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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ANÁLISE, PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ANÁLISE, PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL

O ENSINO DE GEOMORFOLOGIA E O USO DE RECURSOS DIDÁTICOS TECNOLÓGICOS

LÍSIA MOREIRA CRUZ UBERLÂNDIA/MG

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O ENSINO DE GEOMORFOLOGIA E O USO DE RECURSOS DIDÁTICOS TECNOLÓGICOS

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito parcial à obtenção do título de Doutora em Geografia.

Linha de pesquisa: Análise, Planejamento e Gestão Ambiental

Orientador: Prof° Dr° Sílvio Carlos Rodrigues

Uberlândia/MG

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C957e

2017 Cruz, Lísia Moreira, 1985-O ensino de Geomorfologia e o uso de recursos didáticos tecnológicos / Lísia Moreira Cruz. - 2017.

228 f : il.

Orientador: Silvio Carlos Rodrigues.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Geografia.

Inclui bibliografia.

1. Geografia - Teses. 2. Geomorfologia - Didática - Teses. 3. Geografia - Estudo e ensino - Teses. 4. Geomorfologia - Google Earth - Teses. I. Rodrigues, Silvio Carlos. II. Universidade Federal de Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em Geografia. III. Título.

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Programa de Pós-Graduação em Geografia

LÍSIA MOREIRA CRUZ

“O ENSINO DE GEOMORFOLOGIA E O USO DE RECURSOS

DIDÁTICOS TECNOLÓGICOS”.

Data: f S' / O S' de JjQ/'}

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(6)

Encerra-se aqui um ciclo que iniciei em 2005 no curso de Geografia, ano que toda minha vida começou a mudar. Em cada desafio enfrentado, agradeço a Deus, pelo dom da vida, pelas oportunidades no meu caminho, por sempre e em cada momento, sentir a Sua presença. À Senhora Aparecida, pela intercessão junto a seu filho.

Agradeço ao Professor Silvio Carlos Rodrigues, que no segundo ano de faculdade me deu a oportunidade de ingressar no Laboratório de Geomorfologia e Erosão dos Solos, e desde então realizei sob sua orientação dois projetos de iniciação científica, a monografia, a dissertação de mestrado e o doutorado, além dos diversos trabalhos publicados e a participação em eventos. Foram muitos ensinamentos neste tempo, mas não somente geomorfológicos, mas também como uma referência de profissional, dedicação e generosidade com seus orientandos.

Aos amigos do LAGES, pelos momentos de estudo, pesquisa, apoio, compartilhamento

de ideias e sonhos, descontração e Geomorfochopps.

Aos Professores Vicente de Paulo da Silva e Carla Juscélia de Oliveira Souza, que participaram da banca de qualificação e defesa final, e leram cuidadosamente o trabalho realizando sugestões que foram primordiais para conclusão da tese. Agradeço ainda, especialmente à Professora Carla, pelas conversas desde o início da pesquisa, que mesmo tendo sido rápidas, foram de grande valor. Aos professores Luis Felipe Soares Cherem e Leda Correia Pedro Miyazaki, membros da banca de defesa pelas contribuições.

Aos Professores que dedicaram seu tempo e atenção para responder ao questionário, instrumento essencial para a constituição do trabalho.

À Universidade Federal de Uberlândia, pelo fortalecimento do saber e pela formação profissional abrindo portas para a vida.

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muitas ausências, aos sobrinhos Yasmin, Pedro, Felipe e Arthur; aos meus avós, Atoalpa, Sebastiana e Iraídes; à Elfrida, José Fernando, Olívia, Breno, Felipe, Henrique, Renata, Tio Paulo e Nathalya, pela compreensão e apoio em todos os momentos.

Às minhas amigas, companheiras de todas as horas, Gabriela, Anna Paula, Lahiany, Fernanda, Fábia, pelos conselhos e companhia.

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(9)

A Geomorfologia é uma ciência complexa, dinâmica, e seu ensino demanda, além de conhecimentos específicos, o uso de estratégias que facilitem esse processo, para que a compreensão das formas, processos e gênese do relevo aconteça plenamente. Nesse contexto, objetivo do presente trabalho é investigar e apresentar contribuições teóricas e metodológicas para o ensino de Geomorfologia no contexto do ensino de graduação em Geografia, por meio da pesquisa sobre do pensamento geomorfológico e seus desdobramentos no processo de ensino, especialmente a partir do uso de recursos didáticos tecnológicos. O desenvolvimento da pesquisa está estabelecido na abordagem da retrospectiva da edificação da Geomorfologia enquanto parte do conhecimento humano e disciplina, estabelecendo possíveis relações com a evolução do ensino de Geomorfologia. A reflexão acerca da importância didático-pedagógica dos recursos tecnológicos, também foi realizada com a intenção de avançar no entendimento do objeto de estudo, entendido como o ensino de Geomorfologia com as novas tecnologias. Dessa forma, destacamos a importância didática dos recursos utilizados no ensino de Geomorfologia, além de explorar, descrever e avaliar o uso de diferentes ferramentas tecnológicas, especialmente o Google Earth, diante da realidade atual. Em conjunto com a pesquisa bibliográfica, foi elaborado um questionário aplicado junto a professores da disciplina de Geomorfologia, do curso de Geografia de 48 instituições públicas. Assim foram explorados e avaliados os pressupostos teóricos e os procedimentos metodológicos desenvolvidos pelos professores, além disso, foram levantadas informações acerca das maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos, seus fatores causadores e ainda a avaliação dos docentes quanto ao uso dos recursos didáticos. Concluímos apresentando propostas de atividades didático-pedagógicas para a disciplina de Geomorfologia com uso do software Google Earth, bem como os resultados do seu uso com alunos da disciplina de Geomorfologia. Diante do exposto foi possível identificar que o uso de ferramentas didáticas tecnológicas é de grande valia para o ensino de Geomorfologia, uma vez que estas potencializam o aproveitamento no processo de ensino e aprendizagem e promovem um enriquecimento na qualidade e efetividade do ensino proporcionado aos alunos. Mas destaca-se a relevância destas enquanto recursos e não como fim, e ainda que, o uso dos recursos didáticos tecnológicos, deve ser realizado valorizando os conhecimentos prévios e os conceitos geomorfológicos estruturantes, além de proporcionar a autonomia do aluno e a atuação consciente do professor nesse processo.

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Geomorphology is a complex and dynamic science, and its teaching demands, in addition to specific knowledge, the use of strategies that facilitate this process, so that the understanding of the forms, processes and genesis of relief happens fully. In this context, the objective of the present work is to investigate and present theoretical and methodological contributions to the teaching of geomorphology in the context of undergraduate teaching in geography, through research about geomorphological thinking and its unfolding in the teaching process, especially from the use of technological didactic resources. The development of the research is based on the retrospective approach to the construction of Geomorphology as part of the human knowledge and subject, establishing possible relationships with the evolution of the teaching of Geomorphology. In this way, we emphasize the didactic importance of the resources used in the teaching of Geomorphology, besides exploring, describing and evaluating the use of different technological tools, especially Google Earth, considering moderns day In conjunction with the bibliographical research, a questionnaire was drawn up with geomorphology teachers of 48 diferent public institutions. In this way, the theoretical assumptions and the methodological procedures developed by the teachers were explored and evaluated. In addition, information about the difficulties faced by the students, their causal factors and the teachers' evaluation regarding the use of didactic resources were collected. Thus, it was possible to identify that the use of technological didactic tools is of great value for the teaching of Geomorphology, since these potentialize the use in the teaching and learning process and promote an enrichment in the quality and effectiveness of the teaching provided to the students. However, the relevance of these as resources and not as an end is emphasized, and even though, the use of technological didactic resources should be done by valuing previous knowledge and structuring geomorphological concepts, as well as providing the student's autonomy and the teacher's conscious performance in this process.

