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SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DE AGROECOSSISTEMAS FAMILIARES NA AMAZÔNIA MARANHENSE

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Academic year: 2020

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Sustentabilidade ambiental de

agroecossistemas familiares maranhenses

Rafael Mendes de Sousa1;

Roseana Ramos Pereira2;

Diôgo Ribeiro de Araújo3

Franciclaudio Soares3;

1 Mestrando em Agroecologia do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia, UEMA; E-mail: rafaelmendes_sousa @email.com; 2 Mestre em Agronomia; E-mail: mainaramos2008@hotmail.com;

3 Bacharel em Agronomia; E-mail: dhiogo.na0@gmail.com, franciclaudiosoares@hotmail.com;

RESUMO

O manejo do solo pode alterar a sustentabilidade dos agrossistemas com reflexos no seu potencial produtivo. O Marco para a Avaliação de Sistemas de Manejo de Recursos Natu-rais Incorporando Indicadores de Sustentabilidade (MESMIS) é uma metodologia utilizada para o monitoramento ambiental de propriedades rurais. Objetivou-se avaliar a sustenta-bilidade ambiental de áreas agrícolas e experimentais utilizando a metodologia MESMIS. O estudo foi realizado em agroecossistemas do estado do Maranhão divididos em grupos regionais de acordo com suas características edafoclimáticas. Foram realizadas as seguintes etapas: estudo dos agroecossistemas; definição dos pontos críticos; seleção de indicadores e sua mensuração; integração dos resultados e indicações gerais aos agrossistemas. Esta-beleceu-se 11 indicadores para a avaliação da sustentabilidade: disponibilidade de água; saneamento; adubação; diversidade biológica; modalidade de cultivo; conservação do solo; fertilidade do solo; uso de defensivos agrícolas; pragas e doenças; assistência técnica disponível e potencial de produtividade. Para cada indicador foram atribuídos valores que variam de 01 a 03 (sendo 01 correspondente à baixa contribuição para a sustentabilidade; 02 contribuição moderada e 03 grande contribuição). Posteriormente foram obtidos os valores médios de sustentabilidade para os agroecossistemas avaliados. Os indicadores de sustentabilidade variam conforme as características edafoclimáticas e de manejos locais. As práticas convencionais de manejo do solo podem tornar os agroecossistemas menos sustentáveis e a adoção de práticas conservacionistas, como o cultivo em aléias, pode ser uma alternativa para a agricultura tropical.

Palavras-chave: Indicadores. Manejo do solo. MESMIS.

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Environmental sustainability of

maranhensian family agroecosystems

ABSTRACT

Soil management can alter the sustainability of agrosystems with repercussions on their productive potential. The Framework for the Evaluation of Natural Resource Management Systems Incorporating Sustainability Indicators (MESMIS) is a methodology used for the environmental monitoring of rural properties. The objective was to evaluate the environmental sustainability of agricultural and experimental areas using the MESMIS methodology. The study was carried out in agrosystems of the state of Maranhão divided into regional groups according to their edaphoclimatic characteristics. The following steps were performed: study of agro systems; definition of critical points; selection of indicators and their measurement; integration of results and general indications to agro systems. Eleven indicators were established for the evaluation of sustainability: water availability; sanitation; fertilizing; biological diversity; cultivation modality; soil conservation; soil fertility; use of pesticides; pests and diseases; available technical assistance and productivity potential. For each indicator, values ranging from 01 to 03 were attributed (01 corresponding to the low contribution to sustainability, 02 moderate contribution and 03 major contribution). Subsequently, the mean values of sustainability for the evaluated agro system were obtained. Sustainability indicators vary according to local soil and climate and management characteristics. Conventional soil management practices may make agrossystems less sustainable and the adoption of conservation practices, such as alleys, may be an alternative to tropical agriculture.

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1 INTRODUÇÃO

As mudanças no uso da terra têm sido con-sideradas promotoras de alterações ambien-tais e impactos ao ecossistema (SHI et al., 2008). Essas mudanças de uso e cobertura têm resultado em consequências diretas aos recursos naturais devido aos impactos sobre a qualidade da água e solo, das fun-ções e processos do ecossistema e de efeitos climáticos globais (SHI et al., 2008).

