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Apontamento sobre a História da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa

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Academic year: 2021

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IÊNCIAS DA

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JUSTINO MAGALHÃES

1. A história das Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação, em Portugal, culminou um processo de desenvolvimento da psicologia e de constituição das ciências da educação, inserto num tempo longo e assinalado por distintas conjunturas. Tal processo, como comprova a história da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, reflecte também o dilema matricial das ciências da educação e a complexificação do campo psicológico.

Orientada para um sujeito humanizado, a educação respeita ao indivíduo e ao social, e contém um duplo registo: o da acção pedagógica e o do produto. Em virtude desta dualidade, a tónica das ciências humanas e sociais, designadamente a das ciências da educação, tendo oscilado, ao longo do século XX, entre ciências-acção e ciências-produto, evoluiu por fim para a superação epistémica do pedagógico pelo antropológico. Com objecto e epistemologia próprios, as ciências da educação vieram a formar uma constelação específica no continente das ciências humanas e sociais. O processo de formação e autonomização das ciências da educação, superador do binómio acção-produto, foi lento e variou de sistema educativo para sistema educativo. Também o campo das ciências psicológicas foi sendo constituído numa base antropocêntrica. Assim, por meados do século XX, as componentes metódicas e gnosiológicas da psicometria e da psicanálise, que tinham vindo a ser desenvolvidas de modo alternativo, passavam a integrar o campo mais vasto das antropociências2.

A consolidação daqueles campos epistémicos foi acompanhada pela institucionalização da componente formativa. Cotejando, de forma sumária, os casos francês e português, verifica-se um certo paralelismo, ainda que em datas não coincidentes. Desde 1945, as Faculdades de Filosofia francesas acolhiam cadeiras de Psicologia, Sociologia e sub-secções da Pedagogia. Em 1967, na sequência da Reforma Fouchet, foram criadas licenciaturas e mestrados em Ciências da Educação. As Ciências da Educação foram oficialmente criadas em 1975, muito embora houvesse já investigação e ensino nesse domínio. Em 1980, as Ciências da Educação passaram a constituir uma secção

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In Matos, Sérgio Campos e Ramos do Ó, Jorge (Coord.) A Universidade de Lisboa, Séculos XIX-XX, volume II. Lisboa: Tinta-da-China, pp. 1087-1105.

2 Barahona Fernandes fez uso deste conceito para caracterizar uma sistematização das ciências naturais, humanas e culturais como propedêutica antropológica de uma formação ampla e alargada dos futuros médicos (cf. Fernandes, 1973).

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2 independente da Psicologia. Em Portugal, as Ciências Pedagógicas eram leccionadas na formação de Professores desde a década de 30 e, na sequência da Reforma de 1957, foi aventada a possibilidade de criação de um Instituto de Ciências da Educação. Com a Reforma do Curso de Medicina, em 1955, foi criada a disciplina de Psicologia Médica; pelo Decreto nº 12/77, de 20 de Janeiro, foram criados Cursos Superiores de Psicologia, nas Universidades de Coimbra, Lisboa e Porto. Na sequência do Decreto-lei nº 529/80, de 5 de Novembro, aqueles Cursos Superiores de Psicologia foram convertidos em Faculdades das mesmas Universidades. Assim, entre a criação dos Cursos Superiores de Psicologia (1977) e a criação das Faculdades de Psicologia e Ciências da Educação (1980) decorreu um período de apenas três anos.

2. Criadas em 1930 e destinadas à preparação pedagógica dos professores do ensino secundário, as Secções de Ciências Pedagógicas nas Faculdades de Letras de Coimbra e de Lisboa eram compostas pelas seguintes disciplinas: Pedagogia e Didáctica; História da Educação, Organização e Administração Escolares; Psicologia Geral; Psicologia Escolar e Medidas Mentais; Higiene Escolar. A componente de Prática Pedagógica decorria sob a forma de Estágio, havendo, para o efeito, um Liceu Normal em Lisboa e outro em Coimbra. Desde o ano de 1957, também o Liceu D. Manuel II, no Porto, passou a funcionar como Liceu Normal.

Referindo-se à Reforma da Universidade de Lisboa, organizada nos termos do Decreto nº 18.973, de 16 de Outubro de 1930, Oliveira Marques comentou «que a grande novidade estava na instituição da secção de Ciências Pedagógicas» (Marques, 1988, p. 152). Parte da leccionação das novas cadeiras foi assegurada por professores já existentes e parte por professores contratados para o efeito. A cadeira de Pedagogia e Didáctica e a de Psicologia Escolar foram leccionadas pelo mestre Vieira de Almeida e pelo mestre Matos Romão, tendo sido contratados António de Carvalho Dias e Rui Teles Palhinha, respectivamente, para a leccionação de Higiene Escolar e de História da Educação. A cadeira de História da Educação veio, posteriormente, a ser assumida por Agostinho Fortes, regente das cadeiras de História da Antiguidade Oriental e de História da Antiguidade Clássica. Joaquim Ferreira Gomes, cuja opinião, sufragada por outros historiadores, aqui sigo de perto, no que respeita à formação psicopedagógica de professores, concluiu que, entre a implementação do Decreto nº 18.973, de 16 de Outubro de 1930, e a publicação do Decreto-Lei nº 48.868, de 17 de Fevereiro de 1969, a orientação da formação de professores e, por consequência, o destino das ciências da educação não foram alterados de forma significativa. Não obstante, pelo Decreto nº 36.507, de 17 de Setembro de 1947, havia estado prevista a criação de um Instituto Superior de Ciências Pedagógicas, e com a reforma das Faculdades de Letras, regulada pelo Decreto nº 41.341, de 30 de Outubro de 1957, a disciplina de Psicologia Geral passou a ser designada de Introdução à Psicologia.

