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Gestão de empreendimentos econômicos solidários: os desafios no contexto das cooperativas de reciclagem

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Academic year: 2021

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(1)REVISTA DE CIÊNCIAS GERENCIAIS. GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS OS DESAFIOS NO CONTEXTO DAS COOPERATIVAS DE RECICLAGEM. Bruno Diego Alcantara Cardozo – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul /Câmpus de Paranaíba Geraldino Carneiro de Araújo - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul /Câmpus de Paranaíba Telma R. Duarte Vaz – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul /Câmpus de Paranaíba. RESUMO: O objetivo é analisar os desafios enfrentados na gestão de um empreendimento econômico solidário, fundamentados em cooperativas de reciclagem. É um trabalho de revisão de literatura, assim, teoricamente discutem-se as principais características da economia solidária, as propriedades de uma cooperativa de reciclagem, os fundamentos de autogestão e a gestão de cooperativas de reciclagem. Sabe-se que a economia solidária é um conjunto de iniciativas espontâneas surgidas a partir de empreendimentos modelados na autogestão. As cooperativas de reciclagem se deparam com inúmeros desafios como o de garantirem a promoção da sustentabilidade, assim como o de autogerarem subsídios em torno do movimento sustentável, o que repercute em sua própria sobrevivência. Desse modo, a solidificação da autogestão contribui com o desenvolvimento de qualquer empreendimento solidário. Portanto, conclui-se que os empreendimentos baseados em economia solidária estão, em grande maioria, vinculados a empreitadas cujos desempenhos gestionários, que refletem nos processos produtivos, demandam atuação e empenho mútuos.. PALAVRAS-CHAVE: Cooperativismo; Empreendimento Econômico Solidário; Desenvolvimento Socioeconômico.. KEYWORDS: Cooperative; Economic Development Outreach; Socioeconomic Development.. ABSTRACT: The goal is to analyze the challenges faced in managing a supportive economic enterprise, founded in recycling cooperatives. It is a work of literature review, thereby theoretically discusses the main features of the social economy, the properties of a recycling cooperative, the fundamentals of self-management and management of recycling cooperatives. We know that the economy is a set of spontaneous initiatives arising from developments modeled on self-management. The recycling cooperatives are faced with many challenges such as ensuring the promotion of sustainability, as well as subsidies for self-management around the sustainability movement, which has repercussions on their own survival. Thus, the solidification of self-management contributes to the development of any enterprise solidarity. Therefore, it is concluded that enterprises based on solidarity economy are, in most part, tied to contracts whose performance self-management, which reflect production processes, demand action and mutual commitment.. Informe Técnico Recebido em: 11/10/2012 Avaliado em: 12/12/2012 Publicado em: 27/05/2014 Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE rc.ipade@anhanguera.com v.17 • n.25 • 2013 • p. 195 - 205.

