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Escola : "risonha e franca? " : "representações douradas", "representações de chumbo" e configuração atual no cotidiano brasiliense(1960-1990)

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Academic year: 2021

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(1)Universidade. de. Brasília -. UnB. Instituto d e C i ê n c i a s H u m a n a s Curso: M e s t r a d o / Pós-Graduação em História Linha de Pesquisa: Discurso, Imaginário e Quotidiano. E S C O L A : "RISONHA E F R A N C A ? " "REPRESEFTAÇÕES DOURADAS", "REPRESENTAÇÕES DE CHUMBO" E C O N F I G U R A Ç Ã O A T U A L NO COTIDIANO B R A S I L I E N S E , ( 1 9 6 0 - 1 9 9 0 ). D i s s e r t a ç ã o a p r e s e n t a d a ao D e p a r t a m e n t o de História do Instituto de Ciências H u m a n a s da U n i v e r s i d a d e de B r a s í l i a UnB, p a r a a o b t e n ç ã o do título de M e s t r e em História.. Aluno.: E v e r s o n L o p e s F r o s s a r d Orientadora.: P r o f . D o u t o r a M a r i a T . F e r r a z N e g r ã o d e M e l l o. Brasília, D.F.,. 10/1998.

(2) E s c o l a :. " R i s o n h a e F r a n c a ? ". 'Representações Douradas", "Representações de Chumbo" e configuração atual no cotidiano brasiliense ' (1960 - 1990). Se as c o i s a s s ã o inatingíveis... Ora! N ã o é motivo p a r a n ã o querê-las... Que tristes os caminhos,. se nãof o r a. A mágica presença das estrelas. (Mário Quintana). Este aos. trabalho. professores. partilham. a. é e. dedicado. alunos. esperança. de. que uma. escola - r i s o n h a e f r a n c a - sem i n t e r r o g a ç õ e s e sem aspas..

(3) Agradecimentos. "Não se voa porque se têm asas, ter. crê-se. asas porque se. voou.. As. asas. são. conseqüência." Bachelard. Tempos de dissertação são tempos de uma cotidianidade pontuada p o r. intervenções. entre. nos. as. inseguranças. que. que. oscilam. e. ameaçam. espreitam. nos sucumbir e a esperança a l a d a que nos impulsiona a decolar e nos conduz ao destino pretendido. Nas. asas. da. solidariedade,. p u d e c o n t a r com g e s t o s generosos, não. permitiu. que. a. jornada. e. da. compreensão. cuja disponibilidade fosse. solitária. e,. certamente, muito mais árdua e angustiante. Entendendo que o mero ritual de nomeação seria sempre menor que a grandeza e o espírito acadêmico demonstrados,. registro na consciência da gratidão a. marca indelével do exemplo de alteridade daqueles que me. ajudaram. acalentada.. a. concretizar. uma p r o p o s t a. de. há. muito.

(4) RESUMO. O p r e s e n t e trabalho tem como ponto d e partida a problematização do '"Clichê" "Escola,. risonha. e. franca". tantas. vezes. mesmerizado. ou. reproduzido. parafrasticamente em diferentes e s p a ç o s discursivos. Tendo Brasília c o m o cenário principal, o e s t u d o tem como s u p o r t e s empíricos fontes plurais t r a b a l h a d a s em sintonia com a Linha de Pesquisa: História - Discurso, Imaginário e Cotidiano. PósG r a d u a ç ã o em História/UnB. Assim, modulações do cotidiano da instituição escolar s ã o c o n s i d e r a d a s em temporalidades que abarcam os primórdios da capital da República, os tempos de ditadura e o tempo presente. Ao longo de 3 capítulos, subcorpora constituídos de falas de a t o r e s sociais (professores e estudantes), d i s c u r s o midiático em g ê n e r o distintos e uma breve incursão na "retórica d a s imagens", subsidiaram o pretendido acompanhamento entre falas e condições p e c u l i a r e s de s u a emergência. Consideradas como "imagens caleidoscópicas" as r e p r e s e n t a ç õ e s t r a b a l h a d a s s ã o pontuadas, ao final, por um posicionamento do p e s q u i s a d o r quanto às transformações do cenário vigente. Para tanto, o imaginário radical tem, sem dúvida, um inestimável papel.. Unitermos. Escola - Educação - Representação- Brasília - Cotidiano - Imaginário..

(5) ABSTRACT T h i s w o r k h a s it's s t a r t i n g p o i n t c e n t e r e d a r o u n d t h e p r o b l e m i z i n g o f t h e c l i c h ê "The School, Cheerful a n d S i n c e r e " , s o m a n y t i m e s m e s m e r i z e d o r p a r a p h r a s t i c a l l y r e p r o d u c e d within d i f f e r e n t d i s c o u r s i v e s p a t i a . Brasília i s t h e main s c e n e r y for t h e study, a n d empiricai s u p p o r t c o m e s f r o m p l u r a l s o u r c e s d e v e l o p e d i n t u n e with t h e r e c e a r c h line: " H i s t o r y - D i s c o u r s e , I m a g i n a r y a n d Q u o t i d i a n " , within t h e P o s t G r a d u a t e P r o g r a m of t h e Faculty of History of t h e University of Brasília. The modulations of t h e quotidian d e t e c t e d in t h e "school" as an i n s t i t u t i o n a r e c o n s i d e r e d within t e m p o r a l i t i e s t h a t e n c o m p a s s : t h e early d a y s of t h e Capital of t h e Republic, t h e epoch of t h e dicatorship government, and present times. Through three chapters, subcorpora c o n s t i t u t e d by s p e e c h e s of social a c t o r s ( t e a c h e r s and pupils), mediatic d i s c o u r s e s i n d i f f e r e n t g e n e r a a n d a l s o a brief i n c u r s i o n within t h e "rethoric o f t h e images", e s t a b l i s h s u b s i d i e s for t h e a s p i r e d " s e n s e accompaniaments", b a s e d on the relationship between the s p e e c h e s and the peculiar conditions of their emergency. Considered as "kaleidoscopical images", t h e r e p r e s e n t a t i o n s that were object of study a r e punctuated in t h e last part by a posture of t h e r e s e a r c h e r , in f a c e to t h e c h a n g e s of t h e current scenery. For such, t h e c o n c e p t of "radical imaginary" h a s u n d o u b t e l y a invaluablel role. Keywords School - Education - Representation - Brasília - Quotidian - Imaginary.

(6) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO. I. CAPÍTULO A - INSTAURANDO O DIALOGO 01 1.1. A n o t a ç õ e s p r e l i m i n a r e s. 02. 1.2. D i a l o g a n d o com a categoria cidade. 03. 1.2.1. Dialogando com Brasília. 05. 1.3. Dialogando com a escola na p e r s p e c t i v a do cotidiano e das representações. 06. 1.4. A m e m ó r i a e o "Arquivo d a s P a l a v r a s " em p e r s p e c t i v a discursiva. 12. 1.5. Instituição escolar: lugar de relações de poder. 16. 1.6. O p e r c u r s o e os r e c u r s o s. 18. CAPÍTULO II- O "ARQUIVO DAS PALAVRAS" 21 2.1. A 4Tisiognomia da c i d a d e ". 22. 2.2. P a l a v r a s dos " a n o s d o u r a d o s ". 25. 2.2.1. O "mito J.K.". 27. 2.2.2. Sociabilidade e idealismo. 32. 2.2.3. "Chamados e escolhidos": A estruturação da vida cotidiana. proxémica 41. 2.3. P a l a v r a s dos " a n o s de c h u m b o ". 45. 2.3.1. Os "portadores da história". 45. 2.3.2. "Seqüências de chumbo". 46. 2.3.3. Os narradores e os "sintomas" pertinentes. 51.

(7) CAPÍTULO m- IMAGENS CALEIDOSCOPICAS. 55. 3.1. P a l a v r a s do t e m p o p r e s e n t e. 56. 3.2. Os " p o r t a d o r e s de angústia*'. 58. 3.3. Fala galera: " t i p o a s s i m ". 67. 3.4. E s c o l a e mídia. 91. 3.4.1. A escola anunciada. 91. 3.4.2. A retórica das imagens. 105. 3.4.3. A escola noticiada. 115. CONSIDERAÇÕES FINAIS 126. CORPUS 137. BIBLIOGRAFIA 138.

(8) [. I n t r o d u ç ã o. "Estava mais angustiado que o goleiro na hora do gol." Belchior.