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Figuras

Figura 1: Representação da organização teórico-metodológica... 21

Figura 2: Filogênese da Teoria Geomorfológica... 30

Figura 3: Visão esquemática do processo contínuo aprendizagem significativa- aprendizagem mecânica...81

Figura 4: Conceitos e ideias envolvidos no ensino, aprendizagem e pesquisa em Geomorfologia...82

Figura 5: Aspecto do Google Earth...95

Figura 6: (A) Camadas; (B) Opções de ferramentas... 96

Figura 7: Descrição da barra de ferramentas do GE...97

Figura 8: Google Street View...98

Figura 9: Habitante do Rio Negro coletando imagens com o triciclo do Street View. .. 99

Figura 10: Mapa de localização das instituições que atuam os sujeitos da pesquisa. .. 117

Figura 11: Categorias e conceitos geográficos mais relevantes para o embasamento teórico na disciplina de Geomorfologia...127

Figura 12: Processos geomorfológicos mais relevantes para o embasamento teórico na disciplina de Geomorfologia...129

Figura 13: Encaminhamento para elaboração das atividades e procedimentos práticos no Google Earth...152

Figura 14: Exemplo de organização de atividade proposta com o Google Earth...153

(12)

Figura 17: Síntese do tutorial...159

Figura 18: Exemplo de resultados: Pôster elaborado por aluno da disciplina...164

Figura 19: Legenda do mapa litológico de Minas Gerais...167

Figura 20: Página 1 de 2 do exercício: “Materiais constituintes e as formas do relevo”. ...169

Figura 21: Página 2 de 2 do exercício: “Materiais constituintes e as formas do relevo”. ...170

Figura 22: Página 1 de 4 do exercício: “O relevo e o trabalho dos rios”...173

Figura 23: Página 2 de 4 do exercício: “O relevo e o trabalho dos rios”...174

Figura 24: Página 3 de 4 do exercício: “O relevo e o trabalho dos rios”...175

Figura 25: Página 4 de 4 do exercício: “O relevo e o trabalho dos rios”...176

Figura 26: Página 1 de 3 do exercício: “Movimentos de Massa”...178

Figura 27: Página 2 de 3 do exercício: “Movimentos de Massa”...179

Figura 28: Página 3 de 3 do exercício: “Movimentos de Massa”...180

(13)

Quadro 1: Histórico do SINAGEO...67

Quadro 2: Guia Referencial de Habilidades para Competência em Geomorfologia...86

Quadro 3: Síntese das habilidades necessárias à interpretação e ao raciocínio geomorfológico... 87

Quadro 4: Recursos didáticos utilizados no ensino de Geomorfologia...92

Quadro 5: Exemplos de trabalhos publicados com uso do Google Earth como ferramenta de pesquisa... 100

Quadro 6: Exemplos de trabalhos que tem o Google Earth como principal ferramenta de ensino...101

Quadro 7: Exemplos procedimentos e atividades com Google Earth para o ensino de Geomorfologia...107

Quadro 8: Disciplinas obrigatórias relacionadas ao conteúdo de Geomorfologia nos cursos de Geografia das instituições pesquisadas...111

Quadro 9: Disciplinas optativas relacionadas ao conteúdo de Geomorfologia nos cursos de Geografia das instituições pesquisadas...112

Quadro 10: Vantagens e desvantagens do uso de questionário... 115

Quadro 11: Disciplinas obrigatórias especificamente relacionadas à Geomorfologia. 122

Quadro 12: Disciplinas optativas relacionadas à Geomorfologia...123

Quadro 13: Objetivos da disciplina de Geomorfologia, segundo alguns professores. . 124

Quadro 14: Teorias geomorfológicas mais citadas pelos professores...128

Quadro 15: Conteúdos geomorfológicos que os alunos apresentam maior dificuldade. ... 130

(14)

Quadro 18: Alternativas que facilitariam a compreensão dos conteúdos...135

Quadro 19: Empecilhos apontados pelos professores que atrapalham o uso das novas tecnologias... 138

Quadro 20: Recursos didáticos a serem obtidos...139

Quadro 21: Como as estratégias e recursos têm auxiliado na formação dos alunos. ... 146

Quadro 22: Como os professores avaliam o ensino de Geomorfologia no contexto tecnológico atual...147

Quadro 23: Atividade Índice de Hack: proposta de trabalho...156

Quadro 24: Atividade Materiais constituintes e as formas do relevo: proposta de trabalho... 168

Quadro 25: Atividade O relevo e o trabalho dos rios: possibilidades de trabalho...171

(15)

Gráfico 1: Percentual de domicílios com microcomputadores com acesso à internet. .. 73

Gráfico 2: Tempo que leciona a disciplina de Geomorfologia...118

Gráfico 3: Quanto diferentes fatores influenciaram na formação do profissional docente. ...119

Gráfico 4: Carga horária dedicada à disciplina de Geomorfologia...121

Gráfico 5: Contribuição dos conteúdos geomorfológicos na formação profissional dos alunos...125

Gráfico 6: Uso dos recursos didáticos de acordo com os professores... 137

Gráfico 7: Frequência com que os professores utilizam os recursos didáticos...140

Gráfico 8: Comunicação virtual...141

Gráfico 9: Aulas expositivas e dialogadas...142

Gráfico 10: Metodologias ativas sem uso das novas tecnologias...143

Gráfico 11: Metodologias ativas com uso das novas tecnologias...144

Gráfico 12: Formas de representações do relevo...145

Gráfico 13: Ferramentas do Google Earth já utilizadas pelos alunos...161

(16)

Agradecimentos... 6

Resumo... 9

Abstract...10

Lista de Ilustrações...11

Sumário...16

CAPÍTULO I ...18

1. INTRODUÇÃO...18

1.1. Objetivos e procedimentos de investigação e análise... 20

CAPÍTULO II... 27

2. A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOMORFOLÓGICO: CONTRIBUIÇÕES AO ENSINO DE GEOMORFOLOGIA... 27

2.1. As bases da Geomorfologia atual... 28

2.1.1. A corrente Anglo-Americana... 31

2.1.2. A corrente Alemã... 36

2.2. As mudanças na Geomorfologia após meados do século XX... 40

2.3. A Geomorfologia no Brasil... 47

2.4. Algumas tendências da Geomorfologia atual... 65

CAPÍTULO III... 69

(17)

conhecimento geomorfológico...70

3.2. Aspectos inerentes ao processo de ensino e aprendizagem em Geomorfologia 77 3.3. Reflexão sobre o uso dos recursos didáticos tecnológicos na disciplina de Geomorfologia... 89

3.3.1. As Geotecnologias... 93

3.4. O Google Earth enquanto ferramenta para o ensino de geomorfologia...94

3.5 O uso do Google Earth como recurso didático...101

3.6 Práticas didático-pedagógicas envolvendo conteúdos geomorfológicos com uso do Google Earth...104

CAPÍTULO IV ...108

4. PERCEPÇÕES ACERCA DO ENSINO DE GEOMORFOLOGIA E O USO DE RECURSOS DIDÁTICOS TECNOLÓGICOS NO BRASIL...108

4.1. Panorama atual da disciplina de Geomorfologia no Brasil...110

4.2. Pesquisa com os professores de Geomorfologia na graduação em Geografia112 4.2.1 Informações gerais...118

4.2.2 Informações dos Cursos de Geografia...120

4.2.3. Informações teórico-conceituais e do ensino da disciplina de geomorfologia ...124

4.2.4 Concepções acerca do uso dos recursos didáticos...136

CAPÍTULO V ...149

(18)

e rupturas no relevo...155

5.2. Materiais Constituintes e as formas do relevo...166

5.3. O relevo e o trabalho dos rios...171

5.4. Movimentos de massa...177

5.5. Proposta de divulgação do material produzido...181

CONSIDERAÇÕES FINAIS...182

REFERÊNCIAS...188

APÊNDICE I ... 201

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CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO

A vida dos seres humanos é diretamente influenciada pelo relevo e seus processos superficiais, objeto de estudo da Geomorfologia. É nele que se estabelece a construção de moradias; de grandes obras de engenharia; o manejo de culturas agrícolas; obtêm-se recursos e matérias-primas para diversos fins; ocorrem processos dinâmicos catastróficos ou não; exploram-se atividades turísticas ou mesmo planejam-se estratégias de guerra. Desse modo, os seres humanos se interessam pelas formas e processos da superfície terrestre sejam pelos aspectos de observação da paisagem ou por interesses econômicos e estratégicos.

