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Determinantes e/ou obstáculos à adopção e difusão do transístor de papel na indústria portuguesa

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Academic year: 2021

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Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto

Mestrado em Multimédia

Determinantes e/ou obstáculos à adopção e difusão

do transístor de papel na indústria Portuguesa

Joana Raquel Sousa

Julho 2011

Orientadora: Aurora A.C. Teixeira

Co-orientadora: Sandra Silva

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Agradecimentos

À Prof. Doutora Aurora Teixeira e à Prof. Doutora Sandra Silva da Faculdade de Economia da Universidade do Porto que foram respectivamente, orientadora e co-orientadora desta dissertação, dando-me todo o apoio e ajuda na realização da dissertação. À Prof. Doutora Elvira Fortunato pela disponibilidade em responder às minhas questões. Às empresas que colaboraram na resposta ao inquérito enviado sobre o transístor de papel. À minha família e amigos que me apoiaram no decorrer deste mestrado.

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Resumo

O transístor é um componente electrónico que revolucionou o mundo da electrónica e que permitiu o desenvolvimento e melhoramento de diversos sistemas e produtos nesta área ao longo dos anos.

O transístor de papel surgiu da investigação realizada pela equipa da investigadora Elvira Fortunato, sendo um transístor com uma dimensão mínima (nano), cuja base de suporte é o papel, um material barato e de fácil acesso.

Nesta dissertação pretendeu-se, numa primeira fase, apurar qual o modelo de inovação que se encontra associado ao transístor de papel e, numa segunda fase, inquirir uma amostra de empresas portuguesas de sectores propensos à adopção do transístor de papel para compreender o nível de adopção desta tecnologia e aferir os determinantes que podem estar a influenciar a adopção ou não do transístor de papel.

A análise da literatura relevante e da entrevista com a investigadora-chave, Elvira Fortunato, permitiu concluir que o modelo de inovação mais adequado para explicar a emergência do transístor de papel é o modelo interactivo. De facto, desde o início do projecto, existiu uma interacção significativa entre a investigação e as empresas, que se manteve ao longo de todo o processo de desenvolvimento.

Na segunda fase do nosso trabalho, inquirimos um conjunto de empresas, seleccionadas com base na relevância que a tecnologia em estudo pode ter nas actividades aí desenvolvidas, sendo que só uma empresa das cinco que nos responderam afirma conhecer o transístor de papel. A partir destes inquéritos apurámos ainda que são três os principais determinantes apontados para a não adopção do transístor de papel pelas empresas: o baixo retorno/lucro esperado, a reduzida densidade de redes entre a empresa e o sistema científico e tecnológico e a falta de informação sobre a tecnologia.

Assim, concluímos que existe uma necessidade significativa de aumento da interacção universidade-empresas para que se promova a adequada e eficiente difusão das necessidades destes intervenientes, de forma a que as inovações desenvolvidas a nível académica sejam aplicadas tendo por base a aplicação ao contexto empresarial.

Palavras-chave: Transístor de papel, Modelo interactivo, Adopção de inovação,

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Abstract

The transistor is an electronic component that has revolutionized the world of electronics, enabling the development and improvement of various systems and products in this area, over the years.

The paper transistor emerged from research conducted by an investigating team coordinated by Elvira Fortunato, and corresponds to one transistor with a minimum size (nano), whose support base is the paper, a cheap and easily accessed material.

This dissertation intended, initially, to determine the model of innovation that is linked to the paper transistor and, secondly, by asking a sample of Portuguese firms in industries prone to adopt the transistor, to understand the level of adoption of this technology and assess the determinants that may be influencing the potential adoption of this technology. The review of relevant literature and the interview with Elvira Fortunato, the key researcher, support the conclusion that the innovation model in question is the interactive model. In fact, since the start of the project, there was a significant interaction between research institutions and industry, which continued throughout the development process. In the second phase of our work, a group of firms is inquired, which selection was based on the relevance of the technology under study on the activities carried out. Only a firm of the five respondents says knowing the paper transistor. From the gathered answers was further found that there are three main determinants pointed to the failure to adopt this transistor by the firms: the return to expected profit, the existence of networks between firms and universities, and the information.

Thus, we conclude that there is a significant need for increased interaction between universities and firms so that they promote the spread of the needs of the stakeholders, with the development of innovations in universities and research institutes based on the adaptation to the business context.

Keywords: Paper transistor; Interactive model; Innovation adoption; Information;

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Índice de conteúdos

Agradecimentos ... i Resumo ... ii Abstract ... iii Índice de conteúdos ... iv Índice de Tabelas ... vi

Índice de Figuras ... vii

Introdução ... 1

Capítulo 1. Contextualização dos transístores de papel no âmbito dos modelos de inovação ... 3

1.1. Considerações iniciais ... 3

1.2. Modelos de inovação ... 3

1.2.1. Os modelos lineares de inovação: science-push vs demand-pull ... 3

1.2.2. Modelo Interactivo ... 7

1.3. Determinantes da adopção da inovação por parte das empresas: uma revisão da literatura ... 9

Capítulo 2. Modelos de inovação e determinantes da adopção de uma inovação. Considerações conceptuais e metodológicas ... 18

2.1. Considerações iniciais ... 18

2.2. Modelo de inovação subjacente ao transístor de papel ... 18

2.3. Análise dos determinantes da adopção do transístor em papel ... 19

Capítulo 3. Modelos de inovação e determinantes da adopção de uma inovação. Evidência empírica ... 23

3.1. Considerações iniciais ... 23

3.2. Modelo de inovação no caso dos transístores de papel ... 23

3.3. Determinantes da adopção do transístor de papel ... 28

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Referências ... 38

Websites ... 41

Anexos ... 42

Anexo 1 – Entrevista à investigadora Elvira Fortunato ... 42

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Índice de Tabelas

Tabela 1: Determinantes da adopção da inovação – características da tecnologia ... 10 

Tabela 2: Determinantes da adopção da inovação – características do adoptante ... 12 

Tabela 3: Os determinantes da adopção da inovação – o retorno esperado ... 14 

Tabela 4: Determinantes da adopção da inovação – as condições externas ... 16 

Tabela 5: Empresas escolhidas para o caso de estudo (das incluídas nas 1000 Maiores Empresas, Público) ... 21 

Tabela 6: Características das empresas respondentes... 30 

Tabela 7: Resultados do inquérito quanto aos determinantes relacionados com a não adopção da tecnologia ... 32 

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Índice de Figuras

Figura 1: Modelo linear: science push ... 5 

Figura 2: Modelo linear demand pull ... 6 

Figura 3: Modelo Interactivo ... 8 

Figura 4: Esquema da estrutura FET utilizando a celulose como porta para o dieléctrico . 24 

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Introdução

Os transístores fazem parte do dia-a-dia dos cidadãos já há vários anos, desde a sua invenção nos anos 40 do século vinte, sendo pensados para a substituição das enormes e pouco fiáveis válvulas (Ferreira, 1998). Os transístores estão presentes em diversos objectos que nos rodeiam, como por exemplo televisão, rádios, computadores, máquinas industriais e outros sistemas electrónicos.

O transístor é classificado como um semicondutor e tanto pode isolar como conduzir uma corrente eléctrica. A esta invenção foi atribuído em 1956 o prémio Nobel da Física (William Shockley, John Bardeen e Walter Brattain), já que o transístor teve um papel fundamental no desenvolvimento e revolução tecnológica. Com esta invenção foi possível a criação de circuitos mais complexos e mais rápidos, permitindo o desenvolvimento de novos produtos, assim como a melhoria dos já existentes (Ferreira, 1998).

Ao longo dos anos os transístores foram ficando cada vez mais perfeitos: mais pequenos, com maior capacidade, menos ruidosos e mais rápidos (Stach, 2009). Perspectivando a melhoria do semicondutor, uma equipa de investigadores portugueses do Centro de Investigação de Materiais da Universidade Nova de Lisboa, coordenada por Elvira Fortunato, dedicou-se à nanotecnologia, particularmente aos materiais e componentes do transístor. Graças à investigação desenvolvida foi possível obter-se um transístor, a funcionar na sua plenitude, tendo como base uma simples folha de papel com uma dimensão mínima (Fortunato et al., 2008).