Um planejamento racional de uso da terra pode possibilitar expressivo desenvolvimen-to econômico regional através de usos sus-tentáveis (JIE et al., 2010). Mas para tanto, é necessário primeiro avaliar o grau de im-pacto e o potencial de sustentabilidade de um agrossistema. As avaliações ambientais desempenham um papel importante para comparar alternativas de desenho, informa-ções e decisões sobre como o uso da terra deve ser realizado (SPEELMAN et al., 2010). A metodologia MESMIS (Marco para a Ava-liação de Sistemas de Manejo de Recursos Naturais Incorporando Indicadores de Sus-tentabilidade) é pautada na derivação, men-suração e monitoramento de indicadores de sustentabilidade abrangendo uma avaliação flexível, interdisciplinar, participativa e di-nâmica para os mais diferentes níveis de dados disponíveis, técnicas locais e recursos financeiros (LÓPEZ-RIDAURA et al., 2002). O método MESMIS é uma metodologia composta de seis passos na qual é realizada, a princípio, a caracterização do agrossiste-ma estudado, identificando cada aspecto do sistema de manejo. Em seguida é reali-zada a análise dos pontos críticos a fim de

identificar pontos limitantes e favoráveis à sustentabilidade (CÂNDIDO et al., 2015). De acordo com esse modelo de avaliação, a sustentabilidade é definida através dos seguintes atributos genéricos: produtivida-de, estabilidaprodutivida-de, confiabilidaprodutivida-de, resiliência, adaptabilidade, equidade e autossuficiên-cia (LÓPEZ-RIDAURA et al., 2002). Muitos modelos, como o IDEA (CÂNDIDO et al., 2015), sistema ISA (FERREIRA et al., 2012) e os modelos PER e FER (KEMERICH et al., 2014), permitem medir apenas um sistema agrícola ou comparam mais de um sistema. Trabalhos de pesquisa têm sugerido a ne-cessidade de se desenvolver um grupo de indicadores para avaliar sistemas especí-ficos de produção agrícola (COSTA, 2010; REED et al., 2005; SILVA et al., 2013).

Nesse contexto, objetivou-se, com o presente trabalho, avaliar a sustentabilidade ambien-tal de agroecossistemas maranhenses utili-zando a metodologia MESMIS para a defini-ção, aplicação e interpretação de indicadores da esfera ambiental da sustentabilidade.

2 METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido em dois municí-pios maranhenses: Buriticupu (4°20’34’’S; 46°24’6’’W), situado no oeste do estado e Chapadinha (3°44’30’’S; 46°24’6’’W), situa-da a leste. A metodologia MESMIS foi adota-da a partir de entrevistas com agricultores e de análise de registros documentais e histó-ricos das áreas avaliadas. Para tanto, foram seguidos os seis passos do método MESMIS, conforme a metodologia seguida por Souza et al. (2017): a) caracterização dos

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agroecos-82

sistemas; b) análise dos pontos críticos e de destaque; c) seleção de indicadores de sus-tentabilidade; d) mensuração dos indicado-res; e) síntese e integração dos resultados e f) indicações gerais para os agroecossistemas. Cada agroecossistema foi caracterizado con-forme suas características ambientais e seu histórico de manejo e ocupação. Os pontos críticos aqui mencionados referem-se aos indicadores que mais apontaram o grau de perturbação, os quais foram constatados no momento de análise dos dados. Os indica-dores escolhidos foram selecionados por serem de fácil mensuração e interpretação aos agricultores, permitindo a execução de uma metodologia participativa e por pode-rem ser empregados com facilidade na rea-lidade dos agroecossistemas avaliados. Para a mensuração dos indicadores, foi utilizada como suporte a planilha de campo e o co-nhecimento prático dos técnicos e agricul-tores envolvidos. Por fim, os dados foram tabulados e interpretados.

