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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEATRO MESTRADO EM TEATRO

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEATRO

MESTRADO EM TEATRO

IVO GODOIS

UM PALCO ILUMINADO

O Teatro Álvaro de Carvalho em Florianópolis – SC - Década de 1980 -

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IVO GODOIS

UM PALCO ILUMINADO

O Teatro Álvaro de Carvalho em Florianópolis – SC - Década de 1980 -

Projeto apresentado como requisito para o Exame de Defesa da Dissertação de Mestre em Teatro, Curso de Mestrado em Teatro, Linha de Pesquisa: Teatro, Sociedade e Criação Cênica.

Orientadora: Profa. Vera Regina Martins Collaço, Dra.

FLORIANÓPOLIS

2011

G588p Godois, Ivo

Um palco iluminado: o teatro Álvaro de Carvalho em Florianópolis – SC – década de 1980 / Ivo Godois, 2011

126 p. : il. ; 30 cm Bibliografia: p.121-126

Orientadora: Profa. Dra. Vera Regina Martins Collaço

Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Artes, Mestrado em Teatro, Florianópolis, 2011.

1. Teatro – Santa Catarina. – 2. Iluminação de cena. – I. Collaço, Vera Regina Martins. – II. Universidade do Estado de Santa Catarina. Mestrado em Teatro. III. Título

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IVO GODOIS

UM PALCO ILUMINADO

O Teatro Álvaro de Carvalho em Florianópolis – SC Década de 1980

-Esta dissertação foi julgada aprovada para a obtenção do titulo de Mestre em Teatro, na linha de pesquisa: Teatro, Sociedade e Criação Cênica, em sua forma final pelo Curso de Mestrado em Teatro, da Universidade do Estado de Santa Catarina, em 27 de março de 2011.

Profª Vera Regina Martins Collaço Drª. Coordenador do Mestrado

Apresentado à Comissão Examinadora, integrada pelos professores:

Profª. Vera Regina Martins Collaço, Drª. Orientadora

Prof.José Sávio Oliveira de Araújo ( Parecerista externo), Dr. Membro

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4 Dedico esta pesquisa à minha mãe: Dorvalina, que aos 90 anos presenciou o inicio deste trabalho, mas que atendeu aos chamados superiores e não assistiu a conclusão. Esta em outro plano a me acompanhar por todos os meus dias. Ela nunca freqüentou os bancos escolares, mas me ensinou os princípios fundamentais da dignidade e honestidade.

Dedico a Katia Haugg pelo companheirismo e carinho, mesmo quando a privei do convívio para realizar esta tarefa, ela foi parceira. Ao fruto de nossa relação, João Afonso que esta chegando para iluminar nossas vidas.

Dedico a Márcia Porto, eterna amiga.

Dedico a Professora Drª Vera Regina Martins Collaço, que nos meus momentos de fraqueza não me deixou ficar pelo caminho, me orientou com todo o seu empenho e carinho até a conclusão desta tarefa.

Dedico ao Professor Dr. Jose Ronaldo Faleiro, “mestre” em simplicidade, carinho e motivação para a conclusão desta pesquisa.

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RESUMO:

Nesta dissertação analiso os processos de aprendizagem sobre iluminação cênica pelo corpo técnico do Teatro Álvaro de Carvalho (TAC), em Florianópolis, na década de 1980. Aponto o técnico em iluminação do TAC, Carlos Antônio Falcão Cavalcante Lins como uma pessoa fundamental na disseminação deste conhecimento, pesquisa esta composta em três capítulos, sendo que o primeiro capítulo denomina-se Espaço e Entorno: iluminar os arrabaldes, cujo foco está na análise da parte externa da edificação e suas relações circunvizinhas. Neste capítulo abordo as transformações ocorridas na aparência externa desta edificação até a sua configuração final na década de 1980. No segundo capítulo, denominado: O Teatro Visto da Ponte: iluminar os bastidores adentro no espaço que abriga o espectador, ou seja, o lado interno do TAC. Descrevo suas modificações ao longo dos anos, a configuração de um palco com tipologia à Italiana, as escadarias, cabine de operações técnicas, corredores subterrâneos e a caixa cênica onde se executam os efeitos de iluminação, incluindo evolução histórica sobre a iluminação nessa casa. O terceiro capítulo denomina-se: A Luz do Aprendizado: Bastidores do Conhecimento, no qual descrevo os processos de aprendizagem e transmissão dos conhecimentos na área de iluminação cênica na década de 1980. Apresento definições de termos técnicos, os iluminadores que trabalharam na casa, com enfoque no aprendizado desses profissionais de iluminação. No encerramento deste capítulo faço uma abordagem sobre o técnico e iluminador Carlos Falcão, narrando-o como disseminador desses conhecimentos em Florianópolis e por extensão no estado catarinense.

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SUMMARY:

In this dissertation I analyze the learning processes about stage lighting by the staff of the Theatre Alvaro de Carvalho (TAC) in Florianopolis, in the decade of 1980. I show the TAC's lighting technician, Carlos Antonio Falcon Lins Cavalcanti, as a key person in the dissemination of this knowledge. This research consists in three chapters, and the first chapter is called Space and Around:to illuminate the arrabaldes, whose focus is on analysis of the outside of the building and its surrounding relations. In this chapter I explore the transformations in the external appearance of this building until the final layout of the decade 1980. In the second chapter, titled The Theatre seen of the Bridge: to illuminate the background, I propose to enter into the space that houses the viewer, in other words, the inside of the TAC. I describe its evolution and changes over the years, setting a stage with the Italian type, stairways, walk-in technical operations, underground hall and the box where you execute the scenic lighting effects, including the historical evolution of the lighting in this house. The third chapter is called The Light of Learning: Making of Knowledge, in which describe the processes of learning and transmission of knowledge in the field of stage lighting in the decade of 1980. Present definitions of technical terms, the illuminators who worked at home, with focus in the learn of those lighting professionals. In the end of this chapter I do an approach about the technical and illuminating Carlos Falcon, telling him how the disseminator of knowledge in

Florianopolis and by extension in Santa Catarina state.

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SUMÁRIO

Lista de Imagens 09

Lista de Abreviaturas/Siglas ___________ 10

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I

ESPAÇOS E ENTORNOS: Iluminar os arrabaldes __________ 16

1.1 APORTAR NOS BASTIDORES DO TAC – Conhecer a Orla e a

Ponte da Cena 16

1.1.1 Percalços de uma construção 17

1.1.2 Obra pronta!!!!... Pronta?...????... 19

1.1.3 Muda-se um nome e começa uma nova – mesma – história 21

1.2 OS ARRABALDES DO NOVO TEATRO 22

1.3 OCUPAÇÕES REAIS E IMAGINADAS PARA O TAC 32

1.3.1 Bem na fita, mal na cena. Meio século de cinema____________ 33

1.4 REFORMAR OU DEMOLIR? 35

1.4.1Outras reformas nem tão radicais 40

1.4.2 A gerência do teatro 42

CAPÍTULO II

O TEATRO VISTO DA PONTE: Iluminar os bastidores __________46

2.1 AS REFORMAS INTERNAS NO TAC – configurando um palco à

Italiana 46

2.1.1Um palco não definido 47

2.1.2 Configura-se o teatro à italiana 42

2.2 DE ONDE SE VÊ A CENA 54

2.2.1 Entre espaços_____________________ 54

2.2.2 A caixa cênica e o TAC – A Ilha Mágica 61

2.2.3 Bastidores da Luz – Equipamentos e Espaço Técnico 69

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2.2.3.1 A Carga Elétrica de um Teatro 74

2.2.3.2 As ferramentas de iluminação 76

CAPÍTULO III

A LUZ DO APRENDIZADO: Bastidores do Conhecimento__________83

3.1 PINCELADAS DE DEFINIÇÕES 83

3.1.1 O Técnico-Eletricista____________________________________84

3.1.2 O Operador de Luz 85

3.1.3 O Iluminador 86

3.2 AGENTES DA ILUMINAÇÃO NO TAC 87

3.3 A LUZ: BASTIDORES DO APRENDIZADO 90

3.3.1 Iluminadores Influentes 90

3.3.2 Grupos e Companhias 97

3.3.3 Absorver e Disseminar - Luz _____102

3.4 CARLOS FALCÃO – UMA HISTÓRIA DE LUZ _____107

CONSIDERAÇÕES FINAIS ________________ 117

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9 LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 Vista do antigo Theatro Santa Izabel. 20 Imagem 2 Vista do Teatro Álvaro de Carvalho. 23 Imagem 3 O TAC – século XX. Óleo sobre tela. 35 x 45. 24 Imagem 4 Vista da rua Arcipreste Paiva, mostrando os fundos da Catedral

Metropolitana, obras de demolição de casas para construção da futura sede da Assembléia Legislativa de Santa Catarina.