A Geomorfologia analisa as formas do relevo, busca compreender os processos que geraram e atuam sobre ele, está incluída na ciência geográfica e constitui importante subsídio para a apropriação racional do relevo, como recurso ou suporte (CASSETI, 1994). Assim, a disseminação e o desenvolvimento dos conhecimentos geomorfológicos se dão essencialmente no âmbito da Geografia na medida em que seu objeto de estudo é palco para as relações humanas e também da Geologia estabelecendo uma relação de complementariedade. Mesmo diante de tal relevância são poucas as pesquisas que se propõem a discussão do ensino de Geomorfologia considerando a realidade brasileira. Dentre elas os autores Carvalho (1999), Souza (2009), Bertolini (2010), Oliveira (2010) e Afonso (2015) abordam assuntos relacionados ao ensino de Geomorfologia e metodologias de ensino.

(20)

ainda maior o interesse pelo ensino de Geografia, especialmente no campo da Geomorfologia.

Como já apontado por Monteiro (2001), Souza (2009), Oliveira (2010), Afonso (2015) é notória a complexidade existente em ensinar e promover um conhecimento concreto dos alunos sobre a complexidade dos conteúdos geomorfológicos. Afonso (2015) destaca ainda o desconforto e/ou falta de aptidão de muitos professores de Geografia com temas relacionados à dinâmica da Natureza, o que revela uma formação falha nesse sentido. Em pesquisa realizada por Souza (2009) com alunos da disciplina de Geomorfologia foram identificadas dificuldades conceituais e interpretativas na representação e visualização espacial do relevo, e também na compreensão da dinâmica de processos geomorfológicos em diferentes escalas.

Mediante a escassez de trabalhos voltados para o ensino de Geomorfologia, principalmente no âmbito da graduação em Geografia, e ressaltadas as dificuldades apresentadas por alunos e profissionais frente aos conhecimentos geomorfológicos indica-se a relevância do presente trabalho e levanta-se algumas questões: Quais fatores são causadores destas dificuldades? Qual a percepção dos professores da disciplina de Geomorfologia nesse contexto? Pode o uso de recursos didáticos tecnológicos auxiliar no processo de ensino e aprendizagem? Como o recurso didático pode auxiliar no processo de ensino e aprendizagem do relevo? Quais recursos didáticos estão disponíveis e estão sendo utilizados no ensino de Geomorfologia? Os métodos de ensino têm sido atualizados adequando-se às novas necessidades dos alunos?

(21)

A proposta desta pesquisa fundamenta-se na análise do ensino de Geomorfologia e no desenvolvimento de um estudo piloto, visando refletir sobre as metodologias desenvolvidas com enfoque na reflexão acerca dos recursos didáticos que estão sendo utilizados na atualidade no âmbito dos cursos de Geografia das universidades públicas brasileiras. Dentro desse contexto, busca-se não apenas a realização da pesquisa e levantamento e discussão de informações teóricas, mas também refletir a importância do uso das novas tecnologias como valoroso auxílio na elaboração de recursos didáticos, considerando a realidade vivenciada de um mundo dinâmico, com alunos cada vez mais conectados.

1.1. Objetivos e procedimentos de investigação e análise

Na presente pesquisa, o objetivo foi investigar e apresentar contribuições teóricas e metodológicas para o ensino de Geomorfologia no contexto do ensino de graduação em Geografia, por meio da pesquisa acerca do pensamento geomorfológico e seus desdobramentos no processo de ensino, especialmente a partir do uso de recursos didáticos tecnológicos. Busca-se, desse modo, incentivar um ensino de Geomorfologia dinâmico, inovador e eficiente.

(22)

Figura 1: Representação da organização teórico-metodológica.

i l “ 1 Professores

'a 1 " Alunos Metodologias de ensino

Mediação Pedagógica

Capítulo II

Google Earth

Ensino

Geomorfologia Objeto de estudo O Ensino de Geomorfologia e o uso de

Etapa exploratória

Softwares recursos didáticos tecnológicos

Geografia nternet

Conceitos-chave

Geomorfologia Ensino de Geomorfologia Recurso didático

Geomorfologia nos cursos de Conteúdos

geomorfológicos

Google Earth

Ciência Sociedade atual

Geografia no Brasil

Informações gerais A ema

Processamento da informação Atividades

didático-pedagógicas

Bases da Questionário

Geomorfologia

Anglo

Conceitos estruturantes Professores de

Geomorfologia

Americana Indice de Hack

Século XX

Habilidades p/ aprendizagem Materiais constituintes

-ormaçao e as formas do relevo

Brasi

Recursos didáticos Informações

teorico-O re evo etraba ho

Tendências conceituais

dos rios

atuais Google Earth

Recursos didáticos

Movimentos de massa

Capitulo

Capitulo IV

Divulgação das atividades ]

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O processo de desenvolvimento dos capítulos contou inicialmente com uma etapa exploratória, na qual foi demarcado o assunto a ser investigado. Para Demo (1998) a investigação científica em busca do conhecimento acerca do tema que se dedica a pesquisa parte da definição de um objeto específico de investigação e da determinação de um método para tal investigação.

Como objeto de estudo entendemos que o ensino de Geomorfologia sob a perspectiva do uso das novas tecnologias enquanto instrumento no processo de ensino e aprendizagem é significativo propósito a ser investigado. Numa perspectiva qualitativa buscou-se salientar os aspectos dinâmicos e holísticos, abarcando o contexto dos que estão vivenciando o fenômeno.

A etapa exploratória incluiu também o acompanhamento da disciplina de Geomorfologia durante o ano de 2014, nas turmas do 2° período do curso de graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, nos períodos diurno e noturno. Desse modo, foi possível ter um contato mais próximo com a realidade vivenciada por professores e alunos, suscitando as primeiras ideias do que seria desenvolvido a partir de então. Sobre esse aspecto Alves-Mazzotti et. al. (2002), reforçam a proposta desenvolvida no presente trabalho:

[...] nos estudos qualitativos, a coleta sistemática de dados deve ser precedida por uma imersão do pesquisador no contexto a ser estudado. Essa fase exploratória permite o pesquisador, sem descer ao detalhamento exigido na pesquisa tradicional, defina pelo menos algumas questões iniciais, bem como procedimentos adequados à investigação das questões. (ALVES-MAZZOTTI et. al. 2002, p.148)

Ainda nesta perspectiva Severino (2007, p.100) ressalta que “toda modalidade de conhecimento realizado por nós implica uma condição prévia, um pressuposto relacionado com a nossa concepção da relação sujeito/objeto”.

(24)

enfoque nos aspectos contemporâneos, a pesquisa se desenvolve considerando o ensino de Geomorfologia praticado pelos docentes nas universidades brasileiras e, nesse contexto, considera o uso das novas tecnologias e a elaboração de atividades didático- pedagógicas com uso de recurso didático tecnológico.

Os questionamentos elaborados direcionam os caminhos metodológicos da pesquisa e sugerem os conhecimentos a serem explorados e as categorias analisadas, oriundos das informações obtidas com os instrumentos: pesquisa bibliográfica, preparação e aplicação de questionário, elaboração de uma proposta de recurso didático.

A partir do arcabouço teórico, da metodologia adotada, das informações levantadas, da análise dos dados e propostas elaboradas, este trabalho foi sistematizado em cinco capítulos, contando com esta introdução, além das considerações finais. A seguir, serão abordados os objetivos específicos do trabalho, juntamente com a perspectiva sintetizada dos procedimentos de investigação e análise, que são mais amplamente discutidos posteriormente no âmbito de cada capítulo.

Capítulo 2: A evolução do pensamento geomorfológico: contribuições ao ensino de Geomorfologia.

Objetivo específico:

I. Abordar a construção dos conhecimentos geomorfológicos no ponto de vista do

entendimento das teorias e conceitos essenciais para o ensino de Geomorfologia e contextualizar a evolução dos conhecimentos geomorfológicos na perspectiva dos avanços tecnológicos.

(25)

Capítulo 3: Os recursos didáticos como ferramentas para o ensino de Geomorfologia.

Objetivos específicos:

I. Refletir sobre a importância didático-pedagógica dos recursos didáticos no

ensino de Geomorfologia;

II. Discorrer acerca dos aspectos inerentes ao processo de ensino de Geomorfologia por meio da aprendizagem significativa e dos conceitos estruturantes;

III. Explorar e descrever o uso dos recursos didáticos para o ensino de

Geomorfologia, especialmente o Google Earth.