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3 No que se refere ao significado da Secção de Ciências Pedagógicas para a formação de professores e para a constituição das Ciências da Educação, o quadro permaneceu todavia inalterado.

Na sequência da Reforma de 1957, que incluiu a reformulação da Licenciatura de Filosofia, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa passou a dispor de um Laboratório de Psicologia. Com 2 horas teóricas e 2 horas práticas semanais, a disciplina de Introdução à Psicologia integrava o currículo do 1º ano do curso; a disciplina de Psicologia Experimental e Aplicada era do 4º ano; os alunos que o pretendessem poderiam frequentar o Seminário de Psicologia no 5º ano do curso, no âmbito do qual elaborariam a tese de licenciatura. Sendo Artur Moreira de Sá professor catedrático de Psicologia e director do Laboratório de Psicologia, foi criado, por iniciativa do Instituto de Alta Cultura, o Centro de Estudos de Psicologia e de História da Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Nesse Centro, na década de 60, foram aferidas algumas das principais Escalas de Inteligência. Dispunha então o Departamento de Psicologia de Laboratórios, anfiteatros com visão num só sentido, salas de testes individuais e colectivos, biblioteca especializada. Asseguravam a leccionação o professor Artur Moreira de Sá e os assistentes José Ferreira Marques e Maria José Cardoso de Miranda.

O Instituto Superior de Educação, previsto na Reforma de 1957, assentaria em valências científicas e formativas, apoiadas por uma extensão laboratorial e manter-se-ia basicamente destinado à formação de professores. Na Oração inaugural do ano lectivo de 1960-1961, proferida em 1 de Novembro de 1960, Marcello Caetano, então Reitor da Universidade de Lisboa, referiria que o aumento das inscrições na Faculdade de Letras, bem como a elevada frequência das lições de Pedagogia do Curso de Férias no ultramar, «constitu[em] nova prova do interesse enorme desta matéria nos dias de hoje e como seria oportuna a criação do Instituto Superior de Educação de que a Universidade de Lisboa e o País absolutamente carecem» (Caetano, 1974, p. 158).

Único professor catedrático de Ciências da Educação e tendo acabado de visitar diversos centros de formação europeus, Delfim Santos, na palestra intitulada “Formação de Professores” que proferiu no Liceu Pedro Nunes, em 1 de Março de 1958, relembrou não haver sido ouvido na elaboração da Reforma de 1957 e referiu-se ao Instituto Superior de Educação, nela previsto, nos seguintes termos:

É patente que a formação do professor do ensino liceal pressupõe muitos outros problemas a resolver concomitantemente: o ensino primário, que felizmente vai ser prolongado e também reestruturado, o ensino universitário, pelo menos na parte referente ao certificado de estudos das cadeiras a exigir ao futuro aluno-mestre do Instituto Superior de Educação; a elaboração de um plano de estudos que permita bom trabalho ao professor e bom aproveitamento ao aluno; a organização de programas compatíveis com os níveis de desenvolvimento dos escolares, e, com urgência, a criação de estudos de psicopedagogia e

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caracteriologia para conhecimento das aptidões e capacidades da criança portuguesa a fim de se tentar a possível elaboração de uma educação nacional. (Santos, 1958)

Também Rui Grácio comentou a situação resultante da implementação da Reforma de 1957, assinalando a necessidade de ampliar e aprofundar a componente das Ciências da Educação e argumentando que «O Currículo de estudos das secções de Ciências Pedagógicas continua a ser comparativamente reduzido e nele se incluem disciplinas que fazem parte de outras secções» (Grácio, 1995, p. 100). Transcrevendo palavras de Delfim Santos, reincidia:

(…) o Ministério da Educação assegura, como aliás lhe compete, a formação escolar de quadros técnicos que servem em outras secretarias de Estado (juristas, economistas e financeiros, arquitectos, médicos e higienistas, zootécnicos, agrónomos, silvicultores e outros engenheiros). Mas não forma quadros especializados para os seus próprios serviços! Nem pode fazê-lo sem criar licenciaturas em Ciências Pedagógicas e um Instituto Superior de Educação, ou coisa similar! (idem, p. 102)

Em forma de balanço sobre o Ensino da Psicologia, Joaquim Bairrão, escrevendo em 1968, concluía que, desde a Reforma do Curso de Medicina em 1955, a Psicologia Médica se mantinha como cadeira do 3º ano da Licenciatura de Medicina e que nas Faculdades de Letras:

1º) A Psicologia não é ensinada num corpo próprio de disciplinas, mas integrada na Filosofia; 2º) O seu ensino visa sobretudo a formação de professores; 3º) Existem importantes limitações legais (textos das Reformas) ao ensino da Psicologia, pois nem a Psicologia Fisiológica, nem a Social, nem a da Criança (se tivermos em mente um ensino, já hoje ultrapassado, de Psicologia por cátedras) figuram nos programas. (Bairrão, 1968, p. 743)

Barahona Fernandes havia ministrado, desde 1948, Cursos Livres de Psicossomática e de Psicologia Médica, para médicos internistas. Entendia que a Psicologia deveria fazer parte de um quadro científico mais amplo: «Desde 1955, propusemos que a Cadeira de Psicologia Médica, logo nos primeiros anos do Curso, fosse, de certo modo, uma introdução propedêutica de feição antropológica à Medicina, vista num ângulo tal que esta se tornasse autenticamente ‘humana’» (Fernandes, 1973, p. 444). A partir de 1955 passou a reger a cadeira de Psicologia Médica no 3º ano do Curso de Medicina. Colaboraram nessa Disciplina, Pedro Polónio, Nunes da Costa, Luís Soeiro, Pompeu e Silva, Miller Guerra, Iriarte Peixoto, Seabra Diniz, Almada Araújo, entre outros.

