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INFLUENCIA DIGITAL SOBRE OS MEDICAMENTOS: COMO ELES APARECEM NA REDE SOCIAL?

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Academic year: 2020

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International Scientific Journal – ISSN: 1679-9844 Nº 2, volume 14, article nº 7, April/June 2019 D.O.I: http://dx.doi.org/10.6020/1679-9844/v14n2a7

Accepted: 26/08/2018 Published: 20/12/2018

DIGITAL INFLUENCE ON DRUGS: HOW DO THEY APPEAR ON

THE SOCIAL NETWORK?

INFLUENCIA DIGITAL SOBRE OS MEDICAMENTOS: COMO ELES

APARECEM NA REDE SOCIAL?

Carolina Crespo Isto

Doutoranda em Ciências Aplicadas a Produtos para a Saúde pela Universidade Federal Fluminense

Thaisa Amorim Nogueira

Doutorado em Ciências Aplicadas a Produtos para a Saúde pela Universidade Federal Fluminense

Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Selma Rodrigues de Castilho

Doutorado em Engenharia Biomédica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Professora da Universidade Federal Fluminense

Sabrina Calil Elias

Doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Professora da Universidade Federal Fluminense

Resumo

A amplificação no acesso da internet em todo o mundo possibilita o aumento do número de usuários e contribui para a popularização das redes sociais digitais, em especial o Instagram. Esse aplicativo vem sendo amplamente utilizado como ferramenta de marketing, estimulando o consumo de produtos e serviços. Tal fenômeno pode levar ao aumento na prática da automedicação. O objetivo deste trabalho é avaliar o uso das hashtags de medicamentos de venda livre no Instagram, tanto no seu nome comercial quanto no genérico. Para isso, foi realizado um estudo exploratório e de observação de levantamento da frequência em que as hashtags com nomes de medicamentos de venda livre aparecem no Instagram. Os medicamentos foram selecionados a partir da instrução normativa número 11 de 2016 da ANVISA, que tipifica quais são os grupos terapêuticos dos medicamentos isentos de prescrição. Para essa pesquisa foram selecionados os medicamentos de uso por via oral e de cada grupo terapêutico foi selecionado, por conveniência, um representante. As

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(440.378), #claritin (216.423) e #advil (164.021). 57% de todas as publicações avaliadas eram de perfis de usuários comum da rede social, sendo este o que mais publica hashtags relacionadas a medicamentos. A hashtag que apresentou maior número de publicações, foi a #advil com mais de 60 mil fotos. Enquanto a hashtag com menor frequência teve apenas 5 publicações, a #fenazopiridina. O estudo conclui que o Instagram é um meio onde há a divulgação de medicamentos de venda livre, sendo necessário um outro estudo para avaliar o conteúdo das postagens.

Palavras chave: automedicação, medicamentos de venda livre, ciberespaço. Absctract

The increasing of Internet access around the world enables the raise in users numbers and contributes to the popularization of digital social networks, especially Instagram. This app have been used as a marketing tool, stimulating the consumption of products and services. This may influence the practice of self-medication. The aim of this paper is to evaluate the use of over-the-counter medications hashtags on Instagram, both in their trade name and generic. For this, an exploratory study was conducted and observation the frequency of hashtags with names of free drugs on Instagram. These drugs were selected based on ANVISA's normative instruction number 11 of 2016, which typifies the therapeutic groups of nonprescription drugs. For this research, medications for oral use were selected and from each therapeutic group, a representative was selected for convenience. The analyzed publications with the highest likes numbers were #dorflex (440,378), #claritin (216,423) and #advil (164,021). 57% of all publications reviewed were from common user profiles of the social network, which is the one that most drug-related hashtags publish. The hashtag that featured the most publications was #advil with over 60,000 photos. While the less frequent hashtag featured only 5 publications, #fenazopyridine. The study concluded that Instagram is a medium for the promotion of over-the-counter drugs, and another study is needed to evaluate the content of the posts.

Keywords: Nonprescription Drugs, Cyberspace, self medication

Introdução

A utilização da internet como ferramenta, forma de comunicação e organização teve seu uso popularizado nos últimos anos do segundo milenio, a nível mundial (CASTELLS, 2003). No Brasil, pode-se observar esse aumento do uso da internet no início deste século, que em 2009 havia 46.804 pessoas com acesso ao ciberespaço, esse número aumentou para mais de 54 mil individuos no ano seguinte (IBOPE, 2010).

