UNIVERSIDADE
FEDERAL DE sANTA
CATARINA
-UESC
CENTRO
sÓCIO-ECONÔMICO
-CsE
DEPARTAMENTO
DE
CIÊNCIAs
DA
ADMINISTRAÇÃO
PROGRAMA
DE Pós-GRADUAÇÃO
EM
ADMINISTRAÇÃO
ÁREA
DE
CONCENTRAÇÃOz
POLÍTICAS
E
PLANEJAMENTO
GOVERNAMENTAL
Sistema
Financeiro Público
estadual:
a
trajetória
da Codesc
(Poder,
Espaço
Público
e
Ciclo
Institucional)
Rogério Santos
da
Costa
Dissertação
de
Mestrado
apresentada ao
Programa
de
Pós-Graduação
em
Administração,
Área
de Concentração
em
Políticas ePlanejamento
Governamental da
Universidade
Federalde
Santa
Catarina, sob
a
orientaçãodo
Professor
Doutor
Emi
José
Seibel.Esta Dissertação foi julgada
adequada
para a' obtençãodo
grau de Mestreem
Administraçãoe
aprovada
em
suaforma
final peloPrograma
de Pós-graduaçãoem
Administração,Área
deconcentração
em
Políticas e Planejamento Governamental.BANCA
EXAMINADORA:
`z
ÊL
r
Professor Dr. "
Professor Dr.
Emi
José Seibel - OrientadorProf
ssor Dr. Sérgio Schmitz/
`,P -Oi . ›¿<_
v1o \ nio Ferraz Cário
/@wWm~'W
Professora Dra.
V
skaNahas
Guimarães
III
Dedico
este trabalhoa
PatríciaAguiar dos
Santos,pelo
amor
e solidariedadeaos
meus
pais,Valmor
e Justa,pelo
irrestrito apoioe
em
memória
de
Redson
Faraco,_
AGRADECIMENTOS
'
Ao
professor eamigo
Emi
José Seibel, pela genialidadecom
que
trata e transmite suas interpretações sobre osfenômenos
sociais, e pela dedicação à orientação deste trabalho.Aos
funcionáriosda
Companhia
de Desenvolvimentodo
Estadode
Santa Catarina-
Codesc.Do
seu presidente ao contínuo, todosforam
de fundamental importância para aconsecução
deste trabalho.Às
diversas instituições pesquisadas, dentre as quais destaco aAssessoria Coletiva
do
Partido dos Trabalhadoresna
Assembléia Legislativa de SantaCatarina e
o
Sindicatodos
Bancáriosde
Florianópolis.Ao
CNPq
pela apoio financeiroatravés
da
bolsade
estudos.Ao
amigo
Benilson Borinelli pelas fundamentais e incessantes conversas e discussões,o
que
foide
suma
importância para as análises desta dissertação,bem
como
pela solidariedade nosmomentos
dificeis porque
passamos. Outras pessoas igualmentecontribuíram
em
diversosmomentos
do
trabalho, entre elas JorgeGouvêa,
SilvanaGranemann,
Patrícia Aguiar, Valdir Alvim, Daniel Passos, Célio Espíndola, Maurício Sardá,Valmir da
Costa, Belo,Marcelo
Aguiar e Ricardo Guerreiro.Aos
amigos, professores e fimcionáriosdo
CPGA
pela convivênciaenriquecedora.
Aos
meus
familiares, por estarem aomeu
ladoem
todos osmomentos,
em
especial ao netinhoque
chegou
nosdando
muita alegria.À
famíliaAguiar dos
Santos, pelo incentivo e apoio constantes, souextremamente
grato.Aos
amigos
do
Dieese e dos sindicatoscom
os quais estivemos trabalhandodurante
um
ano
e meio, agradeço a oportunidade e a experiência.Finalmente agradeço a todos
que de
uma
forma ou
de outra contribuíram para aV
RESUMO
A
presente dissertação analisa a trajetóriada
Companhia
de Desenvolvimentodo
Estado de
Santa Catarina-
Codesc, desde sua criação até a atualidade, enfocando as relações depoder
no
aparelhode
Estado,com
ênfase nas empresasdo
Sistema FinanceiroPúblico Estadual (SFP),
bem
como
no
seu próprio ciclo institucional. Trata-sede
um
estudoinstitucional exploratório
com
análise intensiva eaprofimdada do
objeto de estudo.A
Codesc
foi criadaem
1975
e tinha três grandes eixos de atuação:Companhia
de
Desenvolvimento, holding
do
Sistema Financeiro Público Estadual e administradorade
ações
de
propriedadedo
Estado.Seu
raio de controle e ingerência diantedo
SFP
e até paraalém
deste colocavam-na,por
um
lado,como
uma
grande possibilidade de serum
espaço privilegiadode
ação política,o que
resultou na alavancagemde
seu primeiro presidenteJorge
Konder
Bomhausen
ao governo
do
Estado; por outro,como
o
alvo principal na lutapor autonomia
das instituiçõesque
eram
por ela controladas.Estes fatores, aliados
ao
derradeiro términodo
período desenvolvimentistano
finaldos
anos setenta, trazem para aCodesc
uma
seqüência de esvaziamento de funções ede
poderes, resultando
na
sua quase extinçãono
início de 1983.Porém,
tendo apenas as prerrogativasde
adrninistração das açõesdo
Estado, notadamenteo
controle acionáriodo
Banco
do Estado de
Santa Catarina - Besc, revelaàse aindaum
importante espaço público,instrumento tanto para políticas públicas,
como
para as relações políticasque
se estabelecem a partirdo
aparelhode
Estado.Assim, tendo apenas esta
fimção
original de administradora de ações, e devidoprincipalmente à capacidade e criatividade
da
sua burocracia, àCodesc
são passadas e retiradas várias funções a partirde
1983o que
garanteuma
sobrevida e lhe confereum
ciclo institucional característico. Atualmente, tem-seuma
Codesc
prestadorade
serviçosno
-
epara
o
-
aparelhode
Estado, enquantoo
Sistema Financeiro Público estadualvê
seus diasABSTRACT
This dissertation analyzes the path
of
theCompanhia
de Desenvolvimentodo
Estadode
Santa Catarina - Codesc, since its creation untilnow,
focusing thepower
relationships in the deviceof
State, with emphasis in thecompanies of
the state Public FinancialSystem
(SFP), as well as in its
own
institucional cycle. It consists in a exploratory institucional studyand
also in an intensive anddeepened
analysis to the study object.Codesc
was
created in 1975 andhad
3 great performance axis: developmentcompany,
state Public FinancialSystem
holdingand
State's shares administrator. Its rayof
controland
mediation aheadand even
forbeyond of
