HQ
BRASIL
.ADÃO
ITUí�RUSGARAI�
OS
MESTRES
WILL
EISNER
MOEBIUS
ROBERT
CRUMB
OS EUROPEUS
-MAX
JAIME
MARTIN
NEIL GAILMAI\J
DAVE
MCKEAN
MILO
MANARA
GUIDO CREPAX
GIARDINO
O
MENINO
CALVIN
OS MALVADOS
.LOBO
E
MARSHALL LAW
OIMPÉRIO
DO
QUADRINHO
-"
JAPONES
Lone Wolf osamurai de GosekiKojima
o
CENTENÁRIO
DA
O/TA
VA
ARTE
ZERO
Melho,Peça
G,áfica
I,
II,
1/1eIV SetUnive,sitá,io
MaioBBSetemb,o
89,
90,
91 Jornal-laboratóriodoCurso de Jornalismo da Universi dade Federal de Santa Cata rinaEdição concluída em 10 de
março de 1992
Colaboração: Javier Come,
JoséAntônioSilva
(textos),
Cláudio
Tognolli
, Maria José Lessa
(fotos)
Copy-writers:
Jornalistasprofessores.Luis
Scotto,RicardoBarreto
Diagramação:
AdrianaMartorano,
Angelita
Cor rea,FernandadeMedeiros,
MarliHenicka, Márcia Re
gina
TellesEdiçãoe
supervisão:
Professor Ricardo Barreto
(MTb
2708-RS)
Editores assistentes: Emer
son
Gasperin,
Frank MaiaEdição:
Adriano Fiamoncini, Ana Paula Luckman,
Andrea
Tridapalli,
AndressaFabris,Antonio Gustavo
D'Ávila,
Claudine Nunes,CleiaSchmitz,DanielleDu
rieux,-Ewaldo
Willerding
Neto, Ivan Flores, Jean
Raupp,
Jefferson Dias,João Santos, Janaina de
Oliveira, Jocelma Santana,
Laine
Valgas,
Linete Martins, Maria Paula Pereira,
Marques
Casara, MônicaSilva, Renata de Avellar,
Simone Pereira, Vladimir
Brandão, Walfried Wach holz
Fotografia:
Cristina Gallo,Ivan
Flores,'
VictorCarlson Laboratóriofotográfico:
CristinaGallo,Ivan Flores,
NelsonCorreia,NilvaBian
co, Pedro Melo, Victor
Carlson
Textos: Cláudia Renata de
Oliveira, Cristina
Galfo,
Emerson
Gasperin,
Fabiano Melato, Frank Maia,
Ivaldo Brasil Jr., Josiane
Laps,
KátiaKlock,Marques
Casara, Nilva Bianco
Montagem:
Marinho-Acabamento e
impressão:
Imprefar
Redação:Curso de Jornalis
mo
(UFSC-CCE-COM),
Trindade, CEP
88045,
Florianópolis,
SC Telefones: (0482) 31-9215, 31-9490 Telefax:(0482)
34-4969I
Telex:(0482)
34-4969 Distribuiçãogratuita
2 Circulaçãodirigida
QUADRINHOS
COMPLETAM
CENTENÁRIO
EM
�996,
JÁ
ESTAMOS COMEMORANDO
Embora
atravésmuitado ítalo-brasileirogente
desconheça,
Angelo Agos
oBrasil,
tini éumdospaíses
ondeprimeiro
se manifestou o que agora chamamosa oitava arte,
os
quadrinhos.
Comopersonagem ZéCaipora
publicado
em 1884 na sua RevistaIlustrada,
Agostini
seinscreveentreosprecursores do quadrinho mundialaolado do
suiço Rodolphe Tõpt
fer,
do alemão WilhelmBuschou ofrancêsChristophe
que no séculopassado
exerciam as"narrativas
figuradas":
ilustrações
que sempre vinhamacompanhadas
delegendas.
Não havia sido criada aimagem
dobalão,
com as fa/�oupensamentosdas personagense, por
isso,
teó ricoseestudiosos considersmesteperíodo
comoa
pré-história
dosquadrinhos.
Dequalquer
maneira,
estavaimplantado
um novomeio,
uma nova forma decomunicação
e uma nova arte,que viria a setransformarna mais consumida no
pla!,eta.
daily
strips
(tiras diárias,
empreto
ebranco),
passando
pelas sunday
pages(suplementos
domi nicaisacores),
osálbunseasmodernasseqüên
cias seriadas (asgraphic-novels),
muita coisaaconteceu comeste
irrequieto
novomeio de comunicação.
