Departamento
de Pedagogia
e
trducação
da
IJniversidade
de
Évora
coNcrrçÕEs
r
pnÁTIcAS
DE
AvALmÇÃo
DAS
APRENDIZAGENS
NA
EDUCAÇÃO
7PRE,.ESCOLAR
SOFIA
ISABEL VARELA RIBEIRO
Dissertação Apresentada para Obtenção do Grau
deMestre em Educaçáo Variante Avaliação Educacional
Orientadora: Professora
Dr.uIsabel
JoséFialho
Évora
AGRADECIMENTOS
O
esfudo
apresentado representaum
processode
construção cooperadasobre
asconcepções e as práticas de avaliação das aprendizagens das criangas na educação
pré-escolar.
Neste
processode
construção cooperada,quero
agtadecera
todos
os
quecontribuíram.
À
Professora Doutora Isabel Fialho, a orientação eo
apoio que em momentos decisivostornaram possível a continuidade deste percurso.
À
ProfessoraDoutora
Assunção Folque,
à
ProfessoraDoutora
Marília
Cid
e
aoProfessor Doutor
António
Neto, pela colaboração na validação do guião da entrevista.Às
miúas
colegasFloripes,
à
Conceição,à
Fátima
e à
Céupor
terem sido muito
prestáveis,
me
ajudaremem
todos
os
momentose,
assim,tornar
possívela
minhaaprendizagem
sobre
a
avaliaçáodas
aprendizagensdas
criançasna
educaçãopré-escolar.
À
minha colega Elisabete por todo o apoio, desde oinício,
no interesse por este tema e,por muitas vezes, ter comigo partilhado os seus saberes de educadora de infância.
A
Ana Rute pela leitura crítica e apurada desta dissertação.Aos
meus pais, meus primeiros
mestres,por terem
estado sempre carinhosamente presentes.Ao Rui por,
com
a
sua serenidadee
confiança,me ter
ajudadoa
acreditarque
estadissertação tinha fim.
RS
1
A
todos muito obrigadoRESUMO
Esta dissertação teve como problemática as concepções
e
as práticas de avaliação dasaprendizagens, que três educadoras de inÍância da cidade de Évora
utilizam
para avaliaras crianças, segundo o modelo ou as orientações curriculares que seguem. Privilegiámos
uma investigação de natureza qualitativa,
utilizando
como estratégia de investigagão oestudo de casos e como técnicas de recolha e tratamento de dados a observação, análise
documental, inquérito por entrevista e análise de conteúdo.
Para desenvolver este estudo, realiziâmos pesquisa
bibliográfica
sobre a avaliação dasaprendízagens
em geral e
segundo os modelos curricularesdo Movimento
da EscolaModerna e o High-Scope e as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar.
Constatámos que o referencial teórico da acção educativa influencia as concepções e as
práticas
de
avaliação
das
aprendizagensque
as
educadorasutilizam.
Tambémverificiâmos alguns constrangimentos na avaliação, nomeadamente o tamanho do grupo
de crianças.
Palawas-chave: conc€pções
de
avaliação, práticas de avaliação, educação pré-escolar,aprerdizagens, instrumentos de avaliação e modelos de avaliação.
CONCEPTIONS
AND
ASSESSMENT PRACTISES
OF
LEARNING
IN
PRE-SCHOOL
EDUCATION
This thesis had as problematic the conceptions and assessment practises
of
learning thatthree nursery teachers
in
thecity of
Évora use to assess children, according to the modelor the curriculum guidelines according to they
work.
We gave importanceto
a researchof
a qualitative nature, using as strategy research the studyof
cases and as techniquesfor
collecting and processing data the observation, document analysis, enquiry throughinterview
and analysis of the content.To
developthis
study,we
conductedbibliographic
research aboutthe
assessmentof
leaming
in
general and accordingthe
curricular modelsof
the
Movernentof
ModernSchool, High-Scope and Guidelines for the Pre-School education.
We
found
that the theoreticalframework
of
educational action influences educational concepts and practiceof
leaming
assessmentthat
educators use.We
havealso
seensome constraints in the assessment, including the size of the group
of
children.INDICE
DE
QUADROS.
...viii
ÍNprcB
ÍNorcr
DE
FrcuRAS
ENQUADRAMENTO
CONCEPTUAL.
. .....
1.5 lnstrumentos de avaliação das aprendizagens. ..1XINTRODUÇAO.
...10
JUSTTFTCAÇÃO
DO
TEMA...
...13
t6
cApÍTULo
r
-
A AVALTAÇÃo
Na
EDUCAÇÃo
PRE-ESCOLAR.
. . .. ... t 6 1.1 Algumas considerações sobre a educação pré-escolarem Portugal...16
1.2 Diplomas legais que enquadram a avaliação na educação pré-escolar...
...19
1.3 Avaliação e aprendizagen na educação
pré-escolar...
...23
1.3.1 Definição do conceito
"aprendizagem"..
...23
1 .3.2 Definição do conceito "avaliação". . . . 1.3.3
A
relação entre aprendizagem e avaliação .25 .31 1.4A
observação como modo deavaliar.
....36
.39 .42 .47 1.5.2 Registos de observações. 1.5.3 Questionários e
entrevistas...
...44
1.5.4 Validade, fidelidade e
praticabilidade.
...45
CAPÍTULO
2
_
MODELOS CURRICULARES PARA
A
EDUCAÇÃO
PRE-ESCOLAR...
2.1 Antecedentes dos modelos curriculares..
...
2.2 Modelo Curricular do Movimento da Escola Moderna. ...50
...53
2.2.IFwdamentação
eobjectivos...
...50
2.2.2Princípios pedagógicos e concepções
estratégicas...
...51
2.2.3 Aorganização do espaço
educativo
...52
2.2.4 Os instrumentos... . 2.2.5 Aorganizaçáo do
dia.
...54
2.2.6
A
avaliação cooperada. ..552.3 Modelo Curricular
High-Scope...
...56
2.3.
I
Breve perspectiva histórica. ..562.3.2Fwdamentos
teóricos.
...57
2.3.3 Estrutura
curricular....
...58
2.3.3.1Aprendizagern pela
acção..
...582.3.3.2 Ambiente
educativo.
...59
2.3.3.3Rotinadiária.
...60
2.3.3.4lnteracção
adulto-criança...
....612.3.3.5
Avaliação.
...62
2.3.3.5.1O Perfil de Implementação do Programa (PIP).
...62
2.3.3.5.2 O Registo de Observação da Criança (COR). . . ...64
2.4 Oientações Curriculares para a Educação
Pré-Escolar
...652.4.I
O papel do educador... 2.4.2.3. O ternpo. 66 2.4.2 Ambiências deaprendizagem.
...682.4.2.1Ogrupo.
...69
...7r 2.4.3 Areasdeconteúdo...i
...72
2.4.4A
avaliação.