theSFP
placed it,on
anway,
as a greatpossibility
of
being a privileged spaceof
politic action,which
resulted in the leverageof
itsfirst president Jorge
Konder
Bomhausen
to thegovernment of
the State,on
other way, as themain
target in the fight for the lifeof
the institutions thatwere
controled for them.These
factors, allies to the last endingof
the development period in theend of
the Seventies, bring for theCodesc
a sequenceof
functions andpower
empties, almost resulting in its extinguishing in the beginningof
1983.However,
having only the prerogativesof
management
of
State shares, specialy the shareholding controlof
theBanco do
Estadode
Santa Catarina - Besc, still
tum
out tobe
an important public space, both instrument for public politicsand
for politic relationships establishedfiom
the deviceof
State.Thus, having only this original share administrator function,
and
mainlydue
.to the capacityand
creativityof
its bureaucracy,some
fiinctions are passedand
removed
to theCodesc
from
1983. It guarantees a supervenedand
confers it a characteristic institucionalcycle. Currently,
Codesc
is rendering services in -and
for - the deviceof
State, while the state Public FinancialSystem
is imminent toend
as state public agent before faceof
privatization threat.LISTA
DE
SIGLAS E
ABREVIATURAS
ADESG
- Associação dosDiplomados
da Escola Superior deGuerra
ADF
SC
- Administradora Financeira CatarinenseS/A
AG
- Assembléia GeralAGE
- Assembléia Geral Extra-OrdináriaAGO
- Assembléia Geral OrdináriaArena
- AliançaRenovadora
NacionalBA
-Estado
Burocrático AutoritárioBadesc
-Banco
de Desenvolvimento do Estado
de Santa CatarinaBC
-Banco
Centraldo
BrasilBDE
-Banco
de Desenvolvimento do
Estado de Santa CatarinaBesc
-Banco do
Estadode
Santa CatarinaS/A
Bescam
-Besc
Corretorade
Títulos, Valores eCâmbio
Bescor
-Besc
Corretorade
SegurosBescredi -
Besc
FinanceiraS/A
- Crédito, Financiamento e InvestimentosBesctur -
Besc Turismo
S/A
VBescval -
Besc
Distribuidorade
Títulos e Valores Mobiliáriosz
Bird -
Banco
Intemacional para Reconstrução e DesenvolvimentoBNDE
-Banco
Nacionalde Desenvolvimento
Econômico
BNDES
-Banco
Nacionalde Desenvolvimento
Econômico
e SocialBRDE
-Banco
Regionalde Desenvolvimento do
Estremo
SulCasan
-Companhia
Catarinensede
Águas
eSaneamento
CDE
-Conselho de Desenvolvimento
Econômico
CDS
-Conselho de
Desenvolvimento SocialCede
-Conselho
Estadualde Desenvolvimento
Econômico
CEDS
-Conselho
Estadualde
Desenvolvimento SocialCeesa
- CaixaEconômica
EstadualS/A
Celesc - Centrais Elétricas
de
Santa CatarinaS/A
Cimenvale
-Mineração
eCimento
Valedo
ItajaíS/A
CMN
-Conselho Monetário
NacionalCodesc
-Companhia
de Desenvolvimentodo
Estadode
Santa CatarinaS/A
Codesul
-Conselho de
Desenvolvimentodo Extremo
SulCodisc-
Companhia
de
Distrito Industrial Sul CatarinenseComcap
-Companhia
de
Melhoramentos da
CapitalConad
-Conselho de
AdministraçãoConfis
-Conselho
FiscalConsul
-Conselho
ConsultivoCopla
-Comitê de
PlanejamentoCPF
-Conselho de
Política FinanceiraDER
-Departamento de
Estradas deRodagem
Direx - Diretoria Executiva
Esag
- Escola Superior de Administração e GerênciaEsg
- Escola Superior deGuerra
Fatma
-Fundação
deAmparo
à Tecnologia eMeio
Ambiente
Fiesc - Federação das Indústriasdo Estado de
Santa Catarina `Fundesc
-Fundo
de
Desenvolvimentodo
Estadode
Santa CatarinaFusesc -
Fundação Codesc
de Seguridade SocialGaplan
- Gabinetedo
Planejamento eCoordenação
GeralIbad - Instituto Brasileiro
de
Ação
Democrática
hico -
Banco
Indústria eComércio
Invesc- Santa Catarina Participações e Investimentos
S/A
Ipes - Institutode
Pesquisas e Estudos SociaisItag - Instituto Técnico de Administração e Gerência Itep - Instituto Técnico de
Economia
e PlanejamentoLadesc
- Ligade
Apoio
ao
Desenvolvimento Social CatarinenseLotesc - Loteria Estadual
de
Santa CatarinaMetanol
- Pesquisas e Projetos deCan/ão Ltda
PND
- Plano Nacional de DesenvolvimentoPDS
- PartidoDemocrático
SocialPFL
- Partidoda
Frente LiberalPG
- Planode
Govemo
PKB
- PauloKonder
Bomhausen
Plameg
- Planode
Metas do
Govemo
PMDB
- Partidodo
Movimento
Democrático
BrasileiroPOE
- Plano deObras
eEquipamentos
PPB
- Partido Progressista BrasileiroProcape
-Programa de
Capitalização deEmpresas
Prodasc
-Companhia
de
Processamento deDados
do
Estado de Santa CatarinaProfluxo
-Programa
de
Ajustamentode
Fluxos de CaixaPSD
- Partido SocialDemocrático
PT
- Partidodos
TrabalhadoresRaet-
Regime
de Administração Especial TemporáriaRefloresc
-Besc
S/A
- ReflorestadoraSantinvest - Santa Catarina Investimentos
S/A
Secom
- Secretaria Extraordináriade
Comunicação
SocialSFBesc
- Sistema FinanceiroBesc
SFP
- Sistema Financeiro Público estadual Sidersul - Siderurgia Sul CatarinenseS/A
Sudesul - Superintendência Para
o
Desenvolvimentodo
SulTelesc - Telecomunicações de Santa Catarina
TABELA
1 -Anos
de criação de empresasgovemamentais
... ._
ANEXO
1 - Codesc:Número
de Resoluções Direx, por ano e por gruposANEXO
2 - Codesc:Composições
Direx,Conad,
Confis
e ConsulANEXO
3
- Codesc: IndicadoresEconômicos
e FinanceirosANEXO
4
- Codesc: Carteirade
Ações
ANEXO
5
- Codesc:Número
de
FuncionáriosANEXO
6
-Ata da
Assembléia Geralde
Constituição daCodesc
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
... _.CAPÍTULO
1 - Contextualização geralda
criaçãoda
Codesc
... ..1.1. Intervenção estatal: perspectivas intemacionais eprincipais dilemas ... ..
