Definiçã~
I
GENF~LJ:]ADES
Pode~os definir Depósito Legal como a obrigação i~poE ta por lei aos impressores, editores ou autoree de obras de entregar ULl ou vários exemplares destas a detenninados organismos ou entidades oficiais, com o duplo fim de estes conseguirem esp~cies gratuitas e conservar toda a produção nacional ao longo dos tempos.
Hist6ria
Como, aliás, acontece relativamente a toda a leG isla-ção do trabalho intelectual, não tem ainda o Depósito Le-gal a sua história devidamente traçada. Julga-se, no en-tanto, que a primeira disposição sobre o que depois se C011 venci onou chamar Depósi to Legal seja a Ordenação de Mont-pellier, publicada por ordem de Francisco I de França, em
1531.
O Depósito Legal, nesses tempos, era const i tuido, normalmente., em beneficio das bibliotecas reais de cadn corte, as quais, na ordem lógica das coisas, se podela con--siderar como as antepassadas das bibliotecas nacionais. Es ta disposição legal é estabelecida, em outros palses da Eu ropa, em datas diferentes, generalizando-se sobretudo t~ p~6
tir dos meados do século XVIII: Suécia (1661), Dinamarca (1697), Finlândia (1707), Esc6cia (1709), Espanha (lj16), Inganterra (1757), Milão (1778), Portugal (1798), Rússia (1810), Noruega (1814), etc.
Nos fins do referido século e princípios do seguinte, Com as transformações político-sociais que a Europa então sofreu, as bibliotecas reais deram lugar hs bibliotecas na cionais. A obrigação imposta de constituir dep6sito muda de fundamento legal -- deixa de oor um direito majeetát1co para se tornar um direito do pr6prio estado.
Conteúdo
Que materiais devem ser objecto de Dep6sito? Na linha tradicional, s6 têm interessado para tais efeitos os li-vros, folhetos e publicações peri6dicas, ficando de fora~ dos os restantes impressos. No entanto, as disposições le-gislativas de alguns países, algumas das quais datam do sé
culo XVIII, previam já o alargamento desta concepção,de ma neira a englobar os chamados "impressos menores" e outros materiais de reprodução múltipla.
Não há, porém, uniformidade neste capítulo, variando de pals
..
para pals a..
concepção de Depósito Legal. Sirva de exemplo uma das leis mais recentes do mesmo -- a do Méxioo, de 31 de Dezembro de 1957, composta apenas de dois artig09, cujas disposições, na linha tradicional, se encontram hoje já largamente superadas pela legislação da maioria dos pai ses que prevêem tal dep6sito.Por seu lado, a legislação espanhola da especialidaoo, considerada uma das mais avançadas, senão meemo a mais man
çada do mundo, discrimina assim os materiais a delJOsitar (Vide: GUASTAVnm GALLENT - "El Deposito Legal de obras ln presas en Espa1'1a", Madrid, 1962):
a) Toda a espécie de impressos, livros,peri6dicos,fo -lhetos, estampas, gravuras, cartazes, cartas de jogar, bi--lhetes postais ilustrados, mapas geográficos, etc.
b) Produç~es fotográficas, obras cinematográficas e7 em geral, todas as produç~es de imagens realizadas por
ar-tes gráficas ou qufmicas em exemplares mrtltiplos.
c) Impross~es ou gravaç~es sonoras realizadas por qual-quer processo ou sistema empregado na actualidade ou no futuro.
Excluidos da obrigação do dep6si to ficam os chamacloG
"impressos <le cart!cter social" Ccart~es de visita,convites
e participaç~es, impressos de expediente comercial, etc.)) devendo, porém, .ressal var-se, o que até agora se nãc ton feito em nenhuma das legi~laç~es que consultámos, que ossa exclus~o não deve basear-se apenas no car~cter social de tais. produç~es, mas no seu grau de mero interesse ind
ivi-dual, portanto restrito e isento de dep6sito.
N"6mero de exenplares
Assiu como não r~ acordo quanto ao conte~do do Depósito Legal, tanbén o critério relativo ao número de exe:1l1ümos a
entregar varia de país para país. Na França exigem-se
G;
na Jugoslt!via 8, na Po16nia 14, na Hungria 16, na Rússia mai s ainda. ErJ Espanha, depois do ci tado decreto de19
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,
exigem-se apenas tr~s. Finalmente, em Portugal, é oDJ'.'lCa -ção 'entreGar doze exemplare s de livros, folhetos e I)Ublic~,
8
ções periódicas e trOa das restantes obras obrigadas a de-pósito.