Dados do IBGE (2019) apontam que 64,7 % da população tinha acesso à internet em 2016 e no ano seguinte passou para 97% da população brasileira, sendo o aparelho celular o principal meio de acesso a internet.

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No passado, os diários eram mantidos sob sigilo e as redes sociais fazem justamente o oposto, promovem a exposição, por hora exagerada, do cotidiano das pessoas que ali possuem um perfil. Essa autoexibição dos indivíduos nas mídias sociais faz referencia a esse hábito obsoleto de manter diários, porém com a diferença significativa da apresentação (SIBILIA, 2008).

A busca notória por reconhecimento, popularidade e exposição destacam-se como valores expressivos nas redes sociais, e é vista como mensurador de audiência (RECUERO, 2009). A popularidade está ligada diretamente ao número de seguidores. Ao possibilitarem trocas de informações, as mídias sociais são descritas como ferramentas online que proporcionam um mural de lembranças e afetos, além de oferecer entretenimento e criatividade (RECUERO, 2009).

Segundo Torres (2009), o intuito primordial das redes sociais digitais é sociabilizar, independente de tempo e espaço. No entanto, a transformação destas redes em ambiente comercial, gerou o poder de formar opiniões a diversos produtos. Sendo assim, as redes sociais digitais juntam dois princípios atrativos para o marketing: relacionamento e visibilidade. Os relacionamentos gerados dentro de um grupo possui a dinâmica capaz de influenciar as pessoas baseadas nos seus laços, garantindo assim, a capacidade de causar aumento da visibilidade de um produto (TORRES, 2009).

Estudos mostram que as redes sociais digitais possuem grande impacto no comportamento dos indivíduos, principalmente nos que possuem hábitos semelhantes. Ademais estes indivíduos também podem se associar através da navegação online, conforme seu comportamento, interesse e crenças. (VICENTE et. al., 2018; FOCOSI & SOUZA, 2016; MEDINA et. al., 2013; COELHO et. al., 2013, AQUINO et. al., 2019).

Dentre as redes sociais digitais, estaca-se o Instagram, um aplicativo disponibilizado de forma gratuita, que possibilita publicar fotografias, imagens e pequenos vídeos, personalizados com filtros e ferramentas de criação. O conteúdo pode ser compartilhado tanto no Instagram quanto no Facebook (outra rede social do mesmo grupo de investidores), instantaneamente. Além disso, pode-se enviar a foto diretamente para um usuário como mensagem privada. Seu objetivo é o compartilhamento de fotos e vídeos. Porém, a plataforma também se tornou um meio comercial, onde diversas micro e macro empresas possuem perfis com o

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objetivo de divulgar o seu produto ou serviço de forma mais interativa e informal (DEMÉZIO et. al., 2016).

No ano de 2018 o Instagram contava com 300 milhões de usuários, mais de 1 bilhão de atividades mensais e mais de 500 mil atividades diárias, segundo dados disponíveis no site do próprio aplicativo (www.istagram.com). Estes dados demonstram o avanço da penetrabilidade desta mídia social na sociedade.

Nesse aplicativo, a popularidade do usuário está diretamente relacionada ao número de seguidores e a interação destes com o proprietário do perfil. As informações e conteúdos postados ficam disponíveis conforme desejo do proprietário do perfil, de modo público, para visualização de todos na rede, ou privado. Para identificação das publicações, palavras relacionadas ao conteúdo da postagem podem ser utilizadas como marcadores para localização da informação. Esta marcação se codifica pelo uso do símbolo “#” nomeado como hashtag (SIBILIA, 2015).

Com o aumento do acesso a internet pela população, bem como a liberdade dos individuos colocarem o que desejam no ciberespaço, este se tornou uma forma prática, fácil e rápida de se fazer consultas sobre qualquer assunto que se deseja, como por exemplo a questão de cuidados com a saúde. Neste sentido, as redes sociais digitais, incluindo o Instragram, tornaram-se uma ferramenta de apoio, coleta e compartilhamento de informações sobre cuidados em saúde. Tal situação pode causar o empoderamento do individuo, que passa a uma posição de controle sobre os cuidados necessários à sua saúde. (DENECKE et. al., 2015). Este empoderamento é de suma importância, sabe-se que isto está intimamente relacionado a melhora do quadro geral do paciente (AQUINO et. al., 2019). Porém ressalta-se que esta autonomia deve ser realizada com informações corretas e pertinentes para cada situação. A qualidade das informações disponibilizadas no ciberespaço não é avaliada, e muitas vezes estas são falsas e enganosas (MORETTI et. al., 2012). No contexto da saúde esses dados de baixa qualidade podem ter inúmeras consequências aos pacientes, afetando ainda confiança da relação médico-paciente e, consequentemente, o tratamento desde indivíduo (MARTINO et. al., 2017).