1.2.
O
“padrão” de intervenção estatalno
Brasil ... ..1.3. 1964: os militares e as reformas institucionais ... ..
CAPÍTULO
2- Santa Catarina: poder oligárquico e aformação do
SistemaFinanceiro Público ... ..
2.1.
A
luta política das oligarquias: instrumentalização parao
exercíciodo
poder
... .; ... ... ..2.2.
A
fonnação do
Sistema Financeiro Público de Santa Catarina e a “experiência”de
holding financeira ... ..CAPÍTULO
3
-A
articulaçãodo
Sistema Financeiro Público de Santa Catarina para a realizaçãode
um
projeto político: aCodesc no
govemo
Konder
Reis (1975-1979) ... ..3.1.
Da
autorização à estruturação: a criaçãode
espaços públicos parao
exercício
do poder
... ..3.1.1. Origens
da
Codesc: instxumentalizaçãode
um
projeto político .... ..3.1.2.
A
Comissão
Constitutiva ... ..3.1.3. Perfil
da empresa
criada: estrutura, objetivos e competências ; ... ..3.1.4.
Os
órgãosda
Codesc: competências, atribuições e composições3.2. Constituição e primeiros anos
de
atuação ... ._3.2.1.
A
consolidaçãode
empresa
holding ... ..3.2.2.
A
companhia de
desenvolvimentoem
ação: para alémdo
SistemaFinanceiro Público estadual ... ..
3.3.
O
exercíciodo
poder: referendo a JorgeBomhausen
... ..3.3.2.
A
dinâmica dos Órgãos da Codesc: referendando JorgeBornhausen
3.4.
Assume
Eduardo
Santos Lins: a luta por espaços e a insubordinação _.CAPÍTULO
4 -Deslocamento do
poder decisório e esvaziamento de funções:A
Codesc
no
governo
Jorge Bornhausen/HenriqueCórdova
(1979-1983) ... _.4.1.
A
hegemonia do
Gaplan:uma
nova
estratégia centralizadora ... ._4.2. Codesc: o esvaziamento das fiinções de desenvolvimento ... ..
4.3.
A
gestão “ao, ao” deMarcos
Henrique Buechler ... _.4.3.1.
A
hegemonia do Conselho
de Administração- Conad
... _.4.3.2. “Prestígio”
sem
status: personagens da era Buechler e seus espaçosprivilegiados ... __
4.3.3. Codesc: espaço público instrumental ... _.
4.3.4.
O
enfraquecimento diantedo
SFP
e asmudanças
derumo
... ._4.4. 1982: Paulo
Konder
Bornhausen
e a “operação eleição” ... ..CAPÍTULO
5
~
Codesc: sobrevivência e ciclo institucional ... ._5.1.
Govemo
EsperidiãoAmin
e a lógica patrimonialistano
SistemaFinanceiro Público estadual (1983-1987): “ao vencedor pertence a
pilhagem” ... ._
5.1.1.
Enxugamento
e o periodo"nômade
silencioso” ... ._5.1.2.
O
“boom” com
a informática e as diretorias regionais. ... _.5.2.
Govemo
Pedro
Ivo/Casildo Maldaner: formalizaçãoda
ruptura daCodesc
com
o Sistema Financeiro Público e novas funções (1987- 1991) ... ._5.2. 1. Crise
no
Sistema Financeiro Público estadual e a “caça às bruxas”5.2.2.
Autonomia
e controle institucional: a vitóriado Besc
sobre aCodesc
5.2.3. Codesc:
novo enxugamento
e o“boom”
da “raspadinha” ... _.5.3.
A
“passagem” do
govemo
Vilson Kleinübing: alavancagem de recursos eprestação
de
serviços (1991-1994) ... ._5.4.
Governo
Paulo Afonso: aCodesc
e as possibilidades de privatizaçãodo
97
104 109 111 115119
119 121124
133 141 149 149 149157
162 162166
172 175Sistema Financeiro Público estadual (1995-1998)
CONCLUSÃO
... ..BIBLIOGRAFIA
... ..Problemática
e objetivo
O
processo de redemocratização da sociedade brasileira, iniciado basicamenteem
1985, encontra-se atualmentenuma
fase deampla
redefinição das funçõesdo
Estado. Fruto
de
relações sociais, a materializaçãodo
Estado e das politicas públicas reflete estas relações enquantocampo
e espaço público estratégico de exercício depoder
edominação
entre classes, grupos e frações de classe. Inserido nesta perspectiva,o
debate sobre aforma
do
Estadoque
a sociedade pretende para si, deveser precedido pelo conhecimento das formas
com
que
estão arraigadas estas relaçõessociais.
