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Discriminação racial e mercado de trabalho: a influência da educação sob a desigualdade salarial entre negros e brancos na Região Metropolitana de Salvador

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ECONOMIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

VITOR GABRIEL OLIVEIRA DOS SANTOS

DISCRIMINAÇÃO RACIAL E MERCADO DE TRABALHO: A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO SOB A DESIGUALDADE SALARIAL ENTRE NEGROS E BRANCOS

NA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR

SALVADOR 2018

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VITOR GABRIEL OLIVEIRA DOS SANTOS

DISCRIMINAÇÃO RACIAL E MERCADO DE TRABALHO: A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO SOB A DESIGUALDADE SALARIAL ENTRE NEGROS E BRANCOS

NA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Bahia requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas.

Área de concentração: Economia do Trabalho; Capital humano.

Orientador: Prof. Dr. Vinicius de Araújo Mendes

SALVADOR 2018

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Ficha catalográfica elaborada por Gabriela de Souza Silva

S337 Santos, Vitor Gabriel Oliveira dos

Discriminação racial e mercado de trabalho: a influência da educação sob a desigualdade salarial entre negros e brancos na região metropolitana de Salvador/ Vitor Gabriel Oliveira dos Santos. – Salvador, 2018.

42 f.; Il.

TCC (Graduação) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Economia. Orientador: Prof. Dr. Vinicius de Araújo Mendes.

1. Salvador - Mercado de trabalho. 2. Rendimentos financeiros. 3. Desigualdade social. 4. Educação formal – emprego. I. Universidade Federal da Bahia. II. Mendes, Vinícius de Araújo. III. Título.

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VITOR GABRIEL OLIVEIRA DOS SANTOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Ciências Econômicas.

Aprovado em ____ de ______________ de 2018.

Banca Examinadora

_____________________________________________________ Prof. Dr. Vinícius de Araújo Mendes

Universidade Federal da Bahia - UFBA

_____________________________________________________ Prof. Dr. Rodrigo Carvalho Oliveira

Universidade Federal da Bahia - UFBA

______________________________________________________ Profa. Dra. Diana Lúcia Gonzaga da Silva

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“Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por me guiar ao longo destes 5 anos de faculdade, me dando força e sabedoria.

Dedico este trabalho, em especial a meu pai, minha mãe e irmã, que desde sempre deram apoio, confiaram em mim e ensinaram quais os valores que devo buscar na minha vida.

À minha mãe, Barbara Oliveira, transfiro boa parte dos méritos desta conquista, que com seu exemplo de coragem, bondade, amor, de mulher honesta e batalhadora é um dos pilares para minha formação como pessoa.

Agradeço a Pérola Rosado, que me apareceu quando eu menos procurava, sendo uma mulher muito melhor do que eu pudesse imaginar, sempre me dando força e motivação para alcançar meus objetivos. Com certeza fincou raiz que o tempo não apodrecerá.

Ao professor Vinicius Mendes, pela sua paciência em ajudar e pela oportunidade de tê-lo como orientador.

A todos os coordenadores (as) com que tive o prazer em trabalhar. Um agradecimento especial a equipe de Monitoramento e Avaliação do Projeto Bahia Produtiva, local onde pude obter novos conhecimentos e conhecer pessoas incríveis.

Por fim, mas não menos importante, agradeço a todos os amigos e colegas que surgiram ao longo desta trajetória universitária, tornado o curso muito mais leve e divertido.

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RESUMO

Apesar da redução de desigualdade de renda na Bahia e em Salvador ao longo dos últimos 20 anos, ainda existe uma elevada desigualdade de renda entre negros e brancos. O objetivo do presente trabalho é analisar fatores que interfiram nos rendimentos entre Negros e Brancos no Mercado de Trabalho Soteropolitano. A metodologia utilizada, foi a de análise exploratória com a utilização dos dados extraídos da Pesquisa Nacional de Amostra e Domicilio (PNAD), com recorte temporal correspondente aos anos de 2002 até 2014 e utilização da equação minceriana de determinação de salários, utilizada para captar retornos da educação. Neste sentido, o grande problema da pesquisa é: Quais os fatores que fazem com que, em média, negros recebam menos que os brancos? Os resultados mostraram que negros recebem menos, principalmente, por terem uma menor quantidade de anos de estudo (educação), portanto, devido a sua formação precária, tem uma dificuldade em se inserir em bons empregos.

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ABSTRACT

Despite the reduction of inequality in Bahia and Salvador over the last 20 years, there is still income inequality among blacks and whites. This program is an exporter of products between the Black and White markets in the Soteropolitan Labor Market. Methodology used was an exploratory research using the data extracted from the National Household Sample Survey (PNAD), with a temporal record corresponding to the years from 2002 to 2014 and using the wage ordering equation used to capture education returns. In this sense, the major research problem is: What factors mean that black people receive less than whites? The results were negative, for example, mainly because they had a shorter number of years of study, so due to their professional training, they have a hard time getting into good jobs.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Representação da População Negra e Branca - Brasil 23 Gráfico 2 Representação da População Negros e Brancos - Salvador 23

Gráfico 3 Taxa de Ocupação Negros e Brancos – Brasil 24

Gráfico 4 Taxa de Ocupação Negros e Brancos - Salvador 24

Gráfico 5 Renda Média Principal Negros e Brancos - Brasil 25 Gráfico 6 Renda Média Principal Negros e Brancos - Salvador 26

Gráfico 7 Anos de Estudo Negros e Brancos - Brasil 27

Gráfico 8 Anos de Estudo Negros e Brancos - Salvador 27

Gráfico 9 Horas de Trabalho Semanal Negros e Brancos - Brasil 28 Gráfico 10 Horas de Trabalho Semanal Negros e Brancos - Salvador 28 Gráfico 11 Prêmio Racial no Brasil: Variação % no Salário por ser Branco se

comparado com o Negro

33

Gráfico 12 Prêmio Racial na Região Metropolitana de Salvador: Variação % no Salário por ser Branco se comparado com o Negro 33 Gráfico 13 Prêmio Racial no Brasil – Controla por Educação 35 Gráfico 14 Prêmio Racial na Região Metropolitana de Salvador – Controla por

Educação

35

Gráfico 15 Prêmio Racial no Brasil – Controla por Educação e Experiência 36 Gráfico 16 Prêmio Racial na Região Metropolitana de Salvador – Controla por

Educação Experiência

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Prêmio Racial - Controla por Educação e Experiência Potencial – Por Setor

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

2 REVISÃO DA LITERATURA 14

2.1 PANOMORAMA DO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL A PARTIR DE

2003 14

2.2 DESIGUALDADES NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO 15

2.3 MODELOS TEÓRICOS DE DISCRIMINAÇÃO 17

3 DADOS E ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS 22

4 METODOLOGIA 29

5 RESULTADOS 32

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 35

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1 INTRODUÇÃO

A condição de vida da população negra aponta, em grande parte, para alguns problemas e carências, como a baixa escolaridade, moradia precária, inadequado acesso a saúde e rede sanitária, quando se comparado com o acesso em que a população branca recebe, principalmente quando se olha para a realidade de Salvador, cidade que concentra um alto percentual de população negra. Mesmo com a redução das desigualdades que vem ocorrendo ao longo dos últimos 20 anos no Brasil, que contribuiu para redução da pobreza, os negros ainda sofrem com uma desfavorável inserção no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. Os negros ainda não foram totalmente/devidamente integrados nas reformas em que o mercado de trabalho e sociedade vem sofrendo nos últimos 20 anos e continuam ocupando postos de trabalho com baixa remuneração, o que remete a uma possível discriminação nas relações de trabalho.

