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O que as crianças da pré-escola revelam acerca das práticas pedagógicas que experienciam no contexto de uma escola de educação infantil

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO. Vívian Jamile Beling. O QUE AS CRIANÇAS DA PRÉ-ESCOLA REVELAM ACERCA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE EXPERIENCIAM NO CONTEXTO DE UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL. Santa Maria, RS 2017.

(2) Vívian Jamile Beling. O QUE AS CRIANÇAS DA PRÉ-ESCOLA REVELAM ACERCA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE EXPERIENCIAM NO CONTEXTO DE UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação.. Orientadora: Pr.ª Dr.ª Cleonice Tomazzetti. Santa Maria, RS 2017.

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(4) Vívian Jamile Beling. O QUE AS CRIANÇAS DA PRÉ-ESCOLA REVELAM ACERCA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE EXPERIENCIAM NO CONTEXTO DE UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação.. Aprovado em 04 de janeiro de 2017:. ____________________________________ Cleonice Tomazzetti, Dra. (UFSM) (Presidente/ Orientadora) ____________________________________ Sueli Salva, Dra. (UFSM) ____________________________________ Cassiana Magalhães, Dra. (UEL-PR) ___________________________________ Aruna Noal Correa, Dra. (UFSM) Santa Maria, RS 2017.

(5) Agradecimentos Diz a canção: “Sonho que se sonha só; É só um sonho que se sonha só; Mas sonho que se sonha junto é realidade”. Não poderia deixar de agradecer as pessoas que fizeram parte desta caminhada e contribuíram para a concretização deste sonho. Agradeço, de forma especial, à minha família pelo carinho, compreensão e apoio às minhas escolhas. A conclusão desta dissertação só foi possível pela compreensão e colaboração de várias pessoas que acreditaram e, de alguma forma, tornaram possível esta caminhada. Agradeço minha orientadora, professora Cleonice, por conceder a oportunidade e, por ter me acolhido de forma tão carinhosa no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM. Pela compreensão ao longo dos caminhos sinuosos desta jornada, pela paciência, confiança e encorajamento, sempre me ajudando a encontrar saídas, meu reconhecimento e admiração pela pessoa maravilhosa que és. Agradeço de forma muito carinhosa ao Grupo de Investigação e Estudos Contemporâneos sobre a Educação Infantil (GIECEI) pela parceria nos momentos de diversão e, especialmente, nos momentos de discussões e produções acadêmicas. As integrantes mais antigas, no nome da Vanessa, da qual, a apreciação de suas produções contribuíram na escrita desta dissertação. À Fabiana que ingressou no curso comigo e foi minha companheira de disciplinas e trabalhos, compartilhando angústias e momentos de orientação. Agradeço à Franciele que me encorajou a ingressar nesta caminhada e me acompanhou nos primeiros passos. À Juliana por todo apoio, conversas, músicas e risadas que me encorajaram a continuar e tornaram os momentos de escritas menos solitários, apesar da distância que nos separava. Ao Fernando, que junto com a Franciele e a Juliana, auxiliaram e acolheram-me. E à Andreia, que mesmo antes de ingressar no grupo sempre esteve presente, demonstrando companheirismo, afeto e encorajando-me. De forma especial, registro meu agradecimento e admiração às professoras Cassiana, Sueli, e Arruna pela atenção, paciência e seriedade com que realizaram a leitura do trabalho contribuindo, de forma muito significativa, para meus estudos e a escrita da dissertação. Agradeço a escola que possibilitou a realização da pesquisa e, especialmente, as crianças, sem as quais, não teria sentido nenhum esse trabalho. Meu carinho e admiração a todos vocês! Muito obrigada!.

(6) Talvez reivindicar a experiência seja também reivindicar um modo de estar no mundo, um modo de habitar o mundo, um modo de habitar, também, esses espaços e esses tempos cada vez mais hostis que chamamos de espaços e tempos educativos. Espaços que podemos habitar como experts. Como especialistas, como profissionais, como críticos. Mas que, sem dúvida, habitamos também, como sujeitos da experiência. Abertos, vulneráveis, sensíveis, temerosos, de carne e osso. Espaços em que, às vezes, ocorre algo, o imprevisto. Espaços em que às vezes vacilam nossas palavras, nossos saberes, nossas técnicas, nossos poderes, nossas ideias, nossas intenções. Como na vida mesma. (Larrosa).

(7) RESUMO O QUE AS CRIANÇAS DA PRÉ-ESCOLA REVELAM ACERCA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE EXPERIENCIAM NO CONTEXTO DE UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL AUTORA: Vívian Jamile Beling ORIENTADORA: Cleonice Tomazzetti Considerando o contexto atual das Políticas Nacionais para a Educação e, mais especificamente, as que têm suscitado maior visibilidade à Educação Infantil, como a Lei nº 12.796 de 2013, que altera a Lei 9.394 de 1996, que dispõe sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, tornando obrigatório o ingresso à escola, a partir dos quatro anos de idade, apresentamos a pesquisa desenvolvida como dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na linha de pesquisa Políticas Públicas e Práticas Educativas (LP2). Com o objetivo de investigar o que as crianças da pré-escola revelam acerca das práticas pedagógicas que experienciam no contexto de uma escola pública municipal de Educação Infantil em Santa Maria/RS, a pesquisa foi orientada pela Prof.ª Dr.ª Cleonice Tomazzetti, integrando o Grupo de Investigação e Estudos Contemporâneos sobre a Educação Infantil (GIECEI). Caracteriza-se como uma pesquisa com crianças, dentro do campo da Pedagogia, na qual procurou-se estratégias para qualificar as crianças como sujeitos ativos e participantes da pesquisa, por meio de registro escrito de suas falas, seus desenhos e fotografias. A intensificação da pesquisa aconteceu a partir de três propostas planejadas pela pesquisadora que, com base em seus registros e observações iniciais, foram organizadas em três eixos: experiências, protagonismo e interações. O referencial teórico foi construído com base no conceito de experiência dos filósofos John Dewey e Walter Benjamin e, em autores que apresentam os desafios teóricos metodológicos da pesquisa com crianças, tais como: Silva, Barbosa e Kramer (2008), Oliveira-Formosinho (2008), Martins Filho (2010), entre outros. Podemos afirmar, com base no estudo realizado, que tanto nas políticas quanto nas pesquisas acadêmicas apresentadas, o lugar da criança em idade pré-escolar é um lugar novo, marcado por conquistas, mas também por embates teóricos e no âmbito de estratégias e recursos para a garantia dos direitos conquistados. Reafirmamos assim, a importância de pesquisas que considerem e procurem valorizar as vozes das crianças, qualificando as metodologias de pesquisa com crianças, também dentro do campo da Pedagogia. As crianças colaboradoras da pesquisa, mostraram-nos ser extremamente competentes, registrado em seus desenhos e fotos os espaços da escola, e suas formas de interagir nestes espaços, sendo evidente a preferência e gosto pelas áreas externas e, especialmente, a pracinha. De forma geral, em suas interações e brincadeiras, as crianças nos mostram um mundo vasto de experiências, que vão além das propostas e intenções imaginadas pelos adultos.. Palavras-chave: Crianças. Pré-escola. Políticas Públicas para Educação Infantil. Pesquisa com crianças. Experiências..

