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Notas Sobre Política Externa e Diplomacia de Moçambique: Princípios, Objectivos e Mecanismos de Implementação

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Notas Sobre Política Externa e Diplomacia

de Moçambique: Princípios, Objectivos e Mecanismos de

Implementação

Emílio J. Zeca Mestre em Resolução de Conflitos e Mediação Investigador de Paz, Conflito e Segurança Email: emiliojovando@gmail.com

A génese da diplomacia e política externa moçambicana encontra-se nas acções realizadas pela Frente de Libertação de Moçambique – FRELIMO, quando estabeleceu várias parcerias de cooperação com diferentes Estados e organizações, com o intuito de obter apoios para a luta armada de libertação nacional. Ainda antes da proclamação da independência nacional, a Frente de Libertação de Moçambique tinha tratamento igual ao de embaixadas nalguns Estados com quem cooperava, por exemplo na Argélia e Tanzânia. Depois da independência nacional, os princípios da política externa e diplomacia de Moçambique foram formulados com base na análise feita das relações de poder e as contradições que ocorreram como o sistema colonial, regi-me do Apartheid e as novas situações do período pós Guerra Fria e globalização.

A

Política Externa e Diploma-cia de Moçambique estive-ram sempre assente no prin-cípio de “fazer mais amigos, evitar inimigos e promover parcerias”. A prossecução da política externa e diplomacia da Frente de Libertação de Moçambique teve como objecti-vos principais a angariação de apoios à causa da luta de libertação nacional, iniciada em 1964, por um lado, e a denúncia e o isolamento do sistema colonia português, através de vários fora internacionais, como foram os casos das Nações Unidas e Organização da Unidade Africa. Como resultado, houve a assistência de Estados africanos, Estados

socialis-tas, os nórdicos e das Caraíbas. Para além da assistência dos Estados, hou-ve apoio e assistência de vários Comités de Solidariedade na Europa, Ásia e América (Governo de Moçam-bique, Resolução N.° 32/2010 de 30 de Agosto).

Imediatamente a seguir a pro-clamação da sua independência, Moçambique tinha dois opositores à sua luta pela independência econó-mica e política, o sistema capitalista Ocidental e o regime minoritário branco, respectivamente. Os gover-nantes nacionais, rapidamente, viram na cooperação regional e na liberta-ção dos Estados vizinhos, a condiliberta-ção prévia para desenvolvimento

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econó-mico e o futuro de Moçambique (Abrahamsson e Nilson, 1992:100-101). Portanto, a política externa de Moçambique formulada na altura da independência nacional era anti imperialista e anti-racista que rapida-mente se expandiu para os esforços africanos comuns para a conquista e consolidação das suas independên-cias. De acordo com Abrahamsson e Nilson (1992:40), depois do IIIº Con-gresso da Frelimo, a política externa de Moçambique passou a dar impor-tância ao não alinhamento, com uma nítida inclinação para uma posi-ção anti-imperialista e a necessidade da diminuição da dependência em relação á África do Sul.

No período pós independên-cia, tendo em conta o contexto regional e global, a política externa de Moçambique assentou-se no for-talecimento da identidade moçam-bicana e na unidade nacional, defe-sa da integridade territorial e a edifi-cação de bases económicas e sociais. Desta feita, foram estabeleci-das relações diplomáticas com vários Estados e Moçambique passou a ter um activismo notório nas organiza-ções internacionais de que era mem-bro. Por exemplo, no plano regional, Moçambique participou activamente na Linha da Frente, e depois na SADCC e SADC. Moçambique empe-nhou-se e empenha-se na promoção dos ideais da unidade africana, atra-vés do reforço da integração regio-nal e a nível das Nações Unidades, sempre colaborou para a materializa-ção da agenda daquela organiza-ção (Governo de Moçambique, Resolução N.° 32/2010 de 30 de

Agos-to)

O encerramento da fronteira com a Rodésia do Sul, como cumpri-mento das sansões das Nações Uni-das aos regime minoritário de Ian Smith precipitou a ameaça estratégi-ca militar e represália que Moçambi-que sofreu do referido regime, enten-dido como apoio a ZANU, movimento de libertação na Rodésia do Sul. O papel activo de Moçambique para a formação da SADCC, a sua respon-sabilidade pelas acções necessárias de transporte e comunicações para que o regime do Apartheid da África do Sul pudesse ser isolado fez que Moçambique fosse punido pelo Presi-dente Botha que utilizou a sua estra-tégia total e deu início à desestabili-zação económica e militar (Abrahamsson e Nilson,1992:101-102).

