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Cultura Serrana: um resgate do campo na cidade

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Academic year: 2021

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U R U B I C I E O T U R I S M O

E S T U D O D A S R E L A Ç Õ E S U R B A N A S E R U R A I S C O M O T U R I S M O

(2)
(3)

1.

SUMÁRIO

2.

3.

3.1 3.2 3.3 3.1.1 3.1.2 3.1.3 3.1.4 3.1.5

4.

5.

6.

Introdução História Desenvolvimento Econômico Ciclo da madeira

As Semestes do Vale do Canoas “Terra das Hortaliças” Maçã

Cooperativismo

Criação Bovina

Leis Sanitárias

Urubici como polo Turístico Análise Urbana

Realidade Social Bibliografia

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1.

INTRODUÇÃO

“A cidade, compreendida aqui como a maior configuração espacial de relações sociais, constitui-se num palco de disputa territoriais de diferentes naturezas: econômicas, políticas, religiosas. O território urbano expressa seus interesses e conflitos por meio de uma complexidade de ações e objetos das mais diversas

configurações e simbologias.

O turismo compõe esse quadro de complexidade socioespacial e tam-bém deixa suas marcas no território urbano. Normalmente aliadas a interesses econômicos ou mesmo políticos, as atividades de natureza turística se impõem aos interesses locais, criando territórios delimitados ou mesmo territorialidades

claramente percebidas.” (SOTRATTI, 2014)

Nos últimos dez anos Urubici têm ganho as mídias nacionais devido ao inverno rigoroso com temperaturas negativas e assim conquistado milhares de admiradores. São pessoas que vêm à cidade a fim de sentir o frio intenso na pele e de brinde depara-se com a natureza exuberante e o ecoturismo em ascensão. São muitos visitantes a cada ano, que acabam justificando por parte da prefeitura o cresci-mento desordenado e acelerado. São mais de 3000 leitos criados desde então (estimativa da Prefeitura Municipal de Urubici). O que o poder público deixa de explicar são os números altos de famílias que vivem na pobreza ou pobreza extrema. São duas faces do mesmo município que não se correspondem e são extremamente contraditórias. Enquanto uma abusa de tudo que a cidade pode oferecer, a outra permanece esquecida a mercê dos programas de auxílio do Governo Federal.

A agropecuária e o turismo são, hoje, as principais atividades econômicas, sendo a agricultura a primeira e principal desde a descoberta das terras férteis do vale do Rio Canoas. Urubici já foi conhecido

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pelas suas lavouras de hortaliças. Atualmente não é o principal produtor do estado, mas ainda assim muitas famílias vivem do trabalho com a terra. Novos produtos foram trazidos e se adaptaram bem nos últimos anos, enriquecendo ainda mais a oferta de itens. Mesmo com esses investimentos, pe-quenas propriedades e o trabalho familiar domina o cenário da região.

Sendo assim este trabalho não pretende negar a realidade turística e sim vir a integrar todo esse potencial como forma de desenvolvimento econômico e social para a população. A partir da premissa do turismo sustentável, observando sempre uma distribuição mais igualitária, principal-mente aos moradores que vivem a margem da sociedade. Para tal, constatou-se que retomar as raíz-es do povo urubiciense a partir das suas relaçõraíz-es com a terra, ou seja, uma maior valorização das produções e dos próprios agricultores gera a uma identidade que atraia mais visitantes. Segundo Santos (2014), a identidade territorial é uma característica cada vez mais importante na valorização dos lugares e destinos turísticos, pois o que o visitante procura consumir hoje em dia são experiênc-ias, arreigadas a práticas de lazer, diversão e sociabilidade.

A partir do minucioso estudo da cidade, levando em conta sua história, desenvolvimento econômico, análise urbana e realidade social, acredita-se que muito pode ser feito para que haja um efetivo desenvolvimento humano e social a partir do turismo. As localidades rurais podem ser incor-poradas dentro de uma rede de turismo a partir da exploração sustentável do território onde estão inseridas, sendo cada uma peculiar a sua maneira. Dentro da cidade o investimento precisa ser feito para que não só o turista, mas como também toda a população possa desfrutar de novas áreas de la-zer e atividades culturais. A valorização do agricultor e dos produtos locais pretende ser a chave para a retomada dessa identidade. Ao mesmo tempo em que não se deseja que essas novas ações urba-nísticas, promovidas pela atividade turística e política, deixem toda a diversidade histórica, social e cultural, a fim de construírem uma cidade com imagem estereotipada de moderna, viva e reciclada como diz Sotratti (2014).

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Há 3000 anos foram registrados os primeiros habitantes da serra catarinense. Eram indígenas descendentes da tribo Jê, Xokleng, Kaygang e em quantidade menor, os Guaranis. O nome da pequena cidade localizada no vale já tinha sido dado por eles, e segundo a lenda quer dizer “ave assada” – URU, ave e BICI, assado. Dentre muitas tradições locais deixadas por nossos antepassados, podemos encon-trar inúmeros sítios arqueológicos, entretanto, apenas 39 deles estão registrados no IPHAN, isso se deve principalmente pela má conservação dos mesmos, uma vez que a maioria está localizada em terra par-ticular, destinada a outro fim. À medida que as expedições de desbravadores portugueses avançavam para o planalto catarinense, eram os Guaranis que os guiavam. A partir da abertura desses caminhos, começaram a se instalar os mais diversos descendentes nas terras serranas, também usadas pelos tro-peiros que vinham do sul.

