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AMAZÔNIA LEGAL, COMO MANTÊ-LA BRASILEIRA:

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Academic year: 2021

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Amazônia legal, como Mantê-la Brasileira:

Proposta para Preservar a Soberania na Região

Edson Henrique Ramires

Coronel da Arma de Cavalaria do Exército Brasileiro, Estagiário do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra de 2008.

Resumo

Este trabalho tem como finalidade chamar a atenção da importância da Amazônia para o mundo e para a necessidade do interesse da sociedade brasileira no seu desenvolvimento, uma vez que, há muito tempo, as grandes potências mundiais têm voltado suas atenções para as potenciais riquezas minerais e vegetais da Amazônia. Este artigo discorre, inicialmente, sobre a fisiografia da região, as diversas tentativas de desenvolvimento e a organização do espaço político da Amazônia brasileira, os aspectos relativos à soberania sobre o território, abordando teorias geopolíticas existentes e os diplomas nacionais legais que regulam o assunto em relação à Amazônia. A seguir, são apresentados os óbices e as ameaças à soberania sobre a Amazônia Legal. Finalmente, são apresentadas algumas propostas do autor de ações políticas e estratégicas a serem adotadas pela sociedade brasileira para superar os óbices existentes na Amazônia e promover o desenvolvimento sustentável da região. Chega-se, por fim, à conclusão que a nação brasileira, por intermédio de suas elites, deve conscientizar-se acerca dos problemas que ameaçam a região amazônica, em boa medida fruto da ambição internacional. Para que o país exerça a plena soberania e promova o desenvolvimento da Amazônia Legal é necessário que o elemento fundamental seja a vontade nacional, com a significativa participação conjunta do Estado e da sociedade civil brasileira.

Palavras-Chave: Amazônia. Riqueza. Desenvolvimento Sustentável. Soberania. Abstract

This paper aims to draw attention to the importance of the Amazon to the world and the need for adequate attention of the Brazilian society for its development. Due to its untapped resources, the major world powers have turned their attention to the potential wealth derivable from the minerals and vegetation of the Amazon. This work commenced with a treatise on the geography of the region, the various attempts at development and organization of political activities in the Brazilian Amazon relating to sovereignty over the territory. It also addressed existing geo-political theories and national legal instruments governing the Amazon. Finally, the author propose political and strategic actions to be adopted by Brazilian society to overcome the obstacles

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existing in the Amazon region and promote sustainable development in the region. It is concluded that the Brazilian nation through its elite, should create awareness about the problems that threaten the Amazon region. Further more, in order to contain foreign ambitions the country needs to exercise full sovereignty and promote the development of the Amazon and this has to be a broad based national action with the active participation of the State and the civil society.

Keywords: Amazon. Wealth. Society. Sustainable Development. Sovereignty INTRODUçãO

O Brasil teve a quase totalidade de sua conformação territorial definida ainda antes de tornar-se independente. As últimas pendências fronteiriças foram solucionadas no início do século XX, mediante a intermediação do Barão do Rio Branco, com a fixação da fronteira do Amapá com a Guiana Francesa; com a assinatura do Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de 1903, quando o Acre integrou-se ao Brasil; e com o Laudo de 1904, do rei Vitório Emanuel III, da Itália, sobre a disputa territorial entre o Brasil e a Inglaterra, na região da Guiana. Desde então, quando foi completada a formação fisiográfica brasileira, não houve oficialmente qualquer contestação à soberania brasileira sobre o seu território.

Grieco (1998, p.215) assinala que no século XX, principalmente com as duas guerras mundiais e, no plano econômico, com a Grande Depressão, a noção de soberania deixou de restrigir-se às interpretações limitativas jurídicas e políticas. E conclui: “A compatibilização do poder nacional, no novo cenário global, com as transformações internacionais, nos planos econômico e social, levantou controvérsias de interpretação do conceito à luz do direito positivo”.

Fruto dessa interpretação, nações estrangeiras têm demonstrado a cobiça pelos recursos existentes na Amazônia brasileira, caracterizando uma ameaça à soberania e à integridade territorial, tendo em vista tratar-se de interesses que, em futuro próximo, poderão ser vitais para as grandes potências.

A sociedade brasileira, a despeito de alertas veiculados na imprensa, jamais acreditou em uma incursão militar na região amazônica. Não se cogita, em princípio, tal tipo de investida. No entanto, a partir da década de 1980, notícias sobre pressões e possibilidade de interferência na Amazônia, por países desenvolvidos, vem ganhando maior notoriedade e volume.

Aqueles que propugnam pelo internacionalismo concentram sua ação, principalmente, nas Organizações Não Governamentais (ONG), as quais são associações civis, internacionais ou nacionais, que alegam fins humanitários ou científicos tais como: direitos humanos, desigualdades sociais, defesa do meio ambiente, preservação de comunidades indígenas e paz social, entre outros.

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O presente trabalho tratará acerca da soberania brasileira sobre a Amazônia Legal, discorrendo, inicialmente, sobre a fisiografia da região, as diversas tentativas de desenvolvimento e a organização do espaço político da Amazônia brasileira, os aspectos relativos à soberania sobre o território, abordando teorias geopolíticas existentes e os diplomas nacionais legais que regulam o assunto em relação à zônia. A seguir, são apresentados os óbices e as ameaças à soberania sobre a Ama-zônia Legal. Finalmente, são apresentadas algumas propostas do autor de ações políticas e estratégicas a serem adotadas pela sociedade brasileira para superar os óbices existentes na Amazônia e promover o desenvolvimento sustentável da re-gião.

A AMAzôNIA lEGAl

Localizada ao norte da América do Sul, a Amazônia ocupa uma área total de mais de 6,5 milhões de quilômetros quadrados, integrando-se ao território de nove países, a saber: Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Cerca de 85% desta região pertence ao território brasileiro, onde ocupa 5.200 quilômetros quadrados, aproximadamente 60% da área do país. Sua população, entretanto, corresponde a menos de 10% do total de habitantes do Brasil (aproximadamente 190 milhões de pessoas).

A Amazônia Legal, em termos administrativos brasileiros, é composta dos seguintes estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, além de parte dos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. É um dos últimos espaços inexplorados do planeta, com terras propícias à ocupação, significando também a possibilidade de um crescimento entre 60 a 80% do potencial agrícola existente no país. Ao mesmo tempo, possui um potencial econômico em minerais, madeiras, flora, agropecuária, biodiversidade e matérias-primas farmacêuticas.

Estes dados dão uma idéia da necessidade urgente de ocupação da Amazônia, com um povoamento planejado e no menor prazo possível. Do contrário, mantendo-se o atual vazio demográfico, o país permitirá que continuem as insinuações de que não tem condições de conduzir os destinos dessa parte do território nacional, possibilitando o surgimento das teorias de soberania compartilhada e de internacionalização da região, conforme se verá a seguir.

O lEGADO PORTUGUêS

A ocupação portuguesa da região amazônica não permitiu que franceses, ingleses, holandeses e espanhóis ocupassem essas terras ultramarinas portuguesas no período colonial. Graças à ação portuguesa, protegendo a cobiçada foz do Amazonas, expulsando esses aventureiros que se atreveram rio acima e levando os marcos da expansão lusa até as proximidades das nascentes andinas do grande

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rio e de seus principais afluentes da margem norte, foi possível aos demarcadores da fronteira estabelecida pelo Tratado de Madri (1750) – que, também, assentou o princípio do “uti possidetis” – configurar a ocupação portuguesa e delinear a fronteira da Amazônia brasileira.

