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Impactos socioambientais do Complexo Hidrelétrico Garabi-Panambi no Município de Porto Mauá/RS

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUI

LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

Impactos socioambientais do Complexo Hidrelétrico Garabi-Panambi no Município de Porto Mauá/RS.

Trabalho apresentado ao curso de Geografia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUI, como requisito parcial para a obtenção do título de licenciado em Geografia.

Mariane Scheibner Zimmermann Mário Amarildo Attuati (Orientador)

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Impactos socioambientais do Complexo Hidrelétrico Garabi-Panambi no município de Porto Mauá/RS.

Mariane Scheibner Zimmermann1

Mário Amarildo Attuati2 Resumo

O presente artigo tem como principal objetivo investigar os prováveis impactos socioambientais decorrentes da instalação da UHE Garabi-Panambi no Rio Uruguai, no município de Porto Mauá/RS, identificando os elementos naturais e antrópicos sujeitos aos efeitos da instalação da usina e como a comunidade está reagindo diante deste empreendimento. A partir de então analisar a importância das práticas de recuperação na redução dos impactos socioambientais. A metodologia utilizada para o estudo foi revisão bibliográfica, a pesquisa de campo com fotos, bem como depoimentos de alguns moradores e representante do Movimento dos Atingidos por Barragens-MAB.

O espaço físico socialmente construído, por sua vez, sofrerá descaracterização, pois a barragem deformará o rio e a paisagem local modificando as relações estabelecidas no cotidiano de muitos anos. As paisagens familiares deixarão de existir. Para muitos moradores do município, principalmente aqueles que formaram suas propriedades, significará perdas que não serão repostas. Pelo menos 70% da atual cidade de Porto Mauá desaparecerá com a construção da usina hidrelétrica. A formação dos lagos implica, antes do alagamento, no desmatamento de enormes áreas pertencentes ao Bioma Mata Atlântica ao qual o município está inserido com uma incalculável perda da biodiversidade.

Palavras-chave: impactos socioambientais; UHE Garabi-Panambi; hidrelétricas.

1 Acadêmica do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Regional do Noroeste do Rio

Grande do Sul- UNIJUI.

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Introdução

O objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico. Esse espaço é modificado constantemente pelos fenômenos naturais e principalmente pela ação antrópica. A construção de grandes barragens para geração de energia elétrica é uma das manifestações desse processo visto que provoca alterações significativas da paisagem bem como do modo de vida das populações locais3.

Segundo FILHO (2013) o consumo residencial, no Brasil, evoluiu, em média, 6,3%, enquanto o industrial, 4,0%, evidenciando um maior uso social da energia. Vivemos na era do consumismo acelerado o que propicia esse aumento do consumo de energia elétrica. Cada vez mais surgem no mercado produtos elétricos. O que fazer para atender toda essa demanda? Construir e construir usinas hidrelétricas. Elas não poluem o ar, mas causam enormes impactos socioambientais, em virtude da quantidade de água represada que alaga e faz com que desapareça grande parte da biodiversidade local, alteram a paisagem, deslocam famílias e influenciam no modo de vida local da população atingida.

Nesse sentido, nas últimas décadas é crescente a preocupação com as relações homem natureza e os impactos ambientais decorrentes. Isso decorre principalmente da pressão dos movimentos ecológicos, do crescente amadurecimento da sociedade e do fortalecimento dos mecanismos de controle legais por parte do Estado, no sentido da busca permanente da sustentabilidade socioambiental.

1- A importância da eletricidade e os impactos socioambientais que geram as grandes barragens

A energia elétrica está tão presente em nosso dia a dia que às vezes só nos damos conta da sua importância quando ficamos sem ela. A energia elétrica é uma das formas de energia mais utilizadas no mundo moderno. Ela é gerada, principalmente, nas usinas hidrelétricas, usando o potencial energético da água,

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porém ela pode ser produzida também em usinas eólicas, termoelétricas, solares, nucleares entre outras.

Equipamentos eletroeletrônicos, como computador, televisão, aparelhos de som, condicionadores de ar, aquecedores e diversos outros equipamentos só existem graças à energia elétrica. Diversos locais como residências, shoppings, fábricas, supermercados e outros tantos lugares só podem funcionar devido a energia elétrica que os abastece. Não teremos desenvolvimento nas sociedades atuais sem a energia elétrica.

A construção de hidrelétricas e consequentemente suas barragens e lagos causam diversos impactos sociais e ambientais negativos. As populações são atingidas direta e concretamente através do alagamento de suas propriedades, casas, áreas produtivas e até cidades inteiras precisam ser realocadas. Existem também os impactos indiretos como perdas de laços comunitários, separação de comunidades e famílias, destruição de igrejas, capelas e inundação de locais sagrados para comunidades indígenas e tradicionais.

2- Impactos socioambientais do Complexo Hidrelétrico Garabi-Panambi no município de Porto Mauá/RS

Não cabe aqui fazer uma análise aprofundada de todos os impactos produzidos pela UHE Garabi-Panambi mesmo porque seria impossível prever todos eles. Apresentamos alguns poucos exemplos de impactos causados pelas hidrelétricas baseado no que já foi verificado e comprovado por estudo e pesquisas realizados em outros empreendimentos. Existem muitos outros não citados aqui como a da fauna e da flora, a perda da população de peixes e de outros seres aquáticos, as consequências hídricas que envolvem toda a Bacia, problemas com o afogamento da vegetação, alteração da paisagem, expansão geográfica de doenças tropicais de veiculação hídrica, etc.

