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A INVESTIGAÇÃO SOBRE UM DESENVOLVIMENTO SOCIOESPACIAL NA PERSPECTIVA DO MÉTODO DIALÉTICO

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A INVESTIGAÇÃO SOBRE UM DESENVOLVIMENTO

SOCIOESPACIAL NA PERSPECTIVA DO MÉTODO DIALÉTICO

Cícero Luís de Sousa1 Márcia da Silva2

Resumo

O artigo objetiva discutir a relação entre o método dialético e a (re) configuração do espaço urbano da cidade de Irati – PR. O movimento espacial é fomentado pelas políticas públicas e pelas relações estabelecidas entre o poder público municipal e os demais agentes sociais que interferem na reorganização da cidade. O entendimento desse processo na perspectiva socioespacial exige uma análise que contemple as principais leis e categorias de análise do método dialético, visando uma crítica constante dessa (re) configuração espacial, através da refutação das idéias do senso comum em um processo de construção e reconstrução do conhecimento.

Palavras chave: espaço, urbano, desenvolvimento, dialética.

Do método científico à seleção do método dialético

O estabelecimento de regras para a resolução de um problema constitui o arcabouço do método científico. As regras estabelecidas são gerais, mas não se comportando como infalíveis na análise do objeto de estudo, dependendo necessariamente da intuição e imaginação do pesquisador. O conjunto que constitui o método científico é fundamental para a seleção das melhores hipóteses problematizadas, que surgem como possibilidades de apontamentos na resolução dos problemas, prevendo o que poderá acontecer em determinadas situações. O método científico tem o papel de auxiliar a busca pelas respostas como uma ferramenta geral de investigação. (GEWANDSZNAJDER, 1989) O levantamento das hipóteses sobre determinada problemática ocorre a partir da observação, que segundo Fourez (1995) deve acontecer sobre o pressuposto de que a observação deve mostrar a realidade, relatando somente

1 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Geografia - Gestão do Território - da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

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************************************************************************************************* aquilo que existe e caracterizando-se como um estudo receptivo. “Uma observação é uma interpretação: é integrar uma certa visão na representação teórica que fazemos da realidade” (p. 40). A observação não se dá passivamente, mas busca fazer uma leitura em uma perspectiva adequada, abstraindo o que é útil para a problematização do projeto de pesquisa. A mesma observação não pode ser utilizada como instrumento de definição de leis, pois para cada observação empírica proposta há um grande número de teorias científicas que sustentam tal colocação, no entanto, as observações estão postas como ponto de partida de uma leitura de mundo, trazendo sempre alguma relevância sem levá-las a um extremismo, mas utilizando-as como forma de dialogar com o recorte inicial da pesquisa, acatando ou refutando novas teorias ou modelos (FOUREZ, 1995). Esse processo de aproveitamento dos aspectos observados é reforçado por Gewandsznajder (1989, p. 27), argumentando que

[...] novos conhecimentos podem surgir a partir da observação, através de um processo de associação de idéias, pelo qual nossa mente liga os dados entre si, produzindo um conhecimento mais complexo. Entretanto, este novo conhecimento é menos seguro, uma vez que nessa etapa podemos fazer associações erradas, não interpretando corretamente as relações entre os dados. Para isto, basta observar os fatos sem qualquer idéia preconcebida.

As observações são orientadas pelas hipóteses - mesmo que surjam a partir de hipóteses - ao longo do processo de investigação científica, mas o cientista precisa observar sem utilizar idéias preconcebidas, isto é, não tomando as observações como verdades, mas possibilitando a abertura para uma análise crítica. Para que o processo de investigação científica tenha prosseguimento, e seja construído, a crítica deve estar presente na relação hipótese-observação (GEWANDSZNAJDER, 1989).

De acordo com Gewandsznajder (1989, p. 77) as hipóteses se distiguem das leis porque

[...] as hipóteses são palpites provisórios, ainda sem nenhum fundamento, [enquanto] as leis científicas são hipóteses já confirmadas experimentalmente: hipóteses podem ser falsas, mas leis tem de ser verdadeiras! [...] uma vez que as leis são enunciados gerais que se referem a um número potencialmente infinito de casos, jamais poderemos dizer que elas foram provadas.