(8) ABSTRACT WHAT CHILDREN OF THE PRESCHOOL DISCLOSE ABOUT OF THE PEDAGOGICAL PRACTICES EXPERIENCING THE CONTEXT OF A CHILD EDUCATION SCHOOL AUTHOR: Vívian Jamile Beling ADVISOR: Cleonice Tomazzetti Considering the current context of National Policies for Education and, more specifically, those that have given greater visibility to Early Childhood Education, such as Law No. 12.796 of 2013, amending Law 9.394 of 1996, which provides for the Guidelines and Bases of Education National, making it compulsory to enter school from the age of four, we present the research developed as a master's thesis of the Graduate Program in Education (PPGE) of the Federal University of Santa Maria (UFSM), in the line of research Policies And Educational Practices (LP2). Aiming to investigate what pre-school children reveal about the pedagogical practices they experience in the context of a municipal public school in Santa Maria / RS, the research was guided by Prof. Dr. Cleonice Tomazzetti, Integrating the Research and Contemporary Studies Group on Early Childhood Education (GIECEI). It is characterized as a research with children, within the field of Pedagogy, in which strategies were searched to qualify the children as active subjects and participants of the research, through the written record of their speeches, their drawings and photographs. The intensification of the research was based on three proposals planned by the researcher, which, based on her initial observations and records, were organized in three axes: experiences, protagonism and interactions. The theoretical framework was constructed based on the concept of experience of the philosophers John Dewey and Walter Benjamin, and authors presenting the theoretical methodological challenges of research with children, such as Silva, Barbosa and Kramer (2008), Oliveira-Formosinho (2008) , Martins Filho (2010), among others. Based on the study carried out, it can be stated that, in both the policies and the academic research presented, the place of the preschool child is a new place, marked by achievements, but also by theoretical clashes and in the context of strategies and resources for To guarantee the rights won. Thus, we reaffirm the importance of research that considers and seeks to value the voices of children, qualifying research methodologies with children, also within the field of Pedagogy. The children who collaborated with the research showed us to be extremely competent, recorded through their drawings and pictures the spaces of the school, and their ways of interacting in these spaces, being evident the preference and taste for the external areas and especially the square. In general, in their interactions and games children show us a vast world of experiences that go beyond the proposals and intentions imagined by adults.. Keywords: Children. Preschool. Public Policies for Early Childhood Education. Search with children. Experiences..

(9) LISTA DE DESENHOS. Desenho 1 - Pracinha. Descrição por Mariáh...........................................................................66 Desenho 2 - Pracinha. Descrição de Lenon..............................................................................67 Desenho 3 - Trepa-trepa, menino, árvore, flor. Descrição de Jeremias....................................67 Desenho 4 - Na pracinha. Descrição de Kátia...........................................................................68 Desenho 5 - Fazendo trabalhinho, brincar na pracinha. Descrição de Joice.............................68 Desenho 6 - Futebol de Olívio..................................................................................................69 Desenho 7 - Meus colegas, a Angelita, eu e o Lenon; eu indo pra a escola, as nuvens e o sol. Descrição de Melissa................................................................................................................69 Desenho 8 - Eu fiz o colégio. Descrição por Angelita..............................................................71 Desenho 9 - Eu to regando uma flor. Descrição de Eugenia.....................................................71 Desenho 10 - Sol, nuvens, uma toalha para tapar os corações, corações, os pinguinhos, o trepa-trepa da pracinha. Descrição por Esther...........................................................................72 Desenho 11 - Eu desenhando e todo mundo brincando. Descrição por Jedan..........................73 Desenho 12 - Eu desenhando. Descrição de Antenor................................................................74.

(10) LISTA DE FOTOS. Foto 1: Borboletas adesivas coladas na recepção da escola......................................................80 Foto 2: Pneus na pracinha.........................................................................................................80 Foto 3: Professora de outra turma na pracinha.........................................................................81 Foto 4: Brincadeiras na areia da pracinha.................................................................................81 Foto 5: Menina no balanço........................................................................................................81 Foto 6: Mão no brinquedo de madeira na recepção da escola..................................................81 Foto 7: Gangorras, brinquedo da pracinha................................................................................82 Foto 8: Pracinha........................................................................................................................82 Foto 9: Escorregador, brinquedo da pracinha...........................................................................82 Foto 10: Trepa-trepa, brinquedo da pracinha............................................................................82.

(11) 10. LISTA DE QUADROS. Quadro 1 - Levantamento numérico de pesquisas da ANPED por descritores.........................23 Quadro 2 - Listagem de pesquisas realizadas com crianças em idade pré-escolar...................25 Quadro 3 - Relação entre o total de trabalhos apresentados no GT07 e total de trabalhos que contemplaram a escuta das crianças em idade pré-escolar.......................................................31 Quadro 4 - Excerto dos registros da pesquisadora do dia 19 de agosto de 2015......................38 Quadro 5 - Cronograma mensal das ações realizadas na pesquisa de campo...........................56 Quadro 6 - Excerto dos registros da pesquisadora do dia 30 de setembro de 2015..................57 Quadro 7- Excerto dos registros da pesquisadora do dia 15 de julho de 2015.........................58 Quadro 8 - Excerto dos registros da pesquisadora do dia 02 de setembro de 2015..................59 Quadro 9 - Resumo da proposta de intensificação da pesquisa................................................60 Quadro 10 - Excerto registros da pesquisadora do dia 24 de junho de 2015............................61 Quadro 11 - Quadro resumo dos eixos utilizados na construção da intensificação de pesquisa ...................................................................................................................................................62 Quadro 12 - Excerto dos registros da pesquisadora do dia 12 de agosto de 2015....................64 Quadro 13 - Excerto dos registros da pesquisadora do dia 02 de setembro de 2015................65 Quadro 14 - Desenhos que representam a área externa da escola.............................................67 Quadro 15 - Desenhos que representam a área externa e o prédio da escola............................72 Quadro 16 - Desenhos que representam a área interna do prédio da escola.............................74 Quadro 17 - Excerto registros da pesquisadora do dia 24 de junho de 2015............................77 Quadro 18 - Excerto registros da pesquisadora do dia 12 de gosto de 2015............................78 Quadro 19 - Excerto registros da pesquisadora do dia 19 de gosto de 2015............................78 Quadro 20 - Excerto registros da pesquisadora do dia 17 de setembro de 2015......................80.

(12) LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Percentual de atendimento da educação infantil no município em relação às metas do PNE.................................................................................................................................................

(13) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANPED. Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação. CEB. Câmara de Educação Básica. CF. Constituição Federal. CNE. Conselho Nacional de Educação. DCNEI. Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil. ECA. Estatuto da Criança e do Adolescente. EMEF. Escolas Municipais de Ensino Fundamental. EMEI. Escolas Municipais de Educação Infantil. GIECEI. Grupo de Investigação e Estudos Contemporâneos sobre a Educação Infantil. GT. Grupo de Trabalho. LDB. Lei de Diretrizes e Bases. MEC. Ministério da Educação. PNE. Plano Nacional de Educação. PPGE. Programa de Pós-Graduação em Educação. RS. Rio Grande do Sul. SMED. Secretaria de Município de Educação. UFSM. Universidade Federal de Santa Maria.