Assim, numa primeira análise, o transístor de papel surgiu a partir da investigação de transístores descartáveis para o uso em sensores biológicos, telas de papel e etiquetas inteligentes. Adicionalmente, em virtude do papel ser um material barato e amplamente disponível, a integração do transístor numa base de papel revelou-se importante já que é um material bastante corrente no nosso dia-a-dia. Em concreto, o transístor em papel tem, em potencial, inúmeras aplicações e desenvolvimentos, desde a indústria electrónica descartável até a novos produtos como a memória electrónica em papel e o transístor electrocrómico.

A emergência de inovações radicais (e também incrementais) tem sido um assunto altamente investigado e debatido nas áreas associadas à economia e gestão da inovação (Hall, 1994; Balconi et al., 2010). Em geral, são poucos os exemplos concretos e detalhados sobre esta questão, nomeadamente sobre o papel da ciência e da

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indústria/mercado na emergência e desenvolvimento das invenções/inovações. Pelas suas características – forte ligação à ciência e indústria - o transístor de papel constituí um caso de estudo interessante no sentido de averiguar qual o modelo de inovação mais adequado a explicar a sua evolução - modelo linear, tipo science push (Bush, 1945 in Balconi e al., 2010) versus demand pull (Schmookler, 1966 in Hall,1994), ou modelo interactivo (Kline e Rosenberg, 1986). Adicionalmente, o carácter aplicado da tecnologia em causa e o respectivo potencial económico está ainda incipientemente estudado pela literatura.

Assim, na presente dissertação pretende-se avaliar concretamente qual o modelo de inovação associado à emergência e difusão do transístor em papel e averiguar da existência de (potenciais) obstáculos à adopção/difusão da mesma por parte da indústria portuguesa. Neste contexto, a dissertação formula duas questões principais:

1. Qual o modelo de inovação (modelo linear, tipo science push versus demand pull, ou modelo interactivo) mais adequado para explicar a emergência e desenvolvimento do transístor de papel?

2. Quais os determinantes e/ou obstáculos à adopção e difusão do transístor de papel no seio da indústria portuguesa?

No sentido de responder às questões atrás enunciadas, adoptamos a metodologia de casos de estudo envolvendo os cientistas-chave no processo de emergência da tecnologia em estudo e as empresas utilizadoras ou potencialmente utilizadoras do transístor de papel. Esta dissertação estrutura-se da seguinte forma. No Capítulo 1, efectuamos uma revisão de literatura onde se detalham os diversos modelos de inovação, assim como, os determinantes da adopção da inovação por parte das empresas, procurando contextualizar o processo de emergência e desenvolvimento do transístor de papel. Posteriormente, no Capítulo 2, especificamos a metodologia a utilizar, nomeadamente a entrevista à investigadora Elvira Fortunato e a selecção das empresas casos de estudo, e o guião de inquirição. A discussão e análise dos casos são efectuadas no Capítulo 3. Por fim, em Conclusões, sintetizamos os principais resultados e limitações da investigação.

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Capítulo 1. Contextualização dos transístores de papel no âmbito dos

modelos de inovação

1.1. Considerações iniciais

Sendo o tema desta dissertação os transístores de papel e os determinantes da sua influência no sector empresarial português, torna-se necessário compreender qual o modelo de inovação que permitiu o desenvolvimento destes: Terá sido uma necessidade do mercado que despoletou a invenção dos transístores de papel (modelo demand pull)? Ou foi a investigação científica que o elaborou e consequentemente introduziu este produto no mercado (modelo science push)?

Neste contexto, impõe-se fazer uma descrição sobre os modelos teóricos de inovação, identificando a evolução que os próprios conceitos relevantes foram manifestando ao longo do tempo. A nossa sistematização vai fundamentar-se no modelo linear com as suas duas variantes, science-push e demand-pull, e no modelo interactivo (Secção 1.2). Após esta sistematização aferimos a adequação relativa de cada modelo ao caso dos transístores de papel.

Na Secção 1.3 procedemos a uma revisão de literatura dos determinantes da adopção da inovação por parte das empresas. Em concreto, analisamos cada um dos determinantes da adopção de uma inovação por parte de uma empresa.

1.2. Modelos de inovação

1.2.1. Os modelos lineares de inovação: science-push vs demand-pull

O modelo linear apresenta-se em duas versões típicas - science-push e demand-pull – sendo ambas tidas como relevantes no processo de inovação e de desenvolvimento tecnológico (Mowery e Rosenberg, 1979 in Ende e Dolfsma,2005; Dosi, 1982 in Balconi et al., 2010). No caso do modelo science push a ênfase centra-se no actor que inova através da investigação básica que realiza, sendo fundamental a investigação científica. Em contraste, no modelo demand-pull é o mercado que influencia a inovação não sendo o conhecimento científico a ditar essa mesma inovação (Schmookler, 1966 in Hall,1994; Mowery e Rosenberg, 1979 in Ende e Dolfsma,2005; Coombs et al., 1987 in Ende e Dolfsma,2005; Rothwell, 1992 in Ende e Dolfsma,2005).

Godin (2008) associa a primeira versão do modelo linear, i.e., o modelo de science push, a Maurice Holland, que, em 1920, enquanto director da divisão de investigação dos Estados

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Unidos, sistematizou uma visão deste modelo já então em prática nas indústrias da época (Balconi et al., 2010). Porém, será só no ano de 1945, com a publicação do relatório “Science: The Endless Frontier” de Bush, que o modelo assume toda a sua força como um modelo capaz de explicar os passos de uma inovação (Balconi et al., 2010). Na sua obra emblemática, Bush (1945) afirma que o progresso científico é fundamental para a inovação tecnológica e para o desenvolvimento económico, explicitando como, através deste modelo linear, se poderia criar produtos novos, baratos e atractivos, bem como novas indústrias e novos empregos. Porém, nesta versão, o novo conhecimento científico só poderia ser obtido através da investigação básica, científica que cria a estrutura para a existência de novo conhecimento.

Bush (1945) faz a distinção entre investigação básica e investigação aplicada. A investigação básica é elaborada sem ter em linha de conta o seu resultado final, derivando do conhecimento geral, do conhecimento da natureza e das suas leis, apresentando assim um carácter público (Balconi et al., 2010). Este conhecimento geral tende a dar resposta a um grande número de questões e problemas, podendo, no entanto, não dar respostas a problemas específicos. Por sua vez, a investigação aplicada tenta dar resposta a problemas particulares (Balconi et al., 2010).

Bush (1945) enfatiza a importância de construir um ambiente favorável à criação de novo conhecimento científico sem existir pressão enquanto necessidade de alcançar resultados, com possibilidade de escolha do tema da investigação e que permita alimentar a curiosidade dos investigadores pelos mais diversos assuntos. Para isso, a investigação básica devia ser elaborada pelos investigadores em universidades, institutos de desenvolvimento e colégios, sem medidas directivas por parte de um governo. O autor também foca que os governos devem apoiar a investigação básica dado que esta é fundamental para toda a população (Balconi et al., 2010).

O modelo linear science push pode ser representado através da Figura 1: investigação básica, investigação aplicada, desenvolvimento, produção, marketing e difusão. Desta forma, o início da inovação começa com a investigação básica em que o investigador vai neste ponto estruturar toda a base do conhecimento necessário ao desenvolvimento da inovação – o conhecimento científico. A próxima etapa será a investigação aplicada, essencialmente realizada ao nível das empresas e que é responsável pelo desenvolvimento tecnológico. Depois existirá o desenvolvimento e produção da inovação e posteriormente o seu lançamento no mercado, sempre em etapas sequenciais. Enquanto, como acima

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mencionado, a investigação básica tem um carácter científico, a investigação aplicada é identificada com o desenvolvimento tecnológico e industrial, sendo a investigação básica a fonte de inovação técnica. Além disso, enquanto a investigação básica é essencialmente desenvolvida em universidades e laboratórios públicos, a investigação aplicada é desenvolvida em empresas privadas com capacidade para suportar os custos de laboratórios de investigação e desenvolvimento. Este modelo é representado por um conjunto de passos que começa com a investigação científica e acaba com a difusão da inovação, não existindo feedback dos passos posteriores para os anteriores (Padmore et al., 1998).