(2) Gestão de empreendimentos econômicos solidários: os desafios no contexto das cooperativas de reciclagem. 1. INTRODUÇÃO A relevância desse trabalho advém da compreensão do sistema econômico solidário e seus distintos ideais. Divulgar o anseio de interação de pessoas e comunidades de baixa renda, assim como o funcionamento, os planos, os desígnios e as formas sustentáveis de atuação são essenciais. É relevante divulgar e disseminar conceitos de economia solidária, pois em decorrência do acréscimo de demandas e transformações relacionadas às esferas econômicas contemporâneas, a necessidade de compreensão pela massa social é essencial. Além disso, algumas alterações pautadas nos princípios e valores sociais precisam ser maiores impulsionadas e estimuladas. Dessa forma, preceitos norteadores de estrutura e gestão de empreendimentos solidários designados à sociedade são discutidos, já que esses princípios fomentam compreensões em torno de equidade, soberania popular, cooperativismo, coletividade e autogestão. A abrangência da economia solidária e sua estima, determinada por essa pesquisa, proporciona a toda a sociedade competência para discussão e compreensão do assunto de modo preciso, claro e objetivo. Os alarmantes efeitos sociais do atual e enraizado sistema capitalista e a disseminação de conceitos da economia solidária, baseados em cooperativas de reciclagem, têm sido objeto de inúmeros estudos, entretanto, apesar da atualidade e do número de pesquisas acerca do tema, ainda é preciso investigar mais sobre as diversas questões que envolvem o assunto. Há muitas dificuldades de construção e solidificação de alternativas solidárias perante o excludente sistema capitalista, sabe-se que o principal objetivo de uma cooperativa de reciclagem é gerar renda, inclusão e formação de cidadania das pessoas que dependem de matérias-primas recicláveis. Entretanto, os desafios da economia solidária envolvem inúmeras dificuldades, sobretudo, a própria resistência e competência de um empreendimento solidário em persistir obstinadamente em suas atividades produtivas mesmo que dentro de um sistema dominante, cujo capital tornou-se o único pilar das atuais atividades econômicas, além de um impetuoso princípio social. O objetivo deste estudo é discutir os desafios enfrentados na gestão de um empreendimento econômico solidário a partir de uma discussão teórica no contexto das cooperativas de reciclagem. Os objetivos específicos são: a) Descrever as características da economia solidária; b) Identificar os desafios na gestão do empreendimento econômico solidário; c) Analisar teoricamente a autogestão em cooperativas de reciclagem. Em decorrência da exclusão do mercado de trabalho ou da economia formal, trabalhadores desenvolvem projetos solidários. Deste modo, a partir de iniciativas espontâneas surgem os empreendimentos modelados na autogestão. Entretanto, assumir responsabilidades de um sistema solidário exige relação e empenho coletivo, o que ocasiona. 196. Revista de Ciências Gerenciais.

(3) Bruno Diego Alcantara Cardozo, Geraldino Carneiro de Araújo, Telma R. Duarte Vaz. dificuldades e desafios diversos. Diante do exposto emerge a seguinte questão de pesquisa: Quais os desafios da gestão da economia solidária em cooperativas de reciclagem? Dessa forma, é oportuno lembrar que a consolidação da Política de Resíduos Sólidos (PNRS), especificada pela lei nº 12.305, de dois de agosto de 2010, estabelece políticas socioambientais, cujo gerenciamento correto dos resíduos sólidos, ou seja, de materiais recicláveis e reaproveitáveis, deve ser adotado pelas empresas produtivas de modo obrigatório. Esse programa é extremamente promissor, pois norteia responsabilidades ambientais, assim como prescreve regulamentos de ordem pública e interesses sociais. Desse modo, os procedimentos determinados pela PNRS fornecem subsídios aos empreendimentos solidários já que viabilizam coleta seletiva e restituição de resíduos sólidos de maneira apropriada, que é o caso das cooperativas de reciclagem.. 2. METODOLOGIA Para Gil (2011) método científico é o conjunto de múltiplos procedimentos técnicos, além de intelectivos, que propiciam o alcance de conhecimento. Em contrapartida, para Costa (2001) método é o caminho que, trilhado de maneira sistemática, investiga a verdade da pesquisa. Quanto à natureza dessa pesquisa, optou-se pela pesquisa básica. Para Gil (2010) as pesquisas de natureza básica destinam-se tanto ao acréscimo quanto à disseminação do conhecimento irrestrito. Gil (1994) conjectura que pesquisa básica tem como desígnio gerar conhecimentos novos, que propiciem avanços científicos mesmo sem aplicação prática e prevista. Neste trabalho procura-se gerar conhecimentos sobre a temática, gestão em cooperativas, a discussão neste sentido é tão somente acadêmica, e não tem finalidade prática imediata, como é o caso de pesquisas aplicadas. Nesse projeto de pesquisa foi utilizada a forma de abordagem qualitativa. Para Creswell (2010) a abordagem qualitativa utiliza desde concepções filosóficas, estratégias de investigação a métodos de coleta e análises de interpretação particulares. Nessa pesquisa os objetivos foram tratados de maneira descritiva. Gil (1994) conjectura pesquisa descritiva como uma maneira de estabelecer relações entre variáveis, cujas padronizadas técnicas de coleta de dados são fundamentais. Já Gil (2011) conjectura que a pesquisa descritiva consiste na exposição e estudo de características distintas de determinados grupos. A pesquisa bibliográfica foi utilizada como procedimento técnico. Conforme Gil (1997, 2011) a pesquisa bibliográfica é elaborada a partir de material já divulgado, como livros, artigos, periódicos, internet, etc. A pesquisa bibliográfica facilita a cobertura de fenômenos, ameniza obstáculos e propicia informações vantajosas através de materiais prontamente elaborados.. v.17 • n.25 • 2013 • p. 195 - 205. 197.

