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Gestão participativa no conjunto flamanal torna uma lixeira viciada na praça das flores em espaço do conhecimento sustentável, Manaus - AM / Participatory management in the flamanal assembly becomes an addicted dumpster in the square of flowers in spaces

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Gestão participativa no conjunto flamanal torna uma lixeira viciada na praça

das flores em espaço do conhecimento sustentável, Manaus - AM

Participatory management in the flamanal assembly becomes an addicted

dumpster in the square of flowers in spaces of sustainable knowledge, Manaus

– AM

DOI:10.34117/bjdv6n1-203

Recebimento dos originais: 30/11/2019 Aceitação para publicação: 20/01/2020

Solange Batista Damasceno

Mestre em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Tarumã-Açu

Endereço: Rua Charles Goodyear, 208, Conjunto Hiléia I, Redenção, Manaus, Amazonas

Telefone: (92) 98124-0931 E-mail: bio.solange@yahoo.com.br

Gilberto Ribeiro da Silva

Graduado em Gestão Pública

Instituição: Associação dos Moradores do Conjunto Flamanal Endereço: Rua Papoula, S/N, Conjunto Flamanal, Planalto, Manaus,

Amazonas

Telefone: (92) 99105-8896 E-mail: gilbertoribeirovr@gmail.com

Luis Paulino da Silva

Graduado em Ciências Biológicas BIOCAA - Consultoria e Assessoria Ambiental

Endereço: Rua Inverno, 434, Cidade de Deus, Manaus, Amazonas Telefone: (92) 99511-6114

E-mail: biologicas63@gmail.com

Elton Alves de Souza Filho

Mestrado em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos Universidade do Estado do Amazonas

Endereço: Estrada da Refinaria, S/N, Distrito Industrial, Refinaria de Manaus

Telefone: (92) 984547287 E-mail: easf891@gmail.com

Valdelson Alves Damascena

Especialização em Gestão e Educação Ambiental BIOCAA - Consultoria e Assessoria Ambiental

Endereço: Rua 11, n. 10 Quadra B 24, Jardim Mauá, Manaus, Amazonas Telefone: (92) 99187-5844

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Maurício Viana de Oliveira

Bacharel em Direito

Universidade Federal do Amazonas

Endereço: Rua Nascimento Negreiro, n. 36, Quadra D-A, Conjunto AEFAM XIII, Flores, Manaus, Amazonas

Telefone: (92) 98105-9803 E-mail: adv1mauricio@gmail.com

Isaque dos Santos Sousa

Doutor em Geografia Humana/USP

Universidade do Estado do Amazonas; Membro do Núcleo de Pesquisas Urbana e Regional / NPUR

Endereço: Escola Normal Superior/UEA. Av. Djalma Batista, Av. Djalma Batista, 2470 - Chapada, Manaus, Amazonas

Telefone: (92) 3878-7728 E-mail: isousa@uea.edu.br

RESUMO

A iniciativa de melhoria na Praça Flamanal no Conjunto Flamanal ocorreu a partir da problemática de descarte inadequado de resíduos sólidos, encontro de delinquentes, além da poluição do corpo hídrico ao lado do local para um cenário de confraternização, prática de esporte e lazer e de exemplo de sucesso a todos que visitam o local.

Palavras-chave: Liderança, comunidade, Amazonas. ABCTRACT

The initiative to improve Flamanal Square in the group Flamanal occurred as a result of the problem of inappropriate waste disposal, encounter of delinquents, and the pollution of the water body next to the site. Currently the scenario is fraternization, sports and leisure practice and example for all who visit the place.

Key words: Leadership, community, Amazonas.

1 INTRODUÇÃO

Movidos pela problemática de descarte inadequado de resíduos sólidos, poluição do corpo hídrico ao lado do local e encontro de delinquentes, os moradores do conjunto Flamanal resolveram intervir na área, denominada “Praça das Flores”, localizada na bacia hidrográfica do rio Tarumã-Açu.

A iniciativa partiu de um dos moradores quando percebeu o grau de comprometimento ambiental e vulnerabilidade que o local se tornou ao longo do tempo. Iniciou os trabalhos imediatamente e em seguida adquiriu novos agregados onde através do exemplo e persistência obteve adesão de grande parte da população residente no conjunto.

Foram dias de varreduras, retirada de amontoados de resíduos, mobilizações, parcerias público privadas para que ao longo de cinco anos a “Praça das Flores” se tornasse de fato um local onde pessoas das mais variadas idades reconhecessem este local como um ambiente sustentável.

