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ESPACIALIZAO E CARACTERIZAO DO ESTADO DE CONSERVAO DAS NASCENTES DA MICROBACIA DO RIO FUMAA MUNICPIO DE PINDOBAU, BAHIA

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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2013 135 ESPACIALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DAS NASCENTES DA MICROBACIA DO RIO FUMAÇA – MUNICÍPIO DE PINDOBAÇU,

BAHIA

Rangel Batista de Carvalho1, Marcio Lima Rios2, Delfran Batista dos Santos3 1.Biólogo, Especialista em Desenvolvimento Sustentável do Semiárido pelo Instituto

Federal Baiano (IF-Baiano), Campus Senhor do Bonfim, Bahia, Brasil (rangelcarvalho@hotmail.com)

2. Geógrafo, Mestre em Geografia, Professor do IF-Baiano, Senhor do Bonfim, BA, Brasil

3. Engenheiro Agrônomo, Doutor em Recursos Hídricos e Ambientais, Professor do IF-Baiano, Senhor do Bonfim, BA, Brasil

Recebido em: 01/09/2013 – Aprovado em: 30/10/2013 – Publicado em: 18/11/2013

RESUMO

Os processos que envolvem a dinâmica dos corpos hídricos apresentam uma rede complexa e variada de características que resultam numa diversidade de tipologias que não são expressas de uma forma clara na literatura e consequentemente reflete-se em leis que não apresentam uma base consistente para a efetiva proteção destes ambientes. Aliada a esta lacuna teórico-conceitual vem uma dificuldade de identificação e espacialização destes ambientes, já que a maioria dos trabalhos desenvolvidos utilizam bases cartográficas com informações insuficientes e defasadas. Todavia, existe uma clara ideia da importância das nascentes para a dinâmica hidrológica local e regional, com uma justificativa reafirmada devido a região estudada estar inserida no semiárido. Com isso, o presente trabalho teve por objetivo espacializar e discutir o estado de conservação das nascentes encontradas na microbacia do Rio Fumaça no município de Pindobaçu, Bahia. A metodologia compreendeu cinco momentos principais: i) revisão bibliográficas de dados secundários sobre a área de estudo, recursos hídricos e nascentes; ii) pesquisa cartográfica analógica e digital da área; iii) trabalhos de campo; iv) sistematização dos dados coletados; v) análise de resultados. A partir dos resultados foram identificadas 11 áreas de exfiltração do tipo difusa, que no geral apresentam-se conservadas, mas com eminentes riscos de degradação já que a região é utilizada localmente para a criação de gado e a substituição das matas nativas por pastagens tem influenciado significativamente.

PALAVRAS-CHAVE: Pindobaçu, cachoeira da fumaça, educação ambiental

SPATIALIZATION AND CHARACTERIZATION OF THE STATE OF CONSERVATION OF THE SPRINGS OF THE RIVER RIO FUMAÇA - CITY OF

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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2013 136 ABSTRACT

The dynamic processes involving water bodies have a varied and complex network features results in a variety of types which are not clearly expressed in the literature and thus reflected in laws do not provide a consistent basis for effective protection these environments. Allied to this theoretical and conceptual gap has a difficulty of identification and spatial distribution of these environments, since most of the work done using cartographic information with inadequate and outdated. However, there is a clear idea of the importance of the sources for the local and regional hydrological dynamics, with a justification reaffirmed by the region to be inserted in the semiarid region. Thus, the present study aimed spatialize and discuss the state of conservation of the springs found in the watershed of the city of Rio Smoke Pindobaçu, Bahia. The methodology comprised five main stages: i) bibliographic review of secondary data on the study area, water resources and springs ii) analog and digital cartographic research area; iii) fieldwork iv) systematic data collected v) analysis results. The results identified 11 areas of exfiltration diffuse type, which in general have kept up but with eminent risk of degradation since the region is locally used for cattle and replacement of native forests by pasture has significantly influenced.

KEYWORDS: Pindobaçu, waterfall of smoke, environmental education.