Para
o
sujeito social envolvidocom
política e gestão públicas, é pressupostoum
entendimento sobre aforma
históricacom
que
se materializa institucionalmenteo
Estado, sobre qual a lógica das relações de poder subjacentes a esta materialização
institucional, e sobre a cultura politica que permeia este processo social. Auxiliar
no
debate sobre a questão
do
Estado éo
estímulo maiordo
presente estudo.As
empresasdo
Sistema Financeiro Público estadual catarinense, entendidocomo
o
conjuntode
empresas estataisdo ramo
financeiro sob controledo
govemo
de
Santa Catarina, estão entre as instituições
que
historicamente servem de instrumentode
política pública.Suas
dinâmicas institucionais revelam partes importantes damaterialização das relações de força
no
seio da sociedade, devido, principalmente, aoalcance de suas incursões e às possibilidades de alavancagem de recursos,
com
amplasimplicações para
o
desenvolvimentoeconômico
estadual.Por
isto,não
só são espaçospúblicos privilegiados
de
açoes govemamentais,como
também
de incursões de gruposde
interesses,notadamente o
empresariado.Por
outro lado, estão na mirado
discurso da privatização,com
alegaçõesque
vão
desde a necessidadedo saneamento do
Estadoque
estáem
crise fiscal, passandopela retórica
da
intrínseca ineficiência, alcançando as “concepções” deque
o Estado|¡¡
5
“neoliberal”,
que
por sua própria natureza é a-histórica e atemporal.Muitos
dos quehoje discursam neste sentido, foram bastante privilegiados através da
ocupação do
espaço público representado nestas instituições. 1
Q Diante desta perspectiva, parece relevante-resgatar a forma
como
seocupou
ese utilizou este .espaço público representado nas empresas
do
Sistema FinanceiroPúblico de Santa Catarina,
numa
abordagem
históricaque
contemple a materializaçãode relações de
poder no
aparelhodo
Estado.Tendo
o Sistema Financeiro Públicocomo
focode
estudo, analisa-se a trajetória daCompanhia
de Desenvolvimentodo
Estado de
Santa CatarinaS/A
- Codesc. ~ _VA
Codesc
éuma
sociedade deeconomia
mistacriada
em
1975, e sua efetiva constituiçãoem
1976
está cercada de significados econômicos, 'administrativos epolíticos. Suas funções
podem
ser agregadasem
três grandes eixos:4 `
~
1) Controlar e coordenar as atividades das empresas integrantes
do
SistemaFinanceiro Público estadual, atuando
como
holdingdo
também
instituído “SistemaCodesc”, -
2) Elaborar projetos e -promover ações direcionadas ao desenvolvimento de
Santa Catarina, sendo estas as suas -prerrogativas 'enquanto
companhia
dedesenvolvimento; '
1
'
3)
Manter
e
administrar participações e controles acionários,ou
seja,administrar
uma
carteira de ações de propriedadedo
Estado.Com
o
passardo
tempo, aCodesc
perde as duas primeiras e principais funções para as quais foi criada, as desenvolvimentistas e as de holding.A
partir de 1983 épraticamente
uma
carteirade
ações, apesar de formalmente tercomo
objetivo orientar as aplicações dasempresas
das quais participa acionariamente. Nesta trajetória, passa por períodosde
quase extinção, retoma as atividadescom
outras funções, e isto lheimprime
uma
dinâmica institucional particular.De
coordenadorado
Sistema FinanceiroPúblico estadual e de
promotora do
desenvolvimento catarinense, aCodesc
passa arepresentar apenas
uma
empresa que
detém
açõesde
outras empresas estatais.Além
do
seu estreito relacionamentocom
o Sistema Financeiro Público. estadual, a
não
extinçãoda
Codesc
mesmo
após perder seus principais objetivos, e istolhe conferindo
um
característico ciclo institucional, éum
campo
a mais a ser analisado1
enquanto espaço público
em
que
se materializam relações sociais. Assim, constitui-se objetivo geral deste estudo analisar a trajetóriada
Companhia
de
Desenvolvimento
do
Estado de Santa Catarina
- Codesc,enfocando
sua relaçãocom
oSistema
Financeiro Público estadual e o seu próprio ciclo institucional.Metodologia
Esta pesquisa caracteriza-se
como
um
estudo institucional exploratório,com
enfoque
predominantemente
qualitativo,numa
perspectiva histórica,com
análiseintensiva e aprofundada
do
objetode
estudo.A
coleta de dados teveum
princípio básico: toda e qualquer informaçãoque
pudesse ser de caráter público. Procurou-sefazer
um
inventário da empresa, oque
esteve dificultado pela inexistência deum
acervo sistematizado e reunido
de
documentação.'Também
não existem trabalhosacadêmicos que
contemplem
uma
análise da trajetória da Codesc, fato esteque
acabouincentivando ainda mais esta pesquisa. Assim, este estudo
compõe
uma
sistematização e análise inéditas sobre a instituição Codesc.Cabe
revelaralgumas
especificidades sobre a coleta de dados e sobre aabrangência temporal
do
estudo.Quando
se estava pesquisando sobre o SistemaFinanceiro estadual
em
1994,com
objetivo de elaborar o projeto de pesquisa, soube-seque
aCodesc
era holding de direito,mas
não de fato.Uma
investigação preliminarrevelou a importância
da
Codesc no
aparelho estatal nos seus primeiros anos deatuação,
bem como
a presençade
grandes personalidades políticas e empresariais deSanta Catarina
em
seus cargos diretivos, fatoresque
impulsionaram o estudoinstitucional.
Naquele
momento
a investigação estaria limitada aoano
de 1994.Porém,
quando
se tentou aprofiindar a coleta de dados, devido a resistências internas e,principalmente, ao calendário eleitoral, teve-se grandes dificuldades para a
tomada
das informações. Isto éuma
marca
daCodesc
ede
seus funcionários,que
a cadagovemo
que
está entrandopassam
pela síndrome da extinção.Devido
a este fato, e acompromissos
particulares, aretomada
dos trabalhos se deu apenasno
início de 1997, e a coleta dosdados
se efetivouem
novembro
destemesmo
ano.Dadas
as perspectivas7
ainda,
que
aCodesc
continuou existindo, resolveu-se trazer a delimitação temporal até os dias atuais.A
seguir, tem-se o arcabouço básico de informaçõesque fazem
parte dopresente estudo
com
as formas de tratamento respectivos:Legislação:
Desde
a autorização para a constituição daCodesc
até os diasatuais, fonna-se
um
conjunto de leis que estão diretaou
indiretamente ligados àempresa
e ao Sistema Financeiro Público estadual.As
principais são os rearranjos administrativosde
iníciode
govemo
eno
seu decorrer, determinando as vinculações e respectivos status das instituições da administração pública, e aindadando
novasfeições e fiinções a estas. Procurou-se destacar as que direta
ou
indiretamente relacionam-se à Codesc, detectando principalmente os vínculosno organograma
estadual, as funções legais atribuídas e as implicações para a sua dinâmica institucional.__
Resoluções
da
Diretoria Executiva:As
tomadas
de decisões daCodesc
sãoformalizadas
em
resoluções.As
que dizem
respeito à Diretoria Executiva (Direx)foram
agrupadas por ano, contendoo número,
a data e a ementa.A
ementa
trazem
seu bojoo
assuntode que
trata a resolução e mostra significativamente a atuaçãoda
empresa.
Em
algumas
resoluções achou-se necessáriouma
análisedo
teor para maioresclarecimento
de
seu significado.Porém,
istosomente
foi possível para os anos de1976
a 1978.As
resoluções agrupadas,conforme
citado, são analisadasde
formaquantitativa e qualitativa. Verificou-se o
número
de
resoluções por ano, por períodosdeterminados e por grupos de resoluções agregadas a partir
de
temas,conforme
oAnexo
1. Esta agregaçãoem
grupos possibilitauma
visualização das decisõesemanadas da
Direxno
período estudado, oracom
ênfaseem
um
grupo
oraem
outro eque dizem
respeito aoque
fez primordialmente a Codesc.Atas
de
assembléias e reuniõesdos
órgãosda
sociedade: Analisou-se todas as atas das Assembléias Gerais Ordináriasou
Extraordinárias e das reuniõesdo
Conselho
Consultivo - Consul (extintoem
1983),do
Conselho de Administração -Conad
edo Comitê
de Planejamento/Executivo (este último existente apenasem
1982). Deste material coletou-se, principalmente, o dia da realização, os assuntos tratados, as deliberações tomadas, discursos e as pessoas que participaram
ou
que
aomenos
assinaram estes documentos.A
análise destas informaçõesforam
feitas,como
especificidades estão por conta da forma e conteúdo
com
que foram tratados os diversos temas (que neste caso, nãoforam
agregadosem
grupos), os discursos relatados, as decisões e, objetiva e subjetivamente as não decisões,bem como
afreqüência e a participação dos sujeitos envolvidos. Nestas análises, fez-se
também
uma
coleta paramontagem
da composição
histórica dos conselhos e da Direx(Anexo
2).
