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Procedimentos e desqualificação de discurso

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Academic year: 2020

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PROCEDIMENTOS DE D E S Q U A L I F I C A Ç Ã O DE DISCURSOS*

Diana Luz Pessoa de BARROS**

0 Novo D i c i o n á r i o A u r é l i o d e f i n e d e s q u a l i f i c a ç ã o como o ato ou o e f e i t o de d e s q u a l i f i c a r , ou seja» de t i r a r as boas qualidades ou a q u a l i f i c a ç ã o enquanto a t r i b u t o s n e c e s s á r i o s ao bom desempenho de uma f u n ç ã o . Por sua vez d e s q u a l i f i c a d o é aquele que perdeu as qualidades que o recomendavam à c o n s i d e r a ç ã o p ú b l i c a . P r i v a ç ã o de qualidades ou perda da c o n s i d e r a ç ã o pública» a d e s q u a l i f i c a ç ã o » assim c a r a c t e r i -zada» d i z respeito» da mesma foram que a q u a l i f i c a ç ã o , a d o i s momentos d i s t i n t o s de uma s i n t a x e n a r r a t i v a , na p e r s p e c t i v a dos estudos da n a r r a t i v i d a d e : o da prova q u a l i f i c a n t e e o da prova g l o r i f i c a n t e de V. P r o p p ( 9 ) . Em o u t r a s p a l a v r a s , pode-se entender d e s q u a l i f i c a r como a a ç ã o de t i r a r do h e r ó i as qualidades n e c e s s á r i a s à a ç ã o , uma e s p é c i e de prova q u a l i f i c a n t e à s a v e s s a s ; e ainda como a a ç ã o de j u l g a r negativamente ou de desmacarar o v i l ã o , um t i p o de prova g l o f i c a n t e , também ao c o n t r á r i o .

Para uma t e o r i a s e m i ó t i c a da n a r r a t i v a <6) a d e s q u a l i f i c a ç ã o remete, na p e i m e i r a a c e p ç ã o , ao p e r c u r s o da m a n i p u l a ç ã o , em que o Destinador determina os v a l o r e s em jogo na n a r r a t i v a e, de d i f e r e n t e s modos, persuade o D e s t i n a t á r i o a a g i r segundo e l e s ; na segunda a c e p ç ã o , ao p e r c u r s o da s a n ç ã o c o g n i t i v a , em que o Destinador i n t e r p r e t a as

«Parte das reflexões e análises efetuadas neste artigo encontram-se no texto "Desqualificação de discursos: alguns procedimentos". Anais do GEL, Franca,

1 9 9 1 ·

imDepart amento de Linguistica - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - USP

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a ç õ e s e seus r e s u l t a d o s em um quadro de v a l o r e s e, com base n e s s a i n t e r p r e t a ç ã o , reconhece o. s u j e i t o como n ã o cumpridor de seus compromissos. As duas a c e p ç õ e s t ê m pontos em comum: ambas envolvem a s r e l a ç õ e s c o g n i t i v a s e n t r e Destinador e D e s t i n a t á r i o e não a s r e l a ç õ e s p r a g m á t i c a s e n t r e o s u j e i t o e o mundo, seu o b j e t o ; em ambas as r e l a ç õ e s têm c a r á t e r n e g a t i v o d e s s e s p e r c u r s o s às a v e s s a s .

Como d e c o r r ê n c i a das duas c o n c e p ç õ e s n a r r a t i v a s de d e s q u a l i f i c a ç ã o podem-se d i s t i n g u i r também d o i s procedimentos de d e s q u a l i f i c a ç ã o de d i s c u r s o s . No p r i m e i r o ,

com a d e s q u a l i f i c a ç ã o - m a n i p u l a ç ã o , d e s q u a l i f i c a - s e o s u j e i t o como meio de d e s q u a l i f i c a r seu d i s c u r s o ; no segundo, com a d e s q u a l i f i c a ç ã o - s a n ç ã o , d e s q u a l i f i c a - s e o d i s c u r s o para d e s q u a l i f i c a r seu s u j e i t o e, a p a r t i r d a i , demais a ç õ e s e p r o j e t o s s e u s .

1. D e s q u a l i f i c a ç ã o do s u j e i t o

No d i a - a - d i a da v i d a u n i v e r s i t á r i a , nos romances p o l i c i a i s ou nos t e x t o s de a m b i g ü i d a d e n a r r a t i v a encontram-se bons exemplos de procedimentos de d e s q u a l i f i c a ç ã o de s u j e i t o s como r e c u r s o s para d e s q u a l i f i c a r seus d i s c u r s o s . Assim é que em r e u n i õ e s de p r o f e s s o r e s u n i v e r s i á r i o s é comum ouvirem-se a u t o r i d a d e s u n i v e r s i t á r i a s d i r i g i r e m - s e a p r o f e s s o r e s (doutores, 1 i v r e s - d o c e n t e s , et c . ) , dizendo: - A mocinha d i s s e que... - V o c ê s , j o v e n s , pensam que... ou

São procedimentos que t ê m por o b j e t i v o d e i x a r c l a r o que t a i s p r o f e s s o r e s não t ê m , por r a z õ e s d i v e r s a s como as de serem jovens ou mulheres, c o m p e t ê n c i a para e m i t i r o p i n i õ e s sobre q u e s t õ e s da u n i v e r s i d a d e .