(9) II. Introdução. O presente trabalho é o resultado de reflexões que há algum tempo me interpelam na condição de profissional ao magistério. Ao optar por trabalhálas em um p r o g r a m a de Pós-Graduaçâo em História, c o n s i d e r e i a minha f o r m a ç ã o e t a m b é m a o p o r t u n i d a d e de e n f o c a r a p r o b l e m á t i c a do c o t i d i a n o escolar, de uma perspectiva cujas ressonâncias com a Linha de Pesquisa História: Discurso, Imaginário e Cotidiano, desde logo se evidenciavam.1. O conforto de tais evidências, entretanto, não assegurou um percurso tranqüilo pois, ao entusiasmo inicial quanto às possibilidades de adoções concretas,. somaram-se em seguida e paradoxalmente,. a angústia e. a. insegurança, cúmplices no afa perverso de estimular o desestímulo.. Tentei não me deixar abater, mas sequer a quase compulsiva labuta com t e x t o s , os infindáveis Adiamentos e as transcrições enfeitadas com grifos coloridos, davam conta de me apaziguar. Antes, p e l o contrário, a angústia p a r e c i a resultar potencializada, sob os efeitos do m e s m o r e m é d i o com o qual eu p r e t e n d i a saná-la, ou seja, tomando providências que concorressem p a r a c l a r e a r o c a m i n h o teórico-metodológico a ser cumprido e, ainda assim, sentindo-me. inseguro.. Se, por um lado, antigos manuais de métodos e técnicas alertavam que "o p e s q u i s a d o r deve t e r muito c l a r o o caminho a s e r p e r c o r r i d o ", por outro, pela via de múltiplas linguagens, inclusive a, digamos, "poético-filosófica",. 1 Sou professor concursado de História na Fundação Educacional do Distrito Federal (FE.DF). A Linha de Pesquisa de Pós-Graduação referida é um dos eixos do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília..

(10) eu me p e g a v a p e r s u a d i d o por b e l a s p a l a v r a s como as de M a c h a d o "Cammante no hay camino se h a c e ei camino ai a n d a r " 1. De fato, afinal, uma das pistas estava ali e a alternativa que adotei mostrou-me um caminho construído. " a i andar*', pois, "tê-lo claro", não fazia. parte d a s m i n h a s certezas. Certeza m e s m o eu a p e n a s a possuía quanto à p r o b l e m a t i z a ç ã o do clichê - Escola,. r i s o n h a e f r a n c a - tantas v e z e s. mesmerizado ou p a r a f r a s t i c a m e n t e veiculado nos discursos em circulação na cena cotidiana, quando o assunto é a escola. Ao retomá-lo neste estudo, desobrigo-me entendendo. de que. maiores. considerações. sua explicitação. quanto. à. hipótese. está p a t e n t e a d a desde. o. norteadora título,. que. apropriando-se da matriz naturalizada, o faz subvertendo-a através da forma interrogativa - Escola, risonha e f r a n c a ?. Como palco inicial para consideração da problemática escolhi a cidade de Brasília e nela, a instituição escolar enquanto " l u g a r - p r a t i c a d o " , e n s e j a d o r de r e p r e s e n t a ç õ e s que busquei captar a t r a v é s das falas de atores sócias q u e o animam, tais sejam, p r o f e s s o r e s e alunos.. Definido o cenário principal, os marcos temporais se insinuaram quase que naturalmente, pois a história da cidade o s t e n t a pontos de inflexão que sugeriram desdobrando. nexos. bastante. inclusive. para. expressivos. com. sub-hipóteses,. o cuja. meu. objeto. importância. de. estudo,. ensejou. a. e s t r u t u r a ç ã o da pesquisa, b a l i z a d a em conjunturas históricas específicas.. 2 As trancrições incluídas no parágrafo constam respectivamente das seguintes obras: Antônio J. Severino. Metodologia do Trabalho Científico. 17a ed., São Paulo: Cortez, 1991, p. 127 e Antônio Machado, apud Isaac Epstein. G r a m á t i c a do Poder. São Paulo: Ática, 1993..

(11) IV. A n t e s porém de abordá-los n e s t a introdução, abro um e s p a ç o p a r a justificar u m a c o n d u t a aqui a d o t a d a e q u e atravessa o trabalho c o m o um todo. Refiro-me a uma c e r t a " i n t e n ç ã o etnográfica7' que me levou, sempre que p o s s í v e l , a f o r n e c e r alguns elementos sobre o perfil dos n a r r a d o r e s , desobrigando-me, entretanto, da identificação enquanto tal.. Como se verá, mesmo não se tratando de "descrições densas" à m a n e i r a de R y l e e G e e r t z , esforço-me p o r i n s c r e v e r algumas informações s o b r e os d e p o e n t e s , no âmbito de p i s t a s integradas ao lugar de onde falam e s u a s c o n d i ç õ e s de produção.3 N ã o o b s t a n t e b r e v e s , entendo que ao divulgar tais e l e m e n t o s , n ã o a p e n a s satisfaço u m a natural c u r i o s i d a d e d o s m e u s r e c e p t o r e s , m a s a n t e s r e f o r ç o o a c o r d o t á c i t o na b u s c a do diálogo e da r e f l e x ã o conjunta.4. Em outra vertente da tônica etnográfica aqui matizada, inscrevo ainda o p r o p ó s i t o de n ã o a p e n a s t r a b a l h a r o t e m a selecionado, mas ademais, f a z e r d e s t e e s p a ç o um " l o c u s " p a r a a p a r t i l h a de uma e x p e r i ê n c i a a c a d ê m i c a cujas resumidas. descrições. refletem. o. caminho. percorrido,. aspectos. que. c o n c o r r e r a m p a r a a s u a c o n s t r u ç ã o , os avanços, r e c u o s e r e d i m e n s i o n a m e n t o s enfim, o meu p r o f u n d o envolvimento com o o b j e t o e s t u d a d o que impôs limites a uma, d e r e s t o i n d e s e j a d a , p o s t u r a d e "fria observação". C o m o s e v e r á , o p e r c u r s o é p a r t i l h a d o a t r a v é s de p e q u e n a s d e s c r i ç õ e s ou ao menos m e n ç õ e s q u a n t o ao e n c o n t r o com o. " c o r p u s " e as c o n d i ç õ e s de. sua. e l a b o r a ç ã o n a dinâmica d o trabalho. T a m b é m o s Seminários cumpridos, 3Conf. Clifford Geertz. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro. Ed. Guanabara: 1989, p. 13-41. 4 Agradeço as pertinentes sugestões da Professora Márcia de Melo Martins Kuyumjiam quanto a esta iniciativa que, dentro do possível, busquei encorporar ao trabalho.. i.

(12) V. exercícios r e a l i z a d o s , interferências da realidade circundante acenando para inclusões ou exclusões são registrados, sempre que essa decisão, deslocandose. da. gratuidade,. tenha. mostrado. pertinência,. objetiva. ou. mesmo. subjetivamente.3. É no mesmo espírito que cabe relatar ao reelaborar esta Introdução uma r e e s c r i t u r a que define os contornos e r e t o c a a inicialmente pensada, o m e s m o t e n d o ocorrido com o índice provisório, cujo papel foi o de sinalizar um rumo p o s t e r i o r m e n t e definido ao longo da elaboração deste estudo. Em suma, c o m o se vê, harmonizo-me c o m U m b e r t o E c o p a r a q u e m "... a introdução e. o. índice s e r ã o c o n t i n u a m e n t e r e e s c r i t o s à medida q u e o. t r a b a l h o p r o g r i d e . "6. Elencando o tema, o cenário inicial, o recorte temporal e instandas as providências. quanto. ao. universo. empírico. e. o. diálogo. com. autores. s i n t o n i z a d o s com as a d o ç õ e s p r e t e n d i d a s , tive em m ã o s um texto no qual a p o s t u r a crítica acabou por fornecer-me um mote.. Refiro-me ao instigante. artigo da p r o f e s s o r a Emília Viotti, onde os alertas e críticas se direcionam p a r a iniciativas, no seu entender, equivocadas que, em resumo, usando santos n o m e s em vão, não dão conta de articular o m a c r o e o m i c r o na história, p r o d u z i n d o assim n ã o mais que "... um c a l e i d o s c ó p i o q u e b r a d o " .. 5 Agradecendo as observações da profesora Albene Miriam Menezes quanto às informações sobre Seminários e trabalhos, optei por contornar este aspecto esclarecendo os motivos. Sem essa iniciativa, de fato, a forma fugia aos padrões clássicos sem as necessárias justificativas. Conf. U m b e r t o Eco. Como se f a z uma tese? São Paulo: Perspectiva, 1986, p. 84. 7 Conf. Emília Viotti da Costa. "A dialética invertida: 1960-1990 " in Revista d a ANPUH, vol. 14, n° 27, 1994, p. 15. A autora critica o que entende como distorções da perspectiva foucaultiana que acabam resultando em micro-histórias como "... p e ç a s c o l o r i d a s de um caleidoscópio quebrado, sem se juntarem, sem se articularem num desenho, não p a s s a n d o de fragmentos de uma história sem sentido.".