Depois
de muitossuper-heróis
eantiheróis,
desua vertenteunderground
(o comix),
o
quadrinho contemporâneo experiments
desdeos anos60osabor
adulto,
introduzindooerotismoqueamoralista sociedade dosanosSO
impe
dia decircular. Hámuitotempo
quadrinho
deixoudeserpassatempoexclusivamente infantil. E
parte
desseststus,conquistado
aolongo
de décadastomouformaemnovembrode89,
quandoonze
especialistas
convidadospelo
Lucca Incontri, o mais
respeitado
salão dequadrinhos
domundo,
demarcaram comogrande
desencs deador da história dosquadrinhos,
o meninocareca Yellow Kid criado por Richard Felton
Outcault paraser
publicado
noNew YorkJournal. Os 11
especialistas
decidiramque 1896 assinala o início e,
portanto,
quedaqui
aquatro
anos os
quadrinhos,
comics,
bande-desinée oucomix
completam
seucentenário. Satisfeitoscom o furonacional,
colocamos em suasmãos umaedição especial
do Zero sobreestanotávelarte.Alguns
mestres, novostalentos,
tendências.osprincipais prêmios
e ummaterial sobreoquasedesconhecido
quadrinho japonês
fazemparte
desse número que,senãosaiupróximo
da Bienal deQuadrinhos,
realizada em novembro de 91no
Rio,
sai com quatro anos de antecedência docentenário,
quecomemoramosdesde agora.OEd/to,
DIREITO
A
TER
NASCIMENTO
As
inovações
como osbalões,
astirasisoladas,
as
edições
seriadaseoadvento dacorsurgiriam
nofinal do séculopassado
com adisputa
acirrada por maisleitores,
de dois barões daimprensa
novsiorquins, Joseph
Pulitzer e William Randolph
Hearst(que
inspirou
CidadãoKane,
de Orson Welles).Eraoprenúncio
deumpoderoso
império
editorial que movimenta milhões deexemplares,
publicados
emquase todoomundo,
decentenas deautores epersonsgens, quetem
seu
exemplo
mais concretonomangá
japonês,
ondeas
tiragens alcançam
milhões deexempla
res.E não estamosfalandodo
desconhecido,
masvivo,
quadrinho
chinês. Assim, daspioneiras
Javie,Come , de Zona B4
,
'A
luz dasabe-se
investiguçéo histórica,
que osquadrinhos
fo ramproduto
deuma
ampla
evoluçéo
no usoconjunto
detextoseimagens
gráficas
comomeio
deexpressão
de caráter nsrrstivo.Esta
evoluçêo adquiriu particular
brilhoem diferentes
países
europeus
aolongo
doséculo
XIX,
e com base nela seproduziu,
aofinal desseperíodo
enossuplementos grá
ficos da
imprensa
dos Estados Unidos daAmérica,
umadeilnitivs'
fusão de textos eimagens
queimplantou
uma novelinguagem
nsrrstive,
alinguagem
dosquadrinhos.
Oprimeiro
exemplo
histórico dessafusão,
enquanto
produto
de
forma
diretaerápida,
aorigem
do novo meioexpressivo,
estevemsterielizedo
pela
fusão
detextosedesenhosda Richard Felton
Outcault
que foi batizadocomo The Yellow Kid and His New Phono
graph,
que foipublicada
no The AmericanHumorist,
suplemento
do diário The New IorkJournal,
em 25 de outubro de 1896.Em
conseqüência,
consideramosestadatacomo
significativa
daorigem
dosquadrinhos
em sua
formulação
definitiva
e, porisso,
do nascimento da história dos
quadrinhos,
com o
qual,
o centenário deste meio de expressão
ecomunicação
fica fixado automati csmentenadata de25 de outubro de 1996".Esta
poderia
tersido a fórmula.Mas o
importante
reside
em que o centenáriodáaos
quadrinhos
umagr.ande oportu
nidade-.
Nãoa percamos.
Que
osquadrinhos
não a percam.Os
quadrinhos
merecem estadata. Devemos daraosquadrinhos
o que é dosquadrinhos:
seudireito
a ter nascimento e seu direito a celebrar seuspróximos
cem anos de vida.Biografias
ilegais
do
Rock'n
Roll
A
coleção
Rock'n'Roll, Cornics,
da editora norte-americana
Revolutionary
Comicsjá
lançou
biografias quadriniza
das dos Guns'u'Roses, Sex
Pistolls, ACIDC,
Living
Colour,
BonJovieoutros.Agora
a
coleção
ataca de FaithNo
MoreeAnthrax, todas
biogra
fias não-autorizadas. Um dos
gibis
contaatrajetória
da banda 2 Live
Crew,
censuradaemvários
lugares
nos EUA por seu conteúdo "obsceno". Asbiografias
maisimportantes
dacoleção
são Beatles e PinkFloyd Experiences.
Os
gibis
saemtodo mêsepo--dem ser encontrados na livra
riaDevir-Rua.
Augusto
deToledo, 83,
Tel.278-0384,
Aclimação,
São Paulo(J.L)
Argentinos
retratam
a
Dama
Negra
A editora L&PM
lançou
nosegundo
semestre de 91 o álbum Billie
Holliday,
de JoséMunõs
(desenho)
e CarlosSampayo (roteiro).
Esteéoúltimo trabalho da
principal
dupla
latino-americana de qua drinhoscontemporâneos
e oprimeiro
lançado
no Brasil.O álbum é uma
espécie
debiografia
da cantora norte-americana consideradaaDama
Negra
do Jazz. A história falade um
jornalista nova-iorqui
no, que escreve um
artigo
sobreos30anosdamortedacan
tora,sem
jamais
terouvido fa lar dela. Apartir
daí,
entramem cena asmemórias de
Billie,
numvisualquecarreganastin
tas e na violência. Os autores
citam muito oracismo e cons
troem uma personagem melo
dromática
apelando
paraocli chê "cantoranegra,drogada
eprostituída"
.Para Munose
Sampayo
, Billie
Holliday
é,
antes detudo,
uma
oportunidade
para fala rem do tema mais constanteem seus trabalhos: os
margi
nais destruídos
pelos
EUA. Aedição
brasileira saiuprejudi
cadana
tradução,
que foifeita apartir
daedição
francesa enão da
original.
Vários sentidos foram trocadoseatéa
tipo
grafia
dealguns
balõesfoi
alterada.
Osoutrostrabalhosda
dupla
estão nosprincipais gibis
quesurgiram
nos últimos 15 anos,da
Frigidaire
italiana à Rawlnova-iorquina
passando pela
Escape,
daInglaterra,
EI Víbora,
daEspanha
e a FierroQuadrinho
nasceu careca
YELLOW
KID
ASSINALA
NASCIMENTO
Um
demeninoorelhascareca,grandes
feio,
eque usa uma roupa
amarela de muito mau
gosto,
foi o
primeiro
personagem dehistóriasem
quadrinhos
criadopela
pena deumdesenhista.Escolhidopor 11
especialistas
reunidos com a difícil missão de encontrara
origem
dessesmeiode
comunicação,
YellowKid,
criadopor Richard FeItonOutcault para um
suplemento
dominical da
imprensa
novaiorquina
em1896,
foi eleitoopersonagemquetransformouanti gas
ilustrações
legendadas
nashistórias em
quadrinhos
semelhantes às milhares que atual mente
pipocam
emjornais
e revistas de todoomundo.