Um dos principais fatores que interferem na inserção do negro na sociedade e determinam seu salário é a questão de capital humano, como contribuíram economistas importantes como Theodore Schultz e Gary Stanley Becker. Quanto maior for a sua qualificação, o nível de escolaridade, a qualidade das escolas, faculdades, saúde etc., maior a probabilidade de se colocar no mercado de trabalho ou em melhores postos de trabalho e auferir melhores salários.

Segundo Arretche (2015), entre 1960 e 2010, houveram profundas transformações econômicas e sociais no Brasil que modificaram o mercado de trabalho, para melhor, como a diminuição da jornada de trabalho, o aumento de benefícios e a elevação do salário mínimo real. Porém, a população negra ainda não foi devidamente inserida nessas melhorias, ela ainda continua ocupando posições com baixa remuneração, além de comporem parte da informalidade no mercado de trabalho, parcela que não absorveu os benefícios dos ganhos reais com a política de incremento do salário mínimo.

O conceito de capital humano, diz que o salário varia de acordo com suas qualidades profissionais, conjunto de capacidades, conhecimentos, competências que favorecem a realização do trabalho, de modo a produzir valor econômico. Esses atributos são adquiridos pelo trabalhador, por meio da educação, experiência, treinamento, entre outros. O desemprego é mais elevado para trabalhadores com um grau de qualificação menor, inversamente, as taxas

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de desemprego tendem a ser menores para os trabalhadores com maior grau de qualificação, maior nível de escolaridade.

Para Loureiro (2003), a discriminação no mercado de trabalho pode ser classificada em quatro tipos:

 Discriminação salarial: “[...]trabalhadores do sexo feminino ou negros recebem salários menores do que do sexo masculino ou brancos executando a mesma função. ”  Discriminação de emprego: “[...] acontece quando mulheres e negros ficam em

desvantagem no que se refere à baixa oferta de empregos, sendo os mais atingidos pelo desemprego. ”

 Discriminação de trabalho ou ocupacional: “[...] significa que mulheres e negros têm sido restringidas ou proibidas de ocupar certas ocupações, mesmo que sejam tão capazes quanto os homens e brancos de executar as atividades designadas. ”

 Discriminação decorrente de oportunidades desiguais para se obter capital humano: “[...]ocorre quando mulheres e negros têm menores oportunidades de aumentar sua produtividade, através de qualificação profissional” (LOUREIRO, 2003, p.126-127).

Ainda segundo Loureiro (2003), os três primeiros tipos de discriminação são chamados de “discriminação direta”, pois são encontrados depois que os indivíduos estão inseridos no mercado de trabalho. O último tipo de discriminação é conhecido por “discriminação indireta”, pois ocorre antes da entrada no mercado de trabalho.

O objetivo do trabalho visa fazer uma análise de quanto a desigualdade salarial existente é impactada, levando em consideração, principalmente, a educação e, não menos importante, a experiência do indivíduo. A principal dificuldade na análise das desigualdades salariais entre raças está em identificar quais são os fatores que interferem na carreira profissional do negro para que ela se diferencie da carreira do branco. Ou seja, quanto dessa divergência salarial existente pode ser atribuída a uma possível discriminação, e quanto pode ser atribuída a diferença de capital humano.

Essa desigualdade salarial entre brancos e negros no mercado de trabalho tem sido objeto de análise da literatura econômica e uma das principais barreiras a serem explicadas nos modelos econômicos voltados ao estudo do mercado de trabalho, (que sempre induz a conclusões que tais divergências tem um cunho discriminatório por causa da cor da pele), é medir com precisão o percentual de discriminação existente nos salários. A principal motivação dessa

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pesquisa é a de identificar se existe um “prêmio de discriminação” para a remuneração entre negros e brancos no mercado de trabalho soteropolitano e como esse fator tem um impacto no salário, ou seja, se existe um diferencial entre os salários entre brancos e negros. Para realizar tal objetivo, foram utilizados os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos anos de 2002 até 2014; os dados utilizados são correspondentes ao Brasil e a Região Metropolitana de Salvador.

O texto está dividido em cinco partes além desta introdução. A primeira parte traz uma revisão da literatura acerca da temática que fundamentam alguns conceitos utilizados na pesquisa empírica. A base de dados utilizada será apresentada logo em seguida, onde também será feita uma análise geral dos indicadores de desemprego, salário, entre outros, de negros e brancos, no mercado de trabalho brasileiro e soteropolitano. O terceiro tópico falará sobre a metodologia empregada no trabalho. Na quarta parte serão apresentados os modelos estimados, as variáveis escolhidas e uma análise dos resultados obtidos. E por último, serão expostas as considerações finais.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 PANOMORAMA DO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL A PARTIR DE 2003 No início da década passada, o quadro do mercado de trabalho era inquietante, destacado pelo aumento da informalidade, aumento do desemprego e redução da média salarial, e os trabalhadores mais vulneráveis, eram os trabalhadores negros. Durante o período 2003-2008, houve a implementação e ampliação de políticas de transferência de renda, houve uma queda do desemprego, aumentando também, o número de trabalhadores formais, ou seja, que tinham sua carteira assinada. Essa mudança foi acompanhada da elevação do salário mínimo e ganhos salariais reais (aumento acima da inflação).

A partir de 2004, começou uma forte recuperação econômica, causada pela expansão da exportação de commodities. Nos anos subsequentes, a expansão do consumo que foi decorrente de uma oferta maior de crédito, elevação do salário mínimo e controle de inflação, consolidou uma fase de crescimento da economia, que consequentemente, teve um impacto positivo sobre o mercado de trabalho (BALTAR, 2013).