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************************************************************************************************* processo gradativo, à produção final da atividade científica, ou seja, a teoria. A partir dessas leis, hipóteses e conceitos, novas leis, hipóteses e conceitos podem ser deduzidas, e para tanto, as regras que compõem o método científico são fundamentais para o processo de renovação desse pensar teórico. Conforme Araújo (2003, p. 15) “a possibilidade de testar e eventualmente refutar hipóteses e teorias científicas caracteriza melhor o procedimento do cientista do que a obtenção de verdade e certeza acerca dos fatos.” Nas reflexões sobre a ciência é necessário considerar os aspectos que mostram os fatores que colocam a ciência como caracterizada por um conjunto de teorias e hipóteses passíveis de questionamentos e que estão centrados em um objeto de estudo, visando uma descrição e explicação mais recortada. A ciência necessita de um método que dê um direcionamento às suas pretensões de análise (ARAÚJO, 2005). Nesse sentido, Araújo (2005, p. 15-16) coloca que

Os métodos tem alcance mais amplos que as técnicas. [...] dependem de regras gerais, cujo emprego capacita a avaliar, aceitar ou rejeitar o conjunto bastante amplo das técnicas. O método, como indica a palavra, é um caminho, um conjunto de regras e procedimentos comuns a várias ciências, que permitem obter explicações, descrições e compreensão, sendo a compreensão mais adequada para as ciências humanas.

Araújo (2005, p. 16) reforça que “o método poderá ser o da observação e descrição, o da experimentação, o da construção de sistemas formais e modelos explicativos, o do levantamento e teste de hipóteses, com explicações através de leis e/ou teorias.” Partindo do pressuposto que o método é um instrumento racional e intelectual que permite ao pesquisador a apreensão da realidade, estabelecendo verdades científicas para tal apreensão, Spósito (2004, p. 29) considera que

os métodos são os seguintes: hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico, porque eles contêm as características de um método científico, como leis e categorias, e estão, historicamente, relacionados a procedimentos específicos e teorias disseminados pela comunidade científica.

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************************************************************************************************* contrapor essas mudanças de forma crítica e dentro de um processo com infinitas formas de pensar. Nesse sentido, Spósito (2004) afirma que o método dialético tem como objetivo refutar as informações do senso comum, buscando uma verdade como fruto racional. Para Lefebvre (1983, p. 171, apud, Spósito, 2004, p. 41), “é utilizando-se da dialética que 'os pesquisadores confrontam as opiniões, os pontos de vista, os diferentes aspectos do problema, as oposições e contradições; e tentam...elevar-se a um ponto de vista mais amplo, mais compreensivo'.”

Em se tratando da utilização do método dialético como ferramenta de análise espacial, Araújo (2003) diz que tanto a natureza, como a sociedade e o próprio conhecimento são transformados dialeticamente, e caracteriza o movimento da natureza como objetivo. Afirma ainda que “as coisas se transformam em seu contrário não por ação do homem, mas por obra da natureza” (p. 79), estando a dialética presente na história da ciência sempre no sentido de que uma teoria supera outra teoria para explicação da natureza. Fourez (1995, p. 37) por sua vez argumenta que no método dialético

[...] primeiro, se afirma uma tese, isto é, a maneira pela qual a realidade se apresenta. Depois, apresenta-se uma antítese, ou seja, a negação da tese, negação que é provocada pela aparição de outros pontos de vista, surgidos com base no exame crítico que se fez. [...] apresenta-se uma síntese, que é uma nova maneira de ver, resultante do processo crítico. A síntese não é porém uma visão absoluta das coisas: é simplesmente uma nova maneira de ver, resultado da investigação realizada.