Foram avaliados nove agroecossistemas di-vididos em três grupos regionais de acordo com suas características edafoclimáticas. O grupo 1 é formado por agroecossistemas situados em Buriticupu – MA (região oeste), cuja vegetação predominante é sucessional de clima pré-amazônico em estado de per-turbação por constantes queimadas para implantação de áreas agrícolas, o clima é classificado como Aw, com duas estações bem definidas: chuvosa (entre dezembro e junho) e seca (entre julho a novembro) e o solo é classificado como Spodossolo Ver-melho Amarelo, sendo composto pelos se-guintes agrossistemas:

• Pastagem abandonada: área de pasta-gem utilizada anteriormente para o pastejo de caprinos e em estado ini-cial de degradação, recém queimada para implantação de cultivo.

• Área de policultivo: lavoura familiar conduzida em sistema de consórcio (com feijão, mandioca e milho) e im-plantada sob o sistema tradicional de corte-e-queima.

• Regeneração natural (capoeira): área em estado de pousio há 5 anos, en-contrando-se em processo de suces-são natural com predominância de vegetação arbóreo-arbustiva típica de clima pré-amazônico.

O grupo 2 compreende agrossistemas situ-ados em Chapadinha – MA, em região de mata dos cocais, cuja vegetação é composta predominantemente por palmeiras de ba-baçu e carnaúba em estado de constante perturbação por queimadas e exploração extrativista por mais de 20 anos, o clima é classificado como Aw, com duas estações bem definidas: chuvosa (entre janeiro a ju-nho) e seca (entre julho a dezembro) e o solo é classificado como Argissolo Distro-férrico Distrocoeso, abrangendo os seguin-tes sistemas de uso do solo:

• Cultivo consorciado: sistema de con-sórcio de milho e mandioca conduzi-do em lavoura familiar na modalida-de modalida-de agricultura modalida-de corte-e-queima, com período de pousio de dois anos. • Área de capoeira: área de sucessão

natu-ral encontrando-se em estado de pou-sio há 10 anos, com predominância de vegetação sucessional típica de mata

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83 dos cocais, sendo explorada

eventual-mente para o extrativismo de babaçu, com vegetação de até 10 anos de idade. • Sistema de cultivo em aléias: sistema

agroflorestal de plantio direto de 9 anos utilizando a combinação das legumino-sas arbóreas Gliricídia, Leucena, Acácia e Sombreiro como adubos verdes. O grupo 3 é formado por agrossistemas ex-perimentais situados na Universidade Fede-ral do Maranhão, campus de Chapadinha (3°44’30’’S; 46°24’6’’W), cuja vegetação pre-dominante é arbóreo-arbustiva de cerrado strictu sensu, com presença de vegetação mantida por 10 anos, em estado de conser-vação, e o solo é classificado como Latossolo Amarelo Distrófico. A composição florística é diversificada, sendo comuns espécies como: Orbignya speciosa Mart. (Babaçu), Coperni-cia cerífera (Carnaúba) e Mauritia vinifera (Buriti) (SELBACH e LEITE, 2008) sendo for-mado pelos seguintes agrossistemas:

• Monocultivo de soja: lavoura de soja de 4 anos conduzida sob preparo con-vencional do solo (aração e grada-gem), bem como adoção de práticas de manejo intensivo como adubação, calagem e tratamentos fitossanitários. • Cultivo em aléias: sistema agroflorestal

de quatro anos utilizando as legumi-nosas: gliricídia, acácia e leucena como adubos verdes em plantio direto. Esse sistema baseia-se no plantio direto so-bre os ramos e folhas das leguminosas cortados na época de semeadura.

• Pousio: área em pousio há 10 anos dominada por vegetação sucessional típica de clima de cerrado.