O
ponto
crucialdodebateentre os
especialistas,
realizado durante trêsdiasemLucca,
naItália,
foilocalizaradivisãoentre a
pré-história
e a históriados
quadrinhos.
Identificar adata que
separaria
os textosilustrados com
imagens,
cria dosespecialmente
para leiturae
acompanhados
por desenhoscomplementares,
dos autênticos
comics,
onde textos e imagens se fundem em uma cena
de caráter eminentemente nar
rativo visual. Há muito
tempo
que oshistoriadores de comics
commaior
prestígio
internacionaldefendemquea
origem
dessa forma de narrativa
gráfica
data de 1896. Era
preciso,
entretanto,
a iniciativa defixar,
para ogrande público
e em escala
mundial,
umadata denascimento dos
quadrinhos
paraser celebrada com maior rele vância.
Osautores da decisão foram
os norte-americanos Maurice
Horn,
Richard MarschalleDa-vid
Pascal;
ositalianos Rinaldo Traini e CláudioBertieri,
ofrancês Claude
Moliterni,
obritânico Denis
Gifford,
o brasileiro
Álvaro
deMoya,
o português
VascoGranja
e osespanhóis Luiz Gasca e
Javier
Come,
segundo
aseleção
efetuada naprimavera
de 1989pelos
organizadores
do Lucca Incontri89. A decisão final pouco se
preocupouemfacilitarum con
senso
rapidamente,
e durantetrês diasdebateram com o
pú
blico
qual
seriaadata mais adequada
paramarcaroinício doscomics. O
ponto
altofoiapolê
micacriadaporDenis
Gifford,
que num arroubo nacionalista pregava a data como sendo
1867,
ano decriação
do personagem
Ally
Sloper.
No final doencontro,
todos assinaram odocumento que determinava
ser 1896 o ano que marcaria o início do
gênero,
o que noscoloca aapenas
quatro
anosdeseu centenário.
Paramostraro
quanto
sediferenciavaahistória
dapré-his
tõria dos
quadrinhos,
foram exibidos trabalhos dos precursoresdos
comics,
desdeosuíço
Rodolphe Topfler
até o alemão WilhelmBuseh,
Apretensão
de queosquadrinhos
tenhamsurgido
naEuropa
antesdosEstadosUnidos foi
logo
descartada,
pois
foi na América que apareceram
pela
primeira
vez noatualformato.
Assim,
"devemosdaraos
quadrinhos
oqueé dosquadrinhos:
seu direito de ternascimentoeseudireitode cele brar seus
próximos
cem anosde
vida",
dizJavier
Come,
umdos
jurados de
Lucca.Marque.
Casara
MARÇO
92- ZERO ZINECentenário
foi
decidido
em
Lucca
"Os 11
especialistas
internacionais
reunidos emLucca
estabeleceram,
por maioriaabsoluta,
que1896 foi o ano do nasci
mentodos
quadrinhos.
Um ano no
qual,
através da personagem Ye llow
Kid,
osquadrinhos,
assumindo
contribuições
expressivas,
ateriormente
experimentadas
porcriadoresdediversos
paí
ses,
alcançaram peculia
res
características
de linguagem e resultaram no
surgimento
de um novomeiode
comunicação.
Lucca,
30 deoutubrode1989".3
Antes
portagens enaltecendode todas essas reas maravilhas da sede das
próximas Olimpíadas,
um carajá
fazia suasHQs
contandoolado de Barcelonaquenão
interessa ao turismo mundial: ruas
sujas,
bares epensões
imundas,
prostituição
e delinqüência.
Jaime Martin nasceu em
1966,
no subúrbio deHospita
letde
Llombregat,
em Barce lona(Espanha),
ondevive atéhoje.
Estreouem 1981 nas revistas
juvenis
catalãsCanibal,
Bichos,
Pulgarcito
e HumoraTope.
Seisanosdepois,
começou a colaborar para a revista El
Vtbots,
desenhando roteiros de Alfredo Pons e
Onliyu.
Em
89,
oeditor darevista,
José MariaBerenguer, pediu
a eleuma
HQ
maislonga
para suacoleção
HistoriesCompletas.
Assim foiparida Sangre
deBarrio
(Sangue
deBairro,
publicada no Brasil
pelas
Grandes Aventuras
Animal),
umahistória
marginal
e que emmuitosmomentoslembraain
fânciarebeldedeseuautor. Na
história,
os personagens estudamno InstitutoPedraforca a
mesma escola escrota em que
Jaime Martin estudoue vivem
numabusca frenética de
algum
"aditivo" para ascabeças.
Embalada
pelo
rock espanhol
doBarrÍcada,
Burning
eRsmoncin,
Sangre
de Berrie deuoprêmio
derevelação
paraJaime Martin no 8° Salão de
Quadrinhos
de Barcelona.Além do nome da história ter
sidotiradodeumadasmúsicas
de
Rsmoncin,
o personagemprincipal,
Vicen,
só ouve coisascomo"vouemboradecasa,
nãoposso
agüentar,
voubeber até arrebentar como se minha vida acabassejá,
porque amanhã não tenho que
trarnpar
(
EmSangue
deBairro
lembraumpouco
dasuavidarebelde, embalada poraditivos
epelorock
espanhol
A
Espanha
real
e
imunda
(Rock'n
RollMarnadoBurning)
E,
ainda "nuncapuderam
medomar porque eu nasci torto,
ensinaram a caminharmas me
proibiram
de correr, o parqueera oEdene eunão
pude
pisar
na grama, fiz amor com uma
mulhere tive quepagarpor is
so...