...73 ,ESTUDO EMPIRICO...
75 75 75 76 78CAPITULO
I
_METODOLOGIA
1.I
A
investigação naturalista.... 1.2A
metodologia qualitativa1.3.1 Problema.. 1.3.2 Protagonistas do estudo 1.3.3 Explicitação da
metodologia..
....g0
1.3.3.1A
observação....
....g0
I .3 .3 .2A
análisedocumental
. . . ... gI
1.3.3.3 Asentrevistas....
...g2
1.3.3.4A
análise deconteúdo...
...g5
1.3.4 Estratégia de investigação: estudo de três
casos.
. ...9gCAPÍTULO
2 _ APRESENTAÇÃO EANÁLISE
DERESULTADOS.
...912.1
A
observação e a análisedocumental...
...912.2 As
entrevistas
...93
2.2.1Entrevista
El..
2.2.1.1Caracteização daentrevistada.
...93
2.2.1.2 Formação da entrevistada no âmbito da
avaliação...93
2.2.1.3 Concepções em relação à avaliação das aprendizagens. . . ... . ...95
2.2.1.4 Modelo Curricular. 96 2.2.1.5 Práticas de avaliação das
aprendizagens.
....103
2.2.1.6 Dificuldades na avaliação das aprendizagens. .
.
. .. I II
2.2.2BntrevistaE2.
...112
2.2.2.1Caractenzação da
entrevistada...
...112
2.2.2.2 Formação da entrevistada no âmbito da
avaliação...1
l3
2.2.2.3 concepções em relação à avaliação das aprendizagens. . . . .. ....1r4
2.2.2.4 ModeloCurricular.
...116
2.2.2.5 Práticas de avaliação das
aprendizagens..
...l}l
2.2.2.6 Dificuldades na avaliação das aprendizagens...
. ..1272.2.3 Enfrevista
E3.
...129
2.2.3.I
Caracteização daentrevistada...
...129
2.2.3.2 Formação da entrevistada no âmbito da avaliação...
...129
2.2.3.3 concepções ern relação à avaliação das aprendizagens...130
2.2.3.4 Modelo
Curricular.
...132
2.2.3.5 Práticas de avaliação das
aprendizagens.
...13g 2.2.3.6 Dificuldades na avaliação dasaprendizagens...
...142
2.2.4 Anâlise das três entrevistas... 142
2.2.4.1Cxacteização
dasentrevistadas...
...142
2.2.4.2 Formação da entrevistada no âmbito da avaliação...
...144
2.2.4.3 Concepções em relação à avaliação das aprendizagens...
...147
2.2.4.4 Modelo
Curricular.
...150
2.2.4.5 Práticas de avaliação das aprendizagens
t6t
2.2.4.6 Dificuldades na avaliação dasaprendizagens...
....166
2.2.5 Análise dos três instrumentos de avaliação
t69
CONSIDERAÇOES
FINAIS
176REFERENCIAS
BIBLIOGRAFICAS
l8t
LEGISLAÇAO
187ANEXOS
...188
ANEXO I
-
Experiências-chave do modelo curricular High-Scope para criançasan
idadepré-escolar
...188
ANEXO
II
-Perfil
de Implementação do Programa (PIP) 192ANEXO
III
-
Registo de Observação da Criança (COR) 1,95ANEXO IV
-
Guião da Entrevista. ...204ANEXO
V-
Excerto de uma entrevista ..207ANEXO
VI
-COR-
Children Observation Register .210ANEXO
VII
-
Grelha de avaliação...vll
ÍNorcr
DE
euADRos
Quadro
1-
Categorias e sub-categoriasutilizadas.
...87
Quadro 2
-
Categoizaçáo dos Instrumentos de pilotagem (E1) 103Quadro 3
-
Categoizaçáo do COR(82)
.
...123
.. . ...139
Quadro 4
-
Categoização da grelha de avaliação (E3)Quadro 5
-
Identificação das entrevistadasr.;....
...143
Quodro ó - Categorização das Unidades de registo, referentes à
primeira categoia....l44
Quadro 7
-
Categoizaçáo das Unidades de registo, referentes à segunda categoria ...147 Quadro 8-
Categoização das Unidades de registo, referentes à terceira categoria. . ..151Quadro 9
-
Categonzação das Unidades de registo, referentes à quarta categoria .. ...162Quadro 10
-
Categoização das Unidades de registo, referentes à quinta categoria ...166
ÍNorce
DE
FrcuRAS
Figura
1- Planta dasala.
. ...97Figura
2-Ofrcina
daescrita.
...98
Figura
3-
ixeadasconstruções..
...98
Figura
4-Biblioteca...
...98
Figura
J - Area das ciências .. ...
...98Figuro
ó - Mapa da rotinasemanal.
...99Figura
7 - Quadro sobre o caderno das boasideias.
...101Figura
8 - Registo de umavisita.
....102Figura 9
-Mapa dasActividades....
...105Figura
10-Mapadas
Presenças....
...105
Figura
11-Mapadas
Responsabilidades
...106Figura
12-Mapadas
Comunicações....
...107
Figura
13-Diérro
deGrupo...
...108Figura
l4-Plantada
sala.
...117Figura
16-
Areadasconstruções..
...118
Figura
15-
Areada casinha.Figura
17-
Area dasciências...
Figura
24-
Area dasciências...
ll8
119Figura
18-
Areadapintura.
...1
19Figura
19-
Area da escrita, da leitura e docomputador.
...1 19Figura
20-Plarta
dasala.
....134
Figura
21-
Areadasalmofadas...
....135
Figura
22-
Areada pintura e dasconstruções..
...135
Figura
23-
Areadacasiúa.
...135
135
Figura
25-
Areada bibliote ca, da escrita, da leitura e dos jogos demesa.
. . . ...136Concepções e práticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
INTRODUÇAO
Contextualização do problerna
Avaliar
é
uma
actividade
espontâneado
ser
humano.
Constantemente,de
formaconsciente ou inconsciente, tomam-se decisões sobre diversas situações com base em
juízos
devalor.
Este actode
avaliar assume uma importânciaprivilegiada
quando serefere a uma avaliação da aprendizagern, principalmente em idades tão precoces como
as do ensino pré-escolar
(Alves,
2004).Quais as concepções de avaliação dos professores? Quais os critérios de avaliação ern
que
os
professoresfundamentam
as
suas
decisões?Como
é
que
se
avalia
aaprendizagem
de uma
criança/aluno?Que
relação ,existeentre as
concepçõese
aspráticas avaliativas
dos
professores? Que instrumentos se devemúilizar?
Estas sãoalgumas dúvidas que surgem de uma forma persistente quando
um
educador quer fazeruma avaliação com qualidade.
O estudo e sua importância
O tema deste estudo aborda as concqpções e práticas de avaliação das aprendízagens das
crianças na educação pré-escolar.