Nesta
coleta específica, procurou-se investigar a trajetória das pessoas quepassaram
ou
estãoem
cargos de“confiança”
quais suas origens, formaçãoou
atividade e seus vínculos orgânicoscom
partidosou
outras instituições.Relatórios
de
atividades: Estes relatórios existem para os anosde 1976
a1981 e 1985. Analisa-se os temas tratados e o conteúdo dos
mesmos,
tanto nasatividades realizadas
como
nos planos de trabalho. Estes relatóriosforam de
suma
importância para a
composição
históricada
carteira de ações edo
número
defuncionários.
Balanços
anuais: Coletou-se todos os balançosdo
período estudado eagrupou-se as principais informações anualmente
em
duas partes: Balanço Patrimonial(Ativo e Passivo);
Balanço
de Resultados.Dos
quadrosformados
(Anexo
3)selecionou-se quatro indicadores:
1) Rentabilidade
do
Patrimônio Líquido;2) Rentabilidade
do
Ativo; 3)Retomo
dos Investimentos;4) Endividamento.
Estes indicadores
(bem
como
outros dos balanços)dão
uma
visão anual dasituação
econômica da
entidade e acomparação
anual possibilitauma
visualização históricaem
todo o periodo. Trata-se, adverte-se desde já, deum
grupo
deinformações
que
dáum
entendimento panorâmico,com
limitações deordem
técnica(pela possibilidade de manipulação contábil dos dados
ou
pelas inúmerasmodificações
das formas e critérios para a elaboração das contas das empresas
de
SociedadeAnônima)
e ainda, limitações quanto ao alcance para todas as empresas cujas ações aCodesc
controlaem
parte. Juntou-se a estes indicadores odesempenho de
outros9
Carteira
de
açõesda
Codesc:Desde
a sua criação aCodesc
mantém
ocontrole de ações de propriedade
do
Estado de Santa Catarina.Montou-se
quadros(Anexo
4)que
mostra este controle por ano, destacando aempresa
e o percentualdo
controle.A
partir disto, pôde-se visualizar asmutações
que ocorreram durante o periodo e a utilização pelo Estado catarinensedo
patrimônio público administrado viaCodesc. Esta análise é muito significativa para este estudo,
dado
que a administração destas ações foi a única grande funçãoque
restou àempresa
desde a sua criação.Número
de
funcionários:A
partir de dados coletados e sistematizados juntoao
Departamento
de Pessoal daempresa
e dos relatórios de atividade,montou-se
um
quadro
(Anexo
5)que
trazo
“estoque” anual de funcionários da empresa. Neste quadro, tentou-se estabelecernão
só onúmero
anual de funcionários, mas,quando
possível, a situaçãoem
que
seencontravam
perante a Codesc.Estatutos:
O
Estatutoda Codesc
define, entre outras coisas, suas funções,competências, objetivos, fiincionamento.
Enfim,
explicita formalmenteuma
normatização para a entidade.
Toda
transformação neste âmbito normativo reflete-senuma
reformulação estatutária. Juntou-se então, todos os estatutosda companhia
desde o periodo
da
criação e fez-seuma
análiseda
evolução dosmesmos.
Esta análise éuma
comparação
entreo
estatuto vigente e o seu antecessor, feita a partir daprimeira
modificação
estatutária e tentando abarcar toda e qualquermodificação que
pudesse ter relevância para
o
estudo.No
Anexo
7 consta o primeiro e o mais recente(1997) dos estatutos.
Depoimentos:
Foram
tomados
seis depoimentos internos gravadoscom
funcionários
que
estãona
Codesc
desde os primeiros anos de atividade. Estesdepoimentos
objetivaramcomo
objetivocomplementar
as análisesque
jáhaviam
sidofeitas sobre a Codesc, e ainda detectar
0 que
não aparece formalmente nos dadoscoletados. Secundariamente tem-se
uma
aproximaçãodo
que seria a percepção destaspessoas sobre a história
da
instituição. Foi~lhes garantido anonimato tentandocom
istoevitar problemas políticos para os
mesmos
euma
razoável fidedignidade nasinformações relatadas.
Os
depoimentosforam
feitos deforma
aberta, semi-estruturada.Tentou-se
tomar depoimento de
alguns dos mais importantes dirigentes da Codesc,mas
estas incursões esbarraram seja na negação por parte de alguns, seja pelas limitaçõesde
tempo
e recursos para tal realização.No
entanto, acha-seque
a coleta dedados
e as informações obtidas nos depoimentos internos foram suficientes para cobrir as grandes lacunasque
surgiram na análise.Fontes
externas:São
informações diversas,como
mensagens do
govemo
àAssembléia Legislativa; relatórios e publicações das entidades
do
Sistema FinanceiroPúblico estadual; jornais; publicações de outras instituições; livros e trabalhos sobre
Santa Catarina,
além de
depoimentosnão
gravados de alguns atores envolvidoscom
asempresas
do
Sistema Financeiro Público estadual.A
análiseda Codesc
foi feita a partirdo
cruzamento analítico das diversasinformações, através
da
triangulação dasmesmas,
tentandorecompor
historicamentefatos e processos
que
dêem
contade
uma
explicação para a trajetóriada
Codesc
perante o Sistema Financeiro Público estadual,
bem como
do
seu próprio cicloinstitucional. Para guiar esta análise, levantou-se três grandes hipóteses sobre as
origens
da-Codesc que parecem melhor
explicar, tanto a sua apariçãocomo
o
seu cicloinstitucional.