Foi feito um levantamento de textos publicadas em meio impresso ou digital incluindo livros, artigos, periódicos, revistas, trabalhos científicos, dissertações e teses, em busca de fortalecer e contextualizar os assuntos relativos ao ensino de Geomorfologia. Desse modo, foi realizada uma abordagem do processo de ensino e aprendizagem com enfoque na construção do conhecimento geomorfológico a partir do entendimento da mediação pedagógica (MASETTO, 2000), do processamento da informação (MORAN, 2000), aprendizagem significativa (AUSUBEL, 1968; MOREIRA, 2012) das habilidades e dos conceitos estruturantes em Geomorfologia (SOUZA, 2009; BERTOLINI, 2010; AFONSO, 2015) considerando o contexto da sociedade atual (CASTELLS, 1999) e o uso dos recursos didáticos, especialmente do Google Earth (LIMA, 2012), enquanto instrumento para o ensino de Geomorfologia.

Em conjunto com esse levantamento foi feita uma investigação em sites e blogs, considerando autores e/ou grupos de pesquisa que tratam de assuntos vinculados à Geomorfologia e aos temas relacionados como a Geologia, Pedologia, Climatologia Biologia, Ciências da Natureza e a própria Geografia como um todo.

Capítulo 4: Percepções acerca do ensino de Geomorfologia e o uso de recursos didáticos tecnológicos no Brasil.

Objetivo específico:

I. Explorar e avaliar o uso de pressupostos teóricos e os procedimentos

(26)

universidades públicas por meio de questionário e refletir a respeito das percepções destes docentes quanto ao uso de recursos didáticos.

Apresenta-se uma análise do ensino de Geomorfologia nos curso de Geografia, destacando a conjuntura do uso de recursos didáticos voltados para o ensino do relevo. Tal abordagem foi realizada a partir de questionário aplicado junto aos professores da disciplina de Geomorfologia de universidades públicas brasileiras.

Acerca das técnicas de pesquisa utilizadas neste capítulo é importante esclarecer que, “a pesquisa qualitativa quer fazer jus à complexidade da realidade, curvando-se diante dela, não o contrário.” (DEMO, 2000, p.152). Desse modo, entende-se, assim como Demo (1998) afirmou, que uma pesquisa qualitativa dedica-se prioritariamente a aspectos qualitativos da realidade, mas não necessariamente despreza os dados quantitativos e vice-versa. Ainda nesse entendimento Freitas et al (2005) destacam:

O uso de técnicas qualitativas x quantitativas, tanto para coleta quanto análise de dados, permitem, quando combinadas, estabelecer conclusões mais significativas a partir dos dados coletados, conclusões estas que balizaria, condutas e formas de atuação em diferentes contextos. (FREITAS, et al, 2005, p. 33)

Portanto, a fim de ampliar as possibilidades de compreensão da realidade estudada, buscou-se ferramentas de obtenção de informações que permitissem a integração entre as abordagens qualitativa e quantitativa. “Embora métodos quantitativos e qualitativos contrastem, não se pode afirmar que os mesmos se oponham ou se excluam mutuamente como instrumentos de análise. Os pontos de vista, na verdade, podem ser complementares de um mesmo estudo.” (WILDEMUTH, 1993, p. 451, apud CAMPOS, 2010). Seguindo esse pensamento, para constituição do Capítulo 4, usou-se da abordagem quantitativa, entendida no presente trabalho, como oportunidade de conhecer aspectos mensuráveis do nosso objeto de estudo.

(27)

questionário, indicou-se uma longa etapa de análise dos dados por meio de categorização dos aspectos pesquisados e das respostas registradas pelos docentes.

Capítulo 5: Atividades didático-pedagógicas envolvendo conteúdos geomorfológicos com uso do Google Earth como recurso didático.

Objetivo específico:

I. Propor e analisar, a partir das percepções obtidas ao longo da pesquisa, atividades didático-pedagógicas com uso do Google Earth enquanto recurso didático.

Apresentamos a proposta de elaboração de atividades com uso do software Google Earth enquanto recurso didático, bem como os resultados do seu uso com alunos da disciplina de Geomorfologia.

O arcabouço teórico e os resultados obtidos no questionário, estabelecidos nos capítulos anteriores, indicaram as possibilidades de avanços no uso das novas tecnologias em benefício do processo de ensino e aprendizagem no campo da Geomorfologia, fornecendo indicações dos conteúdos a serem abordados e metodologias possíveis de serem aplicadas, com uma intenção de promover o ensino mais eficiente.

(28)

CAPÍTULO II

2. A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOMORFOLÓGICO:

CONTRIBUIÇÕES AO ENSINO DE GEOMORFOLOGIA

O estudo da edificação dos conhecimentos geomorfológicos tem enorme valor intrínseco na medida em que fornece bases sólidas para compreensão dos conteúdos acerca do relevo e fornece subsídios para desenvolvimento de perspectivas futuras. Dentro desse contexto, o presente capítulo está consubstanciado na elaboração de um retrospecto do caminho da Geomorfologia enquanto parte do conhecimento humano e disciplina componente dos cursos de Geografia, além de realizar uma abordagem da construção dos estudos geomorfológicos no Brasil e concluir com uma discussão acerca da Geomorfologia no contexto dos avanços tecnológicos, buscando estabelecer relações com a perspectiva da evolução do ensino desta disciplina.

Para a abordagem da questão epistemológica e/ou teórica da Geomorfologia foram pesquisados textos nacionais e estrangeiros, sem a intenção de esgotá-los, mas sim, obter argumentos suficientes para construção de um entendimento acerca do tema e buscar estabelecer os argumentos que embasam a instituição da Geomorfologia enquanto disciplina. É importante ressaltar que estudos do relevo também foram realizados em outras regiões do mundo, como em civilizações antigas ou distantes como na China, Índia, Japão e na região do Oriente Médio por exemplo. No entanto, conforme a bibliografia acessível, pelo contexto da evolução da Geomorfologia e influências em sua constituição no Brasil, serão abordados os estudos realizados no continente europeu e ainda pelos norte-americanos.

(29)

• a escolha dos conteúdos a serem ministrados • a definição dos textos das ementas;

• a distribuição das disciplinas, nos cursos de Geografia; • as preferências em projetos de pesquisa;

• as metodologias de ensino

2.1. As bases da Geomorfologia atual

O desenvolvimento da Geomorfologia não foi linear, ocorrendo uma superação e não uma soma de conhecimentos, marcado ainda por contestações e rupturas. Os mesmos fatos surgem com estruturação e significação diferentes ao longo da evolução dos conhecimentos geomorfológicos (CHRISTOFOLETTI, 1973). Definir o contexto e como se deu o surgimento da Geomorfologia não é uma tarefa fácil. Historicamente o homem busca compreender a paisagem terrestre, e, por conseguinte, o relevo que faz parte de sua formação. A preocupação do homem com as formas de relevo remonta a tempos antigos, desse modo, ele há muito faz Geomorfologia, mesmo quando essa palavra não existia.

As ideias preponderantes do desenvolvimento científico influenciam as mais diversas áreas do conhecimento. Desse modo, até o século XVII a análise do relevo sob a ótica do Catastrofismo - crença baseada em dogmas religiosos - foi predominante. Até então, a origem das formas de relevo da Terra é atribuída à formação instantânea durante a criação, a formação após o dilúvio de Noé, a terremotos e atividades vulcânicas (DAVIES, 1969, apud ORME, 2002). Esta perspectiva da criação pode ser exemplificada na citação a seguir:

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Os fundamentos catastróficos de temporalidades rápidas e pontuais, definidas como manifestação de intervenção divina foram gradualmente substituídos por explicações de uma base mais científica. O meio ambiente terrestre estava sujeito a explorações, e o contato com um novo ambiente estimulou novas ideias e opiniões, assim como na elaboração de novos caminhos metodológicos. As expedições, explorações e o desenvolvimento de instituições de pesquisa constituíram-se como bases para incorporação de novas perspectivas e entendimentos acerca do relevo terrestre (GREGORY, 1992).

