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Um olhar sobre a família e a escolarização

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Academic year: 2021

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ALINE ROBERTA ROCKENBACH

UM OLHAR SOBRE A FAMÍLIA E A ESCOLARIZAÇÃO

Santa Rosa 2012

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ALINE ROBERTA ROCKENBACH

UM OLHAR SOBRE A FAMÍLIA E A ESCOLARIZAÇÃO

Monografia apresentada para obtenção do título de Graduada em Pedagogia na Universidade Regional Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.

Orientadora: Hedi Maria Luft

Santa Rosa 2012

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ALINE ROBERTA ROCKENBACH

UM OLHAR SOBRE A FAMÍLIA E A ESCOLARIZAÇÃO

Monografia apresentada para obtenção do título de Graduada em Pedagogia na Universidade Regional Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.

Banca Examinadora:

... Professora Dra. Hedi Maria Luft - UNIJUÍ

... Professora Ms. Claudia Seger Cunegatti – UNIJUÍ

... Professora Ms. Marta Estela Borgmann - UNIJUÍ

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DEDICATÓRIA

A todos aqueles que torceram por mim nesta caminhada. E aos meus pais, que são a fonte de inspiração e o motivo maior pelo qual escrevo este trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela vida e pela proteção nesta caminhada.

Ao meu esposo Márcio por saber respeitar este momento, apoiando e encorajando os meus passos nesta realização.

Aos meus pais e irmã pelo apoio e incentivo em todos esses anos de caminhada. As amigas e colegas pelas horas em que estivemos juntas, dividindo nossas experiências de vida e amadurecendo neste período acadêmico.

Ao apoio recebido de todos os professores e amigos, durante este período de dedicação à construção do saber.

Agradeço à minha orientadora, Hedi Maria Luft, que com muita dedicação sempre me acolheu e direcionou o trabalho de conclusão, dando-me os nortes para alcançar os objetivos, levando-me a evoluir tanto no conhecimento quanto como pessoa.

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Os analfabetos são pessoas que não frequentaram a escola ou que a abandonaram muito cedo, mas isto não reflecte uma opção pessoal; pelo contrário, a situação deve-se a um conjunto de factores relacionados com as dificuldades financeiras da família e com a organização e funcionamento da estrutura escolar. O insucesso escolar manifesta-se, sobretudo, junto dos alunos provenientes das classes economicamente mais desfavorecidas e que em cujas famílias é transmitida uma cultura diferente da letrada.

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RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo sobre a família e a escolarização. Tem como objetivo entender as causas da pouca escolaridade das pessoas acima de 55 anos de idade, especialmente, da minha família que reside no município de Cândido Godói na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Para alcançar o objetivo realizei entrevistas com meus familiares: pai, mãe, tios, avós e avôs. Busquei dados em documentos, livros, jornais. A pesquisa realizada aponta que, em relação aos meus familiares, são poucos os que têm, ou que estão cursando o Ensino Superior, portanto a maioria apresenta pouca escolaridade, principalmente, devido a concepção cultural e as condições econômicas. No município de Cândido Godói constatei um número significativo de pessoas analfabetas e pouco escolarizadas. Os dados encontrados revelam que, no município de Cândido Godói não existem políticas públicas para atender as pessoas fora da faixa etária escolar e que desejam continuar a sua escolaridade. A situação é semelhante em toda região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, pois são poucos os municípios dos que integram a região, que ofertam a modalidade da Educação de Jovens e Adultos deixando assim, muitas pessoas sem oportunidades de continuar os estudos. Entende-se que, há a necessidade de criar políticas públicas para atender essa demanda a fim de garantir a todas as pessoas o direito que é estabelecido em Lei.

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RESÚMEN

Este trabajo presenta un estudio sobre la familia y la escolarización. Tiene como objetivo entender las causas de la poca escolaridad de las personas por encima de los 55 años de edad, especialmente, de mi familia que reside en el municipio de Cândido Godói en la región Noroeste del Estado de Rio Grande do Sul. Para alcanzar el objetivo realicé entrevistas con mis familiares: padre, madre, tíos, abuelos y abuelas. Busqué datos en documentos, libros, periódicos. La investigación realizada apunta que, en relación a mis familiares, son pocos los que tienen, o que están cursando el Nivel Superior, por lo tanto la mayoría presenta poca escolaridad, principalmente, debido a la concepción cultural y a las condiciones económicas. En el municipio de Cândido Godói constaté un número significativo de personas analfabetas y poco escolarizadas. Los datos encontrados revelan que, en el municipio de Cândido Godói no existen políticas públicas para atender a las personas que están fuera de la edad escolar y que desean continuar con su escolaridad. La situación es semejante en toda la región Noroeste del Estado de Rio Grande do Sul, pues son pocos los municipios que integran la región, que ofertan la modalidad de Educación de Jóvenes y Adultos dejando así, a muchas personas sin la oportunidad de continuar con sus estudios. Entiéndase que, existe la necesidad de crear políticas públicas para atender esta demanda con el fin de garantizar a todas las personas el derecho que es establecido por Ley.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...09 1 UM OLHAR SOBRE A FAMÍLIA E A ESCOLARIZAÇÃO...11 1.1 HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA...13

2 ESCOLARIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE CÂNDIDO GODÓI E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS...20 2.1 O MUNICÍPIO DE CÂNDIDO GODÓI E AS CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO...20 2.2 AS ESCOLAS, A EDUCAÇÃO E A ESCOLARIZAÇÃO...23

3 ESCOLARIZAÇÃO NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS...29 3.1 CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DA REGIÃO...29 3.2 ESCOLAS, ESCOLARIZAÇÃO E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA REGIÃO...32

CONSIDERAÇÕES FINAIS...37 REFERÊNCIAS...38

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INTRODUÇÃO

A educação é um tema amplamente discutido na atualidade. Sabe-se do grande valor que ela tem na sociedade contemporânea. Ela é um direito garantido em Lei e uma questão de cidadania. Mas, mesmo assim, não são todas as pessoas que têm o acesso e a sua permanência contemplada. Existem ainda, muitas pessoas analfabetas e pouco escolarizadas. Mais que promover o acesso à educação necessita-se oferecê-la com qualidade.

A partir disso, realizou-se este estudo que teve como objetivo compreender as causas que levam muitas pessoas a serem pouco escolarizadas. Para que o objetivo deste trabalho fosse concretizado realizaram-se pesquisas em documentos, livros, dados estatísticos, e entrevistas com meus familiares. A pesquisa realizada esteve baseada nas seguintes questões: quais as causas da pouca escolaridade das pessoas acima de 55 anos? E na minha família, qual é o grau de escolaridade dos meus familiares? O trabalho desenvolvido está centrado na ideia de que estes sujeitos, devido as suas condições e dificuldades de vida, e também pela cultura da época, tiveram de optar pelo trabalho para sobreviver, ao invés de frequentar a escola.

O estudo apresenta-se organizado em três capítulos. No primeiro capítulo, faz-se uma abordagem sobre a família e a escolarização. Compreende-se que a família ao longo dos séculos foi sofrendo mudanças apresentando em cada época diferentes maneiras de convivência entre as pessoas. Entende-se que ela é primeiro grupo social do qual, nós seres humanos, pertencemos, constituindo-se como uma base, tanto para os indivíduos como para a sociedade. Assim como na família, a educação sofreu grandes mudanças em relação à forma de educar e escolarizar as pessoas. Por isso, num segundo momento, dentro deste capítulo, apresento a história da minha família (avós, pais e tios), resgatando as vivências dos mesmos quando estes frequentavam a escola, destacando fatos em relação ao ensino, professores, conteúdos e dificuldades enfrentadas.

O segundo capítulo tem por objetivo analisar a questão da escolarização, das escolas e da educação no município de Cândido Godói. Desta forma, inicialmente faz-se um resgate histórico do município, trazendo fatos e dados desde o início da colonização pelos imigrantes europeus, até os dias atuais. Destaca-se, num segundo momento, questões relacionadas à educação, mostrando a evolução da oferta do ensino nas escolas deste município ao longo dos anos. Ainda traz dados estatísticos relacionados ao número de analfabetos, anos de escolaridade da população e quantidade de pessoas matriculadas em cada etapa da educação. Estes dados apontam para a necessidade de serem criadas políticas públicas no nível local, uma vez que, a prioridade da educação do município é a Educação Infantil e o Ensino

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Fundamental, deixando assim, de atender as pessoas que são analfabetas ou que têm pouca escolaridade.