Em 2009, após o boom da crise de 2008, foi percebida uma redução da taxa de desemprego. Alguns motivos para explicar isso é que, em primeiro lugar, a economia brasileira estava menos vulnerável ao colapso financeiro dos EUA, os bancos nacionais não tiveram grandes perdas. Existia um considerado nível de reservas internacionais, o que evitou uma crise na balança de pagamentos. O governo federal obtinha superávits primários no orçamento, o que tinha permitido reduzir a dívida pública. Em segundo lugar, o governo aplicou políticas anticíclicas, evitando o aprofundamento da recessão. O Banco central reduziu a Selic de 13,75% em janeiro para 8,75% em julho de 20071, e tomou medidas para sustentar a oferta de crédito para empresas e consumidores, mantendo a economia aquecida através do consumo, os bancos públicos foram de grande importância para isso. Já o ministério da fazenda reduziu impostos para veículos, móveis, eletrodomésticos e materiais de construção. Em conjunto, o governo ampliou investimentos em obras de infraestrutura, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e foi lançado o Minha Casa Minha Vida, um programa de construção de casas populares. Esses dois programas impulsionaram o setor da construção civil, que gera muitos empregos. Como já citado, a política de valorização do salário mínimo

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foi mantida, ajudando a preservar a renda das famílias, mantendo impulsionado o consumo. Todas essas políticas contribuíram para uma rápida recuperação da economia. Em terceiro lugar, podemos citar a política conduzida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que durante a crise abriu novas linhas de financiamento e ampliou o crédito para empresas. As descobertas do pré-sal pela Petrobrás, reforçaram as perspectivas otimistas sobre a economia brasileira nos próximos anos. O governo também aumentou os recursos destinados para o Programa Bolsa Família, e aumentou o número de parcelas do Seguro Desemprego para os trabalhadores demitidos entre 2008 e 2009 nos segmentos industrias afetados pela crise. Em síntese, esta é a conjuntura política e econômica do período analisado neste trabalho monográfico.

2.2 DESIGUALDADES NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO

Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, o aumento do desemprego impactou mais o grupo de homens negros e mulheres negras. De todo o aumento de desemprego entre 2013 e 2014, homens e mulheres negras representavam 60,3%. Observou-se que o país possuía 2,4 milhões de mulheres negras desempregadas, e 1,2 milhão de homens na mesma situação. Essa desigualdade pode ser gerada por alguns fatores, como a divisão étnica e social do trabalho, marcada pela persistência de atitudes negativas sobre o desempenho e habilidades de negros.

Para Vaz (2013) existe também, um fator conhecido como teto de vidro, que é uma manifestação da segregação no mercado de trabalho, caracterizada pela menor rapidez de elevação na carreira, o que representa em sub-representação nos cargos de chefia. Isso ocorre porque homens brancos tendem a requerer outros com o mesmo perfil, pois ainda olham para o profissional negro como menos adequado.

No caso de diferenciais de renda entre brancos e negros, muitos estudos têm mostrado que ainda existe discriminação no mercado de trabalho brasileiro contra os negros. Contudo, além da discriminação, a diferença dos atributos produtivos (como por exemplo, nível educacional e experiência) entre brancos e negros é um fator determinante para explicar os diferenciais de renda por cor de pele. Todavia, pouco se tem falado sobre o impacto da inserção e alocação ocupacional como fonte de explanação desses diferenciais. Tal fator também é importante, pois desde o fim do regime escravocrata no Brasil, a população negra ocupa

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predominantemente posições no mercado de trabalho diferente daquelas ocupadas pelos brancos e, recebe salários menores no desempenho dessas funções, evidenciando que os negros estão inseridos em ocupações piores que os brancos (PAULA; RIBEIRO, 2014). O Brasil sempre foi marcado por grande desigualdade social. A consequência disso é a reserva de papéis e oportunidades sociais diferenciados para os variados grupos étnicos e raciais que nele vivem. As disparidades ainda persistem, mesmo que, em 2014, mais da metade da população (53,6%) entrevistada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), tenha se declarado como de cor “preta” ou “parda”, já as que se declaravam brancas, foi de (45,5%).

Mesmo com o fim da escravidão, não ocorreu tanta inclusão do negro na sociedade. Foi mantida a lógica de exceção, a herança escravocrata ainda implica numa desigualdade em todas as esferas sociais. Negros enfrentam oportunidades desiguais, principalmente no quesito educação. Do ponto de vista econômico, a discriminação é o fato de bens similares terem preços distintos. Agora, levando para o mercado de trabalho, trabalhadores com a mesma produtividade são tratados de formas dessemelhantes, com base em alguma característica analisada a olho nu. Segundo Cacciamali e Hirata (2005), a existência de valores enraizados, no Brasil, nos leva a discriminação por cor, ou seja, essas características têm uma influência no mercado de trabalho, tanto para admissão em um novo emprego quanto na relação salarial. Para Soares (2000), uma diferença salarial entre duas pessoas é resultado de um processo de três etapas: qualificação, inserção e rendimento. Ou seja, primeiro as pessoas se qualificam para o trabalho, nas escolas, faculdades, MBAS; depois tentam se inserir em bons empregos; e por último, buscam ganhar bons salários, que é consequência do primeiro e segundo item. Os homens negros sofrem discriminação salarial em torno de 5% a 20% em relação aos brancos. Negros sofrem bastante por trabalharem em setores de trabalho considerados inferiores aos brancos, o restante da diferenciação é pago pelas discriminações sofridas nos anos de formação. A diferença de salário de homens negros vem, principalmente, ao menor nível de qualificação em relação aos brancos. No trabalho realizado pelo Soares, ficou evidenciado que a desigualdade na educação, detém a capacidade de gerar piores posições para o negro, tanto na sociedade, quanto no mercado de trabalho, inserindo-se em posições subalternas no mercado de trabalho. É nesse sentido que Soares afirma: “É na escola, não no mercado de trabalho, que o futuro de muitos negros é selado” (SOARES, 2000, p.23).

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Negros registram um menor nível de escolaridade quando se compara com os brancos, e esse pode ser o principal motivador para disparidades salariais entre etnias. Os Negros têm uma entrada mais cedo no mercado de trabalho, e nele permanece por mais tempo (BELTRÃO, 2003; MATOS; MACHADO, 2006). Por isso, acabam abandonando mais cedo os estudos, para poder trabalhar. Já os brancos, que entram mais tarde no mercado de trabalho, têm a oportunidade de se dedicar mais aos estudos, ao processo de formação, o que acaba gerando disparidade educacional entre negros e não negros (HENRIQUES, 2001; MATOS E MACHADO, 2006). Consequentemente, por conta da escolaridade menor, negros assumem postos de trabalho inferiores e, portanto, tem um rendimento médio menor que os brancos. Existe uma visão de que o lugar do negro na sociedade é o de exercer um trabalho manual, com poucos requisitos de qualificação, em setores sem dinamismo. Se o negro permanecer no lugar em que for alocado, não sofrerá tanta discriminação, mas se tentar galgar uma posição melhor sentirá a discriminação (SOARES 2000).

Além de tudo isso citado, existe o fato da discriminação gerada pelo mercado de trabalho, ou seja, quando se remunera diferentemente indivíduos que possuem mesmo potencial de produtividade e trabalham em postos iguais ou similares, o mercado de trabalho está funcionando como potencializador das desigualdades.