A
primeira hipótese éde que
aCodesc
e' criadano
bojo deum
processodesenvolvimentista brasileiro,
que
tem
na expansão da atividade empresarial viaempresa
estatalum
espaço privilegiado.A
segunda
éde que
aCodesc
surgeno
bojodo
ciclo desenvolvimentistacomo
um
mecanismo de
controle institucional das empresasdo
Sistema Financeiro Público estadual,que
estariam atuandode forma
descoordenada.A
terceira hipótese éde que
a Codesc, enquantocompanhia
dedesenvolvimento e holding, seria
um
instrumento para catapultarum
dos maioresexpoentes
da
oligarquiaKonder-Bornhausen,
JorgeKonder
Bomhausen,
seu primeiropresidente executivo.
_ Esta dissertação
não
tem
pretensões teóricas,no
sentidode
querer aplicarou
ver a aplicabilidade de determinado arcabouçoou
matriz teórica, por istomesmo,
não
há
um
capítulo teórico inicial,mas
simum
histórico-teórico. Assim, ocruzamento
analítico das informações e a leitura dos fatos e processos foi feitacom
auxílio dedetemiinadas categorias
como
Estado, poder, burocracia e patrimonialismo, e queaparecem
com
o
desenvolvimentoda
dissertação, principalmenteno
primeiro capítulo.Mas
não
setem
a pretensão de ver corroboradaou não
determinada teoria.Il
Duas
outras categorias importantes nesta dissertação são rapidamentecaracterizadas e operacionalizadas, espaço público e ciclo institucional.
Espaço
público éuma
categoriaque
estarásempre
em
delimitação, poisque
se refere principalmenteaos lirnites entre o público e o privado, e aqui estará representada pelo aparelho estatal
do Poder
Executivo,ou
seja, éuma
partedo
espaço público social. Ciclo institucional é algopouco
analisadoem
trabalhos acadêmicos, e nesta dissertação é entendidocomo
as diversas fases porque
passauma
instituição pública,no
caso a Codesc.Neste
trabalho tem-seuma
preocupação especialcom
o registro histórico dainstituição Codesc. Adverte-se
que
são abundantes as siglas e abreviaturas e, paradeixar
o
texto mais limpo e facilitar a leitura, os quadros e tabelas feitos pelo autor estao todosem
anexo.Organização do
trabalho
O
presente trabalho está organizado deforma
cronológica, abarcando osperíodos
de
govemo
e destes, os principaismomentos
daCodesc
avaliadosna
análisedas informações coletadas. Assim,
além
de abrangeruma
análiseda empresa
em
relação
ao
Sistema Financeiro Público estadual, estaforma
de apresentação procuroudemarcar
pen'odos distintosque
caracterizamo
seu ciclo institucional.São
cinco capítulosalém
desta introdução e da conclusão.No
primeiro capítulo faz-seuma
contextualização geral da Codesc, abarcandoo
processo desenvolvimentista intemacional e nacional, principalmenteno que
dizrespeito
ao
padrãoda
intervenção estatal, aos dilemas das empresas estatais e àsreformas institucionais implementadas pelo
govemo
militarno
Brasil instauradocom
o
golpe de 1964.
No
capítulo dois, faz-seuma
abordagem
sobre aforma
oligárquica dedominação
em
Santa Catarina, resgatando suas lutas históricas e suas implicações paraas origens
do
Sistema Financeiro Público e para a Codesc. Neste capítulo tem-se aindauma
brevíssima experiência de holdingdo
setor financeiro público catarinenseem
1970.No
capítulo três é feitauma
análise daCodesc no
govemo
deKonder
Reis, período áureo da empresa,com
amplitude de poder e raio de ação para alémdo
Sistema Financeiro Público estadual,
com
status de secretaria de Estado,com
asfunções desenvolvimentistas, de holding e de administradora de ações.
Uma
característica marcante é a centralização de poderes na Diretoria Executiva, mais
precisamente
no
seu presidente executivo JorgeKonder
Bornhausen.No
capítulo quatro aempresa
sofreum
processo de esvaziamento institucional eem
1982
tem
uma
função estratégica nas eleições estaduais.Com
a criaçãodo
Gaplan
perde as funçõesde
desenvolvimento e,no
decorrerdo
período, sofreum
enfraquecimento
do
controle institucionalque
exerciano
Sistema Financeiro Público estadual.O
períodotambém
émarcado
pela utilizaçãodo
espaço público representado naempresa
parafins
políticos e de políticas governamentais pontuais, e pelasmudanças de
rumo
que
marcam
seu ciclo institucional.O
quinto e último capítulo, aborda o períodoque
vaida
quase extinçãoem
1983, passando pelaretomada
das atividadescom
os serviços de informáticado
Sistema Financeiro Público estadual retiradas
da
Prodase/Ciasc, e aindacom
uma
característica clara
de
utilizaçãodo
seu espaço públiconuma
lógica patrimonial pelogovemo
Amin. Ainda
neste capítulo,com
a entradado
governoPedro
Ivohá
um
outro ciclo de esvaziamentoda
empresa. Neste subperíodo ela perde formalmente a funçãode
holding e os serviçosde
informática, repassados aoBesc
aquem,
paradoxalmente, passa a ser vinculada. Continuacom
o controle das ações e recebe o projeto deadministrar as loterias estaduais,
um
projetoaprovado
mas sem
efetiva realização até CYIÍ 30.O
restantedo
capítulo, tratado
períodoque
vaido
govemo
Vilson Kleinübing,com
o“boom”
da
“raspadinha catarinense” (loteria instantânea estadual) atéo
govemo
atual, de Paulo Afonso,
onde
recebe novas funções. Este terceiro período écaracterizado pela utilização
da
empresacomo
avalista de grandes projetos, pela descapitalização viavenda
das ações de seu controle e pelas funções de agilizar processos de privatização.Por
último têm-se a conclusão,onde
se fazuma
síntese das principais constataçõesdo
presente trabalho.CAPÍTULO
1Contextualização
geral
da
criação
da
Codesc
1.1.
Intervenção
estatal:perspectivas
internacionais
eprincipais
dilemas
A
intervenção estatalna
sociedade capitalista éuma
realidade desde seus primórdios.Em
geral, isto sedávcomo
garantia de continuidadedo
processo deacumulação de
capital.As
formas e intensidades da ação estatal estão ligadas àdinâmica das relações de classe
no
espaço e tempo, que manifestam-seem
crises eretomadas
do
desenvolvimento capitalista.O
Estado, nestas diferentes situações das relaçõesde
classes e suas manifestações, e enquanto fi'uto destasmesmas
relações,assume
formas diferenciadas de interação na sociedade.Um
grande divisorde
águasda
intervençãodo
Estado na sociedade capitalistaé
o ano
de 1929. Nesteano
ocorreu a quebra da Bolsa de Valores deNova
York
nosEstados Unidos, desencadeando
uma
crisecom
repercussõesem
todo omundo.