Devido às consequências dos efeitos económicos do processo de desestabilização levado a cabo pelo

Apartheid sul-africano e a seca que

assolou a África Austral nos anos 1980, Moçambique teve a necessidade de recorrer à ajuda internacional para resolver os problemas nacionais. E, como a URSS, em 1982, tinha recusa-do dar apoio a Moçambique, foi necessário criar novas alianças políti-cas. Assim, Moçambique dirigiu-se aos EUA, onde para aderir ao FMI e ao Banco Mundial, foi obrigado a assinar acordos de não-agressão com a África do Sul do Apartheid (Abrahamsson e Nilson, 1992:104).

Durante o período de desen-volvimento e consolidação dos princí-pios da política externa e diplomacia de Moçambique, o respeito pela

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soberania, integridade territorial, a não ingerência nos assuntos internos dos Estados, a igualdade e reciproci-dade de benefícios e a resolução pacífica de conflitos sempre foram defendidos. Desta feita, Moçambique solidarizou-se com a luta de liberta-ção do povo zimbabwiano contra o regime minoritário de Ian Smith, encerrando a fronteira nos anos 1980; também a solidariedade e apoio estendeu-se ao ANC, contra o regime racista do Apartheid na África do Sul, através do esforço e empenho, no processo de cooperação para o desenvolvimento da África Austral (FRELIMO, 1983:161-165). Neste con-texto e período, a política externa de Moçambique era marcada por uma orientação baseada na auto-abnegação, porque esta solidarieda-de trouxe muitos prejuízos e represá-lias para o Estado.

A política externa e a diploma-cia de Moçambique solidarizaram-se com a luta anti colonial na Namíbia ocupada pela África do Sul e as ten-tativas de manobra tendentes a dis-torcer a Resolução 435 das Nações Unidas levadas a cabo por este Esta-do, até o início dos anos 1990. Moçambique se solidarizou, igual-mente, com situações de tensão em várias regiões de África, Médio Orien-te e a ascensão de ditaduras na América latina. Na região do Médio Oriente, Moçambique manifestou repulsa pela invasão israelita ao Líba-no, em 1982, e apoiou incondicional-mente a “justa luta” do povo palesti-niano e a OLP, defendendo o direito dos povos conduzirem a sua autode-terminação. Na América Latina, nos

anos 1980, Moçambique condenou a ascensão de regimes revolucionários que culminavam em ditaduras e defendeu que o povo tem o direito a escolher o seu destino (FRELIMO, 1984:160174).

O fim do conflito Este/Oeste nos finais da década de 1980 do Século XX trouxe um novo ambiente no sistema político internacional que contribuiu para a resolução de alguns conflitos internos e regionais em várias partes do mundo, bem como despo-letou novos paradigmas na arena internacional, incluindo na África Aus-tral. As profundas transformações operadas no Sistema Internacional trouxeram novos desafios na relação de Moçambique com o mundo que caracterizam-se pela crescente inter-dependência entre Estados, pela glo-balização, integração regional e pelo surgimento de novas tendências eco-nómicas. Neste período, assistiu-se ao surgimento de novos tipos de conflitos e fenómenos internacionais tais como o terrorismo, crime transnacional, mudanças climáticas, doenças endé-micas (Governo de Moçambique, Resolução N.° 32/2010 de 30 de Agos-to). Todos esses fenómenos e a nova conjuntura internacional do período pós Guerra Fria implicaram uma nova adequação e adptação da política externa de Moçambique, para fazer face aos mesmos.

Pode-se constatar que a políti-ca externa e a diplomacia de Moçambique formaram-se ao longo do tempo, tendo em conta o proces-so da luta de libertação nacional, a guerra dos dezasseis anos, os acordos

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Gerais de Paz, assinados em 1992 e as diversas transformações ocorridas no sistema internacional ao longo do tempo em que Moçambique se edi-ficou e consolidou como Estado e se inseriu no concerto das nações.