2.3. MODELOS TEÓRICOS DE DISCRIMINAÇÃO

O desenho por trás de divergências salariais entre pessoas com características não produtivas diferentes, é foco da literatura há algum tempo. Definir o quanto e o porquê que existe uma diferença salarial, um “GAP”, entre certos grupos, é um cálculo longe de ser fácil devido à subjetividade em definir um valor em moeda para o quanto que o indivíduo ser negro o torna incapaz de produzir tanto quanto um branco. Uma dificuldade em determinar a discriminação está em percebe-la na realidade. E essa dificuldade de enxergar a discriminação torna o debate constante sobre a existência dela em determinados grupos, como a discriminação por raça. Paula e Ribeiro (2014) definem discriminação por cor da pele quando negros e brancos igualmente produtivos e com mesma qualificação são diferentemente avaliados no mercado de trabalho com base em seus atributos não produtivos, como a raça ou gênero. Ou seja, podemos descrever a discriminação no mercado de trabalho quando ocorre um tratamento desigual para trabalhadores com a mesma qualificação, no mesmo emprego/cargo/função,

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mas obtém salários diferenciados devido a sua raça, sexo e uma série de características que são consideradas irrelevantes. E a discriminação ocorre justamente quando os participantes do mercado de trabalho consideram essas características irrelevantes na hora de fazer uma contratação.

Na literatura, a discriminação em geral tem sido vinculada a algumas definições: Discriminação por preferência, Becker (1957); Discriminação estatística, Phelps (1972) e Arrow (1973); Modelo de Spence: Assimetria de informação no Mercado de Trabalho, Spence (1973).

O primeiro pensador a encontrar uma explicação racional para a discriminação foi Becker (1957), através da ideia de discriminação por preferência ou por preconceito pessoal, que podem ser de três tipos, por parte do empregador, do empregado e do consumidor. O modelo supõe que em dado mercado competitivo, cada um dos agentes envolvidos tem preferências diferentes e podem agir de acordo com suas preferências, dessa forma, pode-se dizer que os indivíduos se comportam racionalmente e maximizam suas utilidades de acordo com suas preferências. Esses indivíduos racionais têm preferências por discriminação. As pessoas são igualmente produtivas e as forças de competição tendem a eliminar salários diferentes oriundos da ação do empregador em discriminar os trabalhadores igualmente produtivos. Nessa economia idealizada por Becker, qualquer um pode negociar produtos ou serviços com base no sexo, raça, etnia etc. Becker conclui, que a discriminação consiste em reduzir lucros, salários ou até mesmo renda, apenas para manter o preconceito de algum tipo (LOUREIRO, 2013).

Sobre a discriminação do empregador, o empregador que tem a preferência por discriminar age como se o trabalhador que está sendo discriminado fosse menos produtivo que o trabalhador que ele prefere admitir. Essa desvalorização de produtividade é totalmente subjetiva, o que constitui em um preconceito pessoal, assim sendo, quanto maior for o preconceito do empregador, maior será a redução do valor pago pela produtividade real do trabalhador discriminado.

A discriminação entre os trabalhadores ocorre entre funcionários de uma mesma empresa contra os funcionários que são considerados minorias, como mulheres e negros, por exemplo. Essa situação ocorre quando os funcionários considerados de maioria evitam interagir com as minorias. O trabalhador que tenha preferência em discriminar, tende a evitar empregos que contratem ou promova as minorias, portanto, para se manter ou aceitar a trabalhar em um

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local desse tipo, eles teriam que ganhar uma bonificação para se manter na empresa ou aceitar a oferta de trabalho

Em relação à discriminação entre os trabalhadores/empregados analisada por Becker (1957), cita-se como exemplo, a hipótese da existência de dois grupos de trabalhadores (1 e 2) e um compete com o outro, sendo que o grupo 2 é composto por trabalhadores preconceituosos, ou seja, os trabalhadores do grupo 1 necessitam de um incentivo, um prêmio para continuar trabalhando junto ao grupo preconceituoso. O grupo 1 tem um custo de oportunidade para trabalhar junto ao grupo preconceituoso, carecendo de um salário maior, um prêmio por “aturar” o grupo preconceituoso (LOUREIRO, 2013).

Ehrenberg e Smith (2000) considera que esse tipo de discriminação ainda sobrevive, pois, os trabalhadores que discriminam são em geral maior parcela da população trabalhadora, sendo assim, impossível imaginar o mercado de trabalho sem eles. As empresas evitam conflitos com esses trabalhadores, pois são a maioria e com os melhores cargos.

Os consumidores ou clientes também apresentam preferência por discriminação, pois os consumidores podem querer ser atendidos por um tipo de trabalhador em detrimento de outro, diminuindo a possibilidade das minorias encontrarem trabalho em funções onde o cliente deixa claro suas preferências e isso pode provocar uma redução salarial desses trabalhadores discriminados, gerando até mesmo um mercado segregado nas ocupações em que é necessário um elevado contato com o cliente. Para Ehrenberg e Smith (2000) as empresas que atendem clientes preconceituosos terão que contratar trabalhadores que tem as características de acordo com o gosto do cliente, e pagarão salários mais altos, consequentemente cobrará preços mais altos do que as empresas que vendem para clientes não preconceituosos.

Em suma, o modelo de Becker diz que se um discriminador estiver operando em mercado competitivo, e ele tem a preferência por discriminar, deve estar disposto a pagar algum prêmio e evitar a desultilidade de estar associado a certas pessoas. Dessa forma, é necessário pagar diferentes salários para trabalhadores igualmente produtivos, resultando dessa forma, em discriminação.

Outro modelo aceito nas explicações de discriminação é o modelo de discriminação estatística, desenvolvido por Phelps (1972) e Arrow (1973), que surge a partir do problema de informação imperfeita sobre as habilidades e comportamento profissional dos trabalhadores,

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pois não se consegue informações sobre a produtividade de um empregado. Phelps cria um modelo em que o empregador é capaz de medir o desempenho do candidato, sua produtividade, através de características observáveis, opta por informações completares sobre a qualidade média dos trabalhadores, como suas crenças, raça, sexo e religião como critério de seleção, de modo que os indivíduos são julgados de acordo com a média das características às quais pertencem. Caso os empregadores percebam que os trabalhadores negros têm produtividade menor que os brancos, esses irão receber um salário menor do que os trabalhadores brancos (LOUREIRO, 2013).

Um outro modelo de discriminação, supõe informações imperfeitas em mercados competitivos, como a assimetria de informação no mercado de trabalho, que é o fato de empregadores, ao realizar a contratação de um empregado, não possuírem informações suficientes para medir a produtividade desses trabalhadores. Para Camargo e Reis (2003), esse argumento não é novo e foi desenvolvido por Akerlof, que explica como a incerteza dos agentes sobre a qualidade dos bens transacionados tende a gerar um equilíbrio ineficiente. A hipótese é de que se tem mais informações sobre a qualidade do bem em transação para a parte que o valoriza menos, os rendimentos do bem não serão elevados quanto seriam se o mercado tivesse informações simétricas, ou seja, se todos soubessem a qualidade de determinado bem em interesse.