Na sequência da Reforma prevista no Decreto nº 48.627, de 12 de Outubro de 1968, os Cursos de Letras ficaram desdobrados em dois ciclos: o bacharelato, formado pelos primeiros 3 anos, e a licenciatura, que incluía o conjunto dos 5 anos. No curso de Filosofia, a Introdução à Psicologia mantinha-se no 1º ano e a Psicologia Experimental no 2º ano. Nos Cursos de Licenciatura em Filologia Românica, Filologia Germânica, História, Geografia, a disciplina de Introdução à Psicologia

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5 e a de Psicologia Experimental pertenciam aos 4º e 5º anos. Diferentemente, com a Reforma das Faculdades de Ciências, resultante da implementação do Decreto nº 443/71, de 11 de Outubro, foram criados dois tipos de licenciatura: a especialização científica; a formação educacional. O ramo educacional (4º e 5º anos) era formado pelas disciplinas: Psicologia Pedagógica; Didáctica Geral; Orientação e Organização Escolares; Metodologia (relativa à matéria da licenciatura e a uma disciplina afim).

A Lei nº 5/73, de 25 de Julho3, previa que a formação de professores para o Ensino Preparatório passasse também a ser de grau superior, devendo, para tal, ser criadas Escolas Normais Superiores. A formação de professores para o Curso Geral do Ensino Secundário passava a ser composta pelo grau de bacharel, obtido nas Universidades, nos Institutos Politécnicos e em estabelecimentos equiparados, devendo o grau de bacharel ser completado por cursos que configurassem uma licenciatura científico-pedagógica, obtida em Institutos de Ciências da Educação. A formação de professores para o Curso Complementar do Ensino Secundário consistiria, em regra, numa licenciatura obtida na universidade, complementada por um curso ministrado no respectivo Instituto de Ciências da Educação. A formação de agentes educativos para a infância e para o ensino primário (Educadoras de Infância e Professores do Ensino Primário) seria obtida em Escolas de Educadoras de Infância e Escolas do Magistério Primário. Contudo, todos os professores das disciplinas de Ciências da Educação, desde aqueles que actuariam na formação de Educadoras de Infância aos das Escolas Normais Superiores e estabelecimentos afins, deveriam ser formados nos Institutos de Ciências da Educação das Universidades. Os Institutos Superiores de Educação Artística, de Educação Física e Desportos, e de Educação Especial formariam e habilitariam professores para leccionação das respectivas matérias nos ensinos preparatório e secundário. Os cursos dos Institutos Universitários de Ciências da Educação assegurariam a formação complementar para a docência do ensino secundário, incluindo o estágio. Caberia a estes mesmos Institutos organizar cursos para formação e actualização pedagógica dos docentes do ensino superior.

No plano internacional, era então manifesta a tendência para que a formação de professores do ensino básico fosse de grau superior. Segundo um inquérito organizado conjuntamente pela UNESCO-OIT e publicado em 1975, apenas em 23 dos 67 países analisados, os alunos ingressavam na escola normal para o ensino básico sem haverem completado o ensino médio (v. Blat Gimeno e Marín Ibáñez, 1982, p. 129).

3. Informou Joaquim Ferreira Gomes que, em dois momentos distintos, chegou a ser planeada uma Licenciatura em Psicologia e em Pedagogia: quando da implementação da Reforma das

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6 Faculdades de Letras, consagrada no Decreto nº 41.341, de 30 de Outubro de 1957; quando da criação dos bacharelatos, pelo Decreto nº 48.627, de 12 de Outubro de 1968. Na Universidade de Coimbra, a Secção de Ciências da Educação da Faculdade de Letras que contava, entre os seus professores, com um conjunto de diplomados em Universidades estrangeiras, publicou, desde 1960, a Revista

Portuguesa de Pedagogia. Em 1976, foi criado o Departamento de Psicologia e de Ciências da

Educação da Universidade de Coimbra (cf. Gomes, 1977, pp. 282-286).