, ' ; : 'i
Respo}1sáveis
A obrigação de cumprir as disposições da lei tom sido repartida pelos autores, editores e impressores das obras, por si só ou solid~riamente. Na prática, esta duplicação
de responsáveis tem-se revelado inconveniente, dando lugar a situações equívocas no apuramento de responsabilidades.A dificu14ade tem sido superada em alguns países Fela desig-nação de um único responsável pela entrega material das es pécies -- normalmente o impressor ainda que um ou mais exemplares destas sejam por conta do editor ou do produtor (este, no caso de se tratar de discos, películas, diaposi-tivos e obras afins, etc.).
Organ~smos beneficiários
.Na distribuição das espécies pelos organismos be nefi-ciários podemos considerar um Depósito Legal de carácter nacional e um Depósito legal de carácter regional.Na ma~
ria dos países ainda predomina o primeiro, na medida em
que ~is organismos, espalhados por todo o território na -cional, recebem a totalidade da produção intelectual des-te. Pelo contrário, o segundo impôs-se sobretudo em na-ções onde a técnica do Depósito Legal se encontra mais adian tada, Espanha e França, por exemplo, que sendo das que me-nor número de exemplares exigem, preferem concentrar ape-nas ape-nas suas Bibliotecas Nacionais de Madrid e Paris res -pectivamente
a
totalidade do depósito.Em benefício das restantes bibliotecas instituiu-so o
Dep6sito LeCal de car~cter regional. Para o cumprimento deste, todas as tipografias existentes numa determin~ua
mea
administrativa (provi'ncia ou departamento), além dos exem -plares destinados ~ Biblioteca Nacional, devem depositar, nos respectivos serviços, ainda um outro que será entre~~o a uma bilioteca dessa ~rea, designada antecipadamente como centro cultUl~al da regi~o. A mesma, que tanto p~ ser ~a biblioteca p~blica do Estado, uma biblioteca municipal ou
at~ uma biblioteca uni~rersitária, recebe, portanto, apenas
a produção .das oficinas com sede na circunscrição admini s --trati va a <lUc pertence. Isso significa, por outras pala- -vras, que em tais países há um número elevado de bibliote -cas beneficitirias do Dep6si to Legal. Simple smen te, é re s-trito o n~fiero das que recebem todas as obras impressas no terri t6rio nacional, visto a maioria apenas ter direito às
que forem executadas na respectiva provi'ncia ou departamoE
to.
Organi zaçno
Normalmente, os serviç os do Dep6si to Legal acron- se
vinculados à Biblioteca Nacional de cada país, outra coi sa
não sendo senão uma simples secção dcsta. Tem-se verifica
do, no entanto, que o trabalho a efoctuar em tais servi(;os
difere qualitativa e quantitativamente do quo se roaliza nas. Bibliotecas. naquele s trabalha-se em extens~o c rapi-dez, devendo o rospectivo chofo dispor dos nec~ssários p o-deres.parn dar imediato despacho a qualquer problema que so levante; noatas ~ltimas, pelo contrárjo, o ritmo de tra
lG
balho é de natureza mais lento, desenvolvend9-se prefere n-temente em profundidade.
Por conseguinte, justifica-se assim a ampla autonomia administrativa e técnica que certos países concedem ao De
-pósito Legal, inclusivamente instalando-o em edifícios p~~ prios.
Tal autonomia completa-se com a existênoia de um se r-viço de oatalogação privativo. As vantagens deste sistema
são bem evidentes, pois as espécies podem ser distribuídas pelos organismos beneficiários acompanhadas já das respec -tivas fichas com a competente notação da C.D.U. Bastará, então, escrever a cota que as espécies vierem a receber em cada biblioteca, no caso de não servir a da própria C.D.U.
que já levam. Assim se evita, por outro lado, que as ope -rações de catalogação se façam em duplicado nas várias bi-bliotecas beneficiadas pelo Depósito Legal, como acontece entre nós, com manifesta perda de tempo e divergência de critérios catalográficos.
Essas fichas podem ser também fornecidas a quaisquer instituições que as requisitem, assim como a particulares,
proporcionando a organização de ficheiros úteis para os
mais diversos trabalhos intelectuais.