A
partir de então,
toma-se
mais intensivo e sistemático o processo de intervençãodo
Estado regulando direta e indiretamente a
acumulação
de capital, período conhecidocomo
da
implementação de políticas econômicas de corte keynesiano.A
empresa
pública
toma-se
então,um
importante instrumento deste processo.Em
Sherwood
(1964) encontram-se explicações para a criação de empresas públicas,exemplos de
manifestações deste tipo' deempresa
em
paísescom
desenvolvimento
econômico
diferenciado e alguns problemas e dilemasque
enfrentam.Quer-se crer
que
o citado estudo servecomo
um
importante introdutordo
debateacerca
do
objetoque
aqui se analisa,não
só pela variedade de exemplo,mas
também
pela oportunidade de sua publicaçãono
Brasil,ou
seja, outubro de 1964,em
plenavigência
do governo
autoritárioque
se iniciacom
o Golpe
Militarde
31 demarçol
1
SHERWOOD,
FrankP. Organizador. Empresas ~Públicas: textos selecionados. Rio de Janeiro.
MISSÃO NORTE-AMERICANA DE COOPERAÇAO
ECQNOIVIICAE
TECNICA
NO
BRASIL
-'Na
introdução, o citado autor ressalta o carater geral que orienta a criação de empresas estatais:A
empresa pública foi criada nestes 12/rimos sessenta anos para libertar dos controles normais as atividades estatais de natureza econômica.É
este conceito generalizado. Nestas condições. a idéia-mestra no estudo de empresas públicas são dotadas de maior autonomia. afim
de quepossam
tomar, mais rápida eracionalmente. decisões de tipo comercial??
O
raciocínio acimapode
ser traduzido: a administração pública possuinormas
rígidas detomada
de decisao, os “negócios comerciais” precisam de decisoes rápidas, e as empresas públicas são os agentes destatomada
de decisãodo
Estadona
“área comercial”3.Na
pratica, e'uma
forma
da intervenção estatal se livrar das amarrasdo
controle burocrático tradicional.
Os
governos
criam suas empresas por vários motivos aparentes,em
necessidadesde
guerra (centralização), emergênciasem
depressões,com
objetivos delongo prazo relativos ao
mercado
mundial e defesa nacional, ante otemor
aomonopólio
privado, considerações de lucro (baixo lucro-
estatiza para salvar; altolucro
-
estatiza por causa dos consumidores)ou
ainda empreendimentos necessários socialmente,mas
vultososque o
capital privadonão
querou não pode
assumir4.De
qualquer fomia,
o
objetivo indicadonão
é suplantar a empresa privada,mas
teruma
função suplementar a estas.
A V
Original: Reading on Public Enterprises. Tradução: Maria de Lourdes Lima Modiano. Trata-se de
uma
coletânea de artigos, onde o mais antigo é de 1945 e trazemum
exemplo do que omundo
(principalmente o desenvolvido) indica e analisa sobre a intervenção do Estado na sociedade.
Chama
atenção, além da oportunidade da publicação, o fato de que foi editado
em
conjuntocom
Órgãoamericano, cujo envolvimento no Golpe de 64 foi muito forte, ver DREIFUSS, René Armand. 196-I:
A
conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis, Vozes, 1987.
Além
disto, nodesenrolar dos fatos vieram Reformas que contribuiram para a proliferação no Brasil da empresa
pública.
2
sHERwooD,
ibiaem, p. 3.
3 “Ao
contrário das empresas públicas autônomas, os órgão tradicionais de governo carecem de
continuidade,
em
virtude das mudanças políticas e, ale'm disso, a unidade de administração dessesórgãos é restringida pelo controle financeiro e de pessoal a que são sujeitos como, por exemplo, por
parte de tribunais de contas ou de órgãos inciunbidos da aplicação de nomtas quanto ao
funcionalismo”.
DIMOCK,
Marshall Edward. “Sociedade Estatais por Ações”. Harper's Magazine.Nova York, maio/ 1945, pp. 570-3. In: SI-IERWOOD, op. cit., pp. 6-ll, pp. 7-8.
A
autonomia que osgovemantes procuram na empresa pública é neste estudo caracterizada e definida como autonomia institucional, relacionada ao controle institucional do Estado e ao controle social exercido pela
sociedade civil.
13
Assinala-se desde já
uma
situação conflitante na vida deste ente estatal,ou
seja,tem que
terum
comportamento
ligado ao interesse públicoou
geral, por ser estatal,mas
também
um
comportamento
comercialou
empresarial.A
integração entre interesse público e o privado abrecaminho
para duas questões chaves: o nível daautonomia
institucionalque
devem
ter estes agentes estataiss, e, conseqüentemente,o
nível de controle institucional e social a
que
devem
estar sujeitosó.Em
diversas partesdo
mundo
duranteo
século atual, aempresa
públicaassumiu a
forma
de Sociedade Estatal por Ações7,conforme
expõe_Dimock
(1945),que
a consideracomo
sucedâneada
administração burocrática:Desde
1900, quase todas as iniciativasem
matéria de propriedade estatalpor
toda partedo
mundo,tomaram a forma
de sociedadepor
ações.Na
Europa, foi a sociedade de economia mista ea
sociedadeanônima
estatal.Na
Grã~Bretanha, omonopólio de serviços públicos; nos Estados Unidos e no Canadá; tal
como na
Austrália e
na
Nova
Zelândia, a sociedade anônima estatal:na
Rússia Soviética, omonopólio estatal;
na
China a sociedade anônima estatal.8Nos
EstadosUnidos
estas empresas públicas são conhecidascomo
autarquias, eo
seuemprego
é limitado (àépoca
- 1964) aprogramas
com
as seguintes características:(..) a) que tenham natureza predominantemente comercial; b) que
produzam
rendae sejam oupossam
ser substancialmente auto-suficientes; c) que envolvam grandenúmero
de transações comerciaiscom
o público; d) que exijam maior flexibilidadedo
que costuma permitir o sistemacomum
de dotações orçamentárias.95
SHERWOOD,
op. cit., idem, ressalta que
uma
maior autonomia éuma
solução e aomesmo
tempoum
problema:quem
deve ter esta autonomia? como a empresa vinculará os seus interesses particularescom
os interesses sociais mais amplos? a empresa pública deve comportar-se diferentemente da privada?como
a sociedade saberá que suas empresas públicas são razoavelmente eficientes?6 “Nas
democracias de govemo parlamentar, a criação da empresa pública estatal tem
uma
finalidade.A
finalidade óbvia é o exercício de celta dose de controle democrático sobre a empresa. Esse controlevisa a garantir que os procedimentos e decisões atendam ao interesse público. Vale para que as
decisões sejam acertadas e criteriosas, atendendo ao
bem
geral.Sem
esse controle, a sociedadeanônima estatal perde sua razão de ser”.