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De acordo com uma liderança local, atualmente pessoas das mais variadas idades frequentam o local, vêm ao longo do dia e especialmente no entardecer trazer as crianças para aprender brincadeiras, do tipo “amarelinha” que na sociedade atual já não era mais possível observar esta prática no conjunto, pais que trazem seus filhos para a prática de esporte, vôlei, por exemplo, mães que trazem as crianças para descontrair no playground e a vizinhança que vêm conversar, trocar idéias e compartilhar o dia a dia.

O local tornou-se ponto de encontro comunitário diário, onde há também cultos religiosos, reuniões, constante gravação de matérias publicitárias das redes de rádio e televisão local. E o que também vale destacar é que atualmente não só a comunidade do conjunto Flamanal usufrui do espaço, mas pessoas de vários locais da cidade de Manaus que visitam o local, provavelmente por ter conhecido o local através dos meios de comunicação de massa, mas passaram a frequentar no intuito de usufruir positivamente da área.

Segundo, RIBEIRO, liderança da comunidade local, entrevistada, todos os dias ele vê pessoas diferentes no espaço e sente-se feliz pelo fato do projeto ter se tornado referência positiva à sociedade como um todo. Também afirma que o projeto já foi executado 60% do planejado, mas ainda têm outras atividades sustentáveis que serão incluídas ao longo do tempo.

2 DESENVOLVIMENTO

A lixeira viciada do conjunto Flamanal, como era conhecida anteriormente à implantação do Projeto na “Praça das Flores” tinha lá descartados resíduos de várias origens. E os atores que descartavam os resíduos no local eram os próprios moradores do entono da área como também dos mais diversos locais.

Os tipos de resíduos sólidos encontrados e coletados na área foram sofás, resto de construção, animais mortos, livros, plásticos, pneus, geladeiras, entre outros, Figura 1. Vários resíduos destes foram reciclados e atualmente são reutilizados no próprio local, como pneus, os quais tornaram-se assentos para a área de vivência, garrafas plásticas que tornaram-se proteção e vaso de plantas para a parede na estrutura de vivência, geladeiras que tornaram-se estantes de livros, orelhão telefônico que tornou-se objeto de animado, livros que são utilizados para leitura dinâmica e troca entre a sociedade.

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Figura 1 - Lixeira viciada no Conjunto Flamanal. Fonte: RIBEIRO, 2019.

No momento em que foram iniciados os trabalhos comunitários para limpeza do local, apenas cinco pessoas se dispuseram a contribuir com a ação, mas após a primeira atividade outros moradores aderiram a idéia e a cada dia de mobilização surgiram mais e mais pessoas para colaborar. Cada pessoa neste processo de construção do projeto teve um papel fundamental, afirma RIBEIRO, liderança da comunidade local, porque sem a união, a sensibilização e a perspectiva de que o local se tornaria um local onde seria aprazível, jamais teria se tornado possível tal realidade, pois não foi uma iniciativa do poder público, mas sim partiu da necessidade que a comunidade tinha em função dos riscos socioambientais iminentes observados por todos do entorno da área.

Na medida em que as ações de limpeza foram ocorrendo, os comunitários foram encontrando mais e mais motivos reais para contribuírem com projeto e que fizeram toda diferença. O fato dos resíduos, descartados ter se transformado em objetos utilizáveis deu uma significância ao objetivo primeiro da ação transformadora, que era de deixar de existir um ambiente degradado e tornar a área aprazível, o que na verdade obteve o resultado esperado, figura 2.

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Figura 2 – Praça das Flores/Espaço do Conhecimento após ação comunitária. Foto: DAMASCENO, S. B., 2019.

2.1 LIDERAR PELO PROPÓSITO DO BEM COMUM

O exemplo de obstinação da liderança comunitária que iniciou o projeto de transformar um local de degradação socioambiental para um local de bem estar é um exemplo de que, não apenas o poder público é fazedor de todas as coisas, mas também a sociedade é responsável por suas ações e atitudes quando se trata do bem comum e coletivo em que todos possuem o dever cidadão de cumprir com o seu papel de ator partícipe do processo de construção de uma sociedade mais justa, igualitária, equilibrada e ambientalmente sustentável.