No século XVIII a mineração tornou-se a principal fonte de renda da colônia portuguesa, e para abastecer os trabalhadores foi necessário criar os caminhos das tropas que levavam o gado do sul até o sudeste. Devido aos altos custos de levar o rebanho pelo litoral brasileiro, foi necessário abrir caminhos por dentro do planalto: “... partia dos campos de Viamão (RS), seguia rumo ao norte até alcançar os cam-pos de Vacaria, atravessava o rio Pelotas, dirigia-se aos camcam-pos de Lages e aos camcam-pos de Curitibanos, cruzava os rios Negro e Iguaçu, passava por Curitiba ou Ponta Grossa (PR) e chegava a Sorocaba (SP), onde era negociado.” (Buratto et al., 2010) Os acampamentos estabelecidos ao longo do caminho das tropas, para descanso e invernada do gado, foram onde surgiram os primeiros moradores permanentes.

Por volta de 1771, o capitão-geral da Capitânia de São Paulo fundou a povoação de Lages. Nessa época, houve uma preocupação em povoar as terras que iam do litoral até o planalto, mesmas terras que faziam parte do território Xokleng. O desinteresse econômico da população que habitava no li-toral, fez com que os índios permanecessem até 1824 sem nenhuma interferência branca. Nesse ano chegaram às “... frentes de colonização alemã e italiana, que se estabeleceram simultaneamente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. A ocupação se estendeu e não demorou muito para que os índios Xokleng fossem cercados por todos os lados e confinados a uma área insuficiente para

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sobreviver.” (Buratto et al., 2010) Dessa forma desencadeou uma série de conflitos entre os indígenas e os colonizadores devido à falta de alimentos, em razão da demarcação segundo a Lei de Terras de 1850. Para impedir a evasão dos colonizadores, o governo interviu criando as guardas militares, os bugreiros, que exterminavam os índios e expandiam a colonização.

“Especializados na captura e no extermínio de indígenas, os bugreiros eram pagos pelo governo, pelas companhias de colonização ou pelos próprios fazen-deiros para realizar “batidas” de modo mais bárbaro e assassinando centenas de

índios.”

(Paula 1924, citado em Santos 1970)

A proclamação da República desencadeou diversos conflitos políticos que culminaram na Revolução de 1893. As cidades do sul do Brasil ficaram divididas entre: “... ‘maragatos’, federalistas opositores ao governo de Floriano, e ‘pica-paus’, denominação dada às tropas legais, florianistas e republicanas.” (Buratto et al., 2010) Na cidade de Tubarão (SC) não foi diferente, levando Manoel Sa-turnino de Souza e Oliveira, um maragato, a abandonar sua cidade natal, dominada por pica-paus. Na sua jornada para encontrar terras seguras, deparou-se com as margens do rio Urubici e constatou que seria um bom lugar para construir seu rancho. No ano seguinte, sua família se mudaria para a região e com eles outros primeiros moradores também viriam. A notícia das novas terras férteis se espalhou e muitos interessados chegaram, dentre eles criminosos fugitivos a procura de esconderijo, escravos recém libertos que fundaram as primeiras roças no atual bairro de Águas Brancas, e bugrei-ros oferecendo seus serviços.

“ Nos anos seguintes, a ocupação efetiva de Urubici prosseguiu com a chegada de pessoas até então residentes em São Joaquim e de imigrantes procedentes principalmente do litoral e das encostas do sul catarinense. Os pioneiros, como Manoel Saturnino, eram luso-brasileiros. Diferentemente das cidades do litoral,

onde a colonização foi promovida pelo Estado e por empresas privadas, em Urubici a ocupação aconteceu por livre iniciativa.”

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Depois de 1920 chegaram os colonos de origem alemã e italiana vindos de outras regiões de Santa Catarina, a maioria era composta por descendentes de imigrantes, que vieram para o Brasil duran-te a campanha de colonização do século XIX. Cinco anos mais tarde, grupos de imigranduran-tes de origens le-tos começaram a ocupar o bairro Esquina e arredores, dedicando-se a produção de hortifrutigranjeiros. “Atualmente, Urubici é formado por descendentes de diferentes grupos étnicos,

tais como portugueses, espanhóis, italianos, alemães, letos, africanos e indíg-enas. Diferentemente de outros municípios de Santa Catarina, que construíram sua imagem em torno da colonização europeia, como é o caso de Joinville, Blu-menau e Brusque, a colonização de Urubici contou com participação significati-va de afrodescendentes e indígenas, gerando uma população étnica e cultural-mente miscigenada. O fato de a cidade ter servido de destino secundário para imigrantes já abrasileirados e residentes em outras regiões do Estado ajuda a explicar por que Urubici não manteve muitas das tradições europeias de seus

antepassados.” (Buratto et al., 2010)

O município de São Joaquim foi criado em 1887, recebendo do governo do Estado uma gran-de parcela gran-de terras da serra catarinense, gran-dentre as quais estava localizado Urubici. Em 1915, Urubici tornou-se vila e em 1922, pela Lei Municipal 158/22 foi promovido a distrito. A partir de então surge uma figura política chamada intendente que atuavam dentro do governo local como representante da prefeitura de São Joaquim. As políticas do Estado Novo, responsável pela nomeação dos inten-dentes, desagradavam às lideranças locais; os entraves causados pelas disputas territoriais após a fundação de Bom Retiro em 1923 e o desenvolvimento da indústria madeireira, que atraiu muitas pessoas para a região, começaram a despertar a identidade local da população que clamava pela emancipação.

“O número de habitantes dobrou em apenas dez anos, saltando de 4.954 em 1950 para 10.505 em 1960. Com isso, houve também um aumento da demanda

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Nas eleições de 1954, quatro vereadores de São Joaquim eram de Urubici. Eles elaboraram um projeto de lei que incluía, além da emancipação da cidade, o território de Urupema dentro seus limi-tes. Era um projeto ousado, que só teve força política para continuar devido ao deputado estadual Edmundo Ribeiro Rodrigues, conterrâneo dos vereadores, eleito em 1956. Em agosto desse mesmo ano, A Câmara Municipal aprovou a Resolução autorizando o desmembramento do distrito. E em 3 de fevereiro de 1957 foi fundado o munícipio de Urubici.