Para finalizar, no terceiro capítulo, apresenta-se um estudo sobre as escolas a educação e a escolarização na região Noroeste do Estado. Primeiramente é apresentada a história da região partindo da colonização europeia até os dias atuais. Num segundo momento, mostra-se dados estáticos a nível regional, estadual e nacional em relação à porcentagem de analfabetos e a percentagem dos anos de estudo da população. Além disso, destaca-se dados em relação à oferta da Educação de Jovens e Adultos na região. Assim, os dados revelam que ainda existe um número significativo de analfabetos e os anos de escolarização da maioria da população são baixos. A pesquisa aponta para a necessidade de serem criadas políticas públicas mais adequadas a demanda, a fim de garantir a estas pessoas o direito conquistado e estabelecido em Lei.

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1 UM OLHAR SOBRE A FAMÍLIA E A ESCOLARIZAÇÃO

Olhar para a família sempre é desafiador para mim. Família, palavra especial, de muitas significações e significados. Famílias de todas as “cores”, de todos os “lugares”, ricas ou pobres, felizes ou não, mas sempre vão ser famílias, família da gente. Família o primeiro grupo social do qual pertencemos, o nosso ponto de referência, de vivências, de interações, de proteção. Essa é de fato a função da família, mas não é o que acontece em todas. Considerando as muitas definições retomo algumas reflexões sobre as significações da palavra família.

O termo família tem a sua origem na Roma Antiga, e vem da palavra latina famulus, que significa escravo doméstico, com o sentido de conjunto de escravos de um só Senhor, ou seja, esta palavra foi criada para determinar um grupo de pessoas unidas pelos laços de sangue e sob a subordinação de um chefe, assim caracterizando-se uma família. Este vocábulo foi sendo usado ao longo dos tempos. Com a instituição do matrimônio religioso ou não, passou a ser dado um maior destaque a família (ROTTA, 2010).

Podemos perceber ainda, que a família foi sofrendo mudanças ao longo dos séculos, apresentando em cada época maneiras diferentes de convivência entre as pessoas. Assim como na família, no contexto educacional também foram acontecendo mudanças nas formas de educar e de escolarizar as pessoas. Nos últimos anos as transformações são grandes no que diz respeito à forma de educar e de escolarizar as pessoas.

Antes de existirem as escolas as pessoas aprendiam através da transmissão dos ensinamentos passados de geração em geração, ou seja, os mais velhos ensinavam os mais novos sobre o que sabiam, assim, como vemos ainda hoje em alguns lugares. Mas com o passar dos anos somente esta transmissão não era mais o suficiente. Aos poucos surgem as escolas e as crianças passaram a frequentá-la para aprender com um mestre e não mais com os pais e adultos. A escola foi se transformando ao longo dos anos, assim, como a forma de ensinar os alunos, chegando até as escolas que atualmente conhecemos.

Priore1 (1999), em seu livro “História das crianças no Brasil” fala das características gerais da educação e da evolução do ensino das crianças no Brasil. Divide a população segundo sua origem social, entre originários da elite, das famílias escravas e dos índios, que eram as três classes mais representadas no período da colonização das terras brasileiras pelos

1 Os dados que seguem estão baseados nas leituras do livro “História das crianças no Brasil” de Mary Del Priore

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portugueses. As crianças indígenas, chamadas de "curumins”, eram tratadas com muito respeito pelos adultos da sua comunidade indígena. Nas aldeias e agrupamentos indígenas, antes do descobrimento do Brasil pelos portugueses e do povoamento das terras brasileiras, as crianças já se divertiam e tinha um papel nas comunidades em que viviam. Para integrá-las ao grupo social, os adultos elaboravam brinquedos, miniaturas de animais, arco e flecha, criando, assim, situações para que pudessem aprender a caçar, pescar, entre outras atividades.

Os rituais de dança, pintura e de lutas faziam com que a criança construísse a sua singularidade dentro da tribo. Os meninos ficavam com as tarefas mais difíceis e de maior responsabilidade. As meninas aprendiam com as mães a tecer redes, limpar as ocas, a plantar, a colher, e a sustentar a família. Com o início da colonização do Brasil pelos portugueses no século XVI, muitos índios foram escravizados, assim como os pequenos curumins.

Também a partir da colonização portuguesa vieram as Missões Jesuíticas com o intuito de educar e catequizar os índios. Os jesuítas passaram a impor aos índios novos valores e crenças. Catequizavam os pequenos curumins, através do ensino do latim, dos cantos e orações da religião Católica. Os jesuítas passaram a usar as crianças como um instrumento de dominação das comunidades indígenas, tentando, assim, converter toda a tribo a fé Católica.

Já as crianças negras filhos de escravos, durante este período, costumavam acompanhar a mãe no trabalho, e assim, iam aprendendo a trabalhar. Desde pequenas já ajudavam a plantar e a colher. A partir dos sete anos, as crianças dos escravos já podiam ser separados dos pais. Também, com essa idade, podiam ser vendidas para trabalhar em outras famílias.

Após a vinda dos portugueses, chegaram as primeiras famílias colonizadoras e com elas vieram as crianças portuguesas, de diferentes classes sociais: a classe mais alta, formada pelos nobres da corte e as famílias mais simples, mas que também possuíam algum poder social. Nessas classes, além da mãe, do pai e dos filhos, havia uma variedade de coadjuvantes como os professores particulares, as aias, as amas, as babás, as criadas.

Outro dado, é que as crianças da elite, quando tinham em torno de dez anos, passavam a se vestir como adultos em miniatura e agindo como tais. As famílias naquela época tinham como missão conservar os bens, praticar comumente um ofício e não tinham uma função afetiva. Ainda era função da família a transmissão de valores e conhecimentos e de socializar a criança. A aprendizagem acontecia na convivência com os adultos, ajudando-os a fazer as tarefas.

A Igreja, por se interessar em que as crianças aprendessem formalmente os preceitos religiosos, torna-se grande defensora da escolarização. O desenvolvimento da imprensa

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favorecia a escolarização, pois exigia um conhecimento específico para que se pudesse utilizar a nova invenção. Mas desde o início da colonização, as escolas jesuítas eram poucas e, sobretudo, para poucos. Somente uma pequena minoria das crianças tinha o acesso ao ensino, ou seja, apenas as crianças da elite frequentavam a escola.

No fim do século XVII ocorre uma mudança considerável, aonde a escola veio a substituir a aprendizagem que era feita até então com os adultos de sua família. Isso significa que a criança deixou de se misturar com os adultos e passou a aprender nas escolas. O ensino público só foi instalado, e ainda assim de forma precária, durante o governo do Marquês de Pombal, na segunda metade do século XVIII. No século XIX, a alternativa para os filhos dos pobres não era a educação, e sim a transformação destes em cidadãos úteis e produtivos na lavoura. Os filhos de uma pequena elite eram ensinados por professores particulares.

No final deste século XIX o trabalho infantil continua sendo visto pelas camadas subalternas como “a melhor escola”. As meninas eram as mais excluídas, pois não podiam nem frequentar a escola. Era tarefa das mães das meninas, educá-las. As mães ensinavam como deviam cuidar de uma casa e dos filhos. Desta forma, as meninas mal aprendiam a ler e escrever, e muitas delas, inclusive as da classe nobre, não eram mais instruídas do que as das classes inferiores.

Percebe-se assim, que ocorreram grandes transformações no modo de educar e escolarizar as pessoas. Além disso, instituíram-se diferentes organizações familiares, e a seguir veremos um caso.