A dialética não visa a produção de verdades inquestionáveis, mas uma abertura à crítica que tende mostrar o quanto a nova proposição é mais elaborada que aquela que foi refutada. Esse processo estará em constante continuidade (com um dinamismo sempre presente), refutando as teorias e leis, sempre que elas não puderem satisfazer as proposições da pesquisa. Nessa mesma perspectiva, Spósito (2004, p. 41) confirma, o já mencionado, processo dialético dizendo que

Uma afirmação, ou seja, uma posição claramente definida atrai necessariamente uma negação. A tensão entre afirmação e negação leva necessariamente a uma nova posição, superior às duas, mas que contém as suas idéias confrontadas, chegando-se a negação da negação. Esses três estágios do conhecimento (a tríade) foram chamados por Hegel de tese, antítese e síntese.

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************************************************************************************************* da história e do conhecimento. Com base nessas leis e nas regras do processo dialético, é possível discutir as dinâmicas presentes na organização do espaço, nesse momento direcionado para o espaço das cidades, isto é, espaço urbano. De acordo com Araújo (2003, p. 79-80) as leis da dialética são discutidas como: “lei da unidade e luta dos contrários”, “lei da mudança quantitativa e qualitativa”, e “lei da negação e ultrapassagem.” A primeira mostra a necessidade da contradição para que haja um movimento, isto é, os elementos contraditórios tentam ultrapassar/superar o fenômeno que está posto. Na segunda lei, as qualidades contraditórias, ou seja, os elementos que compõem a antítese intensificam o nível de contradição, e na terceira, há superação pelos elementos contrários, chegando a uma síntese, mas mantendo elementos do estágio anterior (ARAÚJO, 2003). Na mesma perspectiva que analisa os elementos presentes na tríade do processo dialético, Spósito (2004, p. 46) indica categorias de análise que auxiliam no movimento dialético de investigação. Para ele, destacam-se as relações entre: “matéria e consciência; singular, particular e universal; particular, movimento e relação; qualidade e quantidade; causa e efeito; necessário e contingente; conteúdo e forma; essência e fenômeno; possibilidade e realidade.” Quando se fala de Geografia é necessário – também - discutir a categoria espaço e tempo proposta por Kant, garantindo a abordagem socioespacial proposta por Souza (2008) para a discussão em torno da (re) configuração do espaço urbano. A utilização do método dialético no projeto de pesquisa intitulado “Desenvolvimento ou embelezamento? As políticas públicas para o urbano em Irati/PR” faz se necessário em decorrência do que afirma Spósito (2004, p. 46) quando diz que

no método dialético o sujeito se constrói e se transforma vis-à-vis o objeto e vice-versa. [...] [pois] os trabalhos que se utilizam desse método se caracterizam por ser mais críticos da realidade por sua concretude e pelo fato de mostrarem as contradições existentes no objeto pesquisado.

A relação entre agentes e suas relações de poder, as políticas públicas desenvolvidas durante a gestão municipal 2005-2008, a participação popular nessa (re) configuração e o resultado desse processo na perspectiva de um desenvolvimento socioespacial serão analisados através das contradições existentes na dinâmica do urbano, sendo adequada a abordagem através das categorias e leis do método dialético.

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************************************************************************************************* Corrêa (1989) aponta que o espaço urbano define-se tanto pelo reflexo de ações que ocorrem no presente, quanto por ações que ocorreram no passado e deixam marcas na organização espacial. Nessa sobreposição de ações, a gestão municipal 2005-2008, no município de Irati – PR desenvolveu políticas públicas destinadas a um processo de revitalização e de readequação de objetos do espaço urbano. Entre as alterações visíveis na paisagem urbana estão a inversão do sentido na circulação de algumas ruas, a construção de rotatórias, revitalização de praças, construção de vias de lazer, instalação de luminárias em estilo colonial e alteração de cores no mobiliário urbano, caracterizando marcas da respectiva gestão. Santos e Silveira (2001) apontam que a implantação de infra-estruturas (sistemas de engenharia) em associação com o dinamismo da economia e da sociedade, pode definir o uso do território. Corrêa (1989, p. 08-09) confirma, dizendo que

O espaço da cidade é também um condicionante da sociedade. [...] O condicionamento se dá através do papel que as obras fixadas pelo homem, as formas espaciais, desempenham na reprodução das condições de produção e das relações de produção.