Quando se trata do processo de liderança em que possuem, os princípios e objetivos equiparados ao processo de governança da Política de Gestão de Riscos a adoção das melhores práticas de governança define um processo estruturado, que permite a identificação, a avaliação e o gerenciamento de riscos que possam impactar no cumprimento da missão e no alcance dos objetivos organizacionais (ANA, 2019).

Em que pese à gestão de um espaço territorial onde existe estabelecido um processo de governança não se deve abster a gestão dos recursos hídricos que foi o motivador para que todo esse trabalho fosse iniciado, pois a grande causa de se fazer todo o trabalho foi na verdade a conservação do canal do igarapé que corta a área objeto deste estudo. Como os recursos hídricos na visão da liderança e comunitários locais são essenciais à manutenção da vida e se encontra em colapso pelo grau de poluição já instalado neste corpo hídrico e nos demais do bairro Flamanal, se fez necessário que as ações fossem mais consistentes, no sentido de corroborar com a sustentabilidade dos ambientes, bem como contribuir com estratégias das políticas públicas que visam minimizar os

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impactos causados pelo mau uso dos recursos naturais e sua renovação. Portanto, a iniciativa positiva nos leva a crer que não se pode apenas criticar o governo, mas também contribuir com a sustentabilidade ambiental dos ambientes, especialmente dos recursos hídricos, na perspectiva de que cada vez mais haja o aprimoramento e engajamento social visando contribuir com a gestão dos recursos naturais.

2.2 PROCESSO PARTICIPATIVO NA GESTÃO HIDROAMBIENTAL

Após mais de uma década de evoluções, o país chegou ao final dos anos 90 com um dos arcabouços legais de gestão da água mais modernos do mundo, processo esse coroado pela Lei 9.433/97 (Constituição Federal de 1997), que estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos e o SNGRH (Sistema Nacional de Recursos Hídricos). Essa modernização legal e institucional reformou o sistema de gestão da água no país e beneficiou-se da combinação de uma crise setorial de tensões macroeconômicas e de importantes mudanças do poder político nos anos 80. (MAGALHÃES JÚNIOR, 2010) Notadamente, a Lei 9.433/97 traz a gestão integrada e participativa no art. 1º, inciso VI no qual, a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Nesse contexto, a questão da participação dos atores sociais na gestão dos recursos naturais renováveis tem assumido importante papel nas relações sociedade-natureza, principalmente devido à omissão, ou então à sua fragilidade, dos modelos tradicionais de gestão fortemente presentes no contexto dessa relação, fato este que faz com que determinados sistemas de indicadores de sustentabilidade deixem de incluir em seus processos de escolha das variáveis chaves a participação dos atores locais dentro de todos os estágios das discussões, com a finalidade de se identificar as reais necessidades e a satisfação das aspirações de cada sociedade, através da identificação de políticas sustentáveis e estratégias de desenvolvimento.

Para FARIAS (2009), a realidade da gestão hídrica tem mostrado que é praticamente impossível que o Poder Público consiga acabar ou diminuir a degradação ambiental sem a participação da sociedade civil. Essa afirmação demonstra e corrobora o que CÂNDIDO et. al. (2010) dizem em relação à participação dos atores locais, que passou a ser necessária em todos os estágios das discussões, com a finalidade de se identificar as reais necessidades e a satisfação das aspirações de cada sociedade, através da identificação de políticas sustentáveis e estratégias de desenvolvimento. Na visão de BERKES (2005), para que o uso de um determinado recurso comum seja considerado sustentável, deveria haver um feedback informando a instituição de gestão sobre o estado do recurso, e, da mesma forma, seria necessário dispor de um feedback entre o regime de gestão e o usuário do recurso. E nos instrumentos legais da política de gestão dos recursos hídricos está previsto, quando insere os três entes sociais nas discussões desta importante e estratégica política, porém na

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realidade dos estados nem sempre é assim, podemos citar, por exemplo, no Amazonas que há décadas ocorre explotação do manancial hídrico subterrâneo sem outorga de uso e cobrança. O recurso subterrâneo é estratégico e só deve ser usado em situação extrema, porém não é isto que vem ocorrendo ao longo do tempo no estado, que apesar de ter abundância de águas superficiais vem utilizando em grande escala o manancial estratégico e ainda de forma totalmente sem controle da explotação.