Na Universidade de Lisboa, a Psicologia tinha funcionado desde 1890 como curso livre no Curso Superior de Letras. Em 1901, foi integrada na reorganização curricular, conjuntamente com Pedagogia e História da Pedagogia. Com a fundação da Faculdade de Letras, em 1911, em resultado da transformação do Curso Superior de Letras, a Psicologia passou a estar representada como área científica nos planos de estudo, embora inserida no grupo de Filosofia. No ano lectivo de 1975/ 76, teve início o 1º ano do Curso Superior de Psicologia (Licenciatura). Era então Reitor da Universidade de Lisboa, o professor Barahona Fernandes, que integrou a Comissão Instaladora daquela Licenciatura. No preâmbulo do Decreto nº 12/77, de 20 de Janeiro, o I Governo Constitucional mostrando-se ciente da conveniência em «(…) o País dispor de pessoal qualificado em psicologia e em número suficiente, nomeadamente nos campos da educação, da saúde e do trabalho (…), sente a obrigação de dotar a Universidade de estruturas pedagógicas e científicas que preencham a lacuna». Assim, foi determinada a criação de «um curso superior de Psicologia nas Universidades de Coimbra, Lisboa e Porto» (Artigo 1º, nº 1). Enquanto não fossem criadas escolas superiores de Psicologia, os Cursos de Psicologia funcionariam nas Faculdades de Letras, de que receberiam apoio administrativo, devendo, no entanto, a respectiva comissão instaladora funcionar com «autonomia científica, pedagógica e de gestão» (Artigo 1º, nº 2). Os estudos de Psicologia seriam ao nível do grau de licenciado, cuja atribuição «é inerente à aprovação em todas as disciplinas, monografias, seminários e estágios previstos para os cinco anos do plano de estudos do curso» (Artº 5º, nº 2). O grau de doutor obedeceria às regras gerais da Universidade. Para assegurar a coordenação nacional do ensino de psicologia foi criada uma comissão consultiva, constituída por todos os membros das comissões instaladoras e por outras entidades, propostas por aquelas comissões. O número de alunos a admitir em cada ano, bem como as disciplinas nucleares de acesso seriam estipuladas ano a ano pelas comissões instaladoras. O Decreto nº 12/77, de 20 de Janeiro, «assegurou uma institucionalização plena à licenciatura em Psicologia, cujo 1º ano funcionara já em 1975/6 nas Faculdades de Letras de Lisboa e do Porto, e a continuação dos estudos aos seus alunos» (Marques e Estrela, org., 2007, p. 9). No caso da Universidade de Lisboa, o Curso de Psicologia teve um estatuto inter-Faculdades (Letras, Medicina, Ciências).

Em cumprimento do Decreto-Lei nº 529/80, de 5 de Novembro, foram criadas as Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação, resultantes da transformação dos Cursos Superiores de

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7 Psicologia «em estabelecimentos de ensino superior universitário». Tal processo coincidiu com a conclusão das primeiras Licenciaturas em Psicologia e correspondeu às várias propostas apresentadas pelas Universidades de Lisboa, Coimbra e Porto. As Faculdades ficaram com dupla valência científica (a da Psicologia e a das Ciências da Educação) e foram criadas nas Universidades de Coimbra, Lisboa e Porto (Artigo 1º). Para além das licenciaturas em Psicologia e em Ciências da Educação, concederiam o grau de mestre e de doutor, assegurariam os cursos de complemento de formação em Ciências da Educação para a docência e cursos de especialização nos diferentes domínios da Psicologia e das Ciências da Educação. Ficavam autorizadas a colaborar com outros estabelecimentos de ensino superior; deveriam assegurar a investigação científica em Psicologia e em Ciências da Educação; colaborar com instituições que o solicitassem e prestar serviços à comunidade, no âmbito do apoio prático ao ensino e à investigação (Artº 2º, nº 2).

De acordo com o Decreto-Lei nº 529/80, de 5 de Novembro, até disporem de instalações definitivas, as Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação permaneceriam sedeadas nas instalações atribuídas aos Cursos Superiores de Psicologia (Artº 12º). Por proposta dos respectivos Reitores seriam nomeados Conselhos Directivos provisórios (Artº 14º, nº 1), constituídos «por um presidente e quatro vogais, escolhidos de entre docentes da respectiva Universidade, científico-pedagogicamente qualificados nos domínios da Psicologia e das Ciências da Educação» (Artº 14º, nº 2). Para além das funções administrativas e de gestão, o Conselho Directivo deveria propor planos de desenvolvimento da Faculdade, incluindo o processo de instalação definitiva (Artº 14º, nº 3). Cada Faculdade passaria a dispor de um Conselho Científico e de um Conselho Pedagógico, que se regeriam pela lei geral aplicável (Artº 17º). O quadro do Pessoal Docente era uniforme às três Faculdades, sendo composto por dois grupos disciplinares: 1º grupo – Psicologia; 2º grupo – Ciências da Educação, cada um deles com seis professores catedráticos e seis professores associados. De modo análogo, também o Quadro do Pessoal era uniforme, sendo composto por: pessoal dirigente – secretário (1); pessoal técnico – chefe de secção (1); primeiro-oficial (1); segundo-oficial (1); terceiro-oficial (2); escriturário-dactilógrafo (2); pessoal auxiliar – telefonista (1); encarregado de pessoal menor (1); contínuo (3); porteiro (3).

Ferreira Marques, na Lição Inaugural do ano lectivo de 1994-95, que intitulou “Lugar da Psicologia na Ciência e na Universidade”, comentando a brevidade do processo que mediou entre a criação da Licenciatura em Psicologia (iniciada nas Faculdades de Letras de Lisboa e Porto, em 1975/76, e na de Coimbra, no ano seguinte) e a institucionalização da Psicologia com Faculdade própria – as Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação, criadas em 1980, salientou que tal aceleração se ficou a dever ao facto de «ter demorado tanto a criação dessa licenciatura» (Marques, 1994, p. 151). As Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação então criadas ministravam cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento, mas, tal como Ferreira Marques sistematizou, o

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8 enquadramento científico e académico da Psicologia continuava variável de país para país. No Reino Unido, em regra, a Psicologia constituía departamento universitário e ministrava cursos de Bachelor of

Arts (ou Master), em alguns casos, e Bachelor of Science (ou Master), sendo os conteúdos muito

semelhantes. Em França, uma vez abolidas as Faculdades pela lei Edgar Faure, havia U.E.R. de Psicologia. Noutros países, casos da Bélgica, Suíça e Portugal, havia Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação. Na Espanha, havia Faculdades de Psicologia. Distintamente, nos Estados Unidos da América do Norte, havia Faculdades de Psicologia com mais que um departamento, em conformidade as diferentes áreas da Psicologia (idem, ibidem).

