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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO MESTRADO EM EDUCAÇÃO. LÚCIA HELENA COELHO DE OLIVEIRA LOPES. EDUCAÇÃO, MISSÃO E GÊNERO: AS CARTAS DE MARTHA HITE WATTS (1881 – 1895). SÃO BERNARDO DO CAMPO 2010.

(2) LÚCIA HELENA COELHO DE OLIVEIRA LOPES. EDUCAÇÃO, MISSÃO E GÊNERO: AS CARTAS DE MARTHA HITE WATTS (1881 – 1895). Dissertação apresentada como exigência parcial ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo sob a orientação da Profa. Dra. Jane Soares de Almeida, para a obtenção do título de Mestre em Educação. Linha de Pesquisa: Formação de Educadores. Orientação: Profa. Dra. Jane Soares de Almeida.. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2010.

(3) LÚCIA HELENA COELHO DE OLIVEIRA LOPES. EDUCAÇÃO, MISSÃO E GÊNERO: AS CARTAS DE MARTHA HITE WATTS (1881-1895). Dissertação apresentada como exigência parcial ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo sob a orientação da Profa. Dra. Jane Soares de Almeida, para a obtenção do título de Mestre em Educação.. Linha de pesquisa: Formação de Educadores. Data da defesa: 11 de março de 2010. BANCA EXAMINADORA. _____________________________________ Profa. Dra. Jane Soares de Almeida Universidade Metodista de São Paulo. _____________________________________ Profa. Dra. Sandra Duarte de Souza Universidade Metodista de São Paulo. __________________________________ Profa. Dra. Eliane Moura da Silva Universidade Estadual de Campinas.

(4) Esta pesquisa é dedicada a todos os professores e, principalmente, às professoras que em suas ações concretas creem na Educação como sustentáculo da igualdade e da democracia tanto para homens como para mulheres..

(5) AGRADECIMENTOS. Agradeço primeiramente a Deus pela bênção concedida de chegar até aqui na minha caminhada formativa. À Profa. Dra. Jane Soares de Almeida pela orientação e companheirismo. À Profa. Dra. Sandra Duarte de Souza e à Profa. Dra. Eliane Moura da Silva, pelas preciosas sugestões no meu exame de qualificação que, sem dúvida, foram de grande relevância para a finalização deste trabalho. Às professoras Ms. Elizabete Cristina Costa Renders, Ms. Valéria Cristina Vilhena e Ms. Renata Suman, pela sensibilidade e acolhimento ao socializar as descobertas realizadas durante a trajetória desta pesquisa. À professora Ms. Maria José Oliveira Russo (Marjô) que pacientemente corrigiu e ajudou a conferir as referências deste trabalho. Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo, pelos diálogos propiciados e pela reflexão acadêmica. Aos alunos e alunas do Programa de Pós-Graduação em Educação, e em especial à Adriana, Alessandra e Giselda, pelas descobertas compartilhadas e pela amizade, bem como os/as colegas de trabalho do Curso de Pedagogia/EAD da Metodista por acompanharem e se fazerem presentes neste momento da minha vida. À minha mãe Eunice Coelho de Oliveira (in memória), como mulher que sempre foi uma inspiração de força e coragem. Ao meu pai Urbino Gonçalves de Oliveira que sempre lutou para a minha formação. À minha família: Nicanor, Júnior, Lucas e Suellen, sempre presentes e parceiros em todos os momentos deste percurso. À Universidade Metodista de São Paulo, pelo suporte financeiro..

(6) “Os historiadores empenham-se em identificar e demarcar períodos, épocas, eras na seqüência dos séculos pela via da análise da substância do processo histórico”. (Dermeval Saviani).