“Em sua atual configuração, o município de Urubici possui uma área de 1003 km2 e está integrado à microrregião dos Campos de Lages. Limita-se com os municípios de Bom Retiro, ao norte; Bom Jardim da Serra, Orleans e São Joa-quim, ao sul; Anitápolis, Grão-Pará, Rio Fortuna e Santa Rosa de Lima, a leste; e Rio Rufino, a oeste. O município está localizado a 113 km em linha reta da capi-tal, Florianópolis a 28°00’48’’ de latitude sul e 49°35’22’’ de longitude oeste. (...) A

cidade é cortada por duas rodovias estaduais. A SC-430 corta a cidade de norte a sul. No trecho norte, sobre a Serra do Panelão e liga Urubici a BR-282, em Bom Retiro. No trecho sul, liga Urubici a São Joaquim. (...) A SC-439, por outro lado, corta o município de leste a oeste. No trecho leste, (...) sobe o vale do Rio Canoas, corta a Serra do Corvo Branco e faz ligação da cidade com Grão-Pará e de lá, como litoral sul catarinense. No trecho oeste, (...) acompanha o vale do rio

Canoas até o município de Rio Rufino.” (Buratto et al., 2010)

a São Joaquim, que nomeava coletores de impostos no distrito, mas não supria as necessidades crescentes da localidade em expansão.”

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Florianópolis

Urubici

Lages

São Joaquim

Lauro Müller

Tubarão

BR 282 SC110 BR 475 SC 390 Legenda: Estrada Pavimentada Estrada não Pavimentada

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Com o aumento da população, viu-se a necessidade da exploração do pinheiro para a con-strução das casas, sendo a araucária a maior vítima. As primeiras serrarias foram construídas pelos pioneiros da extração da madeira. Entretanto, a principal economia da cidade na época ainda era a pecuária e a agricultura de subsistência. Para os proprietários de terras, a araucária era vista, e ainda é, como um estorvo para o campo, porque da árvore caem as grimpas, pequenos galhos com folhas pontiagudas que machucam os animais e sujam os terrenos. Muitos deles faziam cortes em forma de anel na casca da árvore deixando-as sem vida para apodrecer com o tempo.

Nos anos 1930, Urubici possuía cerca de 10 serrarias. Esse número triplicou com a abertura das rodovias SC-282 e BR-116 ligando a região a Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. As consequênc-ias da segunda Guerra Mundial no final dos anos 1940, o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek e a construção da nova capital federal impulsionaram ainda mais a economia madeireira em Santa Ca-tarina. Lages se tornou o principal polo de exploração da madeira e Urubici contribuía a esse posto. Em 1950, a cidade contava com 34 serrarias que atraíam cada vez mais novos investidores externos interessados em compras de áreas com pinheiros.

“O ciclo da madeira atingiu seu auge nas décadas de 1960 e 1970. Paralelamen-te, a economia de Urubici se desenvolveu e se diversificou. Além de indústrias ligadas à exploração madeireira, como laminadoras e fábricas de pasta

mecân-ica para papel, foram abertas também casas comerciais e até um cinema.” (Buratto et al., 2010)

3.

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

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No final dos anos 1970 as reservas de pinheiros já estavam esgotadas, ao mesmo tempo cre-sceu o uso da madeira de pinheiros exóticos, como o pinus canadenses, na indústria da construção civil e fabricação de caixas para exportação de frutas. Em Urubici muitas serrarias fecharam, seus donos sentiram a necessidade de mudar de ramo ou até mesmo ir embora da cidade em busca de novas oportunidades. Tudo isso se deve a falta de visão do futuro e a exploração extensiva que levou ao esgotamento natural das matas de araucária. Em 1978 o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal começou a exigir a reposição total da araucária, por parte dos exploradores da madeira. En-tretanto a partir dos anos 1980, a indústria madeireira tentava se fortalecer na cidade aproveitando brechas da lei. Enfim, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, em 1990 baixou o decreto e regulamentação proibindo o corte da araucária em Santa Catarina. Hoje em dia, a indústria madeireira da serra catarinense utiliza árvores exóticas para sua exploração, contudo, o reflorestamento de áreas com esse tipo de planta causa danos à biodiversidade local.

O rio Canoas é um dos afluentes do rio Uruguai e compõe a bacia do Prata. Sua relevância para o munícipio aparece com o descobrimento das terras férteis que o cercam, feita pelos primeiros moradores, descendentes de imigrantes que ainda procuravam em Santa Catarina, terras produtivas para suas lavouras. As primeiras famílias produziam basicamente para subsistência, mas se algo exce-dia era carregado por mulas, para serem vendidos em localidades vizinhas.

Até os anos 2000 a produção agropecuária urubiciense se resumia a hortaliças, pomares de frutas como maçã, ameixa, quiuí e caqui, além da criação de gado de corte e a produção leiteira. Com a expansão turística e a chegada de novos investidores, percebeu-se que o potencial das terras do vale do Canoas podiam frutificar novos horizontes. Apesar do cultivo de uvas ter se iniciado com os descendentes de imigrantes italianos, foi a produção de uvas finas de altitude para a fabricação de vinhos que cresceu e hoje possui duas marcas: Serra do Sol e Dom Cervantes, todos industrializados em vinícolas de outras regiões. Ainda há quem produza uvas comuns para a fabricação artesanal de sucos e vinhos. Todavia, encontram-se problemas com órgãos da fiscalização sanitária e leis de produção que exigem certo investimento inicial para regularização dos espaços de fabricação e en-velhecimento, muitos produtores não conseguem ir adiante e acabam desistindo ou vendendo suas uvas para quem possui tais recursos.