1.1 HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA

A palavra família dentro de minha concepção pode ser entendia como um grupo de pessoas que vivem juntas, unidas por laços de parentesco, de matrimônio, constituindo-se assim, como uma base, como uma estrutura tanto para os indivíduos como para a sociedade. Mesmo tendo essa concepção, compreendo que esta realidade não é a de todas as pessoas e de todas as famílias. Esse deveria ser o papel da família. Mas conheço situações em que não existe esta organização que a família deveria dar a seus membros. Por vezes ouvi relatos e li fatos que contam dos abusos e dos maus tratos sofridos por crianças, sendo que os agressores são, em muitos casos, os seus próprios pais, estes que deveriam oferecer-lhes proteção e carinho.

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No contexto da atual sociedade moderna, a família também vem sofrendo transformações e por isso não existe mais um único conceito do que é a família. Por isso, hoje, já não podemos mais definí-la como vínhamos fazendo anteriormente, dizendo que a família é aquela que é composta por pai, mãe e filhos. A família toma novas configurações. Mas, volto a firmar de que a família, não importando a configuração que tome, sempre será o início da vida das pessoas, havendo ou não por parte da família o estímulo, o incentivo, o amor e o carinho para com os seus.

Ao ler e refletir mais sobre a família acabo por remeter-me às lembranças que tenho da minha família. É especial destacar a vivência nela, pois foi com ela que comecei a dar os meus primeiros passos, neste mundo. Ela que me ajudou a escolher o caminho a percorrer. Pensando nisso quero comentar um pouco sobre a história da minha família. Meus pais, Antônio e Eneida, são agricultores e assim viveram toda a sua vida no meio rural. Eles já possuem mais de 55 anos de idade. Os pais deles, ou seja, meus avós, também, dedicaram a sua vida trabalhando na agricultura. Meus avós, assim como os meus pais têm uma vida humilde, simples e sem muitos recursos financeiros.

Criaram seus filhos, que não eram poucos. Pelo lado materno são entre oito irmãos (as) e pelo lado paterno são entre dez irmãos (as), portanto tenho dezesseis tios. Ambos os meus avós são de origem germânica, e estes cultivavam as muitas tradições deste povo, que foram passadas de geração em geração. Para sustentar os seus filhos, meus avós trabalharam a terra e de lá tiravam os alimentos e o sustento para todos da família. Cada filho desde pequeno já ajudava os pais tanto na lida da roça e dos animais, como nos serviços da casa. Desde pequenos aprendiam a trabalhar e, muitas vezes, o trabalho era “pesado”. Aos sete anos as crianças passavam a frequentar a escola que, na maioria dos lugares, estava ligada diretamente a Igreja.

Aqui, Igreja é entendida como um templo, como uma comunidade pertencente a uma religião, ou seja, as pessoas no início da formação das comunidades sempre tiveram a preocupação de construir um centro religioso, e assim, construíam uma Igreja. Além desta preocupação também entendiam que os seus filhos necessitavam ter um ensino, e por isso próximo a Igreja (templo), era construída a escola. A escola se ligava diretamente a Igreja, pois era o padre quem decidia quem seria o professor daquela escola e o que ia ser ensinado aos alunos. Além disso, na escola os alunos aprendiam não só a leitura, a escrita e a

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matemática, mas também eram ensinadas as ideias referentes a religião, a qual as crianças pertenciam que, no caso dos meus pais, como de seus irmãos, era a religião Católica2.

Assim a educação escolar incluía a formação religiosa. A escolarização entendida como a aprendizagem que ocorre na escola, envolve o processo em que o indivíduo é inserido em um aprendizado feito de forma sistematizada e planejada. Segundo Pereira (2011, p. 155) “pode-se considerar a escolarização como uma relação que “pode-se dá no meio escolar ou a partir dele, com estratégias de ensino, de aprendizagem e de socialização, ofertada ao educando por intermédio de uma instituição educacional.”.

Olhando para a realidade vivida por meus pais, estes não tiveram muita escolaridade. Meu pai frequentou a escola até a 4ª quarta série. Minha mãe estudou até a 8ª série, concluindo, portanto, o Ensino Fundamental. Meus pais ao comentar sobre os fatos de seu tempo de escola, e da instituição de ensino, especialmente nos quatro primeiros anos do Ensino Fundamental, trazem à tona a questão dos métodos de trabalho utilizados pelos professores daquela época. Eles (pais) revelam que o ensino era baseado na decoreba, nos castigos físicos e na autoridade centrada no professor, ou seja, um ensino baseado na concepção tradicional. Além disso, relatam as dificuldades enfrentadas para estudar. Quando meus pais contam sobre os professores que tiveram estes lembram de que o professor era a autoridade “máxima” em sala de aula. Autoridade pode ser entendida como “influência, prestígio” (BUENO, 1996, p. 86), ou seja, é alguém que exerce influência e poder sobre os demais.

Como já havia mencionado anteriormente, o professor era escolhido pelo padre, e, além disso, ele também ajudava a decidir as normas e os conteúdos a serem ensinados aos alunos. Por isso, as normas e orientações da instituição de ensino eram determinadas pelo professor e pelo padre. Além disso, o professor era visto como aquele que “sabia tudo”. Os alunos eram considerados objetos. O autoritarismo por parte do professor predominava e quem ousava perguntar algo ou ir contra o que ele dizia era castigado. Tudo se dava numa relação de autoritária. Sobre isso Kreutz (1991, p.134) afirma:

uma educação que se centra no educador, no intelecto, no conhecimento, este modelo pedagógico privilegiou o adulto considerando-o acabado e completo

2 O objetivo da Igreja Católica é fazer Jesus conhecido, amado, adorado e seguido como verdadeiro Deus entre

os homens, através das pregações da Palavra, evangelização, exemplo e vida, pelos sacramentos e, de uma maneira toda singular, pela Eucaristia, que é o próprio Jesus que se faz Pão e Vinho, verdadeiro alimento para a vida eterna. Estes dados, anteriormente mencionados, foram retirados do texto disponível em: <http://www. paroquiadatorre.com.br/igreja/index.php>. Acesso em: 11 nov. 2012

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em oposição a criança, tida como um ser imaturo e incompleto. Como centro do processo ensino-aprendizagem, o professor deveria dominar com segurança os conteúdos fundamentais que constituíam o acervo cultural da humanidade e transmití-los de modo a garantir que seus alunos o assimilassem.

Sobre os conteúdos, nos primeiros anos de escola, meus pais relatam que aos alunos eram ensinadas apenas as quatro operações e um pouco de regra de três na quinta série. Aprendiam a ler e escrever e não chegavam a aprender como se faz uma redação. Também era ensinado um pouco de geografia e história. Em geografia aprendiam como o Brasil estava dividido politicamente, e em história apenas as datas comemorativas. Fazia parte do currículo o ensino da religião, preparando-os para a primeira comunhão3, portanto uma catequese. Naquela época, a catequese era dada em sala de aula junto com o aprendizado dos outros conteúdos. Segundo Kreutz (1991, p. 36) “na escola, além de um ensino formalizado de gramática e das quatro operações fundamentais em matemática, a catequese era prioritária.”. As crianças faziam a primeira comunhão quando terminava o Ensino Primário, o que hoje seria mais ou menos no final do quinto ano do Ensino Fundamental.

Além disso, quem queria continuar os estudos necessitava buscar outra escola, fora da comunidade em que viviam. Eram poucas as escolas que ofertavam o ensino para além da quinta série, e as que existiam, na maioria das vezes, ficavam distantes. Muitos optavam em ir para os seminários e conventos, pois estes eram uns dos poucos lugares em que podiam continuar os estudos. Somente tempos depois foram surgindo mais escolas com a oferta de turmas para além da quinta série. A grande maioria das pessoas parava de ir à aula quando terminavam a quarta ou quinta série, pois como anteriormente foi mencionado, quase não havia escolas para dar continuidade aos estudos.

Mas havia ainda outras dificuldades como: ir para a aula a pé no frio, na chuva, no calor, caminhar vários quilômetros até chegar à escola, trabalhar o dia inteiro e ir à noite à aula, mesmo cansada. Nas palavras de minha mãe: “lembro-me de quando ia à noite para a aula. Da longa distância percorrida a pé até chegar à escola e da pinguela sobre o rio, que atravessei por várias vezes no escuro”. Essas dificuldades foram enfrentadas em busca do

3 A Primeira Comunhão é uma celebração, em que os cristãos participantes desta cerimônia recebem pela

primeira vez o Corpo e Sangue de Cristo sob a forma de pão e vinho, ou seja, a hóstia. Esta celebração também é conhecida como Primeira Eucaristia, visto que os participantes recebem pela primeira vez o sacramento da Eucaristia. Estes dados foram retirados do texto disponivel em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/primeira _comunh% c3 % a3o>. Acesso em: 28 out. 2012.