Especificamente na gestão dos recursos hídricos, os entendimentos são perfeitamente aplicáveis visto que é um cenário no qual o processo de tomada de decisões e de estratégias para uma melhor aplicabilidade da legislação pertinente deve envolver vários agentes e múltiplos usos das águas, sendo, portanto, necessário ponderar os aspectos institucionais, políticos, sociais, econômicos, financeiros, hidrológicos, ambientais, culturais e entre outros.

O processo de valorização e modernização da gestão da água em países como o Brasil permitiu e exigiu, entretanto, um maior envolvimento e participação da sociedade, fato que levou à soma de esforços para a conscientização social e à abertura aos princípios de gestão descentralizada e participativa.

Para MAGALHÃES JÚNIOR (2010), um dos princípios mais valorizados nas modernas abordagens de gestão da água é da adoção da bacia hidrográfica como unidade principal de planejamento e gestão. A partir da escolha de uma unidade territorial adequada, a gestão da água deve ser incorporada em um processo mais amplo de gestão ambiental integrada, compreendida como a gestão de abordagem ecossistêmica; na qual, o desafio é realizar a transição demográfica, econômica, social e ambiental rumo a um equilíbrio durável diferentemente de uma gestão tradicional.

De acordo com JACOBI (2011) a gestão dos comitês de bacias enquanto colegiado tende a definir uma dinâmica que permite que os atores integrem e ajustem suas práticas tendo como base uma lógica de negociação sociotécnica que substitui uma concepção tecnocrática visando ajustar interesses e propostas nem sempre convergentes e articulados para um objetivo comum.

Com base nessa discussão, a propositura de um sistema com essa natureza se constitui um instrumento versátil capaz de subsidiar o processo de decisão na área de recursos de maneira que possa contribuir para uma gestão participativa dos recursos hídricos.

Entende-se que a sustentabilidade hidroambiental, a partir de uma interação participativa, carece de muita discussão e de muito tempo para materializar-se dentro da gestão das águas, principalmente se considerarmos que a complexidade e as questões paradoxais que permeiam o termo da sustentabilidade hídrica. Nesse sentido, mesmo com toda relevância que se possa obter na construção de um modelo dessa natureza, qualquer tentativa de medir essa sustentabilidade terá sempre muitas limitações. Sendo assim, por mais cuidados metodológicos na busca de consistência,

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dada a complexidade de cada um dos indicadores, variáveis e dimensões envolvidas e, principalmente, pela multiplicidade de possibilidades de inter-relações entre a multiplicidade de atividades envolvidas na política de gestão hídrica considerada como fundamental para que a gestão seja de fato eficiente, e ainda, por outras razões diversas que um ou outro processo não seja utilizado, os resultados deverão ser bem discutidos e envolver os três entes, Poder Público, Sociedade Civil e Usuários.

2.3 GOVERNANÇAS E GOVERNABILIDADE DA ÁGUA

O modelo de gestão das águas no Brasil, em vigor atualmente, é fruto de um processo que, em linhas gerais, se iniciou na passagem dos anos 1970 para 1980. Era um momento no qual a crença no modelo de gestão baseado no “comando e controle” e numa análise tradicional de custo e benefício esgotou-se. Chegava-se a uma situação na qual não era mais possível desconsiderar os impactos socioambientais nem excluir os diferentes atores do processo de tomada de decisão. Estresse hídrico e um número crescente de conflitos em virtude da disputa pelo recurso tornaram-se presentes em diferentes localidades. Passou-se a questionar, então, a maneira como vinham sendo abordados e geridos os usos da água; a localização dos centros decisórios; o foco das políticas de águas e a unidade de referência a ser adotada pela mesma; e os atores considerados e incluídos neste processo. No caso brasileiro, diversas foram as experiências que serviram de parâmetro para este debate, destacando-se dentre elas a experiência francesa dos Comitês e Agências de Bacia, CAMPOS (2010).

Embora existisse – e exista – um descompasso entre a demanda e a oferta de água, já que o uso dos recursos hídricos influencia sua qualidade e quantidade, evidenciou-se que era fundamental abordar a questão da governabilidade e da governança. O papel do estado, enquanto gestor exclusivo dos recursos naturais passou a ser questionado; entretanto, mais do que substituir a ação do estado por outro ator, o que estava em jogo era o desenvolvimento de um novo desenho institucional e definição de qual papel o estado desempenharia neste novo cenário.