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O clima frio no inverno e ameno no verão combinados com a abundância de água e as terras montanhosas fazem com que Urubici e a serra catarinense sejam ótimos lugares para o cultivo de frutas finas como amoras, fisalis, framboesas, morangos e mirtilos. Estas são consideradas frutas finas porque exigem um manejo com muito cuidado. Elas fazem parte do projeto frutas finas que existe desde 2015 e pretende levar a cultura da agricultura orgânica às pequenas propriedades, como for-ma de aumentar a renda das famílias. São colhidas durante quase todo o verão e outono, higieniza-das e embalahigieniza-das por uma agroindústria especializada, e posteriormente são vendihigieniza-das nos mercados da grande Florianópolis, além de restaurantes especializados. Com algumas são feitas geleias que encantam os turistas. Outro produto introduzido pelos novos migrantes é o shitake, cultivado pelo Sítio Aiki, e também vendido para mercados e restaurantes fora da cidade. Todos eles têm algo em comum: não são conhecidos pela maioria da população do município, já que não são comuns e nem possuem preços acessíveis. Contudo ainda há outro ponto que impede o contato, a falta de nego-ciação dos produtores com os comerciantes locais, ainda mais se considerarmos a reduzida demanda local.

A biodiversidade da região oferece aos habitantes, desde os primórdios, alimentos que já fa-zem parte da cultura serrana e hoje são traduzidos dentro da culinária como símbolos desse povo. O pinhão, semente que sustenta o serrano durante o inverno, é considerado um dos principais. Cozido ou assado, ele surpreende em vários pratos: paçoca de pinhão, entrevero, pinhão cozido, na chapa ou até mesmo a sapecada. A Lei Estadual Nº 15.457/2011 permite que a colheita da semente seja feita a partir do dia 1º de abril, antes disso deve ser destinado à fauna que se alimenta do mesmo. Durante o período de colheita que duram dois a três meses, além de nutrir grande parte da população local e dos turistas, o pinhão ainda serve como renda extra às famílias que se dedicam a procurar as pinhas e coletá-las da natureza. O poder público não possui nenhum controle sobre quem faz a colheita, devido a isso ocorre invasões às propriedades e os pinhões roubados são vendidos de forma ilegal na beira das estradas.

A erva-mate, nativa da mata das araucárias, é um estimulante conhecido pelos guaranis e en-sinado aos colonizadores. Suas folhas, depois de secas e trituradas, são usadas para fazer o chimarrão. O seu extrativismo estimulou a abertura da Ervateira Urubici Ltda nos anos 1980, que leva as folhas catarinenses e o nome da cidade às diversas regiões do país. Além da erva, o mel urubiciense foi ou-tro propulsor do desenvolvimento econômico da cidade nos anos 1990, quando foi fundada a Api Silvestre, empresa que processava e vendia mel e derivados. Comprado de apicultores locais, o mel chegou a ter selo orgânico e foi exportado para a Europa, no auge da empresa. Devido a embargos e

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a valorização do real em frente ao dólar, a Api Silvestre acabou sendo vendida a Coopasc (Cooperati-va Apícola de Santa Catarina), que não esta mais em atividade. A produção atual, segunda maior do estado, é comercializada para grandes empresas do litoral, no entanto há na cidade o mel artesanal, vendido na loja de produtos artesanais: Arte e Mel.

A criação de trutas, truticultura, iniciou no município em 1980 aproveitando as águas geladas (temperatura inferior a 20o C), sempre correntes e terrenos montanhosos que agradam tal peixe, originário dos Estados Unidos e Canadá. A cidade já chegou a ter dois criadores, porém devido à contaminação das águas, um deles está aguardando o fim do processo judicial para retornar as ativi-dades. O maior criadouro possui frigorífico com selo SIF (Serviço de Inspeção Federal que garante a qualidade dos produtos animais) para o beneficiamento da carne. Há dois anos a Secretária de Turi-smo, Indústria e Comércio juntamente com a Pouserra (Associação das Pousadas) realiza durante as primeiras semanas da primavera o Festival Gastronômico e a Fenatruta, com o objetivo de valorizar a culinária serrana e os produtos locais, participaram do evento 15 restaurantes no ano de 2017.

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O agronegócio só passou a ser fonte de renda para os pequenos agricultores da serra através da vinda dos irmãos paulistas Antônio e Horácio Hirata, descendentes de japoneses, que iniciaram suas plantações de tomate por meados dos anos 1950. Até então, o pouco de batata, feijão, trigo e milho que era produzido servia principalmente para a subsistência e seu excedente era vendido aos comerciantes locais. Já produção dos irmãos Hirata era vendida ao Mercado Público de Porto Alegre (RS) e devido ao sucesso dos negócios, em 1957, “...passaram a somente comprar e vender a produção de terceiros: levavam tomate e batata de caminhão para Porto Alegre e traziam encomendas para Urubici.” (Buratto et al., 2010). O cultivo de tomate cresceu dos anos 1960 até 1980 quando perdeu espaços para outras hortaliças como cenoura, beterraba, feijão de vagem, couve flor, pimentão e repolho. Além das plantações atuais terem diminuído, os resultados ruins da cooperativa de produto-res da cidade, a Coopervale, o investimento de outros municípios na olericultura, pois foram criadas variedades de hortaliças adaptadas aos climas quentes, ajudaram na redução da produção na cida-de.