Actualmente, a política exter-na de Moçambique tem como visão e missão a defesa do interesse nacional, fazer mais amigos e diversi-ficar parcerias no mundo, contribuir para a paz e o progresso da humani-dade, projectando sempre o bom nome e a boa imagem de Moçam-bique na arena internacional; e a implementação de uma acção diplomática proactiva com vista a contribuir para a consolidação da paz e estabilidade, a erradicação da pobreza, a promoção da demo-cracia e dos direitos humanos e o desenvolvimento sustentável em Moçambique, na África e no Mundo.

Princípios e Linhas de Orientação da Política Externa de Moçambique

A Política Externa de Moçambi-que guia-se pelos princípios funda-mentais consagrados nos Artigos 17 a 22 da Constituição da República (2004) e na Resolução nº 32/2010, do Conselho de Ministros de Moçambi-que de 27 de Julho, Moçambi-que aprova a Política Externa de Moçambique. Tendo em conta estes dispositivos, a política externa do Estado Moçambi-cano pauta-se pelos seguintes princí-pios:

1. Estabelecimento de relações de amizade e cooperação com outros

Estados, na base dos princípios de respeito mútuo pela soberania e integridade territorial, igualdade, não interferência nos assuntos inter-nos e reciprocidade de benefícios; observância e aplicação dos prin-cípios da Carta da Organização das Nações Unidas e da Carta da União Africana;

2. Solidariedade para com a luta dos povos e Estados africanos, pela unidade, liberdade, dignidade e direito ao progresso económico e social; busca e o reforço das rela-ções com Estados empenhados na consolidação da independência nacional, da democracia e na recuperação do uso e controlo das riquezas naturais a favor dos res-pectivos povos; luta pela instaura-ção de uma ordem económica jus-ta e equijus-tativa nas relações inter-nacionais; apoio e solidariedade com a luta dos povos pela liberta-ção nacional e pela democracia; concessão de asilo aos estrangeiros perseguidos em razão da sua luta pela libertação nacional, pela democracia, pela paz e pela defe-sa dos direitos humanos; manuten-ção de laços especiais de amizade e cooperação com os países da região, com os países de língua ofi-cial portuguesa e com os países de acolhimento de emigrantes moçambicanos;

3. Prosseguimento de uma política de paz, em que só recorre-se à for-ça em caso de legítima defesa; defesa e primazia da solução

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negociada dos conflitos; defesa do princípio do desarmamento geral e universal de todos os Esta-dos; e contribuição para a transfor-mação do Oceano Índico em zona desnuclearizada e de paz.

Tendo em consideração o actual contexto nacional e internacio-nal, a política externa da República de Moçambique guia-se pelas seguintes linhas de acçãó estratégicas: defini-ção das prioridades e interesses de Moçambique em relação a cada país, região geográfica e organização inter-nacional; maximização e capitaliza-ção das relações especiais com os países da região; aprofundamento das relações de amizade e cooperação com os diferentes países; realização de uma diplomacia económica forte e pró activa com vista à identificação e aproveitamento de oportunidades de cooperação e parcerias multiformes existentes nas diferentes regiões do mundo; promoção da imagem positi-va de Moçambique, nomeadamente através da divulgação das potenciali-dades económicas e sócio culturais do país no exterior; interacção permanen-te e regular com organizações não--governamentais, instituições académi-cas, órgãos de comunicação social, sector privado e outros actores da sociedade civil (Ibidem, Boletim da República de Moçambique, 2010:25).