Acerca do estudo histórico e evolução da Geomorfologia acadêmica Mendes; Dimuccio (2013) destacam que pode ser visto sob duas perspectivas distintas:

[...] uma que aborda a história do seu desenvolvimento, cruzando-a com um olhar epistemológico em cada fase de desenvolvimento; outra que procura contextualizar essa história com os processos de partilha disciplinar na organização dos estudos em países com diferentes tradições acadêmicas. Uma e outra via contribuem para aclarar a razão do surgimento de temas de estudo específicos, da elaboração de linguagens e da adoção de métodos. (MENDES; DIMUCCIO, 2013, p.780)

Nessa perspectiva, Abreu (1983) elabora uma sinopse interpretativa da evolução da Geomorfologia, buscando uma explanação crítica das diferentes posturas geomorfológicas no decorrer do tempo. Segundo este autor a teoria geomorfológica, em seu sentido moderno, teve sua origem a partir de duas fontes principais:

[...] uma de raízes norte-americanas e incorporando o grosso da produção em língua inglesa e francesa até a II Guerra Mundial e outra de raízes germânicas, exprimindo-se basicamente de início em alemão (espécie de língua franca da Europa Centro-Oriental), mas que incorpora também, posteriormente, grande parte da produção publicada em russo e polonês. (ABREU, 1983, p.7)

Desse modo, ao definir essas duas fontes principais Abreu (1983) (Figura 2) designa a

primeira como corrente anglo-americana, apesar de apresentar também a influências de

autores de expressão francesa, que do ponto de vista epistemológico são influenciados

claramente pela língua inglesa. A segunda corrente, de origem alemã, que incorpora

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Essas teorias, ainda que tenham apresentado em certos aspectos interferência mútua, evoluem de maneira paralela, convergindo apenas após meados do século XX para a busca de um quadro de referências mais global. Segundo Abreu (1983, p.52), “o não reconhecimento deste fato cria sérias dificuldades ao estabelecimento de uma epistemologia da Geomorfologia atual.”.

2.1.1. A corrente Anglo-Americana

Ao longo do século XVIII, o contexto dos acontecimentos no meio técnico-científico na Europa, especialmente na França e no Reino Unido, promoveu um ambiente intelectual que motivava a discussão. O desenvolvimento do espírito científico moderno com os filósofos das Luzes abriu caminho ao positivismo e a um novo arranjo de saberes. Ainda nesse contexto, o avanço das necessidades que demandavam saber técnico do modelado terrestre, devido à construção de estradas, canais, portos, com a atuação principalmente de engenheiros, levaram a uma tomada de consciência da existência de uma dinâmica do relevo (MENDES; DIMUCCIO, 2013).

Nesse ambiente intelectual, diante de trabalhos executados por geólogos e engenheiros europeus e norte-americanos é que a Geomorfologia vai se estabelecendo enquanto campo do conhecimento. Os primeiros geólogos, no final do século XVIII, tiveram nesse processo um papel fundamental.

As ideias sobre as formas e origens do modelado ganham maior vigor a partir do século XVIII e, sobretudo no século XIX, com os estudos desenvolvidos por Thomas Burnet, Buffon e James Hutton em suas teorias da Terra, num contexto em que história natural, cosmografias e preceitos religiosos se misturavam, (BERTOLINI, 2012). James Hutton foi um dos primeiros a expressar claramente a evolução das formas da superfície da Terra.

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existentes era considerada a chave para a compreensão da historia da Terra.” (GREGORY, 1992).

Plutonista convicto, Hutton supõe que

os relevos são edificados pelo soerguimento das rochas sob o efeito do calor interno e, para explicar a evolução posterior da superfície terrestre, invoca a ação lenta e repetida dos rios e dos glaciares. O seu contributo de maior originalidade foi certamente a explicação dos vales. (BROC, 1996 apud

MENDES; DIMUCCIO, 2013)

O matemático John Playfair (1748-1819) foi o responsável pela popularização das ideias huttonianas após a sua morte, destacando a formação das montanhas e ação da erosão fluvial na destruição das mesmas. Apesar do rigor da demonstração, o plutonismo de Hutton-Playfair teve poucos seguidores e o catastrofismo permanece poderoso até o fim do século XIX.

O livro publicado em 1830 “Princípios da Geologia” por Charles Lyell (1797-1875), considerado o pai do Uniformitarismo, contribuiu para aceitação das ideias huttonianas (GREGORY, 1992). O argumento central dessa obra é o de que o presente é a chave para o passado, os registros geológicos do passado distante podem e devem ser explicados com referência a processos geológicos presentes em operação e como tal diretamente observáveis. Desse modo, propunha uma tentativa de esclarecer as transformações da superfície terrestre a partir dos fatores que agem atualmente, gerando um impulso à reflexão, e assim, dando subsídios para o surgimento de uma Geologia acadêmica (MENDES; DIMUCCIO, 2013). Os mesmos autores destacam que

a afirmação desta ciência reúne a partir de então, as condições essenciais a qualquer ciência que persegue sua autonomia: um corpo teórico autónomo reconhecido, a constituição de instituições sociais (e.g. Sociedades de Geologia e de Geografia) e acadêmicas (e.g. Escolas de Minas) e a evidência da sua utilidade (e.g. a exploração dos recursos mineiros e materiais líticos para a construção; deposição costeira das areias e a manutenção dos portos; etc.). (MENDES; DIMUCCIO, 2013, p. 783 e 784)

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desprendimento de outras disciplinas, tomou um tempo considerável e a partir de inúmeros conhecimentos.

Na segunda metade do século XIX vai se afirmando a constituição de um novo campo de estudo, por meio da interpretação dos processos e das dinâmicas relacionadas às formas do modelado terrestre, mas, além disso, das pendências sobre a delimitação dos campos de estudo e das formas da sua institucionalização acadêmica de cada uma das disciplinas em disputa de reconhecimento. Nesse processo foram constituindo-se linguagens que sustentam a originalidade da Geomorfologia e fazendo a delimitação dos temas de pesquisa.

A partir de então, até meados do século XX, predominava a tendência de publicar materiais difusos, que evidenciavam a carência de abordagens que permitissem trabalhados em conjunto (uma obra em função da outra), ou numa perspectiva evolutiva, que fosse seguida pela consolidação de reação ou ampliação de tais focalizações evolutivas.

Nos Estados Unidos, a afirmação da Geomorfologia como unidade disciplinar autônoma aparece associada a tradições acadêmicas diferentes da Europa, no domínio privilegiado, a Geografia Física, e na instituição acadêmica, as Faculdades de Ciências. Neste processo de institucionalização da disciplina teve um papel decisivo William Morris Davis (MENDES; DIMUCCIO, 2013).

O pensamento geológico contemporâneo foi incorporado na teoria davisiana. Os trabalhos dos exploradores do oeste americano, incluindo John Wesley Powell (1834­

1902), Grove K. Gilbert (1845-1918) e C. E. Dutton (1841-1912), que foram notáveis e forneceram materiais e ideias que posteriormente vieram a ser incorporados na Geomorfologia, sempre via ciclo de erosão (CHORLEY, DUN E BECKINSALE, 1964 apud GREGORY, 1992). Dentre essas ideias destaca-se, no que abrange conceitos o “nível de base” de Powell (1834-1902), o “equilíbrio dos rios” de Gilbert (1845-1918) e o “perfil de equilíbrio” dos engenheiros franceses (HINGGINS, 1975 apud GREGORY, 1992).

(35)

(1992) descreve o impacto da teoria darwiniana na Geografia Física e explica que a ideia de mudança através do tempo, teve reflexos na análise da evolução das formas de relevo, atribuindo, desse modo, uma perspectiva histórica. “Talvez tenha sido a força combinada do Uniformitarismo e da evolução que encorajou algumas das mais obscuras manifestações da abordagem histórica.” (GREGORY, 1992).