24

Imagem 5 Vista à esquerda a Assembléia Legislativa, à direita o Tribunal de Justiça, e ao centro a Praça Pereira Oliveira, remodelada para ser condizente com a importância de seus vizinhos.

25

Imagem 6 Vista do Teatro Álvaro de Carvalho, da Praça Pereira Oliveira e do

entorno da praça e do teatro. 27

Imagem 7 Vista do Teatro Álvaro de Carvalho, Praça Pereira Oliveira e do

entorno da praça e do teatro. 27

Imagem 8 Visão externa do TAC antes da reforma de 1955. 28

Imagem 9 Vista aérea de Florianópolis 30

Imagem 10 TAC na década de 1970. 30

Imagem 11 Fachada externa do Teatro Álvaro de Carvalho na década de 2000. 32 Imagem 12 Planta arquitetônica da fachada frontal do Teatro Álvaro de Carvalho

após a reforma do edifício em 1955. 38

Imagem 13

e 14 Teatro Álvaro de Carvalho no século XXI. Após a reforma de 2000-2003. Com a aparência externa que lhe deu a reforma de 1955. 38 Imagem 15 Teatro Álvaro de Carvalho no século XXI. 39 Imagem 16 Visão interna do TAC provavelmente na década de 1920 ou 1930.

Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. 50

Imagem 17 Imagem do interior do TAC durante a reforma de 1984. 53 Imagem 18

e 19 Foto do Foyer do TAC visualizando as escadarias e entradas para a plateia, os camarotes e a galeria. 55 Imagem 20

21, 22 e 23 Foto das escadarias de acesso interno no TAC. 56 Imagem 24 Túnel subterrâneo do TAC. Visão de quem se encaminha dos

bastidores do palco para a entrada do teatro. 57

Imagem 25 Foto da reforma de 1984 quando a cabine de luz e som do TAC foi

transferida para o centro da galeria. 57

Imagem 26 Foto que permite a visão da cabine de luz e som no centro da

galeria/balcão. 58

Imagem 27 Visão do palco a partir da cabine de luz e som do TAC. 60 Imagem 28 Visão do palco a partir da cabine de luz e som do TAC 63 Imagem 29 Coxias e bastidores à direita do palco. 63 Imagem 30 O TAC, a caixa cênica no seu interior 64 Imagem 31 Imagem do palco italiano com todos os seus elementos. 65 Imagem 32 Varanda da esquerda. Contrapesos e encordoamentos do TAC. 67

Imagem 33 Imagem do urdimento do TAC. 68

Imagem 34

e 35 Renato Conradi na cabine do TAC no início da sua carreira de operador sonoro. 103 Imagem 36 Equipe técnica do CIC em 1984, incorporada pelos técnicos do TAC. 107 Imagem 37 Renato Conradi e Carlos Falcão manuseando um canhão seguidor. 114

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LISTA DE ABREVIATURAS / SIGLAS

TAC Teatro Álvaro de carvalho 09

IOESC Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina 12

CEART Centro de Artes 13

UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina 13

MASC Museu de Artes de Santa Catarina 22

FCC Fundação Catarinense de Cultura 22

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina 24

ELETROSUL ELETROSUL Centrais Elétricas S/A 29

CELESC Centrais Elétricas do Estado de Santa Catarina 73

INACEN Instituto Nacional de Artes Cênicas 81

FUNARTE Fundação Nacional de Artes 93

CIC Centro Integrado de Cultura 93

FECATE Federação Catarinense de Teatro 115

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INTRODUÇÃO

Nesta dissertação tenho por intenção conduzir o leitor para o outro lado do espetáculo cênico. A proposta não é adentrar em um espaço de representação apenas pela porta da frente, para transitar nas escadas de madeira, cerâmica, mármore ou pelos corredores ornados e belos, sentar nas confortáveis poltronas e admirar o encantamento da obra artística ou a habilidade do ator. O sentido dessa escrita é encaminhar o leitor a um ângulo oposto da cena. Conduzi-lo também pelos caminhos não visíveis para o público no momento do espetáculo. Transitar pelos subterrâneos espaços dos porões onde se abrem os alçapões para o palco, pelos estreitos corredores do sótão e suas cabines de operações de equipamentos técnicos ou as pequenas aberturas no teto de onde os aquecidos projetores emitem, além do calor vindo da incandescência dos filamentos das lâmpadas, a luz em uma angulação adequada para a boa visão da cena, pelas laterais do palco e suas inúmeras cordas de sisal, cordões de aço, roldanas e engrenagens que facilitam o subir e descer dos elementos e adereços componentes do cenário, interligados à parte superior do palco denominada de urdimento.

Esta escrita visa, portanto, chegar à cena pela retaguarda, pela porta dos fundos da casa de espetáculo, entrar pela área de serviço e observar o ângulo operacional, o agente cênico que manobra a corda, o fio cabo de sinal de luz e som ou os adereços do espetáculo guardados nas coxias, atrás dos bastidores. Observar, assim, a magia que se operacionaliza distanciada do olhar do espectador, da qual, na maioria das vezes, ele não chega a tomar conhecimento. Para grande parte do público presente a um espetáculo é como se essa tal magia fosse “ausente” ou mesmo imaginada como “natural” no decorrer da cena.

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12 visualização da cena. Foco nesta escrita os procedimentos e mecanismos da luz no palco. Esse teatro foi inaugurado em 1875, com o nome de Theatro Santa Izabel. Sua denominação para Teatro Álvaro de Carvalho se deu em 1894, após a Revolução Federalista1, quando várias ruas, edificações e a própria cidade tiveram nomes modificados, inclusive o Theatro Santa Izabel, que passou a denominar-se Teatro Álvaro de Carvalho em homenagem ao primeiro dramaturgo catarinense – Álvaro de Carvalho – um herói da guerra do Paraguai. O TAC, como é normalmente citado, logo após a sua inauguração foi incorporado pelo Governo do Estado para quitação de dívidas contraídas durante a sua construção.

Entre os autores que realizaram estudos sobre o Teatro Álvaro de Carvalho estão Vera Regina Martins Collaço, em sua dissertação de mestrado, de 1984, denominada Um Painel do Teatro Catarinense no século XX; Leon de Paula também em sua dissertação de mestrado de 2008: Ecos dos Sermões, e Paulo Clovis Schmitz, em seu livro Pequenas Histórias do Teatro Álvaro de Carvalho, publicado em 2005. Esses autores analisam diferentes aspectos da história do TAC, mas nenhum deles tem seu olhar voltado para a problemática aqui estudada, ou seja, esses autores não realizaram um estudo sobre a iluminação do TAC. Tais trabalhos foram significativos para compreender a história desse teatro – sua construção, organização interna, reformas, etc. A minha contribuição se dá no sentido de abordar este teatro por outro ângulo, ou seja, empreender uma abordagem dos mecanismos, da estrutura e do pessoal voltado para a iluminação do espaço referenciado. E observo que o assunto não foi analisado pelos estudiosos citados.

Portanto, meu projeto de pesquisa para esta dissertação uniu os dois elementos acima expostos: o Teatro Álvaro de Carvalho e a iluminação cênica, com um recorte temporal centrado na década de 1980. A escolha deste tema está

1 De modo sintético podemos dizer que essa revolução uniu os três Estados do Sul do Brasil numa

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13 imbricada com os meus caminhos na área teatral, em 1990, quando comecei a trilhar este tortuoso e fascinante “caminho sem volta” da arte. E comecei pela iluminação de forma acidental, tendo que desempenhar esta função no grupo amador ao qual me agreguei, na cidade de Chapecó, no Oeste Catarinense, por não ter ninguém que fizesse este trabalho de que o grupo necessitava. O jeito foi improvisar-me iluminador. E o TAC foi uma fonte de informações para estes primeiros passos. Seu pessoal técnico orientou-me na construção improvisada de projetores de luz com chapas de aço e lâmpadas incandescentes de 200 watts encontradas nos armazéns e pequenos mercados, e passíveis de controle de intensidade de potência comprados em lojas de materiais elétricos.