(4) Gestão de empreendimentos econômicos solidários: os desafios no contexto das cooperativas de reciclagem. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Resolveu-se organizar os resultados e discussão em quatro tópicos: o primeiro discute a economia solidária; o segundo expõe a temática sobre cooperativa de reciclagem, o terceiro explora a autogestão em empreendimentos econômicos solidários e o ponto central, gestão de cooperativas de reciclagem, é discutida no quarto tópico, fundamentado em toda discussão teórica apresentada.. 3.1. Economia Solidária Existem definições distintas para as continuidades da economia, sendo elas de segmento organizado e não-organizado. Segundo Pochmann (2004) o segmento organizado segue preceitos da economia formal e capitalista, já o não organizado decorre de sistemas mais alternativos. A partir da década de 1980, a estruturação do mercado de trabalho brasileiro sofreu uma violenta ruptura, decorrente da dívida externa. Desse modo, frente às inúmeras dificuldades político-sociais, o governo atentou-se à necessidade de promover um ajuste econômico capaz de compensar a economia do país, como a promoção do receituário neoliberal em 1990. Contudo, essas mudanças resultaram no negativo quadro de renda per capita da população, uma vez que a estagnação assumiu o cenário econômico brasileiro. Além disso, o declínio de vagas de trabalho assalariados formais, elevou o número de desemprego. Singer (2002) afirma que a economia solidária surgiu no início do capitalismo industrial, cujo período de substituição de tarefas humanas por maquinários, ferramentas, além do motor a vapor, provocou aumento das taxas de desemprego e pobreza. Desse modo, diante das necessidades e controles do sistema capitalista, operários uniram-se no início do século dezenove instituindo a economia solidária. Ainda para o autor, operários que constituíram a economia solidária, em forma de cooperativas, conjecturaram essa organização como pontes de reestruturação e regresso de autonomia econômica, antes privada pelo modo de produção capitalista. A estruturação de cooperativas é baseada em princípios de igualdade e democracia, cujo sistema de ideias socialistas prevalece. Entretanto, Ladeia, Carvalho e Faria (2009) afirmam que a formação de grupos alternativos aptos a gerar trabalho e renda fundamentados nos preceitos da economia solidária não se enquadra em uma empreitada de nível simples. Para que haja o desenvolvimento desses agrupamentos é necessário que políticas variáveis liguem-se tendo em vista um único propósito: solidificar a economia solidária, o cooperativismo. Embora o discurso a favor da economia solidária seja correto, o trabalho cooperativo, em sua realidade cotidiana, apresenta demandas que exigem ações rápidas que garantam a comercialização dos materiais. Assim sendo, a necessidade de planejamento de atividades, assim como a escolha estratégica de produção, são atribuições geridas pelos próprios. 198. Revista de Ciências Gerenciais.