As barragens também influenciam o nível do rio, tanto acima (montante), quanto abaixo (jusante), porque para que haja um abastecimento constante de água nas turbinas, é feito o controle da água no reservatório e na água que é liberada rio abaixo. Em épocas de estiagem o rio logo abaixo da barragem fica praticamente

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seco, por que muitas vezes os operadores da barragem não cumprem a norma legal de deixar no rio a sua vazão mínima. Isso afeta não só a biodiversidade, mas também o abastecimento de água da população e de outras atividades econômicas. 2.1. Caracterizações da área de estudo

Porto Mauá é um município brasileiro do Estado do Rio Grande do Sul. Sua população estimada é de 2542 habitantes de acordo com o Censo IBGE/2010. A densidade demográfica, de acordo com o último censo realizado pelo IBGE é de 24,08 e o Produto Interno Bruto (PIB) em serviços é de R$ 18.760, o da agricultura de R$ 14.100 e da indústria de R$ 2.245. Sua sede localiza-se a uma altitude de 142 metros a uma latitude: 27° 34' 12'' Sul e longitude: 54° 39' 55'' Oeste4. Situa-se na

Mesorregião Noroeste Rio-grandense e Microrregião Santa Rosa. Os municípios limítrofes são Tuparendi, Novo Machado, Alecrim e Alba Posse na Argentina. Sua área é de 105,56 Km². Porto Mauá está a uma distância de 540 km da capital do Estado, Porto Alegre. Dentro da economia do município, destacam-se os setores mais importantes como os serviços, agropecuária e indústria5.

O município de Porto Mauá está inserido na Região Hidrográfica Uruguai. No contexto Estadual, pertence à Região Hidrográfica do Uruguai, inserido na Bacia Hidrográfica dos Rios Turvo - Santa Rosa – Santo Cristo. A Vegetação: Cobertura florestal (nativa e exótica) do município corresponde a 2.564,72ha (26,45%) e está representada pelo Bioma Mata Atlântica. Quanto ao clima o município se enquadra no Subtropical Úmido. Os solos do município são, na sua maioria, classificados em dois tipos: os latossolos e os neossolos6.

A localização com precisão das barragens será conhecida após estudos geológicos específicos nos sítios, que serão realizados nos estudos de viabilidade e projeto básico. Nos estudos de inventário, foi definido que a barragem de Garabi (coordenadas 28º12'50"S e 55º41'17"O) se localizará cerca de 6 km rio abaixo da cidades de Garruchos no Brasil e Garruchos, na Argentina. E a barragem de

4 www.cidade-brasil.com.br/municipio-porto-maua.html 5 www.portomaua.rs.gov.br

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Panambi (coordenadas 27º39'07"S e 54º54'20"O) se localizará a cerca de 9 km rio acima da cidade Porto Vera Cruz, no Brasil, e Panambi, na Argentina7.

Figura 1: Localização da barragem de Garabi-Panambi e sua área de inundação. Fonte: http://www.sindenergia.com.br/mostra.php?noticia=16

7 www.eletrobras.com

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Figura 2: Imagem de um dos pontos mais altos de Porto Mauá, que, a princípio, não será inundado.

Fonte: Autor

A imagem acima me chamou a atenção pela beleza da paisagem no Município de Porto Mauá, a imponência do Rio Uruguai e o verde das florestas e matas ciliares.

2.2. Histórico do Empreendimento

Na Unidade Executiva Garabi-Panambi (UnE Garabi-Panambi) os Estudos de Inventário Hidrelétrico foram concluídos. A etapa atual iniciou em maio de 2013 que é a dos Estudos de Viabilidade Técnica8 e os projetos básicos das duas

8 Entende-se por análise de viabilidade o estudo que procura prever/anteceder o eventual êxito ou

fracasso de um projeto. Nesse sentido, tem por base dados empíricos (que possam ser contrastados) aos quais tem acesso através de diversos tipos de investigações (inquéritos, estatísticas, etc.). Fonte: http://conceito.de/viabilidade

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barragens, englobando os Estudos de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), os Cadastros Socioeconômico e Imobiliário e o Plano Básico Ambiental detalhado, com o objetivo de promover a participação ativa da população envolvida. Também está sendo desenvolvido um Plano de Comunicação Social (PCS). Os EIAs dos dois projetos serão apresentados aos órgãos ambientais de ambos os países (Brasil e Argentina) para análise e obtenção das licenças e autorizações ambientais cabíveis. Ainda não foram concluídos os EIA/RIMA, portanto, não foi solicitada a LP- Licença Prévia junto ao IBAMA. Os estudos socioambientais são iniciados pelo diagnóstico do sistema ambiental, o que inclui os subsistemas físico, biótico e social. A partir deste diagnóstico será realizada a avaliação do impacto ambiental, o prognóstico ambiental e, posteriormente, a identificação das medidas de controle e os programas socioambientais para evitar, mitigar ou compensar os impactos negativos da implantação dos empreendimentos, assim como as medidas que sejam capazes de potencializar os impactos positivos dos mesmos, organizados no Plano Básico Ambiental (PBA) 9.