Segundo Camargo e Reis (2003), quanto mais elevada for a qualificação do assalariado, maior capacidade tem a empresa de obter informações sobre a qualidade de sua qualificação, pois, geralmente, trabalhadores qualificados frequentaram boas escolas, com reputação conhecida, da mesma forma que fizeram bons cursos e cursaram boas faculdades, também detêm um currículo que permite o empregador uma maior percepção sobre a condição da qualificação que o empregado adquiriu ao longo de sua jornada. Já com os trabalhadores não qualificados acontece justamente o contrário, pois vieram de escolas e faculdades pouco conhecidas. Na ideia de reduzir a assimetria de informação, é preciso existir instituições no mercado de trabalho que busquem passar informações entre empregados e empregadores, na forma mais eficiente possível. Ainda para Camargo e Reis (2003), “a legislação trabalhista, devido à sua complexidade ou por razões legais, inibe a formulação de contratos de trabalho capazes de gerar mecanismos que transmitam as informações sobre a qualidade do trabalhador para o empregador”. A rigidez no mercado de trabalho brasileiro, no quesito de contratação e demissão, tende a elevar o problema da assimetria e, portanto, é de se esperar maiores taxas

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de desemprego no Brasil. A principal conclusão desse modelo de seleção adversa é que isso leva a estagnação dos mercados, e a situação só melhoraria como foi dito acima, se os bens/empregados dispusessem de condições que melhorassem o problema de assimetria de informação.

O modelo de Spence (1973) supõe que o empregador tem conhecimento que cada trabalhador tem produtividade diferente e seria muito caro identificar a produtividade de cada trabalhador, sendo inviável economicamente. Então, o empregador usa de alguns sinais para identificar o melhor candidato, como a educação e experiência, mas essas duas variáveis não informam perfeitamente a produtividade do candidato, e é ai que começa a discriminação, pois o empregador utiliza-se de informações como gênero e raça para remunerar diferente trabalhadores com produtividades (educação e experiência) semelhantes. Apenas depois de algum tempo trabalhando na empresa, que o empregador vai conhecer a capacidade produtiva do seu empregado (LOUREIRO, 2003).

Pode-se fazer uma analogia utilizando o mercado de carros usados para dizer que assim como os empregados não têm certeza sobre a qualidade do empregado que está contratando, compradores de veículos não têm certeza sobre a qualidade dos carros que estão sendo colocados à venda. Mas essa informação se torna disponível logo após a compra/contratação. O empregador leva tempo para “aprender” as capacidades de produção do novo empregado, ou seja, contratar alguém é uma decisão de investimento. Falando de outra maneira, o contratante não tem como verificar o benefício marginal ao contratar, o que ele tem capacidade de analisar são os dados pessoais, em forma de características observáveis; dentre as características passíveis de serem analisadas, algumas podem ser alteradas, como a educação, pois o indivíduo pode fazer um investimento em sua educação (tempo e dinheiro). Os atributos que não podem ser mudados são chamados de índices e os passíveis de mudança, são considerados sinais. Assim sendo, sinais e índices são parâmetros que definem as crenças do empregador sobre o empregado, ou seja, os sinais requerem custos para serem ajustados.

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3 DADOS E ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS

Este capítulo trata da apresentação e tratamento do banco de dados utilizado no presente trabalho. Ainda é feita uma análise sobre as características referentes ao perfil da população negra e branca através das variáveis anos de estudo, taxa de ocupação, renda média mensal, representação de cada raça na população e horas de trabalho semanal, tudo isso com a finalidade de se comparar as diferenças existentes entre negros e brancos. É importante salientar que foram consideradas negras todas as pessoas que se declararam de cor preta ou de cor parda. Foram consideradas brancas as pessoas que se declararam de cor branca no ato da entrevista.

Os dados utilizados foram coletados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados disponibilizados pela PNAD-IBGE contêm informações sobre a população desde o ano de 1967, e é realizada anualmente sempre no terceiro trimestre do ano. Nos anos de 1970, 80, 91, 2000 e 2010, a pesquisa foi interrompida para a realização do Censo Demográfico. Dos microdados de pessoas da PNAD, foram extraídas as informações referentes ao estado da Bahia, Salvador e Brasil, para os anos de 2002 até 2014.

Através dos dados extraídos da PNAD, é possível identificar como a sociedade vem evoluindo em relação à inserção, escolaridade, remuneração e representação na população entre negros e brancos no mercado de trabalho. Essas informações são de total importância para análises de políticas públicas, em especial para o entendimento do diferencial salarial entre raças com o intuito de se propor políticas eficientes na diminuição da discriminação salarial entre negros e brancos.

Em 2014 a população negra correspondia a cerca de 54,11% da população brasileira e 85,36% da população soteropolitana, ao passo de que a população que se considera branca correspondia a 45,89% no Brasil e 14,64% em Salvador, como visto nos gráficos 1 e 2 abaixo. Entre 2002 e 2014 houve um incremento de 7,66 pontos percentuais na proporção de negros no total da população brasileira. Esses dados são interessantes pois demonstram que as pessoas passaram a se reconhecer como negro, o que não era recorrente no passado. O gráfico 2 reforça como a Região Metropolitana de Salvador apresenta um alto percentual de negros no total de sua população, se compararmos a distribuição racial da população brasileira. Esse

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indicador sustenta a importância de olharmos para os possíveis vieses e processos de discriminação nesta localidade.

Gráfico 1 – Representação da População Negra e Branca - Brasil

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014. Gráfico 2 – Representação da População Negros e Brancos - Salvador

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014.

Os gráficos 3 e 4 apresentam o percentual de ocupação em Salvador e no Brasil no período de 2002 a 2014. Podemos perceber que há uma estabilidade do número de ocupados no período analisado para as duas populações, entretanto, houve um aumento dos ocupados de 2002 até o ano de 2014, porém este aumento ocorreu em maior magnitude para os negros se comparado ao aumento na taxa de ocupação da população

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branca. Em Salvador (RMS), a taxa de ocupação da população negra aumentou 7,76 pontos percentuais enquanto a taxa de ocupação da população branca aumentou 5,97 pontos percentuais. Para o Brasil, a taxa de ocupação da população negra aumentou 2,56 pontos percentuais enquanto a taxa de ocupação da população branca aumento 2,27 pontos percentuais. Observa-se também que a diferença entre as duas taxas de ocupação (negros e brancos) é mais estável para o Brasil enquanto Salvador (RMS) diminui este diferencial a partir da segunda metade da década de 2000.

Gráfico 3 – Taxa de Ocupação Negros e Brancos – Brasil

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014. Gráfico 4 – Taxa de Ocupação Negros e Brancos - Salvador

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014.