(5) Bruno Diego Alcantara Cardozo, Geraldino Carneiro de Araújo, Telma R. Duarte Vaz. trabalhadores, entretanto, por já terem experiência de trabalho subordinado (modo capitalista) e possuírem baixo nível de escolaridade, essas atividades surgem como barreiras e limitações que refletem diretamente no desempenho e execução das tarefas, sendo elas, por muitas vezes, capazes de impedir o desenvolvimento do empreendimento (LADEIA; CARVALHO; FARIA, 2009). O capitalismo acomoda as composições legais e constitucionais de acordo com seus valores e interesses, o seu modo de produção elevado está constituído a partir de outros modos de produção, sejam eles de bases econômicas solidárias, pequena produção de mercadorias, produção de bens e serviços ou produção particular sem fins lucrativos (SINGER, 2002). Lechat e Barcelos (2008) presumem que já que o poder político é uma questão intrínseca à sociedade, ele não necessita ser hierárquico. As especificidades de seres humanos nos tornam capazes de transformar tanto a nós mesmos como aquilo que nos rodeia. A economia solidária interpela-se à antropologia, já que essa ciência opõe-se ao sistema hierárquico e coercitivo, cujos princípios que motivam esse sistema econômico solidário baseiam-se em cooperação e democracia. Além disso, ainda para os autores, a economia solidária acusa o próprio sistema, pois indicativos de alienação do homem são inegáveis. A partir das possibilidades proporcionadas pela economia solidária o homem torna-se efetivamente capaz de governar sua própria existência e seu próprio futuro. Singer (2002) aponta que o empreendimento solidário não segue a separação entre trabalho e detenção dos meios de produção adotados pelos procedimentos capitalistas, uma vez que a divisão de trabalho é feita de modo igualitário e os elementos de produção seguem, reciprocamente, as atividades estabelecidas. Desse modo, como o princípio de igualdade faz parte da consolidação de um empreendimento solidário, entende-se que todos possuem competências idênticas de tomadas de decisão sobre os processos da empresa. A posse de capital do empreendimento solidário é exclusivamente restringida aos integrantes que nele trabalham, sendo que trabalho e capital fundem-se pelo fato de que todos atuantes nos processos de produção são proprietários da empresa. Pochmann (2004) afirma que o espaço da economia solidária ainda é restrito. Além disso, a alusão metodológica entre as partes e divisões de trabalho organizado e não-organizado, demonstra o raio ainda preeminente de princípios capitalistas no sistema econômico brasileiro. Em consequência do progresso e da elevação de empregos organizadamente segmentados e estruturados, compreende-se como a força de trabalho excedente precisou alterar suas ocupações, ou seja, buscou alternativas de trabalho para que sua renda fosse obtida. Ainda para o autor, as empresas não-organizadas derivam do denominado êxodo rural, cuja saída de pessoas com pouca instrução educacional e qualificação para os grandes v.17 • n.25 • 2013 • p. 195 - 205. 199.

(6) Gestão de empreendimentos econômicos solidários: os desafios no contexto das cooperativas de reciclagem. centros urbanos/metropolitanos, ocasionou a necessidade de submeterem-se a atividades alternativas que, por muitas vezes, são exploratórias. Algumas alterações provam que ocorreram algumas transformações na divisão social do trabalho capitalista. Exemplo disso, é que peculiaridades nas formas de gestão foram gradativamente adaptadas e, desse modo, ultrapassaram até mesmo correntes clássicas das teorias administrativas, como a padronização de Ford. De toda forma, as distintas mudanças nas medidas de empreendimentos capitalistas também denotam o surgimento de relacionamentos mais diretos, como o entre a empresa capitalista e a organização não-capitalista. Desse modo, nota-se que a influência mútua, a correlação e a interdependência dessas diferentes formas de organizações tornaram-se evidentes (POCHMANN, 2004).. 3.2. Cooperativa de Reciclagem Singer (2002) alega que a modalidade básica da economia solidária é cooperativa de produção. A finalidade básica do empreendimento solidário é manter quantidade de materiais e qualidade de trabalho. O capital da empresa solidária não é remunerado, portanto, por distinguirem-se das empresas capitalistas, esses empreendimentos não geram lucros, pois não há distribuição de nenhuma parte de sua receita proporcionalmente às cotas de capital. Além disso, a tendência de empresas solidárias é de federarem-se, ou seja, formarem associações locais, regionais, nacionais e, até mesmo, internacionais. Os ganhos de escala que permitem reduzir custos, que é centralização dos capitais em empresas multinacionais, assim como necessidade de desenvolvimento de tecnologias, que origina inovações e possibilita a difusão de empreendimentos de maior risco e custo, impulsionam essa tendência. Para Ladeia, Carvalho e Faria (2009), grande parte das cooperativas nasce de maneira informal, cuja finalidade de sua atuação é de apoiar os catadores autônomos das cidades, assim como retirá-los da relação opressiva habitual, visando melhorias de renda e condições de vida aos integrantes do grupo. Pochmann (2004) cita a aspiração pela “sinergia coletiva”, cuja junção das atividades de campos, mesmo que diferentes, impulsionam o desenvolvimento de produção e renda, o caso de cooperativas de coleta seletiva. Ainda para o autor, reflexos da migração rural (êxodo), da ausência de instrução e da desqualificação da população ainda são manifestos na constituição de trabalho do cenário brasileiro. Mesmo havendo mudanças positivas como a alfabetização e a capacitação profissional, o desemprego e as faltas de oportunidades atingem a massa populacional. Devido a isso, as mudanças na economia tornam-se consequenciais. Portanto, tendo em vista as dificuldades alarmantes, grupos sociais unem-se com a finalidade de promover e. 200. Revista de Ciências Gerenciais.