(13) VI. Ora, os s a c r o s s a n t o s nomes ali lembrados compunham, dentre outros, o elenco de a u t o r e s que, sem p r e t e n s õ e s de dominar as obras completas, eu p r o s s e g u i a c o n h e c e n d o e me e s f o r ç a n d o na expectativa da possibilidade de algumas adoções. Tinha clareza que os Seminários cumpridos, as longas horas de colóquio com a orientadora, as m a d r u g a d a s de leitura solitária e os " p a p e r s " por mim p r o d u z i d o s tinham por objetivo t a l v e z principal, despojar os c o n h e c i m e n t o s auferidos da aura de arcanos intocáveis, inacessíveis aos simples mortais.. Neste entendimento, vislumbrei meu objeto de estudo iluminado por sintonias e filiações que concorriam p a r a a p r o d u ç ã o de imagens plurais a c a d a movimento do c a l e i d o s c ó p i o , que longe de estar quebrado, estava ali, multiplicando sentidos. A t r a v e s s a n d o o estudo c o m o um todo, esta i m a g e m do c a l e i d o s c ó p i o em movimento é enfatizada na p a r t e final, p o s t o que ali, as f o n t e s se diversificam.. A esta Introdução segue-se o Capítulo I que denominei "Instaurando o Diálogo". Sem que h o u v e s s e intenção de enclausurar referenciais em uma e s p é c i e de moldura onde se encaixariam as p a r t e s seguintes, busquei não mais que situar o t e r r e n o e abrir o diálogo a p a r t i r de uma reflexão sobre aspectos. considerados. fundamentais,. cujos. desdobramentos. eu. sequer. antevia.. Levando-se em conta as peculiaridades do meu plano de observação, lanço um olhar sobre a c a t e g o r i a c i d a d e , seguindo-se de um vôo sobre a h i s t ó r i a de Brasília. E também n e s t e primeiro capítulo que enfoco a instituição. escolar,. em. modulações. do. cotidiano. e. a. questão. das.

(14) VII. r e p r e s e n t a ç õ e s . Ingresso também nos itens 1.4 a 1.6 na questão da memória. como suporte. do "arquivo das palavras", apontando imbricações percebidas. em p e r s p e c t i v a discursiva.. O relacionai envolvendo professor-aluno e a tônica dissimétrica que o perpassa,. levou-me. a. uma. abordagem. centrada. nas. relações. de. poder.. Finalizo o primeiro capítulo pontuando a s p e c t o s do p e r c u r s o e dos r e c u r s o s tentando j u s t i f i c a r condutas.. Sempre optando por orientar-me por um quadro nocional aberto e flexível, b u s q u e i apartar-me dos " i s m o s " e do conforto dos " e v a n g e l h o s " segundo f u l a n o. ou b e l t r a n o .. Assim,. os. autores. invocados. no. primeiro. capítulo e n o s demais, p o d e m m e s m o divergir, e m a s p e c t o s alhures, porém, quando aqui aparecem, estão sintonizados naquelas dimensões específicas.. Sem que se tratasse de "comprovar" o questionamento que constitui o núcleo d e s t e estudo, procurei flagrá-lo de diferentes e s p a ç o s discursivos instrumentando-me com alguns referenciais sugeridos pela Linha de P e s q u i s a acima referida.. Nesta reescrita da Introdução cabe repor as idéias de Maffesoli que o leitor e n c o n t r a r á ao final d e s t a d i s s e r t a ç ã o quando ainda uma vez preocupome com a t e o r i a e suas articulações com o empírico.. É sempre nos bastidores da vida que a teoria olha o e s p e t á c u l o social, a o m e s m o t e m p o q u e s e e s f o r ç a p o r s o p r a r os p a p é i s . 7. 7 Conf. Michel Maffesoli. Lógica da Dominação. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 1978, p. 148..

(15) VIII. No p r e s e n t e cenário, o segundo capítulo que denominei P a l a v r a s " desdobra-se e m duas vertentes:. 'Arquivo d a s. " P a l a v r a s dos a n o s d o u r a d o s " e. " P a l a v r a s dos a n o s de chumbo ". N e s t a girada do caleidoscópio, o Estado e conjunturas sócio-políticas distintas peculiarizam as r e p r e s e n t a ç õ e s dos narradores. Se aos primeiros foi dado " f a z e r história"', aos segundos, sob o peso da ditadura, a memória tem a configuração de um fardo, daí o subtítulo "Os p o r t a d o r e s de h i s t ó r i a ".. No terceiro capítulo, a já referida diversificação das fontes é acenada d e s d e o título ''Imagens c a l e i d o s c ó p i c a s " . Elas resultam da organização de s u b c o r p o r a que abrigam entrevistas que realizei com p r o f e s s o r e s e estudantes da r e d e e s c o l a r brasiliense, um repertório de anúncios, outro de notícias e m a t é r i a s opinativas o b t i d a s em j o r n a i s impressos diários e revistas semanais, além do material fotográfico, brevemente considerado.. Ao concluir o terceiro capítulo, constatei que algumas das diferentes g i r a d a s , ao t e m p o em que se c o n s t i t u í r a m como i m p e r d í v e i s na p r o b l e m á t i c a t r a b a l h a d a , q u a s e que impondo a sua inclusão, o n e r a r a m o n ú m e r o de p á g i n a s e comprometeram a dosagem p r e t e n d i d a entre capítulos.. Por outra parte, também por conta dessas inclusões na dinâmica do trabalho, h o u v e n e c e s s i d a d e de a m p l i a ç ã o do q u a d r o nocional, m e s m o sem p r e t e n s õ e s de em algum m o m e n t o ser exaustivo. Refiro-me, p o r exemplo, a um diálogo inicial onde as categorias violência e p o d e r ora transitaram pela via do E s t a d o autoritário, ora foram a c i o n a d o s p a r a pensar o cotidiano da escola, as dissimetrias e as e s t r a t é g i a s a d o t a d a s p e l o s atores que a povoam. Aqui, pensava, em suma, no p a r disciplina-indisciplina, no ludismo da.

(16) IX. d e s o r d e m e até n o s s e u s n e x o s com a e s t a b i l i z a ç ã o da imagem no r e c o r t e risonho e tranco. Tal r e p r e s e n t a ç ã o t e r á por certo interpelado a pesquisadora q u a n d o se r e f e r e a o s m o m e n t o s de. " a g r e s s i v i d a d e com d o ç u r a ".9. De todo modo, questionáveis ou não, as dimensões da violência que vinha. considerando. não. deram. conta. de. abarcar. o. cenário. interposto,. p o v o a d o de a s s a s s i n a t o s , b o m b a s e armas conferindo ao universo e s c o l a r foros de um " l u g a r p r a t i c a d o " da violência. Tais dimensões são consideradas no último capítulo.. Nas considerações finais retomo a trajetória, reservando um espaço p a r a um posicionamento. Muito embora assim cristalizada, a " e s c o l a r i s o n h a e franca". mais. se. coaduna. com. o. registro,. quando. subvertido. pela. interrogação, conforme a e s t r a t é g i a a d o t a d a no título deste estudo.. Algumas evidências, entretanto, e mesmo uma recusa pessoal no sentido. de. não. representações. confinar. hegemônicas,. a. escola. idealizada. permitiram,. apesar. no de. engessamento tudo,. uma. das. postura. otimista.. Devo esclarecer que não categorizei nesta dissertação, recortes definidos pelo b i n ô m i o "público-privado " de m o d o a embutir no primeiro a c o n o t a ç ã o de " o f i c i a l " , incumbência do Estado e no segundo, a conotação da iniciativa particular, ou seja, " e m p r e s a r i a l " . C o m o se verá, a conduta aqui a d o t a d a é p r e s i d i d a pela n o ç ã o de p ú b l i c o - p r i v a d o de um ponto de vista da organização e s p a c i a l no qual o " p ú b l i c o " abarca lugares de convivência. 9Conf. Verônica Edwards. Os Sujeitos no Universo da Escola. São Paulo: Ática, 1997, p. 47..

(17) X. social em c o n t r a p o n t o ao " p r i v a t u s " , ou seja, oikos ou domus enquanto configuração do e s p a ç o doméstico.10. Tal iniciativa, contudo, não impediu o diálogo com autores igualmente p r e o c u p a d o s com a instituição escolar, porém restringi indo-se à escola pública, c o m o o faz Lilian do Valle, cuja postura, a n c o r a d a em referenciais b e m a p l i c a d o s , é um convite à reflexão e à ação. De fato: ''a a l i e n a ç ã o n ã o r e s u l t a a p e n a s d a n e g a ç ã o d a r e a l i d a d e m a s também d o esquecimento d o desejo''.11. Trata-se enfim de pensar em possíveis, cujos suportes podem dar conta de a n t e c i p a r um futuro, desde que o presente não se deixe corroer p e l a a l i e n a ç ã o , à s o m b r a de um imaginário a serviço da r e p r o d u ç ã o anacrônica. Nestes. argumentos,. as. ressonâncias. com. as. idéias. de. Castoriadis,. e v i d e n t e m e n t e n ã o são casuais. Ele p r e s i d e o diálogo, quando os t e x t o s , os Seminários e a vida nos sopram a importância do d e s e j o e da imaginação radical. Individual ou coletivamente acionados, tais atributos do ser h u m a n o o c o m p e l e m a agir, sem que sucumba sob o p e s o da angústia diante de um quadro que pede transformações.. 10Conf Adriano Duarte Rodrigues. Estratégias da Comunicação. Questão comunicacional e formas de sociabilidade. Lisboa: Presença, 1990, cap. 2, p. 32-33. n Conf. Lilían do Valle. A Escola Imaginária. Rio de Janeiro: DP/A, 1997, p.200..