Delineou-se, então, uma nova proposta que, por um lado, preocupava-se com as condições de disponibilidade e qualidade da água e com as condições dos ecossistemas, em geral, fundamentada no paradigma da sustentabilidade, e, por outro, baseava-se em determinados princípios e instrumentos que possibilitariam um novo modelo de governabilidade: “[...] uma combinação de estruturas hierárquicas, dinâmicas participativas, ação associativa e mecanismos de mercado”, baseada “em uma cultura de diálogo, negociação, cidadania ativa, subsidiariedade e fortalecimento institucional.” (CASTRO, 2002). As diretrizes desta nova proposta estabelecem que os problemas relacionados à água devam ser resolvidos, em sua maioria, mediante um processo de negociação política e social, envolvendo diferentes níveis de governo e atores sociais. Mas, para que esta proposta se concretize,

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é necessário superar os limites do processo de negociação em função do déficit de articulação entre as instâncias de gestão dos recursos hídricos e os governos municipais, bem como de comunicação e participação dos diferentes atores envolvidos. (FRACALANZA; CAMPOS; JACOBI, 2009).

Atualmente, tem sido amplamente adotado o modelo de gerenciamento sistêmico participativo, visto como “[...] um processo de negociação social, sustentado por conhecimentos científicos e tecnológicos, que visa a compatibilização das demandas e das oportunidades de desenvolvimento da sociedade com o potencial existente e futuro do meio ambiente [...] no longo prazo.” (LANNA, 1995 apud NEDER, 2002, p. 34). Isto tem sido possível graças ao processo de redemocratização vivido nas últimas décadas.

O caso do processo participativo do Conjunto Flamanal, que a própria definição e delimitação da área a ser considerada para gestão e planejamento são resultado de uma construção social e política, onde as ações partiram por iniciativas da própria comunidade e que as realizou através de parcerias. E ainda fez a conecção das agendas entre a base social e as esferas de governo, e ainda as parcerias públicas privadas. Segundo GOHN (2005), este processo é bastante interessante, principalmente, se vinculado à noção de governança social de um dado território. Em uma sociedade fragmentada como a manauara, a idéia de comunidade se fragilizou e a tendência é que seja substituída pelos grupos sociais, articulados em redes; assim sendo, são estas redes que irão se articular ao poder público e, no caso da gestão das águas, participar dos conselhos e comitês, de modo a tornar a governabilidade e governança da água mais eficiente na região abrangida pelo projeto.

Quando se trata de governança e governabilidade, nas últimas décadas, tem-se discutido bastante o conceito de governança da água, relacionando-a, de modo geral, aos novos atores sociais e aos agentes governamentais responsáveis por uma boa gestão desse elemento da natureza, assim como às instituições, regras e procedimentos para tomada de decisão quanto às formas de uso dos recursos hídricos.

Na governabilidade, portanto, trata da possibilidade de diferentes combinações institucionais que, podem produzir condições favoráveis ao exercício do poder, não existindo apenas um caminho para tanto. Governança, por sua vez, é um processo em que novos caminhos, teóricos e práticos, são propostos e adotados visando estabelecer uma relação alternativa entre o nível governamental e as demandas sociais e gerir os diferentes interesses existentes. Para evitar ambiguidades e imprecisões entre governabilidade e governança, SANTOS (1996, p. 20) propõe que se utilize a noção de capacidade governativa, a qual se refere à capacidade de um governo para elaborar e implementar políticas públicas que respondam às demandas da sociedade. DINIZ (1997, p. 196) também considera este conceito, entendendo-o como um “[...] conjunto de mecanismos e procedimentos para lidar com a dimensão participativa e plural da sociedade, o que implica expandir e aperfeiçoar os meios de

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interlocução e de administração do jogo de interesses. As novas condições internacionais e a complexidade crescente da ordem social pressupõem um estado dotado de maior flexibilidade, capaz de descentralizar funções, transferir responsabilidades e alargar, em lugar de restringir, o universo dos atores participantes, sem abrir mão dos instrumentos de controle e supervisão”.

Assim, o processo de inclusão da sociedade civil no sistema de gestão, mesmo que privilegie atores sociais usualmente excluídos do ponto de vista socioeconômico, pode não ser efetivo do ponto de vista de inclusão de seus interesses enquanto alvo e objeto das políticas de gestão das águas. Isto não se dá somente pelos temas discutidos nos fóruns de gestão da água, mas também porque recorrentemente se colocam situações nas quais outros usos da água, que não os definidos como prioritários – entre eles o abastecimento doméstico - recebem especial prioridade, como a geração de energia hidrelétrica, a irrigação, o uso industrial. Nesses casos, a apropriação de um bem comum essencial para a vida da população pode acabar sendo priorizada para a execução de atividades econômicas, enquanto na mesma região existem populações de baixa renda que estão excluídas de acesso adequado ao saneamento ambiental (FRACALANZA, 2009).

