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Avaliação do impacto do módulo NUT do programa multimédia "Alimentação, modelo estético feminino e meios de comunicação", nas variáveis comportamento alimentar e conhecimento nutricional : estudo integrado no projeto "Avaliação da eficácia do programa Ali

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO MÓDULO NUT DO PROGRAMA MULTIMÉDIA “ALIMENTAÇÃO, MODELO ESTÉTICO FEMININO E MEIOS DE COMUNICAÇÃO”, NAS VARIÁVEIS COMPORTAMENTO

ALIMENTAR E CONHECIMENTO NUTRICIONAL -

Estudo integrado no projeto “Avaliação da eficácia do programa Alimentação, modelo estético feminino e meios de comunicação”, na população portuguesa

Catarina Alexandra Fernandes Vieira

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/Núcleo de Psicologia da Saúde e da Doença)

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO MÓDULO NUT DO PROGRAMA MULTIMÉDIA “ALIMENTAÇÃO, MODELO ESTÉTICO FEMININO E MEIOS DE COMUNICAÇÃO”, NAS VARIÁVEIS COMPORTAMENTO

ALIMENTAR E CONHECIMENTO NUTRICIONAL -

Estudo integrado no projeto “Avaliação da eficácia do programa Alimentação, modelo estético feminino e meios de comunicação”, na população portuguesa

Catarina Alexandra Fernandes Vieira

Dissertação orientada pela

Profª Doutora Margarida C. Santos

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/Núcleo de Psicologia da Saúde e da Doença) 2012

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i RESUMO

Este estudo integra-se num projeto que pretendeu avaliar, numa amostra de adolescentes portugueses, o impacto de um programa multimédia, intitulado Alimentação, modelo estético feminino e meios de comunicação – como formar alunos com juízo crítico no ensino secundário, composto por módulos: Modelo estético feminino (MEF), O modelo estético feminino nos media (ML) e Alimentação e Nutrição (NUT) (Francisco, Custódio, Jesus, Martins, Vieira, & Barros, 2012). Especificamente neste estudo, fez-se a aplicação do módulo NUT, e avaliou-se o seu impacto em comparação com a aplicação conjunta dos módulos MEF+ML, em relação a variáveis relacionadas com comportamento alimentar e conhecimento nutricional.

A amostra total foi constituída por 40 alunos do 8º ano de escolaridade, distribuídos por duas condições experimentais: MEF+ML e NUT. Em cada condição experimental existiram 3 momentos de recolha de informação, nos quais foi preenchido um conjunto de questionários. O impacto do módulo NUT, em destaque neste trabalho, foi avaliado através de: Questionário sobre saúde física e alimentação, Eating Attitudes Test-26 (EAT-26) e Questionário de Nutrição (NUT-Q).

Os resultados mais relevantes confirmam a utilidade do programa, apontando para alterações no conhecimento nutricional na condição experimental NUT , bem como mudanças na conduta alimentar, mais propriamente no consumo semanal de alguns alimentos. Refira-se ainda a identificação de correlações importantes entre variáveis relativas à forma como os adolescentes se alimentam.

Palavras-chave: Programas escolares de promoção de saúde; Prevenção primária; Adolescência; Nutrição; Perturbações do comportamento alimentar

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ii ABSTRACT

The present study is part of a project that aimed to evaluate the impact, on a portuguese adolescents’ sample, of a multimedia program, named Alimentação, modelo estético feminino e meios de comunicação – como formar alunos com juízo crítico no ensino secundário, consisting of three units: Aesthetic Beauty Model (MEF), Media Literacy (ML) and Food and Nutrition (NUT) (Francisco, Custódio, Jesus, Martins, Vieira, & Barros, 2012). This particular study was directed to the unit NUT , and its impact when compared with the two other units (MEF+ML), in respect to eating behavior and nutritional knowledge variables.

A total of 40 8th grade students participated in the study, across two different experimental conditions: MEF+ML and NUT.

In each experimental condition, the impact was assessed by a protocol of several questionnaires, completed in three different moments. The impact of unit NUT, the main purpose of this work, was assessed by Physical Health and Feeding Questionnaire, Eating Attitudes Test-26 (EAT-26) and Nutrition Questionnaire (NUT-Q).

The most relevant results confirm the program utility, pointing changes in the nutritional knowledge among the subjects of condition NUT, as well as changes on eating behavior, namely the weekly consumption of certain food. Besides, there were found important correlations between the variables related with adolescents’ eating conduct.

Keywords: School-based health programs; Primary prevention; Adolescence; Nutrition; Eating disorders

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iii ÍNDICE

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO 1: ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 3

1.1 Adolescência e o conceito de saúde ... 3

1.2 Adolescência e alimentação ... 5

1.3 Obesidade e Perturbações do Comportamento Alimentar na adolescência ... 8

1.4 Programas escolares de promoção de saúde na adolescência ... 15

CAPÍTULO 2: OBJETIVOS ... 23

CAPÍTULO 3: METODOLOGIA ... 25

3.1 Caracterização sociodemográfica da amostra ... 25

3.2 Estruturação do Programa e Instrumentos de Avaliação ... 27

3.2.1 Estruturação do Programa ... 27

3.2.2 Instrumentos de Avaliação ... 278

3.2.2.1 Questionário geral de dados pessoais e sociodemográficos ... 278

3.2.2.2 Questionário sobre saúde física e alimentação ... 279

3.2.2.3 Eating Attitudes Test-26 ... 279

3.2.2.4 Questionário de Nutrição ... 30

3.3 Procedimento Experimental ... 31

3.4 Procedimento de análise de dados ... 313

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4.1 Caracterização da amostra quanto aos Hábitos alimentares e conhecimento

nutricional ... 35

4.2 Avaliação do impacto do programa ... 39

4.3 Correlação entre variáveis ... 43

CAPÍTULO 5: DISCUSSÃO ... 56

CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 62

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v ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Valores de Índice de Massa Corporal (IMC) ... 9

Tabela 2 - Caracterização da amostra por Género ... 25

Tabela 3 - Caracterização da amostra por Idade ... 26

Tabela 4 - Caracterização da amostra por Situação Familiar ... 26

Tabela 5 - Caracterização da amostra por Nível Socioeconómico ... 27

Tabela 6 – Estatística Descritiva – Comparação de médias e desvios-padrão das variáveis em estudo nos 3 momentos, por género e condição experimental ... 36

Tabela 7 – Estatística Descritiva – Comparação de medianas das variáveis em estudo nos 3 momentos, por género e condição experimental ... 37

Tabela 8 – Teste de ANOVA de Friedman ... 39

Tabela 9 – Teste de Wilcoxon – Comparação entre Pré-teste e Pós-teste ... 40

Tabela 10 – Teste de Wilcoxon – Comparação entre Pós-teste e Follow-up ... 40

Tabela 11 – Teste de Wilcoxon – Comparação entre Pré-teste e Follow-up ... 41

Tabela 12 – Teste de Mann-Whitney – Comparação entre condições experimentais, nos 3 momentos ... 42

Tabela 13 – Coeficientes de Correlação de Spearman – Pré-teste (Feminino) ... 44

Tabela 14 – Coeficientes de Correlação de Spearman – Pré-teste (Masculino) ... 46

Tabela 15 – Coeficientes de Correlação de Spearman – Pós-teste (Feminino) ... 48

Tabela 16 – Coeficientes de Correlação de Spearman – Pós-teste (Masculino) ... 50

Tabela 17 – Coeficientes de Correlação de Spearman – Follow-up (Feminino) ... 52

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – Condições Experimentais ... 34

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vii ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo 1 – Teste de ANOVA de Friedman ... 71 Anexo 2 – Teste de Mann-Whitney – Comparação entre condições experimentais (Pré-teste) ... 72

Anexo 2 – Teste de Mann-Whitney – Comparação entre condições experimentais (Pós-teste) ... 73

Anexo 2 – Teste de Mann-Whitney – Comparação entre condições experimentais (Follow-up) ... 74

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1 INTRODUÇÃO

O estudo que se apresenta faz parte de um projeto alargado, que pretende avaliar a eficácia na população portuguesa de um programa multimédia espanhol, denominado Alimentação, modelo estético feminino e meios de comunicação – como formar alunos com juízo crítico no ensino secundário, constituído por três módulos: Modelo estético feminino (MEF), O modelo estético feminino nos media (ML) e Alimentação e Nutrição (NUT).