2.3. Impactos ambientais sobre o meio físico natural

No conceito popular, geralmente, impacto ambiental se restringe a apenas no que se refere a plantas e animais. A construção de uma hidrelétrica afeta a flora e a fauna e inclusive o ecossistema que está em torno destes. Os animais e as plantas precisam de um ambiente que esteja propício para que haja uma interação entre eles e o meio físico. Por exemplo, os animais terrestres ou aquáticos dependem de um substrato e das condições climáticas para sobreviverem. As análises de impactos devem considerar todos esses fatores originalmente na área do empreendimento proposto.

Podemos separar os fatores naturais em dois grandes grupos:

- fatores abióticos (sem vida), que incluem as águas, os solos e o clima; - fatores bióticos (vivos), que são a flora a fauna encontrados nos ambientes aquáticos e terrestres.

9 http://www.eletrobras.com

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As alterações biofísicas começam, efetivamente, com os desvios dos rios, necessários para as construções principais. Esses desvios, frequentemente, têm estruturas onde a maior velocidade das águas impede, desde então, a livre migração dos peixes. Os primeiros impactos ambientais acontecem já na chegada da empresa construtora. A montagem do canteiro de obras transforma a economia local, com uso intensivo de materiais e energia, que provoca carestia nos preços dos materiais de construção e outros, prejudicando os moradores locais.

Antes do funcionamento de uma usina é necessário desviar o curso do rio para formar um grande reservatório. A formação da represa afeta fortemente a fauna e flora locais, pois, de uma hora para outra, a floresta formada durante centenas de anos vira lago. Muitas espécies acabam submersas e, consequentemente, morrem, criando uma espécie de limbo, que compromete o funcionamento das turbinas. Nesse caso, para que isso não ocorra é imprescindível a total retirada da matéria orgânica antes da formação do reservatório.

Atualmente, não é possível definir os impactos ambientais que realmente acontecerão decorrentes desse complexo hidrelétrico no município de Porto Mauá. Estes são prováveis, baseado em sites da Eletrobras e estudos feitos por universidades preocupados em investigar tais impactos. Baseia-se também no que aconteceu em outras barragens existentes no Rio Uruguai.

A etapa mais crítica, que causa impacto mais evidente sem dúvida é o período do enchimento da bacia hidráulica do reservatório, quando ocorre a inundação dos sistemas bióticos, abióticos e sociais daquela área.

2.3.1 Perda da Biodiversidade

Muitas vezes as hidrelétricas são construídas exatamente nos últimos redutos onde existem remanescentes florestais importantes para a conservação da biodiversidade, especialmente na região da Mata Atlântica, devido às condições de relevo. A formação dos lagos implica, antes do alagamento, no desmatamento dessas áreas. Áreas onde normalmente se encontram terras muito férteis e verdadeiros refúgios da fauna silvestre, exatamente por se tratarem, em sua grande maioria de matas ciliares (aquelas que se encontram nas margens dos rios).

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Além da perda da fauna e flora, as barragens e seus lagos, também destroem paisagens cênicas de rara beleza. Como exemplos temos Itaipu que inundou as cachoeiras de Sete Quedas, Itá que inundou o Estreito do Rio Uruguai, Barra Grande que inundou o Canion dos Encanados e assim por diante. Praticamente todas as hidrelétricas acabam inundando paisagens belíssimas, com alto potencial para o desenvolvimento de outras atividades econômicas e que são perdidas para sempre.

No caso da Usina Panambi pelo menos 10% (1.750 ha) do Parque Estadual do Turvo ficaria alagado, representando mais de dois milhões de árvores, quantidade maior do que toda a arborização de Porto Alegre. Isso resultaria numa significante perda de habitat na unidade de conservação florestal mais antiga e importante do Rio Grande do Sul, único local do Estado que ainda abriga espécies ameaçadas como a onça, a anta, o tapiti, os araçaris, a jararacuçu, entre outros. Além disso, o aumento na largura e profundidade do rio, gerado pelo lago da barragem, poderia dificultar o fluxo gênico entre o RS e a Argentina, onde existe o maior Corredor da Mata Atlântica de Interior (Misiones – Alto Uruguai) que liga o Parque Estadual do Turvo ao Parque Nacional de Iguaçu. Sabe-se que hoje muitos animais cruzam o Rio Uruguai, principalmente nas épocas em que os níveis estão mais baixos, e que o Corredor de Misiones é uma importante área fonte de biodiversidade para o parque. Portanto, caso houver um impedimento de passagem devido ao grande lago formado, poderá ocorrer um processo chamado de depressão endogâmica (acasalamento entre indivíduos cada vez mais aparentados), acarretando a extinção local de espécies, já que, por terra, o parque está isolado devido à existência de monoculturas de soja10.

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Figura 3: Localização e imagem de satélite do Parque Estadual do Turvo, Derrubadas, RS Fonte: http://riouruguaivivo.wordpress.com/complexo-garabi-panambi/

2.3.2 Risco de inundação de Paisagem Cênica

As autoridades e representantes da Eletrobras afirmam que o Salto do Yucumã, uma das Sete Maravilhas do RS, maior salto longitudinal do mundo, não seria alagado pela hidrelétrica. Levando em consideração que a cota máxima do lago da barragem estaria num nível de apenas 4 metros abaixo do Salto, o risco que se corre é muito alto.