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Consequentemente, suas o p i n i õ e s , a ç õ e s ou r e f l e x õ e s e s t ã o também automaticamente desqual i f i c a d a s .

Nos romances p o l i c i a i s » da mesma forma, o d e t e t i v e sempre d e s q u a l i f i c a seu ajudante ou amigo, mostrando que l h e faltam os a t r i b u t o s n e c e s s á r i o s para e s c l a r e c e r o c r i m e . Vejam-se as f a l a s de Sherlok Holmes sobre ou para Watson ou as de P o i r o t a r e s p e i t o do C a p i t ã o H a s t i n g s . Assim» as s o l u ç õ e s que e s s e s a u x i l i a r e s , em g e r t a l i n v e s t i d o s do papel de narrador, apresentam, servem apenas para confundir o l e i t o r e g a r a n t i r o suspense, p o i s já foram, de antemão» d e s q u a l i f i c a d a s .

Nos t e x t o s que produzem e f e i t o s de a m b i g ü i d a d e n a r r a t i v a O ) v á r i a s vozes s ã o ouvidas e todas elas» de alguma forma» d e s q u a l i f i c a d a s » por meio da d e s q u a l i f i c a ç ã o dos s u j e i t o s . Assim» por exemplo» no conto

Jardim Selvagem, de L y g i a Fagundes T e l l e s < 4 ) ,

o narrador è uma c r i a n ç a f a n t a s i o s a e os demais s u j e i t o s d i s c u r s i v o s a quem o narrador cede a p a l a v r a s ã o uma t i a d e c r é p i t a e uma empregada i g n o r a n t e . Em Dom Casmurro, de Machado de A s s i s ( 7 ) , Bentinho é c a r a c t e r i z a d o

como fortemente i n f l u e n c i á v e l e excessivamente ciumento; o agregado Josçé Dias como c a l c u l i s t a e amante dos s u p e r l a t i v o s . D e s q u a l i f i c a d o s os s u j e i t o s , f a n t a s i o s o s , i g n o r a n t e s , ciumentos» e x a g e r a d o s » suas vozes» v i s õ e s e o p i n i õ e s s ã o

t a m b é m d e s q u a l i f i c a d a s . Nenhuma das vozes» ao c o n t r á r i o do que ocorre no romance policial» è c o n s i d e r a d a " v e r d a d e i r a " e» com isso» m a n t ê m - s e os d o i s p e r c u r s o s n a r r a t i v o s e produzem-se e f e i t o s de a m b i g ü i d a d e .

2. D e s q u a l i f i c a ç ã o do d i s c u r s o

Os mecanismos de d e s q u a l i f i c a ç ã o do d i s c u r s o e» a p a r t i r d a i , do sujeito» s ã o de

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t r ê s t i p o s : o p r i m e i r o r e l a c i o n a d o aos procedimentos c o n v e r s a c i o n a i s da i n t e r a ç ã o v e r b a l ; o segundo* às n o ç õ e s de c o m p e t ê n c i a e e r r o l i n g u i s t i c o * o t e r c e i r o às q u e s t õ e s da i n t e r t e x t u a l i d a d e . 2 . i D e s q u a l i f i c a ç ã o da p a r t i c i p a ç ã o c o n v e r s a c i o n a l do s u j e i t o da i n t e r a ç ã o E s s e s procedimentos de d e s q u a l i f i c a ç ã o podem s e r observados de duas

p e r s p e c t i v a s * na da A n á l i s e da C o n v e r s a ç ã o e na das propostas de Goffman(5) sobre a f a c e . No p r i m e i r o caso* b a s t a pensar nos procedimentos de r e f o r m u l a ç ã o d i s c u r s i v a , como a p a r á f r a s e e a c o r r e ç ã o e nas f u n ç õ e s

i n t e r a c i o n a i s que e x e r c e r na c o n v e r s a ç ã o * e n t r e as quais a de d e s q u a l i f i c a ç ã o da f a l a e de seu s u j e i t o . Assim* por exemplo, ao c o r r i g i r seu i n t e r l o c u t o r , o f a l a n t e , pelo " e r r o " , pode d e s q u a l i f i c á - l o .

Goffman d e f i n e a face como a auto-imagem c o n s t r u í d a . A p a r t i r desse c o n c e i t o , observa na c o n v e r s a ç ã o d i f e r e n t e s mecanismos de a m e a ç a , r e s t a u r a ç ã o e p r e s e r v a ç ã o da f a c e . Se as perguntas, por exemplo, a m e a ç a m a f a c e , os procedimentos de a t e n u a ç ã o a preservam. A t r a v é s dos mecanismos de i n t e r a ç ã o v e r b a l , d e s q u a l i f i c a - s e o s u j e i t o . 2.2. D e s q u a l i f i c a ç ã o pelo " e r r o " 1 i n g ü i s t i c o Nesse c a s o , o d i s c r u s o é d e s q u a l i f i c a d o por suas " i n c o r r e ç õ e s " , em g e r a l r e l a c i o n a d a s com a s q u e s t õ e s de v a r i a ç ã o e normas l i n g ü í s t i c a s . Campanhas p o l i t i c a s dos ú l t i m o s tempos servem de exemplo e, sobretudo, os usos p o l í t i c o s do " f a l a r bem" de J â n i o Quadros e do " f a l a r mal" de L u l a .