"
(Hey
Nene:Burning).
Com o aval deSangre
deBertio,
Jaime Martin não parou mais de
produzir
e dese nhouLaBascaQue
Mas CascaeFloresSobre El
Asfalto,
umálbumdedicadoalas chicascu
jas
históriasCristine,
Mertiiio,
Marga
eMeitéderam as caraspor
aqui
pela
Animal. Seuúltimo trabalho é LosPrimosDel
Pare,
umaespécie
de continuação
deSangre
deBarrio,
giran
do em torno das aventuras de
um grupo de
amigos,
sempreinspirada
nas coisas que o rodeiam e, por isso mesmo,
cheias derealidade e humor.
Emer.o_n
G••perin
M_ARÇO
92·ZERO ZINEMARTIN
REVELA A
PODRIDÃO
DO��
Francesco
ceu há 35Cap
anos emdevillaBarnascelona,
naEspanha.
Max,
seupseudônimo,
criou PeterPank,
seu personagemuniversal no mundo das
HQs.
A história é uma versão anár
quica
do famosso livro PeterPan,
de JamesBarrie,
tempe
radacomaltasdosagens
desacanagem e
presepadas
entrepunks, hippies,
sackers e ninfômanas,
algumas
das tribosque habitam o cenário a ilha daPunkilândia.
Max começou a
publicar
seusquadrinhos
aos 17 anos, na revistaunderground
espa nhola ElRolloMascarado. Em1977,
criou oprimeiro
personagem,
Gustavo,
que estreou somente dois anosdepois
narevista El Víbora. O persona gem virou um símbolo damo
vimentação
freak-anarcoecológica (???)
queteveo seuauge na
Espanha
no final da década de 70. Com apopulari
zação,
Gustavosetornoubandeira de movimentos radicais
babacas,
queoadotaramcomosímbolo. Resultado: Max sim
plesmente
acabou com o personagem.
Depois
de provarosdoisla dos da fama comGustavo,
Max inventaa série5
Mujeres
e mostracomoelaspodem
sermalvadas.
Raquel,
umaninfetade 16anosé a
reencarnação
da maravilhosa Rita
Hay-Punkilândia
tem
muita
sacanagem
LÁ,
PETER
PAN VIRA
ANTI-HEROI
worth;
asgêmeas
siamesasDaisye
Violeta;
Susan,
aatrizmaisquente
dopornô
mundial;
a aristocrata russa Irina Ale xandrovinae a misteriosa Ma
racaibo saíram por
aqui pela
revista Animal e deixarammuitos leitores desiludidos
com o
mulherio
...Peter Panksaiudodesenho de
um
punk arquivado
eseu nomepintou
assim,
poracaso,numaconversa de
praia.
O cenárioideal para suas aventuras sur
giu depois
que Max assistiu aofilme PeterPan.
Hoje,
épubli
cadona
Espanha,
Dinamarca,
Suécia,
França,
Brasileoutrospaíses.
Nada mau paraeste fãde Robert Crumb que
queria
ser artista e desistiu das artes
plásticas
porque descobriu quea HQ
atinge
mais pessoas. Eé umcaminho maisimediato.
Emerson
G.sperin
Transgressivo,Peter Punknãopoupaosmoralistas.
Suasaventurassexuaisnãotêm limitese a
imaginaçãode Max nãoreprimeasfantasias
. ZERO ZINE•
MARÇO
92ONDE
VOCÊ
ENCONTRA
ESPANHÓiS
_'Depois
dos norte-americanos, os álbuns e
gibis
daEspanha
são os que maischegam
aoBrasil. Este éumfenômeno recente que re
flete o estouro dos
quadri
nhosespnhóis,
que tiveramuma
evolução
surpreenden
tenosanos80.Atualmente,
sãoos mais
importantes
daEuropa,
superando
a Itáliae a
França.
No
Brasil,
são duasasimportadoras
quetrazemestesquadrinhos:
aCiências Humanas
(Rua
7 deAbril, 264,loja
B2,Região
Central)
e aLetraviva(Av.
Rebouças,2080,
tel883-3279,Pinhei
ros, Zona
Oeste).
Asduas'localizadas
emSãoPaulo,é claro.ALetravivafoia
pioneira
emquadrinhos
espanhóis
etraz
principalmente
os ál buns revistas das editorasEurocomic
(Metal Hur1ant)
e Norma
(Cimoc
eCairo)
ACiências Humanastraz o
material daToutain
(Toten
eZona84
-na
foto),
La Cupula (E1 Víbora)
e álbuns daComplot.
Nas duas livrarias é
possí
vel encontrar não sóquadri
nhosespanhóis,
mas também norte-americanos, franceses, italianos e até
brasileiros
(como
a obradeZéfiro, que foi
publicada
emálbumde luxo
pela
mes maeditorada revista(E1
Víbora).
Asedições espanho
las sãocom
freqüências
melhoresque as
originais.
Umacuriosidade:ascole
ções com as obras
comple
tasdosamericanosRichard
Corben e Robert
Crump,
foram
publicadas
antes naEspanha
do que nosEUA,sentiu?
(J.L).
5'.
',,:,
MARÇO.
92- ZERO ZINE-i"Um
monstro
naminha
sopa
CAL
VIN: GENIAL
FUSÃO
DE FANTASIA
E REALIDADE
Em
comtermosduas-realidadesde arte,jogar
aomesmo tempo
-a di
mensão do mundo exterior e ada
subjetividade
interior-, semperder
opique
e muitomenos agraça
(graça
sofisticada,
diga-se
depassagem)
não é paraqualquer
um.Aliás,
noplaneta
dosquadrinhos,
são bastante raros os desenhistasque,nastiraspara
jornal,
arriscam deixarde lado anarrativa lineare
apostam
(quase)
tudona
subjetividade.
