-de-obra mal aproveitada, muitas vezes

aliada à existência de terra ou outros fatores de produção, mal aproveitados”. Conceito encontrado

em

ROYAL

INSTITUTE

OF

PUBLIC

ADMINISTRATION

-ADMINISTRATIVE

ORGANIZATIONAL

FOR

ECONOMIC DEVELOPMENT.

“Papel das Empresas Públicas, Empresas Privadas e

(27)

17

desenvolvimento '_

A

Companhia

Jamaicana de Desenvolvimento

Industrial esta no

12

momento empenhada

nesta tarefa.

Está se falando agora de

um

aspecto muito significativo da intervenção estatal após a crise

de

1929, e principalmente após a segunda guerra mundial,

ou

seja, a busca

de

oportunidades e o

fomento

ao “desenvolvimento” e ao “progresso”,

em

outras

palavras, à

acumulação de

capital.

Um

dos principais instrumentos da empresa estatal para _ estimular 0

desenvolvimento econômico são as 'companhias de desenvolvimento '. Estas,

geralmente, são de propriedade exclusivamente estatal e controladas pelo governo,

mas

em

alguns países há ingerência do capital privado, de pessoas físicas ou

jurídicas.

Quando

tal acontece, já não se trata de empresa estatal no sentido estrito

da

palavra,

mas

de

uma

espécie de empresa de economia mista.

As

companhias de desenvolvimento

podem

desempenhar

uma

ou mais funções.

Quando

canalizam

fiindos

para

os setores econômicos, onde

possam

ser mais produtivos, o objetivo é suplementar e não suplantar

a

iniciativa privada.

Às

vezes, tal objetivo é conseguido mediante

a

criação de empresas subsidiárias comerciais, industriais, de crédito ou

de serviços de utilidade pública,

com

ou

sem a

participação do capital privado; outras vezes, mediante empréstimos concedidos a particulares ou

a

cooperativas,

para

determinados empreendimentos industriais e comerciais. Outra modalidade de

fomentar o desenvolvimento é o investimento

em

empresas particulares já existentes.

Essas funções são exercidas

por

companhia de desenvolvimento

em

países das mais

variadas condições, tais

como

o Canadá,

a

Nigéria, 0 Paquistão e

a

Uganda.

Na

Jamaica,

a

Companhia

de Desenvolvimento Industrial

também

tem, entre outras,

a

atribulição precípua de examinar possíveis projetos de desenvolvimento

em

toda

a

linha. '

~

Segundo

o

mesmo

estudo,

algumas

destas

fimçoes

são

também

exercidas por

bancos de

propriedade governamental. Neste particular, devido ao risco

que

os paises

menos

desenvolvidos apresentam, os bancos estatais funcionam

como

um

indicativo às possibilidades

no

setor. “Este é

um

exemplo da

necessidade por parte

da empresa

privada,

de

orientação

do

setor estatal e os bancos

govemamentais

especializados

podem

ser usados para esse

fim”.“

Outra preocupação

que

perpassa

o

incentivo ao desenvolvimento diz respeito

ao

tratamento

dado

ao capital estrangeiro, e a diminuição de riscos é

uma

questão- chave. 12 Ibidem, p. 124. 13 Ibidem, pp. 124-125.

H

Ibidem, p. 125.

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