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contrapor ao " f a l a r bem" de J â n i o Quadros* ocupou e s p a ç o e tempo nos mios de c o m u n i c a ç ã o , nas ú l t i m a s e l e i ç õ e s p r e s i d e n c i a i s , chegou à boca do povo, v i r o u p i a d a . Se, nos l u g a r e s a c a d ê m i c o s , n i n g u é m

ignora o c a r á t e r p o l i t i c o dos usos l i n g u i s t i c o s , o envolvimento de m i l h õ e s de p e s s o a s , o jogo pesado dos meios de c o m u n i c a ç ã o e os r e c u l t a d o s e l e i t o r a i s do que se pode c o n s i d e r a r como p o l i t i z a ç ã o do

l i n g U i s t i c o , ou melhor, " 1 i n g u i s t i z a ç ã o " do p o l i t i c o , mesmo a l i causou impacto.

0 candidato L u l a f o i considerado " i g n o r a n t e " , " a n a l f a b e t o " ; deveu-se t a l s a n ç ã o c o g n i t i v a aos " e r r o s " de seus d i s c u r s o s , ao f a t o de " f a l a r mal", à sua ( i n > c o m p e t ê n c i a l i n g U i s t i c a . T r a t a - s e * sem d ú v i d a , de um dos mais u t i l i z a d o s procedimentos de d e s q u a l i f i c a ç ã o do d i s c u r s o do outro, o de d i z ê - l o " e r r a d o " , " i n c o r r e t o " . 0 emprego desse r e c u r s o esconde, em g e r a l , o c a r á t e r i d e o l ó g i c o de todo julgamento ou s a n ç ã o , o c a r á t e r i d e o l ó g i c o das n o ç õ e s de " e r r o " e " c o r r e ç ã o " . E n e c e s s á r i o d i s t i n g u i r , em p r i m e i r o l u g a r , n i v e i s de c o m p e t ê n c i a l i n g U i s t i c a . A t e o r i a s e m i ó t i c a d i s t i n g u e t e x t o de d i s c u r s o . 0 d i s c u r s o é um dos patamares da c o n s t r u ç ã o do s i g n i f i c a d o , o ú l t i m o , e r e s u l t a de um percurso de g e r a ç ã o do s e n t i d o que v a i do mais simples e a b s t r a t o , ao mais complexo e c o n c r e t o . Nele, p o r t a n t o , formas a b s t r a t a s s ã o i n v e s t i d a s de c o n t e ú d o s mais c o n c r e t o s pelo s u j e i t o da e n u n c i a ç ã o que determina, também nessa i n s t â n c i a , os pontos de v i s t a s e l e c i o n a d o s para p r o d u z i r o d i s c u r s o . 0 d i s c u r s o pertence ao plano do c o n t e ú d o . Já no t e x t o , casam-se e x p r e s s ã o e c o n t e ú d o , e a s e s t r u t u r a s t e x t u a i s devem s e r entendidas como a m a n i f e s t a ç ã o do d i s c r u s o por meio do plano da

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e x p r e s s ã o . 0 t e x t o s o f r e , dessa forma, as i n j u n ç õ e s do plano da e x p r e s s ã o .

Nos t e x t o s de L u l a ocorrem, sem d ú v i d a , problemas de c o n c o r d â n c i a , s ã o usadas

formas pouco c u l t a s , como o conhecido "menas", o l é x i c o e s c o l h i d o n ã o é o de p r e s t i g i o . Por outro lado, n ã o há i n c o m p e t ê n c i a na o r g a n i z a ç ã o de seu d i s c u r s o : a e s t r u t u r a ç ã o n a r r a t i v a é c o r r e t a , a a r g u m e n t a ç ã o p r e c i s a e e f i c a z , u t i l i z a m - s e r e c u r s o s v a r i a d o s de p r o j e ç ã o d i s c u r s i v a e c o b e r t u r a f i g u r a t i v a adequada e mesmo r i c a . No entanto, só foram e v i d e n c i a d o s os d e f e i t o s do t e x t o e n ã o a s qualidades do d i s c u r s o . Para a d e s q u a l i f i c a ç ã o , u t i l i z o u - s e o nível mais s u p e r f i c i a l da o r g a n i z a ç ã o l i n g ü í s t i c a , p o i s é o p r ó p r i o i n v e s t i m e n t o que e s t á p o l i t i c a m e n t e em jogo e n ã o o p e r c u r s o todo de p r o d u ç ã o de d i s c u r s o s . Nesse c a s o , a c o n c e p ç ã o de i d e o l o g i a como i n v e r s ã o do r e a l e ocultamento f a z - s e p r e s e n t e . A norma c u l t a , que f o i i n f r i n g i d a , n ã o aparece como o r e g i s t r o de uma c l a s s e s o c i a l , a dominante, mas como a norma de todos os b r a s i l e i r o s competentes, c u l t o s e de p r e s t i g i o . Confunde-se c o m p e t ê n c i a l i n g ü í s t i c a de um c e r t o n i v e l , com c o m p e t ê n c i a p o l i t i c a e a d m i n i s t r a t i v a .