A estratégia geopolítica utilizada por Portugal era a de ocupação dos espaços amazônicos e a articulação do espaço brasileiro, a qual foi complementada com a instalação, no rio Madeira, de um entreposto que assegurava a ligação da região amazônica com Cuiabá, ponto extremo do sistema de comunicação com o sudeste e o sul, possibilitando a intercomunicação das três grandes bacias hidrográficas setentrionais – amazônica, platina e do São Francisco.

Dessa forma, a região amazônica foi legada ao Brasil independente com sua conformação bem definida, facilitando a ação do Estado para o seu desenvolvimento o que, no entanto, não foi devidamente aproveitado, a despeito das diversas tentativas governamentais ao longo principalmente do período republicano.

POLítICAS DE DESEnVOLVIMEntO PARA A AMAzônIA

A intenção governamental republicana inicial foi suplantada pela imensidão dos problemas regionais amazônicos e pela incapacidade do Estado em suplantá-los e os resultados alcançados foram aquém do previsto. Apesar disso, até 1966 foram obtidos os seguintes avanços: implantação dos sistemas termoelétricos de Belém e Manaus, a abertura da estrada Belém-Brasília e uma estrada carroçável entre Cuiabá e Porto Velho, marcando os primeiros contatos terrestres da região amazônica com o centro e sul do país.

A partir de 1966, os governos militares implementaram a projeção da política amazônica, reformularam a estratégia para o desenvolvimento amazônico e rees-truturaram os órgãos com responsabilidade na sua consecução. A Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), criada em 1953, foi transformada na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), aumentando seu poder de coordenação; o Banco de Crédito da Amazônia recebeu a denominação de Banco da Amazônia; foi criada a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA). Foram abertas diversas rodovias, com o apoio dos batalhões de enge-nharia de construção do Exército, dentre elas a Cuiabá – Porto Velho – Rio Branco – Cruzeiro do Sul (BR-364), a Manaus – Caracaraí – Boa Vista (BR-174) e a Cuiabá – Santarém (BR-163), além das duas grandes transversais integrantes do Plano de Viação Nacional: a Transamazônica (BR-230), esta com 2.300 Km de extensão e a mais importante obra rodoviária de integração da região ao restante do país e a Perimetral Norte – Macapá – Caracaraí – Içana – Mitu (BR-210), com 2.450 Km.

No âmbito militar, foi mudado o Comando Militar da Amazônia, de Belém para Manaus, e extinto o antigo Grupamento de Elementos de Fronteira (GEF), o que auxiliou no esforço de cooperação para o desenvolvimento da Amazônia,

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par-ticularmente pela participação dos batalhões de engenharia de construção e pela implantação das comunidades militares, colaborando para a fixação do homem nas regiões de fronteira.

O Programa de Integração Nacional (PIN), que concebeu a ocupação do terri-tório amazônico, especialmente pela construção da BR-230, da BR-364 e da BR-163, estabeleceu um plano de colonização ao longo dessas rodovias pela construção de agrovilas com a infra-estrutura necessária para a fixação dos habitantes. Novamen-te houve o fracasso do inNovamen-tento, desta vez pela falta de recursos em conseqüência da crise do petróleo de 1973. Igual destino teve o Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia que ficou conhecido como Polamazônia e foi uma tenta-tiva de retomada do PIN, ocorrida em 1975.

Apesar desses insucessos, alguns benefícios foram conseguidos e houve um crescimento tanto da população da região quanto da infra-estrutura regional como, por exemplo, com a implantação dos sensores remotos pelo Projeto RADAM (Ra-dares da Amazônia) e com o Projeto Lansat e Ertz (levantamento por satélite) para a coleta de dados das riquezas minerais; a instalação, no Pará, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, pela Universidade do Pará e da Escola de Ciências Agrárias; o início da construção da hidrelétrica de Tucuruí; a instalação do sistema telefônico regional; o Projeto Rondon, levando para a área amazônica equipes de professores e estudantes de todas as regiões do país para um intercâmbio cultural com a região, entre tantas outras iniciativas positivas para a Amazônia.

A fim de melhor promover o desenvolvimento e preservar a soberania nacio-nal, os países amazônicos, por iniciativa do governo brasileiro, lançaram, em 1978, o Tratado de Cooperação Econômico-Social, hoje denominado de Organização do Tratado Inter-Regional de Cooperação Amazônica (OTCA), conhecido como “Pacto Amazônico”.

Em seguida, o Brasil passou a estudar um projeto especial para a Amazônia brasileira, o qual foi implantado na região ao Norte das calhas dos rios Amazonas e Solimões, daí o nome do programa, iniciado em 1985, ter ficado conhecido como Projeto Calha Norte (PCN). A defesa e o desenvolvimento sustentável da Amazônia são os objetivos prioritários do PCN, com as seguintes ações: aumento da presença brasileira na área; ampliação das relações bilaterais com os países vizinhos; expansão da infra-estrutura viária para complementar o transporte fluvial, o mais importante fator de integração regional; fortalecimento da ação dos órgãos governamentais; intensificação da demarcação de fronteiras; e assistência e proteção às populações indígenas, ribeirinhas e extrativistas.

O Projeto possui várias vertentes, não sendo, como foi difundido, exclusivamente militar, apesar dos seus recursos serem alocados para projetos militares. A área abrangida pelo PCN carece de um trabalho sinérgico e de coordenação entre os ministérios e demais órgãos governamentais. A situação de falta de assistência nessa ampla região foi minimizada pelo Exército ao transferir

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três Brigadas de Infantaria – de Santo Ângelo/ RS, Petrópolis e Niterói/ RJ, para Tefé/ AM, Boa Vista/ RR e São Gabriel da Cachoeira/ AM, respectivamente – que por sua vez desdobraram novos Pelotões de Fronteira e outras Organizações Militares, como vários Tiros de Guerra, para ocuparem fisicamente as fronteiras com os países amazônicos vizinhos do Brasil.

O Exército, melhor articulado na região amazônica, com seus Pelotões de Fronteira, colocou à disposição um pavilhão, denominado de “pavilhão de terceiros”, para recepcionar órgãos governamentais com responsabilidade no Projeto (INCRA, FUNAI, FUNASA, IBAMA, PF, EMBRAPA, Receita Federal etc). No entanto, tais pavilhões estão, em sua maioria, ociosos.

O governo modificou, radicalmente, as metas traçadas para o PCN, criando, em 1991, a Reserva Indígena “Ianomami”, de dimensões exageradas e com conseqüências previsíveis para a soberania nacional. Esta ameaça foi reforçada com a criação de mais uma dessas reservas, denominada “Raposa Serra do Sol”, igualmente localizada na extremidade norte de Roraima e, a exemplo da Reserva Ianomâmi, rica em minerais estratégicos, podendo, ambas, transformarem-se em “nações indígenas”, de acordo com a Declaração dos Direitos do Povos Indígenas elaborada pela ONU em 2007, da qual o Brasil foi signatário.