Em forma de balanço, Ferreira Marques referiu-se à experiência conjunta da Psicologia e das Ciências da Educação, integradas numa mesma Faculdade, salientando as vantagens que advieram do facto de a Psicologia, no ciclo básico da licenciatura, haver adoptado uma organização pluridisciplinar que não se limitava às Ciências da Educação. No caso da Universidade de Lisboa, para além da formação académica, concretizada no curso de licenciatura, mestrado e doutoramento em Psicologia e no curso de licenciatura, mestrado e doutoramento em Ciências da Educação, a Faculdade levava a efeito actividades científicas que contavam com especialistas nacionais e estrangeiros. A Psicologia dispunha de unidades de Ensino-Investigação-Intervenção, sedeadas na Faculdade, que permitiam uma prestação regular de serviços à comunidade, designadamente: Orientação Escolar e Profissional, Psicologia Clínica, Psicoterapia e Aconselhamento, Psicologia Social, Observação e Diagnóstico Psicológico. Tais unidades permitiam concretizar uma dimensão da actividade universitária prevista no Decreto-Lei nº 529/80, de 5 de Novembro e consignada nos Estatutos da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação.

4. Criada em 1980, a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa funcionou sem instalação própria por mais de uma década, dividida entre a Faculdade de Letras (onde ocupava as instalações atribuídas ao Curso Superior de Psicologia), um edifício na Rua Pinheiro Chagas cedido pelo Ministério da Educação e, posteriormente, também um piso alugado na Avenida do Brasil. Quando, em 1985, foi definitivamente adoptada a proposta de uma construção de raiz, na Cidade Universitária, em terrenos situados a nascente da Faculdade de Direito, tinham sido já esgotadas algumas hipóteses de arrendamento e adaptação de edifícios existentes.

O projecto da 1ª fase do novo edifício da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, na Alameda da Universidade, foi adjudicado pela Direcção Geral das Construções Escolares a uma equipa coordenada pelo Arquitecto Manuel Taínha, Professor da Faculdade de Arquitectura de Lisboa, em Dezembro de 1985. Na sua elaboração, o arquitecto «procurou em diálogo com a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação conhecer as necessidades da instituição e acolheu com interesse propostas e sugestões apresentadas por docentes, alunos e funcionários» (Marques, 1991, p. 5).

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9 Reunido em de 30 de Julho de 1987, o Conselho Directivo da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação «congratulou-se com a aprovação do projecto do edifício da faculdade pelo Reitor e resolveu prosseguir activamente as diligências para a abertura dos concursos para a obra e fiscalização».4 Na reunião de 27 de Outubro de 1987, tomou conhecimento do Despacho nº 36/ME/87, de 26 de Outubro, em que o Ministro da Educação punha fim a um longo processo, «declarando a utilidade pública da expropriação com carácter de urgência de parte do terreno da Cidade Universitária necessário à construção da faculdade, e que ainda não era propriedade do Estado»5. O mesmo Despacho autorizava a Universidade de Lisboa a tomar posse administrativa daquelas parcelas expropriadas. Em acto contínuo à tomada de conhecimento deste Despacho

(…) o Conselho Directivo deliberou por unanimidade solicitar ao Senhor Reitor a abertura imediata do Concurso para a construção do edifício da Faculdade na Cidade Universitária, de modo a que a sua adjudicação seja ainda possível este ano, com a utilização das verbas respeitantes à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação consignadas especificamente para o efeito, em 1987, no PIDDAC. Esta posição do Conselho Directivo teve o apoio dos Presidentes do Conselho Científico e do Conselho Pedagógico.6

Aprovado o Plano de Execução e aberto o concurso para a construção, a cerimónia oficial de lançamento da 1ª pedra ocorreu em 15 de Abril de 1988. Em 5 de Novembro de 1990, foi leccionada a 1ª aula, no novo edifício, que só viria a ser oficialmente inaugurado em 12 de Abril de 1991, com a presença do Presidente da República. Nas palavras de Ferreira Marques, ao tempo presidente do Conselho Directivo da Faculdade e um dos principais mentores da memória científico-pedagógica do Projecto, o edifício foi construído com objectivos claramente definidos e corresponde a uma organização funcional e inovadora, em termos universitários, de que destacou como exemplos mais expressivos:

(…) as áreas das unidades de ensino-investigação-serviços à comunidade (Orientação Escolar e Profissional, Psicologia Social, Psicoterapia e Aconselhamento, Psicologia Social, Observação e Diagnóstico Psicológico, Ciências da Educação), o Centro de Recursos Educacionais, o Laboratório de Estatística e de Análise de Dados, a Zona de Estudo dos Alunos, e a própria distribuição das várias funções pelos corpos e pisos do edifício. Áreas especialmente importantes são também as correspondentes a salas e anfiteatros, gabinetes de trabalho e de consulta, Biblioteca e Documentação, Laboratório de Psicologia Experimental, zonas de Psicologia Animal, Biologia e Psicofisiologia, serviços administrativos e técnicos. (Marques, 1991, p. 5)

4 Acta nº 12/ 87, de 30/7/87. 5 Acta nº 16/87, de 27/10/87. 6 Idem. ibidem.

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10 Das áreas gerais, Ferreira Marques salientou as que ficaram destinadas ao Convívio, ao Bar e à Associação de Estudantes. Concluiu, reiterando que na construção da primeira fase do edifício houve inteira conciliação entre a memória arquitectónica e a memória pedagógica.