Foram estabelecidos 11 indicadores para a avaliação da sustentabilidade ambiental: disponibilidade de água; saneamento; adu-bação; diversidade biológica; modalidade de cultivo; conservação do solo; fertilidade do solo; uso de defensivos agrícolas; pragas e do-enças; assistência técnica disponível e poten-cial de produtividade. Para cada indicador fo-ram atribuídos valores que variam de 01 a 03 (sendo 01 correspondente à baixa contribui-ção para a sustentabilidade; 02 contribuicontribui-ção moderada e 03 grande contribuição). Poste-riormente, foram obtidos os valores médios de sustentabilidade ambiental dos indicado-res em cada agroecossistema avaliado. A pla-nilha de campo para pontuação e avaliação dos indicadores é mostrada na Tabela 1. O método MESMIS permite ajustar a esco-lha de indicadores aos diferentes agrossis-temas avaliados, de modo que, para este estudo, quando um dado indicador não se aplicava a um determinado agrossistema, ele era simplesmente descartado. Para cada alternativa das questões abrangidas pelo indicador, foi atribuído um peso (de 01 a 03). Quando mais de uma questão foram determinadas para o mesmo indicador, uti-lizou-se a média dos pesos dessas questões como valor de sustentabilidade do indica-dor em questão. Por exemplo, para o indi-cador defensivos agrícolas, quando o agri-cultor afirmava utilizar defensivos, o valor deste indicador era obtido através da média dos pesos das alternativas respondidas para as 5 questões abrangidas por este indicador. Quando o agricultor afirmava não utilizar defensivos, era simplesmente atribuído para este indicador o valor “3” de sustenta-bilidade ambiental.

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Tabela 1. Planilha de campo com os indicadores de sustentabilidade ambiental

seleciona-dos, questões para entrevista e pontuação para cada alternativa.

Indicador Questão Alternativa Pontuação

(Pesos)

1. Água

Há água disponível? Sim 3

Não 1

É adequada ao consumo? Sim 3

Não 1

Utiliza irrigação?

Sim e com manejo adequado 3 Sim mas sem manejo adequado 1

Não 3

2. Saneamento

Como realiza o escoamento de dejetos da residência na propriedade?

Fossa séptica 2

Fossa semi-séptica 1

Esgoto/ estação de tratamento 3

3. Adubação

Realiza a adubação usando como suporte a análise de solo?

Sim 3

Não 1

Qual o fertilizante usado?

Sintético 2 Orgânico 3 Sintético/orgânico 3 Não usa 1 4. Diversidade biológica

Quantas espécies vegetais na propriedade?

Entre 1 a 5 1

5 a 15 2

Mais de 15 3

Quantas espécies animais na propriedade? Entre 1 a 5 1 5 a 15 2 Mais de 15 3 5. Modalidade de cultivo

Qual sistema de cultivo é utizado? Monocultivo 1 Consórcio 2 Rotação de culturas 2 Consórcio/rotação de culturas 3 6. Conservação do solo

Como prepara o solo?

Preparo convencional 1

Corte-e-queima 1

Usa sempre a mesma área 3

Usa quantas medidas de conservação?

Até 2 2

Mais de 2 3

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7. Fertilidade do solo Como está a fertilidade do solo (através de análise)?

Alta 3

Média 2

Baixa 1

8. Defensivos agrícolas

Qual a frequência de uso?

1 vez ao ano 3

Entre 2 a 3 vezes ao ano 2

Mais de 3 vezes ao ano 1

Qual a classificação toxicológica do produto usado (tarjeta)?

Vermelha ou amarela 2

Verde ou azul 1

Realiza rotação de princípio ativo?

Sim 2

Não 1

Usa EPI na aplicação?