Observando então a relação de exposição de indivíduos, suas condições de saúde e o modo como se expõem na rede social Instagram, este trabalho tem por

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objetivo quantificar o que está sendo publicado por meio das buscas de hashtags relacionadas aos medicamentos de venda livre.

Metodologia

Trata-se de um estudo exploratório e observacional de levantamento da frequência com que os medicamentos isentos de prescrição aparecem na rede social Instagram. A coleta dos dados na rede social foi realizada no dia 22 de março de 2019. A seleção dos medicamentos para serem analisados neste trabalho se deu a partir da instrução normativa número 11 de 2016 da ANVISA, que tipificam quais são os grupos terapêuticos dos medicamentos isentos de prescrição. A lista apresentada neste documento é divida em grupo terapêutico, indicações terapêuticas e observações pertinentes a cada grupo. Para essa pesquisa foram selecionados os medicamentos de uso por via oral e de cada grupo terapêutico foi selecionado, por conveniência, um representante. A busca foi realizada pelos nomes comerciais de referência e pelo nome genérico.

Inicialmente contabilizou-se o número total de publicações para cada hashtag no dia da coleta de dados. Em seguida, para cada hashtag foi avaliada as 50 publicações mais relevantes segundo a organização da rede social estudada. De cada publicação os seguintes critérios foram avaliados: se o autor da publicação é personalidade famosa (artista, cantor, digital influencer, dentre outros) ou usuário comum ou profissional de saúde; propaganda realizada por uma drogaria; conteúdo relacionado diretamente a propaganda do medicamento (personificação do medicamento, isto é, se o “medicamento” possui um perfil próprio); postagens não relacionadas diretamente ao uso do medicamento, mas que possuíam a hashtag utilizada na busca. O alcance das publicações foi avaliado pelo número de “curtidas”, para isso verificou-se dentro das hashtags avaliadas a publicação que continha maior e o menor número de “curtidas”.

A data da publicação mais antiga foi buscada também, porém, das hashtags com mais de duas mil publicações, não foi possível chegar a publicação mais antiga.

Das publicações avaliadas, as 5 mais curtidas tiveram seus nomes buscadas também no Google Trends, que segundo o próprio Google (2019), é uma ferramenta que mostra a frequência que uma palavra é procurada em várias regiões do mundo

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e em vários idiomas. O período selecionado das buscas foi do dia 22 de março de 2018 até o dia 22 de março de 2019, mesmo dia da pesquisa das hashtags no Instagram.

Resultados e discussão

Após a avaliação pontual de cada medicamento eleito, com seu nome genérico e o nome comercial de escolha, obteve-se o número total de publicações relacionadas a cada hashtag (tabela 1). A #paracetamol não foi encontrada, pois, segundo informações do próprio aplicativo, a “comunidade denunciou o conteúdo, pois ele poderia não cumprir as diretrizes do Instagram para a comunidade”. A #paracetamolparatodos foi usada em seu lugar por haver publicações para a mesma. Como representante do ibuprofeno, foi usado #advil e #alivium, pois o último possui formulação específica para uso infantil.

Nota-se nesta primeira avaliação que #advil apresenta mais de 60 mil publicações. Enquanto a hashtag com menor frequência teve 5 publicações, #fenazopiridina.

Tabela 1: Frequência das hashtags no Instagram relacionadas a medicamentos de venda livre no Brasil, março de 2019.

Hashtags buscadas Total de Publicações encontradas

#dorflex 8.554 #orfenadrina 11 #lactopurga 244 #dulcolax 1.544 #bisacodil 0 #fluimicil 48 #acetilcisteína 379 #eparema 423 #tylenol 39.699 #paracetamolparatodos 817 #neosaldina 1.560 #dipirona 3.760 #niquitin 900

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#nicotina 13.555 #luftal 665 #simeticona 427 #alivium 424 #ibuprofeno 11.643 #advil 61.935 #pyridium 37 #fenazopiridina 5 #claritin 10.563 #loratadina 2.548 #buscopan 2.675 #escopolamina 447 #antidiarreico 181 #floratil 1.522 #saldefrutas 888 #saldefrutaeno 113 Total 165.567

Medicamentos de venda livre de acordo com a instrução normativa número 11 de 2016 da ANVISA em 2019.