A
questão de partida quevai
ao encontro dos objectivos que propomos neste estudo é:como é que os educadores de
infrncia
fazern a avaliação das aprendizagens das criançasna educação pré-escolar?
Os objectivos:
1.
Identificar as concepções que os educadores possuem em relação à avaliação dasaprendizagens na educação pré-escolar;
2.
Caracteizar as práticas de avaliação de educadores que seguem ou não modeloscurriculares;
3.
Analisar os instrumentos de avaliação que os educadoresutilizam
na sua prâticapara avaliar as aprendizagens das crianças;
l0
Concepções e práticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
4.
Relacionaro modelo curricular
seguidopelo
educador com as suas práticas deavaliação;
5.
Relacionar as concepções com as práticas de avaliação dos educadores;6.
Identificar
constrangimentos e possíveis causasna
avaliação das aprendizagens nojardim
deinfrncia.
A
organização do estudoO
trabalho divide-seern
duas partes fundamentais.A
primeira parte
corresponde aoenquadramento conceptual
e
estádividida
em dois capítulos:a
avaliaçáo na educaçãopré-escolar
e
os modelos curricularesutilizados na
educação pré-escolar.A
segundaparte
refere-seao
estudo ernpírico
realízado,que
também está
dividida em
dois capítulos:a
caracterizaçáoda
metodologiautilizada e
a
apresentação, tratamento eanálise dos resultados.
No
primeiro
capítulodo
enquadramento conceptual aborda-sea
educação pré-escolarem
Poúugal,
faz-sereferência
aosdiplomas legais
que
enquadrama
avaliação naeducação pré-escolar,
clarificam-se
os
conceitosde
aprendizageme
de
avaliação,evidencia-se a relação entre avaliação
e
aprendizagem, faz-se referência à observaçãocomo
modo de
avaliare
apresentam-se instrumentosde
avaliação para estenível
deescolaridade.
O
segundo
capítulo
é
destinado
ao
enquadramentodos
modeloscurriculares
predominantesna
educação pré-escolar, começando-sepor
referir
osantecedentes dos modelos curriculares. Em seguida, apresenta-se o modelo curricular do
Movimento da
EscolaModerna,
o
modelo
curricular
High-Scopee
as
OrientaçõesCurriculares. Em cada
um
dos modelos e nas Orientações, faz-se uma breve perspectivahistórica, referem-se os
princípios
orientadores, caracteriza-sea
estruturacurricular
eclarifica-se o processo de avaliação.
Na investigação empírica, de nattreza qualitativa
-
estudo de casos-
começámos pelasconsiderações preliminares,
definindo
o
termo
"concepção",e
depois
seguem-se asopções e procedimentos metodológicos, com a indicação do problema, as protagonistas
do estudo, a explicitação da metodologia, identificando as técnicas de recolha e análise
dos
dados
(observação,análise documental,
inquérito
por
entrevista
e
análise
de11
Concepções e práticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
conteúdo), e a estratégia de investigação. Depois,
no
segundo capítulo, apresentam-se eanalisam-se os resultados que se obtiveram com o estudo.
No
final,
apresentam-seas
conclusõesa
que se
chegarame
algumas implicaçõeseducacionais para apoiar o trabalho de avaliação dos educadores, no que diz respeito à
avaliação das aprendizagens das crianças na educação pré-escolar.
t2
Concepções e praticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
JUSTIFICAÇÃO DO
TEMA
Não
éfacil
escolher um tema dentro dos viârios problemas que se podem investigar naárea
da
educação.Na
escolhado
tema
desta dissertaçãotivernos
em
conta
algunscritérios, designadamente :
o
O critério da familiaridade com o tema da investigação-
é mais vantajoso para oinvestigador
que possui coúecimentos
anterioresà
investigaçãoque
está ainiciar;
o
Ocritério
da afectividade porque"a
selecção do campo e do tema específico dainvestigação deve resultar de uma forte motivação pessoal" (Carmo
&
Ferreira,1998,p.46);
o
O critério dos recursos necessários para darinício
e continuação ao esfudo.Daí
que o tema escolhido para esta dissertação seja concepções e práticas de avaliaçãodas
aprendizagensna
educação pré-escolar.Este tema
é
muito
pertinentee
actualporque cada vez mais se reconhece a importância e a necessidade de avaliar.
É
através da avaliação dos currículos, dos programas, da acção educativa, das aprendizagens, quese consegue melhorar a qualidade no ensino e na aprendizagen. Contudo, fala-se muito
de
avaliaçãona
educação maso
ensino pré-escolarfica
um
pouco "esquecido" nestetema
tão
importante, principalmentea
avaliação das aprendizagens das criançaspor
parte dos próprios educadores nas salas de jardins de
infrncia.
Quando se entra numa sala de
jardim
de infância, verifica-se que existem registos queevidenciam
as
aprendizagensdas
crianças.Ao
analisar-semais
profundamente osignificado
e
sentido destes materiais frcaa
sensação que os educadores avaliam mastalvez não
o
façam de uma maneira sistemática, rigorosa e fundamentada. Esta situaçãopoderá ser influenciada por
múltiplos
factores, tais como pelo facto de na sua formaçãoinicial
não teremtido
umadisciplina
de avaliação das aprendizagens, pela ausência deexperiências significativas
de
avaliação de aprendizagensno
estágio pedagógico, pelaexistência de preconceitos ou concepções menos adequadas acerca da avaliação no pré
escolar.
Assim,
toma-sepertinente investigar sobre
as
concepçõese
ideias
sobreavaliação, saber como
é
que os
educadores avaliam,o
que
é
que avaliam, quais osinstrumentos
de
avaliação
que utilizam,
quando
avaliam,
a
quem
comunicam
a13
Concepções e púticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
avaliação, etc.
Ou
seja, ao pensar-sena
avaliação, colocam-se, desdelogo,
inúmerasquestões: se qual o significado da palavra avaliar, o porquê de avaliar, o que é que se vai
avaliar e como é que se vai avaliar.
Ao
reflectir-se sobre esta ternática, assumiu-se como pressupostos teóricos que:o
A
avaliação deve ser sisternática, integtada, contínua, processual e reguladoradas práticas pedagógicas, envolvendo interpretação,
reflexão, informação
edecisão sobre os processos de ensino e de aprendizagem;
o
O
facto de os educadores recolrerem a uma estratégia de avaliação contribuipara que a sua prática educativa seja mais coerente e fundamentada e, que por
conseguinte,
seja proporcionado aos alunos
experiênciassignificativas.
Sóassim
a
avaliaçãopode
ter
como
funçãoprincipal ajudar
a
promover
ou
amelhorar as aprendizagens dos alunos (Abrantes, 2002);
o
Não se planeiam as actividades pelo simples facto de se planear mas sim parafazer com que os alunos melhorem a sua aprendizagern. Só se poderá saber se
eles
aprenderamou
não
através
da
avaliação
que
se
vai
fazendo
dasaprendizagens
de
cada aluno em particular.