GALBRAITH,
John Kenneth. “Administração Pública e Empresa Pública. Indian Journal of Public Administration”. out-dez - 1961, pp. .440-6. In:SHERWOOD,
ibidem, pp. 12-18, p. 15.7
Government Corporations, que significa sociedades por ações nas quais o Governo é o único
acionista,
DIMOCK,
op. cit., conforme Nota do Tradutor. _8
1b1a¢m,p. 7.
9
SEMINÁRIO
DE
ILANCUN. Tradução: Hugo Wahrlich: “Os dilemas básicos na Organização de Empresas Públicas”. In:
SHERWOOD,
op. cit., pp. 54-65, p. 65.Em
Ernmerch
(1963) encontram-se preocupaçõescom
a proliferação das autarquias:A
experiência de muitos países tem evidenciado que e necessário cuidadoem
matéria de poderes e proliferação de autarquias. Se não houver a justa medida na criação dessas entidades, o quepode
acontecer e' que as responsabilidades governamentaisse dispersem entre numerosas unidades que irão então competir
umas
com
as outras pelos limitados recursoshumanos
e materiais de que dispõe o país. Outros perigos são descoordenação das operações, ou, pior ainda,uma
competição destrutiva, ou,por
outro lado, tornarem-se tão independentes que por vezespossam
agirem
desacordo
com
a
política do governoem
questõesda
maior relevância. 10Principalmente nos países mais desenvolvidos o controle social e'
uma
reocu a
ão
euma
ré-condi ão ara evitar “desvio de fun ões” daem
resa estatal.P P Ç
Isto é algo
que
parece efetivamente diferenciaro
processo de criação edesenvolvimento
da empresa
estatal nestes países eem
paísesem
desenvolvimento,como
no
casodo
Brasil.Como
instrumento-de
políticaeconômica
de rápidamobilização
em
situações emergenciais, para evitar asnomias
rígidasda
administração burocrática tradicional, e enquanto estratégia para suprir necessidadesonde o
capital~ ~
privado
não
pode ou nao
quer atuar sao os principais atributos das empresas públicas, e principalmente nos paísesmenos
desenvolvidos,onde
ascompanhias
dedesenvolvimento
assumiram
papel relevante.Nos
países economicamente mais desenvolvidos,a
iniciativa privada desempenhaimportante papel
na
descoberta dos recursos ena
investigação das oportunidades econômicas. Isso se verificou particularmenteno
setor dos recursos minerais.Nos
paísesmenos
desenvolvidos”, entretanto,a
iniciativa privada tem papelbem
maislimitado.
É
na
pesquisa dos recursos existentes que os órgãos governamentais e asempresas estatais têm papel mais importante.
Na
maioria dos países (nãoem
todos, 'absolutamente) o levantamento dos recursos minerais esta' a cargo de
um
órgão da administração.A
pesquisa de oportunidades de desenvolvimento ea
divulgação dessas oportunidades geralmente é atribuição deuma
'companhia de1°
EMMERCH,
Herbert. “Instituições Autônomas e Empresas Estatais”. Rio de Janeiro, Instituto
Brasileiro de Administração Pública - Manual de Administração Pública, 1963, pp. 121-28.
In:
SHERWOOD,
ibidem, pp. 45-53, p. 48.“ “Economia subdesenvolvida é, essencialmente,
uma
economia sem suficiente desenvolvimento autônomo e carente de certos fatores essenciais ou estratégicos de produção.De
regra, o principal“patrimonial” desse tipo de econornia é a grande massa de mão-de-obra mal aproveitada, muitas vezes
aliada à existência de terra ou outros fatores de produção, mal aproveitados”. Conceito encontrado
em
ROYAL
INSTITUTE
OF
PUBLIC
ADMINISTRATION
-ADMINISTRATIVE
ORGANIZATIONAL
FOR
ECONOMIC DEVELOPMENT.
“Papel das Empresas Públicas, Empresas Privadas e17
desenvolvimento '_
A
Companhia
Jamaicana de DesenvolvimentoIndustrial esta no
12
momento empenhada
nesta tarefa.Está se falando agora de
um
aspecto muito significativo da intervenção estatal após a crisede
1929, e principalmente após a segunda guerra mundial,ou
seja, a buscade
oportunidades e ofomento
ao “desenvolvimento” e ao “progresso”,em
outraspalavras, à
acumulação de
capital.Um
dos principais instrumentos da empresa estatal para _ estimular 0desenvolvimento econômico são as 'companhias de desenvolvimento '. Estas,
geralmente, são de propriedade exclusivamente estatal e controladas pelo governo,
mas
em
alguns países há ingerência do capital privado, de pessoas físicas oujurídicas.
Quando
tal acontece, já não se trata de empresa estatal no sentido estritoda
palavra,mas
deuma
espécie de empresa de economia mista.As
companhias de desenvolvimentopodem
desempenharuma
ou mais funções.Quando
canalizamfiindos
para
os setores econômicos, ondepossam
ser mais produtivos, o objetivo é suplementar e não suplantara
iniciativa privada.Às
vezes, tal objetivo é conseguido mediantea
criação de empresas subsidiárias comerciais, industriais, de crédito oude serviços de utilidade pública,
com
ousem a
participação do capital privado; outras vezes, mediante empréstimos concedidos a particulares oua
cooperativas,para
determinados empreendimentos industriais e comerciais. Outra modalidade defomentar o desenvolvimento é o investimento
em
empresas particulares já existentes.Essas funções são exercidas
por
companhia de desenvolvimentoem
países das maisvariadas condições, tais
como
o Canadá,a
Nigéria, 0 Paquistão ea
Uganda.Na
Jamaica,a
Companhia
de Desenvolvimento Industrialtambém
tem, entre outras,a
atribulição precípua de examinar possíveis projetos de desenvolvimento
em
todaa
linha. '
~
Segundo
o
mesmo
estudo,algumas
destasfimçoes
sãotambém
exercidas porbancos de
propriedade governamental. Neste particular, devido ao riscoque
os paisesmenos
desenvolvidos apresentam, os bancos estatais funcionamcomo
um
indicativo às possibilidadesno
setor. “Este éum
exemplo da
necessidade por parteda empresa
privada,
de
orientaçãodo
setor estatal e os bancosgovemamentais
especializadospodem
ser usados para essefim”.“
Outra preocupação