A análise das primeiras 50 publicações para cada hashtag pesquisada foi separada entre as categorias previamente determinadas (Gráfico 1). Quatro hashtags não alcançaram o número de 50 publicações, #orfenadrina (11), #fluimicil (48), #pyridium (37) e #fenazopiridina (5), para essas, todas as publicações disponíveis foram avaliadas.

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Gráfico 1: Distribuição entre as categorias avaliadas das 50 primeiras hashtag de cada medicamento, março de 2019.

A hashtags permite ao usuário pesquisar e encontrar posts sobre um determinado assunto. Elas são palavras ou expressões precedidas do símbolo “#” (cerquilha). São usadas para centralizar um tema ou assunto, porém não há uma padronização para sua utilização. O seu uso permite que um assunto seja filtrado e indexado, tornando possível, a criação de um ranking de assuntos mais comentados. Foi essa indexação que possibilitou a formação de grupos através do compartilhamento de ideias, e as hashtags são usadas não apenas para definir e delimitar o conteúdo das informações, mas também para exteriorizar ideais,

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sentimentos, preferências, indignações e posicionamentos variados dos indivíduos que compõem o ciberespaço. (MOURA & MANDAJI, 2014).

O uso das hashtags ganharam sentido, força e funcionalidade. Extrapolaram o uso somente no ambiente virtual e estão presentes em vários campos da comunicação, inclusive off-line, onde são usadas no jornalismo e publicidade. (REZENDE & NICOLAU, 2014).

A aceitação da publicação pode ser medida pelo número de curtidas que esta obtém. A curtida, é o código utilizado na rede social para aprovar uma publicação, no Instagram é simbolizada pelo “coração vermelho” e a análise das curtidas poderá revelar a identidade dos perfis que aprovaram aquele conteúdo. Na tabela 2 pode se estratificar dentre as 50 publicações avaliadas para cada hashtag o número de curtidas da publicação mais curtida e da publicação menos curtida. Observa-se que as publicações com a #dorflex (440.378) foram as mais curtidas, seguido por #claritin (216.423), #advil (164.021), #dulcolax (113.289) e #tylenol (91.654). Ressalta-se que as mais curtidas se apresentaram pelo nome de referência (comercial) dos medicamentos. Apesar de serem medicamentos isentos de prescrição, de acordo com a legislação brasileira, deve-se ter orientação para sejam utilizados da forma correta, para que diminua a probabilidade da ocorrência de eventos adversos. Acredita-se que quanto maior o número de curtidas maior o número de indivíduos que se identificam com aquela postagem. Ao se observar mais de 440 mil curtidas para a #dorflex, deve-se ter a preocupação se parte destes indivíduos podem iniciar o uso de dorflex sem orientação de um profissional de saúde, médico, farmacêutico ou dentista, simplesmente por ter lido a publicação no Instagram, sem saber ao certo se a informação prestada estava correta.

Essas 5 hashtags mais curtidas foram analisadas também no Google Trands. Lá se observou que o país onde houve mais buscas pelo Dorflex foi o Brasil, tendo o pico de busca no período de 12-18/06/2018. O Claritin foi mais buscado nos Estados Unidos da América, com o pico no período de 06-12/05/2018. O Advil e Tylenol foram mais buscados no Canadá, com os picos em 30/12/18-05/01/2019 e 23-20/12/2018, respectivamente. O Dulcolax foi mais buscado na Indonésia, sendo o período de 15-21/07/2018 o auge das buscas.

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Tabela 2: Estratificação para hashtags avaliadas dos medicamentos de venda livre de prescrição com determinação do número máximo e mínimo para publicações relacionadas ao conteúdo em 2019.