Com i s s o , mesmo sabendo que f a l a r bem è u s a r a língua adequadamente em d i f e r e n t e s s i t u a ç õ e s e n ã o empregar, como J â n i o , um r e g i s t r o sempre tenso, mesmo em o c a s i õ e s i n f o r m a i s ou para um p ú b l i c o incapaz de e n t e n d ê - l o , deve-se reconhecer que, em c e r t o s e n t i d o , J â n i o Quadros f a l a v a bem, ainda quando usava pronmes em ecesso ou v o c a b u l á r i o inadequado, p o i s passava a imagem da c o m p e t ê n c i a .

A f a l a de L u l a f o i d e s q u a l i f i c a d a também por aqueles que u t i l i z a m o mesmo r e g i s t r o que e l e , o que se e x p l i c a pelo f e n ô m e n o de i n c o r p o r a ç ã o de fragmentos da

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i d e o l o g i a dominante. Se a c o n c e p ç ã o de i d e o l o g i a como v i s ã o de mundo r e l a t i v i z a a "verdade"* mostra que há v á r i o s s a b e r e s

l i g a d o s às d i f e r e n t e s c l a s s e s e reconhece c o n t r a d i ç õ e s em cada forma de ver o mundo» não se pode esquecer» porém» que a i d e o l o g i a dominante é tão abrangente que torna

f r a g m e n t á r i a s e muitas vezes c o n t r a d i t ó r i a s as demais o r g a n i z a ç õ e s do saber p o i s e l a s incorporam elementos da r e p r e s e n t a ç ã o dominante. Por i s s o e g r a ç a s sobretudo aos meios de c o m u n i c a ç ã o » a vantagem da c o m p r e e n s ã o e do entendimento e n t r e L u l a e os de mesmo r e g i s t r o l i n g u i s t i c o transformou-se no f a t o p r e j u d i c i a l de um d i s c u r s o "c.»rrado" e incompetente. Ao examinar r e d a ç õ e s de v e s t i b u l a n d o s ( 2 \ » constatou-se que n e l a s o c o r r e o inverso» pois» embora os v e s t i b u l a n d o s escrevam "corretamente" e dominem» quase todos» a norma culta» suas r e d a ç õ e s pecam nas r e l a ç õ e s de p r e s s u p o s i ç ã o n a r r a t i v a » nos r e c u r s o s argumentativos, na e s c o l h a dos modos de p a s s a r o d i s c u r s o ou na pobreza e i n a d e q u a ç ã o dos temas e f i g u r a s . Preocupam-se os jovens v e s t i b u l a n d o s em s e l e c i o n a r p a l a v r a s " d i f i c e i s " , mesmo que não tenham s e n t i d o no t e x t o , preferem a i n v e r s ã o e s t i l í s t i c a do s u j e i t o e do predicado, mais r e q u i n t a d a , nunca empregam os verbos e n t r a r ou t e r , optando pelo " p r e t i g i o " de a d e n t r a r , haver ou p o s s u i r . Pouco importa que a n a r r a t i v a s e j a frouxa ou o d i s c u r s o pobre. Num c e r t o momento, c r i t i c a m o s e s s e s usos e i n s i s t i m o s na necessidade de se conhecer uma g r a m á t i c a n a r r a t i v a e d i s c u r s i v a . Hoje, p o r é m , damos a mão à p a l m a t ó r i a . Chega-se assim à p r e s i d ê n c i a da R e p ú b l i c a , desde que se conte com os meios de c o m u n i c a ç ã o , com os a p a r e l h o s capazes de impor ou de d i f u n d i r t a i s v a l o r e s .

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menos i m p o r t â n c i a , por exemplo, o dequeismo, e r r o mais nobre, p o i s n e l e incorrem, em g e r a l , os f a l a n t e s da norma de p r e s t i g i o , com problemas de h i p e r c o r r e ç ã o . Em a r t i g o i n t i t u l a d o " E s t ã o rindo de q u ê " ? , na r e v i s t a Imprensa, de dezembro de 1990, p á g i n a 18, C a r l o s Brickman d i z que C o l l o r e Abreu S o d r é usam de que demais e lembra que "de S o d r é n i n g u é m f a l a v a e e l e chegou a c h a n c e l e r , onde podia f a l a r errado em v á r i a s l í n g u a s . Falam do L u l a . S ó que o p r e s i d e n t e Fernando C o l l o r também é chegado a um "E p r e c i s o que o p a í s compreenda de que...". E dele n i n g u é m f a l a . Por de q u ê ? "

Algumas das r a z õ e s foram acima apontadas.