Figura 1: Modelo linear: science push

Fonte: Adaptado de Balconi et al. (2010)

Os Estados Unidos, entre o fim da 2ª Guerra Mundial e 1970, correspondem a um exemplo paradigmático do uso do modelo linear science push para o desenvolvimento de inovações, levando a cabo o desenvolvimento da investigação ao nível universitário, assim como incentivando o desenvolvimento de laboratórios de investigação por parte de empresas privadas (Hounshell, 2004 in Balconi et al., 2010).

Não obstante a sua utilidade, diversos investigadores (e.g., Kline e Rosenberg, 1986) criticam o modelo linear science push pela sua natureza rígida e inflexível e pela própria distinção que impõe entre investigação básica e aplicada, uma vez que, segundo estes mesmos críticos, os melhoramentos tecnológicos nem sempre estão relacionados com a investigação básica (Kline e Rosenberg, 1986; Mansfield, 1991; Klevorick et al., 1995). Além disso, por vezes a tecnologia ultrapassa a própria explicação científica (Gulbrandsen, 2008), como acontece por exemplo com a criação de vacinas, em que é desenvolvida uma vacina para eliminar ou para proteger o ser humano de uma doença, sem por vezes se compreender o porquê da vacina funcionar, questionando-se desta forma a sequência de etapas do modelo linear. Este último exemplo é essencial para colocar a sequência de passos que o modelo linear science push segue em causa, sugerindo que haja uma reversão na sequência (Balconi et al., 2010).

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Segundo Kline e Rosenberg (1986), nos dias de hoje já não se fala em investigação mas sim em design (desenho) e o conhecimento encontra-se nas pessoas que trabalham na própria organização, sem ser necessário recorrer tantas vezes ao conhecimento externo. Apenas quando as fontes de conhecimento interno falham é que se exige procurar outras fontes de conhecimento. Desta forma, defende-se que são os utilizadores dos produtos e serviços que por vezes desempenham um papel crucial aquando de uma inovação (Balconi et al., 2010).

Esta hipótese de que a inovação é fomentada pela procura do mercado – modelo linear

demand pull - advém de um trabalho sobre o estudo do uso de patentes realizada nos anos

60 por Schmookler, em que este concluiu que seria a procura o principal incentivo à inovação já que o tempo de produção de novos produtos era demasiado longo para existir, por si só, desenvolvimento tecnológico (Campos, 1999 in Pelaez e Szmrecsányi, 2006). O modelo linear na versão demand-pull caracteriza-se por ser o mercado a ditar a necessidade de um novo produto, de um produto melhorado. Esta versão é baseada na informação de mercado, mais em concreto nos clientes, fornecedores e concorrentes (Murovec e Prodan, 2009). Assim, no âmbito do processo de inovação, é necessário ter capacidade para absorver as informações que o mercado dá, sendo que o conhecimento das pessoas que trabalham em determinada inovação é também importante para o desenvolvimento e sucesso de uma inovação (Murovec e Prodan, 2009).

Nesta versão do modelo linear, é o mercado que influencia o surgimento de uma inovação, ou seja, o sentido da direcção do esquema da Figura 1, surge invertido (cf. Figura 2). Assim é a partir de um pedido do mercado que se inicia a inovação, passando por todas as fases que o modelo linear science-push, dando maior primazia à investigação aplicada do que à investigação básica.

Figura 2: Modelo linear demand pull

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Como referiu Schumpeter (1939), não podemos utilizar somente um único factor no processo de inovação - seja este o conhecimento científico, conhecimento tecnológico ou factores do mercado - para explicar a emergência e difusão de uma inovação. É necessário considerar uma interacção de factores para se analisar a evolução de uma inovação (Murovec e Prodan, 2009).

É importante também salientar que o fluxo de conhecimento não é o mesmo em todas as etapas do processo de inovação e a transferência do novo conhecimento científico pode encontrar obstáculos (Gulbrandsen, 2008). Aliás, até mesmo a interpretação do próprio conhecimento científico pode divergir. Para que exista uma boa transferência de conhecimento é necessária interacção entre elementos, a experiência presenciada, os contactos pessoais, etc. (Balconi et al., 2010). Existe quem defenda que ao longo do processo de inovação existem etapas que podem ocorrer ao mesmo tempo e que pode existir esse mesmo feedback, não podendo assim a inovação ser representada por uma sequência de etapas (Balconi et al., 2010).

Não obstante o modelo linear ser ainda bastante utilizado nos dias de hoje, designadamente na indústria farmacêutica e em indústrias relacionadas com as ciências da vida (Gulbrandsen, 2008; Balconi et al., 2010), sendo um pilar muito importante no desenvolvimento tecnológico destas áreas, existe sempre algum feedback ao longo do processo de inovação (Kline e Rosenberg, 1986). Adicionalmente, na actualidade as universidades deixaram de ser os únicos “produtores” de conhecimento científico, nomeadamente de investigação básica, que passou a englobar diferentes tipos de instituições, técnicas e métodos (Rosenberg, 1990 in Gulbrandsen, 2008).

1.2.2. Modelo Interactivo

Com o intuito de ultrapassar as limitações do modelo linear, Kline e Rosenberg (1986) propuseram o modelo interactivo (cf. Figura 3). Este modelo caracteriza-se pela existência de feedbacks ao longo do processo de inovação que ajudam na melhoria dessa mesma inovação (Hall, 1994; Padmore et al., 1998). É um processo circular na concepção da inovação e é direccionado essencialmente pelas actividades das empresas (Kline e Rosenberg, 1986). A interacção começa na etapa inicial, o design (desenho), de um novo produto ou de um já existente, sendo visto como um pedido ou necessidade do mercado. Embora este modelo possa ser visto de forma sequencial, também tem em conta os diversos feedbacks, quer vindo dos utilizadores actuais assim como dos potenciais, já que a

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existência de procura por parte do mercado é uma condição necessária para o sucesso de uma inovação (Hall, 1994). Neste modelo o estímulo para a melhoria ou criação de um novo produto pode vir de várias fontes: dirigentes, marketing, fornecedores, clientes e concorrentes. Os feedbacks são muito importantes e podem ocorrer em qualquer fase do processo de inovação (Hall, 1994).

Os investigadores de uma nova inovação ao utilizarem este modelo vão, numa primeira etapa, procurar soluções no conhecimento científico e tecnológico existente e somente quando é necessário mais informação é que se torna necessária uma nova procura de informações. Neste modelo todos os factores contam no desenvolvimento de uma inovação e a capacidade de absorção é bastante importante neste processo (Cohen e Levinthal, 1990). A capacidade de absorção caracteriza-se por ser a capacidade que os actores envolvidos no processo de inovação têm para reter informação crucial, assim como, o conhecimento próprio e a experiência pessoal (Murovec e Prodan, 2009).

Vários autores (e.g., Kline e Rosenberg, 1986; Hall, 1994; Cohen e Levinthal, 1990) defendem que este modelo é mais adequado do que o modelo linear já que tem em consideração os feedbacks que podem ajudar a melhorar o processo de inovação e a orientá-lo para o sucesso. São diversos os factores tanto de índole científica, de mercado e de capacidade humana que podem influenciar todo o processo de inovação (Hall, 1994).

Figura 3: Modelo Interactivo

Fonte: Adaptado de Gulbrandsen. (2008)

Legenda: C = cadeia central de inovação; f = círculos de feedback; F = feedback particularmente importante; D = relação directa de e

para a investigação relativos a problemas de invenção/desenho; I = contribuição da investigação científica através de instrumentos, máquinas, ferramentas e procedimentos tecnológicos; S = contribuição da investigação por empresas em ciências subjacentes às áreas de

produto com o objectivo de conquistar informações directamente. A informação obtida pode ser aplicada em qualquer lugar ao longo da cadeia.