Para facilitar a recolha das obras, tem-se também cria
do uma rede de delegações provinciais ou departamentais,eE;
carregadas da superintendência da sua respectiva circuns -crição administrativa, em íntima colaboração com os servi -ços centrais. Tais delegações são, em Espanha, em n~mero
_~~~,,~.!2:Ç:~.9..-ª-º, __ deRÓ~_~Q
A moca.nica do depósito pouco tem variado ne3tes
últi-mos e.nos, sobretudo nos pa:tses onde ainda predomina o pon
-to de vista tradicional relativaInente ao assunto. As es -pécies são remetidas acompanp~das de uma guia de remessa
em duplicado. Depois de devidrunente conferida e assinada,
t~ dos eX8nplaxes desta é guardado no arquivo individual da
tipografia, sendo o outro devolvido ao depositante,para em todo o tempo servir de prova legal de que foram entreéjuen as obras.
A introdução recente do Depósito Legal numerado, jun -tamente com a rode de delegações provinciais já citada,conE
tituindo já por si um progresso notável, veio corresponde~ por outro lado, ~s necessidades de melhor controle exiGidas
pelo carácter exaustivo daquele. Em Espanha, a constitui-"
ção de um dep6sito segue as fases seguintes:
a) Quando uma obra se encontra prestes a terminar, de ve o impressor ou o produtor da mesma pedir ~ delegaçâb pr,9 vincial a que pertence um número de dep6sito para a assina lar.
b) C.oncedido esse. m1me:co, que fica inscr:i. to no livro ~:cegj.sto das concessões, do qual ccnstarão também todos os
elementos que idE::ntj.fiquem o peticionário e a obra a publ_~
car, te:tJ1 oste o prazo de trê~ meses para constituir o
ros-pectivo dep6sito definitivo.
c) Pi"ldo essa prazo sem essa efectivação,poderá
aque-le prOi:,rogc:r-se por outros três meses, findos os quais, se
ainda as obras não tiverem dado entrada, se anulará o núm~
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troo Os números anulados não são depois concedidos a ou-tras obras.
A sigla de um livro, colocada geralmente no verBO do frontispício, fica assim constituída por uma letra -- indl cativo da delegação -- e pelo número concedido, separado por um traço do ano a que respeita. Terminado um ano ci-vil, encerra-se a numeração mantida durante o mesmo,
ini-ciando-se novamente outra no ano seguinte.
Sanções
Variam de país para país os quantitativos monetários fixados como multa, quer por falta de envio das espécies,
quer por falta de envio do chamado "aviso negativo" a in-formar de que nada se imprimiu que fosse objecto de Depósl
to Legal. Em Espanha, a multa vai de 250 a 5.000 pesetas,
podendo ser elevada a 10.000 em caso de reincidência,o que não exime à obrigação de constituir o depósito. Em Po rtu-gal, a sanção varia de acordo com o preço ~e mercado dos livros multiplicado por unidades cada vez mais altas, co
n-soante as reincidências dos responsáveis. Deve o bservar--se,
a
esse propósito, a curiosa disposição da lei po rtu-guesa, que fazendo reverter um quarto da multa para o a u-tuante (o chefe do Depósito Legal), lhe impõe, por outro la do, a obrigação de ser ele próprio a adquirir, com a impoE tância recebida, as espécies que não deram entrada.Importância do Depósito Legal
O Depósito Legal não pode ser considerado simples a~
que S8 enohe e despeja a"toda a :hora. É normal uma grande
clivEn'géncia de opinií5es sobre ele, sobretudo quando as mes mas traduzem situações diferentes perante a obrigação im -posta ~ há os que devem cumprir e os que devem fazer c1.lI'lprir'
as disposições legais, sem falar naqueles que,embora h m~
gero do assunto, nele se encontram de alguma forma inte res-sados. I sso, porE1m, não é motivo para que ta'is pontos de vista c1ive~ ... gentes esqueçam os subsídios inestimáveis que o Dep6si to Legal pode proporcionar, n~o apenas ~s bibliote cas beneficiadas com o aumento dos seus fur..dos e ao Esta-do com a valorização do seu patrim6nio, mas tambám aos se!, viços de Docunentação, Estatística e Leitura, ~s Bibliogr~ fias Nacionaio, ao Com~rcio livreiro, etc., conforme pass~ " mos a demonstrar.
a) O Dep6sito Legal e a Documentação: A Documentação, tornada hoje poderosa e indispensável alavanca do progres-se de qualquer nação, necessita do maior número de dados tecn:i.cos para, ser verdadeiramente eficiente. ~ fácil
C011-ehür ds.qui , que a sua primeira fonte deve ser o Dep6si to Lc,gé..l, tUna vez que este abrange toda a produção nacional, centralizando e .permit,indo a sua localização imediata atra
vés dal:3 publicações privativas que edita.