Usa todo o EPI 3

Usa parte 2

Não usa 1

Descarte das embalagens vazias

Encaminha as embalagens vazias ao fornecedor após

tríplice lavagem

3 Encaminha ao fornecedor, mas

não faz a tríplice lavagem 1 Descarta no campo ou em

outro lugar 1

Reutiliza as embalagens 1

Não usa defensivo 3

9. Pragas e doenças Ocorrência de pragas e/ou doenças (últimos anos)

Ocorrem todos os anos as mesmas pragas e/ou doenças

com alta severidade

1

Ocorrem todos os anos as mesmas pragas e/ou doenças

com baixa severidade

2 Ocorrem pragas e/ou doenças

diversificadas com alta severidade

1 Ocorrem pragas e/ou doenças

diversificadas com baixa severidade

2

Não ocorrem 3

10. Assistência técnica Possui assistência técnica?

Possui assistência satisfatória 3 Possui assistência insatisfatória 1

Não possui 1

11. Produtividade Como se classifica?

Satisfatória 3

Moderada 2

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O valor para o indicador “Diversidade bio-lógica” foi determinado através da pro-porção de espécies vegetais e animais exis-tentes em cada agrossistema avaliado. Nas áreas cultivadas por agricultores, o tempo de pousio utilizado correspondia, em mé-dia, a dois anos. A lavoura experimental de soja vem sendo conduzida anualmente em sistema convencional. O tamanho das áre-as cultivadáre-as não variou expressivamente ao longo dos anos.

Os dados obtidos com o auxílio da plani-lha através de entrevistas e análise de do-cumentos foram organizados por meio de estatística descritiva para posterior compa-ração utilizando gráficos do tipo radar.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os maiores valores médios de indicadores de sustentabilidade ambiental foram apre-sentados nos agroecossistemas do grupo 3 (Figura 1), provavelmente devido ao fato de que estes agroecossistemas são áreas agríco-las experimentais e, portanto, vêm sendo periodicamente monitorados e corrigidos através de práticas como calagem e aduba-ção, as quais muitas vezes não são pratica-das por agricultores familiares tradicionais do Maranhão. Dessa forma, a utilização de insumos externos, embora normalmente inviáveis aos pequenos agricultores, contri-bui para a correção do solo e reposição de nutrientes podendo, portanto, auxiliar na manutenção da sustentabilidade ambiental.

Figura 1. Indicadores de sustentabilidade ambiental:

água, saneamento, uso de fertilizante, diversidade biológica, modalidade de cultivo, conservação do solo, fertilidade do solo, uso de defensivos, pragas e doenças, assistência técnica e produtividade em agroecossistemas do grupo 3.

Em todos os grupos regionais avaliados, as áreas de pousio, capoeira e regeneração na-tural apresentaram valores médios superio-res dos indicadosuperio-res de sustentabilidade, o que mostra o potencial da sucessão ecológi-ca em recuperar serviços ecossistêmicos al-terados, possibilitando melhorias no equi-líbrio ecológico e na fertilidade do solo. O manejo das capoeiras, voltado para o en-riquecimento dessas áreas e técnicas para a redução do período de pousio, deve ser rea-lizado corretamente pelos agricultores para que eles possam usufruir de seus benefícios de forma racional e eficiente. Para tanto, novas pesquisas relacionadas ao manejo das capoeiras devem ser realizadas a fim de gerar tecnologias para os pequenos agricultores. Os sistemas conservacionistas de uso do solo melhoram a qualidade do solo com reflexos marcantes sobre a produtividade. Os efeitos positivos na qualidade física do

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87 solo são importantes para a prevenção de

problemas ambientais como erosão. A re-tenção de umidade no solo é importante também para a agricultura de larga escala (LAL, 2015). Uma conversão para a agricul-tura conservacionista pode melhorar a qua-lidade biológica do solo com incrementos no desempenho produtivo (LAL, 2015). O cultivo consorciado apresenta como van-tagem ao agricultor a diversificação de pro-dutos para o consumo próprio ou comercia-lização, podendo assegurar a alimentação. Além disso, pode possibilitar um maior equilíbrio biológico no agroecossistema, pois uma vez apresentando maior diversi-dade de culturas em uma mesma área, ofe-rece também abrigos e alimentos alternati-vos aos inimigos naturais de insetos, pragas e fitopatógenos. Entretanto, em condições de solos tropicais pobres em nutrientes, com baixos teores de matéria orgânica e propriedades físicas que o tornam difícil de manejar, as culturas podem apresentar um crescimento limitado e baixa capacidade produtiva, sobretudo quando conduzidas em sistemas de cultivo que não priorizam o fornecimento de matéria orgânica e repo-sição de nutrientes, os quais predominam no Maranhão.