Hashtags buscadas Publicação mais curtida Publicação menos curtida

#dorflex 440.378 68 #orfenadrina 39 1 #lactopurga 1.348 1 #dulcolax 113.289 0 #fluimicil 321 0 #acetilcisteína 533 0 #eparema 455 0 #tylenol 91.654 102 #paracetamolparatodos 3.843 1 #neosaldina 1.980 3 #dipirona 10.797 6 #niquitin 354 1 #nicotina 65.684 102 #luftal 2.775 2 #simeticona 906 0 #alivium 745 2 #ibuprofeno 11.930 21 #advil 164.021 110 #pyridium 156 3 #fenazopiridina 15 0 #claritin 216.423 100 #loratadina 5.315 1 #buscopan 31.084 1 #escopolamina 8.628 0 #antidiarreico 42 0 #floratil 852 2 #saldefrutas 2.249 1 #saldefrutaeno 2.852 1 (Fonte: a autora)

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A interação de uma publicação é verificada através do número de curtidas ou de visualizações e comentários, números que ficam expostos na própria postagem (VICENTE et. al., 2018). Observa-se que a interatividade entre usuários se dá por meio de comentários, “curtidas” e marcações. Socializar as informações que atendem aos interesses dos usuários por intermédio desses mecanismos aperfeiçoa os benefícios das redes sociais, podendo ter reflexos na qualidade do relacionamento entre consumidor e marca (SOUSA et. al.2015). No contexto da internet, o “boca a boca” encontra um espaço mais propício e uma forma diferente. O nível de esforço empreendido no tempo de socializar a informação pode se relacionar ao nível de intimidade entre consumidor e marca/produto (SOUSA et. al.2015).

Como resultado geral, foram analisadas 1301 publicações. Somando as mesmas categorias de todas as hashtags buscadas, obteve-se a frequência de acordo com a tabela abaixo.

Tabela 3: Frequência dos critérios avaliados das publicações de cada hashtag avaliada, março de 2019, Brasil.

Categorias Quantitativo geral n (%)

Personalidade Famosa 15 (1,2%) Propaganda de drogaria 189 (14,6%) Propaganda do medicamento 87 (6,7%)

Usuário comum 742 (57%)

Não relacionado ao uso do medicamento

96 (7,4%)

Perfil ou blog de profissional de saúde 172 (13,2%) Total de publicações avaliadas 1.301 (100%)

(Fonte: a autora)

Do total das postagens analisadas, 57% eram de usuários comuns, que fizeram as postagens de forma espontânea, sem cunho comercial evidente.

Azevedo (1997) cita Bandura (1987) que, por meio da teoria da observação do comportamento, descreve que os novos modelos de comportamento sofrem influência da observação, uma vez que o sujeito cria seus comportamentos em função da observação desses modelos. Estes são aprendidos pelo processo de

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modelação e podem enfraquecer ou fortalecer os comportamentos aprendidos anteriormente. Em 1986, Bandura mostrou que o primeiro caminho para se obter um novo comportamento é processo de atenção e se refere a maneira como as pessoas interagem com o comportamentos de terceiros. As pessoas prestam atenção em comportamentos que apresentam valor funcional para elas, e a família, o grupo de amigos e outros que desempenham papel social se tornam importantes. Deste modo, a tendência a imitar esse modelo depende do observador, das motivações próprias, da atenção e característica pessoal e também da influência do modelo observado, uma vez que há a tendência de imitar as pessoas das quais ele considera como sendo de um prestígio ou status elevado. Uma pessoa pode incorporar um comportamento novo a partir da observação de um modelo. (JOWET & O’DONNELL, 2006). A partir disso, pode-se afirmar que os perfis de usuários comuns, mesmo não sendo conhecidos do grande público, podem influenciar as pessoas que o seguem quanto ao uso ou não dos medicamentos postados.

Segundo Souza et. al. (2008), por meio da internet e com a interação entre os usuários das redes sociais, a valorização do uso de um dado medicamento pode se tornar um veículo de identidade com um determinado grupo. Isso leva a formação de hábitos de consumo. Estes, diretamente influenciado pelas mídias digitais, onde há a interação entre os consumidores e para o pertencimento a uma comunidade ou grupo, o critério é o uso de algo em comum, neste caso, um medicamento. Os autores destacam ainda que há uma naturalidade da parte dos usuários em falar sobre o uso de um medicamento. Isso sugere uma necessidade de promoção de campanhas de conscientização sobre os riscos e perigos da automedicação, sobre a promoção do uso do medicamento, principalmente no ambiente virtual, a internet.