2.3 D e s q u a l i f i c a ç ã o e i n t e r t e x t u a -1 idade

Para abordar o procedimento i n t e r t e x t u a l de d e s q u a l i f i c a ç ã o do d i s c u r s o e de seu s u j e i t o , e s c o l h e u - s e o e d i t o r i a l do

Jornal da Tarde, de 09 de f e v e r e i r o de 1991,

i n t i t u l a d o o samba do educador doido* 0 t e x t o

«0 sanha do educador doido. Uaa prova inequívoca de que as associações corporativas encasteladas no Estado brasileiro continuai aarchando na contraaão da Història acaba de ser dada pela Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior» que controla o di-a-dia de nossas universidades federais: na aesaa seaana ea que o Coaitê Central do Partido Coaunista da União Soviética esta aceitando o fia do aonopólio do seu poder e a adoção de u i sisteaa aultipartidário, sepultando concepções totalitárias e valores anacrônicos» essa entidade està distribuindo aos professores universitários do país ua jornal no qual defende exataaente aquilo que os soviéticos estão enterrando coa ua enorae atraso. Coa erros grosseiros de português e coa aentiras deslavadas,as três páginas do editorial do jornal da Andes aostraa a que ponto podea chegar o eabotaaento de espírito e a alienação provocados pela deforaacão ideològica. Hais uaa vez contrapondo o "proletariado" à "burguesia"» coao se fossea o santo guerreiro e o dragão da aaldade» a entidade se vale dos sovados jargões aarxistas para "interpretar" a vitória de Collor e a derrota de Lula nas eleições presidenciais» e para apresentar

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de r e f e r ê n c i a do e d i t o r i a l do Jornal da Tarde è um outro e d i t o r i a l » do J o r n a l da ANDES ( A s s o c i a ç ã o Nacional dos Docentes do Ensino S u p e r i o r ) » de j a n e i r o do mesmo ano. N ã o é a

i n t e n ç ã o deste t r a b a l h o defender o e d i t o r i a l da ANDES ou a p r ó p r i a A s s o c i a ç ã o . Optou-se pelo e d i t o r i a l do Jornal da Tarde por

as promessas modernizantes do presidente eleito como imposição da "hegemonia burguesa" sobre "os sonhos de mundanças favoráveis na situação vivenciada pela maioria oprimida da população".

Enquanto docentes e, portanto, agentes do processo educacional, a situação nos convida à reflexão: sem desprezar (e mesmo, ao contrário, valorizando) as enoremes dificuldades da luta ideològica que precisa ser travada na sociedade brasileira, não podemos deixar de assinalar o fato de que a ignorância de amplas massas, articulada ideologicamente pelos setores dominantes da nossa sociedade, forneceu o caldo de cultura que propiciou alguns dos milhões de votos oferecidos a Collor" - diz o e d i t o r i a l .

Considerando a inflação como fruto da ambição dos banqueiros, acusando a iniciativa privada de pagar salários "pela metade de seu valor real", afirmando que a imprensa tem apresentado de "forma distorcida" os acontecimentos do Leste europeu, explicando a escassez de álcool hidratado como resultante de uma "greve branca dos produtores", e dizendo que "a histeria anticomunista" de Collor e da burguesia destruiu "a perspectiva de vitória de um projeto de hegemonia para 05 trabalhadores", o editorial apresenta alguns "encaminhamentos" para "organizar a resistência".

Desses "encaminhamentos", três merecem atenção pela sua falta de sensatez e de respeito pela vontade da maioria absoluta dos eleitores brasileiros. 0 primeiro é a proposta de se "barrar politicas de corte de salários, demissões de funcionários públicos e privatização de estatais". 0 segundo è a sugestão de se "manter em estado de alerta com vistas às medidas de impacto que o novo governo promete divulgar". E o terceiro é a idéia de se "fortalecer a CUT, uma vez que a resistência a politicas gerais lesivas ao interesse dos assalariados demanda ações conjuntas". Ai está demonstrada a disposição desse grupo de tumultuar a qualquer preço a ordem institucional

'Luz do que acaba de ocorrer na União Soviética, esse samba do educador doido é mais uma prova da cegueira ideològica dos nosos docentes. Ho contexto da crise nacional é a demonstração de uma burrice que poderia ser cômica, caso não tivesse uma faceta trágica, na medida em que è essa gente que está (de)formando as novas gerações de estudantes universitários.

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o f e r e c e r e l e um bom exemplo de procedimentos d i s c u r s i v o s de d e s q u a l i f i c a ç ã o do d i s c u r s o de esquerda e dos d i s c u r s o s em g e r a l , por meio das r e l a ç õ e s i n t e r t e x t u a i s , e por se r e f e r i r a q u e s t õ e s diretamente r e l a c i o n a d a s com a Un i v e r s i d a d e .