O programa tem como objetivo a prevenção de comportamentos perturbados, relacionados com a alimentação e o controlo de peso.

Especificamente neste estudo, fez-se a aplicação do módulo Alimentação e Nutrição (NUT), e avaliou-se o seu impacto comparativamente à aplicação conjunta dos outros dois módulos (MEF e ML), em adolescentes entre os 13 e os 15 anos, em relação a variáveis relacionadas com comportamento alimentar e conhecimento nutricional.

Na versão portuguesa do módulo NUT, a principal inovação relativamente ao programa original consiste no uso de metodologia interativa, para identificação de refeições consideradas saudáveis e fatores que constitutem obstáculo à realização deste tipo de alimentação. Para promover a adesão ao programa foram ainda utilizados reforços, dos quais se destaca um diploma a ser entregue a cada adoelescente que concluíssem o programa.

O estudo alargado foi realizado com a colaboração de 3 turmas do 8º ano de escolaridade, pertencentes a escolas da grande Lisboa, de acordo com as condições experimentais adiante descritas.

Para cada condição experimental foram definidos 3 momentos de recolha de informação: Pré-teste, antes da aplicação do programa, Pós-teste, depois da aplicação do programa, e Follow-up, 1 mês depois. Em cada um destes momentos foi preenchido um grupo de questionários, tendo o impacto do módulo NUT, que constitui o foco deste trabalho,

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sido avaliado através de: Questionário sobre saúde física e alimentação, Eating Attitudes Test-26 (EAT-26) e Questionário de Nutrição (NUT-Q).

Este texto está organizado em seis capítulos. O primeiro apresenta a revisão de literatura destinada a fazer o enquadramento teórico, abordando questões como a saúde durante a adolescência, a nutrição, as perturbações do comportamento alimentar e a ação dos programas escolares de promoção de saúde. No segundo capítulo surgem descritos os objetivos desta investigação. No capítulo seguinte é explicada a metodologia usada, incluindo os instrumentos, procedimento e caraterização da população. O quarto capítulo refere-se à apresentação dos resultados obtidos através de tratamento estatístico. Seguidamente, são discutidos os resultados e, por fim, apresentam-se as conclusões, limitações do estudo, bem como sugestões para futuras linhas de investigação.

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3 CAPÍTULO 1: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.1 Adolescência e o conceito de saúde

O conceito de adolescência tem origem no termo adolescere, que significa “crescer”, “amadurecer” (Tavares, & Alarcão, 2005, p. 39). O adolescente é pois, aquele que está em crescimento, ou amadurecimento, quer do ponto de vista físico, quer psicológico e social, sendo a adolescência uma fase que decorre na transição da infância para a idade adulta, e que compreende a faixa etária entre os 11/12 e os 19/20 anos (Tavares, & Alarcão, 2005, p. 39).

É nesta etapa que o indivíduo se questiona sobre si próprio e se liberta das limitações típicas do pensamento concreto, acedendo ao pensamento formal (Piaget, 1955, citado em Lourenço, 1997).

Porém, a aquisição do pensamento formal colide com o egocentrismo do adolescente (Lourenço, 1997), e com a sua convicção de que é imune às consequências de comportamentos danosos para a saúde.

Ainda assim, a riqueza e complexidade do pensamento formal representam uma extraordinária evolução em termos cognitivos.

Em termos Piagetianos, o sujeito formal é capaz de inverter o sentido entre o real e o possível (Lourenço, 1997), isto é, o possível já não está reduzido àquilo que é o real ou que existe no momento, mas estende-se ao virtual e abstrato. O adolescente começa então a entender que a pessoa que é em determinado momento é modificável, em função, por exemplo, da sua vontade. Ora, ao inverter o sentido entre o real e o possível, torna-se também capaz de combinar, ou articular, uma infnidade de condições ou fatores, e manipulá-los. E mais do que isso, em virtude de desenvolver raciocínio hipotético-dedutivo, admite proposições e elabora deduções, envolvendo-se assim na resolução de problemas que implicam raciocínio condicional.

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Em suma, o adolescente tem maior capacidade de antecipação de resultados ou acontecimentos, com base em diferentes fatores definidos a priori, e mesmo com o obstáculo que constitui o egocentrismo que lhe é característico, está mais bem preparado do que uma criança para participar num programa ou intervenção que apele ao juízo crítico, como aliás sucede no presente estudo.

Inúmeros trabalhos indicam que os adolescentes mais novos descrevem a saúde como sendo ausência de doença, mas que, progressivamente, vão atribuindo maior importância à prevenção e aos comportamentos destinados à manutenção de um estado saudável (Buck & Wenger).

Com efeito, num estudo realizado com adolescentes americanos do 9º ano, a Saúde surge descrita como sendo um conceito complexo, associado a bem-estar, ausência de doença, estar em forma, ser capaz de lidar com os problemas e assumir responsabilidades (1996, citado em Buck & Wenger, 2003). Na mesma década, uma outra investigação concluiu que os adolescentes tendem a definir Saúde como não estar doente, ser feliz ou ser capaz de fazer as coisas que se deseja (1996, citado em Buck & Wenger, 2003).

Como se percebe, o adolescente começa por ter uma conceção imediatista de Saúde, mas com o desenvolvimento das suas capacidades cognitivas, esta conceção modifica-se, e emerge o conceito de saúde a longo-prazo.

Resgatando a ideia de que é nesta fase que há a transição para o pensamento formal, não é surpreendente que o sujeito comece a compreender que existem inúmeros fatores que contribuem para o seu estado de saúde, estando ao seu alcance manipulá-los, e que os seus comportamentos, quaisquer que sejam, têm repercussões, não só no presente, mas também no futuro.

Nesta perspetiva, a adolescência constitui uma fase privilegiada para trabalhar estes fatores e orientar as escolhas do indivíduo, para que alcance o melhor estado de saúde

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5 possível. Sendo a conduta alimentar um dos aspetos que maior peso tem na saúde, ela deve ser uma das prioridades das intervenções feitas com adolescentes.

1.2 Adolescência e alimentação

Nos últimos anos, verificou-se uma mudança nos hábitos alimentares, particularmente nos países industrializados. Esta mudança influenciou todas as faixas etárias, mas é entre as crianças e adolescentes que os efeitos se tornaram mais evidentes, e também mais preocupantes.

De todas as alterações ocorridas, as mais relevantes foram porventura a perda do hábito de tomar o pequeno-almoço, a banalização de refeições pré-confecionadas ou adquiridas em estabelecimentos de comida rápida, o maior consumo de snacks muito calóricos e de baixo valor nutricional, o aumento das porções em cada refeição e a diminuição da ingestão de produtos lácteos. Por outro lado, diminuiu a procura de alimentos ricos em fibras, vegetais e frutas, sendo que muitos jovens começaram a preencher as suas necessidades destes grupos alimentares quase exclusivamente com batatas fritas (Gidding, et al., 2006).

Ao nível dos micronutrientes, designadamente sais minerais, também se registaram alterações importantes. O consumo de cálcio e potássio, por exemplo, diminuiu substancialmente, enquanto que o de sódio disparou, em virtude deste elemento estar presente em grandes quantidades em inúmeros alimentos, sobretudo nas refeições pré-cozinhadas e na chamada fast food.

Num workshop realizado em Roma, em maio de 2003, tentou precisamente perceber-se o que estava por detrás das discrepâncias existentes entre as recomendações sobre dieta, aparentemente difundidas em larga escala, e a forma como se alimentam, na realidade, os indivíduos entre os 2 e os 18 anos de idade.