Portanto, a importância dos mecanismos participativos na gestão hídrica pode ser considerada em relação à forma como se dá essa participação, a partir de análises que considerem, entre outros aspectos: quem é a sociedade civil participante dos processos de gestão da água; quais as possibilidades de participação dos atores sociais; quais os mecanismos participativos criados e de que modo facilitam a compreensão e atuação de novos atores na gestão; qual o papel dos conflitos e consensos na lógica de gestão hídrica. Essas considerações, aliadas a leituras da participação do ponto de vista político podem auxiliar análises dos conflitos envolvendo a gestão hídrica e a proposição de mecanismos complementares que incentivem uma mais ampla participação de novos atores nessa gestão.

Em consonância com isto, é importante também desenvolver as relações entre os atores envolvidos a fim de ampliar a confiança e a cooperação entre os mesmos na gestão de um recurso comum como a água, alcançando benefícios a toda a coletividade (OSTROM, 1990). Neste sentido, processos como a Aprendizagem Social (Social Learning) (PAHLWOSTL; HARE, 2004) e a construção de consensos gradativos entre os stakeholders, participantes dos comitês e agências de bacia, são essenciais para o fortalecimento do processo de tomada de decisão e da Governança da Água. Outro desafio é superar as resistências de diversos atores e dos próprios arranjos institucionais criados pelos antigos modelos de gestão. Atualmente, mesmo sob a vigência da nova política das águas, verifica-se que há grande dificuldade para superar o tipo de relação estabelecida entre o estado e os grupos dominantes, especialmente aquela desenvolvida no período do governo intervencionista. Por outro lado, a mudança das rotinas das agências estaduais tradicionais, que dão apoio técnico,

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jurídico e administrativo à gestão das águas, representa um grande desafio de ordem administrativa, jurídica e técnica, sem considerar a necessidade de ampliar o quadro técnico para dar conta da nova demanda. O terceiro desafio é superar os limites do processo de negociação técnica e social em função do déficit de articulação entre as instâncias de gestão dos recursos hídricos e os governos municipais, bem como de comunicação e participação dos diferentes atores envolvidos. Como mencionado, a própria definição e delimitação da área a ser considerada para gestão e planejamento é resultado de uma construção política e social, fato que tem impacto sobre a organização e representação dos grupos sociais e sua participação nos novos arranjos institucionais criados. Sendo assim, cada vez mais é preciso aumentar a capacidade governativa, desenvolvendo e aperfeiçoando os meios de interlocução e de administração do jogo de interesses, bem como criando estímulos ou incentivos para que os governos locais, assim como os membros da sociedade civil, assumam maiores responsabilidades no processo de implantação da política de gestão das águas.

Como decorrência da situação de desigualdade social no acesso aos recursos hídricos, e para uma boa Governança da Água, ressalta-se o papel fundamental da integração entre políticas públicas no sentido de se minimizar as disparidades socioeconômicas observadas. Para tanto, colocam-se algumas questões a serem consideradas: a integração das políticas de recursos hídricos com as de uso e ocupação de solo, quanto a programas comuns e agentes e instituições que desenvolvam atividades conjuntas; a prioridade de saneamento ambiental para populações de baixa renda, que não têm condições de usufruto de sistemas alternativos para abastecimento de água e coleta e afastamento de esgotos; o estabelecimento de subsídios para os setores de saneamento e para população de baixa renda, considerando que a água é um bem comum que deve ser oferecido em condições de qualidade e quantidade para toda a população; o aumento da provisão de habitação social, bem como de reurbanização e recuperação de áreas irregularmente ocupadas. Acredita-se que essas são questões prioritárias a serem perseguidas, que caminham no sentido da já referida integração das políticas públicas urbanas.

No caso específico do Conjunto Flamanal, bem como todas as áreas adjacentes aos igarapés urbanos do município de Manaus, se faz necessário a implantação da governabilidade da água pelos entes institucionalmente responsáveis, tanto quanto as comunidades precisam necessariamente se empoderar do seu papel, que é fundamental para a governança da água, através do processo participativo, como o bom exemplo que este projeto in sito vem operacionalizando ao longo dos últimos cinco anos.