Antes da a n á l i s e propriamente d i t a cabem algumas o b s e r v a ç õ e s mais g e r a i s sobre os e d i t o r i a i s e sobre as r e l a ç õ e s e n t r e d i s c u r s o e i d e o l o g i a . 0 reconhecimento da c o n d i ç ã o i d e o l ó g i c a do d i s c u r s o é um dos pontos de que p a r t e e s t e t r a b a l h o . 0 c a r á t e r i d e o l ó g i c o d d i s c u r s o n á o deve s e r c o n t r a p o s t o à n e u t r a l i d a d e da l í n g u a . A c r e d i t a - s e » com B a k t h i n ( l ) , que no sistema da língua se imprimem, h i s t o r i c a m e n t e , as marcas i d e o l ó g i c a s do d i s c u r s o . 0 signo t o r n a - s e dessa forma, segundo o mesmo autor, "a arena onde se desenvolve a l u t a de c l a s s e s " . Assim c a r a c t e r i z a d a , a língua n ã o é n e u t r a , mas complexa, p o i s tem o poder de i n s t a l a r uma d i a l é t i c a i n t e r n a , em que se atraem e, ao mesmo tempo, s e r e j e i t a m elementos j u l g a d o s i n c o n c i l i á v e i s . Dois t i p o s de d i s c u r s o s ã o , por conseguinte, p o s s í v e i s : os d i s c r u s o s a u t o r i t á r i o s , que ecolhem um dos p o l o s , umdos v a l o r e s e em que se abafam os p e r c u r s o s em c o n f l i t o e se prega uma verdade ú n i c a , a b s o l u t a e i n d i s c u t í v e l ; os d i s c u r s o s p o é t i c o s , que conseguem manter a p o l ê m i c a em seu i n t e r i o r , por meio de d i f e r e n t e s procedimentos n a r r a t i v o s e d i s c u r s i v o s , e que se c a r a c t e r i z a m , p o r t a n t o , como d i s c u r s o s da i n c l u s ã o e n ã o da e x c l u s ã o . Os e d i t o r i a i s em a n á l i s e pertencem ao p r i m e i r o grupo, ao dos d i s c u r s o s c r i s t a l i z a d o s e sem c o n t e s t a ç õ e s . Nesses d i s c u r s o s , a p o l ê m i c a só se i n s t a l a p e l a s r e l a ç õ e s i n t e r t e x t u a i s , p o i s n e l e s apenas o d i á l o g o e n t r e t e x t o s r e s t a b e l e c e , em p a r t e , o jogo das muitas vozes. 0 e d i t o r i a l do Jornal

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t r a b a l h o è uma o u t r a voz» que se a c r e s c e n t a à p o l i f o n i a i n t e r t e x t u a i . 0 e d i t o r i a l do Jornal da Tarde è do ponto de v i s t a da o r g a n i z a ç ã o n a r r a t i v a » uma a v a l i a ç ã o n e g a t i v a do d i s c u r s o de esquerda e de seus p r o d u t o r e s » os p r o f e s s o r e s u n i v e r s i t á r i o s . 0 e d i t o r i a l i s t a assume o papel do d e s t i n a d o r - j u l g a d o r a quem cabe desmacarar o s u j e i t o que n ã o cumpriu o c o n t r a t o assumido» qual s e j a o de educar» de "formar as novas g e r a ç õ e s de e s t u d a n t e s u n i v e r s i t á r i o s " . 0 s u j e i t o é julgado a p a r t i r de sua ação» no caso o seu d i s c u r s o » e d e s q u a l i f i c a d o » pois» segundo o e d i t o r i alista» n ã o tem e l e c o m p e t ê n c i a para formar os jovens» n ã o quer f a z ê - l o porque e s t á "embotado» alienada» cego e também d e f o r m a d o " » n ã o sabe f a z ê - l o porque è " i n s e n s a t o e b u r r o " . Desmascara-se o sujeito» que» em lugar de formar» deforma: e l e p a r e c i a h e r ó i , enquanto p r o f e s s o r u n i v e r s i t á r i o e» por p r i n c i p i o » detentor do saber, é j u l g a d o mentiroso ( p o i s apenas p a r e c i a t e r as q u a l i d a d e s do educador mas n ã o as p o s s u í a ) e, f i n a l m e n t e , reconhecido como v i l ã o .

0 desmascaramento, a passagem do h e r ó i a vilão» é a n o ç ã o de base do t e x t o em que o e d i t o r i a l i s t a nega os temas do d i s c u r s o de esquerda e o p r ó p r i o d i s c u r s o , revelando suas m e n t i r a s . Três grandes temas desenvolvol vem-se na n a r r a t i v a do desmascaramento: o do saber contraposto à i g n o r â n c i a , o do progresso e da modernidade em o p o s i ç ã o ao anacronismo e ao a t r a s o e o da e x i s t ê n c i a da esquerda e da d i r e i t a . Desmacasra-se a i g n o r â n c i a que se esconde sob a a p a r ê n c i a do s a b e r , r e v e l a - s e o anacronismo, o desgaste e o a t r a s o ocultados por um p a r e c e r p r o g r e s s i s t a , novo e moderno, a f i r m a - s e , enfim, a i g n o r â n c i a e o anacronismo do d i s c u r s o de esquerda.