(14) SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................16 2 O LUGAR DA CRIANÇA EM IDADE PRÉ-ESCOLAR................................................20 2.1 NA POLÍTICA NACIONAL BRASILEIRA......................................................................21 2.2 NAS PESQUISAS COM CRIANÇAS APRESENTADAS NA ANPED (2009-2015)......24 3 A EXPERIÊNCIA COMO UMA ESCOLHA TEÓRICA................................................34 4 CAMINHOS METODOLÓGICOS...................................................................................42 4.1 OBJETIVOS.......................................................................................................................43 4.1.1 Objetivo geral.................................................................................................................43 4.1.2 Objetivos Específicos.....................................................................................................43 4.2 PESQUISA COM CRIANÇAS: DESAFIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS...............44 4.3 CONTEXTO DA INVESTIGAÇÃO: A REALIDADE DO MUNICÍPIO E A ESCOLA. 49 4.4 SUJEITOS DA PESQUISA: AS CRIANÇAS E A TURMA..............................................52 4.5 “OS TEMPOS” DA PESQUISA.........................................................................................56 5 “TRAZ TRABALHINHO! A GENTE FAZ BEM CAPRICHADO”: AS VOZES DAS CRIANÇAS E A CONSTRUÇÃO DOS DADOS.................................................................62 5.1 “O QUE TU APRENDE NA FACULDADE?”: DAS EXPECTATIVAS AS TROCAS DE EXPERIÊNCIAS ENTRE AS CRIANÇAS E A PESQUISADORA.......................................65 5.2 “VAMOS BRINCAR DE OVO CHOCO?”: OS ELEMENTOS DO PROTAGONISMO NAS EXPERIENCIAS DA PRÉ-ESCOLA.............................................................................78 5.3“EXISTEM VÁRIAS PRINCESAS EM SEUS CASTELOS”: SOBRE A COMPLEXIDADE DAS INTERAÇÕES EXPERIENCIADAS NA PRÉ ESCOLA..............81 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................88 REFERÊNCIAS......................................................................................................................91 ANEXOS..................................................................................................................................96.

(15) 14. 1. INTRODUÇÃO. Considerando o contexto atual das Políticas Nacionais para a Educação e, mais especificamente, as que têm suscitado maior visibilidade à Educação Infantil, como a emenda constitucional que torna obrigatório frequentar a escola a partir dos quatro anos de idade1, apresentamos a dissertação desenvolvida por meio do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na linha de pesquisa Políticas Públicas e Práticas Educativas (LP2). O trabalho foi orientado pela Prof.ª Dr.ª Cleonice Tomazzetti integrando o Grupo de Investigação e Estudos Contemporâneos sobre a Educação Infantil (GIECEI). A Lei nº 12.796 de 2013, responsável pela alteração do texto da Lei 9.694, de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), oficializa a Ementa Constitucional nº59 de 2009, tornando obrigatória a matrícula na escola, a partir dos quatro anos de idade. A nova redação do texto legal, não só altera a idade de ingresso a escola, mas indica que ele deve ser na primeira etapa da Educação Básica, ou seja, na Educação Infantil e, segundo definições da LDB, especificamente, na pré-escola. Se por um lado podemos considerar que tal alteração já estava sendo sinalizada pelas metas traçadas para a educação nacional, por outro lado, não podemos negar que a expansão no número de matrículas de crianças de quatro e cinco anos de idade acarretou mudanças nos espaços e no cotidiano das escolas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental, como Castelli, Cóssio e Delgado (2015); Silva e Flores (2015), já têm sinalizado. Em decorrência disso, e como parte de um processo histórico de revisão de concepções na educação nacional, em especial, no que diz respeito à Educação Infantil, o Plano Nacional de Educação – PNL (BRASIL, 2014), aprovado em 2014, traz como sua primeira meta a universalização da Educação Infantil na pré-escola até o ano de 2016, período fixado pela Lei nº 12.796/13, e a ampliação para o atendimento de 50% das crianças em creches. Tal compromisso, ao mesmo tempo em que torna possível comemorar conquistas ao afirmar-se o direito das crianças menores de seis anos à educação, aponta para realidades. 1. A Lei 12.796, de 04 de abril de 2013, que altera a Lei 9.694, de 20 de dezembro 1996, torna obrigatório o ingresso à escola, a partir dos quatro anos de idade. A partir dela o Artigo 6º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.694 de 1996) passa a ter a seguinte redação: É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica, a partir dos 4 anos de idade..

(16) 15. desiguais, tanto no que tange às estruturas físicas e à formação de profissionais, quanto às concepções e às práticas desenvolvidas nestes espaços coletivos de educação e cuidado. Neste percurso, não podemos negar que a motivação para esta pesquisa também perpassa pela trajetória acadêmica e profissional da pesquisadora, que iniciou com estágios extracurriculares durante o curso Normal e, posteriormente, o aprofundamento teórico a partir das leituras e discussões que participou no curso de graduação em Pedagogia2 (2007-2012), pautadas nas transformações das políticas e das práticas que se encaminhavam em dado momento histórico. Tais estudos impulsionaram reflexões que levaram a pesquisadora a acreditar e reconhecer este como um espaço privilegiado de experiências para adultos e crianças, optando por fazer deste, seu campo de atuação profissional e de interesse acadêmico. Durante o curso de Especialização em Gestão Educacional (2013-2014), embora este não fosse seu foco de pesquisa, a Educação Infantil se constituía como seu campo de atuação profissional, suscitando interesse nas discussões que se intensificavam, sobretudo, nos debates acerca da ampliação da obrigatoriedade legal de ingresso na escola aos quatro anos de idade, e dos programas de expansão da Educação Infantil, como o Proinfância3.. Atualmente, reafirmo a Educação Infantil como campo de atuação profissional e, considerando as oportunidades que permitiram experienciar esta primeira etapa da Educação Básica sob diferentes condições de organização e de compreensão, como espaços coletivos de educação e cuidado de crianças menores de seis anos. Tais experiências levam a perceber alguns elementos do cotidiano destas instituições, como a rotina, o planejamento, as interações entre as crianças e entre adultos e crianças, que suscitam questionamentos que não dizem respeito apenas à sua organização, mas ao quanto, muitas vezes, acabamos silenciando as vozes dos principais atores destes espaços, as crianças, em nome de obrigações adultas. Neste sentido, a elaboração desta pesquisa pretende contemplar a construção de propostas para a valorização das vozes das crianças em idade pré-escolar. Entre os discursos adultos sobre a pré-escola, não é fácil obter um consenso. As ideias sobre esta etapa da Educação Básica parecem variar entre as ideias de escolarização e assistencialismo, embora haja diretrizes específicas para nortear as propostas curriculares da Educação Infantil desde 2009. O que podemos afirmar é que, legalmente as crianças a partir dos quatro anos de idade devem estar na escola. Para esta pesquisa, consideramos que, além 2 Curso de Pedagogia Licenciatura Plena – Universidade Federal de Santa Maria. 3 Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil..