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Figura 4: Salto do Yucumã

Fonte: http://riouruguaivivo.wordpress.com/complexo-garabi-panambi/

Com base nos próprios estudos de topografia em pesquisa de campo e conversa com uma das representantes do MAB- Movimento dos Atingidos por Barragens em Porto Mauá, afirma que essa informação que está em sites da Eletrobras não confere, pois na penúltima enchente/cheia no Município o Rio Uruguai subiu 19,75 metros e o Salto do Yucumã estava submerso, portanto, com a barragem a estimativa é que no município o Rio esteja de 27 a 30 metros acima do nível o que inundaria todo o Salto do Yucumã. Sendo assim, é bem provável que o Salto do Yucumã seja submerso com a formação do reservatório.

3.3.2 Águas subterrâneas

A elevação do nível das águas, na formação dos reservatórios, promove uma pressão sobre as nascentes artesianas situadas nas margens e no fundo dos rios represados. Segundo MÜLLER (1995) esse processo produz graus de alteração em todo o processo natural de alimentação e descarga dos aquíferos, inclusive os profundos.

A elevação dos níveis freáticos poderá promover novas nascentes e fazer reaparecer antigos lagos e pântanos próximos ao reservatório. Foi o que aconteceu em Itaipu, quando comprovado mediante estudos que o aparecimento de uma nova

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lagoa, em um antigo baixio, refluiu do reservatório sobre as camadas freáticas locais. As influências freáticas podem prejudicar as potencialidades dos solos para diversos cultivos e inviabilizar poços, fossas e até cemitérios.

Segundo SCHEIBE (2004), a preocupação dos pesquisadores tem sido o enchimento dos lagos das barragens, que faz com que a água do reservatório aumente e, conseqüentemente, aumente a água do subsolo. A elevação do nível freático pode fazer chegar à fossa nas áreas urbanas, de maneira que a vulnerabilidade dos aqüíferos fica ainda maior e também o fato de ocorrer as inundações à jusante dos reservatórios em épocas de cheia por abrirem as comportas, causando enormes impactos nas comunidades atingidas.

Figura 5: Reserva Estratégica do Aquífero Guarani

Fonte: http://www.agsolve.com.br/noticias/aquifero-guarani-o-gigante-subterraneo

3.3.3 Eutrofização

Eutrofização acelera o aumento de matéria orgânica nos sistemas, produz concentrações indesejáveis de fitoplâncton (com predominância de Cianofíceas), e macrófitas aquáticas (geralmente Eichornia crassipes e Pistia stratioides). Isso causa o aumento da decomposição em geral do sistema e emanação de odores indesejáveis. Causa também o aumento dos custos para o tratamento de água;

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diminuição da capacidade de fornecer usos múltiplos pelo sistema aquático; mortalidade ocasional em massa de peixes, redução do valor econômico de residências, e propriedades próximas a lagos, rios ou represas eutrofizados; alteração nas cadeias alimentares; aumento da biomassa de algumas espécies de fitoplâncton, macrófitas, zooplâncton e peixes; em muitas regiões o processo de eutrofização vem acompanhado do aumento em geral, das doenças de veiculação hídrica nos habitantes próximos dos lagos, rios ou represas eutrofizadas. As barragens bloqueiam a migração de peixes, esgotam o oxigênio dos rios e interferem com os gatilhos biológicos que guiam os peixes.

No rio Uruguai para citar um exemplo, o peixe dourado (peixe que identifica o nosso rio) para se reproduzir e conseqüentemente sobreviver, necessita cerca de 400 km de água corrente, portanto, sua extinção seria inevitável.

A matéria orgânica que se decompõe no lago/reservatório ou a que é incinerada antes do seu lançamento, é um dos mais sérios problemas ambientais, principalmente quando da construção de hidrelétricas na Amazônia. A fertilização provocada por esses materiais será decorrente da liberação de 200 g de fósforo para cada 1.000 kg de vegetação, tomando-se o fósforo como principal parâmetro da eutrofização. Estima-se que essa quantidade de P sejam suficientes para a produção de 2 t de plâncton, como resultado da eutrofização.

Na UHE em Foz do Chapecó, a água represada estava com sérios problemas de eutrofização, o que causava forte odor. Segundo uma moradora e agicultora a água não podia ser usada nem para tratamento que, diz ela tinha “um fedor de podre”11.

Em relação a qualidade da água proveniente da barragem do Rio Uruguai UHE Águas de Chapecó , o bioquímico do ETA ( Estação de Tratamento de Água) de Itapiranga, diz que em períodos de seca eles seguram muito a água e então acontece a diminuição da concentração de oxigênio o que aumenta a proliferação de algas. As algas atrapalham muito na Unidade de Tratamento da Água e o

11 Extraído do documentário Barragens no Rio Uruguai, disponível em

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Engenheiro da UHE diz que é muito difícil tratar a água do reservatório. Itapiranga está a 70 km da UHE Foz de Chapecó.