O valor artístico do edifício ficou assinalado com a atribuição do Prémio Valmor, em 1991, e mereceu principal destaque na atribuição, ao Arquitecto Manuel Taínha, do Prémio da Secção Portuguesa da Comissão Internacional dos Críticos de Arte, 1991. O painel de azulejos do pátio interior, da autoria da pintora Menez, recebeu a Menção Honrosa do Prémio Municipal “Jorge Colaço” de Azulejaria, 1991. Nas palavras de Paulo Varela Gomes, «as decisões projectuais mais importantes de Manuel Taínha destinaram-se a fazer confluir duas hipóteses opostas: suavizar mas manter a coerência monumental da Alameda; ligá-la ao pedacinho de cidade desenhado pela Rua de Malpique» (Gomes, 1991, p. 66). Tal como sucede no edifício da Faculdade de Direito, concebido pelo arquitecto Pardal Monteiro e situado do mesmo lado da Alameda, no tipo de planta que adoptou, Manuel Taínha manteve espaços abertos e pátios internos, voltados para as traseiras do edifício; no entanto,

(…) projectou um grande pátio claustral e aberto (e não um saguão ajardinado) onde se circula, se trabalha e se pode viver o dolce farniente universitário, ao abrigo do vento e à vista dos curiosos. O essencial dos lugares activos do novo conjunto situa-se em volta deste claustro. (idem, ibidem)

A composição estética da planta concilia uma perspectiva orgânico-funcional e uma simplicidade geral resultante das soluções directas e do uso de materiais correntes, com a incorporação de elementos arquitectónicos singulares como o «botaréu», as varandas curvas salientes, a escada do átrio curva e iluminada de alto, que lhe conferem a harmonia, identidade e inovação, religando «o campus e a cidade, a monumentalidade e a discreta vizinhança, a história antiga e recente» (idem, p. 67)7.

5. A institucionalização da Psicologia e das Ciências da Educação na Universidade de Lisboa, tendo ficado consagrada, desde o início da década de 80, como Faculdade, e sediada em edifício próprio a partir de 1991, assinala o relevo que, no plano universitário, tem sido conferido àqueles domínios científicos. Quando da ocupação das instalações definitivas, a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, para além da licenciatura em Psicologia e da licenciatura em Ciências da Educação, tinha aprovado o Curso de Mestrado em Psicologia com onze áreas de especialização e o Curso de Mestrado em Ciências da Educação com catorze. Os primeiros cursos de Mestrado em Psicologia tiveram início em 1993/94. A oferta de formação pós-graduada em Ciências da Educação passou a abranger também o Diploma Universitário de Especialização, com

7 O edifício abrigou a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação até 2009; na sequência de um processo de autonomização, acolhe actualmente a Faculdade de Psicologia e o Instituto de Educação.

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11 nove áreas de Especialização em Ciências da Educação e uma em Psicologia. Quer o doutoramento em Psicologia, quer o doutoramento em Ciências da Educação, ali ministrados, contavam com oito Especialidades. O Curso de Mestrado em Ciências da Educação da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa fora criado pela Portaria nº 514/82, de 24 de Maio. Por dificuldade de instalação, o arranque deste curso foi sucessivamente adiado, tendo funcionado, pela primeira vez, em 1986/87, com as Áreas de Especialização de Análise e Organização do Ensino e Psicologia da Educação. Estava então sedeado nas instalações da Avenida do Brasil.

Em 1988, teve início o primeiro curso de Licenciatura em Ciências da Educação, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. Em 1993/94, teve início o Diploma Universitário em Ciências da Educação, tendo funcionado os seguintes Cursos de Pós-Graduação: Administração Educacional; Avaliação em Educação; Educação Especial; Formação Pessoal e Social; Supervisão Pedagógica. Para além deste Curso, no ano de 1994/95 funcionou ainda o Curso de Formação de Formadores de Professores de Educação Tecnológica. Em 2005/2006, funcionaram os primeiros Cursos de Formação Avançada, conducente ao Doutoramento em Ciências da Educação, na Especialidade de Administração Educacional.

No ano de 1987, o Plano de Estudos da Licenciatura em Psicologia, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, incluía: o Ciclo Geral, formado pelo 1º, 2º e 3º anos; o Ciclo Complementar formado pelos 4º e 5º anos, no Ramo A (Orientação Escolar e Profissional), no Ramo B (Psicologia Clínica), no Ramo C (Psicoterapia e Aconselhamento), no Ramo D (Psicologia Social). No Plano de Estudos de 2000, a Licenciatura em Psicologia era um Curso de 5 anos, sendo os 3 primeiros de formação de base (ciclo básico) e os 2 últimos o ciclo complementar que correspondia à pré-especialização. A pré-especialização estava organizada em 4 variantes, algumas das quais se sub-especializavam por núcleos: 1) Variante de Psicologia Clínica Cognitivo-Comportamental. Cognitiva e Sistémica, com o Núcleo de Psicologia Clínica da Saúde, o Núcleo Cognitivo Comportamental, o Núcleo Sistémico, o Núcleo de Neuropsicologia Clínica; 2) Variante de Psicologia Clínica Dinâmica, com o Núcleo de Neuropsicologia Clínica; 3) Variante de Psicologia da Orientação e Desenvolvimento da Carreira; 4) Variante de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações.