Se tratando de rendimentos, negros tendem a receber menos que os brancos, geralmente por ocuparem postos de trabalho onde os prêmios não sejam tão altos. O foco do trabalho é

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justamente analisar as características que possam influenciar na renda de um individuo independentemente da sua raça.

Nos gráficos 5 e 6 vemos que houve um aumento do rendimento médio da população, se tratando de Brasil e Salvador. Ao verificar o aumento por raça vemos que os negros obtiveram um aumento salarial de 64,75% e 55,24% no Brasil e Salvador, respectivamente, enquanto a população branca teve um aumento de 39,84% no Brasil e de 30,66% em Salvador, ou seja, existiu uma elevação maior nos rendimentos dos negros, mas esse aumento não conseguiu equiparar brancos e negros, permanecendo uma grande diferença. Em 2002, negros recebiam 48,99% do salário de um branco no Brasil, já em Salvador era de apenas 39,01%, já no ano de 2014, negros no Brasil recebiam em média 57,71% do salário de uma pessoa branca, já em Salvador, essa diferença chegou em 46,37%, o que chama bastante atenção, já que se trata de uma cidade predominantemente negra.

Gráfico 5 – Renda Média Principal Negros e Brancos - Brasil

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Gráfico 6 – Renda Média Principal Negros e Brancos - Salvador

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014.

O acesso à educação geralmente é apresentado como um dos principais fatores associados ao alcance de melhores oportunidades de trabalho, consequentemente, um maior rendimento. Uma parte da diferença de remuneração que existe no mercado de trabalho, entre trabalhadores negros e brancos, poderia ser explicada pelos menores níveis de qualificação/anos de estudo da população negra, dado que existe uma relação causal entre escolaridade e rendimentos, ou seja, quanto mais a pessoa se qualifica, estuda, se instrui, maior será os seus rendimentos, talvez, este seja o principal caminho de mobilidade social existente.

A falta de escolaridade, ou melhor, a baixa média de escolaridade da população brasileira é um preocupante problema do mercado de trabalho. O trabalhador que obtém o ensino médio completo estaria apto a se candidatar para uma grande parte dos empregos formais existentes no país e, para tanto, necessita de 12 anos de estudo. O que se verifica, nos dados, é que a população negra, no Brasil, está concluindo o ensino fundamental na média (8 anos de estudo).

Com base nos gráficos abaixo, uma primeira constatação que percebemos é a baixa escolaridade da população como um todo. Um outro aspecto é que os negros, tanto no Brasil quanto em Salvador, têm uma quantidade inferior ao dos brancos, de anos de estudo. Desde 2002 a média de estudo cresceu nas duas localidades, no Brasil ocorreu um aumento de 2,23 anos para negros e 1,86 anos para brancos, já em Salvador, o aumento de 0,87 anos para

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brancos e 1,68 anos para negros. Esses dados só reforçam a necessidade de se pensar em estratégias para que essas diferenças sejam resolvidas. Além disso, é importante salientar que existe uma grande imobilidade educacional, ou seja, a probabilidade de um filho de pais analfabetos continuar analfabeto é muito grande, e isso afeta mais a população negra, pois, como pode ser visto nos gráficos, são os que detêm menor escolaridade.

Gráfico 7 – Anos de Estudo Negros e Brancos - Brasil

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014. Gráfico 8 – Anos de Estudo Negros e Brancos - Salvador

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014.

Analisando os gráficos 9 e 10 observa-se que entre 2002 e 2004 houve uma redução do tamanho da jornada de trabalho tanto para negros quanto para brancos. No Brasil, em 2002, brancos trabalhavam em média, 0,9 horas a mais que os negros. Já em 2014, a diferença aumentou para 1,26 horas. Entretanto, em Salvador, ocorre o oposto. Os negros trabalham mais horas semanais do que os brancos, em 2002 essa diferença era de 0,54 horas, em 2014 a diferença foi de 4,35 horas. De qualquer modo, em qualquer um dos locais e raças, a média de

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jornada de trabalho semanal da população ocupada ficou abaixo do permito por lei no Brasil, que são 44 horas por semana.

Gráfico 9 – Horas de Trabalho Semanal Negros e Brancos - Brasil

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014. Gráfico 10 – Horas de Trabalho Semanal Negros e Brancos - Salvador

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4 METODOLOGIA

A proposta é utilizar um tradicional modelo da literatura para analisar o gap salarial entre diferentes raças (Negros e Brancos) em Salvador, durante o período de 2002 até 2014 através de uma Equação Minceriana.

O modelo de salários de Mincer (1974) passou a ser adotado em estudo na área de Economia do Trabalho, é utilizado para aferir retornos a educação que o indivíduo adquiriu durante sua vida. A equação depende de fatores que são associados a escolaridade, experiência, sexo, raça, região de trabalho e características do trabalho, como o setor em que se encontra, entre outros.

Segundo Neri (2011), um dos grandes benefícios da equação Minceriana é utilizar de dois conceitos importantes em uma única equação: i) a equação que revela quanto o mercado está disposto a pagar pelos atributos produtivos do indivíduo e ii) a TIR - Taxa interna de retorno para a educação, que, como na matemática financeira, deve ser comparada com a taxa mínima de atratividade do mercado, para determinar o quanto que se deve investir em capital humano. Desta forma, o modelo de regressão mais comum de uma equação Minceriana é:

ln w = β0 + β1 educação + β2 experiência + β3 x + є (1) Onde,

1. ln w é o salário do indivíduo em log

2. β1 é o parâmetro que captura o retorno da educação no salário. A variável “educação” corresponde aos anos completos de estudo do indivíduo.

3. β2 é o parâmetro que captura o retorno da experiência no salário. A variável “experiência” é a experiência potencial e é calculada pela diferença entre idade e a idade que o indivíduo começou a trabalhar.

4. β3é o vetor de parâmetros que captura os efeitos de raça, gênero, região etc no salário. As variáveis raça, gênero, região etc são dummies construídas a partir dos microdados da PNAD.

5. O termo є é um erro que mede o componente estocástico da equação. Ou seja, tudo o que educação, experiência, raça, gênero, região não explicam no salário dos indiviudos.

Utilizando o exemplo citado por Neri (2011), a equação de Mincer é um modelo no formato log-nível, ou seja, a variável dependente está em logaritmo e as variáveis independentes estão

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em nível. Ou seja, se β1 for estimado em 0,18 isto significa que um ano a mais de estudo equivale, em média, a um aumento de 18% no salário do indivíduo. É o prêmio que se paga pelo gasto que o indivíduo teve com um ano a mais de estudo.

É importante salientar que as variáveis de controle utilizadas nesta pesquisa foram escolhidas com cuidado, pois se deve considerar que essas variáveis podem sofrer influência da discriminação, como sexo e raça.