Do improviso inicial segui em busca de maiores “iluminações”, e ingressei no Curso de Educação Artística - Habilitação em Artes Cênicas, do Centro de Artes, da UDESC, em 1997. Ao mudar-me para Florianópolis, também ingressei no Grupo Teatro Sim... Por Que Não?!!!, como operador de luz e assistente técnico na área. A partir daí, meu envolvimento com a iluminação foi perdendo seu caráter amadorístico e o seu aprendizado demonstrando-se difícil, especialmente pela ausência de estruturas acadêmicas para esse ensino/aprendizagem. Em 2003, após o término de meus estudos universitários, ingressei como profissional técnico de luz contratado, por concurso público, para atuar no Centro de Artes/UDESC. E o trabalho exigia, cada vez mais, informações didatizadas para servir aos acadêmicos e aos docentes do CEART.

Do caminhar inicial até o curso de mestrado surgiram inúmeras possibilidades de estudo, mas sempre tendo por foco e preocupação básica a problemática da iluminação. Preocupado em ter um objeto de pesquisa bem delineado e um recorte temporal preciso, uni a história do TAC com o processo de iluminação cênica desse espaço. Com isso tive a possibilidade de analisar, num campo bem delimitado, a estrutura de iluminação de um espaço teatral, sua estrutura histórica, suas modificações, seu corpo técnico e como se elaborou o conhecimento de luz do corpo técnico desse teatro.

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14 foram diretamente auxiliadas por estes na década de 1980. Ao mesmo tempo,

também empreendi uma grande pesquisa nos jornais e revistas da década de 1980, material existente no acervo da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina. Neste material procurei informações referentes à iluminação do TAC com relação aos espetáculos que ali foram apresentados. A esse material acrescentei uma busca por programas, cartazes, vídeos, fotos e outros materiais de divulgação dos grupos e espetáculos que se apresentaram nesse teatro, na década de 1980. Na Biblioteca Pública centrei-me na possibilidade de encontrar informações sobre as companhias que vieram para Santa Catarina, e também levantei dados sobre os grupos locais. Dessa forma, consegui levantar nomes de pessoas e de seus trabalhos para posterior averiguação e entrevistas.

Para desenvolver o trabalho aqui proposto pautei-me pelos parâmetros de uma pesquisa qualitativa, com apoio de conceitos da História Cultural e dos estudiosos brasileiros contemporâneos sobre a problemática da iluminação cênica. Neste sentido, me foram imprescindíveis as obras de Roberto Gil Camargo (2000), de Edgar Moura (2001), de Israel Pedrosa (2002) e de Beato Prenafeta (2005).

No desenvolvimento do trabalho elaborei esta dissertação em três capítulos. O primeiro capítulo foi denominado de Espaço e Entorno: iluminar os arrabaldes. Neste recorte dirigi a atenção para a parte externa da edificação e suas relações de circunvizinhanças. O objetivo aqui é discutir as transformações e intervenções realizadas no exterior e no arredor do edifício teatral, com o objetivo de investigar como o Teatro Álvaro de Carvalho adquiriu a configuração que o caracterizava na década de 1980.

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15 efeitos de iluminação, incluindo evolução histórica sobre o sistema de iluminação nesta casa de espetáculo.

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CAPÍTULO I - ESPAÇO E ENTORNOS: iluminar os arrabaldes

Neste capítulo tenho como objetivo adentrar no universo do Teatro Álvaro de Carvalho por outras portas, que não somente a porta de entrada central do recinto. Para isso, nesta etapa do trabalho dirigirei o foco da atenção para a edificação em si, para o seu entorno, para as modificações externas do prédio e de suas relações circunvizinhas. O objetivo aqui é discutir as transformações e intervenções realizadas no exterior e no entorno desse edifício teatral, com a intenção de investigar como o Teatro Álvaro de Carvalho adquiriu a configuração que o caracterizava na década de 1980, recorte temporal deste estudo. Ao fazer isso, acabo trazendo para a discussão um pouco das transformações que ocorreram no principal edifício teatral de Florianópolis até a década estudada.

Antes de encaminhar-me no assunto em questão, desejo esclarecer que o termo “bastidor” foi empregado nesta escrita além de seu sentido usual, ou seja, de ser um painel móvel feito de madeira leve e revestido de tecido, cuja função é de ocultar dos espectadores o interior do palco. É do senso comum aos praticantes da atividade cênica a utilização da palavra “bastidor” como metáfora do que se passa no “interior” do teatro, ou seja, o que ocorre antes, durante e depois das apresentações e não é revelado ao público através da cena. A palavra bastidor, tal como a usarei nesta escrita, estará mais relacionada com o universo interno do ato teatral e com o espaço cênico, referindo-se nesse segundo caso ao espaço do corpo técnico e do corpo artístico quando fora da cena, do que com o objeto facilitador de ilusão cênica.

1.1 APORTAR NOS BASTIDORES DO TAC– Conhecer a Orla da Cena

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17 posição histórica na cidade de Florianópolis, de sua edificação, bem como de sua fachada e transformações na aparência externa. Ou seja, primeiro vamos observar essa edificação nos aspectos externos, enquanto arquitetura, falar um pouco de sua existência como edifício teatral, para depois, (retirar a vírgula) caminharmos sobre uma ponte histórica e sociológica, segurar nos tênues fios de dados e adentrarmos no espaço da cena dando, assim, luz aos bastidores do palco.

1.1.1 Percalços de uma construção2

A 8 de outubro de 1854, um grupo de jovens, (retirar a vírgula) da capital catarinense, (retirar a vírgula) organiza uma sociedade com fins de construir um teatro para a cidade, visto não possuir a pequena Nossa Senhora do Desterro nenhum edifício, até então, levantado especificamente para servir como teatro. A prática cênica na cidade se fazia em espaços adaptados; atuava-se e se assistia a representações, portanto, em espaços improvisados e precários. Daí o desejo e a ambição de construir um espaço “digno” para o exercício teatral. A junção daqueles jovens levou o nome de Sociedade Empreendedora. Mas, dificuldades de toda ordem, financeiras e administrativas, paralisavam a proposta, apesar da entrada dos recursos por parte dos associados, o que provocava inúmeras críticas nos jornais locais. A 29 de julho de 1857, a sociedade lançou a pedra fundamental do futuro edifício teatral, no alto da Rua dos Ilhéus. Entre idas e vindas, a única obra que realmente avançou foi a denominação do futuro teatro, que a Sociedade deliberou, em 1858, para se chamar “Theatro Santa Izabel”, demonstrando assim um vínculo de simpatia com a monarquia imperial vigente no país.

Em 1859, as dificuldades financeiras levaram a sociedade a solicitar empréstimo ao governo provincial, ação concretizada através da Lei n0 469, de 27

2 Para maiores detalhamentos sobre o Theatro Santa Izabel ver: COLLAÇO, Vera Regina Martins.

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18 de abril de 1859, tendo a obra como garantia desse empréstimo. Estava selado assim o vínculo de ligação entre o prédio a ser construído e a Administração Pública. Em 1861 o governo voltou a emprestar recursos públicos para o término do teatro, mais especificamente para efetuar a cobertura do recinto, através da Lei n. 507, de 23 de abril de 1861. E mais uma vez o edifício do teatro era a garantia do pagamento do empréstimo. Em 1864, o Poder Administrativo provincial prorrogou o prazo para que a Sociedade efetuasse o pagamento do empréstimo. (Collaço, 1984:46).