Criada em 1988, a Licenciatura em Ciências da Educação tinha, nos termos do artº 8º da Portaria 514/88, de 29/07, duas modalidades de acesso: contingente do concurso geral de acesso; contingente do concurso directo à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. Podiam concorrer através do concurso directo à Faculdade, os titulares de: a) bacharelato de educadores de infância; b) bacharelato de professores do ensino primário; c) curso de serviço social ministrado pelos institutos superiores de serviço social; d) curso de enfermagem geral; e) exame especial de avaliação de capacidades para acesso a este curso. A duração do curso era de cinco anos, o

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12 último dos quais era inteiramente preenchido pelo Estágio. Todas as disciplinas dos quatro primeiros anos eram semestrais. Diferentemente, o 2º Plano de Estudos de estava organizado em três blocos: ciclo inicial (1º e 2º anos); ciclo de pré-especialização (3º e 4º anos), dividido em quatro áreas (A – Formação de Professores; B – Formação de Adultos; C – Administração Educacional, D – Desenvolvimento Curricular); Estágio (5º ano).8

Em conformidade com os Estatutos, a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa contava com os seguintes órgãos de governo: Assembleia de Representantes; Conselho Directivo; Conselho Científico; Conselho Pedagógico; Conselho Administrativo. A investigação em Psicologia era assegurada por dois Centros: Centro de Psicologia Clínica e Experimental; Centro de Psicometria e Psicologia da Educação. A investigação em Ciências da Educação era assegurada pela Unidade de I&D em Ciências da Educação e pelo Centro de Estudos da Escola. Havia também o Laboratório de Psicologia Experimental e o Laboratório de Estatística e Análise de Dados.

A Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa diplomou centenas de licenciados, em Psicologia e em Ciências da Educação; fez aprovar e realizou Mestrados e Doutoramentos; diplomou docentes e acolheu Provas de Agregação de docentes de outras instituições do Ensino Superior; celebrou protocolos com congéneres estrangeiras; orientou e ministrou serviços à comunidade, nos sectores da Educação, Formação, Saúde, Trabalho. Durante mais de uma década manteve colaboração com a Universidade Nova de Lisboa, nos cursos do Ramo de Formação Educacional, e desde 1987 participou com regularidade nos Cursos do Ramo Educacional e nas Licenciaturas em Ensino da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Ao longo dos anos, a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa promoveu e acolheu importantes eventos científicos e académicos de âmbito nacional e internacional, que seria impossível sistematizar aqui. Na Comemoração dos vinte anos de existência da Faculdade, que ocorreu em 9 de Novembro de 2000, Danilo Silva, ao tempo Presidente do Conselho Directivo, no discurso proferido, concluía que parte dos Membros do Corpo Docente era oriunda do primeiro grupo de licenciados em Psicologia, que havia licenciados em Psicologia a trabalhar «em serviços de saúde, emprego, escolar, jurídico, social» e que, no decurso de vinte anos, o número de doutoramentos ascendera a «31 em Psicologia e a 13 em Ciências da Educação» (in AA.VV., 2000, p. 15). A estes totais acresciam 168 mestrados concluídos em Ciências da Educação e 34 em Psicologia; os cursos de mestrado tinham tido início, respectivamente, em 1984 e em 1993 (idem, ibidem). Frequentavam a Faculdade cerca de 1000 alunos nas Licenciaturas e cerca de 200 nos Mestrados.

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Com a adequação dos Cursos à Convenção de Bolonha, em 2007, a Licenciatura de Psicologia deu origem ao Mestrado Integrado de Psicologia, com duração de cinco anos, e a Licenciatura em Ciência da Educação foi convertida no I Ciclo de Ciências da Educação, com duração de três anos.

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6. Desde Émile Durkheim que o quadro epistémico do educacional passava a compreender a perspectiva de modernização e inovação, para além das versões teórica e prática, e das dimensões de campo, objecto, método, sistema e organização escolar, meios e agentes qualificados (cf. Durkheim, 1911). A história da(s) ciência(s) da educação desvela um objecto epistémico envolvido em polémica, sujeito a uma diversidade de soluções, intrínsecas e extrínsecas, algumas obtidas por convenção, hegemonia conceptual e metódica, condicionamento político-ideológico, econometria de recursos, perspectivismo. A variação das disciplinas e a instabilidade da nomenclatura organizacional oscilaram entre a manutenção de conjuntos heterogéneos, congregadores de uma diversidade de áreas científicas e especialidades, e o recurso a sub-designações resultantes da hiper-especialização e da micro-objectualidade. A transposição para o Ensino Superior foi um desígnio frequentemente adiado e nem por isso menos sujeito a polémicas, dada a indeterminação entre privilegiar a dualidade teórico-prática ou a síncrese psicopedagógica (tecnológica). Congregando um compósito de ciências humanas, ciências sociais, tecnologias, praxeologias e resultando de uma diversidade genealógica (desde a adaptação teórico-prática e a réplica ou a especialização das ciências-mãe à exclusividade objectual e metódica), as Ciências da Educação constituíram um caso epistémico e um desafio curricular. Enquanto ciências mergulhadas na acção, nelas, frequentemente, o efémero das soluções foi confundido com a subtileza do objecto, e a relatividade conceptual foi interpretada como fragilidade, ou mesmo como inadvertência científica.