Isto
significa que
qualqueravaliação dependerá da forma como se concebe a planificação e
a
orgarizaçãodo trabalho com as crianças no processo de aprendizagem. Como, a avaliação
fazparte integrante da aprendizagern,logo o educador tem de concebê-la como
um
meio que lhe permite avaliar as aprendizagens feitas e, sefor
necessário, reorganizx todo o seu trabalho.Dai
que
este
estudo
teúa
recaído
sobre
como
é
que
é
feita
a
avaliação
dasaprendizagens
no
ensino pré-escolare
as concepções queos
educadorestàn
aceÍcadesse tema.
A
avaliação das aprendizagens não pode ser considerada comoum
acto isolado, queacontece no
início
e nofinal
do ano.A
avaliação acontece sisternática e periodicamente,durante todo
o
anolectivo,
acompanhando o processo de ensino e de aprendizagert, eestá relacionada
com a
planificação que sevai
fazendo,quer
esta aconteça antes oudepois da avaliação. O facto de a avaliação ocorrer no dia a dia numa sala de
jardim
deinfrncia faz
com que
as práticas avaliativas
estejampróximas dos
momentos del4
Concepções e práticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
apÍendizagem
e
sejamum bom
apoio
à
construçãodas
aprellldizagens das criangas.Assim, falamos de uma avaliação como processo contínuo e contextualizado, tendo em
conta todas as variáveis de contexto. Trata-se de uma avaliação
formativa
e tudo o queela
engloba,
pressupondo
a
ulilizaçáo
de
instrumentos
de
avaliação.
Existeminstrumentos
muito
diversificados,já
quea
natureza das aprendizagens e os grupos decrianças também são diferentes
uns dos
outros. Cabeao
educador escolheros
maisadequados a cada situação.
15
Concepções e pníticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL
I.
A
AVALIAÇÃO NA
EDUCAÇÃO
PRE-ESCOLARA
avaliação na educação pré-escolar constitui uma preocupação recente nos educadoresde infância porque
cadavez mais
sefala
em fazer
avaliação ern todosos
domínios(Ribeiro, 1993).
Mas,
para
se
chegar
a
esta
ideia,
foi
preciso
existir
grandestransformações ao nível da educação pré-escolar. Daí que, antes de se falar na avaliação
propriamente dita, importa fazer referência a algumas considerações sobre a mesma no
nosso país.
1.1 Algumas considerações sobre a educação pré-escolar em Portugal
A
educação pré-escolartem
evoluído
ao
longo dos
tempos,tendo como
causasessencialmente mudanças sociais e políticas
e
às novas relações de trabalho surgidas,como
por
exemplo,com a
entrada da mulherno
mercado de trabalho.O
conceito deeducação relaciona-se
"com
determinada ideia ou imagem relativamente às crianças e àinÍância" (Cardona, 1997 ,
p.
l9). O
que faz com que a ideia que se tem da educação sejauma ideia resultante das ideologias defendidas em cada época, as quais
influenciam
avisão sobre a criança e o modo como aprende.
Quando surgiram os
primeiros
estabelecimentos de educação pré-escolar, porvolta
dosanos 70, uma das suas funções era a de, na ausência
familiar,
asseguraro
cuidado, aguarda e a educação das crianças, respondendo desta forma a uma necessidade social.
"A
ideia de considerar os centros infantis como"depósito"
de crianças em substituiçãodas mães ausentes
foi
ultrapassada, progredindo no sentido de os considerar importantespara
o
desenvolvimento, mesmo no caso em que as mães não trabalham fora de casa"(Constantino, 2001,
p.
4).
A
educaçãofora
de casacontribui
emmuito
paraum
bomdesenvolvimento
da
criança, nomeadamenteao
nível
do
relacionamentocom
outrascrianças
e
da partilha
de
experiências.As
crianças
aprendema
estar
em
grupo,aceitando-se como são, e aceitando as ideias e opiniões dos outros. Todos são iguais e
tân
os mesmos direitos em relação às opoúunidades no acesso e no sucesso escolar.t6
Concepções e praticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
Como afirmam Formosinho, Pires e Fernandes (1991,
p.179),
de facto, a concepção de igualdade na educação apenas como igualdade de acesso
assume, de modo
implícito,
que as diferençasde 'background'
socio-económicotêm
uma
influência menor
no
rendimento escolar
do
aluno.
Pois
güo,considerando
que
a
corrida
escolar se tornejusta
apenaspelo
facto de
pôr
osalunos na
linha
departida e
assegurar que as pistas estão em iguais condições,esquece que
já
à partida uns estão cheios de força e outros partem trôpegos.Ou
seja,a
educaçãode infância tern a
dificil
tarefa depôr
à
disposiçãode
todas ascrianças as condições necessárias para que elas possam
iniciar o
seu percurso escolarem
situação
de
igualdade
de
oportunidades, independentementedo
meio
socio-económico em que vivem.
Actualmente, não é só a família que tern a função de educar nos primeiros anos de vida
pois
elaé
incapaz de assegurar sozinha uma educação de qualidade, atribuindo-se um papel de destaque aosjardins
deinância
comoum
espaçoprivilegiado
pffa
um
bomdesenvolvimento da criança.
A
educação pré-escolar é uma etapa imprescindível paraque as crianças progridam ao
nível
das aprendizagens em todos os domínios (Zabalza,1998).
Daí
que é essencial que a educação pré-escolar seja de qualidadepois
só destaforma
poderá
provocar
mudanças
positivas
e
duradourasna vida
das
crianças(Formosinho,
1994). Mas para que esta
educaçãoseja
de
qualidade,
é
precisoreconhecerem-se
três
aspectos fundamentais,como refere Zabalza (1998).
Estesaspectos são:
o
Identificação
de
valores
relacionadosàs
ideologias
da
sociedadeem
que vivemos;o
Maior alcance de resultados;o
Elevado clima de satisfação em todos os participantes do processo educativo.Assim,
se
verifica
que
no
processo educativoexiste uma
dimensão pessoal muito vincada poisé
entre as pessoas que a educação acontece.A
educação destas pessoas,quer sejam as crianças quer os adultos, só será benéfica se
for
"baseada numa práticaadequada à criança, ao grupo, às famílias, à culfura,
isto
é, numa prâtíca de qualidade"(Pascal
&
Bertram,1999, p. 16).t7
Concepções e pníticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
A
qualidade"é
algo quevai
sendo alcançada(...),
algo dinâmico, algo que se constróidia a dia e de maneira peÍmanente" (Zabalza,
1998,p.32). A
qualidadevai
acontecendode forma natural nas aprendizagens que as crianças vão realizando durante
o
processoeducativo. É
um
"conceitovalorativo,
subjectivo e dinâmico que variacom
o tempo, aperspectiva
e
o lugar"
(Pascal&
Bertram,1999,p.24).Daí
a
necessidade de avaliartambém a qualidade pois
faz
parte integrante do processo educativo. Pode-se avaliar aqualidade dos materiais, a qualidade das relações inter-pessoais, entre outros,
isto
é, aqualidade do que acontece na educação pré-escolar.