Os anos passavam e a obra do novo teatro não avançava quase nada. Através da Lei n0 576, de 20 de junho de 1866, o governo de Santa Catarina foi autorizado, pela Assembléia Legislativa, a adquirir o teatro em construção. Mesmo autorizado, o Presidente da Província não tomou conta do espaço de imediato. O teatro, de acordo com o jornal local A Regeneração, de 30 de junho de 1878, encontrava-se em ruínas. Como solução para livrar-se das despesas, o governo colocou o edifício em leilão público, mas não apareceu nenhum interessado. As contas e a obra inacabada ficaram para a Administração do Estado. Talvez se apóie nesse fio de desinteresse inicial a conduta administrativa que irá permear toda a história do recinto. O teatro, ainda inacabado, foi utilizado pela primeira vez a 08 de junho de 1871, “pela Associação Bohemia Dramática Paulistana, que acomodou o melhor que lhe foi possível o edifício não terminado do Theatro Santa Izabel”.3

Antes da inauguração oficial o local foi utilizado para outras apresentações, dessa vez pela Real Companhia Italiana, que apresentou seu espetáculo de 23 de outubro a 16 de novembro de 1873. O edifício se deteriorava, e o Governo provincial solicitou à Assembléia Legislativa a autorização para contratar serviços, em maio de 1874, para término das obras de construção do teatro.4

3A Regeneração. Florianópolis, 08 de junho de 1871. (dar um espaço) OBS. Os jornais e outros

documentos do século XIX e da primeira metade do século XX tem por fonte: Collaço 1984. Porém, a pedido desta, fui às fontes citadas para reafirmá-las. Por essa razão os documentos e não Collaço.

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1.1.2 Obra pronta!!!!!.... Pronta...?????...

A obra finalmente, após 21 anos, chega ao fim e o Theatro Santa Izabel foi oficialmente inaugurado a 07 de setembro de 1875 (retirar a vírgula) com a peça

Amor e Infância, apresentada pela Sociedade Dramática Particular Recreio

Catarinense. A iluminação na Ilha e, provavelmente, no interior da casa era composta por candeeiros e lampiões a querosene. (diminuir um espaço) A sua inauguração foi um evento que contou com a presença do Presidente da Província e de altas autoridades de seu governo. Houve discursos, fanfarra musical e teatro. Finalmente a capital catarinense podia desfrutar de um edifício (retirar a vírgula) com condições apropriadas para abrigar a cultura cênica.

A partir da inauguração, em 07 de setembro de 1875, o teatro foi administrado por José Feliciano Alves de Brito (1830 – 1889), na forma de arrendamento com o Estado. O arrendatário tinha a responsabilidade de manter o teatro em condições de uso, incluindo as condições de luminosidade. Cabia ao empresário a responsabilidade pelo término das obras no teatro, e, por isso, passou a ter o direito de usufruir dele até o pagamento da última parcela do contrato com o governo. No final de 1878 a administração provincial liquidou a dívida com o empresário, e com isso assumiu o teatro. E coube ao governo estadual, a partir daí, o arrendamento desse espaço. Em fevereiro de 1879, sob essa nova tutela administrativa, o teatro foi arrendado para José de Araújo Coutinho e João Gil Ribas.5 O órgão estadual, contudo, manteve um elemento de

ligação com o espaço ao designar um “fiscal do teatro” para acompanhar os trabalhos e informar ao governo sobre o funcionamento do recinto artístico.

Num relatório destinado ao Presidente da Província, datado de 11 de novembro de 1879, Francisco de Paula Senna Pereira, fiscal do Theatro Santa Izabel, solicitava uma pintura e caiação geral para o edifício, que estava em estado de deterioração visível. O relatório encaminhava, também, uma série de outras sugestões para melhorar o interior da edificação, que serão objeto de análise no segundo capítulo. Das sugestões propostas no relatório do fiscal do teatro, muito pouco foi consolidado nos anos seguintes. Em 1881, pelo texto do Presidente da Província, João Rodrigues Chaves (1830 – 1902), é possível saber

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20 o que foi realizado no teatro: foi construído um escritório, talvez para a parte burocrática do teatro; foi aberta uma janela para o lado da Rua Espírito Santo (depois Padre Miguelinho), para a venda de bilhetes. Essa janela, no início do século XX, vai se transformar numa porta, dando acesso ao teatro pela lateral. O terreno do lado e em frente ao teatro foi aplanado. E, por fim, foi construído um “guarda-vento” na porta principal (Collaço, 1984:90).

Os mesmos aspectos faziam parte do relatório do Presidente da Província, Francisco Luiz da Gama Rosa, à Assembléia Legislativa, em 1883. Nesse ano, o governo contratou, por licitação, a realização de melhorias no espaço teatral. As obras vão se prolongar até o ano de 1885. Demoradas reformas foram uma constante na história dessa casa de espetáculos.

No ano de 1886 o governo autorizou a solicitação da Comissão Administradora do Teatro, comissão instituída em 1884, para erguer “dois chalets (sic) nos terraços laterais da escadaria em frente ao teatro. Porém, o projeto estava afeiando (sic) completamente a fachada do edifício e foi suspenso” (Collaço, 1984:93). Dessa obra restaram os dois cubos de concreto colocados em cada lateral da fachada da edificação, perceptível na foto abaixo, que é a mais antiga que possuímos da edificação.

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21 No relatório de 1888, o Presidente da província reconhecia que o teatro carecia de grandes obras para torná-lo mais condizente com o seu objetivo. Mas, relatava que devido a problemas financeiros, se faziam apenas as obras emergenciais e que demandavam pequena despesa.

1.1.3 Muda-se um nome e começa uma nova – mesma – história

Na tumultuada passagem do Império para a Primeira República o Governo de Santa Catarina, juntamente com o do Rio Grande do Sul, se rebelou com a derrocada do Império6. Os Estados resistentes foram dominados pela força das armas da Primeira República, e para Santa Catarina foi nomeado como interventor estadual o Coronel de Infantaria do Exército Antônio Moreira César (1850-1897), que promoveu um “ajuste de contas” com os rebeldes. No que diz respeito ao enfoque desta pesquisa, importa destacar que durante esta intervenção o teatro, bem como outros edifícios significativos e ruas da cidade, mudaram de nome, passando a homenagear heróis da República nascente. Com isso se marcava, de forma extremamente enfática, a passagem para uma nova realidade política do país.

Através “da Resolução no 1201, de 02 de julho de 1894, o teatro muda a

denominação de Theatro Santa Izabel para Teatro Álvaro de Carvalho” (Collaço, 1984:71). O novo nome era uma homenagem a um herói morto em 1865, na Guerra do Paraguai, e considerado o primeiro dramaturgo catarinense – Álvaro Augusto de Carvalho (1829-1865).

A capital do Estado de Santa Catarina foi intensamente ferida por essas mudanças nominais para firmar a nova realidade. No primeiro governo de Hercílio Pedro Luz (1860 – 1924) que teve vigência nos anos de 1894 à 1898, a

6 A Revolução Federalista – 1893-1894. A 04 de outubro de 1893 a Assembléia Legislativa de

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22 cidade mudou o nome de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis, numa homenagem ao governante da República, transformando-se na Pólis de Floriano ou cidade de Floriano Peixoto, através da Lei no 111, de 01 de outubro de 1894. O teatro manteve-se arrendado a terceiros e procederam-se melhorias no recinto, como a aquisição de um lustre para iluminar o salão que antecedia à entrada da platéia. O espaço teatral ficou, a partir de 1899, subordinado à Secretaria dos Negócios do Interior e da Justiça. Esta secretaria ficou responsável pelas melhorias no espaço, bem como pela cessão da mesma mediante pagamento de taxas de aluguel.

Ao longo do século XX, a gestão do Teatro Álvaro de Carvalho esteve subordinada a diferentes secretarias e órgãos do executivo estadual. A partir da segunda metade do século XX, este teatro passou a ter um diretor, designado pelo governo e vinculado aos diferentes órgãos a que esteve submetido o teatro7.

Mas a sina de abandonos e reformas, nem sempre positivas, continuaram.

1.2 OS ARRABALDES DO NOVO TEATRO

O edifício do Teatro Álvaro de Carvalho está situado a leste da Praça XV de Novembro, vindo a compor o denominado Centro Histórico da cidade de Florianópolis, que é representado pela Praça XV de Novembro e ruas adjacentes, “local inicial de povoamento e até hoje o centro funcional da cidade” (Veiga, 2008:156). Posicionado de frente para a praça e para o mar, também se localiza aos fundos da catedral metropolitana, centro religioso da cidade.

O teatro está localizado na Rua Marechal Guilherme, 26, sendo que a lateral esquerda dá para a Praça Pereira Oliveira e a outra, da direita, para a Rua dos Ilhéus; e os fundos para a Rua Santos Dumont. Quando o terreno foi adquirido, em 1854, pelos jovens empreendedores, para construir o novo teatro,

7 Em março de 1979 o teatro, bem como outras instituições de cultura de Florianópolis, como o

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23 este era um espaço nas margens finais do centro. Ficava, portanto, nas franjas do limite da cidade. E sua condição de marginalidade deixava suas ruas e proximidades em situações precárias e sem a iluminação das poucas tochas de óleo de baleia que a cidade dispunha.