Ainda por cima com um bem resolvido e
cômico desenho.
Pois o norte-americano Bill Watterson faz tudo issoe mui
to mais na saga infantil e coti
diana do endiabrado
Calvin,
junto
com seuamigo
depelú
cia,
otigre
Haroldo. Comojá
notou oescritor Pat
Oliphant,
percebe-se
nas historietas deCalvin "o sentimento de que
as
palavras podem realçar
a arte,e aarte
pode
fazero mesmopela escrita,
equeumamisturacuidadosamente elaborada
desses
ingredientes pode
criar'umgrau deencantamento que
revela a
genialidade".
Genialidade é uma
palavra
forte,
talvezexagerada
no ca so. Mas não está muitolonge
disso o resultadoconcreto dasinstituições,
doraciocíniodo lirismo,
da ironia(e
tambémdacrueldade
infantil)
queWattersonsintetizouem seutrabalho.
Seu
protagonista,
o meninoCalvin- filho únicode
pais jo
vens,
tipo
classe média - viveamaior
parte
dotempo "exila do"num universo de fantasia.Comoaliáscostumamfazeras
crianças.
Só que o roterista e dese nhista dessas tiras sabe dosar
osdoismomentos
(o
domundo exteriore odomundo interiorde
Calvin)
cominvejável
sen-o
dia dogaroto
-extremamente
solitário - é recheado de
nuances
psicológicas,
filosóficas,
poéticas
esociológicas.
Nada
disso,
entretanto, traz"ruído"
prejudicial
às caóticas tiras deCalvin,
regidas pelo
mais puro sensode humor.
sibilidade. O clima criado por
ele só
perde
seu encantamento, paracairna
pesada
realidade, extra-sonhos,
quando
entramem cena osadultos.Wat
terson,
comoummágico,
abo leafronteiraentrerealeimagi
nário,
concretude
edelírio,
aventura e contidiano.
Um
parêntese:
pensando-se
sobrea_profundidade
ernaturi
dade de muitas
colocações
rei
tas por
Calvin,
não é fora depropósito
traçar uma breveanalogia
entre ele eMafalda,
agarotinha
inquieta
criada pelo
argentino
Quina.
Ambostêm em comum a crítica do
"mundo lá
fora",
douniverso dos adultos. Mas é interessanteperceber
quecom todasua inteligência
eintuição,
CalvinWattersonésempre, intrínseca
e
profundamente,
norte-americana.
O
contraponto
no mundoprofundamente pessoal
do guri, paradoxalmente,
é forneci do por seucompanheiro
inseparável,
otigre
depelúcia.
Porque
éprecisamente
Haralda,
otigre
depelúcia,
que fazo
papel
de consciênciaviva,
de"grilo
falante" dodestempera
do eimpulsivo
garoto
de cabe loarrepiado.
Haroldo falacoma vozdobomsenso,sem
pater
nalismo ou tom repressor.
Apenas
dáum"toque"
-quase sempre comfina ironia - de ir
mão mais velho e mais expe
riente,
quenoentantotambém nãodispensa
uma bela travessura.
Quer
dizer,
vivenumpaís
razoavelmente
civilizado,
com umaqualidade
de vidainvejá
vel(do
ponto
devista da maio ria dos cidadãos do TerceiroMundo),
eportanto
pouco sabe,
ou seinteressa,
arespeito
doambienteviciado da
política
e da economia. Já a Mafalda
Quino
em momentoalgum
esquece que é
argentina,
latinoamericana,
habitante do hemisfério
pobre
doplaneta.
Portanto,
seusquestionamen
tos
-por mais
filosóficos,
moraiseatémetafísicos que
sejam
- nunca deixam de lado a
pro blemática
social,
.queatropela
a todos
nós,
terceiro-mundistas.
Os
pais,
aprofessora,
a amiguinha
de Calvinsomente passam
pelo
universoparticular
edenso do
guri,
com a missãoespecial
de lembrar-lhe quefantasia também tem limites.
Mas,
comoCalvinnoscomprova,
quadrinho
porquadrinho,
tira
após
tira,
oslimites não foram'feitos para ele. E evidente
mente, somos nós
-a
legião
mundial de fãs da historieta
(no
Brasil,
publicada
por vá riosjornais
e emlivrosda Editora
Cedibra)
-que mais ga
nhamos comisso.
José Antonio Silva
Tigre
de Pelúcia - Voitemos a Calvin. Suas historietas
não cedem espaço paraa
hipo
crisia.Os
pais
domenino,
voltae
meia,
querem assassiná-ia.
portantas que ele
apronta.
EJoséAntOnioSilva éjornalistaeescritor,
autor de Tiques& Taques(poesia, 1985,
SãoPaulo)eAtmpresséodaCultura'(en
saiosjornallsticos, 1990: Ed.Sulina,Porto
Alegre). AtualmenteéeditordojornalVer
são dosJornalistas,doSindicato dos Jor
nalistas doRGS.
The
Spirit
inovou
as
HQ
A
ARTE
DO CINEMA
NO PAPEL
O
cinemaformarame uma literaturabelo casal nas mãos do mestre
Will Eisner. Com 50anosde lá
pis
epapel,
ele é chamado de"poeta
dosquadrinhos"
ouquem sabe "Orson Welles da
HQ".
Dono deuma inovadora técnicaexpressionista
ede ricasnarrações,
ocriadordo'cult-hero',
TheSpirit
tornou-se umafigura importante
einfluentenahistória dos
quadrinhos.
Durante a febre dos superheróis surge
Spirit
em 1940.Eleescondeseuolhar atrás de uma
máscara e seu belo corpo mus
culoso em autênticosternos da
época.