Foram realizados diversos estudos, principalmente noutros países que não Portugal, pois
no nosso país a investigação ern educação pré-escolar é ainda recente (Cardona,1997).
A
maioria
destes estudosconcluiu
quea
qualidade da educação pré-escolar tern umagrande influência
no
desenvolvimento sócio-emocional, no desenvolvimento cognitivo,na
igualdadede
oportunidades,na
realização escolare no
sucessoda vida
pessoal.Quanto
melhor
for
a
qualidadeda prática
educativa,melhor
seráa
avaliação dasaprendizagens das crianças (Pascal
&
Bertram, 1999). Contudo, para uma educaçãopré-escolar de qualidade, não se pode
limitar
a avaliação aos aspectos relacionados com asaprendizagens das crianças mas
tambán
com os programas, os modelos de avaliação, aorganizaçáo
dos
espaços,os
contextos educativos,as
actividadesde
formação,
asrelações
estúelecidas,
entre outras característicasdo
processo ensino-aprendizagem(Leite,
1993).Como
conclusão,e
depoisde
sereflectir um
pouco
sobreo
que
é a
educaçãopré-escolar, tern de se destacar que esta
primeira
etapa na educação das crianças deve servalorizada e utilizarem-se todos os meios para que ela seja a
melhor
possívele
com qualidade.Depois da apresentação da evolução
histórica
da educação pré-escolarem
Portugal, enão nos
afastandodo
tema
desta dissertação,importa
fazer referência aos diplomaslegais que
enquadrama
avaliaçáona
educação pré-escolar,e,
por
conseguinte, naprópria educação.
l8
Concepções e práticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
1.2. Diplomas legais que enquadram a avaliação na educação pré-escolar
Ao
reflectir-se sobre os diplomas legais que enquadrama
avaliação na educaçãopré-escolar somos conduzidos
"a
uma percepção da especificidade que sempre caracterizou(a educagão pré-escolar) relativamente aos outros níveis de ensino" (Cardona, 1997, p.
108), como por exemplo no que se refere à origern das primeiras instituições.
Durante
muitos
anos,a
educação pré-escolarficou
um
pouco esquecidano
sistemaeducativo
pois
"a
preocupaçãopela
criançaé
uma
conquistada civilização actual"
(Formosinho,1994,
p. 13).Foi
no
anode
1973 que se criaram o'cursos públicos para aformação dos educadores de
inffincia"
(Cardona,1997,p.108),
os quais tentaram, desdesempre, adequar
as
suaspráticas
às
necessidadesdas
crianças, nomeadamente naplanificação, observação
e
avaliação das crianças, organizando assimo
seu trabalhopedagógico.
Em 31
de Dezembrode
1979,com
a publicaçãodo
Estatuto dos Jardins de tnfância,(Decreto-Lei
n.o
542179,de
31de
Dezembro),
foi
possível
deÍinir
princípios
de orientaçãoe
assimdar
respostas às questõesmais
urgentes. Passou-sea
entender aavaliação das aprendizagens das crianças que frequentam a educação pré-escolar como
uma
actividade necessária nosjardins
de infância,
sendoa primeira vez que
se fazreferência ao papel da avaliação
num
diplomalegal.
O
artigo 28.o estabelece que "asactividades dos jardins de infância centrar-se-ão na criação de condições que permitam
à criança, individualmente e em grupo, realizar experiências adaptadas à expressão das
suas necessidades biológicas, emocionais, intelectuais e sociais". Para
tal,
é necessiírioplanificar anualmente as actividades, de modo a que estas sejam pensadas de uma
forma
integrada
e
avaliá-las. Tornou-se pertinentedefinir o
papelda
avaliaçáo para se poderalcançar
os
objectivos propostose a
articulação deuma
forma sequencializada destaeducação com
o
l.o ciclo do ensino básico (Fialho, 2002).A
participação dafamília
nas actividades, a qual atéaqui
assumiasoziúa
a educaçãodas crianças, é destacada neste Estatuto, como refere
o
artigo 26o, "as actividades dosjardins
de
infância serão
organizadase
orientadas
com
base
numa
articulaçãopermanente
entre
educadorese
as famílias".
A
avaliação das actividades realizadast9
Concepgôes e pniticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
pressupõe uma construção partilhada entre o
jardim
de infância,família
e escola, quepassa
pelo diálogo tendo como objectivo último uma melhoria da
qualidade dasaprendizagens das crianças (Homem, 2001).
A
família tem de estar integrada ern tudo oque acontece no
jardim
de inÍância.A
ideia de
avaliaçãona
educação pré-escolartem
evoluídoao longo
destes últimosanos.
Ainda
queo
conceito
avaliaçãode não
sejareferido, nenhum dos
objectivospropostos era realizáxel
senãoexistisse
"a
avaliaçãodas diferentes
situações, doenquadramento
familiar de
cadacriança
e do
desenvolvimentoda
mesma" (Fialho,2002).
A
avaliação, propriamente dita, deve ser reforçada no âmbito da planificação dasactividades, da troca de informação
com
as famílias e da educação transversal com oprofessor
do
1.ociclo.
Estaideia
sobrea
avaliação manteve-senum novo diploma,
aLei-Quadro da Educação Pré-Escolar, a Lei n.o 5197, de lOde Fevereiro.
Para
alem
de
estar integradana
relação entre
o jardim de infrncia e
a
família,
aavaliação
tambérnfoi
pensadapara
todas
as
modalidadesdo
funcionamento
dosestabelecimentos
de
educação,como
se dernonstranos
seguintes artigos. Segundo oartigo 4o do documento atrás referido, cabe aos encarregados de educação "desenvolver
uma relação de cooperação com os agentes educativos numa perspectiva
formativa"
e"o
Estado definirá critérios de avaliação da qualidade dos serviços prestados em todasas modalidades da educação pré-escolar", como é referido no artigo 20". Estabelece-se,
as§im,
as
orientaçõesgerais para
a
educação pré-escolar,no
âmbito dos
aspectospedagógicos e técnicos.
No mesmo ano, e na sequência desta
lei, foi
púlicado
o Despachon."
5220197, de 10 deJulho,
que estabelece as Orientações Curriculares paraa
Educação Pré-Escolar. Estedespacho dedica uma parte às orientações globais para o educador, onde se refere o acto
de avaliar como um processo educativo para que os educadores tomem consciência que
a sua acção terá de
ir
ao encontro das necessidades das crianças e do grupo.Ao
avaliar-se com as crianças as suas aprendizagens, o educador também aprende e se auto-avalia.