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Uma das conclusões mais importantes a que se chegou foi a de que, habitualmente, é dada mais atenção a crianças pequenas e a adultos, o que faz com que estes sejam alvos prefenciais das intervenções destinadas a promover a alimentação saudável. O trabalho com adolescentes, pelo contrário, ainda é insuficiente, o que é preocupante, tendo em conta as alterações dramáticas que ocorrem durante esta fase da vida: mudanças na composição corporal e nas necessidades metabólicas, estabilização dos padrões alimentares e de atividade física, e maior dependência do ambiente envolvente, sobretudo da família, escola e contexto sociocultural (Krause & Desjeux, 2004).

Por outro lado, ficou claro que é errado difundir recomendações sobre dieta para toda a Europa, quando a realidade de cada país é diferente. Portanto, se existem regras e indicações que devem ser uniformizadas (exemplos: rotulagem de alimentos e valores diários recomendados de cada nutriente), existem também outros aspetos que devem ser adaptados às especificidades regionais (Krause & Desjeux, 2004).

Todavia, e embora sejam desejáveis os esforços de adaptação das intervenções aos destinatários, é unânime que um dos principais meios de influenciar a conduta alimentar passa por ensinar a comer. Explicar o conteúdo em nutrientes de cada alimento, ou indicar as porções adequadas para cada pessoa são pois, mensagens essenciais.

Um estudo realizado em 2009, por Crawford e colaboradores, sugere que a educação nutricional, e o conhecimento daí resultante, pode ter uma influência positiva sobre a conduta alimentar. No entanto, é feita uma ressalva sobre a importância das intervenções não se limitarem a transmitir informação para ser memorizada, e apostarem, em vez disso, numa abordagem mais prática, dirigida à aplicação direta do que é ensinado (Crawford, Kwon, Nichols, & Rew, 2009, citado em González, Penelo, Gutiérrez, & Raich, 2011, p. 131).

Em Portugal, a cada 4 anos, é elaborado um Relatório do Estudo HBSC (Health Behaviour in School-aged Children), que é promovido pela OMS, e liderado pela equipa no

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7 Projeto Aventura Social. A sua 4ª edição, datada de 2010, inclui, à semelhança das precedentes, dados importantes sobre o modo como os adolescentes portugueses se alimentam (Matos et al., 2010).

Assim, constatou-se que, durante a semana, 80.4% dos adolescentes toma sempre o pequeno-almoço, enquanto que 6.7% nunca toma e 12.9% toma apenas às vezes. Aos fins de

semana, as pecentagens não diferem muito, sendo que 81.6% toma sempre o pequeno-almoço, 6.9% nunca toma e 11.5% toma apenas num dos dias (Matos et al., 2010).

Relativamente à comparação entre géneros, verificou-se que os rapazes são quem refere mais frequentemente tomar o pequeno-almoço todos os dias da semana. Aos fins de semana, porém, não se encontraram diferenças estatisticamente significativas entre géneros (Matos et al., 2010).

O Relatório do Estudo HBSC mostra também a frequência com que os adolescentes consomem alguns grupo de alimentos (frutas, vegetais, doces e refrigerantes).

Para os doces e refrigerantes, considerados alimentos pouco saudáveis, os resultados indicam que mais de metade dos adolescentes os consomem pelo menos 1 vez por dia (66% para os doces e 52.8% para os refrigerantes) (Matos et al., 2010), o que é excessivo.

Além deste, continuam a registar-se, entre os adolescentes, outros erros alimentares: períodos prolongados de jejum, consumo excessivo de gorduras, ingestão insuficiente de água, baixa ingestão de cálcio, preferência por alimentos ricos em sódio e baixo consumo de fibras (Cordeiro, 2009).

Embora a qualidade da alimentação seja, em grande parte, reflexo do tipo de nutrientes ingeridos, e das quantidades combinadas de cada um deles, a forma como a alimentação ocorre, ou antes o ambiente em que são feitas as refeições, também influi grandemente, não só no estado nutricional do indivíduo, mas no seu estado global de saúde, o que, como já foi explicado anteriormente, representa um conceito que o adolescente já compreende.

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De facto, a alimentação serve um propósito biológico, mas também é importante do ponto de vista social (Cordeiro, 2009). Fazer as refeições em família, por exemplo, é realmente importante, podendo mesmo tornar-se um fator protetor da unidade familiar. A partilha da refeição favorece a troca de experiências e sentimentos, ajuda a rotinar o quotidiano e funciona como um espaço de apreensão e treino de regras.

Deste modo, as refeições em família constituem o setting ideal para testar, por exemplo, o que é trabalhado em programas de educação alimentar.

Conforme já foi dito, o conhecimento nutricional é suscetível de influenciar positivamente a forma como as pessoas se alimentam, o que pode ajudar a prevenir perturbações do comportamento alimentar. Segundo Neumark-Sztainer (1996), embora a falta de conhecimento nutricional não seja suficiente para que se desenvolvam estes disbúrbios, os sujeitos acometidos tendem a ter lacunas a este nível (1996, citado em González, Penelo, Gutiérrez, & Raich, 2011, p. 131). As conclusões do trabalho de Smolak e Levine (2001) também confirmam a relevância do conhecimento nutricional, indicando que está associado a uma maior satisfação com o corpo e a uma menor probabilidade de adoção de comportamentos de risco para controlo do peso (Smolak, & Levine, 2001, citado em González, Penelo, Gutiérrez, & Raich, 2011, p. 131).

Em face do exposto, torna-se que compreensível que tantos autores se dediquem às questões relacionadas com a alimentação dos adolescentes, até porque as patologias que lhe estão associadas, nomeadamente Obesidade e Perturbações do comportamento alimentar, são cada vez mais mais comuns (Popkin & Gordon-Larsen, 2004).

1.3 Obesidade e Perturbações do Comportamento Alimentar na adolescência

A obesidade é definida como sendo o resultado de um desequíbrio energético, ou seja, ocorre quando o aporte de energia excede o dispêndio, durante um determinado período de

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9 tempo (Kosti & Panagiotakos, 2006, p. 152). Esta doença tem um impacto negativo na autoestima e contribui para inúmeras comorbilidades, tais como hipertensão, patologia cardiovascular, diabetes tipo 2 e vários tipos de cancro (Veugeler & Fitzgerald, 2005).

Tipicamente, utiliza-se o Índice de Massa Corporal (IMC) para avaliar a presença, ou ausência, de excesso de peso ou obesidade. Este índice é calculado através da fórmula (Peso/Altura2) (Kg/m2), correspondendo o valor apurado para cada indivíduo a uma tipologia específica, conforme indicado na Tabela 1, elaborada com base em dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde.

Tabela 1.

Valores de Índice de Massa Corporal (IMC)

IMC > 18 < 25 Kg/m2 Normal

IMC > 25 < 30 Kg/m2 Excesso de Peso

IMC > 30 < 35 Kg/m2 Obesidade Moderada (grau I) IMC > 35 < 40 Kg/m2 Obesidade Grave (grau II)

IMC > 40 Kg/m2 Obesidade Mórbida (grau III)

Apesar de não serem conhecidos todos os fatores que concorrem para o desenvolvimento de obesidade, nem o impacto de cada um deles nesse processo, sabe-se que esta doença é de origem multifatorial (Kosti & Panagiotakos, 2006, p. 152).

Segundo o artigo de Koletzko, Girardet, Klish e Tabacco (2002), os hábitos e as preferências alimentares, o conteúdo calórico da dieta e a composição, em termos de nutrientes, dos alimentos ingeridos, parecem ter um papel preponderante. É pois compreensível, que estes fatores, altamente modificáveis, sejam tantas vezes o alvo dos programas de tratamento e prevenção da obesidade (Magarey, et al., 2011).

No que respeita às preferências alimentares, um estudo realizado nos Estados Unidos chegou a conclusões importantes, que dão conta da existência de variações a nível de género e idade, pelo que qualquer recomendação dietética, por mais adequada que seja, terá que ter

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em conta estes fatores, sob pena de não ter impacto na conduta alimentar dos sujeitos a quem se destina. Além disso, se é verdade que existe uma tendência para crianças e adolescentes preferirem alimentos muito calóricos, e ricos em gorduras e açúcares, também não se deve descurar que outros alimentos (exemplos: uvas, morangos e leite magro), valiosos em termos nutricionais, são igualmente escolhas habituais destas faixas etárias (Bish & Scheule, 2009). Portanto, os programas alimentares não precisam de excluir tudo o que é considerado agradável ao paladar.