Bonitoesalvadordapá
tria ele luta contra seus inimigos, na maioria das vezes mu
lheres. São
lindas,
sedutoras eapaixonadas pela
coragemepelo lado carente do herói.
Spirit
também temuma
noiva,
necessidade comum desses
podero
sos,quede
alguma
maneira de veriam mostrar sua "virilidadeemasculinidade".
Mas
Spirit
é muito diferente dos heróis comsuper-poderes
mágicos.
Eisnerqueria
tambémentrar na
onda,
mas estava àprocura de uma personagem
que nãotivessetanta
força
equevivessealém da lei."Então ima
ginei Denny
Colt,
umdetetive,
queédadocomomortoeenter
rado. Na
realidade,
ele mora numcemitério,
massai delátodososdiasparacombatero cri
me...
"
A marca
registrada
de WillEisnerpassouaficar conhecida com
Spirit,
umaespécie
de he rói de romancepolicial
noir,
bem ao estilo dos anos 40. Foia
partir
daí que Eisnermostrousuas novas
técnicas,
uma delasadepassaratela do cinema pa ra o
papel.
Comose fossestory
board
pronto
para serfilmado:ocenárioricoemsombrae
luz;
o som é tão trabalhado que dá
quase para escutar, os enqua
dramentos ousados para
HQ,
ora
big
close-up,
oragrandes
planos;
otravelling,
osplanos
subjetivos
eoscortes, tudo novo na
linguagem
dosquadri�hos.
A
ligação
daseqüência perfeita
dos
quadros
leva aimaginar
afusão e a
superposição mágica
do cinema. O tom irônico e
amargo, influenciados por Go
gol
eTchecov,
as narrativasvisuais e
expressões
muito fortesnosrostos das personagenssão características marcantes de
Eisner.
Com o início da
Segunda
GuerraMundial,
Will Eisnerparou de desenhar suas.histó rias e começou a lutar contra
o
nazismo,
ajudando
osaliadoscom seutrabalho.
Depois
de 25anos de
abstinência,
volta comtoda
força.
Sentiu que a buscadas históriasem
quadrinhos
pelos adultos havia aumentado
muito
ejá
estava na hora deretrataramelancólica realidade
que ele conheceu.Foientão que
surgiram
apartir
de1978
Um Contrato comDeus,
Ansia deViver,
OEdifícioe asérieCitys.
Nessas históriasovelhoguru,
hoje
com74 anos, contaavidadas pessoas que sãofacilmente
encontradas nas ruas:
margi
nais,
miseráveis,
neuróticos esonhadores.
Figuras
do sub mundo e que viveram o tristeperíodo
dedepressão
e criseeconômica com a
quebra
daBolsanos anos 30. As histórias
de Eisnersepassamnos
cortiços
e
guetos
esituamanostalgia
dacidade,
com suassituações psi
cológicas
e valores sociais. Tudoo que ele
presenciou.
Criado nosbairros
pobres
deNova
Iorgue,
já
comoito anosde idadenscava as
calçadas
com suamaniade desenhar. Com 15anos foi vender
jornais pelas
ruas, ondefaziao
papel
demeroespectador
domundo quegira
va em suavolta. Foinessa
época
queWill Eisner começouafor mularashistóriasque maistar
de colocaria no
papel
e que otransformou em um mestre. Katis Klock ZEROZINE•
MARÇO
92 Vilãssensuaise aberturascriativas, fazemdeSpirit
umcult daHQDOISLIVROS
ABORDAM
VIDAE OBRA
Em
julho
doanopassado,
Will Eisner recebeuo Tro féu HQ-MIX de Melhor
Obra Teóricade
1990,
como livro A Arte
Seqüencial.
Nele o autorexpõe
suasidéias, teorias e conselhos sobre a
prática
de comocontarhistórias em
quadri
nhos.Olivro éresultadodo
cursosobreArte
Seqüencial
que Eisner lecionou pormuitos anos na Escola de ArtesVisuais de Nova Ior
que, e é destinado a estu
dantes, profissionais
e professores de artes
gráficas.
Mas não é só.
Nofinal de 1991foi
lança
da nosEstados Unidos suaautobiografia.
O livro chama-se To The Heart Oi
Storm e traz, nas suas 208
páginas,
avidado desenhistadesdea
emigração
desuafamíliaparaosEUAnoiní cio do século.
�
Ultimo vôo
de
Shnobble
Uma das personagens melancólicas de Eisner é
Gerhard
ShnobbJe,
urnh umilde
guarda-no
turno, que
quando
criança sabia voar. Até que um dia
apanhou
dospais
queproibiram
o meninode imitar os
pássaros.
Anos
depois
assaltaramoprédio
em que trabalhava e o chefe lhemandou
pra rua.
Revoltado,
resolveu mostrar a todo
mundo doque eracapaz.
Foi paraoaltodoedifício
e de lá saiu voando. No
alto do
prédio
também aconteciaaluta deSpirit
contraos assaltantese lá
de baixo a multidão
acompanhava
o tiroteio."Não chore por Shnob bJe... Melhorchorar
pela
humanidade inteira...Porque
nenhuma pessoanaquela
multidão queolhava,
nenhum delesnotou ou sequer
suspei
tou que
naquele
dia Gerhard ShnobbJe tinha
voado",
concluiEisner. JáÁlvaro
deMoya,
autor de Shazam e pes
quisador
deHQ,
apro veita-se do ditadoecolo ca nele suaspalavras:
"Não choremospor Will
Wisner,
melhor chorarpela
humanidadeinteira,
pois ninguém
notou quenaqueles
anos, umgênio
tinhaescritoedesenhado
The
Spirit
.:e; HumanismonosenredosSbnobble
achava que osolhares eram para ele e
de
repente
foiatingido
por um,a baladirigida
aSpirit.