Assim, desde a inauguração do Theatro Santa Izabel, o comando administrativo provincial recebia demandas, propostas e relatórios para realizar benfeitorias no entorno do teatro: “Em 1875, foi apresentado ao Presidente da Província, Bandeira de Mello Filho, o orçamento para o calçamento das ruas já abertas ao redor do Theatro Santa Izabel (Atual TAC)” (Veiga, 2008:270). Mas nada era concretizado, tanto que cinco anos mais tarde, em 1880, o engenheiro Polydoro Olavo de S. Thiago apresentou ao Presidente da Província, Antonio de Almeida Oliveira, “orçamento que incluía a conclusão da escavação necessária ao lado do Theatro Santa Izabel para o prolongamento da rua do Espírito Santo (Pe. Miguelinho) até a do Artista Bittencourt” (Veiga, 2008: 270-271). E apenas em abril de 1880 é que a frente do teatro, a Rua Marechal Guilherme, foi terraplanada, mas continuava-se a orçar o calçamento ao redor do teatro. E, dez anos depois, “em 1890, foi apresentado ao governador do Estado o orçamento para calçar em torno do teatro [...] tendo o passeio 1,5 metros de largura” (Veiga, 2008: 272) .

Imagem n. 02 – Vista do Teatro Álvaro de Carvalho (ainda com o nome de Santa Izabel), e seu entorno, provavelmente na década de 1890, pois, na foto já se encontra terraplanada a frente do teatro e há uma calçada ao redor da edificação. Mas é anterior à década de 1900, pois o Colégio Coração de Jesus, alto da colina à direita, só foi ampliado em 1902. Fonte: Collaço, 1984:78

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24 perceber com maior riqueza de detalhes a vida no entorno desse teatro, bem como as ruas ao seu redor.

Imagem n. 03 – Vista do Teatro Álvaro de Carvalho (ou ainda com o nome de Santa Izabel, não se sabe ao certo), e seu entorno numa recriação do artista Domingos Fossari8

A partir da imagem acima, podemos perceber que o edifício do teatro é o prédio mais significativo da circunvizinhança. Percebe-se, também, que as ruas não são calçadas e a Praça Pereira Oliveira, situada à esquerda do teatro, não possui nenhum embelezamento, nem está totalmente nivelada, mas a frente do teatro está terraplanada e existe uma calçada ao redor da edificação. Essa situação vai sofrer radical transformação na primeira década do século XX. Na imagem abaixo vemos o entorno, ao lado esquerdo do teatro, antes das transformações que se deram na primeira década do novo século.

Imagem n. 04 – Vista da rua Arcipreste Paiva, mostrando os fundos da Catedral Metropolitana, obras de demolição de casas para construção da futura sede da Assembléia Legislativa de Santa Catarina. Como a Assembléia foi inaugurada em 1910, a imagem acima deve ser do começo da preparação para dar início à obra, no início dessa década. A imagem mostra, portanto, as circunvizinhas do Teatro Álvaro de Carvalho no início do século XX.

Fonte: http://fotolog.terra.com.br/paulo_hildebrand:48. Acesso: 17 jan. 2010.

8 TAC – século XX. Óleo sobre tela. 35 x 45. Imagem obtida em: MAKOWIECKY, Sandra. A

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25 Em 1907, o governo municipal promoveu novas obras nas proximidades do teatro. Desta feita, escavando o terreno compreendido entre a Praça Pereira Oliveira, Igreja do Rosário, rua Marechal Guilherme, e Artista Bittencourt, até deixar o terreno no mesmo nível da praça Pereira Oliveira na face que dá para a rua Marechal Guilherme, removendo o referido aterro. Nesta oportunidade, o Governo abriu concorrência para a venda e demolição dos prédios adquiridos por utilidade pública, situados à rua Marechal Guilherme (Veiga, 2008: 272).

Imagem n. 05 – Vista à esquerda a Assembléia Legislativa, à direita o Tribunal de Justiça, e ao centro a Praça Pereira (diminuir um espaço) Oliveira, remodelada para ser condizente com a importância de seus vizinhos. O Teatro Álvaro de Carvalho ganhava um importante vizinho em 1910, com a inauguração da Assembléia Legislativa de Santa Catarina. Foto da década de 1920.

Fonte: http://www.ihgsc.org.br/18.htm

Em 17 de setembro de 1910, foi inaugurado o novo prédio da Assembléia Legislativa, chamado de Palácio do Congresso do Estado, construído na gestão do governo de Gustavo Richard (1906-1910). No seu governo foi reformulada a Praça Pereira Oliveira e o Teatro Álvaro de Carvalho. Assim, para compor um novo cenário, o TAC passou por uma maquiagem, especialmente externa, que lhe melhorava a aparência para conviver com vizinhos tão ilustres.

Essas transformações na cidade de Florianópolis diziam respeito a uma política de modernização que irradiava do governo Central, ou seja, do Rio de Janeiro, a capital do País, e ia contaminando o tecido social nacional, visando a atender o anseio de modernidade de parte da elite brasileira. Conseqüentemente,

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26 cotidiano da população de Florianópolis e para alterações na sua paisagem urbana, especialmente entre 1910 e 1930" (2003:58).

Essas transformações não se fizeram sem perdas e dores. Ao alongar a ruas, criar novas vias de passagens, calçar, delimitar espaços, a paisagem urbana ia sendo irreversivelmente alterada. Era preciso, também, deslocar as classes sociais que não eram condizentes com o novo traçado da cidade, que se desejava moderna. Assim, após a inauguração, a Assembléia Legislativa, em 1910, promoveu a desapropriação de “vinte casas e terrenos que formavam o alojamento ‘Cidade Nova’. Sua demolição foi considerada essencial para o ‘bem da higiene e embelezamento da cidade’, já que se localizavam nas proximidades do então novo prédio do Congresso Representativo e do Teatro Álvaro de Carvalho” (Neckel, 2003:58-59). Alguém registrou essa demolição, que são transcritas abaixo com o intuito de deixar explícita a população que vivia nas cercanias do teatro e que dali foi retirada(retirar a vírgula) para dar mais nobreza, não tanto ao teatro, mas aos órgãos políticos que lhe eram vizinhos:

[...] esbarrava-se meu olhar na destruição da antiga “cidade nova” onde era o refúgio e o abrigo dos pobres que, quer queiram, fazem parte do povo, assistindo-lhes o direito de viverem como qualquer abastado cidadão, no centro de uma cidade.

Nessas pequenas casas residiam cooperantes do progresso tais como pedreiros, carpinteiros, broquiadores etc..., os quais foram dali arrojados para viverem nas matas pois seus salários não lhes dão para pagarem casas de 50-60$000.[...]

A desculpa ou razões que se deram para demolição da “cidade nova” foi ficar muito feio aqueles cortiços ao lado do novo congresso, onde se assentaria um jardim ou far-se-ia um decente largo (Neckel, 2003:67-68).9

O entorno do TAC ainda sofreria muitas alterações. De sua rusticidade, no final do século XIX, adentra na primeira metade do século XX transformado num local aprazível para morar. As ruas no seu entorno começam a ser ocupadas por residências de ‘qualidade’, fazendo jus às proximidades com os poderes públicos instalados ao redor da Praça Pereira Oliveira.

9 Sobre este assunto ver: NECKEL, Roselane. A República em Santa Catarina: modernidade e

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Imagem no 06 – Vista do Teatro Álvaro de Carvalho, da Praça Pereira Oliveira e do entorno da praça e do

teatro. Fonte: VEIGA, 2008:399.

Pela imagem acima se percebe que o TAC ainda se destacava enquanto construção nessa parte da cidade, dada a ausência de verticalidade nas edificações então existentes. À direita, no alto da colina, aparece o Colégio Coração de Jesus, já ampliado na sua sede. A aparência do TAC é da edificação como se encontrava antes da reforma de 1955, conforme veremos mais à frente, que modificou a fachada e a lateral da edificação.

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28 Acima temos uma das raras fotos da década de 1950 que apresenta os fundos do TAC, e pela imagem se pode ver que próximo ao teatro havia um terreno murado e arborizado. Imagem que vai desaparecer nas décadas de 1970/1980.