3.3.4 Mudança no Clima

A implantação de hidrelétricas interfere de forma irreversível no micro clima local, provocando alterações na temperatura, na umidade relativa do ar, na evaporação e afeta o ciclo pluvial. Um muro de contenção segura água outrora corrente e sua regulação passa a ser feita pelo ser humano. O ecossistema in natura com toda sua rica biodiversidade jamais será recomposto. As médias das temperaturas mais altas tendem a ter pequenas baixas enquanto as médias das temperaturas mais baixas tendem a ter ligeiras altas. A quantificação desses impactos ainda é incipiente dada a complexidade que envolve os estudos de mudanças climáticas e de ecossistemas. Em particular nas regiões tropicais, a matéria orgânica em decomposição em seus reservatórios emite metano, um gás de efeito estufa agressivo. Os cientistas estimam que os reservatórios sejam responsáveis por 4% de toda a alteração do clima produzida pelo homem, o que equivale ao impacto da aviação sobre o clima. As inundações e as secas causadas por mudanças climáticas, por sua vez, tornam as barragens menos seguras e econômicas. Bermann afirma que, é equivocada a ideia de que a eletricidade produzida através da água é limpa. Há evidências cada vez mais fortes no sentido de demonstrar que várias usinas hidrelétricas já construídas, principalmente em

ecossistemas de Floresta Tropical são grandes emissoras de gases efeito estufa. Os reservatórios de barragens são uma fonte significativa de poluição global por

gases de efeito estufa, incluindo o metano, gás extremamente sujo. O impacto dos reservatórios sobre o aquecimento global pode ser bem maior do que até mesmo a mais suja usina elétrica alimentada por combustíveis fósseis12.

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3.3.5 Sedimentos

O transporte de sedimentos em uma bacia hidrográfica varia muito desde as partes mais altas até as planícies, variação esta que depende da litologia, do tipo de solo, da cobertura vegetal, da velocidade da água, do regime de chuvas.

Os sedimentos são materiais sólidos e semi-flúidos depositados no leito dos lagos e reservatórios graças ao carreamento pelas enxurradas (de areia, silte e argila) da bacia de contribuição; pela deposição de matéria orgânica em decomposição (originada na bacia ou na própria água); ou por outro meio.

Segundo CARVALHO (2000), em relação ao aspecto sedimentológico, as barragens geram uma redução das velocidades da corrente provocando a deposição gradual dos sedimentos carreados pelo curso d´água, ocasionando o assoreamento, diminuindo gradativamente a capacidade de armazenamento do reservatório e podendo vir a inviabilizar a operação do aproveitamento, além de ocasionar problemas ambientais de diversas naturezas.

De acordo com MÜLLER (1995) os sedimentos nos reservatórios ainda podem causar o afogamento de locais de desova, alimentação e abrigo dos peixes. Ele ainda comenta sobre as notícias alarmantes sobre a curta vida útil dos reservatórios de grande porte localizados em bacias de elevada taxa de erosão.

A turbidez da água é uma consequência direta do arraste e deposição dos sedimentos no leito dos lagos e reservatórios e apresenta danos ecológicos (alguns temporários), tais como o impedimento à penetração da luz solar e, portanto, dificultando a fotossíntese.

3.3.6 Sismologia

Os eventos sísmicos ocorrem continuamente no processo de equilíbrio tectônico do planeta. A sismicidade em reservatórios hidrelétricos tem recebido atenção especial. De acordo com Müller (1995);

Os sismos que esses projetos podem induzir não são atribuídos tanto ao peso da água ou da estrutura da barragem sobre um ponto da crosta terrestre, mas como resultado do aumento das pressões hidrostáticas produzido pela ação da água infiltrada (poro-pressão), que pode diminuir a resistência das rochas, reativar falhas

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geológicas, quebrar camadas rochosas e alterar a estabiblidade do substrato. (p. 165)

Portanto, sismicidade desencadeada por reservatório é um fenômeno decorrido pela migração de massa de água para um local onde não existia tal carga. A água vai percolando os interiores das rochas-base e cria assim um mecanismo de lubrificação ou pressão de poro.

3.4 Impactos sociais

É inegável que impactos sociais aconteçam já desde o início, na etapa do inventário hidrelétrico. Evidente que alguns impactos sociais sentidos pela população atingida pelas águas não estarão mencionados ou relatados nos EIA/RIMA. A população que vive á jusante do rio pode ser que nem seja mencionada.

Antes, durante e após a obra acontece o impacto social na população atingida pela barragem. Quando não houve, ainda, os trabalhos efetivos no sítio da obra, mas onde a circulação de técnicos e depois a presença de topógrafos e hidrólogos, geram curiosidades e expectativas entre os populares. Isso se vê tanto na população que será atingida efetivamente, como naquelas que, por falta de informações precisas, comuns nessa fase preliminar, imaginam que serão atingidas de alguma forma pelo empreendimento.

O problema passa a se agravar quando as comunicações são desencontradas, gerando comoções populares e necessidade de desgastantes trabalhos de redirecionamento da opinião pública sobre o projeto pretendido.

Segundo MÜLLER (1995), o ápice do impacto social é observado quando durante a construção do empreendimento, acontece a desapropriação das comunidades em torno da obra, ou seja, as que ficarão com suas propriedades alagadas ou que ficarão as margens do lago, o que envolve ações de relocação dessas populações e restauração da infraestrutura regional.