Até o final do século XIX, foi sob a designação de Fisiografia1, que Davis nomeava os estudos que praticava e a partir de 1889 passou a adotar o termo Geomorfologia. O êxito da Geomorfologia sobre outros termos como Fisiografia, ou mesmo morfologia, estava claro e assim como a sua inclusão no campo da Geografia tinha dado um passo decisivo, e era evidente o predomínio da Geomorfologia considerada muitas vezes como a base física da Geografia (MENDES; DIMUCCIO, 2013). Sobre a proposta de Davis, Monteiro (2001) destaca que

Em sua proposta eminentemente teórica Davis evoca, para fins de legitimação, a linguagem matemática, requisito básico da ciência. O artigo em pauta data do final do século XIX, intitulado The Geographical Cycle e publicado no Geographical Journal da Royal Geographical Society, em seu número 14, ano de 1899, entre as páginas 481 e 504. Nele, além de perseguir propósitos genéticos (causais) e não apenas topográficos (formais), enfatizando o caráter teórico, é feita, propositadamente, abstração de toda a gama complexa de vetores implicados no modelado terrestre. Partindo da classificação genética das formas, nos capítulos seguintes trata do papel do tempo como elemento da terminologia geográfica e a descrição do ciclo geográfico ideal. Após a contribuição do engenheiro Surell (1841) formulando as leis da erosão fluvial, a partir do estudo das torrentes alpinas, de onde emergiram os primeiros conceitos fundamentais da Geomorfologia, a proposta de Davis vem dar um passo decisivo à sistematização do estudo do relevo terrestre. (MONTEIRO, 2001, p. 3)

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Após esse período a teoria do ciclo de erosão davisiano passou a ser dominante na Geomorfologia, por meio de muitos artigos e livros didáticos produzidos por Davis. O estudo do relevo terrestre atinge uma espécie de maturidade passando do empirismo descritivo ao raciocínio dedutivo.

Alguns aspectos do trabalho de Davis favoreceram sua dominância naquele momento, como por exemplo, a clareza das ilustrações e blocos diagramas do relevo, que promoveram maior facilidade na associação com a realidade, consistindo neste ponto, valorosos recursos didáticos. Assim “[...] o modelo davisiano ofereceu um ponto comum para iniciação científica, a partir do qual o pensamento estruturado tinha condições de evoluir.” (GREGORY, 1992, p.54)

Sobre o modelo davisiano Gregory (1992) descreve:

O enfoque essencial da Geomorfologia davisiana baseava-se no fato de propiciar um ciclo de erosão normal, de modo que se tornava possível classificar qualquer paisagem de acordo com o estágio alcançado no ciclo de erosão, fosse juventude, maturidade ou senilidade. Concomitantemente, oferecia uma trilogia para a compreensão da paisagem em função da estrutura, processos e estágio ou tempo alcançado em um ciclo de erosão. Se o ciclo normal resultava do trabalho das chuvas e rios, outros ciclos diferentes foram delineados em paisagens áridas, esculpidas sob o ciclo de erosão árido e ciclo de erosão marinho, onde atenção particular era posta na emersão e submersão das linhas litorâneas. Dois tipos principais de acidentes também foram adicionados ao ciclo normal, relacionados com atividade vulcânica e acidentes glaciares. (GREGORY, 1992, p.51)

A contribuição de Davis foi fundamental na sistematização dos estudos geomorfológicos. Ampliações da abordagem de Davis surgiram no contexto do pós Segunda Guerra Mundial, quando houve substancial aumento no número de geógrafos por conta da expansão das universidades. Nesse momento, foram elaboradas diversas proposições acerca da evolução das paisagens, muitas ainda com características essencialmente históricas.

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sobre as vertentes, baseado nas ideias elaboradas por Penck (1924). Essas ideias foram seguidas por Wood (1942) e posteriormente começaram a ser incorporados na pesquisa de L.C. King, que já se encontrava realizando pesquisas nas paisagens áridas e semiáridas da África e publicava o volume “Cânions e a evolução da paisagem” (1953) (GREGORY, 1992).

Especialmente a partir da década de 50 do século XX, o abandono progressivo do modelo davisiano se deu a favor de uma aproximação sistêmica que traz implícita uma mudança na atitude científica utilizada, “a ampliação dos conhecimentos e do arsenal técnico de análise virão trazer novos impulsos não só à Geomorfologia, mas à Geografia em geral.” (MONTEIRO, 2001, p.5).

2.1.2. A corrente Alemã

Paralelamente à edificação da Geomorfologia Anglo-Americana, em meados do século XIX, na Alemanha, desenvolvia-se uma escola da Geografia com grande importância que ia se tornando uma ciência independente a partir de esforços e reivindicações para a criação de novas cadeiras nas universidades. Neste momento o alemão Oscar Peschel (1870) propõe que os geógrafos dediquem-se ao estudo da morfologia terrestre. Mesmo sua obra não sendo considerada de grande valor científico, foi relevante na conjuntura em que se despontava o surgimento da Geomorfologia alemã especialmente no âmbito da Geografia (MENDES; DIMUCCIO, 2013), indicando a maneira com que ser praticaria o ensino de Geomorfologia naquele momento.

Ainda nesse contexto Mendes; Dimuccio, (2013) afirmam que

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Juntamente com esta perspectiva, a Geomorfologia centro-europeia de expressão alemã é marcada por um aspecto mais coletivo, sendo destacados diversos nomes com ideias de certa forma equivalentes, mas, que se desenvolveram em contextos de interesses e proposições distintas. Ela foi estruturada, sobretudo a partir de reflexões de Ferdinand Von Richtofen (1833-1905) com a obra “Guia para Exploradores” (1986) e Albrecht Penck (1858-1945) com destaque para obra “A Morfologia da Superfície” (1984). Esses autores tiveram como predecessores os naturalistas Johann W. Goethe (1749-1832) e Alexander Von Humboldt (1769-1859), (ABREU, 1983).

Sobre as contribuições de Von Humboldt, Vitte (2008a), descreve que o mesmo instrumentalizou, as reflexões de Goethe sobre os estudos da morfologia

[...] com a invenção dos perfis, da pintura de paisagens, da relação entre as variações espaciais e verticais do relevo e de seu contexto ambiental, mas também e principalmente o de produzir a concepção de espacialidade dos processos naturais, podendo o mesmo ser representado em cartogramas e mapas temáticos. (VITTE, 2008, p. 115).

Consistindo, naquele momento, relevantes formas de representação do relevo e, portanto, instrumentos a serem utilizados no ensino das paisagens. Ainda nessa perspectiva Vitte (2008a) destaca outros aspectos da representação do relevo no âmbito da constituição da Geomorfologia geográfica

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Abreu (1982) aponta que o grande papel da obra de Von Richtofen foi a construção do que é considerado por muitos, o primeiro manual de Geomorfologia moderna, que traz um conjunto de informações de natureza metodológica a partir da observação dos fatos, oriundas dos trabalhos executados por ele na América do Norte, Ásia e Europa.

Apesar de compartilhar de algumas noções básicas da teoria davisiana, como a de aplainamento, A. Penck destacou-se na vertente alemã por sua ênfase na herança naturalista de Goethe e Humboldt, na qual a análise e observação dos fenômenos são valorizadas. Ele sistematizou as teorias e formas do relevo (tratamento genético das formas), tornando-se um dos clássicos de grande dominância nos estudos geomorfológicos na conjuntura da Geografia alemã no início do século XX (ABREU,

1983).

Desse modo, as heranças naturalistas de Goethe e Humboldt imprimiram na Geomorfologia alemã um “direcionamento para a observação e análise dos fenômenos em um contexto onde a Geomorfologia se relacionava de maneira mais intensa principalmente com a petrografia, química do solo, hidrologia e climatologia.” (ABREU, 1983, p.12). Fica evidente a preocupação da escola germânica em tratar o relevo numa perspectiva geográfica.

Estando durante décadas à frente da Sociedade Geográfica de Berlin Richthofen e A. Penck contribuíram para a pequena influência da postura davisiana no espaço cultural alemão, mesmo Davis tendo ficado no país entre 1908 e 1909 e publicasse em 1924 o livro “A descrição explicativa das formas terrestres”, suas proposições foram bastante criticadas por parte de um conjunto de pesquisadores que se dedicavam a estudar espaços com climas diferentes. Outro fator que contribuiu para a resistência na Europa Centro-Oriental às proposições davisiana, é que desde o final do século XIX, já havia sido traçado um panorama global que claramente propunha um zoneamento dos fenômenos da natureza na superfície terrestre dependentes do clima (ABREU, 1983).

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geográfica da paisagem e de um novo método de trabalho, baseado na cartografia geomorfológica” (KLIMASZEWSKI, 1963 apud ABREU, 1983). Desde então a cartografia passa a ser utilizada como um dos instrumentos que auxiliam na pesquisa que tem na observação seu principal interesse.