Imagem n. 08 – Visão externa do TAC antes da reforma de 1955. Na época funcionava no edifício o Cine Odeon. Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.

Acima temos mais uma imagem do TAC antes de 1955, a última em que podemos encontrar essa formatação externa para o espaço, bem como para seu entorno. A imagem apresenta também o calçamento que até a década de 1970 fazia parte da modernidade de Florianópolis. Mas observa-se ainda que o entorno do teatro está constituído de edificações baixas. A modernidade se fazia presente,

naquele momento na cidade, pelos postes de energia elétrica, pelos lustres que iluminavam as ruas, sendo um poste de energia colocado bem na frente do teatro e retirado em reformas posteriores. Outros fatos modernos eram os carros e o ponto de ônibus bem ao lado do teatro10. No final da década de 1950 o ponto de

ônibus foi transferido para a Praça Fernando Machado.

Na imagem acima se percebe como destaque a porta, de folha dupla, que dá para a lateral da edificação e a cobertura dessa porta lateral, que servia para entrada no teatro/cinema, bem como local de venda de ingressos. Percebe-se ainda que a escadaria, que antes estava localizada apenas na frente da edificação, foi ampliada de modo a atender também a entrada lateral. Na imagem

10 Saliento que este tipo de transporte coletivo só passou a existir na cidade a partir da

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29 se percebe os três arcos logo acima na escadaria frontal, que foram construídos no final do século XIX para proteger as pessoas que entravam no teatro.

Na década de 1960, Florianópolis passou por profundas transformações urbanas, “[...] devido à chegada de um expressivo número de pessoas vindas de outros lugares do país após a abertura da BR-101, da fundação da UFSC11 e da

instalação da sede da ELETROSUL12 na capital, respectivamente” (De Paula,

2009:36). E da criação da Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC, em 1965. A cidade não voltaria nunca mais a ser a pequena e pacata capital numa ilha quase deserta.

E como bem observa Leon de Paula:

[...] a modernidade que se almejava para Florianópolis parecia finalmente ter chegado. O antigo casario do centro histórico dava lugar aos novos empreendimentos imobiliários da EMEDAUX, CEISA, Gonzaga, e outras construtoras, o que implicou na abertura de novas frentes de trabalho na cidade e na diversificação de serviços oferecidos nela, visto que essas migrações não só possibilitavam o aparecimento do “peão-de-obra” como também o de engenheiros e administradores, entre outros profissionais, sobretudo ligados à construção civil (De Paula, 2009:26).

A população da cidade teve um acréscimo de 53,09% entre 1950 e 1960, indo de um total de 48.264 para 72.889 habitantes.13 A modernidade implicou também em afastar o mar e com isso, nas décadas de 1960 e 1970, foram construídos os dois grandes aterros das baías norte e sul da ilha.

11 A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi inaugurada em 1960 e situada no bairro

Trindade, em Florianópolis. Ela foi a primeira instituição voltada ao ensino superior no estado de Santa Catarina. Com isso, os moradores da cidade não mais precisavam se deslocar ao Rio Grande do Sul, Paraná e outros estados para prosseguirem seus estudos. Nota elaborada por Leon de Paula (2009:36).

12 Com sede em Florianópolis, “a Eletrosul Centrais Elétricas S.A. - Eletrosul foi criada em 23 de

dezembro de 1968 e é uma subsidiária das Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - Eletrobrás e vinculada ao Ministério de Minas e Energia, é uma sociedade anônima de capital fechado que atua no segmento de transmissão de energia em alta e extra-alta tensão. A empresa tem seu sistema de transmissão localizado nos estados da Região Sul e no Mato Grosso do Sul [...]” (extraído de http://www.eletrosul.gov.br/home/conteudo.php?cd=160, em 02 abr. 2008). Nota elaborada por Leon de Paula (2009:36).

13 PELUSO JUNIOR, Victor Antônio. Fonte:

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30 Imagem n. 09 – Vista aérea de Florianópolis - A vista, da década de 1960, mostra a capital de Florianópolis antes do grande surto imobiliário que a sacudiu a partir de 1970, bem como o perfeito contorno marítimo que definia a cidade como caracteristicamente litorânea, antes dos aterros sul e norte. Observe-se a Praça XV de Novembro beirando o mar, ainda com a construção do chamado Miramar. Percebe-se a pouca verticalidade da cidade em suas construções. Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.

Com a expansão imobiliária o entorno do TAC começou a ter nova configuração.

Imagem no 10 – TAC na década de 1970. Fonte: http://www.alesc.sc.gov.br/portal/biblioteca/historia.php

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31 capacidade de ser uma edificação que se destacava nesse espaço. Na imagem vemos a construção de um prédio, ainda hoje existente, nos fundos do TAC, no espaço que, na imagem no 05, aparecia todo arborizado. O Centro Histórico começava a perder o seu verde e quase se perdia ele próprio para a especulação imobiliária. Nas perfurações arquitetônicas em busca da beleza imobiliária quase se perdeu o prédio do Teatro Álvaro de Carvalho. Como podemos perceber na notícia estampada no jornal O Estado de 05 de setembro de 1980, “Bate - estaca está abalando estruturas do TAC. Paredes começam a rachar”. A notícia denunciava que a desenfreada obsessão pela construção de novos prédios nas redondezas atingia o antigo prédio do TAC, causando rachaduras e danos nas fachadas e paredes de sua arquitetura.

Se o aumento populacional da cidade foi significativo na década de 1960, ele se tornou mais denso na década de 1970, quando a cidade passou de 72.889 habitantes para um total de 115.547, com um acréscimo de 56,38%. Fenômeno igual só voltaria a ocorrer, de forma ainda mais agressiva, na década de 1990, pela expansão da indústria do turismo. E foi na administração do Prefeito Edson Andrino (1986-1988) que a indústria do turismo descobriu Florianópolis, sendo que no verão, com o estímulo ao turista argentino, a população da cidade chegava a triplicar. Na década de 1980, recorte temporal de nossa pesquisa, a população da cidade era de 153.547 habitantes.14

Abaixo acrescento uma imagem do TAC feita após a reforma que se estendeu de 2000 a 2003, período em que o teatro ficou fechado. Com essa imagem mostro o TAC emoldurado por edifícios em seu entorno. Há calçadas ao redor da edificação, e as ruas no seu entorno são hoje, em 2011, todas elas asfaltadas, deixando, com isso, pouco espaço para respiração. O TAC consegue, apesar desse entorno atual, ter um espaço privilegiado devido à Praça Pereira Oliveira e a um estacionamento ocupar o espaço existente entre a referida praça e o teatro.

14 Sobre a modernidade em Florianópolis e suas transformações populacionais ver: CUNHA,

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32 Imagem no 11 – Teatro Álvaro de Carvalho na década de 2000.

Fonte:http://static.panoramio.com/photos/original/20851937.jpg

1.3 OCUPAÇÕES REAIS E IMAGINÁRIAS PARA O TAC

Algumas vezes o teatro, ao longo de sua história, quase teve outro destino, tal como o que foi expresso pela Lei provincial n. 685, de maio de 1872, que no seu artigo 3º, no seu parágrafo 11, projetava: concluído o “prédio que pertenceu a empresa do Theatro de Santa Izabel, para nele funcionar a assembléia e repartições provinciais [...]” (Collaço, 1985:55). Desejo que não foi concretizado, ainda bem!

Mas em dois outros momentos significativos da história da cidade e do Estado, o teatro teve outros usos que não o da representação cênica. O primeiro se deu com a Revolução Federalista de 1893, quando, no Governo do interventor, o coronel Antônio Moreira César (1894), o teatro e todos os espaços públicos da cidade serviram de prisão para “guardar” os revoltosos.15 Foi um período em que,

[...] a capital catarinense viveu dias de temor, com a população temendo sair às ruas. “O silêncio, o recolhimento, o andar soturno dos habitantes horrorizados, faziam contraste lúgubre com a algazarra e o desmando, com as petulantes maneiras e sinistras

15 Sobre este assunto ver: MEIRINHO, Jali. A República em Santa Catarina. Florianópolis: UFSC:

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33 ameaças dos selvagens soldados, que enchiam as ruas e praças” (Meirinho, 1982:64).