(17) 16. das políticas e dos adultos profissionais e estudiosos da pré-escola, existem outros sujeitos que, arriscaríamos dizer, são os mais importantes e têm muito a nos dizer sobre o que é ou o que deveria ser a pré-escola, ou seja, as crianças. No entanto, é necessário qualificar os meios de coleta destas vozes. Embora o texto legal esteja caminhando no sentido da afirmação das crianças enquanto sujeitos de direitos, ainda carecemos de pesquisas e práticas pedagógicas que evidenciem as vozes das crianças menores de seis anos em espaços coletivos de educação e cuidado4. Reconhecer que as crianças possuem uma lógica própria de ser e pensar o mundo, ouvindo o que elas têm a dizer a respeito de suas experiências na pré-escola, é uma forma de valorizar as vozes dos sujeitos da Educação Infantil, respeitando-os, reconhecendo-os como ativos na sociedade, e protagonistas de suas ações. No início do trabalho, visto a complexidade do tema, pensávamos em muitas questões que, aos poucos, foram dando forma à pesquisa, tais como: as crianças percebem os diferentes momentos experienciados no contexto da pré-escola, considerando os eixos norteadores da proposta curricular para a Educação Infantil? O que as crianças nos falam sobre as práticas experienciadas na pré-escola? Como as crianças narram e expressam suas experiências neste contexto? As práticas na pré-escola podem ser compreendidas a partir das experiências das crianças que vivem cotidianamente neste espaço coletivo de educação e cuidado? As falas das crianças em idade pré-escolar, sobre suas experiências em contextos coletivos de educação formal são valorizadas? Esta escuta pode ser potencializada nas práticas cotidianas? E na pesquisa? A partir das questões iniciais, a fim de orientar a pesquisa e definir os estudos, a seguinte questão foi elaborada: o que as crianças da pré-escola revelam acerca das práticas pedagógicas que experienciam no contexto de uma escola pública de Educação Infantil do município de Santa Maria/ RS5? Considerando esta questão, o trabalho está organizado em seis capítulos, iniciando com esta apresentação e justificativa. No segundo capítulo, procuramos definir quem é a criança em idade pré-escolar, por meio do lugar que ocupa na legislação nacional atual e, posteriormente, nos trabalhos apresentados na Associação Nacional de Pós-graduação e 4 Alguns pesquisadores corroboram com esta constatação, tais como: Ferreira (2002); Martins Filho (2010); Silva, Barbosa, Kramer (2008). 5 Esclarecemos que a escola onde foi desenvolvido o estudo trata-se de uma instituição estatal (ou seja, é gerida pela prefeitura municipal, com oferta gratuita de vaga para a comunidade). As escolas da Rede Municipal de Santa Maria são chamadas de Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI)..

(18) 17. Pesquisa em Educação (ANPED) no período de 2009 a 2015. Na sequência, a discussão feita é sobre o termo “experiência”, revelando a escolha teórica para a escrita do trabalho. No quarto capítulo, apresentamos as definições de pesquisa e os caminhos metodológicos percorridos, a partir da definição do objetivo de investigar o que as crianças da pré-escola revelam acerca das práticas pedagógicas que experienciam no contexto de uma escola pública municipal de Educação Infantil em Santa Maria/RS, definimos também o contexto de pesquisa, sujeitos, metodologia e construção de dados. O quinto capítulo apresenta as discussões a partir dos dados da pesquisa, e está subdivido em três partes de acordo com as categorias agrupadas pela pesquisadora. Por fim, o sexto capítulo foi reservado para as considerações finais, retomando algumas discussões e os aspectos considerados de maior relevância para a pesquisa..

(19) 18. 2 O LUGAR DA CRIANÇA EM IDADE PRÉ-ESCOLAR. Neste capítulo, o objetivo não é realizar uma discussão exaustiva sobre o histórico da infância e/ou da Educação Infantil, vários autores já se dedicaram a este objeto de estudo Ariés (1973), Kramer (2009), Kulmann Jr. (2010) e Oliveira (2011) - e muitas pesquisas recentes sobre a Educação Infantil também trazem uma revisão deste histórico - Flôres (2014), Moreira (2015) e Winterhalter (2014). Desconsiderar a contribuição destes trabalhos para elaboração da presente pesquisa seria injusto, porém, neste capítulo temos uma pretensão mais específica: mostrar o lugar das crianças em idade pré-escolar na política nacional atual e nas pesquisas acadêmicas e, para esta segunda intenção, optamos por investigar as publicações da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) nos últimos seis anos, cujas justificativas de escolha aconteceram no decorrer da escrita. Não é por acaso que a palavra lugar aparece no título deste trabalho, esta escolha considera que as crianças ocupam uma posição na sociedade atual. Um lugar que é localização geográfica, mas que, além disso, indica uma posição social, um território que é cultural, político e histórico. Atualmente as crianças têm lugar nas políticas nacionais que lhes garantem o direito à educação e ao cuidado; têm lugar nas pesquisas numéricas, ocupando posições nos índices de cálculo de população e matrícula nas escolas; têm lugar nas pesquisas acadêmicas e no imaginário social que, muitas vezes, atribuem-lhes expectativas do mundo adulto. Procurar entender estes lugares somos levados a compreender também a organização das instituições e definições legais para este público, aqui, especificamente, em idade préescolar. Tal esclarecimento sobre o uso do termo escolhido torna-se necessário ao reconhecer outros estudos que se dedicam a escrever de forma mais específica sobre o conceito de lugar dentro das investigações sobre a infância. Nestes estudos, o conceito de lugar está relacionado também a outros conceitos importantes, como o de espaço, de território e o de cultura, e destacam as contribuições de outras áreas do conhecimento como a Geografia, a Sociologia e a Arquitetura, em estudos identificados como Geografia da Infância6, Cartografia da Infância7,. 6 7. Estudos organizados especialmente pelo grupo de pesquisa coordenado pelo professor Jader Janer Moreira Lopes da Universidade Federal de Juiz de Fora; Pesquisa que abraça o pensamento de Deleuze e de Foucault entre possíveis composições de cartografias. INFÂNCIA: COMPOSIÇÕES ZIGUEZAGUEANTES DE UMA EXPERIÊNCIA "PLUNCT PLACT ZUM" (MEDEIROS, 2012).

(20) 19. e Territórios da Infância8. Não negamos a contribuição de outras áreas ao pensar na palavra lugar, entretanto, ao optar em realizar um estudo do campo da pedagogia, é preciso reafirmar que este conceito transcende a dimensão de localização geográfica, de definição de espaço que, no caso das políticas e das pesquisas, perpassa um imaginário culturalmente construído e reconhecido em nossa sociedade, e pela ideia de que os sujeitos estabelecem um vínculo com estas definições que influenciará na construção dos sujeitos criança em nossa sociedade neste dado momento histórico. É a partir deste imaginário que abrange uma série de lugares que as crianças ocupam e suas relações com as coisas, sejam elas materiais ou imateriais, e as pessoas, adultos e crianças, que se constroem as subjetividades de ser criança. Reconhecemos que não é possível definir o que é criança apenas a partir das políticas e das pesquisas realizadas com elas. Assim, não caberia aqui dizer que o que procuramos fazer é definir o que é criança, mas o que este lugar, que é político e acadêmico, diz sobre o ser criança em idade pré-escolar na atualidade. 2.1 NA POLÍTICA NACIONAL BRASILEIRA. As discussões no campo teórico a respeito das especificidades da Educação Infantil se intensificaram a partir da década de 1990. Mas, nos primórdios, o atendimento das crianças se caracterizava, exclusivamente, pelas funções de guarda e assistência jurídica, e pelo caráter filantropo e religioso em instituições como as rodas dos menores abandonados e os asilos. Já no século XX, a partir da Constituição Federal (CF) de 1988, nos artigos 208 e 227, a educação passou a ser reconhecida como direito social da criança. Dois anos depois, a Lei nº 8.069, que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente9 - ECA (BRASIL, 1990), reafirma o direito à educação às crianças (artigo 4º e 54, incisos I e IV, parágrafo 1º). Com o crescimento da industrialização e a inserção das mulheres no mercado de trabalho, este processo teve forte influência dos movimentos sociais da época (BRASIL, 2009).. 8. Territórios de la infancia: diálogos entre arquitectura y pedagogía (CABANELLAS, ESLAVA Coords., 2005). 9 Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, Art. 53 “A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, ao preparo para o exercício da cidadania e à qualificação para o trabalho”. Art. 54, IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade (BRASIL, 1990)..