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estudo. Mas, estas mesmas dificuldades fizeram com que minha mãe abandonasse os estudos. Assim ela completou apenas o Ensino Fundamental, ou seja, estudou até a 8ª série.

Além dos fatores citados, os aspectos culturais também tiveram fator decisivo nesta questão. Muitos pais consideravam os seus filhos “prontos” quando estes terminavam a quinta série. Entendiam que não necessitavam mais estudar, pois o que aprenderam já era o suficiente para a vida. Além disso, o trabalho estava acima do estudo. Outro fator é a condição financeira, pois como as famílias eram numerosas, e não havia muitos recursos, muitos filhos acabavam por ajudar no sustento da família, desde pequenos.Segundo Cavaco (2002, p. 25) “o insucesso escolar manifesta-se, sobretudo, junto dos alunos provenientes das classes economicamente mais desfavorecidas e que em cujas famílias é transmitida uma cultura diferente da letrada.”.

Os castigos físicos eram comuns. Quando os alunos não obedeciam as normas do professor, eles eram castigados sendo que o mais suave dos castigos era ficar na sala durante o recreio. Havia também outros castigos como ajoelhar-se sobre sementes, o professor bater com a régua nos alunos, e o mais grave dos castigos era o uso da vara. Segundo os meus pais, a surra era “pra valer”. Nas palavras de minha mãe: “lembro-me de minha irmã que, por não ter feito o tema, foi castigada com algumas reguadas na mão”.

Para além das questões disciplinares havia outro motivo para castigos. O fato de haver, alguns alunos canhotos, por questões físicas ou genéticas, se tornava também um motivo para punição. Os alunos que não eram destros foram obrigados escrever com a mão direita. E quando o professor via os alunos canhotos não obedecendo as suas ordens, estes eram castigados.

Em relação à forma de avaliar os alunos, o professor realizava dois tipos de provas: as orais e as escritas. Meus pais contam que necessitavam decorar todos os conteúdos ensinados pelo professor para saber responder as perguntas que este lhes fazia. Percebe-se assim que nestas escolas era muito importante se ter uma disciplina rígida com relação aos alunos. Segundo Kreutz (1991, p.133):

a disciplina rígida era cultivada como um grande valor nas escolas teuto-brasileiras... o ensino fundamentalmente era exercido como aprendizado da leitura, da escrita e das operações matemáticas junto com a concepção de mundo na ordem cristã em que se enfatizava os elementos fundamentais da boa convivência no grupo humano... que a natureza humana não é boa constantemente, que ela foi corrompida como um todo, e o mal esta presente

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no homem e que precisa ser vencido e dominado através de uma educação rígida.

A unidocência e o bilinguismo eram também dois grandes desafios encontrados tanto pelo professor como pelos alunos. A unidocência é o ensino simultâneo de várias turmas, com alunos em idades diferentes. A unidocência era um grande desafio para o professor, pois consistia em não deixar nenhuma turma ociosa, trabalhando simultaneamente com todos os alunos de todas as séries. O bilinguismo era o maior desafio do professor e dos alunos, porque, na maioria das vezes, os alunos iniciavam os estudos sem conhecer nada do português. Por falar apenas a língua alemã, sentiam grandes dificuldades na aprendizagem. O ensino do português era fraco porque, em muitos casos, os próprios professores sabiam pouco (KREUTZ, 1991, p.143). Este fato é lembrado pela minha mãe que diz seguinte: “lembro-me dos meus primeiros dias na escola. Eu me senti perdida e não entendi nada do que o professor falava, pois em casa somente falava o alemão. Tive muita dificuldade em aprender o português”.

Percebo que esta é uma realidade vivida não somente por meus pais, mas foi a de meus avós, tios, tias, e, por vezes, ainda é, a vida ou a realidade de alguns brasileiros. A infância sem muitos recursos, a prioridade dada ao trabalho e o pouco valor dado à educação (principalmente nas classes mais pobres) não permite que continuem seus estudos. Percebi ao conversar com os meus familiares, que a grande maioria deles tem entre a 4ª e 8ª série e que são poucos os que têm e/ou estão cursando o Ensino Superior.

Olhando para a realidade próxima a mim, percebo que a grande maioria dos meus tios, que no total são 16, não teve muita escolaridade, assim como os meus pais. Como anteriormente mencionei, meu pai frequentou a escola até a 4ª série e minha mãe até a 8ª série. Destes dezesseis tios, apenas um conseguiu cursar o Ensino Superior. Dois estudaram apenas até a 4ª série, sete estudaram até a 8ª série e, apenas seis concluíram o Ensino Médio. Constato assim, que a grande maioria dos meus tios, ou seja, 56% deles têm entre a 4ª e a 8ª série.

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GRÁFICO 1- Escolarização dos meus tios (Idade de 45 a 65 anos)

Como se percebe no gráfico, de um total de dezesseis, apenas um tio tem o Ensino Superior, o que representa 6% do total. Seis têm o Ensino Médio, o que representa 38%. Outros nove tios têm entre a 4ª e a 8ª série, ou seja, 56%. Olhando para a idade dos meus tios percebo que os que possuem mais de 55 são os que têm menos escolaridade. Isso se deve ao fato de que, estes não tiveram o acesso fácil à escola, ou por não haver escolas que ofertassem turmas para além da 5ª série. Os tios mais novos tiveram mais oportunidades de estar estudando, pois, com o passar dos anos, foram criadas mais escolas e as que já existiam passaram a oferecer ensino para além da quinta série.

Portanto, os fatos apresentados mostram que, na minha família, a grande maioria dos meus tios não tem muita escolaridade, assim como os meus pais. Um conjunto de fatores como as condições econômicas, a prioridade dada ao trabalho, às dificuldades enfrentadas até chegar à escola e a cultura da época foram decisivos em relação à escolarização dos meus familiares. Diante disso, é interessante conhecer também a realidade do município de Cândido Godói em relação à escolarização das pessoas. É isso que destaco a seguir.

56% 38%

6%

A ESCOLARIDADE DOS MEUS TIOS

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2 ESCOLARIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE CÂNDIDO GODÓI E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.

A escolarização, como anteriormente mencionado, é o ensino realizado dentro da escola de forma planejada e sistematizada. Para entender melhor a escolarização investiguei como ocorreu e como vem acontecendo o ensino nas escolas do município de Cândido Godói. Por isso, primeiramente, faz-se necessário conhecer a história deste município. Além disso, tenho interesse em saber se a realidade vivida por meus pais e tios, foi ou é a realidade de outras pessoas também. E ainda, se existe, por parte do poder municipal, incentivo e políticas públicas para que jovens e adultos, que estão fora da escola, possam retornar a estudar.

2.1 O MUNICÍPIO DE CÂNDIDO GODÓI E AS CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO.

Cândido Godói4 um município pequeno que está localizado na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Recebeu este nome em homenagem ao Dr. Cândido de Godoy, que era engenheiro e secretário de obras do governo do Estado, o qual foi designado para medir os lotes de terras das colônias pertencentes ao município. Por volta do ano de 1906 se deu o início da medição das áreas que pertencem hoje ao município. Estas áreas eram divididas em lotes de 25 hectares cada. Em 1909 começou o processo de colonização através da ocupação da área entre os rios Comandaí e Boa Vista, ou seja, nas áreas que atualmente pertencem aos municípios de Cândido Godói e Campina das Missões.

Os primeiros habitantes de Cândido Godói foram os índios Guaranis. Mas quando se deu o advento da colonização pelos imigrantes, vieram para este município colonos, em sua maioria, de origem alemã e polonesa. Estes eram oriundos de Guarani das Missões, Ijuí, Montenegro, Santa Cruz e mais tarde de Cerro Azul hoje Cerro Largo. Atualmente, neste município, predomina a etnia alemã com 80% da população, polonesa em 13% e outras etnias em 7%.