INTRODUÇÃO

Apesar da diversidade e quantidade de estudos desenvolvidos nas últimas décadas sobre a necessidade de preservação das nascentes para a dinâmica hidrológica das bacias hidrográficas, associados à legislação ambiental nacional que apresenta uma riqueza de instrumentos que caracterizam uma preocupação no que tange a quantidade e qualidade das águas (SANTOS, 2012); mesmo assim é perceptível a negligência quanto ao cumprimento da legislação e de um monitoramento mais eficaz por conta dos órgãos federais, estaduais e municipais.

No semiárido nordestino a situação se agrava ainda mais devido a escassez da água, a dinâmica de crescimento populacional e ao desenvolvimento das fronteiras agropecuárias que se instalaram nos arredores dos cursos d’água. (ARAUJO & SILVA, 2013)

Associado a isso os dados utilizados pelos órgãos relacionados aos recursos hídricos são incipientes, desatualizados e em muitos casos apresentam informações que quando confirmadas em campo mostram sua natureza errônea, devido principalmente, os mapas utilizados não estarem em escalas detalhadas, além da insuficiência de técnicos e de trabalhos de base para um monitoramento eficaz na gestão dos recursos hídricos. (OLIVEIRA et al., 2013)

Quando analisada a dinâmica das bacias hidrográficas fica ainda mais expressa a necessidade de desenvolvimento de trabalhos mais específicos e minuciosos, já que a variedade das características são inversamente proporcionais aos conceitos apresentados nas literaturas, fazendo-se necessário mapeamentos detalhados de microbacias com espacialização das nascentes, corpos hídricos perenes, intermitentes e temporários, vegetação associadas a dinâmica dos corpos hídricos e uso e ocupação dos solos para uma definição clara de uma abordagem conceitual coerente e atual. (FELIPPE et al., 2009; VIEIRA, 2010).

Para tanto, pode-se adotar o conceito de microbacia como uma unidade física caracterizada como uma área de terra drenada por um determinado curso d’água e

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limitada, perifericamente, pelo chamado divisor de águas, possuindo toda sua área com drenagem direta ou indiretamente para um leito principal ou espelho d’água (HEIN, 2000; ATTANASIO, 2004).

Como elemento mais importante da dinâmica hidrológica de uma microbacia tem-se as nascentes, que segundo VALENTE & GOMES (2011) podem ser entendidas como manifestações superficiais de lençóis que resultam da formação de córregos. A nascente representa o afloramento de águas subterrâneas que dará origem a uma fonte de água ou o curso de um rio sendo essencial na manutenção e disponibilidade das águas.

Considerando que a exfiltração é o principal processo que determina a existência de uma nascente, compreender como esse processo ocorre é imprescindível, visto isso o processo pode ser de dois tipos: i) Pontual: quando a água passa da subsuperfície para a superfície em um ponto nitidamente delimitado; ii) Difusa: quando a água aflora em uma área maior, onde não se consegue definir um ponto de exfiltração, como em brejos (FARIA, 1997; VALENTE & GOMES, 2011). Seguida das nascentes as matas ciliares tem papel fundamental na proteção e conservação dos rios. LOPES (2001) afirma que a retirada da mata ciliar facilita o transporte do solo para dentro dos rios e represas, o desbarrancamento e a deformação das margens dos cursos d’água. O conjunto desses efeitos gera uma acentuada degradação da paisagem e prejudica o uso dos corpos de água.

Segundo KAGEYAMA (1989) as matas ciliares há várias décadas vem sofrendo intensas e constantes degradações para dar lugar a culturas agrícolas, devido à retirada de madeira e também pela ação antrópica, apesar de serem consideradas áreas de preservação permanente pelo código florestal.

Diante dessa situação, torna-se imprescindível construir um conhecimento sobre os elementos que compõem as microbacias hidrográficas e perceber a significância dos estudos geoambientais, sua relação com os processos de preservação ambiental e também com subsidio para trabalhos de ordenamento de uso e ocupação das terras.

Desse modo, o presente estudo objetiva identificar as nascentes da microbacia do Rio Fumaça no município de Pindobaçu, Bahia e avaliar o atual estado de conservação das mesmas. Apresentando subsídios reais sobre a dinâmica da área de estudo com fins de disponibilizar este produto para elaboração de planos de manejo e gestão dos recursos hídricos, mantendo a qualidade e quantidade das águas para as atuais e futuras gerações.