(21) 20. A história da Educação Infantil em nosso país é marcada pela dualidade, enquanto para as classes sociais mais pobres é marcada pelo caráter assistencialista, para as classes mais ricas têm caráter escolarizante. O novo paradigma se inicia com a Declaração Universal dos Direitos da Criança e do Adolescente, de 1959, em nível internacional e, em 1988, com a CF em nosso país (BRASIL, 2009). Registra-se um intenso processo de revisão das concepções acerca da Educação Infantil até a atual definição legal que tange sobre a valorização da criança enquanto sujeito histórico e de direitos, iniciada pelo binômio educar e cuidar. Neste sentido, Moreira (2015, p. 49) afirma que: “A inserção de crianças menores de 6 anos representou um desafio para os sistemas educacionais. Nesse processo de transição, vivenciamos uma década de propostas polêmicas e embates entre os campos legal e acadêmico no que se refere às publicações e documentos”. A partir da Lei nº 9.394 de 1996 (LDB), a Educação Infantil passou a ser definida legalmente como primeira etapa da Educação Básica, afirmando o direito das crianças, na época de zero a seis anos de idade, à educação formal, em espaços coletivos. Este mesmo documento legal, na Seção II, artigo 30, especificava que a Educação Infantil atende turmas de creche, de zero a três anos, e de pré-escola, de quatro a seis anos de idade. É preciso lembrar que a “nova” LDB foi resultado de transformações no campo político e teórico, resultando em conquistas que tangem sobre a democratização da educação em um novo paradigma de gestão, sendo um marco importante para a educação nacional. Em 2005, a Lei nº 11.114 dispõe sobre o Ensino Fundamental de 9 anos, com ingresso aos seis anos de idade que, embora não trate da Educação Infantil, reduz um ano desta primeira etapa da Educação Básica, que passa a atender crianças com idades entre zero e cinco anos. Em 2007, registra-se também uma importante conquista para a expansão da Educação Infantil, em relação ao financiamento, quando o Fundo Nacional de Manutenção do Ensino Fundamental passa a abranger toda a Educação Básica. A Lei nº 12. 796, de 05 de abril de 2013, altera o texto da LBD, definindo que a Educação Infantil será de zero a cinco anos. E já que estamos falando sobre as crianças em idade pré-escolar, cabe chamar a atenção que este um ano foi reduzido na pré-escola, pois a alteração do texto legal ratifica que a pré-escola passa a ser dos quatro aos cinco anos de idade10.. 10 Neste sentido corroboram as discussões de Barbosa, Delgado e colabores (2012)..

(22) 21. A Educação Infantil se diferencia do Ensino Fundamental em vários aspectos, no que tange à sua organização, às práticas pedagógicas e às propostas curriculares. De acordo com a Resolução MEC/CNE/CEB nº 05/2009, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil - DCNEI (BRASIL, 2009), a proposta curricular caracteriza-se pelo conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de zero a cinco anos de idade. Além disso, as propostas curriculares deverão ter como eixos norteadores das suas práticas pedagógicas as interações e a brincadeira (BRASIL, 2009). Já no Parecer CNE/CEB nº20/2009 que, posteriormente, dá origem à Resolução mencionada anteriormente, alerta que a Educação Infantil vive um intenso processo de revisão de concepções sobre a educação de crianças em espaços coletivos, bem como de seleção e fortalecimento de práticas pedagógicas mediadoras de aprendizagens e do desenvolvimento das crianças. E aponta a necessidade de reconhecer a atividade criadora e o protagonismo das crianças pequenas. Tais mudanças na legislação ilustram revisões que passam também pelo campo teórico, suscitando mudanças de concepções e, neste sentido, o presente projeto de pesquisa se embasa nas atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, Resolução nº 5 de 2009 (DCNEI), na qual a criança é considerada sujeito ativo e de direitos, centro do planejamento. Nesta perspectiva, é que ganha sentido uma investigação que pretende ouvir as crianças sobre suas experiências nos espaços coletivos de educação formal. A Educação Infantil tem ocupado um lugar de destaque nas discussões educacionais atuais, e retomo aqui a Lei nº 12.796 de 2013, responsável pela alteração do texto constitucional, tornando obrigatório o ingresso à escola desde os quatro anos de idade e, portanto, na pré-escola, até o prazo do ano de 2016, em conformidade com as metas do Plano Nacional de Educação (PNE) aprovado em 2014, que prevê já como primeira meta a universalização até 2016, da educação infantil na pré-escola. Frente ao exposto, finalizamos este capítulo indicando que as crianças de quatro e cinco anos de idade ocupam, na legislação brasileira atual, um lugar de conquista do direito à educação gratuita e com obrigatoriedade de matrícula, e o reconhecimento como um ser histórico e ativo na sociedade. Um lugar de pré-escola. Um lugar de Educação Infantil. Um lugar, muitas vezes, de embates teóricos. De ser criança, brincar, desenvolver-se de forma.

(23) 22. integral, mas também de se submeter a organizações sem condições de garantir a qualidade que lhes é direito. Um lugar muito recente, um lugar novo para muitos adultos e crianças. Um lugar de experiências coletivas e, por isso, como já escrito, foco de interesse de ter-lhes como sujeitos de pesquisa, procurando compreender suas experiências nestes espaços, observando e investigando a sutileza de seus gestos, conversas e brincadeiras. 2.2 NAS PESQUISAS COM CRIANÇAS APRESENTADAS NA ANPED (2009-2015). Pretende-se aqui destacar os principais trabalhos publicados na ANPED11 nos últimos sete anos (2009-2015), como forma de fomentar a discussão acerca do lugar que a criança em idade pré-escolar tem ocupado no meio acadêmico. A escolha por realizar este levantamento nos trabalhos da ANPED se deve ao seu reconhecimento nacional e a sua abrangência em publicações de diversas pesquisas em nível de mestrado e doutorado das Universidades do país. Para este levantamento, utilizamos inicialmente como termos de pesquisa cinco descritores: criança, pré-escola, experiência, vivência e pesquisa com crianças. A pesquisa foi realizada no site da ANPED no Grupo de Trabalho 07 (GT 07), que tem como tema Educação da criança de zero a seis anos. O recorte do período de investigação considerou como marco inicial o ano que data as DCNEI, ou seja, 2009, até a última publicação do evento, 2015. A pesquisa iniciou com os cinco descritores mencionados anteriormente e, após foi realizada a leitura minuciosa dos títulos, palavras-chaves e resumos dos artigos. A tabela a seguir ilustra a quantidade de trabalhos encontrados em cada edição do evento, de acordo com os descritores listados. Cabe destacar que, em alguns trabalhos foi encontrado mais de um dos descritores pesquisados e, em outros, nenhum deles. No ano de 2014, não aconteceu a edição nacional do evento.. Quadro 1 - Levantamento numérico de pesquisas da ANPED por descritores 11 http://www.anped.org.br/.