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Os dados que seguem estão baseados no texto disponível no site: http://www.candidogodoi.rs.gov.br/ e em leituras realizadas no texto “Resgate histórico do município de Cândido Godói” de Aline Roberta Rockenbach (2006).

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Quando chegaram os imigrantes, estes encontraram a maior parte das terras cobertas por mata virgem. Assim começaram a derrubar as árvores a machado e serrote, serrando as toras em vigas e tábuas, e construíam as suas casas, isto tudo em mutirão. Pode-se entender mutirão como, por exemplo, quando várias pessoas unem esforços para realizar uma atividade. Todos os trabalhos eram feitos manualmente, com a ajuda de cavalos e bois. Plantavam milho, mandioca, feijão, batatinha e trigo sendo que tudo era plantado manualmente. Criavam porcos soltos, mas tinham que tomar cuidado, pois naquela época havia onças.

Nesta época não existia o rádio, televisão. Assim a comunicação era feita de boca-a-boca ou por cartas. O comércio era a troca de mercadorias. Levavam os produtos de carroça até o bolicho e em troca traziam os produtos que necessitavam como sal e tecido para fazer roupas. O resto de que necessitavam para a alimentação era produzido em casa. Faziam remédios caseiros e usavam chás. Se isso não resolvia, iam em busca de assistência médica nos hospitais dos municípios vizinhos, como: Santo Cristo, Cerro Largo e Ubiretama. Além disso, os primeiros colonos a chegarem traziam consigo os costumes e tradições de seus países de origem, entre eles estavam a religião e as escolas comunitárias, que estavam diretamente ligadas às Igrejas.

Em 1953, pela Lei Municipal n° 87, a Linha Dr. Cândido Godói foi elevada a categoria de Distrito do Município de Santa Rosa. No ano de 1962, Cândido Godói e Campina das Missões uniram esforços e desencadearam o movimento de caráter emancipacionista, e assim foi criada uma comissão de emancipação. No dia 25 de agosto de 1963 foi realizado o plebiscito com a finalidade de emancipar o distrito. E grande maioria da população votou no SIM, tornando-o então município. Em 09 de outubro de 1963, o então Governador do Estado Ildo Meneguetti criou pela Lei n° 4581 o novo município de Cândido Godói. Ele foi instalado no ano seguinte, em 25 de janeiro de 1964.

No início do ano de 1987, mais precisamente no mês de março, após terem se casado, meus pais chegaram a Cândido Godói. Anteriormente viviam no município vizinho de Campina das Missões. Assim se estabeleceram, vivendo neste município até hoje (2012). Depois de casados continuaram na agricultura, tirando da terra o seu sustento. E foi neste meio que eu e minha irmã crescemos.

Cândido Godói é um município pequeno. Atualmente conta com cerca de 6535 habitantes segundo os dados do último censo demográfico (IBGE, 2010). Hoje a maior parte da renda do município vem da agricultura de pequenas propriedades. Além da agricultura existem pequenas indústrias, agroindústrias, o comércio e algumas empresas prestadoras de

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serviços. É um lugar calmo, tranquilo e bom de viver. Foi neste município que cresci, estudei e vivo até hoje. Esta é atual cidade de Cândido Godói, onde eu, minha irmã e meus pais residem.

MAPA 1- Município de Cândido Godói

(Vista aérea da cidade de Cândido Godói5)

Desde pequena residi no meio rural. Meus pais sempre moraram no interior, trabalhando com a agricultura e por isso eu e minha irmã crescemos em contato com a natureza, com a terra, com os animais, com as plantas e com o ar puro. Quando era criança, gostava de brincar com minha irmã. Hoje tenho boas lembranças deste tempo, lembro-me de quando brincávamos de casinha, de aula, esconde-esconde. O brincar fez parte da minha infância. E hoje, quantas crianças fazem essas brincadeiras? Qual é o lugar da brincadeira na sociedade atual? Segundo Smole, Diniz e Cândido (2000, p.13):

brincar é tão importante e sério para a criança como trabalhar é para o adulto. Isso explica por que encontramos tanta dedicação da criança em relação ao brincar. Brincando ela imita gestos e atitudes do mundo adulto, descobre o mundo, vivencia leis, regras, experimenta sensações. Antigamente, a brincadeira estava garantida pelo espaço nas casas, nas ruas, nos parques.

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Hoje a crianças vêm sistematicamente perdendo o espaço, especialmente para o brincar coletivo. Se eram comuns brincadeiras de corda, bola de gude, pegador e outras, nas ruas e quintais, atualmente elas já não tem lugar nos condomínios e apartamentos ou não podem ser feitas por crianças que, fora da escola, têm que trabalhar cada vez mais cedo ou realizar uma enorme quantidade de atividades extracurriculares.

No ano de 1994 comecei a estudar na Educação Infantil do Instituto Estadual de Educação Cristo Redentor, situado na cidade deste município. Todo o meu estudo ocorreu nesta escola, desde a Educação Infantil até concluir o Curso Normal. Tenho muitas lembranças do tempo da escola, dos colegas, dos professores, das situações vividas, das aprendizagens. Nestes anos em que permaneci nesta escola, tive vários tipos de professores, cada um com a sua maneira de ensinar e trabalhar com os alunos. Aprendi que professor ao ser considerado um mediador, é aquele que auxilia o aluno a construir o conhecimento. Para Freire (1996, p. 25) “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção.”.

As possibilidades de escolarização sempre foram consequência de luta e na sequência mostro o contexto, fatos e dados sobre a educação e as escolas do município desde o início da colonização até os dias atuais. Apresento aspectos que interferiram na história de todos os que moram neste município.

2.2- AS ESCOLAS, A EDUCAÇÃO E A ESCOLARIZAÇÃO.

O município de Cândido Godói tem na história da educação e das escolas uma realidade semelhante daquela vivida por meus pais, quando estes frequentavam a escola. A educação era uma das grandes preocupações que os imigrantes trouxeram consigo no início da colonização deste município. Logo que se estabeleceram, as pessoas entendiam que os seus filhos necessitavam ter um ensino. Para isso construíam pequenas escolas para atender a demanda da época. Praticamente todas as comunidades deste município possuíam escolas.

Todas as escolas que surgiram no início da colonização eram ligadas a Igreja. Isso se deve pelo fato de que os professores eram escolhidos pelo padre. Segundo Kreutz (1991, p 36) “o professor era contratado e demitido tão somente pelo vigário.”. Ele também ajudava a decidir as normas da escola e o que ia ser ensinado. Somente anos mais tarde, por volta do

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ano de 1963 quando o distrito de Cândido Godói passou a ser município, é que o poder municipal assumiu a educação. Antes disso era a comunidade que mantinha a escola, ou seja, eram os pais dos alunos que ajudavam a construir, a manter e a pagar os professores. A grande maioria das comunidades deste município possuía uma escola, mas a oferta geralmente, se reduzia a 4ª ou 5ª série. Quem queria continuar os estudos buscava uma escola fora da comunidade. Estas escolas ficavam, na maioria das vezes, distantes. Não havia transporte para os alunos naquela época. Por isso muitos alunos acabavam abandonando os estudos.

A primeira escola foi construída, neste município, no ano de 19246. Inicialmente esta escola começou a funcionar na casa da professora, onde ministrou as primeiras lições para as crianças. Mesmo havendo empenho por arte da professora, a falta de condições e recursos fez com que as aulas durassem apenas cerca de meio ano. Mas logo surgiu na comunidade uma nova esperança. Para Freire (1996, p. 80) “a esperança faz parte da natureza humana.”. Havia um jovem rapaz estudante e a este foi incumbida a função de professor.

Mas havia um problema. Este jovem não sabia em que língua lecionaria, pois mesmo morando no Brasil ninguém sabia falar o português (brasileiro). Todos falavam a língua alemã. Assim ele arrumou uma boa gramática alemã e um bom dicionário e foi se virando como podia. A comunidade uniu esforços e construiu um prédio próprio para a escola. Durante os trinta primeiros anos de funcionamento desta escola, ela teve apenas este único professor. Ele lecionava para cinco séries diferentes ao mesmo tempo. De acordo com Kreutz (1991, p. 143) “a pedagogia da unidocência era uma grande arte e um grande desafio consistindo em não deixar vaga nenhuma turma, mas encaminhando simultaneamente diversas turmas ao seu melhor desenvolvimento.”. Esta escola ainda existe, mas hoje ela é uma escola municipal e atende alunos da Educação Infantil ao 6° ano.