(18) C a p í t u l o. I. I n s t a u r a n d o. o. D i á l o g o. " E n q u a n t o o h o m e m e s t á vivo, Vive p e l o f a t o d e a i n d a n ã o t e r r e m a t a d o nem dito s u a última p a l a v r a " Bakhtin.

(19) 2. Capítulo. I:. Instaurando. o. Diálogo. 1.1. Anotações preliminares. Conforme indicado à introdução, a escolha da instituição escolar como o b j e t o do p r e s e n t e estudo, a inscreve em um cenário no qual priorizo as r e p r e s e n t a ç õ e s d e a t o r e s nela envolvidos cujas v o z e s inventariei d e m o d o a construir um c o r p u s que abriga lugares institucionais específicos, tais sejam, p r o f e s s o r e s e alunos com experiências vivenciadas em conjunturas históricopolíticas distintas, n o m e s m o plano d e observação, a cidade d e Brasília, locus do poder.. Assim, à formulação interrogativa que nomeia esta pesquisa: - "Escola: R i s o n h a e f r a n c a ? " - subjazem, a um só tempo, duas q u e s t õ e s que se i m b r i c a m e dão suporte à configuração do meu objeto de estudo. Se em um dos eixos reflito sobre a circulação mimética de um clichê tantas vezes r e p r o d u z i d o na e n c e n a ç ã o da vida quotidiana, no outro, pelo viés do r e c o r t e espacial,. encaminho. a. problematização. de. modo. a. associá-la. a. t e m p o r a l i d a d e s plurais e a uma espacialidade impregnada de poder, em sua c o n d i ç ã o de cidade c o n c e b i d a e construída com tal finalidade.. Partindo do entendimento de que a instituição escolar é, por natureza, um e s p a ç o de hierarquização, isto implicou refletir sobre a rede de p e q u e n o s p o d e r e s q u e ali s e e n g e n d r a m e sobre c o m o tal q u a d r o s e delineia n a s r e p r e s e n t a ç õ e s de seus atores. Estudá-los significou, entretanto, elencar a.

(20) 3. cidade em perspectiva histórica c o m o um importante vetor, c o m o uma das condições de produção das falas inventariadas de sujeitos interpelados pela relação de vizinhança com o poder.. No espírito que motivou o encontro com o objeto, busquei, enfim, dialogar com autores cujas abordagens dessem conta de subsidiar o enfoque pretendido, m e s m o nos limites de uma dissertação de mestrado. Assim tentei não descolar, mas antes, d e s t a c a r , as conexões entre o poder exercido pelo Estado, portanto, o macro, daquele que viceja na cotidianidade, ou seja, o micro.. Tais conexões são enfatizadas no próximo capítulo, nas vertentes. " a n o s dourados'' e " a n o s de chumbo".. Reservei as próximas entradas deste primeiro capítulo, para a sinalização dos principais diálogos por mim realizados e que concorreram para. instrumentar. a. caminhada. pretendida.. Sem. intenção. de. exaustivos. r e f r a s e a m e n t o s ou transcrições, espero que este procedimento concorra para clarear os modos de apreensão pretendidos.. 1.2. Dialogando com a categoria cidade. Você sabe melhor que ninguém, sábio Kublai, que jamais se deve c o n f u n d i r uma c i d a d e com o d i s c u r s o que a descreve. Contudo existe uma l i g a ç ã o e n t r e eles.1. Metáfora para um sem número de reflexões e bem por isso bastante a d o t a d a c o m o epígrafe, a cidade ultrapassa na sensibilidade de ítalo Calvino, 1 Conf. ítalo Calvino. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 59..

(21) 4. autor da Seqüência D i s c u r s i v a acima t r a n s c r i t a , quaisquer noções meramente topográficas. Dela, e do texto como um todo, afloram dimensões caras à tônica desta dissertação pois sugerem registros do simbólico, do imaginário, apontam para o representacional e destacam a importância do discurso:. As cidades, como sonhos, são construídas de desejos e medos, a i n d a q u e o f i o c o n d u t o r de s e u d i s c u r s o s e j a s e c r e t o , q u e a s s u a s r e g r a s sejam a b s u r d a s , a s s u a s p e r s p e c t i v a s e n g a n o s a s , e que t o d a s as c o i s a s escondam uma c o i s a e outra." Nas belas imagens de Calvino, além da oportunidade de refletir sobre a cidade em variadas dimensões, um alerta de muita pertinência no âmbito deste meu estudo. Refiro-me à intenção de, coerente com a Análise do Discurso, não buscar nas falas dos depoentes o escondido mas insisto, pensar nas condições que as engendram, no funcionamento dos discursos, expressão hoje consagrada no corpus da A.D.3. Pensar a cidade em algumas de suas modulações quotidianas levou-me ao diálogo com Maffesoli para quem ela é, assim como a casa. ...um polo de atração constituindo sólidas l u t a p e r m a n e n t e que deve s e r b u s c a d o passional que liga q u a l q u e r q u e seja.4. fortalezas nesta é o a f r o n t a m e n t o do destino. E aí que o f u n d a m e n t o do a p e g o afetivo ou o indivíduo ou o g r u p o ao t e r r i t ó r i o. 2 Idem, p. 44. 3 O "funcionamento dos discursos" alude, por exemplo, a concepção de análise de sentidos que difere das análises de conteúdo. A.D., sigla que adotarei doravante remete à Análise do Discurso. Sobre a A.D. "funcionando" de modo distinto da análise de conteúdo conf. Por exemplo E. Pulcinelli. Terra à Vista!: o discurso do confronto: velho e novo mundo. São Paulo: Cortez / Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1990. Especialmente o capítulo entitulado: "Conteudismo: A perfídia da interpretação." p. 243 e seguintes. 4Michel Maffesoli. A Conquista do Presente. Rio de Janeiro, Rocco, 1984 (Passin)..

(22) 5. Ao p o n d e r a r que o e s p a ç o é o l u g a r d a s f i g u r a ç õ e s e associando-o às n o s s a s r e p r e s e n t a ç õ e s e p r á t i c a s quotidianas, este referencial e seus d e s d o b r a m e n t o s c o n c o r r e r a m p a r a o encontro com meu tema e a maneira de abordá-lo.5. 1.2.1. D i a l o g a n d o com B r a s í l i a. S e g u n d o Gouveia, Brasília é a m a i o r r e a l i z a ç ã o do u r b a n i s m o no s é c u l o XX 6. É n e s t e monumento que se c o n s t r ó e m as falas p e l a s quais me i n t e r e s s o b u s c a n d o , n a s r e p r e s e n t a ç õ e s , os aludidos nexos com a cidade da qual emergem.. Certamente, por conta de seus exuberantes aspectos e peculiaridades, Brasília. ensejou. e. mesmo. vem. ensejando,. não. poucas. investigações. c o n s u b s t a n c i a d a s em t e s e s , artigos e livros. Algumas d e s t a s obras são l e m b r a d a s no c o r p o d e s t e t r a b a l h o e na bibliografia final. Assim, retomá-las n e s t e item, com t r a n s c r i ç õ e s ou r e f r a s e a m e n t o s , c o n s i d e r a d o s os múltiplos r e c o r t e s , desviar-me-ia p o r d e m a i s do a s s u n t o central.7. 5 Outros autores que compulsei para pensar sobre a cidade enquanto categoria, aparecem no corpo do trabalho e também na bibliografia final. Cabe lembrar também que cumpri o Seminário "Modernidade e Pós-Modernidade", oferecido, no segundo semestre de 1995, pela prof.a Marisa Veloso (Sociologia). Meu trabalho final recebeu o nome de "Um olhar sobre a cidade". Nas colocações situadas neste item tentei resumir o trabalho em questão. 6 Luís Alberto Gouveia in "A capital do controle e da segregação social" in Aldo Paviani (org.). A Conquista da Cidade, Edunb, 1991, p. 75. 7 Apenas no Departamento de História da UnB/Programa de pós-graduação há mais de uma dezena de trabalhos cujo plano de observação é de Brasília. Destaco também a tese de doutorado (ECA/USP) da prof. Orientadora desta dissertação, prof. Maria T. Negrão de Mello: O Espetáculo dos M o r a d o r e s do Símbolo - A mobilização p o r 'diretas-já' da perspectiva de Brasília, (tese mimeo ECA/USP/1987). Lembro também os já clássicos textos organizados por Aldo Paviani. A Conquista da Cidade. Brasília, Edunb, 1991, e o.