Em 1999, o PCN, subordinado ao Ministério da Defesa, situação em que se encontra até hoje, foi revigorado, tendo sido firmado um convênio com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Instituto Superior de Administração Econômica (ISAE) para o estudo sistêmico de sua área de atuação. O Projeto, entretanto, não prosseguiu com o desempenho desejado, ressalvando-se o esforço empreendido pelas Forças Armadas para o cumprimento de sua parte no programa. As atribuições militares foram estendidas para áreas de competência de outros órgão do PCN, tendo-lhes sido atribuído, inclusive, o necessário poder de polícia, por meio da Lei Complementar 117/2004, para atuação na região de fronteira.

Os problemas amazônicos não devem ser vistos somente pelo viés de questões ambientais, indígenas, etc. É necessário que sejam considerados, também, sob o enfoque militar, de defesa e guarda da ambicionada região. O Programa Calha Norte tem como objetivo principal contribuir para a manutenção da soberania na Amazônia e a promoção do seu desenvolvimento ordenado. Cabe à sociedade brasileira exigir que as instituições nacionais nele envolvidas cumpram a sua parte.

Atualmente, como parte integrante da Política Nacional de Desenvolvimento Regional, o Plano Amazônia Sustentável (PAS) destaca-se como iniciativa para propor estratégias e linhas de ação que unem a busca do desenvolvimento econômico e social com o respeito ao meio ambiente. Trata-se de uma iniciativa do Governo Federal em parceria com os estados da região amazônica, coordenada pelo Ministério da Integração em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Casa Civil e Secretaria Geral da Presidência da República.

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O PAS constitui um conjunto de estratégias e orientações para as políticas dos Governos Federal, estaduais e municipais. Reúne sob uma mesma orientação muitas das ações inovadoras empreendidas em programas já existentes, fomentando sinergias. Além disso, pretende sinalizar caminhos para o desenvolvimento da Amazônia aos setores produtivos e à sociedade. Ao considerar a bacia amazônica e o bioma florestal como referências, vai mais além, situando a Amazônia brasileira em sua importância estratégica para a integração continental. Peca, no entanto, pelo elevado número de órgãos envolvidos e com funções não bem definidas e/ou coincidentes, o que remete aos planos anteriores que não obtiveram sucesso na tentativa de levar o desenvolvimento à região amazônica.

O histórico da região amazônica demonstra que não há falta de preocupação do estado com o desenvolvimento regional. Diversas tentativas foram levadas a efeito com algum sucesso, mas os desafios são comparáveis à dimensão territorial da Amazônia Legal e somente uma ação coordenada, com controle centralizado tanto dos empreendimentos quanto dos recursos alocados parece ser viável para um resultado mais consistente.

OS SIStEMAS DE PROtEçãO E VIGILânCIA

Os projetos do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), foram criados para proteger a região e garantir a soberania do País sobre a Amazônia brasileira.

Pela sua concepção sistêmica, o SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia - é um dos mais sofisticados Projetos Ambientais já concebidos em todo o mundo, a melhor forma de contribuir com a proteção da Amazônia Brasileira e a garantia de nossa soberania sobre essa região. Para a existência desse Projeto, foi necessária uma coordenação multidisciplinar, envolvendo inúmeros ministérios e instituições públicas e privadas. Para executar essa coordenação, foi criado o SIPAM – Sistema de Proteção da Amazônia.

O CINDACTA IV (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo IV), instalado em Manaus, absorveu as tarefas do SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia), ativado desde 2002, em uma área de 5,5 milhões de km2, que cobre toda a Amazônia Sul-Americana. Trata-se do mais sofisticado aparato de monitoramento do mundo, de detecção e alarme aéreo por antecipação, sendo também utilizado, em parceria, por países vizinhos. As missões do CINDACTA IV são as de defesa aérea, controle de tráfego aéreo, monitoramento de navegação fluvial, observações ambientais por sensoriamento remoto, etc, para o que dispõe de uma densa e complexa rede integrada por três Centros de Vigilância Regionais (CVR), por satélites, radares fixos e móveis, estações meteorológicas e de monitoramento ambiental, equipamentos avançados de telecomunicações, aeronaves de ataque e de características especiais, além de pessoal altamente qualificado. O Sistema de

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Proteção da Amazônia (SIPAM), do qual o SIVAM é parte integrante, foi criado para a coleta e integração de informações relativas ao meio ambiente, à climatologia, e outras, com vistas a ações globais do Governo.

AS tEntAtIVAS DE REARtICuLAçãO DO ESPAçO POLítICO AMAzônICO

A extensão territorial da Amazônia e a história da região, desde o seu descobrimento, passando pelo período colonial, pelo Império e, finalmente, a sua vivência republicana, apresenta à sociedade brasileira a necessidade de uma melhor organização do seu espaço político e administrativo. Suas dimensões, como já citado, comportam uma série de outros países no seu espaço territorial. É extremamente difícil, ainda mais em um país com as carências do Brasil, administrar uma área como a amazônica, considerando-se sua atual organização política.

Ao longo da história brasileira surgiram diversos projetos de rearticulação do território amazonense, prova de que a sociedade reconhece a necessidade de se modificar esse espaço para sua melhor administração.

O rompimento da inércia republicana, com a tomada de posição do governo federal acerca do território nacional proporcionou o surgimento de novos estudos para uma nova divisão territorial. Entre esses, destacam-se o Projeto Teixeira Freitas, de 1948, o Projeto Antônio Teixeira Guerra, de 1960, o Projeto do Deputado Siqueira Campos, de 1974, o Projeto Frederico Augusto Rondon e, finalmente os dois Projetos de Samuel Benchimol, de 1966 e 1977.

Todos esses projetos possuíam dois traços comuns: baseavam a divisão territorial no critério da integridade das bacias hidrográficas e propunham, entre

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outros, os seguintes Territórios Federais: Trombetas, Rio Negro, Solimões, Madeira, Tapajós, Xingu, Araguaia e Tocantins. Divergiam no que se refere a outros territórios e linhas entre os mesmos e os Estados.

As constituições federais têm mantido a possibilidade da rearticulação territorial para buscar uma melhor estrutura político-administrativa para o país. A sociedade nacional reconhece a necessidade de diminuir o espaço territorial amazônico a fim de adequar o seu gerenciamento. No entanto, a ação política regional pressiona em sentido contrário. É essencial que se esclareça essa necessidade ao país como um todo e que a sociedade exija dos seus representantes políticos as ações indispensáveis para a manutenção soberana desse rico território que, se adequadamente administrado e explorado, proporcionará não só o desenvolvimento regional, mas a possibilidade de que o Brasil se utilize desse potencial que poderá auxiliar a que a nação adquira a representatividade mundial que a sociedade almeja.

ASPECtOS RELAtIVOS à SOBERAnIA SOBRE O tERRItóRIO

Soberania é a manutenção da intangibilidade da Nação, assegurada a ca-pacidade de autodeterminação e de convivência com as demais nações em ter-mos de igualdade de direitos, não aceitando qualquer forma de intervenção em seus assuntos, nem participação em atos dessa natureza em relação a outras nações1.

O artigo 1o da Constituição Federal de 1988 (CF/88) estatui que a

Repúbli-ca Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municí-pios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem a soberania, a cidadania e a dignidade da pessoa humana como seus principais fundamentos.

Os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, estabelecidos no artigo 3o da CF/88 são os seguintes: construir uma sociedade livre, justa e

soli-dária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discri-minação.