Utilizou-se a metodologia padrão de incluir uma dummy de Raça, Setor de atividade econômica (agrícola, Industria de transformação, Construção Civil, Industria de Reparação, Administração Pública, Serviços Domésticos e outras atividades), e a Zona (Rural ou Urbana), onde o parâmetro reflete a diferença no salário entre negros e brancos levando em consideração que os indivíduos estão sob as mesmas condições. Foi estimado como experiência, a experiência potencial, ou seja, foi considerado que o indivíduo não ficou desempregado durante toda a sua vida; para tal, criou-se a variável experiência potencial (Idade – Idade com que o indivíduo começou a trabalhar). A variável educação foi considerada como anos de estudo dos indivíduos. Foram computados os dados apenas dos indivíduos que declararam estar trabalhando no momento da pesquisa, ou seja, ocupados. Todas as regressões foram aplicadas para o Brasil, Bahia excluindo Região Metropolitana de Salvador e apenas Região Metropolitana de Salvador.

Diante dessas explanações, será utilizado o método de mínimos quadrados ordinários (MQO), como apresentado em (2), (3), (4) e (5):

ln renda = β0 + β1 raça + є (2) Numa segunda estimação, foram adicionados controles para a educação do indivíduo, de modo que a equação assumiu a seguinte forma:

ln renda = β0 + β1 raça + β2 educação + є (3) Na terceira estimação foi adicionado a variável experiência potencial:

ln renda = β0 + β1 raça + β2 educação + β3 experiência potencial +є (4) Finalmente, adicionamos a variável de controle para os setores de atividade econômica dos indivíduos. Desta forma, a última estimação se deu por:

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ln renda = β0 + β1 raça + β2 educação + β3 experiência potencial + β4 setor de atividade +є (5) Serão usadas como base de dados as informações fornecidas pelo Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Os dados utilizados referem-se aos anos de 2002 até 2014. Será feita uma análise em relação a evolução ao longo dos anos dos resultados encontrados; dessa forma, haverá como perceber como a desigualdade salarial vem atuando ao longo dos últimos anos.

As regressões são feitas ano por ano, de 2002 a 2014, excluindo os anos que não existem dados da PNAD, e os resultados são apresentados graficamente como o devido desvio-padrão do parâmetro de interesse. Um ponto de extrema importância precisa ser sinalizado. Em regressões de Mínimo Quadrado Ordinário, o parâmetro estimado estabelece relação de causa quando o erro (componente estocástico) tem média condicional zero. Diversos estudos mostram que equações mincerianas produzem estimações viesadas para educação. O componente raça também é endógeno visto que características específicas de indivíduos, que não são modeladas, estão correlacionadas com a raça. Quando utilizamos educação, experiência, localidade (amostra específica de regressão) e setor de atividade econômica, estamos econometricamente limpando possíveis fontes de endogeneidade para entregar ao leitor um resultado menos endógeno possível.

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5 RESULTADOS

Este capítulo tem como objetivo apresentar os principais resultados da pesquisa obtidos a partir dos dados da PNAD de 2002 até 2014, através de uma regressão minceriana, que permitiu calcular a diferença salarial existente em indivíduos da raça negra e da raça branca. Foram adicionadas gradativamente, variáveis de controle, com a intenção de analisar o comportamento da Dummy Raça a medida em que vai se adicionando as variáveis de controle. O resultado nos permite enxergar alguns fatores interessantes em relação a divergência salarial existente entre as raças. Primeiramente, as regressões foram separadas por inclusão de variáveis de controle, permitindo que seja possível enxergar quais as variáveis que influenciam mais a variável de interesse (Diferença de salário por raças).

A varável Dummy Raça identifica a diferença percentual que uma pessoa negra ganha de salário em relação aos brancos. Em todas as regressões o resultado é uma porcentagem negativa, ou seja, em todas as situações, negros recebem um salário menor que o do branco. Nos gráficos abaixo (11) e (12) percebe-se a diferença salarial existente, sem adicionar nenhuma variável de controle. Entre 2002 e 20014, a diferença saiu de aproximadamente 53% para aproximadamente 40%, uma queda de 13 pontos percentuais no diferencial salarial entre brancos e negros. Já na RMS, os valores são ainda maiores, em 2002 a diferença era de substanciais, aproximadamente 75%, já em 2014 essa diferença cai, para, ainda elevados, 55%, resultando numa melhora de 20 pontos percentuais. Esses dados são alarmantes, principalmente se levarmos em consideração que Salvador é a cidade onde se tem mais negros do Brasil. Isso só reforça o quanto ainda precisa se investir numa melhor construção social no Brasil. A tendência linear interpolada mostra a queda do diferencial racial foi mais intensa no Brasil do que na Região Metropolitana de Salvador.

Parte dessa diferença entre negros e brancos se deve ao fato de que negros tem uma quantidade menor de anos de estudos do que os brancos e a qualidade desses anos de estudos

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também são inferiores, pois quando se tem acesso à educação, em grande maioria, são em escolas precárias e públicas. Este componente endógeno é suavizado ao se introduzir anos de estudo na regressão para se comparar com negros e brancos com a mesma escolaridade. Infelizmente a qualidade da educação não é controlada justamente pela ausência de indicadores e proxies para esta variável.

Gráfico 11 – Prêmio Racial no Brasil: Variação % no Salário por ser Branco se comparado com Negro

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014.

Observação: Valores do parâmetro da dummy racial (Branco = 1; Negro = 0), estimado separadamente por ano.

Gráfico 12 - Prêmio Racial na Região Metropolitana de Salvador: Variação % no Salário por ser Branco se comparado com o Negro

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Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014.

Observação: Valores do parâmetro da dummy racial (Branco = 1; Negro = 0), estimado separadamente por ano.

Ao logo dos anos é possível perceber avanços nos dados da educação no país; uma elevação sobre a média de anos de estudo, redução da taxa de analfabetismo, uma maior infraestrutura escolar para crianças e jovens, e o aumento no número das universidades e faculdades, tanto públicas como privadas. Essas melhorias tiveram um grande impacto na melhora do nível de renda da população tanto negra quanto branca, entretanto, ainda assim, é possível perceber que as desigualdades ainda persistem, limitando o acesso, as oportunidades e a progressão na carreira, principalmente com os negros. Estas desigualdades persistem principalmente pela baixa qualidade do acesso à educação púbica, pelas dificuldades encontradas no Ensino Médio com alta evasão escolar e pela persistência intergeracional de baixo capital humano (pais com baixa escolaridade influenciam decisivamente os filhos a terem baixo capital humano)

Segundo dados do IPEA, em 2009, 9,7% da população brasileira a partir dos 15 anos de idade não sabia nem ler nem escrever. No Nordeste a situação era ainda pior, 20,5% dos negros encontravam-se em situação de analfabetismo, contra 14,2% dos brancos.