(23) 6. Não p o d e r i a e n c e r r a r este item sem lembrar o diálogo com J o s é de Souza Martins. Ainda que e s t e j a lançando um olhar em d i r e ç ã o ao subúrbio paulista de São C a e t a n o , sua r e f l e x ã o se harmoniza p e r f e i t a m e n t e com minha leitura sobre Brasilia: n e l a o t e m p o e o e s p a ç o n ã o p o d e m s e r s e p a r a d o s d o cenário em que se desenvolve8. 1.3. Dialogando com a escola na perspectiva do cotidiano e das representações. O par escola - educação, como se sabe, sugeriu e certamente, sugerirá ainda, um sem número de abordagens. Inscrevem-se n e s s e âmbito enfoques traduzindo p r e o c u p a ç õ e s que abrigam d e s d e o papel da e s c o l a em seus nexos com o E s t a d o , até as r e f l e x õ e s c e n t r a d a s n o s modelos pedagógicos, grades c u r r i c u l a r e s , p r o c e s s o s de aprendizagem, formação de d o c e n t e s e, mais recentemente,. a. perspectiva. relacionai,. preocupada. com. a. interação. professor-aluno.. Na sintonia9 com esta última vertente, optei pelo eixo das r e p r e s e n t a ç õ e s de a t o r e s da instituição escolar, o cotidiano por eles v i v e n c i a d o e c o n c e b i d o sem, no entretanto, negligenciar as a r t i c u l a ç õ e s com. sempre citado trabalho da prof. Nair Bicalho: Construtores de Brasília. Petrópolis, Vozes, 1983. 8Conf. José de Souza Martins - Subúrbio - vida quotidiana e história no subúrbio da cidade de São Caetano, do fim do Império ao fim da República Velha. São Paulo: Hucitec, 1992. 9 Não seria o caso de arrolar autores que trabalharam a pluralidade dos aspectos aqui mencionados. D e todo modo, refiro-me, por exemplo, ao enfoque de Gramsci, às idéias de Althusser e à s contribuições mais recentes, ensejadoras de variados textos como por exemplo, os q u e aparecem na revista d a U N E S P de 1985, intitulado A Escola e seus alunos. Raquel V. Serbino et alli..

(24) 7. o quadro mais amplo dos macro-poderes, as performances, do Estado, enfim, a instância política, em conjunturas sócio-históricas especificas.. Refletir sobre o cotidiano escolar levou-me ao diálogo com Maffesoli e Lefebvre. O e n c o n t r o com Maffesoli permitiu-me destacar,. vale a p e n a. insistir, os liames entre a c a t e g o r i a c i d a d e e o cotidiano. Aquela, segundo o autor que e n s e j a e s t e diálogo, em s e u s mínimos d e t a l h e s , é c e r t a m e n t e o p a r a d i g m a de u m a a p a r ê n c i a vivida p a s s o a passo.10. Por outro lado, com Lefebvre, me foi possível refletir sobre a importância. da. perspectiva. histórica. e. correlacionar,. por. exemplo,. " c o t i d i a n i d a d e " e " m o d e r n i d a d e " , t ã o bem por ele entendidas como, as d u a s f a c e s d o e s p í r i t o d o tempo}1. Foi ainda dialogando com Lefebvre que obtive pistas interessantes para a a n á l i s e d a s f a l a s / r e p r e s e n t a ç õ e s d o s a t o r e s e l e n c a d o s no empírico da minha p e s q u i s a . Refiro-me, p o r exemplo, às n o ç õ e s de e m p r e g o do tempo, o tempo o b r i g a t ó r i o , o tempo l i v r e e o tempo imposto, componentes da a d m i n i s t r a ç ã o do c o t i d i a n o que d e s e n h a m e (re)desenham:. os fragmentos da vida cotidiana [que] se recortam, se s e p a r a m e m s e u p r ó p r i o t e r r e n o e s e a c o m o d a m como u m quebra-cabeça. C a d a um deles p r e s s u p õ e uma soma de organizações e instituições}2. Conf. Michel Maffesoli. A Conquista do Presente... Op. cit. p. 114. 11Conf. Henri Lefebvre. A Vida Q u o t i d i a n a no Mundo Moderno. São Paulo: Ática, 1991 p. 32 12Apud Maria Cecília Teixeira. Antropologia, Cotidiano e Educação. Rio de Janeiro: Imago, 1990..

(25) 8. Ângulos i n t e r e s s a n t e s sobre o cotidiano encontrei também, nos e n s a i o s de José Paulo Netto e Maria do Carmo Brant de Carvalho.1,. Sem fechar questão sobre dimensões de um referencial pleno de desdobramentos, os autores consideram em seus ensaios posições de estudiosos como de Marx, Luckás e Agnes Heller e o já referido Lefebvre. E, portanto, sob tais inspirações que os autores as consideram, não apenas teorizando discursos de outrem, mas, como bem observa Lowy ao prefaciá-los:. [com] a preocupação com a realidade brasileira, aliás, uns d o s p r i n c í p i o s c o n d u t o r e s d e s t e l i v r o ...14 Segundo Heller, o cotidiano remete à existência humana diária seja qual for o momento histórico heterogêneo e hierárquico. A cotidianidade sublinha a característica da rotina, do repetitivo e linear.. Não obstante sua importância, o par cotidiano-cotidianidade só mais recentemente vem sendo ressaltado como categoria adotada por pesquisadores. Entretanto, ainda citando Heller vale destacar que:. A vida quotidiana não está "fora'1 da história, mas no " c e n t r o " d o a c o n t e c e r h i s t ó r i c o : é a v e r d a d e i r a " e s s ê n c i a " da s u b s t â n c i a social... A s g r a n d e s a ç õ e s n ã o - q u o t i d i a n a s q u e s ã o c o n t a d a s n o s l i v r o s d e h i s t ó r i a p a r t e m d a vida q u o t i d i a n a e a e l a retornam. Toda g r a n d e f a ç a n h a h i s t ó r i c a concreta torna-se partícula e histórica precisamente g r a ç a s a o s e u p o s t e r i o r efeito n a c o t i d i a n i d a d e } ^. Conf. J. P. Netto e M. T. Brant Carvalho. Cotidiano: Conhecimento e Crítica. São Paulo: Cortez, 1994. 14Ibid. p. 12. 15 Agnes Heller. O Cotidiano e a História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972, apud. J. P. Netto e Brant. Op. cit., p. 28..

(26) 9. Lembrando Luckás, J o s é. Paulo Netto identifica as d e t e r m i n a ç õ e s. fundamentais da cotídianidade que são a h e t e r o g e n e i d a d e , a i m e d i a í i c i d a d e e a s u p e r f i c i a l idade. P o r outra parte, para o m e s m o Luckás, o t r a b a l h o c r i a d o r , a a r t e e a c i ê n c i a atuam na s u p e r a ç ã o da cotidianidade.16. E bem verdade que as questões e sugestões para a abordagem do cotidiano t r a d u z e m dialogismos entre os vários a u t o r e s que consultei. Optei, d e t o d o m o d o , p o r elencá-los, n ã o n o sentido d e pluralizar nomenclaturas mas, s o b r e t u d o , porque, sendo h a r m ô n i c a s mas n ã o iguais, elas se combinam p a r a c l a r e a r a lida com o corpus.. Um outro autor por mim estudado nas categorias Cultura e Cotidiano é M i c h e l d e Certeau. C o m o s e verá, e l e a p a r e c e e m v á r i a s p a r t e s d e s t a d i s s e r t a ç ã o . Através de Certeau distingui na cidade, as n o ç õ e s de e s p a ç o e l u g a r , refleti a polissemia da p a l a v r a cultura e sintonizei-me com o cotidiano na p e r s p e c t i v a de um historiador.17. Como se verá, o quadro referencial sobre o cotidiano, aqui apenas sinalizado, a p a r e c e ampliado n o s capítulos seguintes, s o b r e t u d o com as i m p o r t a n t e s s u g e s t õ e s d e S a n c h e z e Penin. A m b a s trabalham o cotidiano d a instituição escolar, t o d a v i a com enfoques específicos: a primeira dialoga com Maffesoli e a segunda com Lefebvre. De minha p a r t e , optei por harmonizar. 16Conf. J. P. Netto, Cotidiano: Conhecimento... Op. cit., p. 66-70. 17Conf. Michel de Certeau. A Invenção do Cotidiano - 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994, p.202. Conf. também do mesmo Certeau. A Cultura no Plural. São Paulo: Papirus, 1995..