A
reflexão que faz sobre a prática conduz a um conhecimento sobrea
aprendizasem quese deve desenvolver com cada criança, o que faz com que a avaliação seja
um
suportepara o planeamento de actiüdades.
20
Concepções e práticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
Em 2001, saiu
o
Decreto-Lein."
24012001, de 30 de Agosto, que defineo
Perfil
Geraldo
Educador deInfância
e dos Professores. Este decreto, no n.oIII,
ponto
2,
alíneaj,
refere que
o
professortem
deutilizar
"a
avaliação, nas suas diferentes modalidades eáreas
de
aplicação"
pois
só
assim
é
que
conseguepromover
aprendizagens significativas.Nessemesmo
dia,
saio
Decreto-Lei n.o 24112001, de 30deAgosto, relativo
ao PerfilEspecífico de Desempenho
do
Educadorde
Infrncia.
Nesteperfil
é
evidenciado umaperspectiva do desempenho profissional do educador, o qual o'ayalia, numa perspectiva
formativa, a sua intervenção, o ambiente, os processos educativos adoptados, bem como o desenvolvimento e as aprendizagens de cada criança e do grupo", como é referido no
no
II,
ponto 3, alínea e.Avaliar
é um acto pedagógico que requer uma atitude e um saberespecífico que permitam desenvolver estratégias adequadas para o desenvolvimento e as
aprendizagens de cada criança e do grupo.
A
avaliaçãoformativa
queo
educadorfaz,
como
é
abordadono
Decreto-Lei
acimareferido, consiste
em
saber se determinada aprendizagem teve sentidoe qual
foi
essesentido
(Abrecht,
1994).
Mais
do
que medir
o
valor da
aprendizagem, interessasobretudo
saber
o
que
aconteceu,como
foi
feita
e
qual
o
seu
valor, ligando
aaprendizagem a
um
contexto.A
aprendizagem só fará sentido sefoi
importante para acriança
que
aprendeu.
Só ela
é
que pode
dar
ou
encontrarum
sentido paÍa
aaprendízagem que realizou, e por isso é que a criança deve saber o que e que o educador
espera que ela aprenda. Para isso, terá de
reflectir
sobre os objectivos para quefoi
criadaaquela aprendizagern.
A
reflexão é uma parte importante da avaliação formativa. Pensarno porquê de se ter
feito
aquela aprendizagem e em que medida ela poderá ser utilizadanovamente.
A
avaliação, nesta perspectiva, éum
questionar sobreo
sentidodo
que éaprendido
na
situação
observada,como
um
meio
de
assistênciae
promotor
deaprendizagens,
definindo-se
como "parte
integrante
do
processoeducativo
normal,devendo
os
erros ser considerados como momentos na resolução deum
processo deaprendizagem"
(idem,
1994,p.
33)
e que acontece durantetodo
o
ano.Como
afirmaCortesão (1993,
p. l3),
a
avaliaçãoformativa "funciona
como bússola orientadora doprocesso de ensino-aprendizagem".
2t
Concepções e pníticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
Em
oposição
a
esta perspectiva, temos
a
perspectiva
consideradacomo
a
mais"tradicional", que
é
a
avaliação sumativa. Esta "encerra uma fasede
aprendizagem,atraves da verificação dos conhecimentos adquiridos, sancionando os resultados obtidos
e rejeitando
o
erro" (Abrecht,
1994,p.
33),
ocorrendo, normalmente,no
final
do
ano.Esta perspectiva ainda continua a ser muito utilizada na nossa educação, principalmente
nos outros
níveis de
ensino que nãoa
educação pré-escolar, comopor
exemplo, nastécnicas
utilizadas
(exames)e
no
facto de
somenteno final do
ano seidentificar
asdificuldades
de
aprendizagem,não
havendo tempopara
se encontrar estratégias deresolução (Cortesão, 1993).
Daí
que na educação pré-escolar, prevaleça a avaliação formativa em detrimento destaúltima
pois a questão central é "saber se determinada aprendizagem teve sentido e qualesse sentido"
(Abrecht,
1994,p.
68), contribuindo para que as crianças "se apropriemmelhor das
aprendizagensque fazem"
(Cortesão, 1993,p.
l2).
A
avaliaçãoé
umprocesso contínuo
e
sistemático, interessando-semais
pelos processosdo
que pelosresultados
(Vilar,
1992).Ao
envolver a criançano
seu processo de avaliação, estavai
tomando consciência sobre
o
quejá
aprendeue
onde teve mais dificuldades,com
oobjectivo de
estas serem ultrapassadas, ao mesmo ternpo que se adaptao
ensino àsdiferenças
individuais
de
cadaum.
Fala-secom a
criança sobreos
seus trabalhos emostrar-lhe que houve evoluções, como
por
exemplo,no deseúo
da figura
humana.Aos poucos, a avaliação vai-se tornando numa avaliação mais individualizada, que tem
em conta as características de cada criança.
Paratal,
o
educador deveir
registando sinais e comportamentos quevai
observando, de uma forma neutra e objectiva, assim comoo
registo das evoluções dos seus trabalhos,os quais podem
contribuir
para umamelhor
avaliação. Estes registos podem assumirformas muito variáveis de acordo com
o
que se pretende avaliar e devem ser registadosem folhas de registos para que o registo seja
feito
deum
modo rápido e simples. Mas,para isso,
a
avaliação teráde
ocorrerem
diversos momentosno
processo deensino-aprendizageln,
o
quLe faz com que a criança vátendofeedbaclçs e também possa explicaro significado que determinada aprendizagem teve para ela, reflectindo sobre a mesma.
22
Concepções e pníticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
Contudo,
e
apesar
de
a
avaliação
na
educaçãopré-escolar
ser uma
avaliaçãopredominantemente formativa,
pois é
esta que estimulaa
criançaa
aprender cada vezmais, nunca se
pode
esquecera
outra
faceda
avaliação,a
avaliação sumativa. Estaperspectiva da avaliação é mais utilizada nos outros níveis de ensino do que a avaliação
formativa, nomeadamente ao
nível
da realização de testes, daí que a criança tenha queestar desperta para este tipo de situações.
Por
último,
surge a nova versão consolidada daLei
de Basesdo
Sistema Educativo, aLei
n."
4912005, de 30 de Agosto, que obriga os estabelecimentos de educação e ensinoa
realizar
uma
auto-avaliaçãoe a
estarernsujeitos
a
uma
avaliação externa. Neste contexto,a
avaliaçáo da prestaçãodo
serviço que cada educadorfaz
no
seu trabalhoassume uma grande importância.