(24) 23. ANO. 2009. 2010. 2011. 2012. 2013. 2014. 2015. EDIÇÃO. 32ª. 33ª. 34ª. 35ª. 36ª. -. 37ª. Criança. 10. 6. 4. 5. 5. -. 10. Experiência. 2. 1. 1*. 1. 1*. -. 0. Vivência. 0. 0. 0. 1. 1. -. 0. Pesquisa com crianças. 1+2*. 1. 1*. 4*. 0. -. 1+5*. Pré-escola. 2. 2. 0. 1+2*. 1+1*. -. 3+1*. Total de trabalhos no GT. 16. 17. 15. 18. 12. -. 23. Fonte: Elaborado pela Autora.. Percebe-se que o primeiro descritor “criança” é mais geral e, por isso, mais fácil de ser encontrado nos trabalhos. Embora ele revele reconhecimento da criança, seja como sujeito ou objeto de pesquisa, ele não é suficiente para o que nos propomos neste capítulo. Da mesma forma, o segundo e o terceiro descritores “experiência” e “vivência”, embora revelem escolhas feitas pelos pesquisadores, as quais vamos abordar em seguida, não revelam o lugar da criança pré-escolar nos trabalhos acadêmicos, mas indicam sutilezas das pesquisas que vêm sendo realizadas. Os dois últimos descritores são os que consideramos como mais importantes para este capítulo, pois indicam quando as crianças da pré-escola aparecem nos trabalhos e quando são consideradas sujeitos nas pesquisas. No quadro anterior, podemos observar que alguns dos números estão seguidos de um asterisco (*), usamos este símbolo para indicar que, em alguns trabalhos, consideramos variações da palavra definida como descritor, por exemplo, em alguns trabalhos em que não aparece a definição “pré-escola”, mas existe a especificação “crianças de 04 a 06 anos”; e outros em que não aparece a especificação “pesquisa com criança”, mas traz em seus títulos expressões como: “um olhar sob a perspectiva das crianças”, “sob a ótica das crianças”, e “o que as crianças têm a nos dizer”, entre outras. Considerando a proposta de pesquisa deste trabalho e o que nos propomos a escrever neste capítulo, construímos um segundo quadro listando os títulos dos trabalhos e seus respectivos autores em cada edição do evento. Os trabalhos listados neste segundo quadro contemplam, especificamente, os que trazem as crianças em idade pré-escolar como sujeitos de pesquisa e, portanto, que tenham os dois últimos descritores pesquisados de forma.

(25) 24. concomitante: “pré-escola” e “pesquisa com crianças”. Pode ser observado, no quadro a seguir, a diminuição na quantia de trabalhos em relação ao primeiro quadro. Quadro 2 - Listagem de pesquisas realizadas com crianças em idade pré-escolar (continua) ANO Edição 2009. 2010. 2011. 2012. 2013. 2014. 2015. 32ª. 33ª. 34ª. 35ª. 36ª. -. 37ª. Título. Autor(es). A constituição do sujeito criança e suas experiências na pré-escola. Sandra Maria de Oliveira Schramm. A pré-escola vista pelas crianças. Rosimeire Costa de Andrade Cruz. "Pares ou ímpares?": consumo e relações de amizade entre as crianças na formação de grupos para brincar. Raquel Gonçalves Salgado. Processos de interação das crianças no meio técnicocientífico-informacional. Bruno Muniz Figueiredo Costa. Infância e educação infantil: o grupo de crianças e suas ações em contexto escolar.. Renata Provetti Weffort Almeida. A construção da cultura de pares no contexto da educação infantil: brincar, ler e escrever. Vanessa Ferraz Almeida Neves. A vivência em uma pré-escola e as expectativas quanto ao Ensino Fundamental sob a ótica das crianças. Bianca Cristina Correa; Lorenzza Bucci. A compreensão das relações de parentesco pelas crianças na brincadeira de faz de conta em contexto de educação infantil. Renata da Costa Maynart; Lenira Haddad. Crianças mirando-se no espelho da cultura: corpo e beleza na infância contemporânea. Raquel Gonçalves Salgado; Anabela Rute Kohlmann Ferrarini; George Moraes de Luiz. Infância: composições ziguezagueantes de uma experiência "plunct plact zum". Fernanda Vieira de Medeiros. Entre meninos e meninas, lobos, carrinhos e bonecas: a brincadeira em um contexto da Educação Infantil. Regina Ingrid Bragagnolo Andréa Simões Rivero Zaira Teresinha Wagner. Crianças, culturas infantis e linguagem dos quadrinhos: entre subordinações e resistências. Marta Regina Paulo da Silva. A relação cultura e subjetividade nas brincadeiras de faz de conta de crianças ribeirinhas da Amazônia. Sônia Regina dos Santos Teixeira. Espaços urbanos com crianças. Samy Lansky. -. -. Tia, posso pegar um brinquedo? A ação das crianças no contexto da pedagogia do controle. Lenilda Cordeiro de Macêdo; Adelaide Alves Dias. Dimensão étnico-racial na Educação Infantil: um olhar sobre a perspectiva das crianças. Eduarda Souza Gaudio+.

(26) 25. Quadro 2 - Listagem de pesquisas realizadas com crianças em idade pré-escolar (conclusão) ANO Edição. 2015. 37ª. Título. Autor(es). Homem docência com crianças pequenas: o olhar das crianças de um centro de Educação Infantil. José Edilmar de Sousa. Jogos e brincadeiras com o uso das tecnologias móveis na Educação Infantil: o que as crianças têm a nos dizer?. Juliana Costa Muller. “Meu irmão tem 3 anos e não estuda porque ele é criancinha” – O que dizem as crianças sobre a Educação Infantil e o direito?. Leandro Henrique de Jesus Tavares. Fonte: Elaborado pela Autora.. Na 32ª edição do evento, em 2009, ano escolhido como marco inicial deste levantamento, os trabalhos têm a preocupação em ouvir e valorizar as experiências das crianças sobre o que elas vivem nas escolas de Educação Infantil e a transição para o Ensino Fundamental. Destes trabalhos, destacamos dois deles, que se referem à pré-escola: “A constituição do sujeito criança e suas experiências na pré-escola” e “A pré-escola vista pelas crianças”, como pode ser conferido no quadro anterior. O primeiro trabalho, que trata da constituição do sujeito criança, é uma pesquisa de campo com enfoque qualitativo, definida como estudo de caso. Foi realizado em uma turma de Jardim II de uma escola municipal e envolveu crianças com cinco anos de idade e a professora. Os autores relatam que, na investigação, realizaram observações, registros em diário de campo, filmagens, entrevistas e consulta a documentos da escola (SCHRAMM, 2009, p.2). As entrevistas realizadas com as crianças aconteceram de duas formas: assistir e discutir cenas filmadas pela pesquisadora; e fazer desenhos sobre “uma coisa bem legal que acontece na escola” e “uma coisa ruim que acontece na escola”. O referencial teórico do estudo foi a abordagem psicogenética do pensador francês Henri Wallon (1879-1962) e a perspectiva do também francês epistemólogo Michel Foucault (1927-1984) acerca do poder disciplinar (SCHRAMM, 2009, p.1). No segundo trabalho, a autora afirma que esse tipo de pesquisa se torna mais frequente somente a partir dos anos 90 e, que é predominante em pesquisas da área investigar a perspectiva dos adultos sobre as crianças. Ao contrário do que pensam os adultos que lidam mais diretamente com as crianças – professoras e famílias – elas muito têm a dizer, por exemplo, sobre a educação que recebem (CRUZ, 2009, p.2). A pesquisa apresentada neste.