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No projeto já possui várias estruturas que estão implantadas, como tapiri para reuniões, cultos religiosos, recepção de pessoas e troca de acervo bibliográfico entre a comunidade e os visitantes, playground, balanços, quadra de vôlei, academia ao ar livre, assentos, placas instrutivas de conservação do espaço e lixeiras.

A pretensão da comunidade é de implantação de outros mobiliários como continuidade das ações e melhoramentos do espaço sustentável como, banheiro com tratamento ambientalmente correto, captação de águas pluviais para uso comum, instalação de energia solar para usufruto local, recomposição do leito original do canal do corpo hídrico que corta a área, revegetação da mata ripária, limpeza e despoluição do corpo hídrico, implantação de horta comunitária com plantas medicinais e feira alternativa para venda de produtos recicláveis e alimentação saudável.

Entende-se que a área possui um potencial muito bom para turismo uma vez que se trata de um local de fácil acesso via terrestre, com pavimentação regular, localização na área central do conjunto, excelente ventilação, iluminação instalada e funcionando, abastecimento de água tratada regular, fauna silvestre em fluxo contínuo aparente, flora com espécies regionais preservadas, comunidade receptiva e harmonia paisagística.

Recomenda-se que seja realizado no entorno do projeto “Praça das Flores” e bairros adjacentes educação ambiental com a comunidade local quanto ao uso dos recursos naturais de forma sustentável, como economia de água e energia, reutilização dos produtos industrializados como plástico, papel, laticínios e vidrarias, não predação da fauna silvestre característica habitante na área, descarte adequado dos resíduos, poluição visual e sonora, inserção de jardinagem nos quintais com vista à diminuição da impermeabilização de áreas e melhor absorção de águas pluviais e troca e reconstrução das inter-relações pessoais.

REFERÊNCIAS

ANA - Agência Nacional de Águas, 2019. Portaria No. 49, de 8 de março de 2019. B. Pes. E Serv., Ed. Ext. Brasília, v. 14, n. 17, mar. 2019.

BERKES, F. Sistemas sociais, Sistemas Ecológicos e Direitos de Apropriação de Recursos Naturais. In: VIEIRA, P. F.; BERKES, F.; SEIXAS, C. S. Gestão Integrada e Participativa de Recursos Naturais: Conceitos, métodos e experiências. Florianópolis: Secco/APED, 2005. Cap. 1.

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CAMPOS, Valéria Nagy de Oliveira et al FRACALANZA, Ana Paula. Governança das águas no Brasil: conflitos pela apropriação da água e a busca da integração como consenso, Revista Ambiente & Sociedade. Campinas, SP. Vol. XIII, n2, (2010). p. 365-382.

CÂNDIDO, G. A. et al. Índice de Desenvolvimento Sustentável para Municípios: Uma Proposta de Metodologia com Participação de Atores Sociais e Institucionais. In: CÂNDIDO, G. A. (Org.) Desenvolvimento Sustentável e Sistemas de Indicadores de Sustentabilidade: Formas de aplicações em contextos geográficos diversos e contingências específicas. Campina Grande, PB: Ed. UFCG, 2010.

FARIAS, T. Introdução ao Direito Ambiental. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.

FRACALANZA, A. P. Gestão das águas no Brasil: rumo à governança da água?. In: RIBEIRO, W. C. (Org.) Governança da água no Brasil: uma visão interdisciplinar. São Paulo: Annablume; FAPESP; CNPq, 2009. p.135-53.

GOHN, M. G. O protagonismo da sociedade civil: movimentos sociais, ONGs e redes solidárias. São Paulo: Cortez, 2005.

JACOBI, P. R. Gestão Participativa dos Recursos Hídricos: reflexões sobre as novas institucionalidades. Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 2005.

MAGALHÃES JÚNIOR, A. P. Indicadores Ambientais e Recursos Hídricos: Realidade e Perspectivas para o Brasil a partir da Experiência Francesa. 2. ed. Editora Bertrand Brasil, 2010.

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Imagem

Figura 1 - Lixeira  viciada no Conjunto Flamanal. Fonte: RIBEIRO, 2019.
Figura 2 – Praça das Flores/Espaço do Conhecimento após ação comunitária. Foto: DAMASCENO, S

Referências

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