A categoria personalidade famosa só esteve presente para três hashtags (#dorflex, #claritin e #saldefrutaeno). Com relação à categoria intitulada como publicação de usuários comuns, a #antidiarreico teve apenas 6% enquanto que #lactopurga foi a de maior frequência, 88%. Nenhuma postagem de #dulcolax, #eparema, #paracetamolparatodos, #simeticona, #ibuprofeno, #fenazopiridina, #floratil e #saldefrutaeno se enquadrou na categoria “não relacionado ao uso do medicamento”, o que mostra que todas as postagens tinham alguma relação ao uso do medicamento.

No que diz respeito a propagandas de drogarias, elas representaram 14,6% das amostras analisadas e 6,7% eram da propaganda direta do medicamento, ou

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seja, do detentor da marca e não indicavam um local específico para a compras desses produtos, visavam somente a divulgação do medicamento. Gomes (1994) define publicidade como sendo um conjunto dos meios com o propósito de levar a informação ao público e convencê-lo a obter um serviço ou bem. A comunicação é usada como fonte de informação ao consumidor, isto é, dar conhecimento ao produto. Entretanto, para que esta informação traga ao público a vontade de consumir o produto, esta não deve se ater somente a informar as características do produto, mas que também induza ao consumidor a fidelizar-se em relação à marca ou ao estabelecimento (VIEIRA, 2011). Kossoy (2007) afirma que o papel exercido culturalmente pelas imagens é decisivo, da mesma forma que as palavras. Sendo assim, a fotografia nas propagandas visa aumentar o consumo do produto pelos consumidores. Desta forma o Instagram se enquadra nesta situação, pois o objetivo da rede é publicar imagens com textos curtos.

Segundo Santos (2016), existe a necessidade das empresas se orientarem para o mercado e isso é amplamente reconhecido entre os profissionais que trabalham com marketing. A autora cita ainda Peter Drucker (1986), que alega que um dos objetivos do marketing é conhecer o consumidor, para identificar quais as particularidades que os produtos ou serviços prestados precisam ter para se venderem a si próprios. O objetivo é saber as necessidades e desejos dos consumidores para fazer com que estes cheguem até os produtos que a marca ou loja oferece, evitando o marketing intrusivo, cada vez menos do agrado dos consumidores. Ainda segundo o autor citado anteriormente, ao possuírem um perfil no Instagram, as drogarias podem esclarecer dúvidas e apresentar produtos aos consumidores onde eles estiverem cultivando assim certa fidelização destes (SANTOS, 2016).

Observa-se que as postagens feitas por perfis de profissionais de saúde, totalizaram 13,2%. Há a necessidade de esclarecer dúvidas e informações gerais sobre os medicamentos buscados. Todos os medicamentos em questão são de venda livre, ou seja, podem ser adquiridos sem a necessidade de uma prescrição médica ou odontológica. Segundo Abdalla e Castilho (2017), as ações de educação voltadas para o consumidor são necessárias, pois eles devem ser informados corretamente sobre os riscos potenciais da automedicação. Souza et. al. (2008) defende que a internet pode ser um meio positivo em relação às informações de

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estigmatizadas, onde a busca por informações poderia levar o portador a um possível constrangimento. Entre essas condições de saúde, pode-se citar as doenças sexualmente transmissíveis. Particularmente para esses, a divulgação de informações confiáveis pelos profissionais de saúde traria um benefício para o tratamento desses pacientes. Porém ao se prestar as informações em saúde deve-se ter muito cuidado ao fazer referência sobre as terapias de tratamento. No caso dos medicamentos deve-se ter maior atenção, pois o usos irracional destes pode trazer consequências severas para o indivíduo, como mascarar o sintoma de alguma doença, aumentar a incidência de eventos adversos, aumentar o número de internações devido a complicações causas pelo medicamento podendo chegar ao comprometimento da vida dependendo do medicamento utilizado.

De acordo com informações obtidas no próprio aplicativo (2019), pessoas com perfis privados que marcam hashtags em suas fotos, não aparecem nas buscas. Somente aparecem quando o perfil do usuário é público, logo, as hashtags contabilizadas neste estudo só contam com perfis públicos.