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Nesta figura podemos observar que é o mercado que dita o início do surgimento de uma nova inovação, seguindo posteriormente as restantes etapas. Porém sempre que existe a necessidade de novo conhecimento é possível obtê-lo e prevê a existência de feedbacks ao longo de todas as etapas.

1.3. Determinantes da adopção da inovação por parte das empresas: uma revisão da literatura

A sistematização da literatura permitiu, em termos de características da tecnologia, identificar os seguintes determinantes da adopção de inovação (ver Tabela 1): funcionalidade, eficiência, custo/preço, natureza do conhecimento, informação e complexidade.

A funcionalidade é um determinante que condiciona, de forma positiva, a adopção de uma tecnologia por parte de uma empresa. Desta forma, as tecnologias que abranjam um maior número de funcionalidades/utilizações/desempenho de tarefas têm uma probabilidade maior de serem adoptadas mais rapidamente e em maior número do que outras tecnologias que sejam menos versáteis neste domínio (Geroski, 2000; Menanteau e Lefebvre, 2000; Gália e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008).

A eficiência é também um determinante positivo da adopção de uma tecnologia. Sendo eficiente, a tecnologia permite que a empresa que a adopta produza mais com menos recursos (factores produtivos) em comparação com situação manifestada com a tecnologia antiga. Desta forma, a empresa pode ‘poupar’ alguns recursos (factores produtivos) e investir em mais inovações (Nooteboom, 1994; Damanpour, 2001; Corrocher e Fontana, 2008).

O custo/ preço de uma tecnologia é um factor com impacto negativo na sua adopção. Quanto maior for o custo de uma tecnologia, mais difícil é a sua implementação na empresa. Tecnologias mais baratas, quer em termos de preço de aquisição quer em termos de custo de implementação, tendem a ser mais facilmente adoptadas do que as tecnologias mais caras. Note-se ainda que o facto de uma tecnologia ser patenteada, a torna mais cara, na medida em que a empresa que a queira adoptar terá de pagar um valor mais elevado para a adquirir. Contudo, a adopção de uma inovação patenteada pode ajudar a restringir a reacção da concorrência (Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Mohnen et al., 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

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A natureza do conhecimento, tácito ou codificado, influencia a adopção de inovação. O conhecimento tácito é transmitido através da visualização de tarefas, exigindo uma transmissão presencial; por sua vez, o conhecimento codificado é difundido através de manuais ou outros suportes materiais. Assim, quando uma tecnologia utiliza conhecimento tácito para difundir informação, torna-se mais difícil a sua adopção, já que é preciso existir uma aprendizagem através da experiência o que faz elevar os custos da transmissão de conhecimento.

Tabela 1: Determinantes da adopção da inovação – características da tecnologia

Determinantes Descrição Positivo/

Negativo Autores

Funcionalidade

Tecnologias que preencham um maior número de

utilizações/funcionalidades tendem a ser adoptadas com maior intensidade.

+

Geroski, 2000; Menanteau e Lefebvre, 2000;

Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Eficiência

Tecnologias que ‘poupam’ factores produtivos (e.g., trabalho, capital) tendem a estimular a respectiva adopção + Nooteboom, 1994; Damanpour, 2001; Corrocher e Fontana, 2008; Custo/preço

Tecnologias mais dispendiosas (quer em termos de aquisição quer de implementação) dificultam a adopção - Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Mohnen et al., 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009; Natureza conhecimento

Tecnologias que exigem um processo de transmissão de conhecimento predominantemente tácito tendem a ser adoptadas com menor rapidez. + (codificado)/ - (tácito) Nooteboom, 1994; Geroski, 2000; Corrocher e Fontana, 2008; Informação A maior disponibilidade de informação sobre a tecnologia favorece a difusão da mesma.

+

Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001;

Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008;

Mohnen et al.,2008; Madrid-Guijarro et al.,2009;

Complexidade A complexidade de uma tecnologia

dificulta a adopção. -

Geroski, 2000;

Menanteau e Lefebvre, 2000; Corrocher e Fontana, 2008;

O conhecimento codificado é de mais fácil difusão pelo que as tecnologias a ele associadas tendem a ser mais baratas e de mais rápida difusão. Uma empresa que quer implementar uma tecnologia tem necessidade de obter informação diversificada sobre esta para conhecer as suas características e definir o modo de implementação mais adequado. Assim, a informação é um determinante bastante importante na adopção de uma tecnologia. Quando a informação sobre a tecnologia existe e é de fácil acesso, um maior número de adopções tende a ocorrer (Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998;

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Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Mohnen et al., 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

A complexidade da tecnologia é também um determinante importante na adopção de inovação. Quanto mais complexa for a tecnologia, mais difícil será a sua adopção, já que a empresa terá mais dificuldade em compreender o seu modo de funcionamento, o que irá afectar a sua implementação (Geroski, 2000; Menanteau e Lefebvre, 2000; Corrocher e Fontana, 2008).

No âmbito dos determinantes da adopção de inovação, a literatura relevante permite também identificar como grupo essencial o conjunto das características do adoptante (cf. Tabela 2): recursos humanos/competências, organização, dimensão da empresa, aversão ao risco, sector.

A existência na empresa de recursos humanos com um maior nível de qualificações e que revelem competências mais compatíveis com a inovação que pode vir a ser adoptada favorece, em grande medida, a respectiva adopção. Empresas com recursos humanos flexíveis e dinâmicos têm uma maior tendência para a adopção da inovação (Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Manley, 2008; Mohnen et al., 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

Também a estrutura organizacional da empresa influencia a capacidade e a velocidade de adopção da inovação. O facto de a empresa ter uma estrutura organizacional rígida, em que existe falta de comunicação entre os diversos patamares de decisão, dificulta a adopção da inovação; por sua vez, a existência de uma estrutura hierárquica flexível na empresa, em que a informação circula facilmente entre todos os elementos da empresa, faz com que a adopção da inovação seja mais fácil e mais rápida (Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Manley, 2008; Mohnen et al., 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

A dimensão da empresa é um factor determinante da adopção de inovação. A literatura diz-nos que, tudo o resto constante, uma empresa de grande dimensão tem maior facilidade em adoptar inovação do que uma empresa de pequena dimensão (Manley, 2008). As empresas de maior dimensão geralmente apresentam uma grande capacidade não só financeira, mas também ao nível dos recursos humanos e da troca de informações, o que favorece a capacidade de adopção da inovação. Em contrapartida, as empresas de pequena dimensão

(20)

tendem a apresentar poucos recursos (económicos, financeiros e humanos), o que pode dificultar consideravelmente o processo de adopção. No entanto, a dimensão reduzida de uma empresa também pode, ao permitir uma maior flexibilidade na sua organização, favorecer a adopção da inovação (Nooteboom, 1994; Geroski, 2000; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Manley, 2008; Mohnen et al., 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

Tabela 2: Determinantes da adopção da inovação – características do adoptante

Determinantes Descrição Positivo/

Negativo Autores

Recursos humanos/ Competências

Recursos humanos mais qualificados e mais compatíveis com a natureza da tecnologia favorecem a adopção.

+

Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Manley, 2008; Mohnen et al.,2008; Madrid-Guijarro et al., 2009

Organização

A estrutura hierárquica que uma empresa apresenta pode promover ou dificultar a adopção de uma inovação. A empresa pode ter uma estrutura rígida ou flexível a caracterizar a comunicação entre os vários níveis de decisão que a compõem, o que pode, respectivamente, dificultar ou promover a adopção.

+/-

Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Manley, 2008; Mohnen et al.,2008; Madrid-Guijarro et al., 2009

Dimensão da empresa

Empresas de maior dimensão tendem a adoptar inovação com maior intensidade. Maior dimensão também pode provocar rigidez organizativa e dificultar a adopção.