Esta não foi somente a realidade desta escola. A grande maioria das escolas deste município, durante essa época, tiveram situações bem semelhantes, pois nelas predominava o ensino de um professor para várias turmas. Além disso, o professor era a autoridade máxima em sala de aula, e devia ser respeitado, pois se era desobedecido, os alunos sofriam castigos físicos. A escola era construída e mantida pela comunidade. Eram os pais dos alunos que pagavam o professor. Hoje a maioria destas escolas está desativada. Existem apenas sete escolas em todo o município, sendo que duas são estaduais e as outras cinco são municipais. No ano de 1965 foi criado o Ginásio Estadual de Cândido Godói que fica situado na cidade deste município. Este teve o objetivo de dar continuidade à formação escolar que até

6 Os dados que seguem foram retirados do texto “Resgate histórico do município de Cândido Godói” de Aline

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no momento acontecia fora do município. Antes de ele existir, não havia outra escola no município que ofertasse o ensino para além da quinta série. Os alunos que queriam e podiam continuar os estudos, iam para outros municípios. A grande maioria destes ia para os seminários e conventos como os de Santo Cristo e Cerro Largo. Além disso, esta escola veio proporcionar o acesso a um maior número de munícipes a escolaridade.

Os primeiros alunos tiveram que prestar exame para o ingresso no Ginásio. Estes ginásios eram denominados Ginásios Orientados para o Trabalho. Em cada série havia aulas de técnicas agrícolas, industriais e domésticas. Com a reforma do ensino através da Lei n° 5692/71, extinguiu-se gradativamente o Ginásio Estadual e foi implementado o 1° Grau que, nesta escola, iniciava na 5a série, pois as turmas de 1ª a 4ª série não eram ofertadas. Somente no ano de 1975 que esta escola passou a ofertar estas turmas. Mais tarde com a Lei n° 9394/96 o 1° Grau passou a denominar-se Ensino Fundamental.

Em outubro de 1972, ocorreu a unificação do Ginásio Estadual e a Escola Estadual de 2° Grau, surgindo assim a Escola Estadual de 1° e 2° Graus Cristo Redentor. No ano de 1974 esta passou a oferecer o Curso de Habilitação de 2°Grau, Magistério, mas este era uma extensão do Colégio Visconde de Cairu de Santa Rosa. No ano de 1975 passou a se oferecer também turmas de 1° a 4° séries, que hoje faz parte dos Anos Inicias do Ensino Fundamental. No ano de 1976 o Curso Magistério deixou de ser extensão e foram criados os cursos de Técnico em Contabilidade, Assistente de Administração e Magistério nesta escola. Em 1981 foi implantada a pré-escola, hoje com a denominação de Educação Infantil.

Em 1989 foi criado o curso Preparação para o Trabalho (PPT), que mais tarde com a Lei de Diretrizes Bases n° 9394/96 passou a ser denominado de Ensino Médio. No ano de 2004 a escola passou a ofertar turmas de Educação de Jovens e Adultos - EJA, tendo inicialmente 46 alunos matriculados. Mas a EJA funcionou apenas até o ano de 2010. Com a Lei n° 9394/96 foram ampliadas as possibilidades das pessoas continuarem a sua escolaridade. Com esta Lei foi regulamentada a oferta da modalidade de Educação de Jovens e Adultos, possibilitando assim, o acesso à escolaridade a aquelas pessoas que não tiveram o acesso ou a continuidade dos estudos na idade apropriada.

Na atualidade a educação é um tema amplamente discutido. Sabe-se do grande valor que ela representa para a sociedade contemporânea. Mais do que isto, ela é um direito garantido em Lei. Assim necessitamos que esse direito seja cumprido e que toda a pessoa independente de classe social ou de raça tenha acesso a ela. Igualmente, necessitamos além da garantia do acesso a escolarização, que se tenha uma educação de qualidade. É dever do Estado a garantia do direito a educação de qualidade. Ela é estabelecida na Constituição

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Federal Brasileira de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases n° 9394/96 e também é considerado direito social e humano na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

Na Constituição Federal Brasileira de 1988, no Art. 205 verifica-se que a educação é um direito de todos e é dever do Estado e da família. Ainda, ela será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, tendendo em vista o pleno desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício da cidadania e qualificando-a para o trabalho. O Art. 208 da mesma Lei, no inciso I rege que “o dever do Estado com a educação será concretizado mediante a garantia de: ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria”.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9394/96 no Art. 3°, no inciso I, lê-se que o ensino será ministrado com base na “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”. Portanto, a educação esta garantida pela Lei, mas, mesmo assim, não são todas as pessoas que têm o acesso e a sua permanência contemplada. Existem no país, muitas pessoas analfabetas ou com pouca escolaridade, e isso comprova que o Estado não está desempenhando efetivamente o seu papel para com os cidadãos brasileiros.

O Art. 11 da Lei 9394/96, no seu inciso V, regulamenta que cabe aos municípios a oferta da Educação Infantil e com prioridade o Ensino Fundamental. Analisando a Lei Orgânica do Município de Cândido Godói na parte referente a educação, em seu Art. 168 encontra-se que:

a educação, enquanto direito de todos, é um dever do Estado, da sociedade e da família, devendo ser baseada nos princípios da democracia, da liberdade de expressão, da solidariedade e do respeito aos direitos humanos visando constituir-se em instrumento do desenvolvimento da capacidade de elaboração e de repasse de conhecimentos.

Parágrafo único. O município atuará prioritariamente na educação

fundamental e na educação infantil.

Portanto, ao analisar esta Lei verifica-se que a mesma tem como base a Lei nacional. O município atuará com prioridade na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Além disso, ela faz referência à educação como um direito de todos e que necessita esta baseada na democracia, liberdade de expressão, solidariedade e do respeito, para que possa ser um instrumento de desenvolvimento dos conhecimentos.

Os dados do INEP/2012, em relação ao censo escolar de 2012, mostram que no município de Cândido Godói as matrículas estão assim distribuídas:

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TABELA 1- Distribuição das matrículas no município de Cândido Godói no ano de 2012

Município de

Cândido Godói

Os resultados referem-se às matrículas na Creche, Pré-Escola, Ensino Fundamental e Ensino Médio e Ensino na Educação de Jovens e Adultos presencial Fundamental e Médio das redes

estaduais e municipais, urbanas e rurais.

Educação Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio EJA Creche Pré- escola Anos Iniciais Anos

Finais Fundamental Médio

Parcial Integral Parcial Integral Estadual Urbana 0 0 20 0 74 181 252 0 0 Estadual Rural 0 0 0 0 26 21 0 0 0 Municipal Urbana 45 17 48 7 112 12 0 0 0 Municipal Rural 0 0 45 0 115 91 0 0 0 Estadual e Municipal 45 17 113 7 327 305 252 0 0 Fonte: INEP, 2012.

Diante dos dados verifica-se que a maior parte dos alunos está matriculada no Ensino Fundamental. Em relação a Educação Infantil, a grande maioria dos alunos que estão nesta idade frequentam a Creche (0 a 3 anos) em apenas um turno e são poucas as crianças que são atendidas integralmente. Também se percebe que a modalidade de Educação de Jovens e Adultos não aparece mais nas estatísticas. Nos anos anteriores havia a oferta desta modalidade de ensino na rede estadual. Por isso, as pessoas que desejam continuar a sua escolaridade necessitam procurar outros espaços, em outras cidades, que ofertam esta modalidade, o que dificulta o acesso, voltando assim, a uma realidade semelhante àquela vivida por meus pais.