Usinas hidrelétricas acarretam aumento da densidade populacional. Uma grande quantidade de trabalhadores chega ao local para participar da sua

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construção e, depois, para mantê-la em funcionamento. Há necessidade de se criar toda uma infraestrutura incremental para fornecer à nova população residências, escolas, hospitais, telecomunicação, luz elétrica e áreas de lazer. Esses eventos provocam um efeito multiplicador de crescimento da economia local. A princípio o canteiro de obras não será em Porto Mauá, este ficará à montante das usinas.

Quando houve a pesquisa de campo na cidade de Porto Mauá percebeu-se algo que, com certeza, não é relevante para as empresas responsáveis pelas pesquisas e construção e nos EIA/RIMA provavelmente não estará impresso: a incerteza da população. Ninguém sabe ao certo se de fato a barragem vai ser construída, nem quando, nem quantas casas e propriedades serão inundadas, quem deverá receber compensação e qual será o valor da compensação. Este clima de incerteza pode gerar situações dramáticas e até suicídios.

Segundo BRACK (2010),

até agora mais de 30 mil pessoas foram afetadas pelas barragens já construídas na bacia do Rio Uruguai e outro número igual ou maior pode sofrer estes danos. Brack afirma em entrevista para a revista IHU on-line número 341Unisinos que as pessoas que perdem suas terras, o seu chão, podem ter transtornos e entrar numa espiral depressiva para o resto da vida.

Ainda, na referida revista, BRACK revela que:

dezenas de milhares de famílias foram e continuam sendo desalojadas no estado e, inclusive, daí surgiu em parte o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), a partir da última década de 1970. No Brasil, segundo o relatório da Comissão Mundial de Barragens , que admite entre 40 a 80 milhões de pessoas diretamente afetadas, e pelas estimativas do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB já teríamos, até hoje, mais de um milhão de pessoas expulsas de suas terras. Os planos decenais da Empresa de Pesquisas Energéticas – EPE do Ministério de Minas e Energia prevêem outras cem mil pessoas, obrigatoriamente, desalojadas. Neste valor, pelo menos 15% seriam povos indígenas. No Rio Grande do Sul, se forem incluídos todos os projetos previstos de hidrelétricas (dez ou onze grandes hidrelétricas em série no Rio Uruguai), destacando-se a maior delas, a UHE Garabi (entre o Rio Grande do Sul e a Argentina), provavelmente teríamos mais de 50 mil pessoas afetadas. Isso é uma calamidade social.

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Mesmo quando há formas de compensação, reassentamento e indenização, é quase sempre subdimensionado e nem todos os que vivem e sobrevivem do território recebem compensações que muitas vezes se limitam às famílias que vivem na região a ser inundada e não se estendem a toda população impactada pelos danos em cadeia na região.

De acordo com uma pesquisa realizada por alunas do 1° ano da Escola Estadual de Ensino Médio Almirante Tamandaré, que foram as ruas de Porto Mauá para saberem a opinião da população sobre a construção da usina e, de 160 moradores entrevistados, 74% é contra, 20% a favor e 6% não souberam responder.

De acordo com CLARET (2013) em relação ao município de Altamira-PA cidade que abriga o canteiro de obras da UHE Belo Monte, relata que com o início das obras triplicou o número de seus habitantes, portanto, ocorrem problemas sérios em todos os setores públicos como na saúde (postos de saúde e hospitais) com o aumento da demanda nesses locais e poucos recursos para o atendimento. Também na limpeza das ruas com a questão do lixo, bem como o aumento do preço dos alimentos, aluguéis, etc. Ele destaca ainda outro fator de impacto social que são os “bordéis” que se instalam nas mediações dos alojamentos dos trabalhadores da obra. Geralmente são mulheres que são ludibriadas por empresários do ramo, mas que na verdade são exploradas e vivem em situação de vulnerabilidade social.

Esse fato não é isolado. Repete-se na maioria das localidades que recebem esse “desenvolvimento” na construção desses megaempreendimentos e, em Porto Mauá e região não seria diferente.

Na etapa da construção da barragem um dos impactos evidentes são as doenças que surgem com a chegada de um grande número de trabalhadores da construção civil para trabalhar na obra. São trabalhadores que circulam por toda parte e muitas vezes carregam consigo doenças contagiosas como tuberculose, sífilis, aids, entre outras. Mas os trabalhadores da obra também são vítimas das condições de trabalho perigosas e insalubres na maioria dos casos. Os acidentes e mortes são numerosos. Além disso, doenças parasitárias, em especial a esquistossomose e a malária, podem aumentar. Também pode ocorrer a febre amarela, a dengue e a filaríase. A razão para isso é que as barragens propiciam um

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ambiente favorável para a criação de mosquitos, caramujos e outros animais que servem de transmissores das doenças.

No caso da população indígena, essas comunidades dificilmente possuem os documentos referentes à posse de terras. Em sua maioria, eles são reassentados em novas áreas, passam por um longo processo de adaptações culturais e sociais e podem perder sua identidade, pois possuem uma ligação espiritual estreita com a terra natal. Sítios arqueológicos de rara beleza natural e de importância científica são elementos do patrimônio cultural da humanidade. A perda desses recursos culturais históricos, que variam desde santuários, artefatos e construções antigas, templos, além de recursos arqueológicos tais como fósseis, animais e cemitérios ocorre em decorrência de submersão da área de influência da barragem.