+/-

Nooteboom, 1994; Geroski, 2000; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008;

Manley, 2008;

Mohnen et al., 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009; Aversão ao risco

Empresas ‘conservadoras’ tendem a ‘esperar para ver’ e, portanto, adoptam mais tardiamente.

-

Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008;

Madrid-Guijarro et al., 2009;

Sector

Empresas inseridas num sector estão sujeitas a condicionantes, que podem ser sistematizados na tipologia de Pavitt (1984): dominadas pelos fornecedores, de escala intensiva, baseados na ciência, fornecedor especializado.

Estes condicionantes podem influenciar a adopção de uma tecnologia, podendo favorecer a estandardização ou a especificação na utilização da inovação.

+/-

Pavitt, 1984;

Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001;

Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008;

Manley, 2008;

Madrid-Guijarro et al., 2009.

O grau de aversão ao risco de uma empresa condiciona a adopção de inovações. As empresas ditas mais conservadoras (avessas ao risco) raramente são as primeiras a adoptar uma inovação, esperando que outras empresas adoptem e, só mais tarde e mediante um maior número de informações sobre o desempenho da inovação, tendem a fazer a sua adopção (Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

(21)

O tipo de sector a que pertence a empresa pode influenciar tanto de forma positiva como negativa a adopção da inovação, sendo fundamental realçar, a este nível, o papel dos fornecedores e dos concorrentes da empresa. Quando são os fornecedores a difundir uma inovação para as empresas de um determinado sector, todas as empresas aí inseridas tendem a ser igualmente influenciadas. Estes sectores correspondem, segundo a tipologia de Pavitt (1984), ao tipo ‘dominados pelos fornecedores’ existindo aí uma estandardização da inovação.1 A existência de concorrência pode favorecer a adopção da inovação pois a empresa procura superar os seus concorrentes, investindo em inovação para tentar aumentar a sua vantagem relativa. Com base na taxinomia de Pavitt podemos associar a adopção dos transístores de papel ao padrão “baseado na ciência”, já que a investigação científica feita ao nível universitário/centro de investigação tem uma influência decisiva na adopção dos transístores em papel por parte das empresas. Este padrão apresenta tipicamente como modo de apropriação as patentes e as barreiras ao livre acesso à inovação, permitindo a não vulgarização da inovação e a obtenção de retorno suficiente para compensar os custos de desenvolvimento da inovação. A existência de uma patente, por um lado, ao garantir a codificação do conhecimento, pode favorecer a expansão da informação e, consequentemente, favorecer a adopção; por outro lado, a patente gera um custo adicional para a empresa que pretende adoptar a inovação e assim pode retrair a adopção.

Outro grupo de determinantes da adopção de inovação que a literatura relevante também enfatiza corresponde ao retorno esperado (ver Tabela 3), sendo aqui salientados os seguintes elementos: expectativa sobre a quota de mercado, retorno/lucro esperado, oportunidade de mercado, ciclo de vida dos produtos.

1

Segundo Pavitt (1984) podemos dividir os sectores de actividade em quatro padrões sectoriais quanto às características de inovação e difusão: “dominado pelos fornecedores”, “escala intensivo”, “baseado na ciência” e “fornecedor especializado”. No padrão “dominado pelos fornecedores”, como já i referimos, destaca-se a influência dos fornecedores sobre as empresas, fazendo com que estas tendam a adoptar o mesmo tipo de inovação já que têm os mesmos fornecedores. O padrão “escala intensivo” caracteriza-se pela presença de empresas de grandes dimensões que desenvolvem e aplicam a inovação essencialmente no domínio do seu processo produtivo, sendo influenciadas pelos fornecedores e pela sua própria produção. “Baseado na ciência” é o terceiro padrão da tipologia de Pavitt que geralmente também abrange empresas de grandes dimensões que, tendo presente a inovação no processo e no produto, são bastante influenciadas pelas universidades e centros de investigação. Por último, temos o padrão “fornecedor especializado” caracterizado pela presença de empresas de pequena dimensão, onde a inovação está centrada no produto, sendo fortemente influenciadas pelos clientes. Assim, a tipologia de Pavitt (1984) mostra-nos que o sector onde uma empresa se insere influencia decisivamente a adopção de inovação por parte das empresas, podendo estimular quer a standardização na adopção da inovação quer um aumento da concorrência entre empresas de um mesmo sector (Pavitt, 1984; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Manley, 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

(22)

Tabela 3: Os determinantes da adopção da inovação – o retorno esperado

Determinantes Descrição Positivo/

Negativo Autores

Expectativa sobre a quota de mercado

Adopção motivada pela

necessidade/expectativa de aumento da quota de mercado + Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Mohnen et al., 2008; Retorno/lucro esperado

Adopção de uma tecnologia tendo como finalidade atingir um lucro mais elevado.

+ Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000;

Oportunidade de mercado

A adopção é feita a partir de uma oportunidade de mercado potenciada por este, em que a empresa adopta uma nova inovação.

+

Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008;

Ciclo de vida dos produtos

Quando um produto chega à fase de maturação a empresa pode adoptar inovação de forma a manter por mais tempo o ciclo de vida do produto.

+ Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Corrocher e Fontana, 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009;

A empresa pode adoptar uma inovação tendo como motivação/necessidade o aumento da sua quota de mercado. Neste contexto, a adopção da inovação pode permitir que a empresa alcance uma maior supremacia no mercado em que se insere em relação aos seus concorrentes (Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Mohnen et al., 2008).

O lucro esperado revela-se um determinante de extrema importância quando uma empresa adopta uma inovação. É com base neste determinante que grande parte das empresas que adopta inovação se rege (Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000).

A oportunidade de mercado é outro factor determinante na adopção de uma inovação. A empresa conhece o mercado onde se insere e mediante a tecnologia que utiliza num dado momento e as novidades presentes no mercado, decide se deve adoptar a inovação para ganhar vantagem relativa nesse mesmo mercado (Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008).

O ciclo de vida de um produto é também um factor muito importante na estratégia da empresa quanto à adopção de inovação. Assim, é comum a situação em que uma empresa, quando detecta que o seu produto está a aproximar-se da fase de maturação, adopta uma inovação para aumentar a duração do ciclo de vida desse produto e assim relançar a sua permanência no mercado (Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Corrocher e Fontana, 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

(23)

Sendo transversal o reconhecimento do contexto/condições externas como determinantes essenciais nos processos de adopção de inovação, identificámos os seguintes elementos dentro deste grupo (ver Tabela 4): condicionantes sociais, cognitivos e institucionais; incerteza económica; políticas governamentais e a densidade de redes entre os actores do sistema de inovação.

Os condicionantes sociais, cognitivos e institucionais tanto podem ser positivos como negativos para a decisão de adopção de inovação. Assim, estes condicionantes podem estimular a adopção da inovação mais precocemente e com maior rapidez ou, pelo contrário, provocar uma adopção mais lenta ou a ausência de adopção. Neste domínio são vários os factores relevantes: as características dos consumidores, a influência de outros países, a presença de institutos de investigação e de universidades, o tipo de fornecedores e de concorrentes, o efeito do marketing, as políticas públicas implementadas que se repercutam num determinado sector, a existência de associações, etc. Por exemplo, a dimensão cognitiva reflecte o facto de a inovação implicar mudanças nos conhecimentos e preferências, isto é, a emergência de uma inovação e a sua posterior adopção, exercem uma influência significativa nos indivíduos, estimulando mudanças nos comportamentos, conhecimentos e preferências que podem vir a condicionar novas adopções no futuro. Outros exemplos deste tipo de factores que podem influenciar a adopção de inovação são: o acesso a financiamento bancário por parte das empresas; a influência da família e amigos do responsável da empresa; os contactos externos; a natureza mais ou menos exigente do ambiente económico. Em suma, todos os factores institucionais e sociais influenciam decisivamente a adopção da tecnologia, tal como as interacções entre trabalhadores, empregadores, quadro legislativo e institucional e ambiente económico ilustram (Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

A incerteza económica influencia negativamente a adopção da inovação por parte da empresa. Uma economia com forte volatilidade conjuntural faz aumentar a incerteza e a capacidade de previsão quanto ao andamento futuro do mercado, fazendo com que os agentes económicos se retraiam nas suas decisões de investimento, particularmente na adopção de inovação (Nooteboom, 1994; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Mohnen et al., 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

(24)

Tabela 4: Determinantes da adopção da inovação – as condições externas

Determinantes Descrição Positivo/

Negativo Autores

Condicionantes sociais, cognitivas e institucionais

As relações sociais entre os diversos intervenientes, a troca de informações e as relações institucionais podem influenciar a adopção de uma inovação.