Depois da inserção do cultivo de tomate e outros produtos, o interesse pelo plantio cresceu. A quantidade variada de hortaliças e de oleirícolas, plantas de ciclo rápido de maturação, alta produti-vidade e alta perecibilidade, fizeram com que Urubici fosse reconhecido como “Terra das Hortaliças”, a partir dos anos 1980. Desde então a cidade festeja o título com a Festa Nacional das Hortaliças, que acontece em meados de março. Contudo, apesar de ainda ser produzido abobrinha, alface, ba-tata, beterraba, brócolis, cenoura, cebola, couve-flor, feijão-de-vagem, milho, moranga, pimentão e repolho, o município perdeu seu posto de maior produtor para Antônio Carlos. As terras que antes eram dedicadas à horticultura, hoje se destinam a produção de milho para a alimentação do rebanho leiteiro, que cresceu muitos nos últimos anos, e para o turismo rural.

Santa Catarina é caracterizada por um sistema de minifúndios, herança do período colonial em que pequenas propriedades eram partilhadas para as famílias que cultivavam principalmente

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para a subsistência. Apesar das maiores fazendas, que são localizadas na região mais alta do muni-cípio, onde há a criação extensiva de gado de corte, a maior parte da população de Urubici ainda faz parte do sistema de minifúndios. Sendo assim, a maioria das hortaliças é de produção familiar, diversificada e em pequenas propriedades situadas nas várzeas do Rio Canoas, de onde vem a água para a irrigação das lavouras. Produção variada retrata o município devido ao sistema de produção particular de cada propriedade, ou a complementação da renda junto à criação de gado e o cultivo do alimento do animal. Dessa forma, pode-se considerar que a maioria das terras é de policulturas e suas vantagens são inúmeras. Segundo Altieri (2013), as perdas advindas de espécies daninhas, insetos e doenças são compensados pela presença de diversas espécies que utilizam dos recursos disponíveis – água luz e nutrientes, de maneira mais eficaz. Porém, a quantidade de hectares desti-nados ao plantio de hortaliças é bem menor do que há vinte e cinco anos atrás. Isso ocorreu princi-palmente pela forma com que os produtos são comercializados e pela grande distância dos maiores centros consumidores.

Existe um sistema enraizado por toda a região serrana na forma com que os produtos saem das lavouras e chegam ao consumidor. Esse nicho de mercado está dominado por caminhoneiros que compram as hortaliças a preços mínimos e revendem nos grandes centros a preços máximos, os chamados atravessadores. São eles que detêm os meios de transporte, os contatos comerciais e lida-riam com possíveis imprevistos, além de obter o maior lucro. Esse tipo de comercialização das safras iniciou com os irmãos Hirata que revendiam tomates e batatas ao Mercado Público de Porto Alegre e desde então domina o cenário urubiciense. Porém, alguns problemas surgiram com os atravessa-dores como a desvalorização dos próprios agricultores já que não recebem os lucros da produção de maneira justa, e também das frutas e verduras que não são negociadas pela região, aumentando os riscos de perda devido às inúmeras viagens até o destino final de comercialização. Nem todos os lugares usam esse tipo de jogada comercial. Altieri (2013) diz que nos Estados Unidos a boa lucrati-vidade está na negociação direta dos pequenos agricultores e o público, restaurantes e mercados, contornando os atravessadores. Dessa forma podem obter um melhor preço, principalmente se o cultivo for orgânico.

A figura abaixo descreve as viagens por quais os produtos precisam passar, hoje em dia, para chegarem à mesa dos consumidores de Urubici e região. Eles são trazidos diretos das lavouras para o Ceasa da grande Florianópolis onde são revendidos. Para retornarem, as verdureiras e mercados encomendam, através de terceiros, levas de produtos específicos dentre os quais já englobam outras hortaliças e frutas que não são produzidas na cidade. Dessa forma o cidadão as encontra, nem

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sem-pre nas melhores condições e com certeza não pelos melhores sem-preços, afinal agrega-se ao valor final todas as viagens feitas, mão-de-obra para carregar e descarregar os produtos e o trabalho na lavoura.

CEASA FLORIANÓPOLIS VERDUREIRA

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Outro fruto que se adaptou bem ao clima frio da região é a maçã. Há registros de pomares de-sde os anos 1930, dos quais até os anos 1970 era artesanal e para subsistência. Nessa década houve um salto na produção de maçãs com a chegada dos engenheiros agrônomos da Acaresc (Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina, hoje em dia Epagri) Lineu Schneider e Aro Nomura. Os seus trabalhos se resumiam no incentivo e educação dos agricultores e pecuaristas da região. Foi com a ajuda deles que iniciaram a produção de pomares comerciais financiados com recursos fede-rais. O resultado das primeiras colheitas foi tão promissor, que cada vez atraíram mais investidores. Segundo a Epagri (Cepa,2016), a grande maioria (70%) da economia dos munícipios da região de altitude da Serra Catarinense, do qual fazem parte além de Urubici, São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Urupema e Rio Rufino, provém da cultura da maçã. Toda a região possui 12,319 mil hectares de pomares da fruta, para 2,783 mil fruticultores que colhem cerca de 430 mil toneladas por ano. Além da maçã, ainda encontramos pomares de ameixa, caqui, pera, pêssego, uva e quiuí, mas em menores quantidades.

A produção de maçã é um processo diferente das hortaliças, leva mais tempo para dar frutos e exige também um cuidado maior. Normalmente, o agricultor interessado em iniciar sua produção compra os pés de macieira já enxertados e depois de plantados, levam cerca de 2 a 4 anos para darem frutos. Problemas como as pragas ou o granizo impõem ao produtor cuidados específicos como o uso de pesticidas ou o cobrimento dos pomares com telas especiais, gerando um custo elevado para o inve-stimento começar a dar lucro.