(7) RESUMO. O presente estudo analisou a implantação e a prática educativa do trabalho da missionária metodista norte-americana Martha Hite Watts na virada do século XIX e início do século XX, na cidade de Piracicaba, situada no estado de São Paulo. Os eixos de análise para interpretar as interfaces históricas do período baseiam-se em três aspectos: gênero, educação e missão. Martha Watts, é considerada a primeira educadora metodista no Brasil. Sua atuação se deu a partir de 1881, na cidade de Piracicaba, onde fundou o Colégio Piracicabano, que permanece em funcionamento até o presente momento. Sua experiência educacional foi relevante para o desempenho das escolas metodistas ao adotar uma pedagogia inovadora, nos moldes dos países europeus e de sua terra natal. No Brasil do final do século XIX, Martha Watts mostrou determinação ao enfrentar as diferenças de uma nova cultura e novo ambiente com hábitos, gestos e palavras estranhas para ela. O estudo procurou, a partir do diálogo com as cartas deixadas pela missionária, contribuir para a linha de pesquisa em História da Educação Brasileira. A obra da missionária Martha Watts se configura como um valioso legado para o estudo da História da Educação, História das Mulheres e Gênero.. Palavras-chave: mulher; missão; gênero; metodismo; educação feminina..

(8) ABSTRACT. This study is about the implantation and the work education of the North American missionary Matha Hite Watts between the end of the century XIX and the beginning of the century XX, in the city of Piracicaba, located in the state of São Paulo. The analysis to interpret the historical interfaces of the period is based in three points: gender, education and mission. Martha Watts, is considerate the first Methodist educator in Brazil. Her reputation was built in 1881, in the city of Piracicaba, where she founded the Piracicabano School, which still exists. Her educational experience was relevant for the Methodists Schools performance, adopting an innovative pedagogy, having the templates of the European countries and also from her home place. During the final century XIX in Brazil, Martha Watts showed determination in facing the difference of a new culture and environment with habits, gestures and words unknown for her. This study sought from the dialog of the letters left by the missionary, contributing for the research line in Brazilian History Education. The missionary work of Martha Watts is a valuable legacy for the study in History of Education, Women’s History and Gender.. Key-words: women; mission; gender; methodism; female education..

(9) LISTA DE ILUSTRAÇÕES. Figura 1 – Martha Hite Watts – a chegada ao Brasil em 1881...................................... 19. Figura 2 – Primeira página do livro de matriculas aberto por Martha Hite Watts em 1881...................................................................................................... 75. Figura 3 – Primeiro prédio próprio, inaugurado em 1884.............................................. 78 Figura 4 – Martha Hite Watts – 1845 a 1909................................................................ 96.

(10) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................11 CAPÍTULO 1 – HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO............................................20 1.1 GÊNERO E HISTÓRIA: UM CAMPO SILENCIADO ................................................24 1.2 HISTÓRIA, GÊNERO E EDUCAÇÃO BRASILEIRA ................................................28 1.3 AS MISSIONÁRIAS METODISTAS: MISSÃO, GÊNERO E DESTINO ....................32 CAPÍTULO 2 MISSIONÁRIAS METODISTAS NO BRASIL.......................................39 2.1 O MOVIMENTO MISSIONÁRIO FEMININO METODISTA NO SÉCULO XIX..........43 2.2 AS MULHERES METODISTAS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ..............................48 2.3 MARTHA HITE WATTS – SUA OBRA MISSIONÁRIA E EDUCACIONAL...............52 2.4 ALGUNS VESTÍGIOS PARA OS ESTUDOS DE GÊNERO NAS CARTAS DE MARTHA HITE WATTS .................................................................................................66 CAPÍTULO 3 MARTHA HITE WATTS – UM LEGADO HISTÓRICO FEMININO.........70 3.1 MISSÃO: EDUCAR E CIVILIZAR.............................................................................71 3.2 DESTINO MANIFESTO – DESTINO FEMININO? ...................................................79 3.3 AS IDEIAS FEMINISTAS – JEANNE MARIE RENOTTE E MARTHA HITE WATTS.................................................................................................. 81 3.4 O LEGADO DE MARTHA HITE WATTS NA EDUCAÇÃO METODISTA - UM OLHAR ALÉM DO COLÉGIO PIRACICABANO............................................................85 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................91 REFERÊNCIAS..............................................................................................................97 OBRAS CONSULTADAS ............................................................................................100 ANEXO A – CARTAS DE MARTHA HITE WATTS MISSÃO NO COLÉGIO PIRACICABANO (PIRACICABA – SP) 1881-1895.....................................................102 ANEXO B – ILUSTRAÇÕES .......................................................................................178.