Mas para além das preferências alimentares, os hábitos alimentares das crianças e adolescentes parecem ser também influenciados pelas condutas dos pais, pares, media, contexto social em que são feitas as refeições e, possivelmente, experiências alimentares precoces (Koletzko, Girardet, Klish, & Tabacco, 2002).

Em face do problema que representa per si a obesidade, e das patologias que lhe são secundárias, não é de estranhar os esforços que têm sido feitos para a prevenir e tratar.

Embora muitas vezes se considere que esta é simplesmente uma doença de excessos, tal não é inteiramente verdade, já que mesmo nas situações em que a dieta é o principal fator desencadeante, a solução pode não passar simplesmente por impor restrições alimentares, mas antes por uma distribuição mais adequada do aporte de nutrientes. Isto é equivalente a afirmar que os indivíduos com excesso de peso ou obesidade podem, de facto, ter carências nutricionais. Por este motivo, dietas demasiado restritivas, que tendem a produzir desequilíbrios ainda maiores, não são recomendadas para correção do excesso de peso.

Além disso, estes regimes alimentares são bastante difíceis de seguir por longos períodos, sendo frequente o aumento abrupto de peso após a sua suspensão. E finalmente, conforme é apontado no artigo de Koletzko, Girardet, Klish e Tabacco (2002), as dietas muito restritivas acarretam um risco aumentado de perturbações do comportamento alimentar e de outros distúrbios psicológicos.

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11 Nas últimas duas décadas, assistiu-se a uma mudança significativa na forma como as pessoas se alimentam nos países desenvolvidos, tendo esta mudança acarretado um aumento da prevalência da obesidade, e por conseguinte, alterações na estatura média dos indivíduos, no seu estado nutricional e nas doenças associadas (Popkin & Gordon-Larsen, 2004).

Em Portugal, as principais alterações na dieta incluem diminuição do consumo de azeite, peixe, cereais e leguminosas, e aumento do consumo de carne e açúcares simples. Relativamente aos produtos hortícolas e fruta, embora o nosso país seja um dos principais consumidores europeus, o decréscimo também foi significativo (Loureiro, 2004).

Conforme referido no artigo de Koletzko, Girardet, Klish e Tabacco (2002), a obesidade é considerada uma epidemia global, em virtude da sua elevada incidência mundial, tanto em adultos como em crianças.

Tendo em conta que estes problemas tendem a manter-se, ou mesmo agravar-se na idade adulta, existe uma crescente preocupação em travá-los, até porque acarretam elevado prejuízo para a economia dos países afetados.

Relativamente ao risco de o excesso de peso e a obesidade se estenderem à idade adulta, foi feito, entre 1957 e 1964, um estudo longitudinal que incluiu 9000 jovens adultos dos norte-americanos (Popkin & Gordon-Larsen, 2004). Durante o período em que decorreu essa investigação, os sujeitos foram avaliados 13 vezes, tendo-se concluído que mais de 25% eram obesos à data em que completaram 35 anos. Este exemplo ilustra bem a elevada probabilidade que existe para crianças e adolescentes com excesso de peso ou obesidade se tornarem adultos obesos, caso não sejam tomadas medidas de correção da dieta e aumento da atividade física.

De acordo com o European Nutrition and Health Report 2009, apesar de nos últimos anos se ter registado uma diminuição do aporte energético médio por pessoa em alguns países

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da Europa, o facto é que o número de indivíduos que tem peso a mais, nomeadamente crianças e adolescentes, continua bastante elevado.

Portanto, atendendo à definição clássica de obesidade, o problema residirá no baixo dispêndio energético, isto é, no elevado sedentarismo. No entanto, e como é defendido no artigo de Yannakoulia e colaboradores, nos países do mediterrâneo, existe uma baixa adesão à dieta tradicional, que é conhecida por ser equilibrada (2012), o que também poderá ajudar a explicar a elevada prevalência do excesso peso em crianças e adolescentes.

A título de exemplo, refira-se a Espanha, país em que foi desenvolvido o programa multimédia aplicado durante este trabalho de investigação, que regista mais de 20% de crianças obsesas, entre os 2 e os 13 anos (Elmadfa & Freisling, 2009).

De acordo com o European Nutrition and Health Report 2009, Portugal está entre os 3 países com número mais elevado de indivíduos, entre os 4 e os 14 anos, com excesso de peso ou obesidade. Mais especificamente, entre os 10 e os 14 anos, que corresponde à faixa etária em que se encontra a maior parte dos alunos envolvidos no presente estudo, o relatório aponta 19% de raparigas com excesso de peso e 6% de obesas. Para os rapazes, os números são de 21% e 7%, respetivamente.

Conforme mencionado anteriormente, a correção do excesso de peso ou obesidade com recurso a regimes alimentares altamente restritivos e exigentes tende a ser uma estratégia inadequada, em parte devido ao risco destes regimes potenciarem a ocorrência de perturbações do comportamento alimentar. Apesar disso, é importante clarificar que este tipo de doenças surge também em indivíduos com peso normal.

Para além da obesidade, as perturbações alimentares têm constituído foco de atenção e preocupação crescente, no que se refere à alimentação e à saude de jovens e adolecentes (Cordeiro, 2009).

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13 As Perturbações do Comportamento Alimentar (PCA) são definidas como sendo “distúrbios persistentes do comportamento alimentar ou comportamentos destinados à perda de peso, que resultam em prejuízos para a saúde física e psicológica, e que não são secundários a nenhuma outra patologia previamente diagnosticada” (Grave, 2003, p. 580), não havendo critérios definidos para o peso prévio dos doentes.

A Anorexia Nervosa e a Bulimia são as PCA mais bem caracterizadas, embora se reconheça a existência de outras perturbações, como a Binge que, tal como a bulimia, está associada a períodos de ingestão alimentar compulsiva, mas que, contrariamente a esta, não cursa com mecanismos compensatórios (e.g. vómito e ingestão de laxantes ou diuréticos).

Apesar destas doenças afetarem sobretudo adolescentes, ou pelo menos os primeiros sintomas tenderem a surgir durante a adolescência, elas podem também manifestar-se noutras fases da vida. Importa notar que, 9 em cada 10 casos, ocorrem em indivíduos do sexo feminino. Estima-se que a anorexia nervosa afete 1 em cada 200 raparigas e 1 em cada 2000 rapazes (Cordeiro, 2009). A bulimia, por sua vez, é ainda mais frequente (Cordeiro, 2009).

A prevalência das PCA é maior em países industrializados, em que não existe escassez de alimentos, e em que a magreza na mulher está associada a maior atratividade (Rome, et al., 2003).

De entre os fatores que, reconhecidamente, maior influência têm no desenvolvimento de PCA, destacam-se: Fatores Socioculturais, Dieta, Insatisfação Corporal, Autoestima, Apoio Social, Coping, Hostilidade de terceiros, Obesidade, Perfecionismo, Interação Familiar e Ambiente, Eventos Geradores de Stress e Depressão. Alguns deles estão em foco neste estudo.

Relativamente à Dieta, não é inesperada a inclusão no rol de fatores influentes no surgimento de PCA, tendo em conta a restrição alimentar típica da anorexia, a voracidade

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seguida de purga comuns na bulimia, ou a oscilação entre diferentes padrões alimentares que comummente são detetadas nos doentes.

Com efeito, a privação de alimentos autoinfligida parece conduzir a manifestações psicológicas, tais como preocupações com comida e alimentação, labilidade emocional, disforia e distractibilidade (Polivy, 1996, citado em Ghaderi, 2001, p. 59).

A Insatisfação Corporal, por outro lado, também tem um papel preponderante, sendo bastante influenciada pela ação dos media. A divulgação de uma imagem corporal ideal, e a subsequente comparação com a autoimagem, podem produzir no indivíduo uma grande insatisfação, pelo facto de, na maioria das pessoas, esta comparação pôr em evidência enormes diferenças.