Eatingido
emple
novôo.
.
� 7
,..,
A
EXPLOSAO
OQUADRINHO
"
JAPONES
o
MAIOR MERCADO
DO
MUNDO
-PRODUZ
EDIÇOES
COM
CENTENAS
DE
PÁGINAS
E
TIRAGENS DE
MILHOES
DE
EXEMPLARES, VALORIZAM SEUS
ARTISTAS:
GRINGOS
NAO
ENTRAM
Não
japonês
é São Paulo. Massenta apressaodo no
metrô,
abre amochilaetiraumlivro para ler.
A
edição
é empapel
jornal,
com umas
quinhentas páginas.
Quando
terminar de ler, o sujeito jogará
o livro fora. Tudobem. Pelo preço que pagou a
passagem de metrô, ele
pode
compraroutro
mangá
emqual
quer
quiosque
ou num distri buidor automático.Mangá
é otipo
de históriaem
quadrinhos
que seproduz,
I¢
e vai para o lixo noJapão.
Eum
típico
objeto
deconsumoque movimenta 60 editoras e
milhões de
exemplares
anuais.Qualquer japonês
lê-ou
já
leu
-mangas,
desde que elessurgiram
na década de 50, omomento em que o
país
arrasado
pela
guerra, caminhava para o Primeiro Mundo.Para isso, a
rígida
sociedadejaponesa
tevequecederaosin vestimentosestrangeiros, prin
cipalmente
dos Estados Unidos, que estavam interessados
numa
potência
capitalista
oriental para
contrabalançar
com a China e URSS. Foi a
ocidentalização
doJapão,
queteve seu ritmo metódico en
charcado poruma ânsia de fu
gir
datradiçãõ.
Apartamentos
funcionais e "modernos" foram
ocupando
olugar
daarqui
tetura
típica
esendoocupados
porengenhocas
eletrodomésticas. O mercado editorial vive
uma
explosão
e osquadrinhos,
fugindo
paradoxalmente
dopadrão
americano desde os anos 20, firma-se com o mang<Í.
O
mangá
tem umaperiodi
cidade semanal, mas
alguns
chegam
a ser editados bimestralmente. Eletem nomínimo 200
paginas
empapel jornal,
impressas
numa única cor, variando doroxo aopreto. Oen
redo
pode
sercompleto
ou sedividirem
capítulos.
Ashistó rias poucofogem
dos clichês ocidcnrâis, ouseja,
centos defadas,
históriasromânticas,
policiais
oueróticas, Agrande
popularidade
que osmangás
conquistaram
está no fato quecadapersonagemdesuashistó rias é um elo entre o
público
e seu
próprio
imaginário.
Essespersonagens têm
reações
humanas: amam,
choram,
odeiam,lutam esofrem. O lei
tor usa essas histórias como a
válvula de escape de seu dia a-dia.
A
tiragem
semanal dosmangás chega
aalguns
milhões deexemplares,
ultrapassando
osprincipais jornais regionais-
doJapão.
Masnão é otipo
de revistaque secoleciona. Seu vo
lume o
impede
deserestocadonos minúsculos
apartamentos
japoneses.
Ao término da lei tura, omangá
vai para o.lixo ou é vendido comopapel
velho.
As personagens e histórias mais lidas no Ocidente têm
pouca
penetração
nesse rnercado,
Snoopy,
Mickey
Mouse eoutrossãoconhecidos
pelos ja
poneses comoartigos
de merchandising,
estampados
emcadernos,
bolsas eenvelopes.
Quando
transpostos
para tirasdiárias, �ssespersonagens não
conseguem
empatia
suficiente paraconquistar
opúblico
japo
nês- a leitura de
quadrinhos
estrangeiros
ficarestritaa intelectuais e aos
próprios
dese nhistas demangás.
O
mangá
difere muito doquadrinho
ocidental,
a começar
pelo
volume depáginas
etipo
depapel
-queofazficar
mais
parecido
com umalistatelefônica do que com um
gibi.
A
propria
palavra mangá
engloba
não sóquadrinhos
mastambém a revista crítica de
HQ,
cartum, caricatura e atédesenho animado.
Há
mangás
para todos osgostosefaixasetárias,
de
lazerou didáticos. As
crianças
emidade escolar lêem
shogaku,
que enfoca vários assuntosco mo matemática, história e lín guavernácula. Direcionandoa essepúblico,
osbogsku
reser vaalgumas
páginas
coloridase empapel
couché sempre comartigos
epublicidade
de interesse infantil.
Para os
adolescentes,
existe oshojo mangá,
com cerca de 45 títulosdiferentes. Osprinci
pais
são o Ribbon, Nak ayvoshi,
BessatsuMaagareto
eBessatsu
Shoje-Furendo
, .todoscom
circulação
mensal acimade um milhão de
exemplares.
Mai,de
Ryoichi
IkegamiTEXTOS. FABIANO MELATO
O
shojo
mangá
aglutina
todasascaracterísticas para
conquis
tar o
público
médio feminino.Suas histórias são escritas por
mulheres e,
pelo
menos nessetipo
depublicação,
o machismo
japonês
cai por terra,As histórias de um
shojo
mangá
sãoromânticas,
citandoamores
impossíveis
e separações dolorosas,
embaladas porurn
happy
end de canto de fa das. Mas há umacrescente valorização
do suicídio para asheroínas solitárias do
mangá
feminino. Quando asituação
aperta,
um hara-kirirápido
dáa
solução,
comlágrimas
garantidasentre as leitoras.
O
mangá
direcionado aosgarotos
-shonen
mangá
-re
pete o modelo editorial deseu
similar feminino:
algumas pá
ginas
empapel
couchécom artigos
epublicidade próprios
ao seupúblico.