Quando a fruta cresce e amadurece, tornando apetitosa para o consumo vem a época das colheitas. A variedade da maçã gala é colhida de fevereiro a março, já a fuji é de março a abril. Duran-te esses meses, devido à alta demanda de mão-de-obra, muitos proprietários buscam empregados temporários em outros estados. No final da safra, os trabalhadores são levados às suas cidades e a maçã é colocada em câmaras frias para ficar armazenada durante o ano todo. Dessa forma os pro- dutores garantem o melhor preço durante a entre safra, controlando as quantidades de maçã que chegam ao mercado.

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Câmaras frias são construções nas quais se armazenam frutas e verduras a temperaturas específicas constantes, controlam a umidade relativa e a circulação do ar, além da composição quím-ica dos gases emanados do processo, com o objetivo de retardar o amadurecimento, no caso princi-pal de Urubici, das maçãs. Antes das frutas serem colocadas nas câmaras, é necessário que se faça a classificação das amostras de cada lote, para determinar quais serão vendidas a preços mais elevados devido a um melhor estado de aparência e/ou tamanho. Logo após, as maçãs são empilhadas dentro das câmaras frias em bins, caixas de madeiras com tamanho e características específicas para esse processo. Os produtores com maior poder aquisitivo costumam ter suas próprias câmaras e compram os frutos dos que não possuem, assim estão preparados para o período da entre safra. Há alguns anos havia uma associação de produtores, a Coopervale, na qual fazia a classificação e armazenamento das frutas nas dependências do antigo Mercado do Produtor, uma alternativa para os pequenos agri-cultores.

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O Mercado do Produtor do Vale do Canoas nasceu devido à organização da sociedade urubi-ciense junto com a Secretária de Estado da Agricultura e o programa federal Pro-Hort (Programa de Apoio à Produção e Comercialização de Produtos Hortigranjeiros) que oferecia recursos para a insta-lação de Ceasas e Mercados do Produtor.

“Emílio Ribeiro Neto foi o primeiro e único gerente do Mercado (1977-1981). Se-gundo Ribeiro Neto, os produtores locais mostraram-se otimistas com a iniciati-va, uma vez que seu objetivo era encurtar o processo de intermediação, viabi-lizar a comercialização na própria área de produção e propiciar condições para

classificar e embalar os produtos. De fato, poucos anos após a inauguração do Mercado, câmaras frias e máquinas classificadoras foram adquiridas com verbas

do Pró-Infra I, programa do governo federal para secretárias de agricultura dos Estados. Esses equipamentos permitiram processar, classificar e embalar

horta-liças para enviá-las à Ceagesp, na cidade de São Paulo, o principal destino das hortaliças urubicienses na época. O tomate, em particular, era o item de maior peso nas transações: Urubici produzia quase um terço do tomate catarinense

quando o Mercado do Produtor foi instalado.” (Buratto et al., 2010)

Para obterem melhores resultados, os agricultores observaram que se fossem organizados as vantagens com compras de defensivos agrícolas e até a distribuição de seus produtos renderiam maiores lucros. Fundou-se então em 1980 a Cooperativa Regional Agropecuária do Vale do Canoas Ltda, a Coopervale, instalada nas dependências do Mercado do Produtor, com o estimulo da antiga ACARESC. A ela pertenciam uma agropecuária e máquinas classificadoras de hortaliças e maçãs, além de possuir cerca de 280 associados em seu ápice. Todos os lucros e os eventuais prejuízos

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eram repassados aos agricultores o que ocasionou algumas dúvidas e conflitos. Somados à queda da produção agrícola da cidade e a rejeição de produtos nos destinos finais, incentivaram alguns produ-tores a comprarem sozinhos, ou em sociedades, máquinas classificadoras e pequenas câmaras frias, deixando a cooperativa e o mercado do produtor em escassez e abrindo um novo nicho de mercado aos atacadista, que até hoje transportam os produtos até os pontos de venda. Para obterem melho-res melho-resultados, os agricultomelho-res observaram que se fossem organizados as vantagens com compras de defensivos agrícolas e até a distribuição de seus produtos renderiam maiores lucros. Fundou-se então em 1980 a Cooperativa Regional Agropecuária do Vale do Canoas Ltda, a Coopervale, instalada nas dependên- cias do Mercado do Produtor, com o estimulo da antiga ACARESC. A ela pertenciam uma agropecuária e máquinas classificadoras de hortaliças e maçãs, além de possuir cerca de 280 associados em seu ápice. Todos os lucros e os eventuais prejuízos eram repassados aos agricultores o que ocasionou algumas dúvidas e conflitos. Somados à queda da produção agrícola da cidade e a rejeição de produtos nos destinos finais, incentivaram alguns produtores a comprarem sozinhos, ou em sociedades, máquinas classificadoras e pequenas câmaras frias, deixando a cooperativa e o mercado do produtor em escassez e abrindo um novo nicho de mercado aos atacadista, que até hoje transportam os produtos até os pontos de venda.

Os poucos sócios remanescentes decidiram em 1999 reduzir o foco de trabalho apenas para maçã e ameixa. Construíram câmara fria e compraram máquina classificadora a fim de melhorar a pro-dução, com isso acabaram ampliando os negócios para pessoas externas que alugavam os serviços da cooperativa. Atualmente a Coopervale não opera mais. Nesse meio tempo, parte do mercado foi cedida para outras finalidades como a Sementeira Agroindustrial de Urubici, apoiada pelo SEBRAE, um entreposto de mel da Api Silvestre, uma empresa de laticínios, outra de salgados, agência sani-tária municipal, entre outros. Atualmente o terreno, antes cedido para prefeitura foi doado ao SESC da cidade que possui um projeto para construção de instalações de apoio ao turismo. As edificações do mercado do produtor encontram-se abandonadas, com caixas de maçã vazias e vestígios de mel que pouco relembra os tempos das grandes colheitas de hortaliças.