Pelo menos 70% da atual cidade de Porto Mauá desaparecerá com a construção da usina hidrelétrica de Panambi. O prefeito de Porto Mauá, em entrevista para a Top Sul Notícias afirma que:

entre 600 e 700 pessoas que vivem na cidade devem ser atingidas com a formação do lago. Cerca de 300 das 425 casas que formam a atual aglomeração serão inundadas. Isso sem contabilizar todos os prédios públicos importantes, como a Prefeitura, a Câmara, as escolas, o posto de saúde e a praça. A igreja católica, não. O terreno no entorno da cidade não favorece a construções. Ele defende a ideia de construir uma cidade nova, em local que fique a uns cinco quilômetros da área atual. “O fluxo rodoviário, o porto internacional, o comércio e o turismo ficariam nesta cidade que hoje existe. Mas a administração e o núcleo residencial precisariam ser planejados, construídos do zero, com vistas ao conforto da população”, argumenta o prefeito, ressaltando que técnicos em solo e geografia dizem o mesmo13.

O espaço físico socialmente construído, por sua vez, sofrerá descaracterização, pois a barragem deformará o rio e a paisagem local modificando as relações estabelecidas no cotidiano de muitos anos. As paisagens familiares deixarão de existir. Para alguns o grande lago representará “coisa nova” a ser explorada, mas para muitos principalmente aqueles que formaram suas propriedades, significará perdas que não serão repostas.

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Os estudos anteriores sobre os impactos causados por empreendimentos semelhantes dão conta de que são as populações que sofrem as mais severas consequências, porque perdem referências construídas durante gerações.

No município de Porto Mauá ameaçado pela UHE Garabi Panambi, não será diferente uma vez que aquela população já vive momento de tensão, face às incertezas do amanhã, por falta de informações.

3.5. Medidas de redução de impactos

Nunca na história falou-se tanto em desenvolvimento sustentável e do cuidado com os impactos ambientais. Talvez porque a natureza já está dando indícios da má administração de seus recursos por parte do ser humano.

Os estudos de impactos ambientais permitem que sejam analisadas, elaboradas e implantadas formas de minimizar impactos. As restrições ambientais são cada vez mais abrangentes, as organizações não governamentais estão cada vez mais atuantes e as leis mais rigorosas e punitivas. Nesse cenário, os empreendedores de novas usinas invistam maiores recursos em pesquisas e medidas de mitigação de impactos. Todas as maneiras de se obter energia geram certo grau de impacto ambiental. Vemos que é um grande desafio para as empresas desse ramo, minimizar tais impactos que geram uma instabilidade na natureza e na população atingida por barragens.

Mesmo quando os Estudos de Impacto Ambiental são realizados de forma correta, apontando os verdadeiros impactos gerados por uma hidrelétrica, na maioria das vezes, as ações de mitigação desses impactos não chegam a compensar de fato os efeitos negativos. Como reduzir seus efeitos?

Existem práticas para atenuar e/ou prevenir alguns impactos ao meio ambiente e elas são divididas em duas etapas: antes da formação do reservatório e depois. No período que antecede ao enchimento do reservatório deverá ser feita a limpeza prévia da área do reservatório reduzindo a quantidade de biomassa que seria afogada. A extração é o melhor sistema, pois evita a queima, que produz cinzas com alta concentração de nitrogênio e fósforo, capazes de induzir a eutrofização. Tratamento de fossas, com drenagem da parte líquida, cobertura do

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lodo com uma camada de cal e aterramento posterior, o efeito biocida da cal será suficiente contra inúmeras bactérias e organismos patogênicos. Remoção de depósitos de lixo, currais, pocilgas e aviários, assim como lavagem, usando águas ligeiramente ácidas, dos locais adubados e depósitos de insumos agrícolas. A redução do problema relacionado aos impactos causados na fauna pode ser feita com o remanejamento antecipado das espécies, mesmo assim, algumas delas correm o risco de não se adaptarem ao novo habitat. A escada para peixes tem sido usada como uma medida mitigadora, mas sua eficácia é questionada pelos especialistas, porque mesmo quando ajuda a manter a vida aquática, raramente consegue evitar que as espécies nativas não desapareçam. No caso de Tucuruí, os dados mostram que onze espécies desapareceram da região. A construção de canais de desvio de sedimentos. Implantação de rede de instrumentação sismológica de operação permanente;

No período posterior ao enchimento do reservatório, é imprescindível o eficaz gerenciamento permanente desse reservatório por especialistas da área. É de fundamental importância induzir a circulação vertical das águas para evitar estratificação térmica das águas. Evitar depleções do nível da água por períodos prolongados para evitar a proliferação de vegetação, cujo afogamento posterior origina processos eutróficos. Remover as algas com telas ou redes e processos químicos quando necessitar controlar a eutrofização. Procedimento de remoção de sedimentos.

Os órgãos ambientais competentes devem mitigar ou compensar os impactos ambientais estimados e seguem planos, programas e projetos ambientais a serem implantados ao longo da construção e da operação do empreendimento.

Em relação aos impactos sociais sofridos pelos atingidos por barragens estima-se de forma equivocada que, o processo de indenização por suas terras e imóveis se caracterizaria em medida de redução de impacto.