A política externa e a diplo-macia de Moçambique compreen-de o âmbito bilateral, regional, multi-lateral e a componente das comuni-dades moçambicanas no estrangei-ro. No âmbito bilateral, Moçambi-que estabelece e desenvolve

rela-ções de amizade e cooperação com outros Estados, privilegiando a cooperação Sul/Sul. No âmbito mul-tilateral, a participação activa nas actividades das Organizações Inter-nacionais constitui uma das priorida-des do Estado. No âmbito regional, Moçambique desenvolve e consoli-da relações de amizade, boa vizi-nhança e cooperação com os Esta-dos d África Austral e do continente africano, no âmbito do fortaleci-mento da SADC e da União Africa-na. Por último, no que tange às comunidades moçambicanas no exterior, a política externa de moçambique está orientada para a protecção dos seus cidadãos nacio-nais e dos seus interesses no exterior, a valorização da sua cidadania, bem como o seu encorajamento para a sua permanente participa-ção no desenvolvimento colectivo de Moçambique (Governo de Moçambique, Resolução n.° 32/2010 de 30 de Agosto).

Em consonância com estes princípios e linhas de orientação, Moçambique prossegue com a materialização dos seus objectivos para a vertente externa cuja linha de orientação é a luta contra a pobreza e a promoção do desen-volvimento económico. Neste con-texto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação apresen-ta-se como a instituição que assegu-ra a implementação da política externa do Estado, sob a liderança do Chefe de Estado.

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Objectivos da Política Externa de Moçambique

Na base do princípio da defesa do interesse nacional, os objectivos da política externa de Moçambique, de acordo com a Resolução Nº.32/2010 do Conselho de Ministros que aprova a Política Externa de Moçambique, são:

1. Garantir a estabilidade, segu-rança e integridade territorial, o desenvolvimento económico e social do país; reforçar as rela-ções de amizade e de coopera-ção com todos os membros da Comunidade Internacional; divulgar as potencialidades de Moçambique, com vista a atrair mais parcerias para o desenvol-vimento e elevar cada vez mais o prestígio de Moçambique, no concerto das nações; contribuir para o reforço da paz e segu-rança internacionais, bem como para o progresso harmónico e bem-estar da humanidade; 2. Promover o desenvolvimento sustentável, no âmbito da mate-rialização dos objectivos do desenvolvimento do milénio; mobilizar recursos destinados à implementação dos programas do Governo e à atracção de investimentos, visando acelerar a erradicação da pobreza e a edificação do desenvolvimento sustentável; promover parcerias para o desenvolvimento empre-sarial;

3. Consolidar a cooperação polí-tica e acelerar a integração económica d região da África Austral; participar nos esforços dos Estados da região e de Áfri-ca visando uma maior integra-ção económica mundial; contri-buir para a solução pacífica e negociada de conflitos; e assistir e proteger as comunidades moçambicanas no exterior. Todos esses objectivos perfazem os conjuntos de princípios, objecti-vos, ideias, ideais e valores que Moçambique procura promover e defender nas suas relações com os outros Estados, na política interna-cional e concerto das nações, que no âmbito bi ou multilateral.

Mecanismos de Implementação da Polí-tica Externa

O Artigo 162 da Constituição da República de Moçambique (2004) preconiza que o Presidente da Repú-blica orienta e dirige a política exter-na e que compete à Assembleia da República legislar sobre as questões básicas da política externa do país. Ao Governo cabe a realização da política externa através do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Coope-ração que a coordena e executa.

Nesse sentido, impõe-se uma coordenação institucional cada vez mais eficaz, na qual o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação

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assume um papel de liderança de forma a garantir a observância dos princípios e a materialização dos objectivos da política externa de Moçambique. A execução da políti-ca externa deve garantir a imple-mentação dos compromissos interna-cionais assumidos, consubstanciados em acordos, memorandos, decisões, resoluções e recomendações ema-nadas dos entendimentos bilaterais e multilaterais.

O Ministério dos Negócios Estran-geiros e Cooperação é o fiel deposi-tário de todos os instrumentos jurídi-cos de natureza político-diplomática e de cooperação internacional de que Moçambique é parte. A imple-mentação da política externa deve ser feita através da acção diplomáti-ca, pautando-se pelo bilateralismo assente na troca de visitas a todos os níveis, consultas bilaterais, comissões mistas, comissões técnicas de coope-ração, negociações, entre outras; multilateralismo, através da participa-ção activa nas actividades das orga-nizações internacionais de que Moçambique é membro, privilegian-do a concertação político-diplomática e o diálogo e a integra-ção regional que priorize uma forte acção político-diplomática com vista à implementação das políticas de integração regional da SADC.