(27) 10. referenciais,. apartando-me. da. exclusivização,. buscando. nas. diferentes. contribuições o denominador comum da perspectiva representacional.18. Pensar na noção de representação é, segundo me foi possível perceber, pensar também nas instâncias que lhe dão suporte, tais sejam, o imaginário e o simbólico. Enfim, segundo Morin:. ... tudo se passa pela representação: é a placa giratória e n t r e p a s s a d o e p r e s e n t e , e n t r e vigília e sonho. Assim, e m b o r a a p e r c e p ç ã o d o r e a l s e o p o n h a à s visões i m a g i n á r i a s , a r e p r e s e n t a ç ã o é o a t o constitutivo idêntico e r a d i c a l do r e a l e do imaginário.19 Evidentemente que mesmo sem maiores pretensões quanto a adoções totais do arcabouço teórico sugerido pela linha de pesquisa que abriga esta dissertação, refletir sobre o imaginário cobrou-me leituras de autores como Baczko, Castoriadis, e sem dúvida, autores que ressaltam nas questões do imaginário e das representações, a perspectiva da Análise do Discurso. Exphcando-me melhor, da feita que entendo as falas dos depoentes como discursos, penso no representacional que os configura, no horizonte de autores que, como Milner e Serrani assim se expressam:. ... ao domínio do representável que constitui a realidade p a r a u m sujeito, c o r r e s p o n d e m o s domínios d a s r e l a ç õ e s d e semelhança e dessemelhança, d a s p r o p r i e d a d e s que p o r a b s t r a ç ã o p o d e m s e r c o n s t r u í d a s a p a r t i r de t e r m o s r e l a c i o n a d o s e s o b r e a s q u a i s s e baseiam a s c l a s s e s d e. Refiro-me a Maria Cecília Teixeira Sanchez: Op. cit. e a Sônia Penin. Quotidiano e Escola - A obra em construção. São Paulo: Cortez, 1989. 19Conf. Edgar Morin. O Método 3: O conhecimento do conhecimento. Portugal: Publicações Europa-América Ltda, 1987..

(28) 11. objetos, l o c a l i z a d o s em um e s p a ç o e em um tempo. E s s e â m b i t o do r e g i s t r o q u e os o b j e t o s se ligam é o imaginário.20 Tais s u j e i t o s na s o c i e d a d e , são r e g i d o s por um sistema cultural, um sistema simbólico e p e l o sistema imaginário. É no âmbito do simbólico que os sujeitos individuais e os grupos constróem e legitimam valores, edificam e j u s t i f i c a m suas práticas. C a b e ao sistema imaginário o asseguramento d a s condições. para. o. desenvolvimento. do. simbólico. e. do. cultural.. Este. imaginário, p o r sua vez, n ã o se circunscreve ao mimético. C a b e ao instituinte o p a p e l de a c i o n a r a imaginação criadora.. É nesse âmbito diferenciado, que pode-se pensar no imaginário motor que inclui em s u a s c a r a c t e r í s t i c a s rupturas na linguagem, n o s a t o s e no tempo.. [A] ruptura no tempo permite escapar à cotidianidade e e s t a b e l e c e r um novo ritmo de vida e uma n o v a d i n â m i c a d a s r e l a ç õ e s sociais. ; P r e o c u p a d o com a instituição e s c o l a r enquanto e s p a ç o de significações e representações,. encontrei no volume 61. das Edições. em A b e r t o. um. conjunto de e n s a i o s , cujo título geral, fala por si da p e r t i n ê n c i a em r e l a ç ã o ao meu t r a b a l h o :. -. " E d u c a ç ã o e I m a g i n á r i o Social:. Revendo a. Escola".. Chamou-me e s p e c i a l m e n t e a atenção, o estudo de Ferreira e Eizirik q u e se d e d i c a m a uma leitura da e s c o l a à luz das n o ç õ e s do imaginário e n c o n t r a d a s em a u t o r e s c o m o B a c h e l a r d , B a c k z o , C a s t o r i a d i s , Durand, F o u c a u l t e Morin. N ã o c a b e r i a aqui r e f r a s e á - l o s , limito-me, por ora, a situá-los p a r a uma. Conf. Silvana M. Serrani. A Linguagem na Pesquisa Sociocultural. Um estudo da repetição na discursividade. Campinas: Unicamp, 1993. 21 Conf. Eugene Enriquez. "Caminhos para o outro, caminhos para si". In Revista Sociedade. Vol. 9, n° 1 e 2. Jan - Dez. 1994. Sociologia / UnB, Reume-Dumará, p. 93..

(29) 12. posterior c o n v o c a ç ã o ao longo do e s t u d o que, aliás, não exclusivíza posturas, pois segundo B a c k z o. O campo de investigação do Imaginário Social é eclético e a i n d a n ã o d i s p õ e d e uma t e o r i a d e f i n i d a que lhe s i r v a d e suporte. I s t o p o r q u e a complexidade de q u e se revestem os e s t u d o s do I m a g i n á r i o S o c i a l remete n e c e s s a r i a m e n t e à p l u r i d i s c i p l i n a r i e d a d e e à d i v e r s i d a d e de abordagens.22. 1.4. A memória e os Arquivos da Palavra em perspectiva discursiva. Trabalhando com um empírico constituído em sua maior parte de depoimentos, tal iniciativa cobrou-me uma reflexão mais detida sobre a q u e s t ã o da m e m ó r i a . Tanto nos Seminários cumpridos, c o m o nas leituras individuais, s u g e r i d a s por o c a s i ã o d o s colóquios de orientação, pude dialogar n ã o a p e n a s com a u t o r e s que se d e d i c a r a m à memória h i s t ó r i c a mas também, com outros p r e o c u p a d o s com a memória em seus d i f e r e n t e s aspectos.23. Optei por destacar neste item, pela pertinência em relação á minha pesquisa, a q u e s t ã o da memória no r e c o r t e benjaminiano. Através d e s s e autor, me foi possível t r a b a l h a r os depoimentos de uma p e r s p e c t i v a da o r g a n i z a ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s n a s q u a i s s e articulam t e m p o r a l i d a d e s múltiplas que c o e x i s t e m no âmbito d o s a g o r a s de que nos fala Benjamim. N o m e s m o. Branislaw Backzo apud Nilda Naves Ferreira e Marisa F. Eizirik. "Educação e Imaginário social, revendo a escola", in Em Aberto, INEP, MEC, N° 61, 1994, p. 07. 23 Desobrigo-me, por ora, da indicação exaustiva dos autores que consultei até porque vários deles aparecem no corpo do trabalho..

(30) 13. espírito, p r e t e n d i , nas r e p r e s e n t a ç õ e s dos depoentes. refletir sobre articulações c o m o p a s s a d o e n ã o reconhecê-lo c o m o d e fato e l e f o i .. A estas memórias, tomando por empréstimo, com as devidas c o m p a t i b i l i z a ç õ e s a s e x p r e s s õ e s a d o t a d a s por Garrido, chamei A r q u i v o d a s P a l a v r a s . Evidentemente, n e s t e caso, com " p a l a v r a s " quero significar por e x t e n s ã o e metaforicamente, d i s c u r s o s e f r a g m e n t o s discursivos.. Permito-me, ainda sintonizado com Benjamim, identificar meus d e p o e n t e s como n a r r a d o r e s . Suas memórias, que subsidiaram a c o n s t r u ç ã o do. meu. arquivo. experiência. das palavras. individual,. são. são. discursos. trajetórias. que. existenciais. não s e esgotam n a atravessadas. de. dialogismo. Afinal, i n t e r p e l a d o s em s u j e i t o s , suas falas n ã o são inaugurais, conforme n o ç ã o básica da Análise de Discurso. N e s s e entendimento, as memórias, aqui o r g a n i z a d a s em arquivos, evidenciam, n a s r e p r e s e n t a ç õ e s individuais, as m a r c a s de s u j e i t o s a c i o n a d o s por co-referencialidades que incorporam pré-construídos, e n c e r r a m identificações e tendem a a b s o r v e r e s q u e c e r , o i n t e r d i s c u r s o no i n t r a - d i s c u r s o , segundo observa Pêcheux.26. 24Conf. Walter Benjamim - "Sobre o conceito da história" - Walter Benjamim - Obras Escolhidas - Magia e Técnica - Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1993, p. 224. 5 Especialistas em História Oral como Garrido denominam "Arquivos das Palavras", aos centros de coleta e custódia de informações catalogadas e disponíveis para usuários, pesquisadores ou não. Conf. Joan. Del Alcazar'y Revista Brasileira de História, vol. 13, n° 25, 26, 92/93 p. 29 . Na presente pesquisa meu "arquivo de palavras", isto é, fragmentos discursivos, foi construído com material preexistente (vídeo produzido pela prof. Maria Coeli a propósito d o s 30 anos do CASEB), depoimentos orais por mim realizados além do "arquivo das imagens" selecionados a partir de publicações em revistas e jornais. Em outra parte deste trabalho retomo a contribuição da professora Maria Coeli. 26 Conf. Michel Pêcheux. Semântica e Discurso. Uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas: Unicamp, 1988..