Em 1980,oscinco shanenmangás
líderes de mercado
-Shonen,
Champion,
ShonenJump,
ShanenMaga
zine, Shonen
Sunday
eShonenKing
-venderam
juntos
novemilhões de
exemplares.
Só que o que é romântico
emum,torna-seviolênciaese xo no outro. O realismo do
mangá
masculino éexplorado
com
precisão cinematográfica
pelos
desenhistas,que colocamem suas histórias tudo o que
é raro numa sociedade como a
japonesa.
Apenas
ospêlos
pubianos
sãoproibidos
por leinessesdesenhos. A
explicação:
o
Japão
põe
umlimiteemtudo,atémesmono mundo
explícito
do shonen
mangá.
DICA
Mangá,
Opoder
dosquadrinhosjaponeses
antes de falar da ,
arte,fala do
país.
Eumarelaçãomuito
estreita
TESE
VIRA
LIVRO
E
GANHA
PRÊMIO
NO
SALÃO
DE
LUCCA
OS
MESTRES
TUDO
COMEÇOU
EM 46,
SUCESSO
TRANSFORMOU
AKIRA EM FILME
OsamuTezuka, O Deus dosQuadrinhosjaponeses,precursos da HQnoJapão
O
desfruta dedesenhista deumamangá
posi
ção
privilegiada
no Japão.
Comoaconcorrênciacomautores
estrangeiros
é quasenula, o desenhista
pode
fazerno
mangá
seuúnico
meio de sobrevivência. E comum eleser alvo de
autógrafos,
entrevistas e outras
conseqüências
da fama,
O
pioneiro
da moderna HQjaponesa
é Osamu Tesuka,nascido em Osaka em 1926. Sua estréia foi em
1946,
comO Diário de Ma
Chan,
publi
cado na revista infantil Maini chi
Shogakusei
Shinnun.É
oautordo
primeito
desenhoani madojaponês,
Tetsuwan Atomu
(Atomo
Poderoso),
de1963, maistarde rebatizado de
Astroboy
-sucesso nosEsta dos Unidos. Além de desenhis ta, Tesuka é médico e
físico,
o que
possibilita
umtoque'
de realidade emtodasas suas his tórias deficção
científica.Contudo,
oprimeiro
desenhista a se consagrar no Oci dente foi Katsuhiro
atamo,
autorde Akira. Em 1987, Oto
mo realizou um
longa-metra
gem de
animação
com seuprin
cipal
personagem. Resultado: Akira, o filme,possibilitou
aedição
de seurespectivo
mangá (1.800
páginas
nooriginal)
naEuropa
e Estados Unidos.NoBrasil,ahistória está sendo
publicada
em fascículospela
Editora Globo e o filme es
treou recentemente emcircui
tocomercial.
Akira éo
grande
êJ6toedito rial-financeiro de Katsuhiro atamo. Ele foi oresponsável
pela
invasãonipônica
dasHQs,
recuperando
aimagem
desgastada
de monstrosgigan
tescos e desenhos animados inócuos.Em
Akira,
Tóquio
(ou
melhor,
Nco-Tokyo)
lemhra LosAngeles
devastadapelo
progresso,
criada porRidley
ScottemBladeRunner.Nessecená
rio convivem e
brigam
delinqüentes
juvenis, junkiest poli
ciais e
crianças
paranorrnais
,uma das
quais
atendepelo
codinome Akira. Lone Wolf & Cub foi outro
mangá
que adquiriu
projeção
na Amefica eEuropa.
Seu autor, GosekiKojima,
aposta nosingredien
tesclássicos do
gênero: predo
mínio deimagens
sobre o texto, boa
ambientação
históricaeviolênciaesadismo por todas
as
páginas.
O estilorealista deKojima
influenciouexplicita
mente Frank Millerna
criação
de Ronin e no remake que o
desenhista americano fez de Batman
(O
Cavaleiro dasTte-Outlanders,deJohliManabe
vas,
1(87).
Há aindaMei: a ninfeta
psi
cótica criada por Kazuka Kudoe
Ryoichi Ikegami,
umaversãooriental do mito de
super-he
rói. 2/0Nights
(Yukinobu
Hoshino),
ummangá
deficção
científica que parece feito sob medida para o mercado inter nacional.Crying
Freeman, de Kazuo Koike, mix desadornasoquismo
e violênciaemdosesinéditas 'para um
mangá
-com
paralelos
apenascom aprodu
ção
ultra-underground.
Enfim,
se você
pretende
ser um neófitoem
HQs
japonesas,
dêumavasculhada nas
importadoras.
Todos esses títulos foram tra
duzidos para o
inglês
ouespanhol.
NoBrasil,só foram
lançados
Akira eLone Wolf.AventuranaAmérica do Sul
ZEROZINE•
MARÇO
92Quem
estiver interessá do em seaprofundar
no universo domangá
. deve ler
Mangá:
O Poder dos
Quadrinhos
Japoneses
(Editora
Estação Liberdade,
19(1),
de Sonia BibeLuyten,
O livro,originalmente,
a teseque
garantiu
otítulo de doutoradoem
Comunicação
(ECN
USP),
ganhou
oprêmio
RomanoCalisi de 1990, noSalão In ternacional de Lucca
(Itália),
como o melhor ensaio sobre
quadrinhos.
Paraescrevê-los,a
jornalista
e
professora
Sonia BibeLuy
ten viveu no
Japão
entre 84 e90. Lecionouculturabrasileira
e
língua
portuguesanaUniversidade de Estudos
Estrangei
ros de Osaka e
Tóquio,
além deintroduzirocurso de Cultu- . raComparada
através da HQna Universidade de Tsukuba.
Sonia é'autora também de O
Que
é Histórias emQuadri
nhos
(Editora
Brasileira, 1(85)
e História em
Quadrinhos,
Leitura Crítica