(7) Bruno Diego Alcantara Cardozo, Geraldino Carneiro de Araújo, Telma R. Duarte Vaz. consolidar uma economia alternativa e popular, que é o caso da economia solidária, cujo princípio da autogestão nutre a motivação dos participantes.. 3.3. Autogestão de Empreendimentos Econômicos Solidários A autogestão contribui com o desenvolvimento de qualquer empreendimento solidário. Lechat e Barcelos (2008) presumem que, por apontar distância entre as relações capitalistas e assistencialistas, além de objetivar uma democracia mais radical, a autogestão torna-se um conceito central à economia solidária brasileira. A autogestão, segundo os autores, caracteriza-se por um conjunto de políticas multidimensionais, de propriedades sociais, políticas, técnicas e econômicas, que requerem condições aptas e propícias a sua implantação. Além disso, o conceito de autogestão interpela prática com teoria, pois possui conteúdo político, dificuldades práticas, além de polissemia em seu termo, ou seja, apresenta diferentes sentidos em sua palavra, o que sujeita titulação errada por parte dos empreendimentos capitalistas. É importante lembrar que a autogestão não é uma qualidade intrínseca a qualquer empreendimento, uma vez que o processo é sujeito tanto a avanços como retrocessos. Desse modo, conclui-se que a prática fiel resulta em aprendizados apropriados e esperados (LECHAT; BARCELOS, 2008). Segundo Singer (2002) algumas empresas constituídas a partir de princípios econômicos solidários, com o passar do tempo, adaptam-se ao capitalismo e deixam de ser solidárias. Por muitas vezes, aos alcançarem os objetivos presumidos, ou até mesmo, ao irem além do esperado, optam por mudarem particularidades de seu processo gestionário. Nesses casos, a aversão às mudanças por parte de cooperados mais antigos é facilmente observada. Ainda para o autor, por abandonarem o conceito de autogestão os empreendimentos solidários, em prática, rompem seus princípios, no entanto, a partir do plano mundial ACI (Aliança Cooperativa Internacional), os movimentos cooperativistas, assim como seus princípios em torno de aspectos democráticos e igualitários, persistem. Desse modo, observase que, em tese, a autogestão permanece, entretanto, em termos de prática e realidade, isso não acontece. Para Lechat e Barcelos (2008) a visão eficaz de autogestão provém da capacidade singular do homem de construir e transformar espontaneamente o que o circunda. Assim, a partir da concepção desse ponto em questão, compreende-se que os homens conseguem organizarem e dirigirem-se, de fato, quando têm autonomia para estabelecerem e procurarem o que lhe são importantes.. v.17 • n.25 • 2013 • p. 195 - 205. 201.