Política de Cooperação Internacional de Moçambique

A Política de Cooperação Inter-nacional e sua Estratégia de Imple-mentação foi aprovada pela

Resolu-ção Nº.34/2010 do Conselho de Minis-tros da República de Moçambique e prevê que na estratégia de desenvol-vimento dá República de Moçambi-que, a cooperação internacional tem desempenhado um papel fun-damental, uma vez que é um instru-mento vital para a materialização do programa do Governo. A coopera-ção internacional esteve sempre associada, a promoção, estabeleci-mento e fortaleciestabeleci-mento de relações de amizade com povos, Estados e Organizações Internacionais e na mobilização de recursos essenciais para a implementação dos principais objectivos da agenda de desenvolvi-mento do Estado moçambicano.

O objectivo de tornar a coopera-ção internacional consentânea com a agenda nacional ganhou maior dimensão com o alinhamento desta com a estratégia de redução da pobreza e desenvolvimento nacional. A vulnerabilidade do Estado às cala-midades naturais tem sido um dos constrangimentos que afecta a implementação da agenda nacional de desenvolvimento. Neste contexto, a assistência humanitária e de emer-gência tem complementado os esfor-ços do Governo nas acções de pre-venção, mitigação e gestão- de calamidades.

A complexidade da conjuntura internacional, a crescente interde-pendência entre os- estados, a glo-balização, a multiplicidade de desa-fios existentes no processo de desen-volvimento e a diversidade de acto-res envolvidos tornam imperiosa a adopção de um instrumento que

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defina com clareza a política de coo-peração internacional de Moçambi-que. Esta política inclui os princípios e objectivos fundamentais, as áreas prioritárias de intervenção, o âmbito, os mecanismos de relacionamento, o diálogo e as consultas com os parcei-ros de cooperação para o desenvol-vimento. Ela enquadra e orienta os mecanismos de coordenação e ges-tão da cooperação ao nível de todo o país, por forma a garantir a imple-mentação dos principais objectivos da agenda do desenvolvimento nacional.

A Política de Cooperação Inter-nacional da República de Moçambi-que, como parte integrante da políti-ca externa, assenta no princípio de vantagens mútuas, complementari-dade e equicomplementari-dade nas relações inter-nacionais. Neste contexto, a Política de Cooperação Internacional guia-se pelos seguintes princípios fundamen-tais: a observância da Constituição da República de Moçambique; a conformidade com a outra legisla-ção nacional relevante em matéria de cooperação internacional; a pro-moção de relações de amizade e de cooperação com todos os Estados, baseadas no respeito mútuo, no res-peito pela soberania e integridade territorial, na igualdade, na não inter-ferência nos assuntos internos e na reciprocidade de benefícios; o respei-to, observância e aplicação das nor-mas do Direito Internacional incluindo os princípios da Carta da Organiza-ção das Nações Unidas, do Acto Constitutivo da União Africana e do Tratado da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral; a

instauração de uma ordem económi-ca mais justa e equitativa nas rela-ções internacionais; liderança, políti-ca e a apropriação do processo de desenvolvimento pelo Governo; o ali-nhamento da assistência externa com as prioridades do Governo; a garantia da sustentabilidade e eficá-cia das actividades finaneficá-ciadas pela assistência externa; harmonização das actividades dos parceiros de cooperação internacional; a utiliza-ção dos instrumentos e procedimen-tos do Governo; a incorporação de fundos disponibilizados no Orçamen-to do Estado; a mútua responsabiliza-ção do Governo e dos parceiros de cooperação internacional; a gestão orientada para-resultados; a

promo-ção de parcerias com o sector priva-do, a sociedade civil e outros (Governo de Moçambique, Resolu-ção N.º 34/2010 de 30 de Agosto).