Com o entendimento de que a situação preexistente não será reconstituída e que práticas indenizatórias são insuficientes para reparar as perdas e propiciar a melhoria progressiva das condições de vida, cresce a convicção de que, mais além de medidas pontuais, os desafios sociais postos pelas mudanças deflagradas pelo

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empreendimento somente serão adequadamente enfrentados através de planos abrangentes de desenvolvimento econômico e social. Mitigações e reparações, isto é, restituições, indenizações e compensações, devem ser objeto de negociação coletiva, envolvendo as representações organizadas das populações atingidas. As negociações individuais que se impuserem, devem ser conduzidas de forma aberta e transparente.

As indenizações por propriedade, benfeitorias, lucros cessantes, perda de emprego ou acesso a recursos necessários à sobrevivência não encerram o processo de reparação, que deverão, sempre, necessariamente, assegurar, a grupos sociais, comunidades, famílias e indivíduos, meios de recomporem seus meios e modos de vida e gozarem do direito à melhoria contínua das condições de vida14.

4 – Considerações Finais

A energia é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade. É ela a responsável em fornecer luz em hospitais, indústrias, casas, escolas. Uma das formas de se obter energia elétrica é através das barragens. O Programa de Aceleração do Crescimento-PAC, adotado pelos últimos governos do Brasil estão com uma meta gigantesca na construção de hidrelétricas o que, compromete o futuro do planeta. Os impactos socioambientais das hidrelétricas podem ser irreparáveis e irreversíveis.

Baseado em estudos já realizados no assunto e em casos que ocorreram em outras hidrelétricas na bacia do Rio Uruguai conclui-se que com a instalação do megaempreendimento da UHE Garabi-Panambi o espaço geográfico do município de Porto Mauá, bem como da região atingida, será severamente transformado. A paisagem natural do Rio Uruguai histórico e imponente, suas matas ciliares e belezas exuberantes serão literalmente afogadas. A bacia hidrográfica, o solo será bruscamente atingido. O cotidiano da população e do município será totalmente alterado.

14 Comissão Especial “Atingidos por Barragens” Resoluções nº 26/06, 31/06, 01/07, 02/07, 05/07.Brasília/DF,

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Os problemas socioambientais causados pela construção de uma usina desta magnitude não têm uma solução fácil e que agrade a todos. O que melhor se pode fazer é realizar estudos cada vez mais rigorosos, que contemple homem, natureza, especificidades étnicas e locais para que isso seja realizado da melhor maneira possível. A discussão sobre impactos socioambientais dos grandes reservatórios das bacias hidrográficas brasileiras deixa claro que são necessárias ações sistêmicas, continuadas e planejadas para abordagem deste assunto não mais tolerando descasos e irregularidades, exigindo a implantação de padrões de sustentabilidade imediatamente.

Vivemos uma era onde quem rege as regras é o consumismo. Nunca se produziu e se vendeu tantos bens de consumo como agora: TVs, geladeiras e automóveis. Consequentemente, o consumo energético está nas alturas. O que vem acarretando sérios problemas na questão ambiental, pois estamos consumindo além dos próprios recursos que o planeta consegue sustentar.

Concluo o referido artigo com convicção de que o crescimento econômico é importante para a sociedade desde que, haja um equilíbrio entre as necessidades do homem e preservação dos recursos naturais. Portanto, os estudos geográficos podem contribuir para isso à medida que geram informações relevantes para o entendimento da dinâmica sócio ambiental apontado as fragilidades e as potencialidades dos ambientes diante das intervenções antrópicas que, ao explorarem os recursos naturais, afetam o equilíbrio dinâmico e influenciam na nova estabilização dos processos dos meios físico, biótico e social.

5 – Referências Bibliográficas

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6. Anexo - depoimentos de alguns moradores

“... essa construção vai trazer muitos danos pra natureza e principalmente pra o ser humano... trocar a natureza por energia jamais, prefiro voltar ao tempo da lamparina...” morador de Itajubá/Porto Mauá há 59 anos. (Retirado do vídeo “O Silêncio dos Afogados”).

“Moro há mais de 60 anos aqui e não gostaria que acontecesse essa inundação, muito menos mudar daqui” Morador da cidade.

“Eu vou lutar contra essa barragem até minhas últimas forças” Representante do MAB do município de Porto Mauá/RS

“... pra defender o que é nosso nós vamos derramar até a última gotinha de sangue... não me imagino morar em outro lugar a não ser aqui, no campo” morador na localidade de Itajubá, interior de Porto Mauá.

“Porque a gente trabalha uma vida toda né, quando a gente pensa, bom agora tá estável, os filhos já encaminhados né, agora tá na hora da gente aproveitar, usufruir,

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e a gente tem que começar tudo de novo? Aonde? Esse cantinho nunca mais (se emociona)” moradora na localidade de Itajubá, interior de Porto Mauá. Retirado do vídeo A Rota da Reportagem: O silêncio dos Afogados.

"As sete usinas hidrelétricas já construídas na bacia do rio Uruguai inundaram cerca de 80 mil hectares e só Garabi e Panambi vão inundar 100 mil hectares. Esse número dá a dimensão do desastre social e ambiental da região, é certo que vai desestruturar muitas comunidades e a vida das famílias, tanto brasileiras como argentinas". (Extraído de http://www.diocesedesantoangelo.org.br/link.aspx?id=513 Acesso em 08 de novembro de 2014.

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