(8) Gestão de empreendimentos econômicos solidários: os desafios no contexto das cooperativas de reciclagem. 3.4. Gestão de Cooperativas de Reciclagem No início da década de vinte já era notória a penúria quanto ao fomento de preceitos econômicos solidários. Pochmann (2004) descreve, de maneira evidente, a necessidade de políticas públicas que firmem os conceitos e princípios da economia solidária, onde a concretização de um estatuto que propicie regimes e códigos de defesa genéricos às atividades de trabalho ministra subsídios consistentes a esse sistema econômico. Ainda para o autor, outro campo a ser preenchido por políticas públicas relaciona-se a constituição de uma rede de produção, difusão de tecnologia e extensão técnica baseadas na esfera da economia solidária. Conforme Ladeia, Carvalho e Faria (2009) para uma simplificada assimilação dos conhecimentos de gestão de empreendimentos, equipes de trabalho cooperativo adaptam o conhecimento já disponível, o caso dos empreendimentos tradicionais, tornando-os acessíveis aos trabalhadores, facilitando a compreensão do grupo. É nessa questão que parcerias assumem a tarefa, como universidades por meio de projetos de extensão, uma vez que o empreendimento não gere de modo autônomo, as atividades rotineiras, ou seja, não exerce a autogestão. Ainda para os autores, as cooperativas de catadores de materiais recicláveis se deparam com desafios como o de garantirem a promoção da sustentabilidade, assim como o de autogerarem subsídios em torno do movimento sustentável, o que repercute em sua própria sobrevivência. As demandas de natureza diversas apresentadas ao cotidiano dos grupos ligados ao sistema econômico solidário implicam no desempenho de atividades ajustadas em trabalho coletivo, democrático e autogestionado. Segundo Lechat e Barcelos (2008) grupos originados sem chefia ou supervisão possuem características natas de autogestão. Por conseguinte, princípios autogestionários creem na capacidade humana de organizar-se sem dirigentes. Essa conjectura está basilarmente integrada a movimentos anarquistas e libertários. A autogestão desponta concepções em torno de democracia e cidadania. Além disso, reatam reminiscências revolucionárias, já que cooperativismo e associações baseados em economia solidária são sinônimos de inovação. Para que as relações de trabalhos baseados em autogestão possam ser aprimoradas, é necessário que estudos e experiências na área sejam consolidados, ao passo que linhas de pesquisa sobre a temática também sejam avaliadas (LECHAT; BARCELOS, 2008). Os princípios do cooperativismo são as práticas que determinam o arranjo completo de um empreendimento solidário baseado na autogestão. De total maneira, a autogestão faz parte da economia cooperativista, no entanto, ela não se confunde com as cooperativas que assalariam seus operadores, já que esse procedimento denota propriamente a deficiência da autogestão no empreendimento (SINGER, 2002).. 202. Revista de Ciências Gerenciais.

(9) Bruno Diego Alcantara Cardozo, Geraldino Carneiro de Araújo, Telma R. Duarte Vaz. Conforme Ladeia, Carvalho e Faria (2009) ao passo que a realidade rotineira dos movimentos solidários determina que os atos sejam tomados de modo instantâneo e que garantam o cumprimento das atividades estipuladas, como o processo de coleta, processamento e comercialização de materiais, também há exigências referentes ao planejamento das atividades de trabalho e do desenvolvimento do próprio empreendimento solidário. Uma questão culminante no processo de consolidação do sistema solidário dentro de uma cooperativa é como tornar o trabalho adequadamente oportuno frente os distintos cenários da realidade. Além disso, criar uma boa maneira de fomentar oportunidades e possibilidades frente um contexto social cujo predomínio do pensamento capitalista está integralizado, exige empenho e ensaios múltiplos. Pochmann (2004) conjectura que o desígnio da economia solidária nada mais é que o fomento de estratégias de inclusão social apropriadas, que fortaleçam medidas envolvidas com a transferência de renda e seguem direções de liberdade social, política e econômica. Em decorrência do grave quadro econômico e social em que o país se encontrava, as manifestações de modos de produção dessemelhantes das atividades firmadas pelo sistema capitalista assumiram andamento a uma cadeia de mudanças no cenário nacional. Desse modo, afirma-se que o modo de produção alternativo está implantado no Brasil. A autogestão é um formato de governo ressurgido de crises político-econômicas. Ou seja, a cada desestruturação em uma dessas esferas, o poder tende a perder legitimidade, o que reduz sua potencialidade coercitiva e transporta ações dos denominados movimentos anárquicos (LECHAT; BARCELOS, 2008). Para Ladeia, Carvalho e Faria (2009), quando não se tem conhecimentos característicos do modo de produção solidário, inexperiência, ou até mesmo falta de formação ou ofício, por muitas vezes, parte da sociedade entende que os precursores de empreitadas, baseadas nos preceitos da economia solidária, nada mais são que “utópicos militantes”, além de idealistas insensatos e infatigáveis, o que demonstra o ceticismo e a descrença social. No entanto, Singer (2002) enfatiza que a partir do momento em que a sociedade conscientizar-se do papel e da estima social atribuída pela economia solidária, as alternativas serão devidamente viabilizadas. A economia solidária se desenvolve a partir das crises sociais, cuja constante e infatigável rivalidade entre os capitais privados elevam esses conflitos. A questão categórica da implantação de princípios econômicos solidários em um empreendimento ocorre no processo de conscientização dos componentes do grupo de que todos são donos por igual e devem exercer, em conjunto, a esperada autogestão. Explanar assuntos de bases democráticas e igualitárias estimula o empenho dos atuantes e contribui para a efetivação desse processo. A mesma conscientização e empenho devem ocorrer na sociedade de maneira coletiva, cujos componentes desse conjunto estejam verdadeiramente engajados em uma causa maior, v.17 • n.25 • 2013 • p. 195 - 205. 203.