"ó) O Depósito Legal e a Estatística ~ Num mesmo país,
são va:c':i,os os organi smas que se dedicam à. estatistica das
~)ub:i.jcaçt5es t uns de carác'ter bibliográfico (bibliotecas,ser
-
-viços naci anui s de leitura1 institutos do livro, et.c.); o~
tros, de car6cter geral, não especializado (institutos
na-cionais de estatística). Devido a limitaç~es de vária o~~ dem, que se explicam por trabalharem sobre dados obtidos e.m
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segunda mão, os resultados estatísticos apresentados por tais organismos raro coincidem. Um Depósito Legal eficieE
te, que recolha o maior número de produções nacionais, po
-de, pelo contrário, elaborar estatísticas rigorosas,sempre
úteis para conhecer o estado editorial do pals, as flutua
-ções do mercado, as causas e consequências de uma produção
em pleno ou em crise, etc.
c) O Depósito Legal e as Bibliografias Nacionais: Às bibliotecas em geral, mas sobretudo às Bibliotecas
Nacio-nais de cada país, está assinalado um trabalho de especial
relevância: a elaboração de Bibliografias Nacionais. Ora,a
ausência do Depósito Legal, que ainda se verifica em
al-guns, embora poucos países, ou a sua nula eficiência em mui tos outros, por motivos de toda a espécie, tem originado
dificuldades sem conta para a elaboração das mesmas. Em
reuniões internacionais de biblioteconomia tem-se mesmo fei
to depender estas daquele, o que se pode provar apontando
as muitas Bibliografias Nacionais elaboradas à base do
De-pósito Legal: em Portugal, o Boletim de Bibliografia Por -tuguesa, em Espanha, o Boletin deI Deposito Legal de Obras Impresas, em França, a Bibliographie Française, na Itália,
a Bibliografia Nazionale Italiana, sucessora do antigo Bol
lettino delle PubbHcazioni Italiane Ricevute per D1ritto
di stampa, etc.
d) O Depósito Legal e as Bibliotecas~ Pode
conside-rar-se um Depósito Legal organizado em moldes eficientes
como a principal e, em certos casos, como a única forma de
entrada de obras numa biblioteca. Nem todas possuem disp..:2.
de que necessi tam; a:s liróp::'ias peroutas estão cond
icj,ona-das ~ ediçÉlo de publicações, d.e pI'cfe,r.ênc'ia J:cJl.'i<'5dicas) que
permi tam a S1,J.él re spec ti va me,nuteEção em ni've 1 illtel'l1aci onal ..
Todavia) dentro do t:1mbi to das :celaç'ô83 eutra c.s BiL:Lio
tecas e o DepÓsito Legal, nasce um p:C'oblf:rna originado pelo
choque de duas correntes opostas, mas paradoxalmente coin -cidentes: querem as Bibliotecas o máximo da produção nacio
nal; concede-lha. o Dep6si to Legal, mas imediatamente se
queixam as mesmas de que ~ impossivel receber tantas esp é-cies sem abalarem os alicerces da sua própria o:rgânica. Mais
adiante trataremos em pormenor deste problema, que pode, afinal, reduzir-se a dois t6picos fundamentais: a t~ de -feito de perspectiva da parte doe responsáveis e a uma fal
ta de estruturas especializadas dentro das pr6prias Biblio
tecas.
OonclusAC]!
A
obrigaç~o de constituir Dep6sito Legal ~ já hoje c9 mum a quase todos os países, cam excepção de poucos, entreeles a Su1ça, Bélgica e Estado do Vaticano, que a substi -tuiram por uma esp~cie de acordo entre a sua respectiva
biblioteca. principal e os 9cHtores ou produtores. Os tm: -mos em que se processa ta;' obrie-ação é que vaI'iam substan -cialmente, sobretudo CJ.uanto aos materüd,s que devem ser oE
jecto de dep6sí to e quanto ao m5mero de exemplares a entr.=;
gar. Tem- se pretendido norJUalizs.r à escaJ,a l1n:u:clial toda a
legislação, de forma a que esta tenha. Gomo fu.ndamento uma
lei-base.de.carác:ber geral e comum, embora àiv81'sificada
16
Depósito Legal a uniformidade e unidade de trabalho e acçsJ
que $ considera hoje o ideal a atingir por todas as biblio tecas do mundo. Nesse sentido se pronuncia o Autor dR obra
já atrás mencionada, sendo de referir igualmente as suge
s-tões e regras do manual publicado em
1955
pela U.N.E.S.C.O.-- "Les services bibliographiques naciox;aux".
Toda a correspond~ncia relativa a estes CADERNOS deve
~ I
ser dirigida ~ DR.ª D. MARIA TULIA MENDONÇA ~~CHADO DEARAU