(11) 11. INTRODUÇÃO. O presente estudo se propôs a desenvolver uma análise de gênero, na interface da educação e da religião, no diálogo com as cartas deixadas pela educadora missionária metodista norte-americana Martha Hite Watts (1845-1909) durante sua atuação docente no Colégio Piracicabano, na cidade de Piracicaba, situada no estado de São Paulo, no período de 1881 a 1895. A missionária de origem norte-americana foi considerada a primeira educadora metodista no Brasil. Sua atuação se deu a partir de 1881 na cidade de Piracicaba, onde fundou o Colégio Piracicabano, que permanece em funcionamento até o presente momento. Em razão desse objetivo, o foco principal desta pesquisa consistiu em estabelecer as relações de gênero explicitadas nas cartas de Martha Watts, reveladas nas descrições do seu cotidiano como mulher e educadora metodista, no contexto do final do século XIX, em uma nova cultura repleta de hábitos, gestos, língua e modos de se expressar tão diferentes dos seus. As análises consideraram os estudos e os conceitos de gênero no contexto educacional brasileiro no final do século XIX e início do século XX; o movimento missionário metodista no Brasil e a atuação e obras deixadas pela missionária Martha Watts. Foram consideradas as questões da emancipação feminina, as identidades, os papéis sociais de gênero e as alteridades como representações históricas e culturais de movimentos de mulheres e suas relações com a educação. A pesquisa teve como ponto fundante o ano de 1881, por ser a data de chegada e início da atuação da missionária norte-americana Martha Watts no Brasil, especificamente na cidade de Piracicaba. No ano de 1895, encerrou-se o período de atuação da missionária metodista na cidade de Piracicaba, no Colégio Piracicabano, quando foi atuar em outras instituições metodistas em outras regiões do país. O órgão missionário das mulheres norte-americanas Woman’s Foreign Missionary Society, instituição fundada nos Estados Unidos da América em 1878 por mulheres metodistas após a Guerra Civil Americana (1861-1865), caracterizava-se por.

(12) 12. ser uma organização feminina que objetivava a criação de novos espaços de atuação pelas sociedades metodistas missionárias, defendia o direito ao voto feminino e o combate ao álcool. Em termos oficiais, esse órgão tornou-se responsável pela viabilização do envio de Martha Watts para o Brasil, que aqui chegou como a primeira missionária metodista norte-americana com uma atuação remunerada, com a recomendação para atuar na cidade de Piracicaba. Mesquita (2001) aponta, segundo consta nos anais desse mesmo órgão – reunido em 1º de fevereiro de 1881 – que Martha, com 36 anos de idade, era uma mulher:. [...] possuidora de um corpo forte e saudável, ao lado de uma mente ativa e bem-disciplinada por uma experiência de sete anos em escolas, ela é alegre, tem um temperamento equilibrado, com uma rara combinação de amabilidade e força de caráter. Tudo de si, vida, tempo e talentos, ela consagrou a Deus há vários anos passados, e tem estado permanentemente engajada nos diferentes ramos de trabalho da igreja. Por dois anos, ela desejou servir como missionária e quando viu abrir-se o Brasil, a fé simples foi manifesta em sua resposta: ‘Eis aqui a criada do Pai’. (Woman’s Advocate, annual, 1881, apud Mesquita, 2001, p. 5). Tratava-se de uma pessoa experiente, madura e com muitas qualificações para atuar no âmbito educacional e religioso. Ao embarcar em Nova York, no dia 26 de março de 1881, com destino ao Brasil, Martha trazia consigo, além da vontade do servir a Deus e ao próximo, muitos anseios acerca do que encontraria em um país de língua, usos e costumes totalmente diferentes da sua cultura norte-americana. Contudo, não estava só, tinha como companheiros/as os/as missionários/as metodistas John James Ransom; James William Koger, com sua esposa e o pequeno filho e o missionário James L. Kennedy, ainda solteiro, todos com a mesma tarefa de educar e de evangelizar. De acordo com Mesquida (1994), na história do protestantismo, como outros movimentos protestantes vindos dos Estados Unidos da América, os metodistas também trouxeram ao se estabelecer no Brasil, a ideologia do “destino manifesto”. Entendiam a nação americana como povo escolhido por Deus para “salvar” o mundo, o.