Os princípios que regem as relações internacionais do Brasil são, entre outros: a independência nacional; a prevalência dos direitos humanos; a au-todeterminação dos povos; a não intervenção; a igualdade entre os estados; a defesa da paz; a solução pacífica dos conflitos; o repúdio ao terrorismo e ao racismo; e buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

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A organização político-administrativa brasileira compreende a União, os Es-tados, o Distrito Federal e os municípios, todos autônomos, nos termos da CF/88. Os territórios federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas por lei complementar. Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais mediante aprovação da população, diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacio-nal, por lei complementar.

Ainda no respeitante à organização do Estado, a CF/88 prevê, no artigo 20, que são bens da União, entre outros: as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares; das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; e as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. O parágrafo II, do mesmo artigo, estabelece a faixa de até 150 quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designado como faixa de fronteira, é considerada fundamental para a defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei.

Compete privativamente à União legislar sobre, entre outros assuntos: nacionalidade, cidadania e naturalização; populações indígenas; emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros; defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional;

Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e bens do domínio da União.

É da competência exclusiva do Congresso Nacional resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio; zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes; autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais; e aprovar previamente a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares.

Compete ao Conselho de Defesa Nacional propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo. A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa brasileira de capital nacional, na forma da lei, que estabelecerá as condições especificas quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.

À União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios é proporcionada competência comum em proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e

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à ciência; proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; preservar as florestas, a fauna e a flora; combater as causas da pobreza e os fatores da marginalização; promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; entre outras competências. Especificamente em relação ao meio ambiente, a Constituição estabelece que a Floresta Amazônica brasileira é patrimônio nacional e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

Aos índios, é dedicado o Capítulo VII do Título da Ordem Social, onde são reconhecidos sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições; e os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios ou por eles habitadas em caráter permanente as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se à sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra na forma da lei. Essas terras são inalienáveis e indispensáveis, e os direitos sobre elas imprescritíveis.

O mundo atualmente passa por um fenômeno conhecido como globalização; todavia, não se pode negar que a globalização é o traço mais relevante dos contornos assumidos pela atual estrutura internacional. Diante desta nova realidade, observa-se que, tem havido uma pretensa maior cooperação intergovernamental, e, como consequência, tem o conceito de soberania sofrido reformulação, sob o pretexto de que os Estados não são auto-suficientes, ou seja, não operam individualmente nas relações internacionais, mas, sim, interdependentemente. A comunidade mundial tenta encontrar soluções que conciliem o conceito de soberania com as necessidades de cooperação e integração entre os Estados Modernos. Assim, surgiu o conceito de

soberania compartilhada ou de supranacionalidade, um instituto novo que coloca

em dúvida o já consagrado conceito de soberania nacional.

Pesa, ainda, sobre a soberania, o denominado Direito de Ingerência, que se baseia em pretensos argumentos do tipo “defesa dos direitos humanos e das minorias”, “preservação do meio-ambiente” e “manutenção da ordem e da paz”. Estes, são princípios que podem levar à intervenção unilateral de uma potência hegemônica em qualquer parte do globo, levando a ameaça de sua presença à uma ou outra região, inclusive ao Brasil.

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TEORIAS GEOPOlíTIcAS

No mundo globalizado as sociedades recebem uma intensa gama de informações e têm dificuldade em selecioná-las e analisá-las convenientemente. Assim acontece com as notícias sobre a Amazônia e sua funcionalidade para o Brasil e o mundo. Nesse contexto, surgem teorias geopolíticas, autoridades internacionais e organizações de diversos matizes que lançam na aldeia global novas interpretações sobre a soberania brasileira na Amazônia, contrapondo-se ao instituído na Constituição Federal do Brasil e aos já estabelecidos preceitos dos consagrados organismos internacionais que regulam o assunto.

É senso comum que a geopolítica não existe para mudar o destino dos estados e nações, mas a transcrição a seguir das teorias e manifestações acima citadas permitem avaliar como elas podem e muitas vezes são utilizadas pelos estados dominantes para justificar suas ações sobre territórios nos quais tenham interesses políticos econômicos.

Uma das teorias geopolíticas que pode embasar o aspecto de oposição a que o Brasil possa buscar o seu desenvolvimento a partir da região amazônica onde estão as maiores riquezas do país, tais como recursos minerais, gás, biodiversidade e água, entre outros, está consubstanciada na afirmação de Rufin2, ou seja, os países

desenvolvidos ao sugerirem a preservação da floresta amazônica, a demarcação de terras indígenas, com o confinamento dos índios às aldeias primitivas, a preservação de espécies animais, utilizam argumentos sensíveis à sociedade mundial e mesmo a nacional brasileira. No entanto, tais países, exploraram ou continuam explorando os recursos de seus próprios territórios e os de terceiros de maneira tão predatória quanto a daqueles que são objeto de suas críticas, tendo em vista que o propósito real de suas admoestações não é o ecológico e preservacionista, mas o de manter essas nações como eternas exportadoras de matérias-primas.

De acordo com Toynbee, citado por Mafra (2006 p.122):

“Após uma etapa de crescimento, algumas sociedades humanas entraram em colapso, pela perda do poder criador das minorias dirigentes (elites – N. A.) que, à mingua de vitalidade, perdem a força mágica de influir sobre as massas não criadoras e de atraí-las.” Neste aspecto, o autor mostra a importância que têm as elites na condução dos destinos de uma nação, sua capacidade de influenciar os diferentes segmentos da sociedade a perseguir os anseios e aspirações coletivas que essas elites identificam e interpretam.

No caso brasileiro, tais elites, interpretando essas necessidades da nação, constantes da Carta Magna do país, ao defrontarem-se com teorias geopolíticas contrárias aos interesses nacionais, bem como com declarações de autoridades que os afrontem, devem posicionar-se e incentivar o povo a defender seus objetivos,

2 Rufin (1996, p.25, grifo autor) avalia que [...] ao “Império” não interessa o desenvolvimento dos “bárbaros”,

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sendo tais elites responsáveis pelo sucesso ou pelo fracasso no atingimento ou não dessa responsabilidade nacional.

Outros posicionamentos geopolíticos poderiam ser citados para corroborar a proposta alinhavada neste trabalho de como a geopolítica pode ser utilizada para explicar posicionamentos, para o bem ou para o mal dos territórios sobre os quais se a utiliza.

O apelo humanitário propalado pelos países desenvolvidos tem, ultimamente, chamado a atenção do mundo e dominado os noticiários da mídia internacional, focando os chamados “interesses coletivos da humanidade”, centrados na proteção aos direitos humanos; preservação do meio ambiente; combate ao crime organizado; proteção de comunidades indígenas; e, especialmente, no aspecto relativo à fome e à escassez de alimentos em diversas partes do planeta, em face do esgotamento de muitos dos tradicionais centros produtores pelo avanço de outras culturas não destinadas à produção de alimentos. Esse apelo midiático não condiz com o procedimento incoerente dado por esses mesmos países a tais assuntos, pois exterminaram suas florestas, são os maiores agressores do meio ambiente e protegem excessivamente sua produção agropecuária, tornando-se responsáveis pela escassez e pelo elevado preço dos alimentos.