(31) 14. Compreendo, por e s s a via, a reflexão de Montenegro dialogando com r e s s o n â n c i a s de Benjamim ao r e s s a l t a r os nexos entre o n a r r a d o r e o depoente.. Aquele que tem a capacidade de relatar, descrever a c o n t e c i m e n t o s , fatos, s i t u a ç õ e s s u a s e de o u t r o s c o m o um a r t e s ã o que p r o d u z uma p e ç a [...] P o d e r e c o r r e r a o a c e r v o de t o d a uma vida, uma vida q u e n ã o inclui a p e n a s a p r ó p r i a experiência, m a s em g r a n d e p a r t e a e x p e r i ê n c i a alheia.2'. Na condição de um receptor filiado aos eixos da Análise do Discurso, incluo no e s c o p o da experiência alheia, n ã o a p e n a s a dimensão intencional, mas t a m b é m , ou m e s m o sobretudo, o a s p e c t o anteriormente assinalado, tal seja, o de m e m ó r i a s impregnadas de interdiscursividade.. As interações entre memória, discurso, quadro sócio-histórico e sujeito a t r a v e s s a m a p r o p o s t a interdisciplinar da Linha de P e s q u i s a em cujo âmbito d e s e n v o l v i o meu estudo. Foi, portanto, n e c e s s á r i o c o n s i d e r a r as instâncias do E n u n c i a d o e da E n u n c i a ç ã o inscrevendo-as no interior do quadro social e histórico. Lembrando Orlandi ao dialogar com Courtine e Foucault, c o n s i d e r o alguns d o s n e x o s acima assinalados. Se o e n u n c i a d o configura um eu-aquia g o r a e s u s t e n t a o repetível, a e n u n c i a ç ã o p o d e ser entendida c o m o a voz q u e a i r e s s o a , u m a voz sem nome.. Por outra parte, tais instâncias se desenvolvem no seio de Formações D i s c u r s i v a s l u g a r e s da c o n s t r u ç ã o do sentido. N e s s e contexto, o p a p e l da m e m ó r i a cumpre uma a t u a ç ã o que se engendra na inscrição do d i s c u r s o p e l a. 27Conf. O artigo de Antônio Torres Montenegro: "História Oral: Caminhos e descaminhos" na Revista Brasileira de História, n° 25/26, aqui citada na nota 19, p. 62..

(32) 15. via das formulações p o l i s s è m i c a s (o diferente) e p a r a f r á s t i c a s (o repetível), em permanente tensão, pois:. Esquecer é mudar e também não mudar ... lembrar tanto p o d e r e p r o d u z i r como t r a n s f o r m a r ... d e p e n d e de u m a c o n j u n t u r a da q u a l o s u j e i t o n ã o tem o p r i v i l é g i o de p o s s u i r a c o n s c i ê n c i a p l e n a ou o controle, m a s na q u a l intervém ... memória e esquecimento são irremediavelmente e m a r a n h a d o s . E isto é visto p e l o s a n a l i s t a s de d i s c u r s o s c o m o u m a necessidade.28 Evidentemente que as noções que ensejam o presente item, e seus complexos desdobramentos possuem um escopo cuja abrangência escapa a qualquer pretensão de abordagem exaustiva. Limitei-me a noticiar aspectos fundamentais para a minha pesquisa, reservando para o final o sublinhamento referente à constatação de que:. A formação discursiva não funciona como uma máquina l ó g i c a ... a e s p e c i f i c i d a d e da f o r m a ç ã o d i s c u r s i v a e s t á j u s t a m e n t e na contradição que a constitui29 Estas colocações de Orlandi embebidas pela pensamento foucaultiano são sobremaneira importantes pois, apontam para a Análise do Discurso como um domínio que não pode ser confinado a aplicações mecânicas. E neste espírito que encaminho as minhas incursões no arquivo das palavras.. Em se tratando de um espaço de disciplinarização e hierarquização, a instituição escolar é atravessada por relações de poder e, bem por isso, esse. 28Conf. Eni 1. Orlandi "O inteligível, o interpretável e o compreensível" in Regina Zilberman e Ezequiel Theodoro da Silva (orgs). Leituras: Perspectivas Interdiciplinares. São Paulo: Ática, 1988. p. 64. 29Ibid, p. 66..

(33) 16. aspecto,. sobre. o. qual. me. detenho. no. próximo. item,. não. poderia. ser. negligenciado n e s t a dissertação.. 1.5. Instituição escolar: lugar de relações de poder. Refletir sobre o poder, no âmbito deste meu estudo, e da própria linha de p e s q u i s a que o recebeu, configura uma p r o p o s t a que encontra em Foucault um interlocutor ideal. A p a r t i r deste entendimento, e i n t e r e s s a d o nas p o s s i b i l i d a d e s d e a p l i c a ç ã o efetiva, m e s m o n o s limites d e u m a d i s s e r t a ç ã o , o p t e i p e l o r e f e r e n c i a l foucaultiano, não a p e n a s circunscrito às obras originais, mas também, p e l o s subsídios de d i s c u r s o s de outrem, cujos diálogos me p e r m i t i r a m r e f l e t i r com Foucault c o n t a n d o autores com ele sintonizados, n ã o sem a n t e s a s s e g u r a r mínimo c o n t a t o com algumas idéias d e s s e autor em textos originais. °. Quanto aos diálogos, refiro-me mais especificamente à Revista de Sociologia d a U.S.P. q u e t e m a t i z a Foucault e a Teoria d o Poder, d a ótica d e vários. estudiosos. em. recortes. plurais.31. Ali. dialoguei. então. com. A l b u q u e r q u e , B a r b o s a e M a i a que, filiados à a b o r d a g e m foucaultiana, muito me auxiliaram na c a p t a ç ã o do meu objeto de estudo, na p e r s p e c t i v a por mim pretendida.. 30 Uma primeira aproximação com o pensamento de Foucault se deu por intermédio das leituras de alguns se seus textos sugeridos pela professora Tânia Navarro Swain durante o Seminário oferecido no primeiro semestre de 1995 e que teve como proposta a discussão das categorias que compõem o eixo da Linha de Pesquisa Discurso, Imaginário e Quotidiano. 31Conf. Tempo Social. Revista de Sociologia da USP, volume 7 - n° 1-2, outubro de 1995..

(34) 17. Segundo. Albuquerque,. entender. a. questão. do. poder. em. Foucault. significa refletir que em vez de coisas, o p o d e r é um c o n j u n t o de r e l a ç õ e s , em vez de d e r i v a r de uma s u p e r i o r i d a d e , o p o d e r p r o d u z assimetria.32. Elyana Barbosa, por sua vez, procura identificar os pressupostos que tornam possível a e l a b o r a ç ã o de tal c o n c e i t u a ç ã o de p o d e r no âmbito espaçotemporal, a p e r d a do locus que a p a r e c e na nova c o n c e p ç ã o de tempo-espaço, c o n d u z à p o s s i b i l i d a d e de se p e n s a r no poder-saber como relacionamento de forças.33. Já em Maia, obtive reflexões que clarearam meu entendimento das i d é i a s de Foucault no que se refere às estratégias que operacionalizam o e x e r c í c i o do poder.34. Como se verá, harmonizei-me de modo especial com Epstein, cujas a r t i c u l a ç õ e s com Foucault r e s u l t a r a m s o b r e m a n e i r a p e r t i n e n t e s p a r a uma p r o p o s t a , c o m o a minha, p r e o c u p a d a c o m o j o g o do poder, os m o d o s de a g e n c i a m e n t o , enfim, um quadro r e l a c i o n a i cujas r e g r a s , v a z i a s em si m e s m a s , d e s e n h a m o e m b a t e cotidiano n a s d i v e r s a s i n s t i t u i ç õ e s que o organizam, dentre elas, a e s c o l a r / 3. Não poderia concluir estas breves anotações sobre a questão do poder, s e m m e n c i o n a r o e s t u d o de Aquino que t r a b a l h a a r e l a ç ã o professor-aluno. 32 Conf. José A. G. Albuquerque. "Michel Foucault e a Teoria do Poder" in Tempo Social. Op. c i t , p. 108-109. 33 Conf. Elyana Barbosa. "Espaço Tempo - Poder-Saber. Uma nova epistéme? (Foucault e Bachelard)" in Tempo Social. Op. cit., p. 114. j4Conf. Antônio C. Maia. "Sobre a analítica do poder em Foucault". p. 87 in Tempo Social. Op. cit. 5 Conf. Isaac Epstein Gramática do Poder. São Paulo. Atica, 1993 p. 133..

(35) 18. problematizando o p o d e r em p e r s p e c t i v a que inclui dimensões filosóficas psicológicas e pedagógicas, d e m o d o interdisciplinar/6. No próximo e último item deste primeiro capítulo, indico ao leitor os procedimentos que nortearam a lida com empírico, algumas escolhas e compatibilizaçoes a t r a v é s das quais tive a intenção de encaminhar este meu trabalho no e s p í r i t o de Linha de P e s q u i s a Discurso, Imaginário e Cotidiano sem n e n h u m a p r e t e n s ã o d e a d o ç õ e s totais. Prefiro indicar um filiação, u m a sintonia com instrumentais que me forneceram importantes pistas p a r a a c a p t a ç ã o do meu o b j e t o de estudo, em alguns dos seus sentidos.. 1.6. O percurso e os recursos. Com o já mencionado arquivo das palavras bem como as fontes também anteriormente lembradas, foi possível. organizar o corpus da. p e s q u i s a e estruturá-lo em capítulos.. Para as necessárias compatibilizaçoes e sugestões quanto ao modo de r e c o r t a r o c o r p u s consultei vários t r a b a l h o s , inclusive d i s s e r t a ç õ e s d e f e n d i d a s na Linha de P e s q u i s a Discurso Imaginário e Cotidiano.. Durante os Seminários achei especialmente interessante e didático, o t r a b a l h o d e Serrani, j á lembrado e m páginas anteriores. Com esta autora. 3 O presente trabalho estava em andamento quando tive em mãos o livro de Júlio G. Aquino: Confrontos na Sala de Aula. Uma leitura institucional da relação professor-aluno. São Paulo: Summus, 1996. Trata-se de uma instigante investigação com eixos partilhados nesta dissertação. O autor referido, como se verá, é convocado em algumas das minhas reflexões..