Conforme o ambiente em que as empresas se inserem pode existir um ambiente favorável à adopção ou não.

+/-

Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008;

Madrid-Guijarro et al., 2009 Incerteza

económica

Um clima económico instável dificulta a adopção já que provoca a retracção das empresas face à inovação.

-

Nooteboom, 1994; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008;

Mohnen et al., 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009 Políticas

governamentais

Os governos podem promover a adopção através da imposição ou por sua vez dificultar que novas inovações possam ser adoptadas.

+/-

Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Mohnen et al.,2008; Madrid-Guijarro et al., 2009

Densidade das redes entre os actores do Sistema de Inovação (SI)

A adopção é facilitada pela existência de redes mais densas (maior interligação entre os actores do SI)

+

Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008;

Madrid-Guijarro et al., 2009

As políticas governamentais tanto podem ajudar como bloquear a adopção de inovação. O governo através das suas leis, regulamentações, políticas e decretos pode promover ou não a adopção da inovação. Mais concretamente, factores como a regulamentação das condições de trabalho, regulamentações de construção e/ou localização da actividade empresarial, subsídios ao investimento em I&D, programas especiais de financiamento (por exemplo, para facilitar o acesso ao crédito), programas de cooperação entre empresas e instituições, entre outros. Note-se ainda que a incerteza associada às políticas governamentais cria barreiras à inovação (Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Mohnen et al., 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

A existência de redes de comunicação favorece de modo positivo a adopção da inovação, já que estimula a divulgação de informação sobre a inovação e a interacção entre os diversos actores presentes no processo de adopção, tais como clientes, fornecedores, concorrentes, laboratórios de investigação, consumidores, etc. (Nooteboom, 1994; Jimenez-Martinez e Polo-Redondo, 1998; Geroski, 2000; Damanpour, 2001; Galia e Legros, 2004; Corrocher e Fontana, 2008; Madrid-Guijarro et al., 2009).

Em síntese, a revisão da literatura sobre os determinantes da adopção de inovação por parte das empresas, permitiu sistematizar esses determinantes em quatro grupos: características da tecnologia, características do adoptante, retorno esperado e contexto/condições externas.

(25)

A partir desta sistematização foi possível definir o inquérito a implementar com o objectivo de apurar quais os determinantes que influenciam, e em que medida, as empresas no processo de adopção dos transístores em papel. Na próxima secção é detalhada a metodologia que esteve na base da definição e implementação desta análise.

(26)

Capítulo 2. Modelos de inovação e determinantes da adopção de uma

inovação. Considerações conceptuais e metodológicas

2.1. Considerações iniciais

Neste capítulo pretendemos especificar a metodologia utilizada tanto para apurar qual o modelo de inovação em que se insere a inovação transístor de papel, como para identificar os determinantes que influenciam a adopção/não adopção da tecnologia em causa por parte das empresas portuguesas.

Assim, na primeira secção (Secção 2.2) de forma a tentarmos responder à primeira questão de investigação (Qual o modelo de inovação - modelo linear, tipo science push versus

demand pull, ou modelo interactivo - mais adequado para explicar a emergência e

desenvolvimento do transístor de papel?) e seguindo a literatura, foi realizada uma entrevista à investigadora principal que esteve na base desta inovação de forma a concluirmos qual o modelo de inovação que lhe está subjacente. Nesta secção descrevemos o processo de realização da entrevista e o contacto com a investigadora.

Na segunda secção (Secção 2.3), no sentido de respondermos à segunda questão de investigação (Quais os determinantes e/ou obstáculos à adopção e difusão do transístor de papel no seio da indústria portuguesa?), detalhámos o estudo de caso que esteve na base da análise desta questão, descrevendo o processo de selecção das empresas que compõem o estudo, bem como o questionário implementado para apurar quais os determinantes e/ou obstáculos à adopção dos transístores de papel.

2.2. Modelo de inovação subjacente ao transístor de papel

Na ausência de bibliografia e/ou estudos empíricos sobre a tecnologia em estudo – os transístores de papel – e no sentido de averiguar qual dos modelos de inovação descritos no Capítulo 1 seriam mais adequados para racionalizar a emergência desta tecnologia, decidimos inquirir a investigadora Elvira Fortunato, coordenadora da equipa de investigação que desenvolveu o transístor de papel.

O contacto foi feito via correio electrónico, tendo sido enviada uma carta de apresentação e a entrevista.2

2

O e-mail foi enviado através de conta de e-mail da Faculdade de Economia do Porto em 07/12/2010, tendo-se obtido resposta da investigadora em 17/12/2010.

(27)

A entrevista é composta por 12 questões baseadas na literatura investigada (Secção 1.2) para a realização da entrevista que se disponibiliza no Anexo 1.

As duas primeiras perguntas pretendem aferir como surgiu a ideia do transístor de papel e se existiu alguma influência por parte da indústria ou se a ideia esteve apenas associada à iniciativa científica. Com base na resposta a estas questões procuramos identificar os factores que estão na base da inovação: a ciência, a procura ou uma interacção entre ambas.

Com a terceira questão pretendemos datar o início do desenvolvimento da inovação e saber se o seu desenvolvimento foi contínuo ou se existiram interrupções. O objectivo aqui é averiguar se existiu tempo para que o sector empresarial tivesse conhecimento e acesso a informação sobre a inovação.

Nas três perguntas seguintes pede-se à investigadora que identifique em relação a esta inovação quais as vantagens/desvantagens e as aplicações, bem como nos diga se estas possíveis aplicações são as mesmas que existiam no início do desenvolvimento da tecnologia dos transístores de papel. Estas questões são importantes para conhecermos em mais pormenor todo o processo de emergência e desenvolvimento da tecnologia.

A sétima questão da entrevista procura investigar se ao longo do processo de desenvolvimento da tecnologia houve interacção com outros agentes, para compreendermos se há efeitos de rede significativos no processo.

As restantes questões referem-se essencialmente à difusão do transístor de papel, procurando identificar-se essencialmente se o transístor de papel está difundido no sector empresarial a nível nacional e internacional. Mais concretamente, procura-se averiguar se Elvira Fortunato considera que a tecnologia está a ser suficientemente divulgada, bem como a sua percepção sobre a forma como as empresas estão a reagir face a esta tecnologia.

2.3. Análise dos determinantes da adopção do transístor em papel

Após a sistematização dos determinantes que podem influenciar a adopção de uma inovação por parte das empresas, apresentada no enquadramento conceptual da Secção 1.3, vamos analisar a importância relativa destes factores no âmbito concreto da adopção do transístor em papel.

(28)

A metodologia utilizada para a concretização do nosso objectivo corresponde à análise de casos de estudo baseados na selecção prévia de nove empresas potencialmente adoptantes do transístor de papel.

Note-se que, sendo diversas as metodologias que podem ser utilizadas para obter e apurar informação que confirme a matriz teórica (experimentação, sufrágio, caso de estudo, etc.), a metodologia “caso de estudo” foi escolhida pois pretendermos perceber em detalhe o ‘Como?’ e o ‘Porquê?’ (Yin, 2003) da adopção ou não adopção pelas empresas portuguesas da inovação referente aos transístores de papel.

No âmbito do nosso estudo, a população alvo foi definida tendo por base a entrevista feita à investigadora Elvira Fortunato (ver Secção 2.2) e a análise da investigação realizada sobre os transístores de papel. Sendo os transístores de papel um elemento de base electrónica e tendo como suporte o papel, e mediante a identificação de possíveis áreas de aplicação desta inovação feita por Elvira Fortunato na sua resposta à nossa entrevista, os sectores de actividade escolhidos foram três: o sector do papel e embalagens, o sector electrónico e o sector publicitário/edição.