O real objetivo da cobiça internacional é o rico patrimônio representado pela Amazônia brasileira em termos de espaço florestal, da biodiversidade e do maior banco genético do planeta.

Não é difícil que, juntando esses fatores todos, surja uma nova teoria geopolítica que, a pretexto de salvar o mundo da fome, do aquecimento global, da falta de água, da falta de espaço físico, etc, tente justificar uma internacionalização da Amazônia e de outros espaços semelhantes do mundo – os espaços internacionais – nos quais as nações desenvolvidas, empregando o poder militar e/ou o poder econômico, utilizando ou não os organismos supranacionais, encarregar-se-iam de administrar.

A sociedade brasileira precisa ser esclarecida e compreender claramente esta ameaça, sob pena de, aceitando inocentemente ou cordialmente, para utilizar uma expressão de Gilberto Freire, poderá criar condições objetivas para a ingerência internacional, no sentido de impor uma soberania compartilhada na região.

O Brasil precisa conhecer o grave risco que assume caso não adote medidas urgentes para povoar, desenvolver, integrar, defender e preservar a Amazônia.

A Nação precisa demonstrar, no dizer de Toynbee, que é capaz de superar os desafios em seu processo de afirmação perante o mundo, que tem capacidade para, com seu esforço próprio, solucionar os problemas relativos à correta gestão do meio ambiente, ao controle das ONG existentes na área amazônica, ao combate aos delitos transnacionais, ao tratamento adequado à questão indígena, à efetiva presença do Estado e à ordenada ocupação demográfica, entre outros, que se antepõem ao progresso da região amazônica de forma sustentável, integrando-a no processo de desenvolvimento do país como um todo.

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óBICES E AMEAçAS à SOBERAnIA SOBRE A AMAzônIA LEGAL

O Brasil é um país em desenvolvimento que vem, nos últimos anos, conseguindo progressos na busca do atendimento das necessidades básicas do seu povo e na inserção global, após o fim da bipolaridade e o início de uma nova ordem mundial, baseada na globalização, com a existência de uma potência hegemônica e diversas nações desenvolvidas que detêm os maiores níveis de poder em todos os domínios das relações internacionais, as quais na busca da manutenção de seu “status” não têm interesse em que outros países atinjam maiores índices de desenvolvimento e, por vezes, criam obstáculos para que isso aconteça.

Nesse quadro internacional, de desequilíbrio de poderes e, particularmente no plano regional, não se observa um cenário de conflitos militares de natureza interestatal. No entretanto, óbices no âmbito externo e interno devem ser superados, a fim de que não se transformem em ameaças à soberania brasileira na região amazônica. A seguir serão enumerados os principais desses óbices.

A idéia de internacionalização da Amazônia surgiu inicialmente, em abril de 1948, quando a UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), pelo Acordo de Iquitos tentou criar o chamado IIHA (Instituto Internacional da Hiléia Amazônica), destinado a orientar e apoiar a execução de pesquisas científicas na região e centralizar e difundir os resultados. Este tratado foi assinado inicialmente pelos países da região (Brasil, Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Venezuela) e alguns países europeus, a saber: França, Itália e Países Baixos. Somente depois de muita discussão o Congresso Nacional, seguindo parecer do Estado-Maior das Forças Armadas recusou a criação do IIHA e propôs a criação do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), com objetivos semelhantes e que foi implantado em 1952.

Vale aqui destacar, pronunciamentos de autoridades mundiais direcionados para a região amazônica com o propósito de internacionalizá-la citados por Paiva33.

“Em 1850, o Comandante Matthew Maury, Chefe do Observatório Naval de Washington (EUA), defendia a livre navegação internacional no Rio Amazonas, considerando que o rio deveria ser incorporado ao status do Direito Marítimo.

Em 1902, em Berlim (Alemanha), o Chanceler alemão – Barão Oswald Richtöfen – propunha que “seria conveniente que o Brasil não privasse o mundo das riquezas naturais da Amazônia”.

Em 1989, Al Gore, ex Vice-Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) disse: “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós”.

O Presidente da França, François Mitterrand declarou: “O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia”.

Em 1990, em um Congresso de Ecologistas Alemães, foi acordado que “a

3 3 PAIVA, Luiz Eduardo Rocha: Amazônia: Vulnerabilidade – Cobiça – Ameaça. Revista PADECEME Nº 12 – 2º

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Amazônia deve ser intocável, pois se constitui num banco de reservas florestais da humanidade”.

Em 1992, o Conselho Mundial de Igrejas Cristãs expressou, nas diretrizes para seus missionários na Amazônia, que: “A Amazônia total, cuja maior área fica no Brasil, mas que também compreende os territórios da Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, é considerada por nós como um patrimônio da humanidade. A posse dessa imensa riqueza pelos países mencionados é meramente circunstancial.”

Em 1992, o ex Primeiro Ministro da Inglaterra, John Major, declarou que: “As nações desenvolvidas devem estender o domínio da lei ao que é comum a todos no mundo”.

As campanhas ecologistas internacionais sobre a região amazônica estão deixando a fase propagandística para dar início a uma fase operativa, que pode, definitivamente, ensejar intervenções militares diretas sobre a região”.

1992 foi o ano da ECO-92 – convenção internacional sobre o meio ambiente, no Rio de Janeiro –, quando estabeleceu-se a Reserva Indígena Yanomâmi, desencadeando o processo de criação de grande parte das Terras Indígenas (TI) que, atualmente somam cerca de 12% do Território Nacional.

Em 1998, Patrick Hugles, Chefe do Órgão Central de Informações das FA dos Estados Unidos disse: “caso o Brasil resolva fazer um uso da Amazônia que ponha em risco o meio ambiente nos EUA, temos de estar prontos para interromper esse processo imediatamente”.

Em 2005, Pascal Lamy, Diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, manifestou que: “A Amazônia e as outras florestas tropicais do planeta deveriam ser consideradas bens públicos mundiais e submetidas à gestão coletiva – ou seja, gestão da comunidade internacional”.

É uma extensa lista de autoridades, às quais se poderia acrescentar: Henry Kissinger, Margareth Thatcher e Gorbachov, que também manifestaram publicamente o mesmo pensamento.”

Além dessas declarações, são conhecidos os trabalhos de grupos internacionais, empresas, laboratórios, indústrias e Organizações Não Governamentais (ONG) de “fachada”, na Amazônia realizando pesquisas e explorando a região sem controle do Estado, retirando do Brasil e levando para o exterior recursos e conhecimentos ali existentes. A escassez, a médio prazo, dessas riquezas constituem-se em motivação suficientes para que se exerçam pressões internacionais, com o intuito de impedir que o Brasil explore seus recursos e mantenha-os intactos para a exploração por outros países no futuro.

Verifica-se ultimamente o avanço dissimulado das nações mundiais sobre a Amazônia brasileira. As notícias veiculadas sobre a presença de tropas extracontinentais (holandesas, britânicas e inglesas) nos países vizinhos do Brasil trazem preocupação ao meio militar que procura alertar a sociedade brasileira sobre os perigos que tal situação pode acarretar futuramente em face

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da tentativa de questionar a soberania brasileira na Amazônia pelas potências estrangeiras.

Vale ressaltar que aumentou em cinco vezes o número de ONG internacionais no Estado de Roraima, fronteiriço às Guianas acima citadas. São ONG francesas, dos EUA, Inglaterra, Canadá e holandesas.