(10) Gestão de empreendimentos econômicos solidários: os desafios no contexto das cooperativas de reciclagem. que vai além do que é visto rotineiramente. Desse modo, os princípios de uma economia voltada ao todo, não exclusivamente a determinadas partes, serão legitimamente oportunos.. 4. CONCLUSÕES O objetivo desse estudo foi o de analisar teoricamente os desafios enfrentados na gestão de um empreendimento econômico solidário, especificamente em cooperativas de reciclagem. A economia solidária tem como principais características a prevalência de preceitos baseados em equidade, soberania popular, cooperativismo, coletividade e autogestão, sendo confirmadores das disparidades desse segmento alternativo com o segmento organizado e formalizado pela economia capitalista. Os desafios na gestão de um empreendimento econômico solidário baseiam-se na própria resistência e competência do empreendimento em prosseguir insistentemente em suas atividades produtivas mesmo que dentro de um sistema dominante, cujo capital tornou-se o único pilar das atuais atividades econômicas, além de um impetuoso princípio social. A autogestão não é uma propriedade intrínseca às cooperativas de reciclagem, uma vez que a solidificação desse preceito atrela-se a práticas fiéis, sujeitas a avanços e retrocessos, que resultam em aprendizados apropriados e esperados, o que remete a almejada sinergia coletiva. Diante da discussão teórica, afirma-se que os empreendimentos baseados em economia solidária estão, em sua grande maioria, vinculados a empreitadas sociais cujos desempenhos gestionários, que refletem nos processos produtivos, demandam atuação e empenho mútuos. A autogestão é o maior desafio a ser alcançado pelos gestores dos empreendimentos econômicos solidários, em específico de cooperativas de reciclagem foco deste estudo.. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto Lei No. 12.305, de 02 de agosto de 2010. Aprova a Política Nacional de Resíduos Sólidos ; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Publicado no Diário Oficial da União - DOU de 03/08/2010. CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Tradução Magda Lopes. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. 296 p. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1994. 207 p. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010. 184 p. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2011. 200 p. LADEIA, Carlos Rodrigues; CARVALHO, Ana Maria Rodrigues de; FARIA, Phablo Bittencourt de. Planejamento estratégico: ferramenta para o desenvolvimento dos empreendimentos econômicos solidários. In: Maria Zanin; Rafaela Francisconi Gutierrez. (Org.). Economia Solidária: tecnologias em reciclagem de resíduos para geração de trabalho e renda. v. 1. São Carlos: Claraluz, 2009, p. 4555.. 204. Revista de Ciências Gerenciais.

(11) Bruno Diego Alcantara Cardozo, Geraldino Carneiro de Araújo, Telma R. Duarte Vaz. LECHAT, Noëlle Marie Paule; BARCELOS, Eronita da Silva. Autogestão: desafios políticos e metodológicos na incubação de empreendimentos econômicos solidários. Revista Katalysis, v. 11, 2008, p. 96-104. POCHMANN, Marcio. Economia solidária no Brasil: possibilidades e limites. Boletim de Mercado de Trabalho - Conjuntura e Análise, n. 24, Ago. 2004. Disponível em: <http://agencia.ipea.gov.br/ images/stories/PDFs/mercadodetrabalho/mt_24g.pdf>. Acessado em: 17 jun. 2012 SINGER, Paul Israel. A recente ressurreição da economia solidária no Brasil. In: SANTOS, Boaventura de Souza (org.). Produzir para viver: os caminhos da produção não capitalista. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p. 81-129.. v.17 • n.25 • 2013 • p. 195 - 205. 205.

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