Os
diplomas legais
apresentadossão
os mais
representativospara
a
avaliação naeducação pré-escolar pois é a partir da sua leitura, interpretação e posterior reflexão, que
se chegam a conclusões mais objectivas sobre o terna em causa, assim como a conceitos
que é pertinente
explicar
edefinir.
Aprendizagem e avaliação são conceitos que serãoabordados no ponto seguinte, assim como a sua possível relação.
1.3. Avaliação e aprendizagem na educação pré-escolar
1.3.1 Definição do conceito "aprendizagem"
Uma criança faz uma aprendizagem quando algo mudou no seu comportamento, ficou
diferente
do
que era.Bonboir (1976) deÍine
aprendizagem"como
a
modificação que surgenum
resultadoobtido,
associadaà
prática
e à
experiência(da
crianga)e
não explicável ern termos de fadiga, deartificio
de medida ou de modiÍicações nos órgãosreceptores ou executores" (1. 43). Quando uma aprendizagem acontece, verifica-se uma
diferença entre o estado
inicial
eo
estado que lhe sucede. Daí quea
aprendizagem sejaencarada como
"um
acontecimento em movimento, dinâmico eevolutivo"
(Drummond,2005,p.
16).23
Concepções e práticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
Este processo de aprendizagern é afectado por variadíssimas condições, as quais podeÍn
facilitar
ou prejudicar a sua realizaçdo. As crianças aprendem melhor quando têm apoiopor parte dos adultos ou dos seus pares e quando tomam consciência da aprendizagerl
que fizeram, compreendendo os seus beneficios. Actualmente, a noção de aprendizagerfl
vai muito ao encontro de uma perspectiva em que as crianças aprendem activamente.
"A
aprendizagem
é
um
processo de construçãosocial
que envolve activamenteo
sujeitoque aprende.
Só
ele
pode
atribuir
sentidoà
informação quethe
é
disponibilizada
eorganizá-lacom outras informações que
já
detém" (Pinto, 2005, p. 98).Esta ideia é defendida por Piaget porque a aprendízagem está relacionada com o estádio
de desenvolvimento em que a criança se encontra.
A
aprendizagem só acontece quandointegra as
leis do
desenvolvimento espontâneoe
as criançasjá
possuemalgo
relativoaos
conceitos
a
adquirir
(Lourenço,
1997).
A
aprendizagem
só
aconteceverdadeiramente se existir uma persistência na aquisição da mesma,
uma
generalizaçáoe se respeitar a sequência desenvolvimental. Para Piaget, a aprendizagem terá de passar
pelos quatro estádios do desenvolvimento
cognitivo
da criança, que são"a
inteligênciasensório-motora, pré-operatória, operatória concreta
e
operatóriaformal"
(Lourenço,1997,
p.
63).
Em
cada
estádio,a
criança orgariza
e
pensaa
realidade
de
umadeterminada forma, a qual
vai
influenciar apróxima
aprendizagem quefizer
sobre essarealidade
porque
as
estruturas
construídasnum
estádio convertem-se
em
parteintegrantes das estruturas do estádio seguinte.
Assim,
ao longodo
processo de aprendizagem,a
criançaatribui
significados, constróiconhecimentos, desenvolve competências
e
valores, tendoo
contexto
culfural
comoponto de referência
(Oliveira-Formosiúo,2002). A
teoria deVygotsky
vem reforçar aimportância da influência deste contexto na aprendizagern das crianças, o qual
definiu
azona de desenvolvimento proximal. Esta zona
"refere-se à diferença entre
o
que uma criançaé
capazde
fazer sozinha quandoresolve um determinado problema cognitivo, e o que ela seria capaz de fazer se tivesse o
apoio
e a
ajudado
meio,
querdizer,
deoutra
criançaou
deum
adulto."
(Lourenço,1997, p. 88).
Tambán Dewey veio reforçar a importância da relação humana na aprendizagem com a
expressão "aprender fazendo" (Joaquim, s/d). Através da experimentação, a criança vai
aprendendo e construindo a sua aprendizagem num ambiente interactivo.
24
Concepções e práticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
A
criançaé
co-construtorada
suaprópria
aprendízagem (Zabalza, 1998).É
a criançaque
vai
construindo a sua aprendizagern pois vai tomando consciência do que aprendeue
do
que ainda quer aprender.A
criançavai
aprendendo como deve aprendere
o
queaprender, auto-regulando
as
suas
aprendizagens.Ou
seja,
o'a auto-regulaçãoé
aactividade mental que permite criar
um
sistema pessoal de aprendizagem" (Ballester e/,2003,p.76).
A
criança toma, assim,um
papel activono
processo de aprendizagem, aqual
vai
acontecendo damais
simples para a mais complexa, da mais concreta para amais abstracta e da mais específica para a mais geral.
A
aprendizagemvai
acontecendo através das descobeÍas quea
criançavai
fazendo,como pressupõe a teoria de Bruner. O educador
vai
colocando questões às crianças paraque sejam elas a descubrir as respostas, através dos materiais que lhe estão disponíveis e
do
coúecimento
quejá
têm. Estas questões têm de ser estimulantes, de maneira a que acriança esteja predisposta para descobrir as respostas e assim aprender mais.
A
criançatern de estar motivada para e gostar de aprender
pois
só assim é quea
aprendizagemsignificativa
acontecerá.Logo,
o
educadorterá
de
planificar
cuidadosamente asquestões que
irá
colocarà
criança (Marques, 2001), de modo a quea
descobertapor
parte da criança aconteça e não haja uma repetição de aprendizagens
já
feitas.Para alguns educadores,
a
experiência profissional que se adquire aolongo
demuitos
anos de trabalho
faz
com que tenham acesso a conhecimentos sobre as aprendizagensdas crianças de forma
intuitiva
(Zabalza,1998), logo não sendo preciso fazer avaliaçáopara
ter
acessoa
essescoúecimentos. Assim,
torna-se pertinentedefinir
o
que
seentende
por
avaliação,para
esclarecero
papel desta,em
particularna
educaçãopré-escolar.
1.3.2 Definição do conceito "avaliação"
O
conceito avaliação éum
poucodificil
dedefinir
porque "se está semprea
avaliar"(Hadji,
1994,p.
2T.
É
um
conceitopara
o
qual não
se consegue encontrar umadefinição clara, concisa e que englobe todos os pontos de vista.
25
Sofia Isabel Varela Ribeiro
Concepções e práticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
A
maioria dos autores estudados consideravam que era maisfácil
partir de uma situaçãoconcreta, de uma prática situada, para
clarificar um
conceito. Era apartir
de exernplospráticos que os
autoresdefiniam
a
avaliaçáo.Contudo,
a
definição
dos
conceitosrelacionados
com
a
educação, concretamentea
avaliação, está relacionadacom
asideologias defendidas pela sociedade em que se
vivia
e ainda sevive
(Cardona, 1997), oqroefaz com que existam várias perspectivas sobre este conceito ao longo dos anos. Por
exemplo, a imagern da criança tern sido valorizada à medida que o tempo vai passando.
o'Durante este
período
(a
Primeira
República), paralelamenteà
valorização das suascaracterísticas específicas, começou a ser também valorizado
o
papel da escolainfantil
como
local
de instrução, sendo reforçada a existência de uma intervenção mais directado
adulto
no
processo educativodas
crianças" (Cardona, 1997,p.