Na imprensa européia, há anos se vem cogitando abertamente a possibilidade futura em formar-se uma força de coalizão entre exércitos europeus, chefiada pelos EUA, com o intuito de “salvarem a Amazônia da destruição pelo Brasil”; ou “salvarem o território vasto que é patrimônio de toda a Humanidade”.

Haja vista os interesses em jogo, cabe ao país agir com cautela nesse campo, adotando medidas preventivas para que não seja surpreendido no futuro, quer no bom relacionamento com as demais nações, quer no devido cuidado de suas riquezas. Se tais ameaças não são evidentes, por que motivo o jornal The New York Times teria publicado, em 18 de maio de 2008, a reportagem intitulada “De quem é a Amazônia, afinal?”. No artigo o jornal americano afirma que a sugestão feita por líderes globais de que a Amazônia não é patrimônio exclusivo de nenhum país está causando preocupação no Brasil. A matéria, assinada pelo correspondente do jornal no Rio de Janeiro Alexei Barrionuevo, o jornal diz que “um coro de líderes internacionais está declarando mais abertamente a Amazônia como parte de um patrimônio muito maior do que apenas das nações que dividem o seu território”. “É uma briga que deve apenas se tornar mais complicada nos próximos anos, à luz de duas tendências conflituosas: uma demanda crescente por recursos energéticos e uma preocupação crescente com mudanças climáticas e poluição.”

Essa reportagem reforça o coro internacional que tem questionado a soberania do Brasil sobre a Amazônia. Barrionuevo dá seu recado logo no início, quando cita um comentário do então senador americano Al Gore em 1989 (depois ele foi vice do presidente Bill Clinton em duas gestões), igualmente transcrita neste trabalho: “Ao contrário do que pensam os brasileiros, a Amazônia não é propriedade deles, pertence a todos nós.”

Três dias antes de o The New York Times publicar seu artigo, o jornal inglês

The Independent, noticiando o pedido de demissão da ministra do Meio Ambiente,

Marina Silva, também manifestou-se sobre a Amazônia, registrando o seguinte: “Uma coisa está clara. Essa parte do Brasil (a Amazônia) é muito importante para ser deixada com os brasileiros.”

O que fica claro, diante das notícias de Nova York e Londres, é que a Amazônia corre grave ameaça. A ofensiva dos dois jornais não é gratuita e a sociedade brasileira precisa instar o governo a adotar uma decisão forte, que ecoe para todo o mundo, de forma inquestionável, a certeza de que a Amazônia é nossa.

Baseados na alegação da incapacidade do Brasil de preservar a natureza amazônica, inúmeras ONG européias e norte-americanas lutam para que se

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estabeleça para a Amazônia, o status de “território do interesse da Humanidade” e, como tal, que um organismo supranacional, com autoridade decisória passe a participar de sua administração. As ONG já envolveram a ONU, a UNESCO e entidades financeiras internacionais na tese de apoio á criação de uma entidade supranacional para preservar a floresta amazônica e, com este objetivo, estas aprovarem ou desaprovarem pedidos de empréstimo. Igualmente, mantêm e financiam várias agências na região que se apresentam como ambientalistas, antropológicas, naturalistas, indigenistas, pacifistas, de direitos humanos, etc.

Destacam-se entre as entidades de apoio as ONG atuantes na Amazônia: a inglesa “Survival International!” também conhecida como “Casa de Windsor”; a “European Working Group on Amazon (EWGA)”; o Conselho Mundial das Igrejas Cristãs, sediado na Suíça; e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Essas organizações internacionais, entre outras, irradiam no Brasil e em particular na Amazônia, uma série de ONG e agências que buscam criar na população local e nos indígenas uma conscientização da necessidade de internacionalizar a região.

As medidas a serem adotadas pelo Estado brasileiro, portanto, estão mais do que evidentes. E são urgentes. O melhor meio de enfrentar ameaças à soberania nacional é se fazer presente na região. Isso significa, em primeiro lugar, adotar uma política restritiva em relação às inúmeras ONG que atuam na Amazônia. Misturam-se ali raras organizações internacionais de mérito reconhecido em defesa da ecologia e dos direitos humanos com inúmeras entidades inidôneas e de finalidade incerta e não sabida. Na verdade, estão em busca do mapeamento das riquezas e da biodiversidade. Há que impedir essa invasão camuflada de objetivos ecológicos e humanitários. Cabe assinalar que 96% das reservas mundiais de nióbio encontram-se na Amazônia e a região também é objeto da biopirataria por parte de laboratórios que buscam patentes inéditas para seus medicamentos. O governo tem procurado se informar sobre os desvios de rota das ONG e está providenciando uma regulamentação mais rígida nas permissões de acesso à floresta. As autorizações passarão pelo controle dos órgãos da Defesa, a fim de identificar as ONG que realmente possuem objetivos ecológicos e humanitários.

As ONG têm assumido papéis ativos em temas sociais, ambientais e de di-reitos humanos. Desvencilhando-se agilmente da burocracia, algumas aproveitam fragilidades do Estado e ocupam espaço crescente na sociedade brasileira, como se fossem parte do aparato oficial.

Várias delas são prestigiadas, pois declaram estar a serviço de causas nobres: culturais, religiosas, comunitárias, ambientalistas, educacionais, de direitos huma-nos ou de defesa de minorias. Embora não se submetam à aprovação popular, pro-curam influenciar, cada vez mais, as decisões políticas, trazendo reflexos para todos os campos do poder nacional, inclusive o militar.

Entre as ONG nacionais mais presentes na Amazônia destacam-se o Conselho Indigenista de Roraima (CIR) controlado pela Comissão Pastoral da Terra; Associação

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dos Povos Indígenas de Roraima (APIR); Associação regional Indígena dos Rios Kinô, Cotongo e Monte Roraima (ARIKOM). A Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte do Estado de Roraima (SODIURR) defende a convivência pacifica e comunitária entre índios e não índios.

Duas teses se confrontam em torno da questão indígena – Integração versus Confinamento . A política tradicional brasileira é da integração à sociedade nacional, idealizada e realizada pelo maior indigenista do país, o Marechal Rondon.

As ONG internacionalistas escolheram para tema de sua penetração a questão indígena e, para área principal de operações, o território Norte do Estado de Roraima, contíguo às fronteiras com a Venezuela e República da Guiana. Escolheram uma região vulnerável, pela distância dos grandes centros, pelo seu despovoamento, pela sua contigüidade com um espaço trifronteiriço (Brasil-Venezuela-República da Guiana). A constância de sua ação, o apoio de ONG internacionais nas suas pressões ao governo brasileiro já lhes assegurou duas vitórias: a demarcação das reservas indígenas de Ianomâmi e a demarcação das reservas dos índios de Raposa Terra do Sol. A soma da superfície destas duas reservas esteriliza para a ocupação e economia cerca de 50% do território do Estado de Roraima.