Mais um uso fora da situação cênica se deu em 1956 quando, devido ao incêndio que destruiu o belo edifício da Assembléia Legislativa de Santa Catarina, esta entidade teve “uma brevíssima passagem pelo TAC”.16

No século XX o Teatro Álvaro de Carvalho iria ter outros usos, mas na maior parte das vezes se respeitava seu caráter de espaço artístico. Assim, ele foi usado como ringue de luta livre, cinema e também salão para os bailes municipais de carnaval, “obedecendo a um costume bastante difundido em muitas cidades do Brasil até os anos de 1950/1960 de serem os bailes públicos dos festejos de Momo feitos nos teatros” (De Paula, 2009:30).

1.3.1 Bem na fita, mal na cena. Meio século de cinema

Em boa parte dos primeiros cinquenta anos do século XX, o velho casarão da Praça Pereira Oliveira esteve dividido entre ser uma casa de espetáculos e ser uma sala de exibições cinematográficas. Seguiu-se a tendência nacional de ceder espaço ao novo entretenimento que surgia no país. A dupla ocupação data do início do século XX e a esquina da Rua dos Ilhéus com a Rua Marechal Guilherme tornou-se o ponto de encontro da elite cultural florianopolitana. As funções podiam ocorrer, ainda, uma após a outra, num mesmo programa. Apresentavam-se esquetes teatrais, peças curtas, atos variados, recitais e/ou declamações e após assistia-se a um filme nesse espaço, tal como aponta o texto a seguir: “Em 1903, os jornais da Capital davam conta da exibição conjunta de um espetáculo de contorcionismo e, no cinematógrafo, da fita Paixão segundo Jesus

Cristo” (Schmitz 2205:48).

O primeiro cinema a instalar-se no TAC foi o Cine Variedades, depois foi a vez do Cine Royal, que, a partir de 1930, transformou-se em Cine Odeon. Os

16 Sobre o assunto ver: CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro. Vol. 1 Notícia.

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34 nomes deste teatro variaram bastante na década de 1930. Como observa Leon de Paula, o TAC foi chamado de:

Cine Variedades, Cine Paramount, Royal Cine Teatro e Cine Odeon. As mudanças do nome aconteciam em virtude de arrendatários que, ao entrarem em acordo com o proprietário do prédio (neste caso, o governo do Estado), lhes era concedido o direito de explorarem o imóvel para a diversão pública e até mudar o nome do prédio (De Paula 2007:98-99).

O espaço, quando era alugado para utilização como cinema, os seus arrendatários ainda reservavam uma pauta para os espetáculos cênicos e de variedades. Nas primeiras décadas do século XX o TAC continuou sendo um misto de cinema e teatro, mas sua administração ainda deixava percalços de descuidos na conservação do estabelecimento. Esse recinto também era utilizado pelos grupos amadores locais, mas os mesmos, na maioria das vezes, mantinham também suas atividades fora do TAC, em espaços adaptados para esse fim. Isso ocorria devido aos problemas de gerenciamento do prédio, como se percebe na seguinte informação: “Desde que, por uma rescisão de contrato existente entre o Governo do Estado e uma empresa cine-teatral, o velho TAC fechou as suas portas” (O Estado, 11 out. 1932). Ou ainda pelas diversas necessidades de reforma no edifício, ou também pelo espaço estar priorizado para a projeção de filmes, como se percebe na critica de Agenor Nunes Pires:

Não sou contrário ao cinema, mas acho que o governo do nosso Estado, que vêem (Sic) demonstrando sua grande atividade em todos os setores de sua elevada administração e que tão alto tem sabido levar a terra catarinense, podia também proporcionar a nossa população um pouco d’aquilo que todas as capitais do Brasil, gozam [...] o bom teatro. O teatro devia estar sempre a disposição das companhias e dos grupos dramáticos, sendo ocupado pelo cinema quando não existisse esses casos (Diário da Tarde, 13 set. 1939, grifo nosso).

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35 país devido à implantação do Governo Vargas. Sobre isso descreve a notícia do jornal local O Estado de 8 de setembro de 1934: “A Vinda de Troupes de vulto – Líricas ou dramáticas – é que tem rareado lastimosamente. O encarecimento da vida diminuiu o número dos que podem alimentar a frequência ao teatro”.

Ao final de 1930 os jornais descreviam a interferência do sistema elétrico, que fora denotado deficiente no início do século, agindo nas atividades cênicas do TAC. O jornal Diário da Tarde, de 12 de julho de 1939, relatava às péssimas condições de conservação do espaço físico do teatro. Meses depois essas deficiências chegariam ao seu ponto máximo e desembocariam diretamente na encenação ali apresentada. O espetáculo da Companhia Nacional Ribeiro Cancela intitulava-se O Homem que Fica e o programa afirmava ser uma crítica ao antigo regime político. A imprensa salientou que a luz apagou-se quase ao final do espetáculo. Não escreveu a noticia se houve uma queda de energia ou outro tipo de incidente teria ocorrido para prejudicar a representação.

O Teatro Álvaro de Carvalho funcionou como cine-teatro até os anos de 1950 e nesse período, além da exibição de filmes, recebeu espetáculos de nomes consagrados nacionalmente como Procópio Ferreira, Oduvaldo Viana, Alda Garrido, Joraci Camargo, Cacilda Becker, Bibi Ferreira e Jardel Filho.

1.4 REFORMAR OU DEMOLIR???!!!

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36 Os jornais locais, ao longo da década de 1930, usavam palavras nada lisonjeiras ao se referir ao TAC. Com isso demonstravam seu desejo de mudar a realidade do único edifício público para a atividade teatral na capital catarinense:

Em contraposição ao desenvolvimento cultural da nossa capital, está, sem dúvida, o Teatro Álvaro de Carvalho, o velho casarão da Praça Pereira Oliveira. Edifício anti-estético, sem o menor conforto, essa casa de diversões bem mereceria ser reformada completamente, de sorte a torná-la digna da gente catarinense. [...] É um crime conservá-lo como está: um verdadeiro trambolho, que serve de ridículo ao nosso progresso.17

Este “teatro feio” se não fosse reformado deveria vir abaixo. Era o apelo da imprensa em 1935:

Com o arrazoamento do morro chato, onde hoje é a Praça Pereira Oliveira e conseqüente ajardinamento desta, ficou o teatro como uma excrescência desgraciosa a estética local, impondo-se, portanto, a necessidade de sua demolição, o que, realizado, permitiria à referida praça maior ampliação e melhor aformosamento.18

Ao teatro, segundo a imprensa, faltava de tudo, equipamentos técnicos de iluminação e som, também conforto e beleza como obra arquitetônica, pois não estava de acordo com o afã de modernidade efervescente em algumas mentes locais. Na década de 1950 a discussão voltou à tona numa fala de despedida realizada por Osvaldo Mello:

Velho Teatro Santa Isabel (sic), que nasceste humildemente de um barracão de madeira, que fostes depois o centro de reuniões culturais para as gerações da Monarquia e da República, quando Álvaro de Carvalho.

Tu que nos deste festivas e alegres noitadas de arte e música! Tu viverás sempre na nossa lembrança evocando um passado onde as grandes companhias de Óperas, Operetas e Dramáticas foram delirantemente aplaudidas por nós, moços então e estudantes! Velho Teatro Álvaro de Carvalho da nossa geração, amanhã, quando te afogares na poeira da derrubada e tuas paredes caírem com estrondo nós se Deus o permitir, relembraremos os aplausos também estrondosos do nosso tempo de moços, quando das tuas galerias, festejamos com palmas e palavras estudantes de vida

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37 moça, aqueles que no teu velho palco se exibiam em noitadas inesquecíveis.

Quando vier o novo Teatro e que venha breve, ele não fará esquecer por certo, o quanto já nos destes de alegria e de arte, na formação de nossa modesta cultura (O Velho Teatro Álvaro de Carvalho vai ser derrubado. Mello, Osvaldo. In: A Gazeta. Florianópolis, agosto. 1953).

Mas, o adiantado canto do cisne não demoliu o “velho” teatro. Pelo contrário, em 1955, no governo de Irineu Bornhausen (1951-1956), procedeu-se a mais significativa reforma realizada no Teatro Álvaro de Carvalho, tanto nos seus aspectos externos quanto no seu interior. A intervenção foi obra do arquiteto e engenheiro Tom Wildi Filho. O que sobrou do espaço iniciado com o nome de Theatro Santa Izabel foram as quatro paredes e seu formato interior, mas com novo material de sustentação.