111).
Tal
comoacontece
com
a
imagem
da
criança,
o
conceito
de
avaliaçãotambém
tem
sofridoalterações.
Na
décadade
80,havia
uma perspectiva da avaliação,a
qual
eradefinida
como umprocesso que se
inicia
com a selecção e definição de objectivos educacionais, que passapelas experiências de aprendizagem proporcionadas aos alunos ern ordem a levá-los a
atingir
esses objectivos e que culmina com a medida do nível de consecução alcançado,expressa ou não em nota numérica (Enciclopédia Verbo, 1985).
Outra perspectiva aparece na década de 90, aprofundando um pouco mais o conceito de
avaliação. Para
Hadji
(1994,p.
29)
"avaliar significa
tentar estabelecer elos, pontes, entre diferentesníveis
de realidade, semprea
marcare a
sublinharpor
esta mesmaoperação a distância que os separa: a realidade daquele que constrói e formula o
juízo
de
valor,
e a daquilo em que incide essejuí2o".
Esta perspectivajá
é um pouco diferente da anterior poisjá
não interessa somente o produtofinal
mastambán
os processos quese utilizaram para chegar aquele resultado. Importa conhecer
o
que aconteceu durante oprocesso, para se estabelecer as diferenças existentes entre o antes e agora.
Actualmente, existe uma perspectiva um pouco diferente das outras anteriores, deixando
de considerar
a
avaliação como medida e defendendo-a mais como uma prática social,baseada numa relação entre os intervenientes do processo educativo. "Não é tanto o que
26
Concepções e práticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
o
aluno
sabe
factualmentemas
a
forma como
cada professor percebe
as
suaspotencialidades de aprendizagem"
(Pinto,2005,p.
99).Segundo Méndez (2002,p.
16),precisamos de aprender com e a
partir
da avaliação.A
avaliação actua, então, aoserviço do
coúecimento
e da aprendizagem e ao serviço dos interesses formativosque
deve servir.
Aprendemos
com
a
avaliação quando
a
convertemos emactividade
de
conhecimento,
e
com
o
momento
da
correcção
quando
oconverternos em acto
de
aprendizagem. Só quando asseguramosa
aprendízagempodemos assegurar a avaliação, a boa avaliagão que forma, convertida ela própria
em meio de aprendizagem e em expressão de saberes.
Assim, na
educação pré-escolar,ao
falar-sede
avaliação, acredita-senum
processo(Mir,
Gómez, Carreras, Valenti,&
Nadal, 2005, p. 15):.
Direccionado para a criança, o educador e a sala de actividades;o
Orientado à planificação e aos materiais pedagógicos;o
Que pressupõe uma tomada de decisões sobre os procedimentos e a qualidadedos seus resultados
(...);
Relacionado
com a
funcionalidade de todas as aprendizagens adquiridasno
processoeducativo como projecção de futuro.
A
avaliação é o'um processo de comunicação entrequem ensina
e
quem aprende"(Pinto,
2005,p.
99),
o
quesignifica
quetanto
quemensina
como
quem aprendepode avaliar.
Está presente emtodos
os
momentos doprocesso educativo, quer sejam formais
ou
informais, e faz parte integrante da relaçãopedagógica. Quem,
o
quê,
em
que
circunstâncias,como,
porquêe
paraquê
avaliar(Vilar,
1992) são questões que se colocam num processo de avaliação.Neste contexto,
a
avaliação pressupõe algumas características fundamentais, comoafirmam Brown, Race e Smith (2000):
o
Ser válida-
avaliar aquilo que realmente se quer avaliar;o
Serjusta-
existir
igualdade de oportunidades entre as crianças para que todastenham êxito, apesar das suas histórias de vida serem diferentes;
o
Ser equitativa-
as práticas não podem fazer discriminações entre as crianças,nem
colocar
umas em
vantagem,ou
seja,
existir uma
variada gama
de oportunidades durante o processo da avaliação;o
Ser formativa-
dar o feedback às crianças, de modo a que possam alterar oseu comportamento caso isso se
justifique;
27
Concepções e práticas de avaliação das aprendizagens na educação pré-escolar
o
Ser opoúuna-
dar informação às crianças duranteo
processoou em
algunsmomentos
específicos enquantoa
avaliaçàodecorre,
de modo
a
que
ascrianças tenham a oportunidade de melhorar ou manter as suas aprendizagens.
Por
isso,
essefeedback
náopode
acontecer somenteno final da
avaliaçãoporque assim
as
criançasjá
não
têm
oportunidadede
sabercomo
estão eescolher o que querem fazer;
o
Contribuir para o desenvolvimento-
ofeedback que é dado às crianças tem deser
feito
de uma forma
contínuapois
assim
a
avaliação torna-se menosangustiante e não é feita de uma forma isolada;
o
Ser rernediativa-
a avaliação contem em si mesma oportunidades para que ascrianças possam
melhorar
as suas aprendizagens quandoalgo corre
menosbem;
o
Ser exigente-
um bom
sistemade
avaliação permite que todas as criançasconsideradas
como
capazesconsigam
alcançaro
Sucesso,desde
que
seempeúam;
o
Ser eficiente-
as práticas de avaliaçãotân
deter
ern conta os recursos e otempo disponível.
A
avaliação tem de ser o mais abrangente possível, avaliando assim os conhecimentosprévios
e
as atitudes das crianças,o
seu envolvimento nas tarefas,a
finalidade
dasactividades, as aquisições feitas pelas crianças e as capacidades para melhorar qualquer
aprendizagem.
A
avaliação avalia tudo o que esteja relacionado com a prâtica educativa,possibilitando
"o
ajuste progressivo
do
processopedagógico
às
características enecessidades
das
criançase
dos grupos"
(Mir,
Gómez, Carretas,Valenti,
&
Nadal,2005,p.
15).As
circunstâncias em quea
avaliação pode ocorrer são três. Estas três circunstânciasdiferentes, distinguem-se
por
aconteceremnum
período temporal
específico.
A
avaliação
inicial
que
acontecenas
primeiras
semanasem que
a
criança está
nainstituição e
quepermite
conhecera
situação dessa criança emparticular
(conceitos,capacidade
de
resposta,relações
familiares
e
sociais).
A
avaliação
formativa
oucontínua que acontece durante todo
o
ano e que se baseia no reconhecimento que cadacriança/aluno
tsm
sobreo
seu processo de aprendizagem (procedimentos), implicando28