Um estudo conduzido por Feingold and Mazella, em 1996, mostrou, nos 20-30 anos que o precederam, uma tendência crescente, entre as mulheres, de insatisfação com a autoimagem, a qual parece ter acompanhado a difusão, cada vez mais ampla, de modelos magros e altos, em revistas e filmes (Ghaderi, 2001).

Estreitamente relacionada com a Satisfação, ou Insatisfação, Corporal, está a Autoestima, que pode ser definida como sendo um sentimento de contentamento e autoaceitação do indivíduo, resultante da apreciação que faz do seu valor, competência e capacidade de satisfazer as suas aspirações (Attie & Brooks Gunn, 1989, citado por Ghaderi, 2001, p. 61).

Considerando os fatores que podem contribuir para as PCA, é expectável que se advogue uma intervenção dirigida à aceitação do corpo, ao desenvolvimento de interesses e valores que não estejam ligados à estética e à imagem, à potenciação de juízo crítico relativamente à influência dos media e da sociedade em geral, à promoção de um regime alimentar saudável, ao treino de estratégias de coping, ao controlo das emoções e à resolução de conflitos interpessoais (Morales & Fuentes, 2008).

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15 Esta intervenção deve ser o mais precoce possível, iniciando-se pelo menos na adolescência, e ser dirigida sobretudo à prevenção, já que as ações com vista à cura destas patologias são frequentemente mal sucedidas.

1.4 Programas escolares de promoção de saúde na adolescência

A Prevenção refere-se a qualquer ato que vise a alteração de circunstâncias que promovam, iniciem, mantenham ou intensifiquem determinadas problemáticas, como por exemplo as PCA (Levine & Maine, 2005).

Por Prevenção Primária, sobre a qual incide o presente estudo, entende-se o recurso a programas ou esforços destinados a evitar a ocorrência de perturbação. Mais ainda, o trabalho levado a cabo no âmbito da prevenção primária, tem o propósito de promoção da saúde.

A Prevenção Secundária, pelo contrário, implica uma intervenção dirigida à deteção precoce da patologia, de modo que se possa travar a sua evolução.

No caso particular das PCA, dada a gravidade com que frequentemente se manifestam, e a dificuldade que existe em tratá-las, a prevenção assume-se como a melhor estratégia de combate ao problema e, por isso mesmo, como prioridade dos especialistas em saúde pública (Yager & O'Dea, 2006). E em virtude da tendência que os doentes têm para ocultar o problema, evitando pedir ajuda, deve privilegiar-se a prevenção primária.

Portanto, como sucede no programa divulgado no artigo de Morales e Fuentes, em 2008, e também no que deu origem ao presente trabalho, deve orientar-se a prevenção no sentido de ajudar os destinatários a desenvolver estratégias que lhes permitam minimizar o efeito dos fatores de risco de PCA.

A promoção da saúde na adolescência é, como se compreende, um enorme desafio. Pelo trabalha que implica, e os riscos que comporta, deve ser encarada seriamente e envolver, por um lado, equipas multidisciplinares de profissionais formados em cada uma das áreas

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16

alvo de intervenção (exemplos: nutrição, dependências e sexualidade), por outro, todos os agentes que de alguma forma participam na vida dos adolescentes, e que podem funcionar como exemplos de conduta (pais, professores, etc.). Mas mais do que isso, é da maior importância que o ambiente em que os adolescentes se inserem lhes proporcione condições que favoreçam hábitos saudáveis.

Ora, no que respeita à alimentação, a tarefa de fazer com os adolescentes façam escolhas saudáveis tem vindo a ser dificultada pela proliferação, em escolas e locais próximos, de pontos de venda de fast food, máquinas de distribuição de snacks e outras alternativas pouco adequadas. E apesar de estarem bem identificados os prejuízos para a saúde resultantes do consumo reiterado deste tipo de alimentos, o seu baixo preço e o facto de, alegadamente, serem agradáveis ao paladar, fez com que diminuisse o hábito de preparar refeições caseiras.

Em face das modificações citadas, e do consequente aumento de crianças e adolescentes com excesso de peso e obesidade, tem vindo a ser entregue às escolas a responsabilidade de desenvolver programas de promoção de hábitos alimentares saudáveis. A ideia de base é precisamente a de que as escolas constituem um ambiente privilegiado para a implementação destes programas (Ferreira, 2005).

Um documento publicado em Portugal defende justamente a necessidade de promover a educação sanitária, tal como se promove o ensino de qualquer outra disciplina, e aponta várias razões para que este trabalho seja feito nas escolas (Precioso, 2004):

- Em primeiro lugar, todas as crianças e adolescentes passam por um qualquer sistema de ensino, pelo que esta é a melhor forma de abranger estas faixas etárias na sua globalidade.

- Por outro lado, vários estudos mostram que é na infância e adolescência que se estabelecem as rotinas e condutas que tendem a ser adotadas ao longo de toda a vida.

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17 - Além disso, é em idades precoces que a recetividade a conteúdos teóricos e práticos está otimizada.

- Finalmente, é nas escolas que se encontram, à partida, os profissionais mais bem preparados para esta tarefa, e não raramente, é às escolas que acorrem outros grupos profissionais (exemplos: psicólogos e enfermeiros), importantíssimos para o processo.

Porém, é necessário levar a cabo mudanças no espaço escolar, de forma que os programas não estejam à partida condenados ao insucesso, por promoverem algo que entra em contradição com aquilo que o ambiente oferece.

Outro aspeto que deve ser tido em conta, refere-se à necessidade de os responsáveis pela implementação destes programas conhecerem bem as características dos destinatários, nomeadamente em relação ao seu estádio de desenvolvimento e contexto social.

Nesta perspetiva, os resultados de determinada intervenção estão fortemente dependentes das adaptações feitas em função da população-alvo, podendo estas ser orientadas com o apoio do psicólogo. O trabalho do psicólogo é mesmo muito importante, na medida em que este executa funções de consultor, formador e dinamizador (Barros, 2003). A sua ação é, por isso, suscetível de otimizar os efeitos do trabalho de outros profissionais.

Os programas de educação alimentar implementados devem servir, como refere Gonçalves Ferreira (2005), três objetivos essenciais:

- Motivar para a aceitação da mudança na alimentação e, simultaneamente, propor condutas alimentares corretas.

- Assegurar a divulgação dos fatores que influenciam a nutrição, veiculando a informação respeitante aos alimentos e à forma como devem ser combinados na elaboração de refeições.

(28)

18

Nos últimos anos, tem havido uma enorme proliferação de programas dirigidos a crianças e jovens em idade escolar, com o propósito de prevenir a obesidade e as PCA.

A educação alimentar encontra-se entre o grupo de medidas fundamentais para promover escolhas saudáveis de alimentos, já que a ignorância em relação a estas questões tem enorme influência sobre o estado nutricional dos adolescentes (Sachithananthan, Buzgeia, Awad, Omran, & Faraj, 2012).

Os conhecimentos sobre nutrição são reconhecidamente um meio importante para sensibilizar os adolescentes relativamente às suas necessidades nutricionais, o que justifica a seu papel na prevenção de doenças crónicas (Sachithananthan, Buzgeia, Awad, Omran, & Faraj, 2012).

Deste modo, a Organização Mundial de Saúde tem defendido a difusão de informação e a organização de programas vocacionados para este objetivo, de modo a serem alertadas as entidades governamentais e as comunidades sobre a importância da educação para a saúde (2009, citado por Sachithananthan, Buzgeia, Awad, Omran, & Faraj, 2012, p. 173).

Os primeiros programas elaborados apostavam numa abordagem didática, em que o foco era o fornecimento de informação, relacionada com nutrição, imagem corporal e perturbações do comportamento alimentar. E apesar deste tipo de abordagem se ter mostrado eficaz na divulgação das PCA, os efeitos reais a nível da modificação de condutas pouco saudáveis revelaram-se modestos.

A chamada “segunda geração” de programas inovou pela introdução de uma abordagem mais interativa, com grande incidência sobre a correção dos hábitos pouco saudáveis. Neste caso, os participantes eram incitados, sob várias formas, a emitir juízos críticos sobre o “corpo magro ideal”, tendo em vista a modificação de crenças e comportamentos inadequados.