O menor valor médio de sustentabilidade ambiental (1,425) foi apresentado na área de pastagem em estado de degradação, um reflexo do manejo inadequado das pasta-gens, resultado de taxas de lotação inade-quadas e não reposição de nutrientes (Figu-ra 2). As pastagens em estado de deg(Figu-radação constituem um sério problema ambiental

no estado do Maranhão. Lisboa et al. (2016) constataram relação entre indicadores de qualidade do solo e níveis de degradação de pastagens, sendo os mais sensíveis a ma-téria orgânica leve e o conteúdo de Ca + Mg na profundidade de 0 a 5 cm e o conteúdo de K nas camadas de 5-10 cm e 10-20cm, o que leva a considerar que a perda da fertili-dade do solo é uma das principais causas da degradação de pastagens.

Figura 2. Indicadores de sustentabilidade ambiental:

água, saneamento, uso de fertilizante, diversidade biológica, modalidade de cultivo, conservação do solo, fertilidade do solo, uso de defensivos, pragas e doenças, assistência técnica e produtividade em agroecossistemas do grupo 1.

Entre os agrossistemas do grupo 2, o menor valor de sustentabilidade foi obtido pelo cultivo consorciado (1,84), provavelmen-te como reflexo dos efeitos da agricultura itinerante praticada na região, baseada no sistema de corte-e-queima, o qual não fa-vorece a manutenção da matéria orgâni-ca do solo (Figura 3). Conforme ressaltam Chivenge et al. (2007) a matéria orgânica do solo constitui um fator importante para a fertilidade, produtividade e sustentabili-dade, sendo, portanto, um indicador chave em regiões tropicais.

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Figura 3. Indicadores de sustentabilidade ambiental:

água, saneamento, uso de fertilizante (adubação), diversidade biológica, modalidade de cultivo, conservação do solo, fertilidade do solo, uso de defensivos, pragas e doenças, assistência técnica e produtividade em agroecossistemas do grupo 2.

O sistema de corte-e-queima é o método de abertura de novas áreas utilizado por muitos agricultores tradicionais. A prática de mane-jo adotada tem contribuído para a alteração da composição atmosférica e do equilíbrio ecológico (DENNIS et al., 2013). O grande problema desse sistema, do ponto de vista agrícola,é a destruição da matéria orgânica e a não reposição dos nutrientes ao solo, além das fortes ameaças que esse sistema propor-ciona aos ecossistemas naturais.

O sistema de cultivo em aléias é pautado na reciclagem de nutrientes, além de possibili-tar os benefícios da cobertura do solo e pro-porcionar adição de matéria orgânica. Re-presenta, portanto, uma alternativa válida para o manejo do solo em regiões tropicais brasileiras. A matéria orgânica do solo cor-responde a um determinante da fertilidade, produtividade e sustentabilidade de agros-sistemas, configurando-se como um indi-cador usual de qualidade do solo em

con-dições tropicais (CHIVENGE et al, 2007). Sua dinâmica é influenciada pelas práticas de manejo adotadas tais como aplicação de fertilizantes minerais ou orgânicos, cober-tura do solo e remoção de restos culcober-turais (CHIVENGE et al., 2007).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As características edafoclimáticas e de ma-nejo dos agroecossistemas alteram os indi-cadores ambientais de sustentabilidade, os quais variam conforme a ocupação e sis-tema de uso do solo. Os sissis-temas de cul-tivo convencionais da agricultura familiar maranhense são menos sustentáveis e as técnicas de manejo conservacionistas, tais como o sistema de cultivo em aleias, são alternativas válidas para o uso sustentável dos agrossistemas locais.

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Tabela 1. Planilha de campo com os indicadores de sustentabilidade ambiental seleciona- seleciona-dos, questões para entrevista e pontuação para cada alternativa.
Figura 1. Indicadores de sustentabilidade ambiental:
Figura 2. Indicadores de sustentabilidade ambiental:
Figura 3. Indicadores de sustentabilidade ambiental:

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