MATERIAL E MÉTODOS Caracterização da área de estudo

A área de estudo situa-se no Município de Pindobaçu (Figura 1), que está localizado na região de planejamento do Piemonte da Diamantina do Estado da Bahia, limitando-se com os Municípios de Filadélfia (ao leste), Ponto Novo e Saúde (ao sul), Mirangaba (ao oeste) e Antônio Gonçalves (ao norte). A área municipal é de 412 km² (BAHIA, 2002).

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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2013 138 FIGURA 1. Localização do município de Pindobaçu,

Bahia. (Fonte: Rangel Carvalho, modificado de IBGE 2010)

A microbacia do rio da Fumaça está totalmente encravada na Serra da Jacobina. Está serra, segundo MISI & SILVA (1998), constitui uma unidade geomorfológica isolada, limitada por falhas nos flancos leste e oeste, consistindo num conjunto de cristas e vales norte-sul de aproximadamente 200 km de extensão, largura variando de 8 a 14 km, com picos atingindo altitudes da ordem de 1300 metros, com amplitudes altimétricas chegando a atingir 800 metros.

A área de estudo está localizada no alto da bacia hidrográfica do Itapicuru (Figura 2), mais especificamente na sub-bacia do afluente Itapicuru-Açu, este que em seu território hídrico drena uma área de 1.542 km2, percorrendo 88,5 km de suas nascentes até a confluência com outro importante afluente, o Itapicuru Mirim. A microbacia do Rio da Fumaça corta a área central do município de Pindobaçu de noroeste para sudeste. Apresenta caráter intermitente e é um dos principais afluentes na margem esquerda do rio Itapicuru-Açu (SRH, 2002).

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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2013 139 FIGURA 2. Localização da microbacia do Rio Fumaça. (Fonte: Rangel

Carvalho, modificado de IBGE 2010)

Ainda de acordo com a Figura 2, observa-se que a bacia hidrográfica do Rio Itapicuru está localizada na região Nordeste do estado da Bahia, possui uma forma alongada no sentido oeste-leste, com cerca de 350 km de extensão, estreitando-se continuamente para leste, tendo suas nascentes principais na Serra da Jacobina e sua foz no oceano Atlântico.

Em relação às condições climáticas, a bacia do Itapicuru apresenta temperatura média anual de 24º C. A precipitação anual média da bacia excede 750 mm, apresentando três regimes pluviométricos. No baixo Itapicuru a precipitação anual oscila entre 530 e 1.439 mm (próximo ao litoral atlântico), no médio de 411,2 a 718,1 mm e no alto 477,6 e 1.129,3 mm (este último dado corresponde a trechos na Serra da Jacobina). A evaporação é relativamente alta, com média anual de 1.847mm, estando dentro da faixa típica de uma região semiárida. A evapotranspiração potencial média mensal de 115,5 mm, com uma amplitude de variação entre 72,6 mm no mês de junho e 162,9 mm no mês de outubro. Em relação à deficiência hídrica, vale ressaltar que toda a região apresenta déficit hídrico durante praticamente todos os meses do ano, devido ao fato de estar inserida no Polígono das Secas, região semiárida do Nordeste Brasileiro (SRH,

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2002).

Os solos são, essencialmente, dos seguintes tipos: latossolos distróficos, argilossolos distróficos ou eutróficos e neossolos litólicos distróficos. A vegetação predominante é representada pelos contatos floresta estacional e cerrado-caatinga (CPRM, 2005).

Procedimentos metodológicos

A metodologia compreendeu cinco momentos principais: i) Revisão bibliográficas de dados secundários sobre a área de estudo, recursos hídricos e nascentes; ii) Pesquisa cartográfica analógica e digital da área; iii) Trabalhos de campo ( Levantamento de dados primários); iv) Sistematização dos dados coletados e v) Análise de resultados.