(13) 13. modelo ideal de nação, no sentido político e econômico, a ser seguido pelos outros povos e nações. Indubitavelmente, junto com essa ideologia, também estava a ideologia política voltada no sentido da expansão econômica que casava perfeitamente com os ideais de progresso, tanto na política norte-americana como na política de expansão, sonhada e almejada pelos líderes republicanos do Brasil oitocentista. Isso possibilitou, neste período, os incentivos de missionários metodistas em terras brasileiras. Faz-se necessário ressaltar que o metodismo, pós-Guerra Civil, foi considerada a denominação dominante nos Estados Unidos da América, tendo em sua missão não só espalhar as Escrituras Sagradas, contidas na Bíblia, como também fomentar a moralidade. (MESQUIDA, 1994) Martha Watts, ao vir para o Brasil em 1881 com a missão de fundar escolas metodistas (entre elas, o Colégio Piracicabano), tinha a seu favor o apoio e incentivo de uma igreja forte e sedimentada juntamente com a história do seu país que, ao ser designada para a missão de educar o povo brasileiro, poderia contar com a ajuda e o suporte financeiro na realização de sua tarefa. Marcílio (2005) aponta que no âmbito da História da Educação no final do século XIX, o sistema público de ensino nacional vivenciava um ensino precário com inúmeras dificuldades, desde a má formação dos/as professores/as até as precárias instalações das escolas, que tinham um excessivo número de alunos nas salas de aula. Também era frequente os/as professores/as lecionarem em suas próprias casas, com os seus próprios materiais. Com a precariedade do ensino público, de acordo com Almeida (1998), abriu-se espaço para a iniciativa do ensino particular. Assim, foram criadas escolas particulares, que inicialmente atendiam às minorias estrangeiras, como também se solidificou a dominação das escolas católicas em regime de internato por todo o país. Quanto à educação das mulheres, as poucas que tinham acesso ao ensino das primeiras letras faziam-no somente por intermédio de preceptoras, porque a grande maioria das mulheres permanecia no analfabetismo. Vale lembrar que este foi o contexto educacional brasileiro na ocasião da chegada de Martha Hite Watts ao Brasil e, especificamente, à cidade de Piracicaba , em 1881..

(14) 14. A fixação dessa etapa (1881-1895) também se caracterizou por ter sido o maior período de atuação da educadora metodista em terras brasileiras. No relato de suas cartas deste período, é expressiva a carga de informações históricas, suas descrições detalhadas da forma de organização da sociedade, bem como os usos e costumes da época. Nesse sentido, a pesquisa teve uma delimitação espacial privilegiada. Vários fatores influenciaram a escolha por uma análise de gênero nas cartas deixadas por Martha Watts e da sua atuação no Colégio Piracicabano.. É possível perceber as. marcas dessa atuação tanto na cidade de Piracicaba como na História da Educação do estado de São Paulo, nos registros dos jornais da época e nas cartas de Martha Watts que foram sinais deixados por esse passado. Um destes fatores foi o de ter a possibilidade de investigar pelo olhar de uma mulher, educadora, protestante e estrangeira, a construção política-social, histórica e cultural, elaborada sobre as diferenças sexuais, tornando possível verificar como eram construídas essas relações sociais entre os sexos opostos, onde por sua vez, encontram-se as relações de poder marcadas na sociedade pelas situações geradoras de conflitos e de contradições. O interesse pelo estudo dessa temática está relacionado com toda a minha trajetória como educadora e metodista. Minha relação com o trabalho educacional realizado por mulheres ligadas ao metodismo teve seu início no âmbito pessoal, pois há cinquenta e um anos sou metodista por tradição e confissão pública de fé, e há vinte e sete anos me tornei esposa de pastor metodista. O metodismo é parte integrante da minha vida desde o meu nascimento; em todo esse tempo tenho procurado me inteirar sobre os diferentes aspectos de atuação do metodismo no Brasil e no mundo, além de participar dessa instituição, conhecida como Igreja Metodista, por meio dos diversos grupos etários e de diversas áreas, como música, liturgia, escolas dominicais e grupos societários (crianças, jovens e mulheres). O convívio na igreja local, bem como nos diversos grupos de atuação foram gradativamente norteando a minha trajetória profissional, o que resultou no meu ingresso no Curso Superior e minha opção pelo Curso de Pedagogia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), para buscar a fundamentação teórica necessária.