O objectivo fundamental da Políti-ca de Cooperação Internacional de Moçambique é garantir a realização das prioridades do Governo, consubs-tanciadas na redução dos níveis de pobreza, através da promoção do desenvolvimento social, económico rápido, sustentável e abrangente. Assim, no quadro da promoção e defesa dos interesses nacionais, a Política de Cooperação Internacional da República de Moçambique pros-segue os seguintes objectivos funda-mentais: reduzir a pobreza; garantir a eficácia da utilização dos recursos externos, através da apropriação nacional, previsibilidade, alinhamen-to, harmonização, responsabilização mútua e gestão orientada para resul-tados; promover, de forma

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sa, o desenvolvimento económico, social, cultural e técnico-científico; garantir que as acções de coopera-ção sejam consentâneas com a polí-tica externa e as polípolí-ticas e estraté-gias de desenvolvimento nacionais; promover e fortalecer a complemen-taridade, competitividade e integra-ção da economia nacional na região, no continente e no mundo; assegurar uma cooperação interna-cional profícua em todos os domínios; harmonizar a execução das activida-des de cooperação levadas a cabo pelas diferentes instituições do Esta-do; harmonizar o relacionamento das entidades nacionais com os parceiros internacionais de cooperação; mobi-lizar e direccionar os recursos externos para os esforços nacionais de luta contra a pobreza, em prol do desen-volvimento sustentável do País, con-correndo para o alcance dos Objec-tivos de Desenvolvimento do Milénio; criar um ambiente propício para o investimento nacional e estrangeiro (Ibidem).

Na implementação de políticas e estratégias de desenvolvimento eco-nómico e social do Estado, o Gover-no moçambicaGover-no promove encon-tros regulares de trabalho com os seus parceiros, tendo em vista trocar informações, melhorar o entendimen-to mútuo, facilitar o estabelecimenentendimen-to de um ambiente favorável ao desen-volvimento e ao fortalecimento das relações de cooperação. Neste con-texto, o Governo leva a cabo o diálo-go e consultas político-diplomáticos, comissões mistas, conversações, negociações periódicas e à troca de visitas. Para este efeito, o Ministério

dos Negócios Estrangeiros e Coope-ração é o principal interlocutor do Governo no diálogo e relacionamen-to com os parceiros.

A política de cooperação preco-niza a adopção de um modelo de coordenação e gestão a nível cen-tral, sectorial e provincial com vista a tornar eficaz a cooperação interna-cional è optimizar a utilização racio-nal de recursos. A execução da mes-ma é garantida através de um Fórum de Coordenação da Política de Coo-peração Internacional, dirigido pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, integrando os Ministros da Planificação e Desenvolvimento e das Finanças. Os mecanismos de coordenação, monitoria e avaliação incluem, para além dos órgãos cen-trais integrantes do Fórum, os Ministé-rios Sectoriais, os Governos Provinciais e os Diálogos com os parceiros de cooperação.

O Portal do Ministério dos Negó-cios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique refere que o Estado mantém relações de cooperação com vários Estados, com destaque para os Parceiros de Apoio Progra-mático (PAP’s): Alemanha, Áustria, Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Banco Mundial, Bélgica, Cana-dá, Comissão Europeia, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Irlanda, Itália, Noruega, Paí-ses Baixos, Portugal, Suécia e Suíça; África do Sul, Austrália, Brasil, China, Coreia, EUA, Índia, Japão e Vietna-me. Por outro lado, a República de Moçambique mantém relações com diferentes organizações

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internacio-nais de que é membro.

Moçambique na Região, África e no Mundo

A Política Externa de Moçambique orienta o Estado na sua relação com os outros e a sua integração no con-certo das nações. Nesta relação, a afirmação de Moçambique nos Siste-ma Internacional tem a vista a busca de soluções para os seus desafios nacionais. Para tal, a cooperação, diálogo e o estabelecimento de par-cerias constituem aspectos funda-mentais para que a mesma ocorra com sucesso. Tendo em conta a estrutura do Sistema Internacional actual, a inserção e interação de Moçambique com outros Estados e actores pode ocorrer a três níveis, como aponta a Resolução 32/2010 do Conselho de Ministro de Moçam-bique de 30 de Agosto (Boletim da República, 2010:21-24): primeiro, a nível da região Austral de África, segundo a nível continental, e por último, a nível global, tendo em con-ta as diversas regiões estratégicas do globo.