Conforme a política de dados do Instagram (2019), em texto disponível no próprio aplicativo, ele coleta informações sobre as páginas, contas, hashtags, tipos de informações que são visualizadas e grupos com os quais a usuário se conecta. O sistema processa essas informações com a finalidade de personalizar melhor o conteúdo disponível para o usuário. Vale ressaltar que essas informações abrangem tanto o Facebook quanto o Instagram, uma vez que são produtos da mesma empresa. As interações feitas pelos usuários vão direcionar o conteúdo de propaganda e paginas que aparecem no feed dessas duas redes sociais. Sendo assim, quando o usuário posta hashtags com medicamentos no seu perfil, publicações que envolvem a mesma hashtag ou similares passam a aparecer no feed desse usuário, mesmo se ele não postar mais nada sobre esse conteúdo.

Em um estudo realizado por SOUSA e colaboradores (2015), foram entrevistadas usuárias com perfis no Instagram. Como resultado, os participantes alegaram estar cientes que estão expostos constantemente a propagandas nas redes sociais, mas de certo modo, elas podem escolher essas propagandas ao escolherem os perfis que vão seguir. Porém, como a política de posts patrocinados existente no aplicativo, algumas propagandas aparecem no feed do usuário mesmo que ele não siga o perfil. Essas propagandas são selecionadas e se relacionam ao conteúdo que o usuário busca, ao tipo de perfil que ele visita e segue (INSTAGRAM,

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2019). Ainda de acordo com o estudo supracitado, os participantes destacaram como relevante as conexões existentes nas redes sociais. Isto possibilita ao usuário visualizar um produto em uma dada publicação, buscar instantaneamente mais informações sobre aquele produto, acessar a loja virtual e, até, comprar. Como a internet funciona como rede, ela permite que haja conexões entre diferentes pontos, como sites de venda, redes sociais e sites da marca. Destaca-se assim que a distância geográfica entre o usuário e o ponto de venda é, praticamente, eliminada (SOUSA et al, 2015).

As datas das primeiras publicações também foram analisadas. A mais antiga que pode ser coletada foi postada em 30 de outubro de 2011. O Instagram teve seu início em 2010, foi comprado pela Facebook em 2012, quando se popularizou, segundo a página oficial do aplicativo. Sendo assim, podemos observar que antes mesmo da popularização do aplicativo, já havia foto com hashtag sobre medicamentos postados.

Foram buscadas hashtags com o nome genérico e o nome fantasia do medicamento. Somando-se todos os resultados, obteve-se 165.567 publicações. Destas, 130.906 continham o nome de marca do medicamento, enquanto apenas 34.661 publicações faziam alusão ao nome do princípio ativo, ou seja, o nome genérico. A lei 9.787 de 1999 define o que são esses nomes. Um medicamento genérico é aquele que não apresenta nome fantasia, sendo designado apenas pelo(s) princípio(s) ativos(s), enquanto que os medicamentos de referência são os inovadores, apresentam nome fantasia ou “de marca”. Eles são intercambiáveis entre si e devem apresentar a mesma formulação, mesma forma farmacêutica e mesma dose. Como não apresentam nome fantasia, as propagandas dos medicamentos genéricos não são feitas pelo medicamento em si e sim por meio da promoção do laboratório que o fabrica. Isso justifica o fato de um volume maior quando o nome do medicamento de referência é buscado.

Conclusão

As redes sociais digitais, especialmente o Instagram, são uma nova ferramenta de marketing e um novo jeito de influenciar as pessoas. O habito de indicar um

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medicamento sempre foi conhecido e costumeiro para a população. Com a popularização e facilidade de acesso da internet e das redes sociais digitais, esse hábito se tornou potencialmente mais nocivo, uma vez que o número de pessoas alcançadas por uma postagem é maior do que somente as pessoas que convivem com o usuário no dia a dia. Como as indicações muitas vezes não apresentam cunho comercial, são simplesmente posts feitos por um usuário comum, há a necessidade de que os profissionais de saúde intensifiquem os meios de prestar as informações corretas sobre o uso de medicamentos, mesmos os que são isentos de prescrição. A instrução da população é o único caminho para melhorar o uso racional dos medicamentos.

Referências

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________Código de defesa do consumidor. Lei 8078 de 11 de junho de 1990.

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Gráfico 1: Distribuição entre as categorias avaliadas das 50 primeiras hashtag de cada  medicamento, março de 2019
Tabela 2: Estratificação para hashtags avaliadas dos medicamentos de venda  livre de prescrição com determinação do número máximo e mínimo para publicações  relacionadas ao conteúdo em 2019
Tabela  3:  Frequência  dos  critérios  avaliados  das  publicações  de  cada  hashtag  avaliada, março de 2019, Brasil

Referências

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