(27) 26. trabalho teve como intuito ampliar os conhecimentos sobre rotina a partir da escuta das crianças. É um recorte de uma pesquisa que ouviu o que pais, professores e crianças tinham a dizer a respeito do tema. Nesta investigação, existe um alerta sobre duas dificuldades em realizar pesquisas com crianças: a inexperiência em “ouvir” e “considerar”, de fato, a fala das crianças, seja por meio do dito e/ou do não dito, já que crianças em idade pré-escolar supõem o que “deve” ou “não deve” ser dito a um adulto; e a falta de referencial teórico-metodológico. Assim, a autora fez a adaptação de dois instrumentos utilizados na prática de clínica psicológica: História para Completar e Desenhos com Estórias. As informações coletadas foram analisadas com contribuições das teorias sociointeracionistas, especialmente dos estudos de Vygotsky (1998, 1996). Como resultado, a autora expõe:. Ao contrário do que pensam muitos adultos, as crianças parecem não estar satisfeitas com a escola e as práticas ali desenvolvidas […]. Vale ressaltar, ainda, que muitas das sugestões apontadas pelas crianças para tornar a escola um espaço de convivência agradável e estimulante constituem as condições básicas que deveriam existir em qualquer instituição de Educação Infantil[…] (CRUZ, 2009, p. 16-17).. As duas pesquisas apresentadas nestes trabalhos contribuem para o estudo na medida em que relatam formas e desafios para realizar pesquisas com crianças em idade pré-escolar, embora não tenham contado, exclusivamente, com a participação das crianças, mesclando também entrevistas com membros das equipes das escolas (professores, direção escolar…), e com análise de documentos. Na edição seguinte, em 2010, tivemos mais dificuldades em encontrar pesquisas que contemplassem a pesquisa com criança em idade pré-escolar, pois isso não estava explícito nos títulos nem nas palavras-chaves, como ocorreu no ano anterior. Destaca-se a relevância do trabalho que tem como título “Jeitos de ser criança: balanço de uma década de pesquisas com crianças apresentadas na ANPED”, de autoria de Altino José Martins Filho, porém, não colocamos no quadro por não se caracterizar como uma pesquisa com crianças, e sim, como um levantamento sobre as pesquisas com crianças. Nesta edição, apresentam-se dois trabalhos que vamos relatar brevemente. O primeiro deles, “Pares ou ímpares? ”: consumo e relações de amizade entre as crianças na formação de grupos para brincar”, foi realizado por meio da imersão no cotidiano de crianças com idades.

(28) 27. entre quatro e seis anos, em duas instituições de Educação Infantil. Por meio da observação, o pesquisador procurou conhecer as interações das crianças, objetivando compreender os modos como elas, em meio às referências simbólicas da cultura midiática, se organizam socialmente e produzem culturas lúdicas específicas (SALGADO, 2010). O segundo trabalho que destacamos no quadro, “Processos de interação das crianças no meio técnico-científico informacional”, consiste em pesquisa etnográfica realizada com crianças de quatro a seis anos, com o objetivo de compreender as interações das crianças com os objetos de seus espaços geográficos. O autor inicia destacando o caráter indissociável entre os processos de humanização e a construção do espaço geográfico. A perspectiva teórica utilizada foi a histórico-cultural de Vygotsky. Observa-se que os trabalhos caracterizam como sujeitos, crianças com idades entre quatro e seis anos, o que correspondia à idade pré-escolar no ano de publicação do trabalho, visto que o ingresso ao Ensino Fundamental foi modificado com a Lei nº 12. 796, de 05 de abril de 2013. Em 2011, na 34ª edição do evento, destacam-se também dois trabalhos: um com o objetivo. de. mostrar. como. as. crianças. vivenciam. as. experiências. escolares, suas reações diante da organização escolar e o que criam a partir da convivência diária (ALMEIDA, 2011); e outro, com o objetivo de analisar o contexto de brincadeiras de um grupo de crianças no último ano da Educação Infantil (NEVES, 2011). Os dois trabalhos tiveram como referencial teórico a Sociologia da Infância, o primeiro deles intitulado “Infância e Educação Infantil: o grupo de crianças e suas ações em contexto escolar”, contou também com a abordagem da Sociologia da Infância, utilizando como proposta de investigação a observação nas turmas de Educação infantil. No segundo trabalho, o autor nomina a abordagem metodológica como etnográfica interacional, sendo este o primeiro trabalho que retratou fotos e quadros na apresentação dos dados. Outros trabalhos já haviam citado fotos como um recurso utilizado, porém, estas fotos não apareceram nos trabalhos. O número de trabalhos que contempla pesquisa com crianças tem sido crescente. Em 2012, na 35ª edição do evento, destacamos quatro trabalhos: o primeiro deles relata uma pesquisa de 2008, que procurou dar voz às crianças sobre a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, analisando o impacto da implementação do Ensino Fundamental de nove anos. Nesta pesquisa, foram realizadas observações, entrevista em pequenos grupos sob a designação de “Rodas de Conversa”, o método de “Desenho com histórias”. O segundo.

(29) 28. trabalho discute a compreensão das crianças acerca das relações de parentesco por meio de estudo e observação em uma perspectiva sociointeracionista, considerando a brincadeira como atividade privilegiada. Dessa forma, para coleta dos dados foram organizados espaços e materiais para brincadeiras em quatro áreas de interesse do pesquisador: casinha, beleza e fantasia, brinquedos e blocos e leitura. No terceiro trabalho selecionado, o pesquisador começou a escrita fazendo uma referência ao clássico infantil “Bela adormecida” para tratar de questões de corpo e gênero, atravessadas pelos discursos midiáticos e, por práticas de consumo, assentados em valores estéticos cada vez mais padronizados, que circunscrevem normas de como ser e tornar-se belo ou bela, destinadas tanto ao feminino quanto ao masculino (SALGADO; FERRARINI; LUIZ, 2012). A pesquisa foi realizada na imersão de quatro turmas (uma em cada escola), para observar e conhecer, por meio de interações, como constroem valores e experiências que dão vida às suas culturas lúdicas. Por fim, o quarto trabalho selecionado nesta edição mescla artes plásticas, música e poesia para tratar sobre a infância e suas experiências em uma escola de Educação Infantil. Os sujeitos foram crianças com idade entre quatro e seis anos, e no decorrer do trabalho o pesquisador (MEDEIROS, 2012) apresentou fotos e descrições de conversas, construindo uma pesquisa com base no pensamento de Deleuze e de Foucault, bem como possíveis composições de cartografias. Nesta edição do evento, salienta-se a importância dada pelos pesquisadores aos momentos de brincadeiras para abordar temas diversos presentes na sociedade, e não apenas relativos à escola, como as relações de parentesco, gênero, corpo, consumo e mídia. Em 2013, foram destacados também quatro trabalhos. O primeiro (BRAGAGNOLO; RIVERO; WAGNER, 2013) relatando uma pesquisa de cunho etnográfico que investigou as brincadeiras de crianças com idades entre quatro e cinco anos, e suas possíveis relações com o planejamento de tempos, espaços e materiais na Educação Infantil. O segundo deles (SILVA, 2013) tratou sobre o tema cultura e subjetividade na perspectiva histórico-cultural, utilizando especialmente os estudos de Vygostky. Esta pesquisa, também etnográfica, contou com a observação de crianças em idades entre três e cinco anos, especialmente nos momentos de brincadeiras. O terceiro trabalho também relatou uma pesquisa de cunho etnográfico com crianças dessas mesmas idades, sobre o tema cultura, mais especificamente as infantis, e a linguagem de histórias em quadrinhos. O quarto trabalho, como os outros dois também de.