Espacialização das nascentes

Através de imagens digitais da área do sítio do Google Earth e TM/landsat-5, obtidas entre setembro de 2012 e janeiro de 2013, em conjunto com cartas topográficas digitais da área em escala 1:100.000, disponibilizadas pelo IBGE, arquivo vetorial das curvas de nível disponibilizado pela Yamana Gold Mineração, foi possível realizar a interpretação contígua dos dados. A partir daí foi identificado os divisores de águas da microbacia que foram definidos como os pontos de cota máxima apresentados nas cartas topográficas entre bacias. Em seguida, foi feita uma análise dos ambientes propícios a presença de nascentes que seriam as cabeceiras de drenagem e as áreas de vegetação higrófila. Sendo essas áreas identificadas como de alta probabilidade de ocorrência de nascentes.

Após a identificação das prováveis áreas e com o auxilio de um GPS map 60CSX - GARMIN, a veracidade dos pontos atribuídos as nascentes foi comprovada em campo bem como a real localização dos cursos d’água sendo utilizado para este fim o caminhamento através dos cursos d’água com fins de encontrar os rios de primeira ordem.

As nascentes estavam inseridas no alto curso da microbacia do Rio Fumaça, em uma área de 2.428 ha, que foi completamente visitada durante um período de 7 (sete) meses em expedições quinzenais entre setembro de 2012 e abril de 2013. Avaliação do estado de conservação das nascentes

Apesar de existirem outros elementos de suma importância na interpretação dos processos relacionados às nascentes, como o contexto geológico, a posição topográfica, a qualidade das águas, esta pesquisa objetivou avaliar apenas o estado de conservação a partir dos efeitos antrópicos. Para isso através da observação in

loco foi possível identificar ações que comprometem de forma considerável a dinâmica das nascentes como: pecuária, agricultura, queimadas, desmatamento, presença de lixo e turismo sem controle. Os dados foram submetidos a análise descritiva qualitativa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os trabalhos de campo foram realizados entre setembro de 2012 e abril de 2013 onde foi possível observar a área tanto na época seca como na chuvosa. Foi verificado em campo o tipo de exfiltração das nascentes. Visto que a exfiltração é o fator determinante que configura a existência de uma nascente e o entendimento da

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sua dinâmica é decisivo para a sua conservação.

Foram identificadas 11 áreas de exfiltração sendo que apenas uma não foi considerada como nascente, pois adotou-se o conceito proposto por VALENTE & GOMES (2011).

Com base no mapa da Figura 3 e um GPS de navegação todos os divisores de água, córregos, cabeceiras de drenagens, e áreas (manchas) com vegetação higrófila foram visitadas in loco afim de confirmar o que foi identificado nas imagens de satélite.

Após confirmada a veracidade dos pontos foi comprovada que a microbacia apresenta um número de áreas de exfiltração e de pequenos córregos que apenas com as imagens de satélite ficaria impossível apresentar um mapa completo. Identificou-se (Figura 3) a presença de 10 nascentes do tipo difusa (E1, E2, E3, E4, E5, E6, E7, E8, E9 e E10).

FIGURA 3. Identificação de 10 nascentes do tipo difusa (E1, E2, E 3, E4, E5, E6, E7, E8, E9 e E10) no alto curso da microbacia hidrográfica do Rio Fumaça.

Através da observação do mapa apresentado na Figura 3 e o Quadro 1 é possível entender a dinâmica da microbacia e os possíveis riscos de degradação.

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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2013 142 QUADRO 1. Localização das nascentes e seu estado de conservação.

Áreas de Exfiltração

Coordenadas

UTM – 24L Estado de conservação

E1 349399 8825630 Vegetação nativa conservada/ presença de bovinos E2 349696 8823674 Vegetação nativa parcialmente conservada/presença

de bovinos/ vestígios de queimadas

E3 348121 8823811 Vegetação nativa parcialmente conservada(nativa/ pastagem) /presença de bovinos/ vestígios de queimadas

E4 347883 8823031 Vegetação nativa parcialmente conservada(nativa/ pastagem) /presença de bovinos/ vestígios de queimadas

E5 348510 8822402 Vegetação nativa conservada/ presença de bovinos/ áreas de camping próximas

E6 349280 8821483 Vegetação nativa parcialmente conservada(nativa/ pastagem) /presença de bovinos/ vestígios de queimadas/ áreas de camping próximas

E7 349170 8820886 Vegetação nativa parcialmente conservada(nativa/ pastagem) /presença de bovinos/ vestígios de queimadas