A nível da África Austral, Moçambique faz fronteira com vários Estados da região e uma política de boa vizinhança e de fortalecimento de laços de amizade e cooperação é indispensável para a manutenção da paz, segurança e estabilidade nacional e regional. Neste contexto, Moçambique valoriza a SADC, como um aspecto fundamental para a cooperação política, integração regional e a segurança colectiva,

através da implantação dos vários instrumentos regionais da organiza-ção (tratados, protocolos, planos e programas). As acções diplomáticas a nível regional estão viradas para a criação de uma maior interdepen-dência, igualdade e vantagens mútuas. Os vectores desta são a paz, estabilidade e segurança regional, a coesão e unidade da SADC, adop-ção de políticas viradas pra a erradi-cação da pobreza, desenvolvimento sustentável da região e a busca da melhoria das condições de vida dos povos da África Austral.

A nível do Continente Africano, Moçambique, através da sua política externa, partilha a agenda política de paz, estabilidade e democracia, bem como de desenvolvimento inte-grado e sustentável do continente, no quadro da União Africana, o prin-cípio de unidade africana aparece Como um dos pilares da Política Externa de Moçambique. A diploma-cia moçambicana está virada para o reforço das relações existentes com os Estados africanos, para o incre-mento da cooperação nos vários domínios. Portanto, Moçambique contribui e dá primazia para a solu-ção negociada de conflitos e de cri-ses políticas que assolaram e assolam o continente africano, rumo ao pro-gresso e desenvolvimento integrado de África.

No resto do Mundo, a Política Externa de Moçambique dá primazia ao Médio Oriente, Europa, América, Ásia e Oceânea. Em relação ao Médio Oriente, esta região é estraté-gica e com grandes reservas de

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hidrocarbonetos, um produto de ele-vada importância estratégica, na economia mundial, por um lado; por outro, a Política Externa e Diplomacia de Moçambique encorajam os esfor-ços que visem o alcance da paz e estabilidade na região. Desta feita, Moçambique promove e intensifica relações politico-diplomáticas, eco-nómicas, sociais e culturais com Esta-dos do Médio Oriente através da Organização da Conferência Islâmi-ca, Liga Árabe e Banco Islâmico de Desenvolvimento.

Em relação à Europa e Améri-ca, a Política Externa de Moçambi-que procura salvaguardar os laços privilegiados com a Europa, através do diálogo político e consultas regu-lares, com os governos europeus e outros actores relevantes, com vista ao aprofundamento das suas rela-ções de cooperação. Na Europa, Moçambique se empenha bastante, na diplomacia económica, para mobilizar investimentos, financiamen-tos e mercados para seus produfinanciamen-tos agrícolas. Em relação à América, Moçambique possui uma política externa que advoga um relaciona-mento estreito com todos os Estados e organizações, incluindo o sector pri-vado desta região, tendo em conta que este contendente possui Estados desenvolvidos e industrializados (EUA e Canadá), economias emergentes (Brasil e Argentina) e vários Estados em desenvolvimento.

Em relação ao continente asiá-tico e à Oceânia, Moçambique pos-sui uma política externa que advoga um relacionamento cada vez mais

estreito com os Estados e organiza-ções destas regiões. Em relação à Ásia, Moçambique preta atenção nas vantagens comparativas e com-petitivas. Já a Oceânia é rica em recursos naturais e predominam eco-nomias emergentes. Portanto, a Políti-ca Externa de Moçambique, para estas duas regiões, explora todas a vias e formas de cooperação que possam continuar para complemen-tar os esforços de desenvolvimento, no âmbito da cooperação Sul/Sul.

Para terminar, as Organizações Internacionais são uma competente contemporânea importante e um fórum internacional de cooperação para os Estados. Moçambique não está alheio a estas organizações. Des-ta feiDes-ta, a Resolução 32/2010 do Con-selho de Ministros de Moçambique de 30 de Agosto (Boletim da República de Moçambique, 2010:22) aponta que Moçambique atribuiu grande importância aos Sistema das Nações Unidas como fórum privilegiado do multilateralismo e dentro deste espíri-to, o Estado participa nas Nações Uni-das e outras organizações (UA, SADC, ACP, OCI, etc.).