Os resultados dos gráficos (13) e (14) indicam que a educação tem correlação positiva com a probabilidade de o indivíduo ser branco e tal correlação afeta a renda destes indivíduos na média. Ao introduzirmos a variável de controle educação (anos de estudo)

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nas regressões, percebe-se uma redução da diferença salarial do negro para o branco, tanto para o Brasil quanto na Região Metropolitana de Salvador. No Brasil, em 2002, a diferença era de pouco mais de 30%, em 2014, chegou em aproximadamente 26%, obtendo uma pequena redução de 4 pontos percentuais. Na RMS, a diferença em 2002 era de 39% e caiu para 33% em 2014. Ou seja, mesmo quando se adiciona a educação, negros recebem um salário menor. É importante observar que uma vez controlando por educação a tendência do prêmio racial (diferencial entre salário de brancos e negros) não mostra-se negativa para a Região Metropolitana de Salvador, diferente do cenário apresentado pelo Brasil com queda no coeficiente de discriminação.

Gráfico 13 – Prêmio racial no Brasil – Controla por educação

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014

Observação: Valores do parâmetro da dummy racial (Branco = 1; Negro = 0), estimado separadamente por ano.

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Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014.

Observação: Valores do parâmetro da dummy racial (Branco = 1; Negro = 0), estimado separadamente por ano.

Quando estimamos a equação com mais uma variável de controle na regressão, a experiência potencial, gráficos (15) e (16), percebe-se que o diferencial de salário entre negros e brancos diminui se compararmos com as regressões anteriores. Isto deve-se pelo fato de a variável indicadora “raça” ser endógena no modelo e, ao adicionarmos controles, estamos limpando possíveis vieses. Assim, no Brasil, em 2002, um branco ganha 25% a mais que um negro se estes indivíduos tiverem a mesma escolaridade e a mesma experiência potencial no mercado de trabalho. Em 2014, um branco ganhava 23% a mais que um negro, se ambos tivessem as mesmas características (educação e experiência potencial). Esta queda de 2 pontos percentuais, é sintetizada pela tendência da série, negativa, mostrando uma queda no coeficiente de discriminação no período analisado para o Brasil. Na RMS, na média, entre 2002 e 2014, um branco ganha 33% a mais que um negro, tendo a mesma escolaridade e a mesma experiência potencial.

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Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014

Observação: Valores do parâmetro da dummy racial (Branco = 1; Negro = 0), estimado separadamente por ano.

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Gráfico 16 - Prêmio Racial na Região Metropolitana de Salvador – Controla por Educação e Experiência

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014.

Observação: Valores do parâmetro da dummy racial (Branco = 1; Negro = 0), estimado separadamente por ano.

Para os setores de atividade da economia, foram criadas dummy para cada um dos setores. Em 2002 no Brasil, brancos inseridos na construção civil recebiam, aproximadamente, 21% a mais que negros. Já nos setores de comércio e reparação e administração pública, a diferença salarial encontrada foi de 30,70 % e 11,08%, respectivamente. Quando analisamos o ano de 2014, os setores da construção civil e comercio e reparação tiveram uma redução nas diferenças salariais do negro para o branco de 5,01% e 6,34%, respectivamente, entretanto, na administração pública a disparidade se elevou em 4,19%. Ao analisar os mesmos setores, na RMS, percebe-se que a redução na diferença salarial do negro para o branco foi muito mais acentuada do que no Brasil, conforme tabela 1. Devemos observar que, por construção, o setor público não pode praticar diferenciais discriminatórios em seus salários, uma vez que a Administração Pública é conduzida por leis de carreiras especificas. Ao analisarmos a amostra de regressão da Administração Pública, verificamos que apesar de todo o esforço para suavizar o viés da regressão, este existe. Era de se esperar que o “prêmio racial” na Adm. Pública fosse zero. Ainda existe o efeito equilíbrio de mercado de trabalho com diferenciais nas ocupações com base na distribuição racial. Ou seja, o modelo nos sugere que brancos ocupam cargos concursados com salários mais elevados que negros concursados no Setor Público, e este “prêmio racial” esteja revelando o equilíbrio destas alocações com base na distribuição racial.

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Tabela 1 – Prêmio Racial - Controla por Educação e Experiência Potencial – Por Setor de Atividade – Brasil e RMS

2002

2014

Diferença

2002

2014

Diferença

Construção Civil

21,39% 16,38% -5,01% 43,50% 24,95% -18,55%

Comércio e Reparação

30,70% 24,36% -6,34% 42,25% 25,62% -16,63%

Administração Pública

11,08% 15,27%

4,19%

34,25% 29,88% -4,37%

SETOR

Brasil

Salvador

Fonte: Elaboração Própria (2018) com base na PNAD/IBGE, 2002-2014

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho trouxe uma análise empírica sobre a desigualdade existente entre o prêmio recebido por brancos, se comparado ao salário do negro no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Salvador, com enfoque no papel da escolaridade, experiência e setor de ocupação no diferencial salarial, o que nos permite uma interpretação da realidade do mercado de trabalho quando a questão da raça está em foco. Os resultados encontrados dialogam com a literatura existente para o Brasil. São indicativos de uma diferença salarial entre negros e brancos, sendo que no Brasil, brancos recebem 23,57% a mais do que os salários dos negros, na média. Já na RMS, a diferença aumenta para 31,53%, sem levar em consideração o setor de atividade onde o indivíduo encontra-se empregado.

Podemos concluir que ao longo dos últimos anos, as diferenças entre brancos e negros no mercado de trabalho diminuíram para o Brasil como um todo, na média, mas manteve-se estável para a RMS. Quando controlamos por idade e experiência potencial, a tendência negativa para o Brasil fica mais suave e a RMS apresenta uma constância como forma de tendência entre os anos de 2002 e 2014. A assimetria se tornou menor, e diversos fatores contribuíram para isso: maior formalização do emprego, valorização do salário mínimo, o crescimento da economia brasileira a partir de 2004, expansão das universidades e políticas públicas ligadas ao ensino básico e superior, entre outros. Entretanto, ainda existe uma gritante diferença entre negros e brancos, indicando a necessidade de mais esforços nessa área.

Perante essa situação, em termos de recomendação de políticas, compete aos governos e a sociedade trabalhar em favor de políticas que reparem a situação das minorias no mercado de trabalho e na sociedade, convergindo para uma maior igualdade, não só na inserção do mercado de trabalho, mas também na igualdade de remuneração e no acesso dos negros à uma boa educação, pois, boa parte da diferença salarial consegue ser explicada devido à baixa escolaridade dos negros, por conseguinte, sofrera uma dificuldade na inserção. Por fim, é necessário permanecer com a expansão educacional, no Brasil, principalmente em regiões mais pobres, como o nordeste brasileiro.

Este estudo ainda sinaliza para a atenção acadêmica que deve ser tomada para análise de discriminação em Salvador, uma vez que o prêmio discriminatório foi maior do que no Brasil

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como um todo, além de manter-se estável ao longo do tempo e, quando analisamos a situação brasileira, mostrou uma tendência de redução no período analisado. Futuros estudos precisam entender como mecanismos discriminatórios funcionam na RMS e quais seriam as propostas de políticas públicas eficientes.

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