Carlos (2009) entende que a paisagem urbana expressa ordem e caos, sendo constituída por relações sociais que definem seu desenvolvimento em cada momento histórico, configurando a organização espacial urbana concreta. Nesse sentido, Corrêa (1989, p. 24) diz que “o Estado atua também na organização espacial da cidade. Sua atuação tem sido complexa e variável tanto no tempo como no espaço, refletindo a dinâmica da sociedade da qual é parte constituinte.” A (re) configuração espacial urbana apresenta marcas na paisagem da cidade que, não raro, é percebida pela sociedade como mudanças naturais ou como um processo estético de responsabilidade somente do poder público municipal. Sendo assim, Carlos (2009, p. 38) afirma que:

(...) sob esta aparência estática se esconde e revela todo o dinamismo do processo de existência da paisagem, produto de uma relação fundamentada em contradições, em que o ritmo das mudanças é dado pelo ritmo do desenvolvimento das relações sociais.

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************************************************************************************************* parceria com setores privados, transformam este espaço, surge a necessidade de compreensão dessas relações como elementos de (re) configuração do urbano. Esses padrões (de (re) configuração) diferem nas características de organização das cidades em razão de seu processo de construção social, econômica e política, mas ainda assim ditam uma linha de planejamento que não se adapta à realidade das pequenas cidades. Souza (2008, p. 101) critica a tentativa de desenvolvimento urbano que produz riqueza, mas mantém as desigualdades econômicas ou destrói patrimônios histórico-arquitetônicos, ou seja, “[...] se é assim, falar de ‘desenvolvimento’ é ferir o bom senso”. No entanto, na análise inicial da (re) configuração do espaço urbano da cidade de Irati – PR são evidentes as marcas presentes na paisagem urbana da cidade alterando espaços que nessa perspectiva podem ser entendidos como construídos historicamente.

A organização do espaço urbano das cidades ocorre dentro de um processo histórico que materializa as relações sociais dando forma e configuração ao que se chama de paisagem urbana. Carlos (2009, p. 35) entende que essa “paisagem urbana aparece como um ‘instantâneo’, registro de um momento determinado, datado no calendário”. O entendimento do que está posto, requer analisá-lo em um contexto mais amplo, abrangendo campos diversos das relações estabelecidas pela sociedade em um determinado espaço. Na compreensão dessa estrutura, como forma de manifestação do urbano

(...) a paisagem urbana tende a revelar uma dimensão necessária da produção espacial, o que implica ir além da aparência; essa perspectiva da análise já introduziria os elementos da discussão do urbano entendido enquanto processo e não enquanto forma. A paisagem de hoje guarda momentos diversos do processo de produção espacial, os quais fornecem elementos para uma discussão de sua evolução da produção espacial, e do modo pelo qual foi produzida. (p. 36)

No entanto, é a partir das formas, que ocorre o que Carlos (2009) denomina de “mistificação e coisificação”, quando as relações sociais são estabelecidas entre coisas, com as formas exercendo o papel de revelação e de ocultação de relações e marcas presentes na organização espacial urbana.

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************************************************************************************************* configuração do espaço urbano como espaço de manifestação de suas relações de poder através de objetos presentes no cotidiano da cidade. Reafirmando essa prática do Estado, Corrêa (1989, p. 24) aponta que

(...) é através da implantação de serviços públicos, como sistema viário, calçamento, água, esgoto, iluminação, parques, coleta de lixo, etc., interessantes tanto às empresas como à população em geral, que a atuação do Estado se faz de modo mais corrente e esperado. A elaboração de leis e normas vinculadas ao uso do solo, entre outras as normas do zoneamento e o código de obras, constituem outro atributo do Estado no que se refere ao espaço urbano.