No âmbito da reforma das Nações Unidas, Moçambique advo-ga uma maior democratização e transparência nos métodos de funcio-namento da organização, em parti-cular o Conselho de Segurança. Para além deste aspecto, Moçambique está empenhado nas questões liga-das à defesa dos direitos humanos, desarmamento, combate ao terroris-mo e crime organizado e transnacio-nal, a materialização das agendas

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de desenvolvimento ligadas ao combate ao HIV/SIDA, igualdade de gênero, os crescentes movimen-tos populacionais, a defesa do ambiente e as mudanças climáticas e a instauração de uma ordem económica justa e equitativa, no comércio internacional.

A respeito do futuro da Políti-ca Externa e Diplomacia de Moçambique, a Resolução 32/2010 de 30 de Agosto do Conselho de Ministros que aprova a Política Exter-na de Moçambique refere que Moçambique prosseguirá a sua polí-tica externa de “fazer mais amigos, promover mais parcerias”, na salva-guardada do seu interesse nacional e com os ajustamentos que forem necessários, tendo em conta a dinâmica e os desafios globais, par-ticularmente o seu impacto na região da África Austral, África e no mundo, em geral.

A Política Externa e a Diplo-macia de Moçambique devem manter a promoção e defesa dos interesses nacionais no plano inter-nacional, tendo em conta a garan-tia da soberania, integridade territo-rial, paz, segurança e desenvolvi-mento. Desta feita, há necessidade de estar-se atento às dinâmicas da complexa conjuntura internacional actual. Assim, a preservação fiel dos princípios da primazia do interesse moçambicano na área internacio-nal é fundamental. A integração regional deve ser capitalizada e a cooperação internacional, sobretu-do a Sul/Sul, deve ser intensificada, para acelerar o desenvolvimento nacional. Por último, Moçambique deve continuar a ser exemplo de resolução, gestão e transformação pacífica de conflitos e promoção da paz e estabilidade social e políti-ca.

Nome da Organização Sede Site

Organização das Nações Unidas Nova Iorque www.un.org

União Africana Addis Abeba www.african.union.org

SADC Gaberone www.sadc.int

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa Lisboa www.cplp.org

COMMONWEALTH Londres www.thecommonwelth.org

A Associação dos Países da Orla do Oceano Índico para a Cooperação Regional (IOR-ARC)

Port-Louis, Maurícias www.iornet.org

Organização para Cooperação Islâmica (OCI) Jeddah www.oic-oci.org

Movimento dos Não- Alinhados NAM Nova Iorque

África, Caraíbas e Pacífico (ACP’s) —

FAO Roma www.fao.org

Organização Mundial da Saúde (OMS) Genebra www.who.int

Organização Internacional de Trabalho (OIT) Genebra www.ilo.org

Organização Mundial Propriedade Intelectual Genebra www.wipo.int

UNESCO Paris www.unesco.org

Organização Mundial do Comércio (OMC) Genebra www.wto.org

Filiação de Moçambique nas Organizações Internacionais

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Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricul-tura (IFAD)

Roma www.ifad.org/governance/

ifad

Programa Mundial para Alimentação (PMA) Roma

Cruz Vermelha Internacional Genebra www.cicr.org

Conselho de Paz e Segurança da UA Addis Abeba www.african.union.org

Parlamento Pan-Africano Africa do Sul —

Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) Abidjan

Fundo Monetário Internacional (FMI) Washington www.imf.org

Banco Mundial (BM) Washington www.wb.org

Banco Islâmico para Desenvolvimento Jeddah

Organização Internacional da Policia Criminal —

INTERPOL —

União Latina Paris

Comissão Oceanográfica Internacional (COI) Paris

Organização Marítima Internacional —

Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO) Canadá

Abrahamson, Hans e Anders Nilsson

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32/2010 – Aprova a Política Externa da República de Moçambique, Boletim da República de Moçambique, 4º

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Conselho de Ministros (2010), Resolução

34/2010 – Aprova a Política de Coopera-ção Internacional da República de Moçambique e a sua Estratégia de Implementação, Boletim da República

de Moçambique, 4º Suplemento, I Série, Número 34, Imprensa Nacional, Maputo.

Constituição da República de Moçambi-que (2004), Imprensa Nacional, Maputo. Referências Bibliográficas

Referências

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