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19 Finalmente, os programas preventivos caminharam no sentido de melhorar a imagem corporal dos participantes e, consequentemente, a sua autoestima.

Portanto, as intervenções abandonaram a abordagem exclusivamente didática, de transmissão de conhecimentos sobre alimentos e nutrição, e começaram a investir no desenvolvimento da capacidade crítica, já que este parece ser um bom preditor de escolhas saudáveis (Loureiro, 2004). Salientar a dimensão social, e não tanto os nutrientes, poderá ser então, uma boa estratégia a adotar em educação alimentar (Loureiro, 2004).

Com efeito, e apesar dos estudos nunca terem mostrado resultados espetaculares em nenhuma das abordagens, alguns autores defendem que estas iniciativas são vantajosas, sendo desejável a sua disseminação pela generalidade das escolas.

Tal como defendem Veugelers e Fitzgerald (2005), a implementação de programas escolares intensivos e multifacetados é eficaz na prevenção da obesidade infantil. Todavia, esta eficácia é muitas vezes mascarada pelo facto dos referidos programas serem preferencialmente dirigidos a escolas onde já existem níveis elevados de obesidade.

Apesar de não haver unanimidade nas conclusões dos estudos de eficácia dos programas escolares de promoção de saúde, a análise do design dos que são mais bem sucedidos, mostra que estes comportam uma intervenção multifacetada, dirigida às escolas, famílias e comunidades (Power, Bindler, Goetz, & Daratha, 2010).

O programa apresentado por Power e seus colaboradores (2010), denominado TEAMS (Teen Eating and Activity Mentoring in Schools) tem precisamente este caráter multifacetado, envolvendo estudantes (7º e 8º anos de escolaridade), pais e professores. Os conteúdos trabalhados no TEAMS englobam crenças sobre a relação entre os comportamentos dos adolescentes e a saúde, os seus hábitos alimentares e de atividade física, bem como as preferências, influências e barreiras associadas a esses hábitos. Além disso, são também discutidas recomendações sobre intervenções que visem a promoção da atividade física e das

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20

condutas alimentares saudáveis durante a adolescência. Importa sublinhar que os resultados deste trabalho mostram que os adolescentes mais jovens compreendem que fatores como a alimentação, a atividade física e os hábitos de sono estão implicados na saúde, mas apesar disso, as suas preocupações recaem sobre às consequências de curto-prazo que a esses fatores estão associadas, tais como controlo do peso, energia ao longo do dia ou performance desportiva. (Power, Bindler, Goetz, & Daratha, 2010).

Num programa de educação alimentar envolvendo 200 alunos entre os 14 e os 21 anos, oriundos de seis escolas de Bengazhi, em que o foco era a divulgação de informação sobre nutrição, verificou-se uma diminuição na ingestão de alimentos muito calóricos e de baixo valor nutricional, tais como chocolates e batatas fritas, embora não se tenham registado alterações significativas no Índice de Massa Corporal ou nos níveis de atividade física (Sachithananthan, Buzgeia, Awad, Omran, & Faraj, 2012). Ora, da própria definição de obesidade decorre que, por si só, a correção de alguns hábitos alimentares poderá não ser suficiente para evitar o excesso de peso, sobretudo se se considerar um período de tempo curto. Portanto, como referem Sachithananthan e colaboradores (2012), para que uma intervenção tenha um impacto significativo, é necessário que tenha uma duração de 6 meses a 1 ano. Além disso, recomenda-se a realização de ações de follow-up.

Por conseguinte, é necessário ter em conta que alguns programas são pouco eficazes, e outros podem ter efeitos contrários aos desejados. Mais concretamente, os programas escolares com o intuito de promover condutas alimentares saudáveis e, desse modo, prevenir a obesidade e as PCA, podem, por exemplo, levar à rotulagem dos indivíduos com excesso de peso, o que favorece a adoção de condutas altamente restritivas ao nível da dieta. Este risco deve pois, ser tido em conta por todos os envolvidos no desenvolvimento e implementação de programas preventivos (Yager & O'Dea, 2005).

(31)

21 Mesmo considerando os riscos associados a este tipo de intervenção, existem estudos que sustentam a utilidade dos programas de prevenção.

Na verdade, são vários os programas que provaram ser capazes de diminuir comportamentos de risco de PCA. Em alguns deles, verificou-se que os benefícios permaneciam até 2 anos após a intervenção (Stice & Shaw, 2004). Mas nem todos atuam ao mesmo nível, nem da mesma forma, o que significa que a magnitude do seu sucesso também não é equivalente.

Na análise de Stice e Shaw, é salientado que as intervenções mais eficazes costumam ter como destinatário um grupo restrito, de características bem definidas, são interativos, e não exclusivamente didáticos, e decorrem ao longo de várias sessões. Adicionalmente, os efeitos são mais satisfatórios nos programas dirigidos apenas a indivíduos do sexo feminino, e com mais de 15 anos, o que corresponde à tipologia do grupo de maior risco de desenvolvimento de PCA. Finalmente, os autores referem que os programas que não revelam explicitamente ter como objetivo a prevenção das PCA são mais eficazes.

Em 2007, Stice, Shaw e Marti publicaram uma análise reiterando as conclusões apresentadas no parágrafo anterior, e acrescentando que existem outras variáveis que aumentam a probabilidade de sucesso das intervenções. Assim, parece ser vantajoso implementar os programas com o apoio de especialistas nas temáticas em causa (saúde, nutrição e PCA), embora possa haver sucesso sem que tal aconteça. Há também evidência de que os projetos que contemplam um período de follow-up alcançam melhores resultados do que os que o não fazem.

O programa que deu origem ao presente trabalho resulta de uma tradução e adaptação de um programa espanhol intitulado Alimentación, modelo estético femenino y medios de comunicación: Cómo formar alumnos críticos en educación secundaria, desenvolvido em 2008.

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22

Num estudo feito com adolescentes espanholas, com uma média de idades de 13.5, verificou-se a eficácia deste programa na melhoria dos conhecimentos de nutrição das participantes (Raich, Sánchez-Carracedo, & López-Guimerà, 2008).

Numa outra investigação, constatou-se igualmente a sua utilidade na diminuição da pressão para perder peso, bem como uma melhoria na conduta alimentar, além do aumento do conhecimento nutricional, sobretudo em grupos de risco (Raich, Portell, & Peláez – Fernández, 2010).

Ainda com recurso a este programa, foi feito um estudo com adolescentes, desta vez de ambos os sexos, em que se observou uma diminuição do receio de ganhar peso e, consequentemente, uma menor tendência para dietas altamente restritivas, as quais, como sabe, aumentam o risco de desenvolvimento de PCA. Este último estudo contemplou um follow-up a 30 meses, tendo-se constatado a manutenção dos resultados enunciados (González, Penelo, Gutiérrez, & Raich, 2011). No entanto, e embora as conclusões sejam animadoras, ficou claro que os conhecimentos nutricionais per si não são suficientes para produzir melhorias na conduta alimentar e reduzir os comportamentos alimentares perturbados. O sucesso a este nível estará então relacionado com a abordagem metodológica, ou seja, com a forma como são trabalhados os conteúdos (González, Penelo, Gutiérrez, & Raich, 2011). De facto, mais do que transmitir informação, deve potenciar-se a participação ativa dos destinatários e a aplicação prática dos conhecimentos no dia a dia (González, Penelo, Gutiérrez, & Raich, 2011). Por isso mesmo, foram introduzidas algumas alterações metodológicas na aplicação do programa a adolescentes portugueses, conforme se encontra descrito adiante.

(33)

23 CAPÍTULO 2: OBJETIVOS

O objetivo geral do presente estudo, que se integra num projeto alargado, consiste na comparação dos resultados do programa multimédia Alimentação, modelo estético feminino e meios de comunicação – como formar alunos com juízo crítico no ensino secundário, considerando, por um lado, o módulo Alimentação e Nutrição (NUT) isolado e, por outro, a intervenção com os módulos Modelo estético feminino (MEF)+ Modelo estético feminino nos media (ML), nas variáveis comportamento alimentar e conhecimento nutricional.