Sobre a lógica do espaço urbano e do “espaço territorializado” em pequenas cidades, Santos e Silveira (2001, p. 21) argumentam que

(...) são os movimentos da população, [...], [a distribuição] dos serviços, o arcabouço normativo, incluídas a legislação civil, fiscal e financeira, que juntamente com o alcance e a extensão da cidadania configuram as funções do novo espaço geográfico. Debruçando-nos sobre esse novo meio geográfico, buscamos compreender o papel das formas geográficas materiais e o papel das formas sociais, jurídicas e políticas, todas impregnadas, hoje, de ciência, técnica e informação.

O movimento que territorializa o espaço é refletido nas formas da paisagem urbana discutida por Carlos (2009), como uma aparência ‘caótica’ que descortina a essência do espaço geográfico, não como uma forma estática, mas como algo em movimento, com as relações que o homem mantém para se reproduzir enquanto sujeito social. Nessa reprodução espacial, as paisagens surgem segundo Carlos (2009, p. 38), como

(...) humana, histórica e social; [...] produzida e justificada pelo trabalho enquanto atividade transformadora do homem social, fruto de um determinado momento do desenvolvimento das forças produtivas, e aparece aos nossos olhos, por exemplo, através do tipo de atividade, do tipo de construção, da extensão e largura das ruas, estilo e arquitetura, densidade de ocupação, tipo de veículos, cores, usos, etc.

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************************************************************************************************* na produção do espaço, através de obras de drenagem, desmontes, aterros e implantação de infra-estrutura.” Sobre os instrumentos do Estado, complementa ainda que

Esta complexa e variada gama de possibilidades de ação do Estado capitalista não se efetiva ao acaso. Nem se processa de modo socialmente neutro, como se o Estado fosse uma instituição que governasse de acordo com uma racionalidade fundamentada nos princípios de equilíbrio social, econômico e espacial, pairando acima das classes sociais e de seus conflitos. Sua ação é marcada pelos conflitos de interesses dos diferentes membros da sociedade de classes, bem como das alianças entre eles. (p. 25-26)

As relações de poder estabelecidas pelos grupos dominantes (ou não) em suas relações com o espaço constituem um território, e as formas espaciais e as transformações das mesmas pelo Estado caracterizam determinadas especificidades dessa organização. Santos e Silveira (2001, p. 19-20) apontam que “pode-se falar de territorialidade sem Estado, mas é praticamente impossível nos referirmos a um Estado sem território”. Consideram o território como uma “extensão apropriada e usada”, “um nome político”, mas como um espaço “sujeito a transformações sucessivas”.

As transformações ocorridas no espaço urbano, na maioria das vezes, são interpretadas como desenvolvimento social e econômico pela/para população ali residente, no entanto, pensar essa reorganização espacial de maneira que atinja todas as relações estabelecidas no espaço urbano, exige uma preocupação além das características físicas e da renovação do mobiliário urbano. Souza (2008, p. 95-96) argumenta que

(...) para algumas pessoas, uma cidade ‘desenvolve-se’ ao crescer, ao se expandir, ao conhecer uma modernização do seu espaço e dos transportes, ao ter algumas áreas embelezadas e remodeladas. Esquecem-se, com muita facilidade, duas coisas: os custos, sociais e ambientais, de tais progressos, via de regra muito seletivos, social e espacialmente; e o contexto mais amplo (regional, nacional, internacional) de tais melhoramentos, os quais normalmente significam [...] uma extração de mais valia e uma drenagem de renda fundiária de outras áreas [...] as quais alimentam os projetos de embelezamento, “revitalização” etc. que conferem prestígio a certas partes de certas [...] cidades.

O desenvolvimento urbano surgido na perspectiva do embelezamento da cidade não contempla todas as relações que a configuram, fragilizando-as no interior do espaço urbano. Souza (2008, p. 96) argumenta que “cabe, no entanto, parar e perguntar: que ‘desenvolvimento urbano’ é esse, que vem no bojo de tantas e tamanhas contradições?”