A t e m a t i z a ç ã u do saber l i g a - s e ao

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-i n v e s t -i m e n t o do s u j e -i t o que e s t á sendo j u l g a d o , p r o f e s s o r e s do ensino s u p e r i o r , agentes do processo e d u c a c i o n a l , que cometem " e r r o s g r o s s e i r o s de p o r t u g u ê s " , dizem "mentiras d e s l a v a d a s " , s ã o " b u r r o s " , "doidos", "cegos", " i n s e n s a t o s " . Para chegar a e s s a a v a l i a ç ã o b a s t a , na o p i n i ã o do e d i t o r i a l em exame, l e r o j o r n a l da ANDES. 0 o b j e t i v o é , sem d ú v i d a , e n t r e o u t r o s , o de d e s a c r e d i t a r o p r o f e s s o r u n i v e r s i t á r i o , atingindo-o em sua q u a l i f i c a ç ã o fundamental, a do s a b e r . A p a r t i r d a i , as c r i t i c a s , o b s e r v a ç õ e s ou a ç õ e s d e s s e s p r o f e s s o r e s d e s q u a l i f i c a d o s perdem a l c a n c e , v a l o r ou c r e d ib i 1 idade.

0 segundo tema tem também seus t r a ç o s s e m â n t i c o s r a s t r e a d o s no d i s c u r s o em que se c o n t r a p õ e m as "promessas modernas do p r e s i d e n t e e l e i t o " aos "sovados j a r g õ e s m a r x i s t a s " . D e s e n v o l v e - s e p r i n c i p a l m e n t e de modo temporal: o anacronismo, oposto ao progresso e à modernidade, c a r a c t e r i z a - s e por "marchar na c o n t r a m ã o da H i s t ó r i a " . Duas c o n f i g u r a ç õ e s recobrem e s s e tema, uma r e l a c i o n a d a ao c o n t e ú d o v i d a e morte, outra l i g a d a à f i g u r a da d e t e r i o r a ç ã o pelo uso, ambas p r e s a s à n o ç ã o de tempo que p a s s a . Dessa forma, o anacronismo do d i s c u r s o de esquerda o c o r r e nas f i g u r a s de sepultamento, e n t e r r o , fim ("que os s o v i é t i c o s e s t ã o enterrando com um enorme a t r a s o " , "sepultando c o n c e p ç õ e s a u t o r i t á r i a s e v a l o r e s a n a c r ô n i c o s " , " f i m do m o n o p ó l i o do seu poder") ou como "sovado" e "desgastado". Caminha-se em d i r e ç ã o à morte.

0 r e c u r s o de d i z e r antiquado, u l t r a p a s s a d o , velho, sovado é a nosso v e r , o procedimento r e t ó r i c o por e x c e l ê n c i a u t i l i z a d o para a d e s q u a l i f i c a ç ã o e e x c l u s ã o do d i s c u r s o de esquerda e, por que n ã o , também de outros d i s c u r s o s , como os c i e n t í f i c o s .

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A f o r c a do r e c u r s o r e s i d e na c o m b i n a ç ã o da c a t e g o r i a s e m â n t i c a a r t i c u l a d a em velho v s novo ou antiquado v s moderno com a c a t e g o r i a v e r i d i c t ó r i a do desmascaramento. 0 d i s c u r s o de esquerda, que sempre aparentou s e r "moderno" i "novo", " p r o g r e s s i s t a " (da mesma forma que o p r o f e s s o r p a r e c i a s a b e r )

f r e n t e aos d i s c u r s o s " g a s t o s " da d i r e i t a , v ê -se desmascarado como " a t r a s a d o e u l t r a p a s s a d o " p e l o s f a t o s do L e s t e Europeu. 0 desmascaramento è a a f i r m a ç ã o de que a q u i l o que parece v e r d a d e i r o no fundo n ã o o é» mas se mostra f a l s o . 0 d i s c u r s o de esquerda é , dessa forma, tachado de mentiroso e r e v e l a d o como f a l s o .

Para obter t a l r e s u l t a d o * o e d i t o r i a l i s t a r e s s a l t a as r e i t e r a ç õ e s e a

f a l t a de novidade de um d i s c u r s o que repete a c u s a ç õ e s * c r i t i c a s e propostas de s o l u ç õ e s já ouvidas em todos os s e t o r e s da esquerda. E o uso l i n g ü í s t i c o que desgasta» p o i s os s a l á r i o s continuam baixos» a imprensa prossegue nas d i s t o r ç õ e s de n o t i c i a s » h á h i s t e r i a a n t i c o m u n i s t a » dizê-lo» porém» t o r n a - s e * com e s s a e s t r a t é g i a » lugar comum* anacronismo e» finalmente» m e n t i r a . Atingem-se os o b j e t i v o s .