Segundo os dados do IBGE, no último censo de 2010, no município de Candido Godói a porcentagem da população analfabeta com 15 anos ou mais de idade esta em 3,4%. A maior porcentagem de analfabetos está nas pessoas acima de 60 anos, pois a porcentagem das pessoas que não sabem ler e escrever nesta idade chega a 7,6%. Segundo Cavaco (2002, p. 25):

os analfabetos são pessoas que não frequentaram a escola ou que a abandonaram muito cedo, mas isto não reflecte uma opção pessoal; pelo contrário, a situação deve-se a um conjunto de factores relacionados com as dificuldades financeiras da família e com a organização e funcionamento da estrutura escolar.

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Em relação aos anos de escolaridade, segundo dados obtidos no site oficial deste município7, na amostragem por domicílio, mostra que os anos de estudo da pessoa responsável pela residência, em sua grande maioria é de quatro anos de estudo, somando 898 pessoas de um total de 2046 pessoas responsáveis pelo domicilio. Portanto, quase a metade das pessoas responsáveis pelos domicílios neste município não possuem mais que quatro anos de estudo.

Portanto, neste município, ainda existe um número significativo de pessoas que são analfabetas ou que têm pouca escolaridade. Diante dos dados mencionados verifica-se que mesmo havendo pessoas analfabetas e/ou pouco escolarizadas neste município, não há por parte do poder municipal políticas públicas que visam atender essa demanda. Assim, as pessoas são obrigadas a procurar outros espaços, fora da comunidade onde residem, para continuar os estudos. Por isso mesmo, é interessante conhecer também a realidade da região em relação à escolaridade e o analfabetismo das pessoas. Isto é o que mostro a seguir.

7 As informações que seguem foram retiradas do texto disponível em: <www.candidogodoi.rs.gov.br> Acesso

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3-ESCOLARIZAÇÃO NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.

A educação é um direito de todos e está garantido em Lei, aliás, mais que um direito, ela é uma questão de cidadania. Mas, mesmo garantida pela Lei, existem pessoas analfabetas e pouco escolarizadas. Por isso, necessitamos que este direito seja cumprido, e que todas as pessoas tenham acesso a ela. Diante disso, é interessante conhecer a realidade regional em relação a educação. Apresento a seguir o contexto, fatos e dados da região sobre o ensino, as escolas e a oferta da Educação de Jovens e Adultos.

3.1- CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DA REGIÃO

A Região Fronteira Noroeste, conhecida também como Grande Santa Rosa, localiza-se a noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, na fronteira com a Argentina. Atualmente ela é composta por 21 municípios: Campinas das Missões, Porto Lucena, Porto Vera Cruz, Alecrim, Porto Mauá, Novo Machado, Doutor Maurício Cardoso, Horizontina, Nova Candelária, Boa Vista do Buricá, São José do Inhacorá, Alegria, Independência, Giruá, Senador Salgado Filho, Cândido Godói, Santo Cristo, Tuparendi, Tucunduva, Três de Maio e Santa Rosa. E estão assim localizados dentro da região:

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No Brasil, segundo Rockenbach e Flores8 (2004) o processo de imigração tinha objetivo de atender a duas situações: povoar e ocupar as zonas desocupadas e distantes, a outra, estimulada pelo governo, visava a obtenção de braços livres para a substituição do trabalho escravo. Quando os imigrantes chegaram, o Rio Grande do Sul era um Estado desabitado em sua maior parte. Os imigrantes chegaram por causa de uma política do governo que queria fixá-los a terra para garanti-la ao Império, por causa da disputa com os espanhóis e para a produção de gêneros alimentícios, que eram necessários para o consumo interno.

Os imigrantes tiveram um começo difícil na nova terra, pois os lotes reservados a estes ficavam distantes das cidades, as terras, muitas vezes, não eram boas para o cultivo e o isolamento dificultava a adaptação e o progresso. Segundo Rockenbach e Flores (2004, p.14) “difícil era começar onde tudo estava por fazer. Precisavam aprender a derrubar o mato, esperar que secasse, atear fogo, construir a primeira choupana provisória em meio a fuligem da queimada, semear e plantar as primeiras lavouras e esperar pela primeira safra.”.

Os primeiros imigrantes chegaram o Rio Grande do Sul no dia 18 de julho de 1824 e um dia após desembarcaram em São Leopoldo. No Rio Grande do Sul ocorreu a maior colonização oficial do país onde foram formadas pequenas propriedades. São Leopoldo foi a primeira colônia alemã no Brasil, e foi fundada em 1824. Um tempo depois mais famílias chegaram para essa região e iniciou-se o plantio de gêneros alimentícios e criação de alguns animais.

Em alguns anos São Leopoldo já contava com 12 mil pessoas. Foram surgindo nas proximidades de São Leopoldo outros povoados como: São Pedro, Novo Hamburgo, São Lourenço, Nova Petrópolis. Além dos imigrantes alemães vieram para o Rio Grande do Sul, durante o período imigratório, pessoas de outras nacionalidades como os italianos e os poloneses. Inicialmente a colonização se deu ao longo do Rio dos Sinos, Rio Caí e Rio Taquari. Mais tarde expandiu para a Serra e para a região do Rio Uruguai. Esses rios serviam também para a escoação da produção. Com a tradição de famílias numerosas o filho homem quando adulto ia em busca de nova terra para se estabelecer e a colonização se expandia rapidamente. Em poucas décadas havia milhares de pequenos estabelecimentos agrícolas na região da colonização.

Com a mudança da antiga região, a Colônia Velha, para a nova região, os primeiros colonizadores escreveram uma história de coragem e aventura. Levavam, às vezes, semanas até chegar em algum lugar, e enfrentavam todo o tipo de perigos e obstáculos como a quase

8 Ao dados que seguem estão baseados nas leituras do livro “Imigração Alemã: 180 anos – história e cultura” de

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inexistência de estradas, pontes, doenças, intempéries do tempo, falta de recursos. Muitas vezes, a falta de estradas obrigou as pessoas a levarem a própria mudança nas costas ou em cima do lombo de animais, por vários quilômetros, no meio do mato por picadas abertas que eram quase intransitáveis.

Segundo Rockenbach (2004, p. 35):

Após 1918, sucessivas leis enfraqueceram o processo imigratório. A Constituição de 1934 restringiu a quota de imigrantes a 2% sobre o total já imigrado nos 50 anos anteriores. Continuava forte a migração interna. Jovens casais das “colônias velhas” compravam terra no Noroeste do Estado. Santa Rosa é desse período. Situada na zona da mata do rio Uruguai teve problemas iniciais de desmatamento e conquista da terra semelhantes aos das antigas colônias. Só que os colonos já contavam com mais experiência e recursos do que seus ancestrais. Produziram e colocaram os excedentes agrícolas em colônias mais antigas como: Santo Ângelo, Cerro Largo ou Ijuí. Por escassez de dinheiro funcionava a permuta. Os colonos emprestavam para o vizinho ou compravam fiado do comerciante, com pagamento na próxima safra. A rede ferroviária favoreceu o comércio. Santa Rosa progrediu e originou 11 municípios: Independência, Três de Maio, Horizontina, Tucunduva, Tuparendi, Alecrim, Santo Cristo, Boa Vista do Buricá, Porto Lucena, Campinas das Missões e Cândido Godói.

Assim pode-se ver que em busca de novas terras, descendentes dos antigos colonos deixaram suas famílias e partiram em direção às florestas ainda não desbravadas no noroeste da província. Foram estes que junto a outros imigrantes recém-chegados da Europa, povoaram as novas colônias do Estado. Esta região foi a última área do Estado a ser incorporada ao processo de colonização por imigrantes. As florestas do Rio Uruguai eram apreciadas pela riquíssima fertilidade do solo, o que atraiu intensamente a colonização. As atividades comerciais realizadas restringiam-se a absorver os excedentes de produção e fornecer o que a propriedade não dispunha, como sal, tecidos e ferramentas. Hoje a região esta em desenvolvimento e sua principal economia vêm da agricultura de pequenas propriedades, das indústrias, das agroindústrias, do comércio e de empresas prestadoras de serviços.

Olhando para a nossa região hoje, vejo que existem mais oportunidades de acesso à escolarização, diferente da realidade vivida por meus pais e tios. Mas, mesmo assim, ainda existem pessoas analfabetas ou com pouca escolaridade, sendo que a maior porcentagem está entre as pessoas adultas. É isso que apresento a seguir.