O corpo e a fachada do prédio sofreram interferências, como, por exemplo, a eliminação da entrada lateral. No seu lugar se abriram duas grandes janelas, uma em cada lateral do edifício, e nelas foram colocados vitrais com desenhos coloridos do pintor paulista Antonio Gomide (1895-1967), ainda hoje existente nesse espaço, e constituído o foyer do teatro. Nessa reforma o acesso principal aos pequenos balcões superiores com visão externa ganhou um corpo avançado, sustentado por quatro colunas, que passou a servir de cobertura para a entrada do teatro. A parte superior do foyer e desse avançado deu espaço, na parte superior do teatro, ao salão nobre, que recebeu em 1955 para sua decoração, dois grandes quadros do artista Martinho de Haro (1907-1985), ainda expostos no local. O resultado final, na parte externa da edificação, é possível ser visto ainda nos dias atuais, pois poucas foram suas alterações a partir dessa intervenção.

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38 Imagem n. 12 – Fachada frontal após a reforma do edifício em 1955. Fonte: Schmitz, 2005: 119.

Imagem no 13 e 14 – Teatro Álvaro de Carvalho no século XXI. Após a reforma de 2000-2003. Com a aparência externa que lhe deu a reforma de 1955. E com a cor que na ultima reforma se deduziu que fosse a original. Fonte: http://www.radarsul.com.br/florianopolis/imagens/tac.jpg.

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Imagem no 15 – Teatro Álvaro de Carvalho – século XXI – Fonte: Arquivo de

imagens do TAC.

No século XIX havia na parte superior do prédio cinco portas. Com a reforma de 1955 o prédio passou a ter duas janelas frontais, com os vitrais coloridos, e três portas. As portas superiores passaram a compor com uma pequena varanda protegida por gradis de ferro, que serve de anteparo para as portas de entrada ao teatro. Nessa mesma reforma a escadaria de entrada do edifício foi reduzida e suas lateralidades ocupadas por dois jardins, numa espécie de recuperação da idéia dos “chalets” propostos em 1886.

Demolir, reformar ou fazer o quê? Na década de 1980-90 se retoma a discussão sobre o que fazer com esse edifício. A cidade dividia-se entre querer um espaço com maior capacidade de público e talvez uma arquitetura inovadora condizente com o “progresso” que ela desfrutava, ou manter o patrimônio das construções antigas e sua importância adquirida. Este sonho se tornou realidade com a inauguração do Teatro do Centro Integrado de Cultura (CIC), em 14 de novembro de 1982, e que em 1997 seria batizado com o nome de Teatro Ademir Rosa, homenagem a um importante ator catarinense. Mas, retomando o início da década de 1980, os vestígios desses murmúrios na cidade podiam ser encontrados nos relatos do jornalista Mario Alves Neto, nos quais aponta as necessidades técnicas que a casa de espetáculos estava carecendo em sua fachada externa:

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40 é de merecimento para um patrimônio de seu porte. [...] Prefiro [...] é obvio, o TAC no seu devido lugar. Porém, com a sua aparência externa retocada, pois a atual está feia, suja, imunda, de vidros

quebrados e sem iluminação (O Estado, 07 de março de 1982).

Mas a década de 1980, que trouxe novamente à tona a questão da demolição, foi também a década definidora de que o TAC não poderia mais ser demolido. Com o Decreto no 1.304, de 29 de janeiro de 1988, o Teatro Álvaro de Carvalho foi tombado como Patrimônio Público Estadual. Estava, agora, a salvo das tentativas de demolições por ser “velho” ou “deselegante”. E para festejar esse importante acontecimento, o governo estadual, na gestão de Pedro Ivo Campos (1987-1990), trouxe a Florianópolis Fernanda Montenegro para apresentar Dona DoidaUm interlúdio, espetáculo composto por poemas de Adélia Prado, com direção de Naum Alves de Souza.

1.4.1 Outras reformas nem tão radicais

Outra reforma no teatro, não tão radical como a de 1955, se deu em 1975, sob a responsabilidade do Departamento Autônomo de Edificações, ligado ao Executivo estadual e coordenado pelo arquiteto Osmar Grubba. Tal reforma se dirigiu preferencialmente à parte interna do teatro. Com relação ao arcabouço externo ela significou apenas “troca de parte da estrutura da cobertura, que recebeu telhas de fibro-cimento” (Schmitz, 2005:55).

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41 pertencentes à Fundação Catarinense de Cultura.19 A obra se estenderia de 1984

a 1986, período em que o recinto ficou fechado para as atividades teatrais. As suas atividades transferiram-se para o Teatro do Centro Integrado de Cultura, inaugurado em 1982.

Num primeiro momento os arquitetos pensaram em buscar o modelo do início do teatro, devolver-lhe a estrutura de origem. Mas “a falta de documentação que revelasse os desenhos, detalhes e materiais utilizados no passado impediram a realização desse anseio” (Schmitz, 2005:66). Também a profunda modificação realizada em 1955 dificultava qualquer possibilidade de retorno. Assim, afirma em artigo publicado a arquiteta Lilian Mendonça Simon (In. Schmitz,1994:41): “A equipe técnica responsável pelo projeto primou pela neutralidade da intervenção, buscando sempre a identificação dos novos elementos introduzidos através do uso de materiais e formas atuais”. Pela fala de Lilian somos informados de que as modificações externas foram de pequena monta:

A revisão da estrutura do telhado mostrou que as pontas das tesouras estavam apodrecidas e que o risco de colapso da cobertura era iminente. Foram executados apoios em concreto e as tesouras danificadas restauradas. As telhas de fibrocimento foram substituídas por telhas cerâmicas do tipo francesa para melhorar o conforto térmico (Simon, In. Schmitz 1994:41).

Outra intervenção na fachada foi motivo de risos e galhofas na cidade. Quando pronto, o TAC apareceu “cor-de-rosa”! A reabertura, após tanto tempo fechado, se deu com uma produção que reuniu vários grupos locais e recebeu a denominação de O teatro visto da ponte (Schmitz, 2005:67).

Por fim, assinalo mais uma intervenção, que se estendeu de março a setembro de 1989, mas que ocorreu apenas na estrutura interna da edificação, o que será abordado no próximo capítulo. Assim, encerra-se a década de 1980 com o teatro sendo novamente reformado e entregue ao público em fins de 1989.

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1.4.2 A gerência do teatro

Para preparar a entrada nessa edificação, o que farei no próximo capítulo, desejo apresentar, mesmo que de modo breve, os diferentes encaminhamentos que se deram no processo de gerenciamento desse teatro.

Assim que o governo estadual assumiu o teatro, ele o entregou, por meio de licitação, ao responsável pelo término da sua construção, o tenente-coronel José Feliciano Alves de Brito. Essa “transferência” ocorreu em 1874, o que possibilitou o término da obra e a sua inauguração oficial em 07 de setembro de 1875. O construtor, por meio da Lei provincial no 736, de 16 de maio de 1874, ganhou o direito de usufruir do espaço e de seus dividendos até que o governo liquidasse a dívida com o empreiteiro. Alves de Brito tornou-se, de fato, o primeiro “gerenciador” do novo teatro. Como não conseguia manter o espaço e o governo não desejava recebê-lo e quitar antecipadamente sua dívida, o empresário arrendou o espaço por dois anos, a partir de 1877, para Moyses William Comsett, um fotógrafo de Desterro.20

No final de 1878 o Governo liquidou a dívida com o empresário e assumiu o teatro. Coube à administração pública, a partir daí, o arrendamento deste espaço. Em fevereiro de 1879 o poder administrativo arrendou o recinto para José de Araújo Coutinho (1851-1907) e João Gil Ribas.21 Esses arrendatários, observa Collaço (1984:64), “eram responsáveis pelas atividades desenvolvidas em seu interior, cabendo a eles organizar a vinda de companhias, bem como ceder datas para as sociedades particulares locais”. Porém, o Governo provincial toma as suas precauções administrativas:

Mantém uma pessoa como elemento de ligação, na figura do fiscal do teatro. Em 1879 é nomeado para esta função o capitão-tenente Francisco de Paula Senna Pereira da Costa. O seu objetivo era fiscalizar para a Fazenda provincial o cumprimento do contrato de arrendamento, bem como zelar pela conservação do edifício e objetos a ele pertencentes (Collaço, 1984:64).

Referências

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