0 procedimento r e t ó r i c o empregado b a s e i a - s e em argumentos conhecidos: o exemplo» a i l u s t r a ç ã o ou o anti-modelo. Todos e l e s pertencem ao t i p o de a r g u m e n t a ç ã o em que se fundamenta o r e a l pelo r e c u r s o ao caso p a r t i c u l a r ( 8 ) . No exemplo* r e c o r r e - s e ao caso p a r t i c u l a r para chegar—se a uma g e n e r a l i z a ç ã o » na ilustração» o caso p a r t i c u l a r vem confirmar ou apoiar uma r e g r a já e s t a b e l e c i d a . No e d i t o r i a l argumenta-se pelo exemplo: os acontecimentos do L e s t e E u r o p e u » "o que acaba de o c o r r e r na U n i ã o S o v i é t i c a " permitem c o n c l u i r que os p r i n c í p i o s da esquerda s ã o e r r o s g r o s s e i r o s e "anacronismos". C e r t o s t r e c h o s do e d i t o r i a l »

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-t a i s como "as A s s o c i a ç õ e s c o r p o r a -t i v a s continuam marchando na c o n t r a m ã o da H i s t ó r i a " , mostram, p o r é m , já p e l a p r e s s u p o s i ç ã o l i n g u i s t i c a , que as o c o r r e ê n c i a s do L e s t e Europeu vieram apenas c o n f i r m a r , i l u s t r a r , a q u i l o que o e d i t o r i a l i s t a já s a b i a e em que a c r e d i t a v a , ou s e j a , que o d i s c u r s o da esquerda está velho e cego. Cabe ainda observar que e s s e s r e c u r s o s de a r g u m e n t a ç ã o s ã o apresentados no e d i t o r i a l como provas ou d e m o n s t r a ç ã o . "Uma prova i n e q u í v o c a " c o m e ç a o e d i t o r i a l , que termina r e p e t i n d o " è mais uma prova da c e g u e i r a i d e o l ó g i c a de nossos docentes", "a d e m o n s t r a ç ã o de uma b u r r i c e " . O c u l t a - s e o c a r á t e r artgumentativo do t e x t o , em favor da d e m o n s t r a ç ã o , das provas l ó g i c a s , r a c i o n a i s . Provados, demonstrados o anacronismo e a b u r r i c e do d i s c u r s o , docentes do ensino s u p e r i o r e a esquerda do p a i s surgem como anti-modelos que n ã o devem s e r s e g u i d o s .

Os temas e f i g u r a s do d i s c u r s o de esquerda que se diseminam no j o r n a l da ANDES e que s ã o retomados pelo e d i t o r i a l do Jornal

tia Tarde e sofrem as a v a l i a ç õ e s acima

mencionadas s ã o , e n t r e o u t r o s , o da l u t a de c l a s s e s , e n t r e p r o l e t a r i a d o e b u r g u e s i a , o da e x p l o r a ç ã o do t r a b a l h a d o r , o da imprensa que s e r v e a c l a s s e dominante, e o da r e s p o n s a b i l i d a d e e c u l p a da c l a s s e dominante na c r i s e n a c i o n a l . Como se v i u , g r a ç a s às e s t r a t é g i a s u t i l i z a d a s são e s s e s assuntos vencidos ou mentiras que n ã o devem s e r c o n s i d e r a d a s .

Como as e s t r a t é g i a s de d e s q u a l i f i c a ç ã o de d i s c u r s o apontadas, p r i n c i p a l m e n t e a s de d i z ê - l o a n a c r ô n i c o , f a l s o e i g n o r a n t e , e com o ocultamento dos r e c u r s o s de a r g u m e n t a ç ã o , o e d i t o r i a l do

Jornal da Tarde p ô d e , f i n a l m e n t e , negar a

e x i s t ê n c i a da esquerda e da d i r e i t a , ou melhor, do d i s c u r s o da esquerda e da d i r e i t a ,

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que só continuam a e x i s t i r na boca dos s a u d o s i s t a s . Deu-se o ú l t i m o passo: o d i s c u r s o , d e s q u a l i f i c a d o por e s t a r u l t r a p a s s a d o e s e r mentiroso, tem sua p r ó p r i a e x i s t ê n c i a negada. Dessa forma, o e d i t o r i a l do Jornal da Tarde a p r e s e n t a - s e como um d i s c u r s o neutro, nem da esquerda nem da d i r e i t a , mas d i s c u r s o sem i d e o l o g i a , como se i s s o f o s s e p o s s í v e l , d i s c r u s o da o p i n i ã o p ú b l i c a do p a i s , com c o n d i ç õ e s , portanto, de d e s q u a l i f i c a r o outro d i s c u r s o . A d e s q u a l i f i c a ç ã o tem, assim, mais força, p o i s

f o i operada por um d i s c u r s o que se afirma neutro e da verdade ú n i c a .

Reuniram-se neste t r a b a l h o alguns procedimentos de d e s q u a l i f i c a ç ã o de d i s c u r s o s e de s u j e i t o s , examinados na p e r s p e c t i v a p r i n c i p a l m e n t e da a n á l i s e de t e x t o s e de d i s c u r s o s .

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Referências

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