(30) 29. cunho etnográfico, teve como objetivo investigar formas de observar, conhecer e mapear o espaço urbano na perspectiva do sujeito (LANSKY, 2012, p.1). Este se diferencia de todos os outros pelo contexto de observação, espaços urbanos, apresentando mapeamento da ocupação destes espaços por crianças em idades variáveis. Neste ano, o que nos chama a atenção é a variação nas idades dos grupos de pesquisa e a unanimidade na escolha metodológica pela abordagem etnográfica. No ano de 2014, não aconteceu a edição nacional do evento, portanto, não temos publicação neste ano. Em 2015, destacamos cinco trabalhos sobre temas variados: o primeiro trata de um recorte de pesquisa que teve como objetivo compreender o ingresso e a trajetória de homens como professores, a partir da visão de professores, gestão escolar, crianças e suas famílias. No trabalho, os autores (MACÊDO; DIAS, 2015) se detêm a visão das crianças e define a pesquisa com um estudo de casos múltiplos. O segundo trabalho, numa temática e dimensão étnico-racial, em uma pesquisa de cunho etnográfico observou crianças com idades entre quatro e cinco anos. O terceiro trabalho, também etnográfico, embasa-se na sociologia da infância, e destacamos o título, que agrega a fala de uma criança: “Tia, posso pegar um brinquedo? A ação das crianças no contexto da pedagogia do controle”. O quarto trabalho apresenta uma pesquisa que investigou a relação das crianças com as tecnologias móveis. Tendo inspiração etnográfica, observou crianças com idades entre cinco e seis anos no contexto de Educação Infantil. E o quinto trabalho, que também apresenta a fala de uma criança no título - “Meu irmão tem três anos e não estuda porque ele é criancinha” - o que dizem as crianças sobre a Educação Infantil e o direito? ”, contou com uma metodologia de perspectiva etnográfica, por meio de registros de oficinas realizadas em uma escola de Educação Infantil, com crianças de cinco anos de idade. Nesta edição, o que chamou a atenção, além da variedade de temas, foi a utilização da própria fala das crianças como título em dois dos trabalhos destacados. A partir deste levantamento, pode-se afirmar que tem sido crescente a presença de trabalhos que contemplam a escuta das crianças em idade pré-escolar no GT 07 da ANPED. Alerta-se ainda que, a forma que os pesquisadores adotam para coleta de dados, na maioria das vezes, é a observação do contexto das turmas de Educação Infantil, fazendo registros em diários de campo, fotos e filmagens. Em alguns trabalhos, existe adaptação de outras ferramentas de coleta de dados, como completar a história, entrevistas em grupos e realização de desenhos de acordo com a proposta dos pesquisadores. Também não se pode deixar de.

(31) 30. registrar que os momentos de brincadeiras são momentos considerados privilegiados para a maioria dos pesquisadores. Como metodologia, existe unanimidade em pesquisas qualitativas, porém, nem sempre existe a definição de um tipo específico de pesquisa, pois entre as que encontramos havia estudos de caso, estudos de casos múltiplos, etnografia e cartografia. Registra-se também a importância da teoria histórico-cultural e da sociologia da infância, que são referenciadas na grande maioria dos trabalhos. As crianças têm sido ouvidas sobre temas da sociedade contemporânea, não só específicos da escola ou das experiências infantis, porém, ainda necessitamos aprimorar metodologias para a escuta das crianças, visto que elas têm formas próprias de pensar, formas múltiplas de se expressar, por meio da fala e do silêncio, do olhar, do brincar… As crianças experienciam o mundo a sua volta sem precisar de permissão, quer sejam percebidas ou não. Exigem, então, do pesquisador “desacelerar”, ver e ouvir com paciência, trocar experiências. No começo deste capítulo, propomo-nos a mostrar o lugar que as crianças em idade pré-escolar têm ocupado nas pesquisas acadêmicas e, para isso, apresentamos um levantamento das pesquisas apresentadas em trabalhos da ANPED nos últimos sete anos, no GT 07, que tem como tema Educação de crianças de zero a seis anos. A priori, este grupo já definiu no evento, o lugar das crianças em idade pré-escolar, então resolvemos destacar os estudos em que elas foram sujeitos, sendo ouvidas de diversas formas. Para finalizar, gostaríamos de apresentar um cálculo simples de soma de todos os trabalhos apresentados nestes últimos sete anos no GT07 da ANPED, o que resulta em um total de 101 trabalhos; e comparar à soma dos trabalhos que contemplaram as crianças como sujeitos, 19 trabalhos, conforme especificação do quadro a seguir. Quadro 3 - Relação entre o total de trabalhos apresentados no GT07 e total de trabalhos que contemplaram a escuta das crianças em idade pré-escolar Ano. 2009. 2010. 2011. 2012. 2013. 2014. 2015. Edição. 32ª. 33ª. 34ª. 35ª. 36ª. -. 37ª. Total de trabalhos apresentados. 16. 17. 15. 18. 12. -. 23. 101. Trabalho que contemplaram a escuta de crianças em idade pré-escolar. 2. 2. 2. 4. 4. -. 5. 19. Fonte: Elaborado pela Autora.. Total.

(32) 31. Como pode ser observado, nos trabalhos apresentados nos últimos sete anos no GT da ANPED destinados à Educação Infantil, aproximadamente, 19% dos trabalhos contemplaram a valorização da expressão das crianças em idade pré-escolar. A partir deste levantamento, afirma-se a necessidade de aprimorar as pesquisas com crianças, reconhecendo-as como sujeitos sociais e ativos, capazes de participar dos processos de pesquisas sobre temáticas diversas que dizem respeito ao cotidiano e às suas experiências na escola e fora dela..

(33) 32. 3 A EXPERIÊNCIA COMO UMA ESCOLHA TEÓRICA. A partir dos estudos realizados, percebe-se que, nas pesquisas com crianças em idade pré-escolar, assim como esta, aparecem os termos vivência e experiência. Ao aprofundar os estudos, passamos a entender que tal definição não poderia ser considerada como mero acaso, mas que revelava diferenças, mesmo que sutis, nas considerações destes trabalhos. Assim, houve a necessidade de optar por uma das duas palavras para o texto, sendo necessário o aprofundamento do estudo por parte da pesquisadora. Larrosa (2011, p. 01), doutor em Pedagogia pela Universidade de Barcelona e professor de Filosofia da Educação, alerta que: “[…] Há um uso e um abuso da palavra experiência em educação. Mas, essa palavra é quase sempre usada sem pensar, de um modo completamente banal e banalizado, sem ter consciência plena de suas enormes possibilidades teóricas, críticas e práticas”. Com a intensificação dos estudos, entende-se que esta definição era imprescindível, pois, mais que uma escolha de terminologia, revela também uma escolha teórica. Segundo Larrosa (2002, p. 21):. As palavras com que nomeamos o que somos, o que fazemos, o que pensamos, o que percebemos ou o que sentimos são mais do que simplesmente palavras. E, por isso, as lutas pelas palavras, pelo significado e pelo controle das palavras, pela imposição de certas palavras e pelo silenciamento ou desativação de outras palavras são lutas em que se joga algo mais do que simplesmente palavras, algo mais que somente palavras.. Dessa forma, passamos a dar mais atenção à palavra experiência, procurando compreendê-la a partir de textos como “Notas sobre a experiência e o saber da experiência” e “Experiência e alteridade em educação”, de Larrosa (200212; 201113); “Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação” de Benjamin (1984) e, em estudiosos que apresentam a compreensão da polissemia da palavra nas obras de Benjamin como “Walter Benjamin e a experiência infantil: contribuições para educação infantil” (SANTOS, 2015); e, em estudos sobre o pensamento do filósofo e professor John Dewey (WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010).. 12 Tradução de João Wanderley Geraldi - Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Linguística. 13 Tradução de Maria Carmem Silveira Barbosa e Susana Beatriz Fernandes..

Referências

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