A Assembléia Constituinte de 1988, pressionada pelas ONG, colocou na Constituição vigente conceitos de interpretação duvidosa sobre “terras tradicionais dos índios”; baseado em critério interpretativo duvidoso, o Executivo homologou, com decretos e portarias, as reivindicações sobre reservas indígenas totalizando 1/10 do território nacional, para uso privilegiado de cerca de 700 mil índios, entre tribais e semi-tribais, divididos em 215 etnias, com 180 línguas e dialetos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Outro aspecto que ameaça a soberania nacional é a crescente aquisição de terras por estrangeiros. A própria constituição vigente facilita a compra de terras por estrangeiros. Se um empresário estrangeiro detém 99% de uma empresa e coloca um brasileiro com apenas 1%, já é o suficiente para ter autorizada a venda de terras, constando como empresa brasileira, haja vista que os requisitos para a aquisição de terras são os seguintes: residir no Brasil, ter imóvel registrado no Cartório de registro de Imóveis e cadastrado no Sistema Nacional de Cadastro Rural, e, se o imóvel for em área de segurança nacional ter o consentimento prévio do Conselho Nacional de Defesa Nacional.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) estima que quase um terço das terras da Amazônia Legal está em situação irregular ou indefinida. Por outro lado, apenas 4% da área é composta por propriedades particulares devidamente regularizadas pelo Órgão. A destinação é incerta em 1,58 milhão de km², espaço equivalente à soma das áreas de cinco países: Alemanha, Espanha, França, Hungria e República Tcheca. Esse fato é um dos motivadores das atividades ilegais no tocante à extração de madeira e produção agropecuária, uma vez que estimula a impunidade. A questão fundiária é um dos piores problemas

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da Amazônia. Outro exemplo é a situação das áreas protegidas: entre unidades de conservação e terras indígenas, elas chegam a 41% da Amazônia Legal, ou 1,58 milhão de km², boa parte dependendo de regularização.

PROPOSTAS DE AçõES POlíTIcAS E ESTRATéGIcAS

Da análise de todos os aspectos apresentados é possível sugerir algumas ações políticas e estratégicas no sentido de assegurar ao Brasil a soberania sobre a Amazônia Legal, pela participação da sociedade no desenvolvimento da área, o que contribuirá para a eliminação de intenções e propostas de fora do país no intuito de contestar tal direito inalienável da nação. Tais ações serão apresentadas a seguir:

- Dividir a área sob o ponto de vista político, em um número maior de estados, territórios, ou ainda, zonas de administração, sob a coordenação de uma secretaria especial, criada com a precípua finalidade de desenvolver a área amazônica, com “status” de Ministério, recursos próprios e poder de decisão sobre os projetos e programas a serem elaborados nas diversas regiões geo-econômicas da Amazônia Legal.

- Propor uma mudança no texto constitucional em termos da organização político-administrativa e na divisão territorial da Amazônia Legal.

- Elaborar a divisão geográfica de acordo com as características geo-econômicas da Amazônia, reunindo em oito estados e/ou territórios, administrados por governos próprios, coordenados por uma Secretaria Especial, subordinada diretamente ao Presidente da República.

- Fiscalizar, por intermédio da Secretaria Especial, a implementação dos projetos e programas de desenvolvimento pelos governos locais, controlando o cumprimento do estabelecido nos planos e programas, especialmente quanto ao cumprimento de prazos e utilização de recursos, devendo deter poderes para responsabilizá-los e autuá-los no caso do não atendimento do estipulado quando da contratação das obras e serviços.

- Atribuir poderes à Secretaria Especial para acionar os órgãos competentes para atuação sobre as atividades privadas que não cumprirem as leis, normas, regulamentos e contratos definidores das obras.

- No âmbito da Segurança Nacional, estabelecer e demarcar a “faixa de fronteira” a uma distância na ordem de 150 (cento e cinqüenta) quilômetros da linha divisória com os países limítrofes, designando-a como área de segurança necessária para o desenvolvimento de operações militares de defesa e segurança, proibindo qualquer outra atividade nessa faixa, inclusive a existência de reservas indígenas e incluir dispositivo que permita a modificação da lei de preservação do meio ambiente (florestas) em caso de ameaça à segurança nacional.

- Demarcar as terras indígenas aquém da área considerada como faixa de fronteira (150 Km).

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- Vivificar, de forma prioritária e ordenada – com a presença forte do Estado por meio de suas expressões políticas e militares, especialmente – as áreas fronteiriças da região amazônica.

- Rebater, por meio do Ministério das Relações Exteriores, nos foros apropriados e de forma sistemática, as ingerências de outras nações em assuntos que afetem a soberania nacional sobre a região amazônica, exigindo que a Organização das Nações Unidas se manifestem a esse respeito.

- Em relação à segurança interna, estabelecer uma política de reforma agrária para a região, assentando famílias da área amazônica e voltadas para atividades de criação e cultivo agrícola adequados à região, nativos ou já adaptados tradicionalmente.

- Controlar a circulação de pessoas e instituições na região, especialmente as não nacionais. É necessário haver o cadastramento principalmente das Organizações não Governamentais atuantes na área, permitindo a permanência apenas daquelas que obedeçam às leis, normas e regras estabelecidas pela sociedade brasileira, por intermédio de seus órgãos de controle.

- Defender, no que diz respeito à política externa, os princípios brasileiros em torno das questões da soberania sobre o território sob sua jurisdição, reconhecido por meio de acordos, aquisições, mediações, etc, obedecendo à ordem judicial internacional vigente à época das decisões sobre as pendências territoriais em suas fronteiras, sem que haja, por parte dos países limítrofes, qualquer contestação às fronteiras estabelecidas.

- Acompanhar, restringir e até mesmo impedir, as ações das ONG internacionais, toda vez que atentarem contra a integridade da nação brasileira.

- Manter e incentivar a aculturação dos nativos de origem indígena, possibilitando-lhes o acesso ao conhecimento pleno da língua nacional para que a reconheçam como idioma oficial, respeitando o dialeto nativo que deverá ser cultuado como tradição, assim como os seus costumes, sem permitir que sejam criados “quistos étnicos”, interligando os indígenas à comunidade nacional, evitando a segregação.

- Permitir ao índio, como a qualquer cidadão nacional, o livre arbítrio no aspecto religioso.

- Ensinar ao índio primeiramente o idioma nacional . O idioma estrangeiro só poderá ser ensinado após o domínio da língua nacional e, aquele idioma deverá ser ministrado, na língua portuguesa e não na nativa, ou seja, primeiro o indígena deverá expressar-se na língua portuguesa e, a partir desta, poderá apreender outros idiomas.

- Preservar os costumes indígenas, criando para isso, nas cidades que surgirem no entorno das aldeias, ou em outras que tenham representação silvícola, centros de tradições, coordenados pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que os cultivem e incentivem.

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entendida como sendo do povo brasileiro, inseridos aí todas as tribos, integrantes que são da sociedade nacional.

- Desenvolver o turismo ecológico, pelas características da área e pela necessidade em serviços, além de permitir a circulação social, contribuindo para uma maior integração e para a aculturação e miscigenação.

- Eliminar as ameaças de natureza militar que venham a se apresentar no cenário amazônico, adquirindo capacidade de pronta resposta de suas forças militares presentes na região amazônica e preparando-se para dissuadir ou enfrentar qualquer pretensão de contestação da sua soberania sobre a Amazônia.

- Aumentar os efetivos e reaparelhar as Forças Armadas, particularmente, na região amazônica, em especial junto às fronteiras, adequado-as às missões que lhes são imputadas constitucionalmente.