(15) 15. para minha prática como docente. Atualmente estou no curso de Pedagogia a distância da UMESP, na formação de futuros/as professores/as em Docência na Educação Infantil e nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. As experiências vividas, tanto pessoais quanto profissionais, têm possibilitado o aprofundamento de estudos e na condução de investigações que me auxiliam na relação: educação, mulher e Igreja. A relevância do pequeno relato baseia-se nas concepções de Nóvoa (1992), que retratam a história de vida como parte da dinâmica do processo identitário do/a professor/a ao longo de sua formação. Diante das considerações realizadas, passa-se a elucidar os fundamentos utilizados neste estudo. A partir das cartas deixadas pela missionária Martha Watts, reunidas e organizadas em língua portuguesa por Zuleica Mesquita no livro Evangelizar e Civilizar: Cartas de Martha Watts, 1881-1908, publicado em 2001, tornou-se possível a realização da análise de gênero em diálogo com esse riquíssimo documento histórico, que faz possível a incursão entre o passado e o presente, levando-nos a conhecer a vida e atuação dessa missionária e educadora, pois:. Suas cartas comunicam diversas revelações e intuições, efêmeras ou permanentes, de uma mulher que se descobria em uma nova cultura, um novo ambiente, repleto de hábitos estranhos e novidades em cada gesto ou palavra. Em alguns momentos, descreve com precisão prédios e construções, trazendo-nos um retrato das primeiras edificações, suas finalidades, seus usos. Em outros, dialoga sobre as diferenças culturais, ressaltando-se, em suas observações, o tom de quem estava aprendendo com a nova vida, nunca menosprezando os hábitos dos brasileiros e dessa terra que, segundo ela própria, era a terra em que viria a ser feliz. (MESQUITA, 2001, p. 6). É oportuno ressaltar a peculiaridade que compõe a estrutura textual de uma carta, segundo afirma Castro (2000): “Tanto o que se escreve como o que se lê fazem parte de um jogo de estados textuais que inevitavelmente obrigam a leituras outras do próprio presente, à luz modificadora, e talvez mistificadora, do que leio na carta que agora recebo e leio”. (p. 15).

(16) 16. Assim, a pesquisa buscou compreender o contexto, bem como a finalidade particular em que foram endereçadas as cartas de Martha Watts, na preservação de sua essência histórica e documental, lembrando o que ressalta o historiador francês Pierre Nora (1979): “[..], acontecimentos capitais podem ter lugar sem que se fale deles. É o fato de apreendê-los retrospectivamente que constitui o acontecimento. O fato de terem acontecido não os torna históricos. Para que haja acontecimento é necessário que seja conhecido.” (p. 181) A missionária Martha Watts, ao escrever suas cartas tinha como remetente a Woman’s Advocate, um jornal sob a direção da Woman’s Foreign Missionary Society, como órgão oficial da divulgação dos trabalhos de missão metodista realizados por todo o mundo. Nesse sentido, é possível notar que além de um pronunciamento detalhado do seu trabalho, bem como dos/as demais companheiros/as de atuação, suas cartas trazem também um discurso carregado de apelos de ajuda financeira, para que o seu povo se voltasse para a missão que ela, como missionária estava comprometida e empenhada em cumprir. Diante da literatura pertinente à temática estudada, é oportuno ressaltar que apesar de já existirem trabalhos sobre gênero, educação e religião, um estudo de análise da categoria de gênero em documentos históricos é ainda bastante raro. Partindo desse pressuposto, esta investigação tem como um dos seus objetivos contar a história de uma mulher e focalizar não somente as relações entre homens e mulheres, mas também as relações entre mulheres. Para isso, são analisados os acontecimentos, as tensões, que, em diferentes momentos do passado, foram produtores de gênero. Assim, buscou-se entender como se desenvolviam, por exemplo, a afinidade da professora com sua aluna; a relação da diretora com seus pares; a interação da estrangeira com o cotidiano de uma cultura diferenciada, em vista do gênero e da etnia. São poucos os estudos que nos propiciam um resgate histórico e a possibilidade de interpretar o estabelecimento, a gênese e a importância dos fatos históricos que envolvem mulheres. A abordagem de análise de gênero em documentos históricos ainda é rara em trabalhos acadêmicos, especialmente, no campo da História da Educação no Brasil. Por isso, a importância de enfatizar a complexidade e a diversidade das experiências e.