E8 349535 8819762 Vegetação nativa conservada/ presença de bovinos E9 350168 8820407 Vegetação nativa conservada/ presença de

bovinos/áreas de camping próximas

E10 350233 8819878 Vegetação nativa parcialmente conservada/presença de bovinos/ vestígios de queimadas

E11 351672 8820657 Não apresenta vegetação nativa/ pastagem/ presença de bovinos/ vestígios de queimadas

Apenas o ponto E11 não foi considerado como nascente, pois seu nível permanece estático não resultando na formação de um córrego. A área encontra-se degradada devido ao pisoteio de animais e a substituição da mata nativa por pastagens (Figura 4). A existência de lavouras e pastagens em torno das nascentes e nas áreas de preservação permanente dos riachos tem causado o desaparecimento de muitas dessas fontes e agravado a intermitência dos cursos d’água que, em geral, assoreados, ficam limitados aos períodos chuvosos (SELVA et al., 2011).

Observando a E11 apresentada na Figura 4 fica evidente que a área no entorno da mesma não está de acordo com a resolução CONAMA 303/2002 que define os limites para áreas de preservação permanente. No seu artigo 3° reza “ao redor de nascente ou olho d’água, ainda que intermitente, com raio mínimo de 50 metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte.” De tal forma torna-se necessária uma intervenção na área para recuperação e recomposição da vegetação nativa já que a mesma encontra-se degradada por ter sido eliminado os meios naturais de regeneração como banco de sementes, e afugentamento dos animais silvestres que são os responsáveis pela dispersão das mesmas.

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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2013 143 FIGURA 4. Área de exfiltração degradada pela ação do

pisoteio e pastagem – E11 (24L 351774, 8820632). (Fonte: Trabalho de campo).

Todas as nascentes apresentaram um bom estado de conservação, mas com riscos eminentes já que em todos os pontos foi encontrada a presença de animais domesticados como bovinos (Figura 5) e/ou vestígios (pisoteio ou fezes) (Figura 6).

FIGURA 5. Presença de bovinos próximo a área de exfiltração E5 (24L 348510, 8822402). (Fonte: Trabalho de campo).

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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2013 144 FIGURA 6. Fezes bovinas em área de exfiltração - E6 (24L

349280, 8821483).

(Fonte: Trabalho de campo).

Embora a região de estudo esteja inserida no macro clima semiárido, a mesma apresenta índices pluviométricos com médias superiores as médias regionais (micro clima mais úmido). Isso tem favorecido a perenidade dos rios, que por sua vez tem atraído criadores de gado da região. Através da observação da influência de animais domesticados em áreas de nascentes, podendo tomar como exemplo a E11 já apresentada neste trabalho, pode-se concluir que a presença destes animais pode resultar na degradação destes ambientes singulares já que em épocas de seca os animais se apropriam das nascentes para dessedentação, pisoteando as nascentes, compactando as áreas de exfiltração, defecando e introduzindo sementes de gramíneas, modificando de forma significativa a dinâmica da mesma. Dessa forma torna-se imprescindível a retirada destes animais nas áreas de exfiltração com o objetivo de preservação das nascentes.

Outro fator de degradação ambiental que tem contribuído para a perda da biodiversidade local e afetado de forma decisiva a degradação da mata ciliar e áreas de proteção permanente nas margens de córregos e nascentes são as queimadas (Figura 7). O efeito do fogo sobre o ecossistema promove uma perda de nutrientes devido a sua volatilização, quando a temperatura atinge graus elevados na superfície do solo, ocorre a esterilização da camada superficial do solo; a volatilização do nitrogênio e a lixiviação do enxofre, fósforo, cálcio e magnésio, (BRINKLEY et al., 1994).

FIGURA 7. Queimadas em áreas de APP (24L 350660, 8820932). (Fonte: Trabalho de campo).

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O motivo das queimadas na área de estudo está diretamente relacionado com a formação de pastagens para criação do gado, já que o fogo destrói a mata nativa ficando a mesma exposta para o plantio de capim. Com isso existe um escoamento superficial da água da chuva, com alta possibilidade de transporte de solo para dentro do leito dos rios e das nascentes, prejudicando o fluxo natural destes corpos hídricos. É necessário uma intervenção dos órgãos ambientais para a criação de unidades de conservação na referida área sendo conveniente uma unidade de proteção integral, já que as queimadas estão diretamente relacionadas com a criação de bovinos.