- Atualizar a legislação sobre a exploração dos recursos hídricos, minerais, vegetais e animais na região amazônica, a fim de assegurar exclusividade ao Estado ou a nacionais com fins específicos, limitados respeitando as necessidades ambientais.

- Elaborar um projeto específico com metas de curto, médio e longo prazos, para a circulação de bens e serviços na área amazônica e desta, para o restante do país e países vizinhos, no sentido de implementar as vias de transportes e comunicações existentes e implantar outras que atendam tal necessidade.

- Explorar os recursos hídricos e minerais existentes em prol do desenvolvimento da região amazônica, podendo utilizá-los em conjunto com os países limítrofes, por meio de acordos de duplo benefício, a fim de que as fronteiras permaneçam apaziguadas e que se evite que países estranhos à área se imiscuam nas questões locais de qualquer ordem que, caso surjam, devem ser resolvidas pelos organismos regionais próprios.

- Privilegiar o transporte aquático e aéreo em detrimento do rodoviário, de acordo com as características fisiográficas diversificadas existentes, sendo necessário, ainda, integrar esses modais para que a comunicação intra e interregional seja mantida e ampliada, constituindo-se este, um fator de fixação do homem no espaço regional e um dos aspectos principais da infra-estrutura, junto com a energia, que possibilita o desenvolvimento econômico necessário à manutenção da soberania, pela efetiva presença do Estado e da sociedade civil, ocupando seu espaço territorial.

- Dotar a região amazônica dos meios de comunicações necessários ao seu desenvolvimento, enquanto não houver interesse da iniciativa privada para investimento nesse importante setor da infra-estrutura para a integração nacional.

- Incentivar a atividade de piscicultura a fim de que possa ser explorada economicamente, tanto para o consumo regional e nacional, quanto para exportação, formando cooperativas de pescadores e instalando frigoríficos, na própria área,

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para a comercializar os produtos, mediante orientação do respectivo Ministério e coordenação da Secretaria Especial sugerida neste trabalho.

- Autorizar o extrativismo de recursos naturais, especialmente minérios, somente por empresas credenciadas que tenham compromisso com o desenvolvimento sustentável da região amazônica, como já acontece com a “Companhia Vale”, de minérios, antiga Vale do Rio Doce.

- Investir nos campos científico e tecnológico, com recursos públicos e privados, na educação, em todos os níveis, para que se desenvolva regionalmente uma infra-estrutura científica e tecnológica, valendo-se da extensa biodiversidade do eco-sistema amazônico.

- Criar centros de pesquisas e laboratórios, bem como implementar os já existentes, e fornecer incentivos para pesquisadores e cientistas atuarem na região, obedecendo um planejamento que priorize as necessidades regionais nessa área, tais como o estudo de doenças tropicais, uso medicinal de produtos farmacológicos, entre outras aplicações.

- Incrementar o nível da realização de pesquisas pelas universidades nacionais, particularmente as da área amazônica, no sentido de explorar os recursos naturais nela existentes.

- Explorar ao máximo os dados do SIVAM/SIPAM, particularmente no combate aos ilícitos transnacionais.

cONclUSãO

A conformação territorial brasileira encontra-se definida e reconhecida por todas as instâncias internacionais que tratam dos limites territoriais dos estados mundiais.

A Amazônia precisa ser imaginada como uma região de considerável exten-são territorial quase desabitada, com potencialidades insuspeitáveis e que está dis-ponível para que se implementem ações que se constituam na formação e elevação de um melhor padrão de vida da sua população.

A despeito das inúmeras tentativas governamentais de desenvolvimento na região, a Amazônia mantém, ainda, as principais características de seu patrimônio natural e biológico. Constitui-se em um complexo ecológico que extrapola as fronteiras do território brasileiro, integrado e articulado pela continuidade da floresta que juntamente com o amplo sistema fluvial da região, unifica vários subsistemas ecológicos da América do Sul.

A dimensão continental da Amazônia representa um potencial econômico, ecológico e político de importância estratégica internacional. Ao contrário das outras florestas tropicais úmidas do planeta, dispersas em conjuntos menores, isoladas entre si, a floresta amazônica, é um grande “maciço” concentrado.

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A região amazônica contabiliza apreciáveis reservas de minerais tradicionais e outros novos, agregados com aplicações tecnológicas. Por outro lado, a bacia hidrográfica reúne um inestimável potencial hidroelétrico e pesqueiro, além de vastas áreas com potencial agrícola ainda não explorado.

A Amazônia é reconhecida internacionalmente como a região natural com a maior biodiversidade a ser aproveitada pelo homem com a tecnologia atual disponível. Este fato deveria teoricamente garantir aos países que possuem territórios nessa região, um desenvolvimento integral, tanto econômico quanto social, todavia, na prática a ausência de capitais, de tecnologia e, sobretudo, de políticas coerentes levadas à pratica de forma coordenada, levou a que, apesar do reconhecimento de suas potencialidades, a Amazônia continue sendo subutilizada.

A importância da Amazônia para o Brasil exige que seja desenvolvido um esforço especial e constante para desenvolver o conhecimento específico e as tecnologias pertinentes que permitam aproveitar ao máximo as potencialidades da região, conservando por sua vez as características principais do ambiente regional.

É necessário estabelecer políticas coerentes e legislações especiais que facilitem o desenvolvimento sustentável regional e por sua vez, garantam a proteção dos recursos contra sua depredação, biopirataria ou outras atividades ilegais.

O pacto regional dos países amazônicos deve ser levado adiante na prática cotidiana, a fim de conformar um verdadeiro bloco em defesa dos interesses sobe-ranos do patrimônio da região, que desiluda qualquer cobiça ou intenção oculta contra a Amazônia vinda do norte.

Nesse sentido, o Brasil, sendo o detentor da maior porção da área amazôni-ca, precisa liderar um processo de desenvolvimento sustentado que proporcione condições de atender as necessidades dos habitantes regionais, adotando medidas que impulsionem os estudos científicos e tecnológicos para a exploração adequa-da dos recursos existentes, objetivando o desenvolvimento adequa-da região e do próprio país, eliminando assim qualquer possibilidade de cobiça internacional desse seu patrimônio.

O escopo desse trabalho foi o de chamar a atenção da sociedade brasileira para a necessidade de ação para o desenvolvimento regional da Amazônia, na ten-tativa de mobilizá-la, juntamente com a ação governamental, a fim de fazer frente às ameaças de sua internacionalização ou do questionamento da soberania do Bra-sil sobre essa riquíssima porção de seu território.

Para tanto, foram apresentadas diversas políticas e estratégias que, se adota-das, contribuirão para o atingimento do objetivo proposto.

Em síntese, transformando a Amazônia Legal em uma área vital, por meio da presença forte do poder político, econômico, social e militar, será facilitada a ação

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de manter a soberania brasileira sobre a região e confirmar, nessa área, a mesma afirmação utilizada pelo índio Sepé Tiarajú, no século XIX, no sul do país, de que “esta terra tem dono”.

A tarefa é laboriosa e os desafios são consideráveis, no entanto, mais difícil foi a conquista desta vasta e rica área do território brasileiro, conforme se pode verificar na frase lapidar deixada pelo General-de-Exército Rodrigo Otávio Jordão Ramos, antigo comandante do Comando Militar da Amazônia: “Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la”.

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Referências

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