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A pecuária é uma atividade comum nas comunidades rurais de Urubici, sendo produzida de duas maneiras: para consumo próprio e também a pecuária extensiva. As propriedades que criam animais para o consumo próprio geralmente são pequenas e com poucos animais. Ao contrário das grandes propriedades da pecuária extensiva que atualmente possui 584 bovinocultores com aproxi-madamente 29600 animais (dados retirados da Epagri). Contudo essas cabeças de gado são vendidas para abatedouros de fora da cidade, perdendo o valor que seria agregado ao preço da carne com o seu beneficiamento. Um bom exemplo é o frescal serrano, uma técnica de cura da carne herdada dos tropeiros que consiste na salga e a sua exposição ao sereno por determinado período. Dessa forma a carne torna-se mais macia e possui um sabor inigualável.

Diferentemente da pecuária extensiva em que a maior parte dos produtores possui um ma-ior poder aquisitivo, a produção de gado leiteiro pode ser feito com poucas cabeças, em pequenas propriedades. Hoje em dia a maioria do leite produzido pelas 5092 vacas (dados retirados da Epagri) do munícipio é vendido para empresas que o pasteurizam e revendem em supermercados, todas de acordo com as leis sanitárias. Até 2009 a cidade possuía uma empresa de laticínios que beneficiava diariamente cerca de 5000 litros de leite em 500 kg de queijos variados e outros produtos (Dados reti-rados do livro Urubici e suas Belezas Naturais – Uma história da serra catarinense. Buratto et al.,2010). Por problemas administrativos, a empresa encerrou suas atividades.

A culinária serrana tem como principal característica a simplicidade da vida no campo. Tudo que vai à mesa de um serrano veio do mesmo lugar que o cerca, utiliza-se daquilo que está à mão e normalmente tudo é transformado antes que seja decidido que não serve mais para o consumo. A ro-sca de coalhada é um prato típico, encontrado apenas nesta região, que usa a coalhada do leite como principal ingrediente. Além da coalhada, existem outros derivados do leite e o próprio leite que são populares e comumente produzidos como o doce de leite, a nata, a manteiga e o queijo. Entretanto, esse tipo de produção, considerada artesanal, encontra dificuldades de se manter devido à falta de legislação especifica e aos diversos órgãos que fiscalizam. Sendo assim, sem o selo SIF – Serviço de Inspeção Federal, os produtos são vendidos aos consumidores de forma ilegal em muitos mercados da cidade. O queijo artesanal serrano é uma exceção, pois desde setembro de 2016 há uma legislação

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que permite a sua produção e comercialização, desde que sejam cumpridos os itens exigidos segun-do a Lei No 17.003.

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Um dos principais problemas atualmente encontrados por pequenos produtores são as rígidas leis sanitárias que são benéficas às grandes agroin-dústrias e aos consumidores, pois garantem a qualidade dos produtos. As nor-mas a serem consultadas fazem parte do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal, instituído por decreto em 1952, que foi atualizado no ano de 2017 a fim de que se tornasse um decreto mais mo-derno e que satisfizesse as necessidades da agroindústria brasileira. Dentro de Santa Catarina, existem ainda as leis da CIDASC, Companhia Integrada de De-senvolvimento Agrícola de Santa Catarina, que fornece desde 1997 as regras vigentes até hoje, além de existir ainda as leis sanitárias municipais. Entretanto nenhuma delas abrange a produção artesanal e os processos tradicionais do povo catarinense, deixando a mercê de leis que exigem investimento alto para a padronização dos feitios. Há uma tentativa de modernizar os estabelecimentos de pequeno porte, considerados aqueles com até 250 m2, porém corre a passos lentos e com pouca interatividade com o público realmente interessado, pois a consulta é feita por meio digital e a maioria dos produtores rurais não tem aces-so à internet.

Produtos como o frescal, charque, queijo colonial, coalhada, geleias, vinhos, sucos e outros, de origem animal e vegetal são barrados e proibidos de serem produzidos. Para o pequeno produtor que vê esses produtos como uma alternativa para o aumento na renda familiar, desestimula-se a continuar suas atividades devido aos grandes investimentos em regularização dos am-bientes de fabricação. Algumas técnicas herdadas dos antepassados também estão ameaçadas com as exigên- cias das leis sanitárias. Além disso, não há uma negociação entre a Agência Sanitária e os produtores intermediados pelo poder público do munícipio, que poderia apoiá-los. Dessa forma, a história urubicien-se ligada a terra e a produção de alimentos está fadada ao fracasso já que tende a desaparecer com a sua desvalorização frente aos modernos e rápidos meios de produção de hoje em dia.

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A formação geológica da serra catarinense é a principal atração da cidade. Formada por are-nito e basalto há milhares de anos, hoje possui desenhos esculpidos pela natureza de singular be-leza, como a Pedra Furada, principal cartão postal, onde se localiza o Cindacta II, sob o comando da Aeronáutica. Além disso, em Urubici se encontram canyons, vales e dois dos pontos mais altos do estado, o Morro da Boa Vista, em primeiro lugar e o Morro da Igreja, na terceira posição. O município também é porta de entrada do Aquífero Guarani, o maior reservatório de água doce subterrânea do mundo, que abrange parte do território do Uruguai, Argentina, Brasil e Paraguai e é considerado um bem da humanidade. Muitos rios nascem nessas terras, dentre os quais se encontram as nascentes do rio Canoas e Pelotas que fazem parte da bacia do rio da Prata. No vale do Canoas fica o berço da cidade que ainda mantêm suas relações com a terra e a natureza, preservando até hoje, muitas vezes de forma quase imperceptível, os saberes dos colonizadores e dos índios que ali habitaram.