O turismo sem controle atraído pela presença de cachoeiras tem se destacado também como um fator de degradação ambiental já que grandes clareiras nas margens dos rios tem sido abertas para instalação de áreas de camping. Associado a isso a retirada de madeira para utilização em fogueiras e uma enorme quantidade de lixo também tem contribuído para este processo (Figura 8).

FIGURA 8. Clareiras abertas para áreas de camping (24L 349497, 8822768).

(Fonte: Trabalho de campo).

Toda a área de abrangência das nascentes da microbacia do Rio Fumaça pertence a União, mas nos últimos anos devido a intensificação da seca na região criadores de gado tem utilizado de forma exaustiva estas áreas para criação de forma extensiva. Apesar desta pratica já existir no local ha vários anos vem sendo crescente a cada ano sendo que em algumas áreas próximas as nascentes existem até a presença de cercas para delimitar áreas de pastagens nas margens de rios, contribuindo assim, para uma substituição da mata nativa, ampliando a vulnerabilidade à erosão e o conseqüente assoreamento dos córregos. A Figura 9 exibe trecho próximo ao Rio Fumaça com elevado estágio de degradação. (Figura 9).

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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2013 146 FIGURA 9. Pastagens nas margens do Rio Fumaça

nas proximidades da nascente E2 (24L 349465,8822987).

(Fonte: Trabalho de campo).

Com base na resolução CONAMA 303/02 e o atual Código Florestal (BRASIL 2013) entende-se que práticas deste tipo não estão em conformidade com a legislação e necessitam de intervenção para o replantio da vegetação nativa e impedir a erosão das encostas, o aumento do escoamento superficial e o desbarrancamento das margens dos cursos d’água, evitando assim uma acentuada degradação da paisagem.

CONCLUSÕES

Durante a realização deste trabalho foi possível observar a pouca quantidade de trabalhos de base sobre espacialização de microbacias com fins de gerenciamento de recursos hídricos, e apesar de uma legislação com elementos capazes de dar a proteção devida a estes ambientes ímpares, os mesmos se encontram totalmente a mercê do descaso.

Diante do exposto, pode-se observar que as atividades desenvolvidas neste trabalho permitiram a elaboração de um produto inovador e de grande aplicabilidade para os processos de gerenciamento. Com a elaboração do mapa base apresentado neste artigo será possível desenvolver trabalhos secundários sobre qualidade e quantidade de águas nas nascentes, córregos e as áreas de APP anexas a esta microbacia. Este produto vem, ainda, oferecer subsídios para a tomada de decisões em futuros estudos de planejamento, uso e ocupação dos solos além do turismo controlado.

De uma forma geral as nascentes e áreas de exfiltração se encontram preservadas, mas correndo grandes riscos já que a presença da pecuária se configura como um potencial agravante para o desequilíbrio ambiental, visto que as queimadas e o desmatamento nas proximidades de nascentes e rios são para a formação de pastagens.

Por fim espera-se que este trabalho venha contribuir para o desenvolvimento de uma política de recursos hídricos mais eficaz e com bases na preservação do principal recurso natural e seja o primeiro passo para a criação de uma unidade de conservação de proteção integral na microbacia do rio Fumaça.

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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2013 147 AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio financeiro do CNPq e INSA através do Edital 35/2010; e ao IF-Baiano através do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável do Semiárido com Ênfase em Recursos Hídricos (DSSERH), por oportunizar o desenvolvimento da pesquisa.

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FIGURA 3. Identificação de 10 nascentes do tipo difusa (E1, E2, E 3, E4, E5, E6, E7,  E8, E9 e E10) no alto curso da microbacia hidrográfica do Rio Fumaça
FIGURA  5.  Presença  de  bovinos  próximo  a  área  de  exfiltração  E5  (24L  348510,  8822402)
FIGURA 7. Queimadas em áreas de APP (24L 350660, 8820932).
FIGURA  8.  Clareiras  abertas  para  áreas  de  camping  (24L 349497, 8822768).

Referências

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