Os objetivos específicos são os seguintes:

(1) - Caracterização da amostra quanto aos Hábitos alimentares e Conhecimento nutricional.

(2) - Avaliação do impacto do programa, comparando os resultados dos três momentos de avaliação (Pré-teste, Pós-teste e Follow-up), para as condições experimentais (MEF+ML) e (NUT), considerando as variáveis:

- Peq_almoço_semana (nº de vezes que toma o pequeno-almoço durante a semana); - Peq_almoço_fds (nº de vezes que toma o pequeno-almoço durante o fim de semana); - Q7_a_frutas (consumo semanal de frutas);

- Q7_b_vegetais (consumo semanal de vegetais); - Q7_c_doces (consumo semanal de doces);

- Q7_d_refrigerantes (consumo semanal de refrigerantes); - Q7_e_carne (consumo semanal de carne);

- Q7_f_peixe (consumo semanal de peixe);

- Q7_g_farináceos (consumo semanal de farináceos); - Q7_h_lacticínios (consumo semanal de lacticínios); - EAT_TOTAL (comportamentos alimentares perturbados); - NUT_TOTAL (conhecimento nutricional).

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24

É de salientar que, inicialmente, estava previsto fazer-se a comparação com uma outra condição experimental (MEF+ML+NUT), mas este objetivo foi abandonado, em virtude de ter havido desistência de um número elevado de sujeitos ao longo das várias sessões.

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25 CAPÍTULO 3: METODOLOGIA

Este estudo baseou-se na tradução, adaptação e aplicação do programa mulimédia espanhol Alimentación, modelo estético femenino y medios de comunicacion – como formar alumnos críticos en educación secundaria, em 3 turmas do 8º ano de escolaridade.

O programa é constituído por três módulos distintos, estado dois deles relacionados com o modelo estético feminino (Modelo estético feminino e Modelo estético feminino nos media) e outro ligado à temática da alimentação e nutrição (Alimentação e Nutrição).

Conforme está descrito no Quadro 1, a aplicação do programa foi feita sob diferentes condições experimentais, de modo a poder ser comparado o impacto dos módulos Modelo estético feminino + Modelo estético feminino nos media com o do módulo Alimentação e Nutrição, que adiante serão descritos.

3.1 Caracterização sociodemográfica da amostra Tabela 2.

Caracterização da amostra por Género

Condição Experimental Género Frequência %

Feminino 8 47.1 MEF+ML Masculino 9 52.9 Total 17 100.0 Feminino 9 39.1 NUT Masculino 14 60.9 Total 23 100.0

Como se verifica, a amostra total é constituída por 40 sujeitos, sendo que à condição experimental MEF+ML correspondem 8 raparigas e 9 rapazes, e à condição experimental NUT 9 raparigas e 14 rapazes.

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26

Tabela 3.

Caracterização da amostra por Idade

Condição Experimental Idade Frequência %

MEF+ML 13 13 76.5 14 3 17.6 15 1 5.9 Total 17 100.0 NUT 13 14 60.9 14 8 34.8 15 1 4.3 Total 23 100.0

A amostra é constituída por sujeitos de 13, 14 e 15 anos, embora haja predomínio de alunos com 13 anos (76.5% na condição experimental MEF+ML e 60.9% na condição experimental NUT).

Tabela 4.

Caracterização da amostra por Situação Familiar

Condição Experimental Idade Frequência %

MEF+ML Nuclear Intacta 10 58.8 Nuclear Reconstruída 1 5.9 Monoparental 3 17.6 Transgeracional 2 11.8 Total 16 94.1 NUT Nuclear Intacta 15 65.2 Nuclear Reconstruída 2 8.7 Monoparental 3 13.0 Transgeracional 2 8.7 Família Alargada 1 4.3 Total 23 100.0

(37)

27 Em ambas as condições experimentais os sujeitos provêm, maioritariamente de famílias nucleares intactas (58.8% na condição MEF+ML e 65.2% na condição NUT).

Tabela 5.

Caracterização da amostra por Nível Socioeconómico (NSE)

Condição Experimental NSE Frequência %

MEF+ML Baixo 2 11.8 Médio 10 58.8 Médio-alto e Alto 5 29.4 Total 17 100.0 NUT Baixo 9 39.1 Médio 8 34.8 Médio-alto e Alto 6 26.1 Total 23 100.0

Na condição experimental MEF+ML, 58.8% dos sujeitos são de NSE médio, 29.4% são de NSE médio-alto e alto e a menor percentagem corresponde aos indivíduos de NSE baixo (11.8%).

Pelo contrário, na condição experimental NUT, a maior percentagem corresponde a indivíduos de NSE baixo (39.1%), seguida da de NSE médio (34.8%) e, finalmente , a menor percentagem refere-se a alunos de NSE médio-alto e alto (26.1%).

3.2 Estruturação do Programa e Instrumentos de Avaliação 3.2.1 Estruturação do Programa

Programa multimédia Alimentação, modelo estético feminino e meios de comunicação – como formar alunos com juízo crítico no ensino secundário (Adaptado do programa espanhol Alimentación, modelo estético femenino y medios de comunicacion – como formar alumnos críticos en educación secundaria, 2008)

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28

Este programa é constituído por três unidades/ módulos:

- Unidade/ módulo 1: Modelo estético feminino (MEF) – Visa promover uma reflexão sobre o modelo estético feminino em voga na nossa sociedade, bem como sobre a sua evolução ao longo dos tempos, e a sua variabilidade geográfica e cultural.

- Unidade/ módulo 2: O modelo estético feminino nos media (ML) – Pretende orientar os sujeitos na descodificação de mensagens veiculadas pelos media, e desenvolver o seu juízo crítico relativamente a essas mensagens.

- Unidade/ módulo 3: Alimentação e Nutrição (NUT) - Tem como objetivos o fornecimento de informação sobre os alimentos e como manter uma alimentação equilibrada, e a correção de crenças erradas, potencialmente desencadeantes de perturbações do comportamento alimentar.

3.2.2 Instrumentos de Avaliação

Seguindo o protocolo utilizado no estudo congénere espanhol, neste estudo foram utilizados, para além do questionário de dados pessoais e sócio-demográficos, o Questionário sobre saúde física e alimentação (Adaptado do estudo internacional Health Behaviour in School-aged Children, 2010), Eating Attitudes Test-26 (EAT-26, Garner et al., 1982; versão portuguesa Francisco et al., 2011) e o Questionário de Nutrição (NUT-Q, Raich et al., 2008).

3.2.2.1 Questionário geral de dados pessoais e sociodemográficos

Este questionário teve como propósito a recolha de dados pessoais e sociodemográficos dos participantes, designadamente: idade, ano de escolaridade, peso, altura, agregado familiar, profissão e nível de escolaridade dos pais.

(39)

29 3.2.2.2 Questionário sobre saúde física e alimentação (Adaptado do estudo

internacional Health Behaviour in School-aged Children, 2010) Trata-se de um instrumento que visa a obtenção de dados dos participantes,

relacionados com alguns aspetos da sua saúde e conduta alimentar: idade da menarca (raparigas) ou da mudança de voz (rapazes), realização, ou não, de dieta no momento da avaliação, apreciação, por parte do próprio, do seu estado de saúde e do peso, frequência com que faz atividade física, frequência com que toma o pequeno-almoço e regularidade com que consome determinados grupos de alimentos.

As variáveis sobre as quais incide o presente estudo são: frequência com que toma o pequeno-almoço (durante a semana e ao fim de semana) e consumo semanal dos vários grupos alimentares (frutas, vegetais, doces, refrigerantes, carne, peixe, farináceos e lacticínios).