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3.2- ESCOLAS, ESCOLARIZAÇÃO E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA REGIÃO.

As escolas e a educação na região tiveram o seu início parecido com a realidade vivida no município de Cândido Godói e por meus pais. O começo foi difícil, não havia muitos recursos, as escolas eram construídas e mantidas pelas comunidades, não havia transporte para os alunos e a grande maioria das escolas oferecia o ensino até a 4ª ou 5ª série. Por isso, muitas pessoas desistiam da escola, pois não havia outras que oferecessem ensino para além da quinta série e se existiam estas ficavam distantes. Com o passar dos anos em alguns municípios foram surgindo escolas que ofereciam ensino para além da quinta série, permitindo assim, a quem pudesse e tivesse condições, a continuidade da escolarização. Nas últimas décadas os municípios e o Estado passaram a assumir a maioria das escolas. Também foram criadas outras, ampliando assim as possibilidades das pessoas estarem estudando.

A educação, além de ser um direito garantido em Lei é uma questão de cidadania, ou seja, é pela educação que os sujeitos se tornam cidadãos conhecedores de seus direitos e deveres. Mas mesmo tendo o direito garantido em Lei, existem hoje no Brasil muitas pessoas analfabetas e pouco escolarizadas. Segundo os dados do IBGE no último Censo Demográfico de 2010 no Brasil a porcentagem de analfabetos é de 9,6% e a maior taxa de analfabetismo esta nas pessoas acima de 60 anos que chega a 26,5%, ou seja, a população de 15 anos ou mais de idade analfabeta corresponde a 13 933 173 pessoas que não sabem ler ou escrever, sendo que 39,2% deste contingente era formado por pessoas de 60 anos ou mais de idade. O gráfico a seguir mostra os dados.

GRÁFICO 2- Taxa de analfabetismo da população

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2010.

2,5 8,5 26,5 9,6 1 3,2 13,5 4,5 0 5 10 15 20 25 30

15 a 24 anos 25 a 59 anos 60 anos ou mais Total

Taxa de analfabetismo da população brasileira de 15 anos ou mais de idade, por grupos de idade (%) segundo o censo de 2010.

Taxa de analfabetismo da populaçãodo Estado do Rio Grande do Sul de 15 anos ou mais de idade, por grupos de idade (%) segundo o censo de 2010.

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Assim percebe-se que a taxa de analfabetismo no Brasil está em sua maior parte nas pessoas adultas acima de 60 anos ou mais. No Rio Grande do Sul a média total de analfabetos está abaixo da média nacional, ou seja, a porcentagem de analfabetos neste Estado é de 4,5%. Verifica-se que neste Estado a maior porcentagem de analfabetos está também nas pessoas acima de 60 anos ou mais, chegando a 13,5%. O analfabetismo pode ser considerado uma forma de exclusão social das mais severas. Sua erradicação continua a ser um dos grandes desafios a serem vencidos pelos países em desenvolvimento. Segundo o IBGE (2010, p.60):

a alfabetização é um fator-chave para a plena realização do ser humano, somente sendo alcançada através da promoção da educação. A alfabetização é uma ferramenta muito eficaz para combater a pobreza e a desigualdade, melhorar a saúde e o bem-estar social, e estabelecer as bases para um crescimento econômico sustentado e para uma democracia duradoura.

Em relação à escolaridade, segundo os dados do IBGE, na Pesquisa Nacional de por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2009, a média nacional de anos de estudo da população brasileira acima de 10 anos é de 7,2 anos. As pessoas que possuem menos anos de escolaridade estão entre as pessoas acima de 60 anos ou mais, sendo que a média de anos de estudo para essa idade é de 4,2 anos. Na região sul a média de anos de estudo para as pessoas acima de 10 anos é de 7,6 anos. E nesta região também a população acima de 60 anos ou mais é a que tem menos escolaridade, apresentando em média 4,6 anos de estudo. A maior média de anos de estudo foi a do grupo etário de 20 a 24 anos (9,6 anos), ficando em 10 anos de estudo na parcela feminina e, em 9,3 anos, na masculina. A seguir a tabela mostra a porcentagem de pessoas de 10 anos ou mais de idade por grupos de anos de estudo.

TABELA 2- Porcentagem dos anos de estudo da população

Porcentagem das pessoas acima de 10 anos no Brasil e na Região Sul do país em relação aos anos de estudo.

BRASIL REGIÃO SUL DO PAÍS

Sem instrução e menos de 1 ano 9,7 6,1

1 a 3 anos 12,6 10,5

4 a 7 anos 28,1 30,9

8 a 10 anos 16,5 18,1

11 anos ou mais 33,0 34,2

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Diante destes dados verifica-se que a porcentagem das pessoas acima de 10 anos que são analfabetas ou que tem menos de um ano de estudo no Brasil chega a 9,7%. A região sul do país apresenta uma percentagem menor de 6,1% de analfabetos e de pessoas que tem menos que um ano de instrução. Além disso, percebe-se que no Brasil, assim como na região sul, a grande maioria das pessoas apresenta de 1 a 10 anos de escolaridade.

Quanto aos aspectos legais, a Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional nº 9.394/96, Art. 4º, nos incisos I e VII, determina que o dever do Estado seja efetivado mediante a garantia do:

I-ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;

VII- oferta da educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola:

Portanto, é um dever que o Estado tem para com todas as pessoas, inclusive para com os jovens e adultos trabalhadores brasileiros matriculados na educação básica e, não apenas aqueles alunos matriculados em cursos específicos da Educação de Jovens e Adultos. É uma modalidade de ensino nas etapas do Ensino Fundamental e Médio da rede escolar pública brasileira, também adotada por algumas redes privadas que recebem os jovens e adultos que não completaram o Ensino Fundamental ou o Ensino Médio em idade apropriada por qualquer motivo. O segmento é regulamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional desde 1996.

No Art.37, da mesma Lei, verifica-se que “a educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade apropriada”. E no paragrafo 1º do mesmo artigo, os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.

Segundo as pesquisas de Casaes e Luft9 (2011) na Região Noroeste do Estado até o ano de 2009 havia doze estabelecimentos de ensino que ofertavam a modalidade de Educação de Jovens e Adultos em nível de Ensino Fundamental e Médio. Destes, onze pertenciam a

9

Os dados que seguem estão baseados nos dados retirados do texto: “A Educação de Jovens e Adultos na Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul: um mapeamento das ofertas de Escolarização de Jovens e Adultos” de Juliana Borba de Casaes e Hedi Maria Luft, 2011.

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rede estadual e um apenas a rede privada de ensino. As matrículas em 2009 estavam assim distribuídas:

TABELA 3- Escolas da região que ofertam a Educação de Jovens e Adultos

Município Escolas Número de Matriculas

Cândido Godói - Instituto Estadual de Educação Cristo Redentor 21 matrículas

Horizontina Escola Estadual de Ensino Fundamental Farroupilha

79 matrículas

Escola Estadual de Educação Básica Albino Fantin

72 matrículas

Santa Rosa Escola Estadual de Ensino Médio Edmundo Pilz

99 matrículas

Escola Estadual de Ensino Fundamental Fernando Albino da Rosa

127 matrículas

Escola Estadual de Educação Básica Cruzeiro 25 matrículas

NEEJA e Cultura Popular Paulo Freire Presídio 119 matrículas

NEEJA e Cultura Popular Paulo Freire de Santa Rosa

1738 matrículas

Santo Cristo NEEJA e Cultura Popular Paulo Freire de Santo Cristo

311 matrículas

Três de Maio - Escola Estadual de Ensino Fundamental São Francisco

136 matrículas

-NEEJACP Paulo Freire 266 matrículas

-Instituto Dinâmico 579 matrículas

Percebe-se, a partir destes dados, que a oferta da Educação de Jovens e Adultos ainda é limitada, pois de vinte e um municípios que compõem a Região do Grande Santa Rosa apenas cinco a ofertam. Os números também mostram que o atendimento da Educação de Jovens e Adultos atinge apenas uma pequena parcela da população. Verifica-se, assim, que

Referências

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