(36) 19. obtive exemplos de a d o ç õ e s concretas quanto à composição do. c o r p u s e às. iniciativas r e f e r e n t e s aos recortes do empírico, em Análise do Discurso denominados. Seqüências. Discursivas ou. S.D.. Tentando. melhor precisar a. conduta a d o t a d a neste trabalho c o m o um todo, devo esclarecer que o empírico. inventariado. combina. diferentes. alternativas:. Seqüências. Discursivas e x t r a í d a s de material videográfíco, entrevistas estimuladas, além de fontes i m p r e s s a s e/ou iconográfícas t r a t a d a s sincrônica e diacronicamente. Este " c o r p u s complexo*' foi integralizado ao " f a z e r - s e " da p e s q u i s a em variados. momentos. do. seu. percurso,. iniciativa. sintonizada. com. uma. concepção dinâmica de "corpus".. Nessa concepção o momento do corpus não precisa ser o i n i c i a l da pesquisa, m a s é c o n c o m i t a n t e com o d e s e n r o l a r de t o d o o p e r c u r s o analítico.31. Como se verá, os depoimentos e as S.D. constituem, em não poucos momentos, longas t r a n s c r i ç õ e s sem as quais o r e c e p t o r não t e r i a condições de acompanhar as reflexões por ela sugeridas. Ancorei-me n e s t a decisão em autores que trabalharam fontes orais como, por exemplo, a aqui mencionada Nair B i c a l h o e t a m b é m Lastória.38. Foi, aliás, em Lastória que considerei os temas e sub-temas associados à h i p ó t e s e interrogativa,. " E s c o l a : R i s o n h a e f r a n c a ? " c o m o dilemas,. n o r t e a d o r e s do trabalho, desde as iniciativas primeiras. Os d i l e m a s são eixos. Conf. Guílhaumou, J. e Maldidier, D. "Analyse discuraive d'une Journée révolutionaire: 4 septembre 1793 in Caliers de Recherche Sociologique. Montreal U.Q.am, 1984 v.2, 1 pp./37 - 158 apud Silvana Serrani. Op.cit. p.61. 38Conf. Nair Bicalho. Os Construtores ... Op. cit. e Luís Antônio C. N. Lastória. Ética, Estética e Cotidiano, a cultura como possibilidade de indivíduação. São Paulo/ Piracicaba: Unimep, 1994..

(37) 20. diante. dos. quais. os. depoentes. assumem. posições. e. justificam. argumentações.l9. No meu trabalho tentei captar representações e sentidos grupando dilemas configurados em questões da seguinte ordem: escola-agentes, cidade, idealismo, sociabilidade, prestígio, poder, emprego do tempo, matrizes de sentido ( p o r e x e m p l o o mito J.K.), m o t i v a ç õ e s ( v o c a ç ã o ) e c l a r o , o par, cotidiano/cotidianidade em v a r i a d a s modulações. D e v o e s c l a r e c e r , contudo, que o p r o c e d i m e n t o referido foi não mais que organizacional, uma iniciativa p a r a s i s t e m a t i z a ç ã o de d i l e m a s que, c o m o se verá, se atravessam, configuram s u p e r p o s i ç õ e s conforme, aliás, ocorre no cotidiano. Nas páginas que se seguem, os resultados d e s t a minha reflexão, um c a l e i d o s c ó p i o cujas variadas figuras resultam das a r t i c u l a ç õ e s entre o corpus, os autores elencados nos referenciais e o meu m o d o de percepcioná-los.. 39 Conf. Lastória. Op. cit. p. 57..

(38) 21. C a p í t u l o. I I. O. " A r q u i v o. d a s. P a l a v r a s '. "Lutar com as p a l a v r a s é a l u t a m a i s vã Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco". Carlos Drummond de Andrade.

(39) 22. Capítulo. II:. O. "arquivo das palavras". 2.1. A "fisiognomia da cidade". Ainda que a categoria cidade, conforme assinalado anteriormente, constitua uma variável de extrema importância neste meu estudo, e s c a p a ao espírito da proposta, uma abordagem centrada nos aspectos arquitetônicos e urbanísticos. P e n s o na cidade de Brasília enquanto espaço do poder, p e n s o na s u a trajetória histórica m a r c a d a p o r m o m e n t o s específicos e, neles, a s condições d e e m e r g ê n c i a d e c e n a s discursivas d e tal m o d o pulsantes, que, pela v i a d a memória, são h o j e (re)tomadas pelos " n a r r a d o r e s " , cujos r e c o r t e s seletivos dão c o n t a de evidenciar matrizes hegemônicas de sentido, sobre as quais constróem, em c a d a conjuntura, r e p r e s e n t a ç õ e s articuladas aos cenários que as engendram.. Assim, ao desdobrar este segundo capítulo, em partes que registrei como "anos d o u r a d o s " e "anos de chumbo" constituindo vertentes do "arquivo d a s p a l a v r a s " , considerei o e s p a ç o brasiliense c o m o " l u g a r p r a t i c a d o " , cenário a n i m a d o p o r " a t o r e s - n a r r a d o r e s " , c u j a s falas t r a z e m a s m a r c a s d e momentos q u e o s interpelaram d e m o d o peculiar1.. Se, nos "anos dourados" as palavras, em variados feixes, modulam um q u a d r o e u f ó r i c o e ufanista, n o s " a n o s de c h u m b o " o g r a n d e sintagma, configura m o d u l a ç õ e s de um quadro político autoritário e ditatorial.. 1 Deve-se a Michel de Certeau a noção de "lugar praticado". Ao distinguir "lugar" e "espaço" ele identifica neste último um "lugar praticado" quando animado pelos passantes. Conf. Michel de Certeau. A Invenção... op. cit. Ver também os desdobramentos de Marc Auge que trabalha, dialogando com Certeau, a noção de "lugares e não-lugares". Conf. Marc Auge. Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus, 1994..

(40) 23. Na verdade, o balizamento temporal por mim indicado neste capítulo evidencia-se naturalmente, em alguns t r a b a l h o s q u e a o considerar Brasília c o m o plano d e o b s e r v a ç ã o , a d o t a m recortes análogos. Citando a p e n a s um deles c o m o exemplo, r e t o m o o diálogo com N a i r Bicalho que, "deixando falar o o p e r á r i o " , situa o c o r p u s assim c o n s t r u í d o em dois momentos que compreendem, o final da d é c a d a de cinqüenta até 1964, e a conjuntura dos anos 702.. Embora longas, as transcrições que considero nos itens que se seguem s ã o f u n d a m e n t a i s p a r a o a c o m p a n h a m e n t o d o p e r c u r s o escolhido. C o m o se verá, selecionei o s d i s c u r s o s segundo o s j á referidos "dilemas", d e m o d o a p o d e r refletir, p e l a via de d e s c o n s t r u ç ã o em, S e q ü ê n c i a s D i s c u r s i v a s (S.D.), s o b r e o funcionamento d a s significações que as atravessam, b u s c a n d o assim, ainda que n o s limites de uma d i s s e r t a ç ã o , traduzir uma filiação à Análise do D i s c u r s o (S.D.).. Alocados em lugares institucionais, profissionais e espaciais análogos, interesso-me p e l o s " n a r r a d o r e s " , e n t e n d e n d o seus d i s c u r s o s como "caminhos f o r m u l a d o s em p a l a v r a s ", conforme lembra Godino, ao dialogar com Lacan.3. Meus "narradores1'' passeiam neste "lugar praticado'" em que se t r a n s f o r m a a c i d a d e de Brasília, n e s t e e s t u d o por eles animada, em condições históricas distintas. Tive c o m o objetivo a c o m p a n h a r seus p a s s o s a partir d e características q u e o s unem, iniciativa q u e d i s p e n s a a n o m e a ç ã o d o s falantes, pois interessa-me pensá-los c o m o sujeitos e refletir sobre o lugar d e o n d e falam, s o b r e q u a n d o falam, de m o d o a c o m p a r a r r e p r e s e n t a ç õ e s e as c o n d i ç õ e s q u e as engendram.. 2Conf. Nair Bicalho. Os Construtores... Op. cit. passim. 3 Conf. Cabas Antônio Godina. Curso e Discurso da obra de Jacques Lacan. São Paulo: Ed. Moraes, 1982, cap. I p. 1 e segts..

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