Chamado a proferir a Lição inaugural do Ano Escolar de 1999-2000, Albano Estrela que, com Ferreira Marques, foi um dos principais mentores do Projecto da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, e que teve um lugar de destaque na Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, reflectindo sobre “O Tempo e o Lugar das Ciências da Educação”, destacou o peso da exterioridade na epistemologia das Ciências da Educação. Salientou que da emergência de novos campos de investigação resulta uma pluralidade científica e que «ciclicamente surge a tomada de consciência de que essa pluralidade se revela insuficiente para captar a especificidade própria do campo educativo e pedagógico» (Estrela, 1999, p. 8). Em forma de síntese, contrapunha àquela mutação, entre outros aspectos, a acção das Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação de que, em seu entender, tinha resultado uma solidez científica,

(…) com expressão em várias áreas do conhecimento educacional, como a Pedagogia, a Administração e a Gestão Comparada, a Sociologia da Educação, a Psicologia da Educação, a Teoria e o Desenvolvimento Curricular, as Metodologias de Ensino, a Formação de Professores, a Educação de Adultos, a Filosofia da Educação. (idem, p. 13)

Em 2000, discursando na comemoração dos 20 Anos da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, António Nóvoa, ao tempo Presidente do Conselho Científico, reiterou que «a Psicologia

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14 e as Ciências da Educação estão, inevitavelmente no centro de um debate que diz respeito às pessoas e aos seus processos de formação» (in AA.VV., 2000, p. 22); essa centralidade ficava demonstrada pelo crescimento da procura nos distintos graus de ensino e formação, bem assim como na «resposta positiva» (idem, ibidem) que o ‘mercado de trabalho’ vinha a dar aos licenciados. A existência da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa reflecte uma permanente procura de resposta aos desafios das realidades psicológica e educativa, designadamente através da adequação dos planos de estudos e da reorientação da investigação, compreendendo o valor social da ciência, valorizando a investigação colectiva, «ligando-se a centros de investigação e a redes científicas nacionais e internacionais» (idem, ibidem), como fez tensão de salientar António Nóvoa, que aproveitou para recordar:

É justo reconhecer o acerto das políticas de ciência e tecnologia postas em prática nos últimos anos: as Unidades de Investigação & Desenvolvimento sediadas na nossa Faculdade (sempre avaliadas com ‘Muito Bom’ ou com ‘Excelente’ têm sentido os seus efeitos benéficos. (idem, ibidem)

A abertura à inovação e o ajustamento a diferentes factores conjunturais, designadamente no que respeita às Ciências da Educação, ficaram assinalados por transformações nos Planos de Estudo da Licenciatura em Ciências da Educação e na recomposição dos Grupos e das Secções disciplinares. De Plano de Estudos para Plano de Estudos, houve disciplinas acrescentadas, disciplinas suprimidas, disciplinas subsumidas em Seminários (sistemáticas e compósitos curriculares interdisciplinares, hierarquizados por um gradativo de especialização e abertura profissional)9. Assistiu-se, também e por contraponto, à criação e à expansão epistémica e processual de temáticas e problemáticas como a da Avaliação e a das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, transformadas em disciplinas específicas e fortalecendo-se como áreas de especialização. Por outro lado, o Desenvolvimento Curricular subsumia-se, e as disciplinas de fundamentação ficavam reduzidas a um minimum genealógico e conceptual, de iniciação e ilustração básicas. A disciplina de Tecnologias Educativas, que, no Plano de Estudos de 1988-89, era semestral (com a designação de Recursos e Tecnologias Educativas), passou, no 2º Plano de Estudos a ser constituída por quatro semestres (Tecnologias Educativas I, II, III, IV). Estas dinâmicas tiveram repercussão nas componentes material e laboratorial e tiveram implicações directas na formação, contratação e mobilização dos docentes-investigadores.

A mobilização dos investigadores e dos professores, bem assim como a organização e expansão dos recursos científicos e técnicos da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa tenderam a orientar-se por uma racionalidade de projecto; a motivar-se por um espírito de missão; a perspectivar-se por uma lógica de resolução de problemas. O mapa científico e académico cresceu e diversificou-se. Correlativamente, ocorreu uma melhoria no grau de qualificação

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15 científica e técnica dos investigadores, dos docentes e dos quadros intermédios. Tal evolução foi sendo acompanhada de uma re-arrumação das secções e das disciplinas, em consonância com as circunstâncias e com o condicionamento das Ciências da Educação a um presentismo induzido e prospectivo. A história da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, cumprindo um projecto de inovação no interior da Universidade de Lisboa, ilustra e assinala o compromisso científico e técnico com a resolução dos principais desafios da Psicologia, da Educação e do Ensino na Sociedade Portuguesa; consagra um lugar nas Ciências Humanas e Sociais; concretiza uma conscientização educacional da Universidade no seu todo.

1. Fontes Decreto nº 18.973, de 16 de Outubro de 1930; Decreto-Lei nº 48.868, de 17 de Fevereiro de 1969; Decreto nº 12/77, de 20 de Janeiro; Decreto-lei nº 529/80, de 5 de Novembro; Portaria nº 514/82, de 24 de Maio;

Despacho nº 36/ME/87, de 26 de Outubro; Portaria 514/88, de 29/07;

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do Conselho Directivo da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Ano de 1987.

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Referências

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