O sector do papel e das embalagens emerge como relevante no estudo porque o papel é a base de suporte do transístor de papel, sendo possível, a partir do seu uso, a criação de embalagens inteligentes, entre outros produtos. O sector electrónico é naturalmente eleito, já que é o sector primordial para a implementação da inovação em causa, dado que o transístor é um componente electrónico. Por fim, o sector publicitário e de edição aparece na nossa escolha pois uma aplicação com grande potencial de implementação dos transístores de papel corresponde à colocação destes transístores em algo tão simples como uma folha de papel de uma revista, permitindo ao leitor assistir, por exemplo, a um vídeo publicitário, reflectindo assim um grande potencial de aplicação ao nível da publicidade/multimédia.

Após a definição dos sectores de actividade relevantes, a escolha das empresas para cada um destes sectores foi feita com base em características tais como o volume de negócios e o número de empregados, tendo sido seleccionadas quer empresas de grande dimensão quer empresas mais pequenas, de forma a termos um leque mais variado de empresas (Tabela 5).

(29)

Tabela 5: Empresas escolhidas para o caso de estudo

Sector de actividade Empresa Volume de vendas (€,

2005)

Eléctrico e Electrónico

Aparelhos de rádio,

tv e comunicação. Siemens, S.A. 562.907.930 Serviços prestados às

empresas Portugal Telecom, Inovação, S.A. 57.604.987

Fabrico de máquinas e aparelhos eléctricos

Efacec 65.701.718 Bosch Security Systems – sist. de

Segurança, S.A. 54.370.052 Philips Portuguesa, S. A. 94.799.746 Schneider Electric Port – Apar. Eléctrica,

Lda 78.054.309

Fabrico de máquinas

de escritório J. P. Sá Couto, S.A. Nd

Publicitário/ Edição

Serviços prestados às empresas

Megameios Publicidade e Meios A.C.E. 183.960.963 Média Planning Publicidade, S. A. 127.930.289 Nova Expressão – Ag. De Meios de

Pub., S. A. 8.504.448

Papel e Embalagens

Fabricação de pasta e papel

Renova – Fábrica de Papel do Almonda,

S. A. 95.472.158

Portucel embalagem – Emp. Prod. de

Emb. 64.450.000

Imprensa Nac. – Casa da Moeda E. P. 81.649.464 Comércio por grosso Inapa Portugal – Distribuição de Papel,

S. A. 61.871.119

Nota: As empresas foram seleccionadas entre as incluídas nas 1000 Maiores Empresas, Público, nº 6057, 2006

Para além das nove empresas pré-seleccionadas, optamos por escolher mais cinco empresas, com o objectivo de colmatar a possível falta de resposta ao inquérito por parte de algumas das empresas pré-seleccionadas.

Em seguida, o inquérito foi elaborado a partir do quadro conceptual definido na Secção 1.3, e tendo presentes as nossas questões de investigação, sendo posteriormente enviado por e-mail para as empresas escolhidas (ver Anexo 2).

A primeira parte do inquérito corresponde a um conjunto de questões sobre as empresas inquiridas, designadamente sobre as características gerais destas empresas. Tal informação permite-nos tecer considerações e comparações entre as empresas, a fim de apurar se algumas destas características são ou não importantes na adopção do transístor de papel. A segunda parte do inquérito questiona a empresa sobre o “Grau de adopção da tecnologia ‘transístor de papel’?”. Sendo esta parte do inquérito de resposta fechada, são aqui dadas várias hipóteses de resposta, a saber: 1) desconhecimento da tecnologia (se as empresas escolhessem esta opção, o inquérito terminaria neste ponto); 2) conhecimento da tecnologia mas em que a empresa revela não pretender adoptar a tecnologia; 3) conhecimento da tecnologia em que a empresa indica que ainda não adoptou mas poderá

(30)

vir a adoptar num futuro próximo; e 4) conhecimento da tecnologia em que a empresa aponta que adoptou a tecnologia.

Para as empresas que indicam conhecerem a tecnologia e, em simultâneo, indicam que adoptam a tecnologia ou podem vir a adoptar, o inquérito prossegue na secção C. Caso a empresa indique que, apesar de conhecer esta inovação, não a pretende adoptar, o inquérito passa para a secção D.

A adopção de uma tecnologia por parte de uma empresa depende de vários determinantes (como detalhado no capitulo anterior) e é a importância relativa desses determinantes que pretendemos apurar com as questões das secções C e D do inquérito.

A secção C questiona a forma como a empresa obteve informação sobre a tecnologia em causa. Esta pergunta baseia-se no facto de que um dos principais determinantes que influenciam a adopção de uma inovação é a informação, sendo que, à partida, quanto mais informação estiver disponível sobre a tecnologia, maior é a tendência para que haja a adopção da mesma.

O inquérito procura também avaliar se, na perspectiva da empresa inquirida, a inovação é ou pode ser aplicada ao nível do produto, do processo ou de ambos. Ainda, pergunta-se à empresa qual o tipo de resultado que espera alcançar com a adopção desta inovação, procurando captar-se aqui a relevância do retorno esperado. Por último, ainda nesta secção, a empresa tem que seleccionar vários factores, indicando se os considera nada importantes ou muitíssimo importantes. Estes itens fazem referência aos diversos determinantes que condicionam a adopção de uma tecnologia.

Na secção D (parte do inquérito preenchida pelas empresas que dizem conhecer a inovação mas que não pensam adoptar), é também apresentada uma lista de potenciais factores responsáveis pela não adopção da tecnologia em relação aos quais as empresas devem indicar o grau de importância: nada importante até muitíssimo importante.

O inquérito foi enviado para todas as empresas em 14 de Março de 2011, as quais foram também contactadas telefonicamente passados dois dias, de forma a insistir na resposta ao inquérito. Após uma semana, os inquéritos foram novamente reenviados e intensificou-se o contacto telefónico. Esta fase foi dada por terminada no dia 31 de Março de 2011. Das 14 empresas contactadas obtivemos resposta de apenas 5 empresas. O processo revelou-se árduo e, apesar da insistência junto de todas as empresas-alvo, não foi possível obter resposta das restantes empresas contactadas em tempo útil.

(31)

Capítulo 3. Modelos de inovação e determinantes da adopção de uma

inovação. Evidência empírica

3.1. Considerações iniciais

Neste capítulo, com base na literatura consultada e os dados empíricos recolhidos através da realização da entrevista à investigadora Elvira Fortunato e dos inquéritos efectuados às empresas, aferimos qual o modelo de inovação adequado ao processo de emergência e desenvolvimento dos transístores de papel e quais os determinantes que condicionam a adopção/não adopção por parte das empresas desta tecnologia/inovação.

Na Secção 3.2 expomos os resultados da entrevista realizada à investigadora Elvira Fortunato e na Secção 3.3 são discutidos os resultados dos inquéritos realizados às empresas respondentes.

3.2. Modelo de inovação no caso dos transístores de papel

Como referido na parte introdutória da presente dissertação, os transístores fazem parte da nossa realidade já há várias décadas, incorporando, muitos objectos do nosso quotidiano, como televisores, telemóveis, computadores entre outros objectos (Ferreira, 1998). O transístor é uma peça de fulcral importância num sistema electrónico já que é ele que interpreta e emite sinais ou impulsos eléctricos. Devido a esta importância, um grupo de investigadores do Centro de Investigação de Materiais da Universidade Nova de Lisboa (CENIMAT),3 dirigidos por Elvira Fortunato, dedicaram-se à nanotecnologia, particularmente ao estudo dos transístores e dos seus materiais. Foi a partir destes estudos que esta equipa desenvolveu o transístor de papel, criando assim um novo produto nesta área. Desta forma, e numa primeira abordagem, o transístor de papel parece ter surgido da investigação de transístores descartáveis para o uso em sensores biológicos, telas de papel e etiquetas inteligentes.