3.2.2.3 Eating Attitudes Test-26 (EAT-26, Garner et al., 1982; versão portuguesa Francisco et al., 2011)

Trata-se de um questionário autorrelato destinado à identificação de comportamentos alimentares perturbados. A versão original do EAT (EAT-40) era constituída por 40 itens de múltipla escolha. Contudo, em 1982, Garner, Olmsted, Bohr e Garfinkel apresentaram a versão abreviada (EAT-26) com 26 itens, estabelecendo como ponto de corte os 20 pontos, como um indicador positivo da possibilidade de existência de uma perturbação alimentar.

Os itens estão divididos por três escalas ou fatores:

- Dieta, que se dirige à recusa patológica de comidas de elevado valor calórico e à preocupação intensa com a forma física;

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30

- Bulimia e Preocupação com os Alimentos, que pretende despistar a ocorrência de episódios de ingestão compulsiva de alimentos, seguida de vómito e/ou de outros comportamentos levados a cabo com o objetivo de evitar o aumento de peso;

- Controlo Oral, que reflete o autocontrolo em relação aos alimentos e eventuais pressões sociais que estimulam a ingestão alimentar.

O EAT-26 está estruturado como uma escala de Likert de 6 pontos, em que o participante seleciona, para cada item, uma das 6 respostas alternativas: (A) Sempre, (B) Frequentemente, (C) Muitas vezes, (D) Algumas vezes, (E) Raramente, e (F) Nunca.

O somatório é realizado com as pontuações das 3 primeiras respostas alternativas (Sempre-3 pontos, Frequentemente-2 pontos, e Muitas vezes-1ponto), exceto no item 25, que tem os valores invertidos (Algumas vezes-1ponto, Raramente-2 pontos, e Nunca-3 pontos) (Garner, et al, 1982).

As subescalas não foram utilizadas de forma independente como indicadores de comportamento alimentar perturbado, tendo-se antes recorrido ao índice global, que corresponde ao somatório dos 26 itens.

Neste estudo foi usada uma versão portuguesa do instrumento (Francisco, Oliveira, Santos, & Novo, 2011d), tendo a escala boa consistência interna (α =,91).

3.2.2.4 Questionário de Nutrição (NUT-Q, Raich et al., 2008)

O questionário original foi criado propositadamente para utilização num estudo longitudinal, realizado em Espanha, com uma amostra de 317 adolescentes (Raich et al., 2008).

Trata-se de um instrumento que visa a avaliação de conhecimentos de nutrição, relativos a determinados grupos de alimentos. O questionário consiste em 10 perguntas de escolha múltipla, sendo a pontuação total variável entre 0 e 10 pontos (González, Penelo,

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31 Gutiérrez & Raich, 2011, p. 63). Esse resultado é obtido pelo somatório da pontuação de cada uma das respostas, a qual pode ser 0 (resposta errada) ou 1 (resposta certa).

A consistência interna no início do estudo espanhol foi baixa (α =,53), tendo sido maior no reteste (α =,72).

No presente estudo foi usada uma tradução portuguesa deste instrumento, da reponsabilidade das investigadoras principais do estudo.

3.3 Procedimento Experimental

Este estudo teve como base a aplicação, em ambiente de sala de aula, de uma adaptação portuguesa do programa multimédia Alimentación, modelo estético femenino y medios de comunicacion – como formar alumnos críticos en educación secundaria, com a designação

Alimentação, modelo estético feminino e meios de comunicação – como formar alunos com juízo crítico no ensino secundário.

A aplicação foi feita durante sessões semanais de 90 minutos, em semanas consecutivas, sendo que para cada módulo foram requeridas 3 sessões.

Além das 3 sessões utilizadas para cada módulo, fizeram-se ainda, para cada condição experimental, duas outras sessões, uma precedendo a aplicação do programa propriamente dito, na qual foi explicado aos sujeitos o propósito do estudo e a sua participação no mesmo, e em que também foi feita a primeira recolha de informação (Pré-teste), e outra, um mês após a aplicação do programa, para follow-up.

A aplicação foi feita com a colaboração de 3 turmas do 8º ano de escolaridade, pertencentes a escolas da grande Lisboa, e compreendeu então 3 momentos essenciais de recolha de informação: Pré-teste, antes da aplicação do programa, Pós-teste, depois da aplicação do programa, e Follow-up, 1 mês depois. A recolha de informação fez-se através de um protocolo formado por um conjunto de 6 questionários:

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- Questionário geral de dados pessoais e sócio-demográficos;

- Questionário sobre saúde física e alimentação (Adaptado do estudo internacional Health Behaviour in School-aged Children, 2010);

- Sociocultural Attitudes towards Appearance Questionnaire (SATAQ, Heinberg et al., 1995; versão portuguesa Francisco et al., 2011) ;

- Contour Drawing Rating Scale (CDRS, Thompson & Gray, 1995; versão portuguesa Francisco et al., 2011) ;

- Eating Attitudes Test-26 (EAT-26, Garner et al., 1982; versão portuguesa Francisco et al., 2011) ;

- Questionário de Nutrição (NUT-Q, Raich et al., 2008).

O recurso a escolas diferentes teve como objetivo submeter os sujeitos a diferentes condições experimentais, de modo a avaliar a eficácia de diferentes módulos isoladamente, mais especificamente, a eficácia dos módulos MEF+ML e a do módulo NUT.

Importa salientar que este estudo se foca preferencialmente no módulo NUT, pelo que apenas foram exaustivamente descritos os instrumentos que permitiram trabalhar a sua influência (EAT-26 e NUT-Q). No entanto, foi usado um conjunto alargado de questionários, conforme se pode verificar pela lista anteriormente apresentada.

A aplicação do programa multimédia obedeceu às indicações que figuram no guião da versão original, tendo, contudo, sido introduzidas algumas alterações de caráter metodológico. Assim, foram associadas duas atividades ao módulo NUT, com o intuito de tornar o trabalho com os alunos mais interativo:

- Discussão de Menus: No final da aplicação deste módulo foi apresentada uma listagem com vários menus, sendo que alguns deles eram desequilibrados, por conterem excesso de gorduras, hidratos de carbono ou proteínas, e outros equilibrados. Foi então

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33 pedido aos alunos que fizessem uma apreciação desses menus, e que indicassem o desequílibrio dominante, caso existisse.

- Refeições Saudáveis e Não Saudáveis: Foi ainda solicitado aos sujeitos que preenchessem uma ficha referindo refeições “saudáveis” e “não saudáveis” que tivessem feito na semana anterior, bem como os aspetos que tinham favorecido a realização da “refeição saudável” (exemplo: haver alimentos disponíveis) ou, no caso da refeição considerada “não saudável”, os que tinham concorrido para essa forma pouco correta de alimentação (exemplo: não haver o hábito de cozinhar na família).

Além destas atividades, foi ainda oferecido um Diploma (reforço positivo) a todos os alunos que completaram o programa, de acordo com as condições experimentais definidas para a sua escola.

3.4 Procedimento de análise de dados

O programa usado para a análise estatística dos dados foi o SPSS STATISTICS 19, cujos resultados serão apresentados de acordo com a sua relevância. Tendo em conta a dimensão da amostra, foram utilizados testes não-paramétricos.

A análise estatística começou pela determinação dos coeficientes de correlação de Spearman, para estudo da associação entre as variáveis em causa.

De seguida, para comparar os resultados obtidos nos três momentos de avaliação, para cada condição experimental (amostras emparelhadas), foi usado o Teste ANOVA de Friedman.

Posteriormente, nas variáveis em que foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (p < .05), recorreu-se ao Teste de Wilcoxon, com o intuito de se determinar em que momento da aplicação do programa tinham ocorrido as diferenças encontradas. Note-se que, nestes casos, procedeu-se à correção de Bonferroni, ou seja, ao invés de se considerar o

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valor de significância .05, considerou-se .0167, correspondente ao valor da significância dividido pelo nº de testes Wilcoxon realizados (.05/3 = .0167).

Além disso, foi ainda usado o Teste de Mann-Whitney, para comparar as diferenças entre as duas condições experimentais (amostras independentes), em cada um dos 3 momentos, relativamente às variáveis consideradas.

Quadro 1.

Condições Experimentais

Condição Experimental Módulos Aplicados

MEF+ML Modelo estético feminino (MF)

O modelo estético feminino nos media (ML)

Referências

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