Walther Penck (1924) destaca-se como mais relevante opositor da postura dedutivista- historicista de Davis, valorizando o estudo dos processos. Em sua publicação póstuma, “Análise Morfológica do Relevo”, contribuiu para o avanço da Geomorfologia por meio da explicação dos movimentos crustais e da formação de alguns conceitos como o de “depósitos correlativos”. Mesmo sendo criticado, inclusive por Davis, determinados autores norte-americanos, a partir da publicação da versão em inglês de sua obra em 1935, passaram a se interessar pelos estudos das vertentes e processos. Na União Soviética a proposta de W. Penck, retomada por Gerassimov (1946, 1968), é empregada “como base conceitual para a análise morfoestrutural e sua correspondente cartografia geomorfológica.” (ABREU, 1983, p.59)

Os estudos de J. Büdel (1948, 1957, 1963, 1969 e 1971) na perspectiva climática e climatogenética conduziram “a uma ordenação dos conjuntos morfológicos de origem climática em zonas e andares, produzidos pela interação das variáveis epirogênicas, climáticas, petrográficas e fitogeográficas.” (ABREU, 1983, p.59). Nesse momento os trabalhos de Geografia Física se desenvolvem com estudo científico das variadas configurações que são resultado da interdependência das camadas da superfície terrestre: litosfera, hidrosfera e atmosfera, em que o conceito de paisagem reflete a unidade espacial desses elementos.

O desenvolvimento das propostas conceituais voltadas para a paisagem evolui e se consolida a partir Troll (1932 apud ABREU, 1983) nos estudos da geoecologia e ordenação ambiental do espaço, apoiados em grande parte na teoria sistêmica. A ecologia da paisagem criada por Troll (1939 apud FREITAS, 2009) deu origem aos estudos da geoecologia e às análises integrando a Geografia física, zonalidade climática, ecologia e paisagem. Tendo como suporte teórico o conceito de paisagem ecológica o mesmo autor foi precursor do uso de fotografias aéreas no mapeamento de unidades de paisagem (FLORENZANO, 2008).

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significativo nas técnicas e emerge como método fundamental para a análise do relevo, com importante contribuição de trabalhos desenvolvidos na Polônia, Tchecoslováquia e U.R.S.S (KLIMASZEWSKI,1963; DEMEK, 1976; BASENINA; TRESCOV, 1972, apud ABREU, 1983). Além disso, o mapeamento geomorfológico avança enquanto instrumento cada vez mais importante no planejamento regional, promovendo um reflexo “na classificação formal da disciplina que torna-se nitidamente geográfica e voltada para a sociedade como um todo, superando as artificiais dicotomias ainda bastante arraigadas na linhagem conceitual de língua inglesa.” (ABREU, 1983).

2.2. As mudanças na Geomorfologia após meados do século XX

Enquanto disciplina, a Geomorfologia tem história e conteúdos próprios e não compreende um simples mosaico de conteúdos de outras disciplinas como a Geologia, Física, Química e Biologia, mas, os conteúdos desses outros campos de conhecimento são, direta ou indiretamente, considerados no raciocínio geomorfológico e contribuem para essa ciência, no entanto não são eles que dão identidade à Geomorfologia.

Como tratado anteriormente, a escola anglo-americana, tendo Davis como principal representante, considerava o fator temporal como determinante na evolução do modelado; enquanto isso, a escola germânica valorizava as relações processuais e os reflexos no modelado da paisagem. Assim, o principal foco da Geomorfologia foi na descrição da paisagem por meio da explicação intuitiva com base em modelos conceituais ou dados empíricos de campo.

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tecnologia potencializa e otimiza a coleta, o processamento e a computação de dados para se lidar com maiores quantidades de informações.

A quantificação dos estudos geomorfológicos foi se afirmando principalmente a partir de 1945, influenciando uma atmosfera intelectual na Geografia Física, quando a mensuração se tornou o aspecto predominante de muitas tendências (GREGORY, 1992). Esse movimento foi complexo, sendo parte da expansão geral e crescimento da análise científica, resultado de vários eventos que, em maior ou menor grau, é marcado por contribuições de outras ciências, mas que para Geomorfologia coletivamente merece a marca de uma revolução. Igualmente, muitas das mudanças na Geomorfologia ocorrem como resultado do impacto do trabalho de não-geógrafos (BURTON, 1963).

De maneira mais relevante a partir das décadas de 1940 a 1960, os estudos quantitativos, as abordagens sistêmicas e o uso da computação assumem maior destaque nas pesquisas geomorfológicas (CHRISTOFOLETTI, 1973; ABREU, 1983; GREGORY, 1992; CASSETI, 1994; VITTE, 2008a; FLORENZANO, 2008; CHURCH, 2010; FREITAS, 2009; ORME, 2012), refletindo nos manuais, textos de referência e na maneira de conduzir o ensino de Geomorfologia.

Dentro desse contexto, a análise espacial é valorizada a partir de estudos hidrológicos e das bacias de drenagem com destaque para os estudos de Horton (1933 e 1945), Strahler (1954, 1957), Schumm (1956) e Gregory; Walling (1973). Ganha destaque também a abordagem sistêmica, do fluxo de matéria e energia e do equilíbrio dinâmico, desenvolvidas por Hack (1960), Strahler (1980), Chorley e Kennedy (1971), Schumm e Lichty (1973). Ao mesmo tempo, tais posturas são reforçadas em outros países que já caminhavam nessa perspectiva desde meados do século XIX, com os estudos da Ecodinâmica de Tricart (1977) e do Geossistema de Bertrand (1972) e Sotchava (1978).

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geomorfológica fundamental. Em sua principal obra, que posteriormente foi referência para diversas pesquisas, Horton (1945) esclarece:

Um dos objetivos deste trabalho é descrever dois conjuntos de ferramentas que permitem um ataque aos problemas do desenvolvimento de formas de terra, particularmente bacias de drenagem e as redes de transmissão, ao longo de linhas quantitativas. Um esforço será feito para mostrar como o problema da morfologia de erosão pode ser abordado em termos quantitativos, e até mesmo a este respeito só os efeitos de escoamento superficial serão analisados em pormenor. (HORTON, 1945. p.281)

Com a perspectiva de reforma e adaptação do paradigma de Davis, H. Baulig (1952) aborda a frequência dos movimentos crustais e as variações relativas ao nível dos mares; e P. Birot (1955) admite a evolução geral do relevo relacionada a uma modalidade de ciclo morfológico que está subordinado ao clima e vegetação (CASSETI,

1994).

Um trabalho clássico foi desenvolvido por Schumm (1956) tratando da morfologia das

badlands, através de medições e observações cuidadosas de repetição de processos e desenvolvimentos das vertentes de drenagem, esculpidas sobre argilas em Perth Amboy, e com sucesso associou a análise morfométrica de Horton ao estudo dos processos de vertentes, produzindo valores de densidade de drenagem (GREGORY, 1992). Esse mesmo autor propõe um dos índices mais utilizados quanto à velocidade do escoamento, que relaciona a amplitude altimétrica e o comprimento do canal principal da bacia (ORME, 2013).

A abordagem de Horton também foi adotada por Strahler (1954) e por uma sucessão de discípulos da Universidade Colúmbia, incluindo a atualização de testes de campo das leis de Horton.

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Os trabalhos de Strahler (1954) também estimularam estudos sobre a morfometria da bacia de drenagem, e em poucos anos verificou-se que a ordenação dos canais e a composição da drenagem estavam refletindo relações estatísticas mais do que relações determinísticas. A pesquisa quantitativa que se desenvolveu na sequência foi em grande parte motivada por métodos de ordenação, que se tornaram essenciais para comparações mais consistentes das bacias de drenagem, elaborando um conjunto de parâmetros que posteriormente passaram a ser utilizados em modelos que relacionam índices de clima, tipo de bacia de drenagem e medida de descarga e de produção de sedimentos (GREGORY E WALLING, 1973).

Christofoletti (1979) aponta ainda, como contribuição de Strahler (1950; 1952), a introdução na Geomorfologia da teoria dos sistemas gerais, baseado nos estudos de Von Bertalanffy (1950). No entanto as principais contribuições acerca dos estudos geomorfológicos de abordagem sistêmica foram desenvolvidas por John T. Hack (1960), R. J. Chorley (1962) e Chorley e Kennedy (1971).