Pela primeira vez, foi produzido um transístor de papel tendo como base o projecto “Invible”, que “consiste na utilização de papel com origem em fibras de celulose natural ou ainda de papel reciclado como material de suporte e componente electrónico (isolante/dieléctrico), em transístores de efeito de campo, memórias não voláteis e outros circuitos electrónicos mais complexos e de baixo custo, descartáveis.”4

3

CENIMAT - Centro de Investigação em Materiais da FCT/UNL, http://www.cenimat.fct.unl.pt/.

4

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Este projecto teve um impacto primordial na inovação dos transístores de papel, não recorrendo ao uso do silício, material frequentemente usado nos transístores antes desta invenção.5 Assim, emerge uma nova área em termos tecnológicos, que poderá ser crucial no futuro pois utiliza o papel como semi-condutor para o campo de efeitos nos transístores (FET - Field Effect Transistor, cf. Figura 4). O papel, a estrutura do próprio transístor, é utilizado em ambos os lados de uma folha de papel (Fortunato et al., 2008).

Figura 4: Esquema da estrutura FET utilizando a celulose como porta para o dieléctrico

Fonte: Adaptado de Fortunato et al. (2008)

A indústria electrónica internacional tem apostado no desenvolvimento de dispositivos com biopolímeros, já que as aplicações tendem a ser mais baratas (Fortunato et al., 2008). Sendo a celulose o principal biopolímero da terra, o papel tem servido de suporte para componentes electrónicos. Porém, o papel ainda não tinha sido colocado como parte integrante de um transístor. Assim, foi a equipa de investigadores dirigida por Elvira Fortunato que desenvolveu um transístor de filme fino em que uma das camadas (o dieléctrico ou isolante eléctrico) é uma vulgar folha de papel (papel vegetal, papel de fotocópia), tendo uma grossura de cerca de 0,3 a 0,4 mm, mas podendo ter uma grossura ainda menor (Fortunato et al., 2008). Como refere Elvira Fortunato “[o]s materiais usados no fabrico dos transístores e a tecnologia associada é amiga do ambiente, pois são materiais verdes, como o óxido de zinco (composto utilizado em cremes cicatrizantes, protectores solares ou cosmética), sendo tudo processado à temperatura ambiente, usando dois gases: o oxigénio e o árgon, não poluentes. Isto é, os transístores podem ser reciclados e incluídos na pasta de papel e dar origem a mais transístores e folhas de papel ou cartão recicladas, sem necessidade de qualquer trabalho de triagem para separação dos seus constituintes.”

Como se pode constatar pela Figura 4, os transístores têm três terminais: fonte, dreno e porta. Assim, nos transístores de efeito de campo (FET), como é o caso destes novos

5

Site http://www.fct.unl.pt/revista-de-imprensa/elvira/httpwww.gratispt.comnoticiaselvira-fortunato-galardoada-internacionalmente-pela....pdf, acedido em 20/11/2010.

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transístores, a corrente eléctrica que passa entre a fonte e o dreno é controlada pela tensão aplicada ao terminal porta. Para o dispositivo funcionar correctamente a porta tem de estar isolada electricamente da fonte e do dreno, daí a importância da camada dieléctrica como isolamento. Numa das faces do papel depositaram o material que funciona como porta e na outra face construíram os restantes elementos. Desta forma, o papel tanto é um isolante eléctrico como um suporte para o próprio dispositivo (Fortunato et al., 2008).

Os testes realizados aos dispositivos mostraram que estes novos transístores são tão competitivos como os melhores transístores de filme fino baseados em óxidos semicondutores, como camadas isolantes de vidro ou silício cristalino (Fortunato et al., 2008). Desta forma, a tecnologia em causa tem muitas vantagens, nomeadamente a nível de custo e de sustentabilidade ambiental. Ainda um ponto a favor desta tecnologia é o facto de puder ser produzida à temperatura ambiente ao contrário do silício que é levado a um processo térmico de 1200ºC, abrindo assim novas possibilidades de utilização. Outras vantagens são a flexibilidade do material: leve e fino, com baixo custo de produção, com boa estabilidade em termos electrónicos, também podendo ser utilizado num vidro ou em outras superfícies (cerâmica, metal ou plástico), apresentando compatibilidade com diversos dispositivos, baixo custo ambiental, excelentes características operacionais (como um grande canal de mobilidade de saturação), possibilidade de produção em massa e a natureza biodegradável.6

Segundo os cientistas proponentes, o transístor de papel poderá vir a ser uma aplicação muito prática nas áreas da electrónica descartável, da embalagem inteligente (como nas caixas de medicamentos) e dos sistemas de publicidade. “Pretende-se ainda combinar esta nova aplicação com tecnologias de processamento de baixo custo para o fabrico total dos dispositivos por impressão por jacto de tinta. A área de impressão de electrónica em papel, sendo de custo mais reduzido e biodegradável, atrai cada vez mais interesse por parte da indústria. A Electrónica de Papel e o Papel Electrónico irão certamente transformar num futuro próximo as actuais etiquetas, embalagens e as convencionais revistas e jornais. Trata-se pois de uma abordagem totalmente nova e disruptiva”.7 Tais aplicações incluem: cartões, etiquetas inteligentes, etiquetas RFID, ecrãs de papel, chips de identificação, pacotes inteligentes, aplicações médicas, TFT’s, circuitos, displays, baterias. Também é

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Site http://idpt.wordpress.com/2009/05/01/noticia-transistor-que-muda-de-cor/, acedido em 23/09/2009.

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Site http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/cientistas-portugueses-desenvolvem-o-primeiro-transistor-com-papel_1336121, acedido em 01/12/2010.

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difundido que na indústria do papel a utilização destes transístores podem permitir novas funcionalidades, novos produtos.8

De acordo com o grupo de investigadores liderado por Elvira Fortunato, existem várias empresas interessadas nesta nova tecnologia, por exemplo a Samsung, a Fuji, a LG, a Saint

Gobain, a HP e a FIAT. No caso específico da Samsung, esta já lançou uma TV screen

constituída com transístores de papel com ganhos de 300% na sua funcionalidade. Além de empresas do ramo da electrónica também empresas de outros ramos podem integrar esta inovação, como é o caso da indústria de papel, onde se destaca a empresa Suzano (Brasil) enquanto utilizadora do transístor de papel.9

Como refere Elvira Fortunato, “[o] transístor é uma peça de lego para construir qualquer coisa”.10

Figura 5: Transístor de Papel

Fonte: Site http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/cientistas-portugueses-desenvolvem-o-primeiro-transistor-com-papel_1336121,

acedido em 01/12/2010

Da investigação do transístor de papel, surgiu posteriormente a memória electrónica feita em papel com possibilidade de armazenamento para 14000h. Após mais este sucesso, esta equipa voltou a inovar e criou um transístor electrocrómico que permite mudar por exemplo a cor de uma parede com um simples clique num botão. Estes três produtos desenvolvidos por esta equipa estão patenteados a nível internacional com a seguinte marca: Paper-e: Green Electronics for the Future, sendo o valor da respectiva patente de 10 milhões de €, superando em larga escala os custos de investimento deste projecto. A patente classifica estes produtos para diversos fins.11

8 Site http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/cientistas-portugueses-desenvolvem-o-primeiro-transistor-com-papel_1336121, acedido em 01/12/2010. 9 Site http://aeiou.expresso.pt/portugueses-inventam-transistor-que-muda-a-cor-de-qualquer-superficie=f510881, acedido em 01/12/2010. 10 Site http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/cientistas-portugueses-desenvolvem-o-primeiro-transistor-com-papel_1336121, acedido em 01/12/2010. 11 Site http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/cientistas-portugueses-desenvolvem-o-primeiro-transistor-com-papel_1336121, acedido em 01/12/2010.

Imagem

Figura 1: Modelo linear: science push
Figura 2: Modelo linear demand pull
Figura 3: Modelo Interactivo
Tabela 1: Determinantes da adopção da inovação – características da tecnologia
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Referências

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