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************************************************************************************************* e relações sociais que permeiam o espaço urbano, garantindo, dessa forma, um desenvolvimento que abranja as mais diversas classes e parcelas sociais, através de políticas que garantam um desenvolvimento urbano autêntico. Para Souza (2008, p. 101) “um desenvolvimento urbano autêntico, sem aspas, não se confunde com uma simples expansão do tecido urbano e a crescente complexidade deste, na esteira do crescimento econômico e da modernização tecnológica.” Para que esse desenvolvimento ocorra é necessário um desenvolvimento sócio-espacial da e na cidade, garantindo mais justiça social e qualidade de vida para um número crescente de pessoas (SOUZA, 2008).

A (re) configuração urbana e o método dialético: considerações

As considerações em torno da (re) configuração do espaço urbano para serem apontadas precisam ser discutidas em uma perspectiva que contemple as leis e categorias do método dialético, tendo em vista que o espaço urbano é dinâmico e que esse processo é fomentado pelas intervenções sociais advindas principalmente do poder público através de políticas publicas aplicadas no espaço urbano. É necessário considerar as relações estabelecidas entre o poder público e a sociedade para a definição dessas políticas no viés de uma gestão participativa e que tem um plano diretor como direcionador das intervenções ocorridas nos municípios, aqui recortados – para aprofundamento da análise - somente como o espaço das cidades.

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************************************************************************************************* é peculiar a cada cidade e devem ser entendidas de um ponto de vista da sociedade local. Pensar esses aspectos no viés do método dialético traz sustentação teórica-crítica ao desenvolvimento da pesquisa.

Os indicadores para avaliação desses parâmetros – em entrevistas aplicadas a comunidade local e aos responsáveis pela (re) organização espacial do espaço urbano - serão definidos com base na realidade local e no levantamento das políticas públicas desenvolvidas no período compreendido entre 2005-2008, na gestão do prefeito Sérgio Stoklos, pelo poder público municipal. Cada indicador será estruturado de forma que contemple a realidade do espaço definido como objeto de estudo dessa pesquisa, a fim de garantir seu diferencial que visa analisar o desenvolvimento urbano autêntico com base nas políticas públicas criadas nas/para cidades de pequeno porte. Serão analisados os elementos e interesses que levaram à nova (re) configuração espacial da cidade, bem como a relação territorial através das relações de poder exercidas pela gestão municipal, e a dinâmica da paisagem como um processo histórico que corrobora com a análise do desenvolvimento sócio-espacial (autêntico) daquela realidade. Diante disso, pode-se indagar: as transformações na paisagem urbana representam a parcela de contribuição da sociedade na perspectiva da construção coletiva do plano diretor? Há uma relação ou adequação das propostas do plano de governo com o Plano Diretor? A transformação da paisagem é um apagar de memórias coletivas espaciais ou a criação de novos espaços de sociabilidades? São transformações oriundas de necessidades (sociais, políticas) ou apenas medidas de “embelezamento” e/ou “maquiagem” do espaço urbano iratiense? É possível analisar essas mudanças no espaço urbano como medidas de desenvolvimento? Em que sentido essas medidas colaboram para um desenvolvimento urbano autêntico?

As reflexões surgidas a partir desses questionamentos conduzem a investigação da (re) configuração do espaço urbano de forma crítica, pensando no papel do poder público, dos agentes sociais, e da sociedade de maneira ampla, como interventores nesse processo. As leis que constituem o método dialético, conforme especificado por Araújo (2003) devem estar presentes em todas as análise e reflexões, contemplando os aspectos qualitativos e contrariando o que está posto através da negação constante dos aspectos do senso comum.

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************************************************************************************************* com as mudanças implementadas. As transformações no espaço urbano central serão analisadas de acordo com o Plano Diretor e com a legislação que sustenta sua elaboração, além de verificar a participação (ou não) da população nas escolhas por esta ou aquela intervenção, no sentido de compreendê-las como melhorias para a convivência ou simplesmente como intervenções de embelezamento, para uma “cidade mais bonita”. Assim, busca-se relacionar o papel do Estado enquanto agente motivador e financiador de intervenções no meio urbano, os interesses de agentes sociais privados e a participação da comunidade nesse processo organizacional.

Referências bibliográficas

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FOUREZ, Gérard. A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética das ciências. São Paulo: Editora UNESP, 1995.

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Referências

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