Uma forma alternativa de interpretação da paisagem foi proposta por Hack (1960) ao fazer uma abordagem quanto ao equilíbrio dinâmico. Sua interpretação traz um enfoque acíclico, analisando o relevo como um sistema aberto, com constante troca de energia e matéria com os demais sistemas terrestres. Desse modo, para Hack (1960), as formas da superfície terrestre são resultado da combinação dos fatores: resistência litológica (estrutura geológica), potencial das forças de denudação e variações climáticas.

Nos estudos de R. J. Chorley (1962) os processos recebem papel de destaque na elaboração das ideias sistêmicas. Ele procurou sistematizar e esclarecer a necessidade da abordagem sistêmica aos problemas geomorfológicos. Chorley e Kennedy (1971) e Strahler (1980) desenvolveram esquemas semelhantes de classificação hierárquica para sistemas em Geografia física, incluindo Geomorfologia. Nestes esquemas, os sistemas geomorfológicos, pelo menos na ausência de intervenção humana, podem ser vistos como sistemas de processos-resposta ou processos-forma, isto é, sistemas que envolvem a interação entre as variáveis representando aspectos de fluxo de massa, geométricos, ou propriedades do material, referentes ao relevo e variáveis que representam mecanismos

de processos associados à saída ou entrada de energia, vigor, stress e momento. A

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Em contrapartida, a retroalimentação envolve a interação de auto-amplificação entre processo e forma ao longo do tempo, ou seja, a dinâmica dependente do tempo. Quando os seres humanos também são agentes ativos na dinâmica do relevo (por exemplo, canalização de fluxo), o sistema é controlado, onde os processos humanos de mudança e de resposta são monitorados através da tecnologia (RHOADS, 2013).

Ainda na década de 1960 é relevante a ideia de sistemas abertos com entradas e saídas

(inputs e outputs) ajustados por mecanismos de retroalimentação (feedback). A aplicabilidade dos estudos desse período está vinculada a geração de modelos quantitativos baseados no conjunto de informações de abordagens relacionadas às teorias sistêmicas com uso de novas técnicas e metodologias que se desenvolveram com suporte da tecnologia da computação e das técnicas estatísticas (FREITAS, 2009).

Contribuições sucessivas também foram realizadas, como, por exemplo, no trabalho de Aland D. Howard (1965) que buscou analisar a dinâmica e o equilíbrio nos sistemas geomorfológicos, ou em Bull (1975) que abordou a transformação alométrica em formas de relevo, assim como D. R. Stoddart (1965; 1967), com pesquisas dos sistemas ecológicos, enfocando a aplicabilidade da noção de ecossistema (CHRISTOFOLETTI, 1979).

Outra importante contribuição à Geomorfologia quantitativa se deu pela publicação de Leopold, Wolman, e Miller (1964), “Processos Fluviais em Geomorfologia”, um livro que aborda os conceitos sistêmicos como parte da análise morfométrica e topológica de redes fluviais. Além disso, as bacias hidrográficas passam a ser abordadas como unidades geomorfológicas fundamentais valorizando o funcionamento integrado de seus elementos (CHRISTOFOLETTI, 1979; RHOADS, 2013).

Uma nova abordagem geomorfológica ainda pode ser verificada no estudo da formação e desenvolvimento das vertentes. Adrian Scheidegger, (1961, 1970) oferece em sua obra diversos modelos matemáticos para análise das vertentes e seus processos. Apesar de apresentar diversas possibilidades de avanço teórico dos conhecimentos geomorfológicos, devido a essa obra não apresentar exemplificações na natureza, ela não foi devidamente reconhecida naquele momento (CHRISTOFOLETTI, 1973).

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confirmou o conceito da Deriva Continental abordado incialmente por Alfred Wegener em 1912 e apoiado por Alex du Toit. No entanto, naquele momento não havia o suporte de equipamentos e técnicas disponíveis (ORME, 2013). Para Geomorfologia a Teoria Geológica da Tectônica de Placas foi verdadeiramente revolucionária porque contrapôs a premissa do sistema de Davis. Apesar do inicial ceticismo, a teoria foi mais amplamente discutida e aceita por volta de 1970 e até os dias atuais os estudos continuam a ser abordados e refinados.

Apesar da revolução quantitativa haver sido mais expressiva entre os norte-americanos, a análise do relevo evoluiu com contribuições de diversas escolas que interpretavam as relações entre os componentes da paisagem numa perspectiva sistêmica e ecológica. Os conceitos de ecodinâmica, ecologia da paisagem, geossistemas e geocologia merecem destaque com a contribuição de autores da França, URSS e Alemanha. Tricart (1977) introduziu o conceito de unidades ecodinâmicas:

O conceito de unidades ecodinâmicas é integrado no conceito de ecossistema. Baseia-se no instrumento lógico de sistema, e enfoca as relações mútuas entre os diversos componentes da dinâmica e os fluxos de energia/matéria no meio ambiente. (Tricart, 1977, p. 32)

Na busca pela aplicação dos princípios da ecodinâmica ao planejamento territorial e gestão ambiental Tricart (1977) define quatro níveis do ecossistema, do superior ao inferior que se interagem e se integram: atmosfera, parte aérea da vegetação, superfície do solo e parte superior da litosfera. Baseado no balanço entre a morfogênese a pedogênese o autor propôs uma classificação dos ambientes em meios estáveis, com

ausência de morfogênese; meios intergrades, onde há uma transição contínua entre os

meios estáveis e instáveis; e os meios fortemente instáveis, caracterizados pela predominância da morfogênese na dinâmica natural (TRICART, 1977; FREITAS, 2009).

(47)

abrangendo aspectos dimensionais em três níveis: planetário, regional e topológico; e abrangendo a espacialização territorial ela é realizada em duas categorias: os geômeros, quando definem unidades territoriais homogêneas, e os geócoros, que definem espaços territoriais como conjunto de unidades heterogêneas. O autor considera ainda que embora os geossistemas sejam fenômenos naturais, todos os fatores econômicos, tecnológicos e sociais afetam sua estrutura e peculiaridades.

Diretamente influenciado pelas ideias de geossistema da Geografia russa, Bertrand (1972), buscou adaptar a metodologia estabelecendo que o geossistema

corresponde a dados ecológicos relativamente estáveis. Ele resulta da combinação de fatores geomorfológicos (natureza das rochas e dos mantos superficiais, valor do declive, dinâmica das vertentes...), climáticos (precipitações, temperatura...) e hidrológicos (lençóis freáticos epidérmicos e nascentes, pH das águas, tempos de ressecamento do solo...). (BERTRAND, 1972, p. 14)

Além dos fatores ecológicos, Bertrand (1972) aborda a ação antrópica que apresentam uma dinâmica integrada e relacionada diretamente aos efeitos de biostasia e resistasia. A partir dessa análise o autor define o sistema de classificação da paisagem dividindo-o em unidades superiores, onde os elementos climáticos e estruturais são fundamentais, e unidades inferiores nas quais os elementos fundamentais são antrópicos e biogeográficos. As unidades superiores estão dividas em zona, domínio e região natural e as inferiores em geossistema, geofáceis e geótopo. Desse modo, Bertrand (1972) expõe uma metodologia baseada em pressupostos relacionados com a taxonomia, dinâmica, tipologia e cartografia da paisagem.

Os últimos 50 anos viram um progressivo desenvolvimento da concepção através do campo orientada para o processo e estudos de laboratório, pesquisa aplicada e modelagem numérica sobre uma gama de escalas. A Geografia abrange a utilização de técnicas de análise matriciais, relações de conectividade e métodos geoestatísticos, com destaque para a interpolação com um dos mais relevantes avanços. Os Sistemas de Informações Geográficas, também se apropriam desse avanço fazendo uso de princípios

dos estudos da complexidade, como a lógica fuzzy, redes neurais, autômatos celulares,

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Figura 1:  Representação da organização teórico-metodológica. i l “ 1  Professores  'a  1  "  Alunos Metodologias de ensino Mediação Pedagógica Capítulo II Googl e  EarthEnsino
Gráfico  1:  Percentual de domicílios com microcomputadores com acesso à internet.
Figura 3: Visão esquemática do processo contínuo aprendizagem significativa-aprendizagem mecânica.
Figura 4: Conceitos e ideias envolvidos no ensino, aprendizagem e pesquisa em Geomorfologia.
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Referências

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