(17) 17. das realizações vivenciadas pela missionária Martha Watts durante os quatorze anos que permaneceu na cidade de Piracicaba. Para realizar esta análise, foi proposta a divisão temática em: visão de mulher no ordenamento do mundo; o olhar feminino sobre a educação; alteridade, rebeldia, submissão – uma mulher num mundo masculino; destino manifesto ou destino feminino? Provocar, por meio das cartas de Martha Watts, um diálogo com os fatos e ideias, focalizando as contradições estabelecidas na sua época, bem como entre sua realidade e a realidade da sociedade em que se achava inserida, é um dos aspectos que demonstram a relevância deste estudo. A inserção desta investigação no domínio dos estudos na categoria de análise de gênero, na interface da educação e religião, voltou-se para a realidade de uma mulher, missionária, educadora, protestante e estrangeira. Desta maneira, em sua abrangência, a pesquisa contempla estes estudos presentes na formação e atuação de Martha Watts. Com o propósito de entender as questões de análise da categoria de gênero e educação, gênero e religião, foi realizado um estudo das cartas de Martha Hite Watts e de outros autores/as, que legitimam sua atuação no Colégio Piracicabano. Assim, esta dissertação pretende ser uma contribuição para desvendar as intrincadas relações entre a mulher, o grupo e o fato, mostrando como o ser social (mulher) articula-se com o fato social, como ser atuante na história da sociedade em que vive. Além das cartas como bibliografia primária, também são trazidas fotografias1 das turmas, do corpo docente, das missionárias, do prédio escolar e de solenidades. Estes documentos permitiram a visualização de momentos marcantes da história do Colégio Piracicabano, o que possibilitou a real evidência da administração e atuação de Martha Watts na instituição de ensino. Feitas estas considerações, a estrutura da pesquisa é apresentada na sequência.. 1. É importante ressaltar que as imagens utilizadas nesta pesquisa têm caráter estritamente ilustrativo..

(18) 18. O capítulo 1 – História das Mulheres e Gênero – aborda as origens e o desenvolvimento dos estudos sobre as categorias de: gênero na História, gênero e educação, gênero e missão metodista. O capítulo 2 – Missionárias metodistas no Brasil – relata o movimento metodista de missão na trajetória das missionárias metodistas a partir do século XIX até o início do século XX nos documentos e registros diversos no âmbito social, educacional e religioso, como também a apresentação biográfica da obra e atuação da missionária Martha Watts em terras brasileiras. O capítulo 3 – Martha Hite Watts: um legado histórico feminino – propõe uma análise das cartas de Martha Watts na ótica dos estudos de gênero. Para isto, são exploradas as seguintes abordagens: a mulher no mundo; a mulher na educação; a mulher e a alteridade/rebeldia/submissão/diferença; e, a mulher e o destino manifesto ou destino feminino? A partir do enfoque da história de uma mulher e sua atuação docente no final do século XIX e início do século XX, vale lembrar que “as transformações da cultura e as mudanças nas ideias nascem das dificuldades que são simultaneamente aquelas de uma época e as de cada indivíduo histórico, homem ou mulher” (DEL PRIORE, 1997, p. 9) Desse modo, o estudo pretendeu contribuir para a História da Educação e História das Mulheres, centrada na categoria de análise de gênero, que nasce de uma experiência proporcionada pela vivência de uma transformação cultural e as mudanças que a ela se vinculam nas lutas e reivindicações. Tal aspecto foi realizado por meio do relato da vida, em forma de cartas, baseado também na atuação de uma missionária metodista e norte-americana, e do legado educacional deixado por ela na cidade de Piracicaba, bem como por onde teve a oportunidade de passar..

(19) 19. Fig. 1: Martha Hite Watts – a chegada ao Brasil em 1881. Fonte: ELIAS (2001).

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