Em julho de 1961 foi criado o Parque Nacional de São Joaquim, localizado nas cidades de Bom Jardim da Serra, Urubici, Orleans e Grão-Pará, com o principal objetivo de frear a exploração da ma-deira da araucária, que dá título ao bioma da região da serra catarinense. Ademais, possui Matas Ne-bulares, Campos de Altitude e Floresta Ombrófila Densa, milhares de nascentes e a inserção de água no Aquífero Guarani através dos arenitos da região, formando um ecossistema rico sob as escarpas da Serra Geral.

Somado a todos esses fatores, o município possui uma vasta gama de cachoeiras, cha-padas e formações geológicas peculiares que a cada ano vem atraindo muitos turistas para a região. Somente em Urubici estão localizados 18 pontos turísticos naturais – que não foram construídos pelo homem -, dos quais muitos ainda não são totalmente explorados devidos principalmente às con-dições de acessibilidade. Outros foram transformados ao longo dos anos pelos próprios proprietários das terras em pequenos parques e hoje cobram pela visitação. Em menos de dez anos, a quantidade de pousadas formais e informais teve um crescimento acelerado, sem que a infraestrutura da cidade fosse alterada da mesma forma. Dentro desse contexto começam a surgir problemas de superlotação como: falta de lugares para almoço nos finais de semana, quedas de energia elétrica e até mesmo a falta de combustíveis.

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O clima é outro fator que chama a atenção de muitas pessoas na hora de escolher seu destino de viagem. O inverno de Urubici é um dos mais frios do país, com uma variação de 18oC a -3oC e um verão ameno. Influenciadores dessas temperaturas são: altitude planáltica, latitude subtropical, con-tinentalidade e nenhuma estação seca.

“E a interação entre as massas de ar e o relevo da região cria dois fenômenos climáticos pouco frequentes em outras partes do país: as neblinas nas encostas

da Serra Geral e a formação de neve nas áreas mais altas da região.” (Buratto et al.,2010)

Podendo-se dizer que o clima frio no inverno, com as chances esporádicas de neve é um dos maiores atrativos e pelo qual a cidade é nacionalmente conhecida.

A araucária é um pinheiro de beleza única que imprime e dá forma aos morros que circundam o vale. Cada recanto explorado depara-se com a paisagem dominada pelos pinheiros, misturadas aos rios e plantações. No inverno o cenário é ainda mais contemplativo quando encontramos a geada ao alvorecer, estampando tudo de branco. A agricultura tem transformado o cenário serrano ao lon-go dos anos, e a paisagem antes intacta alon-gora traduz também a força de trabalho de um povo que sempre viveu da lavoura. Para quem vive na cidade, cercado por prédios e asfalto, é um momento de fuga da realidade ao encontrar um lugar ainda pouco explorado. Tudo isso associado às aventuras do ecoturismo reflete em números para Urubici, são muitos turistas todos os anos, vindos de todas as partes do Brasil e também alguns do exterior.

Uma nova forma de turismo introduzido pelo programa Acolhida na Colônia é a hospeda-gem de turistas nas propriedades rurais. Assim, eles podem ficar em contato direto com a rotina dos sítios e dependendo da época, podem participar das colheitas. Esse turismo rural já é explorado em diversas regiões mundo afora, os roteiros nos campos de lavanda franceses ou de tulipas na Holanda são uma experiência de vida escolhida por milhares de visitantes. Além da França e Holanda, a Itália, Portugal e Chile são países que abraçam o turismo de colheita de uvas seguido por degustações e ja-ntares realizados nas propriedades. Dessa maneira, valorizam-se as produções e a cultura local, pois,

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o turista cria vínculos a partir das experiências vividas. Em Santa Catarina cidades como Urussanga, que aposta no turismo de colheita da uva Goethe, e Fraiburgo com a colheita de maçãs já apresen-tam esse novo modelo. Urubici há diversas opções de sítios e plantações que possuem características suficientemente boas para a prática do turismo rural, falta um incentivo maior por parte do poder público municipal. A uva, a maçã, a ameixa e, principalmente, o pinhão são exemplos de opções que interessariam os visitantes com vontade de conhecer e aprender o dia a dia dos produtores urubi-cienses.

O inverno é tradicionalmente a época do ano de alta temporada devido ao frio congelante e as possíveis chances de neve. Entretanto, durante o ano inteiro é possível conhecer a região que disponibiliza diversas atividades ecológicas. Trilhas que passam em meio ao curso dos rios, banhos de cachoeira, pesca esportiva são exemplos de atividades típicas no verão, quando as águas estão com temperaturas mais amenas. O ecoturismo está impulsionando também a região durante todas as estações do ano, dessa forma Urubici se torna uma opção de curtir a natureza durante as férias de verão.

Apesar de poucas, há algumas atividades festivas anuais que chamam a atenção de muitos visitantes. A festa das hortaliças, que ocorre em março, é uma festa municipal que celebra a produção de hortaliças da cidade. Tradicionalmente ela acontece no Centro de Tradições Gaúchas Manoel Prá, localizado a alguns quilômetros da cidade. No inverno, durante a alta temporada, ocorre anualmente o encontro de motoqueiros, que exploram a cidade e festejam a amizade do grupo. Há dois anos foi criado pela parceria entre a Secretária de Turismo, Indústria e Comércio e a Pouserra o Festival Gastrônomico e a Fenatruta que tem como objetivo valorizar a rica culinária serrana nos restaurantes da cidade, o evento ocorre em setembro. Existem ainda outras comemorações como o carnaval, os bailes de Debutantes Gaúcho e Branco, festas tradicionais do município como o Baile da Roça, o Baile do Quentão e o Baile do Chope.

Abaixo tem um mapa com os principais pontos atrativos da cidade, que são explorados ou ainda muito pouco.

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Parque Nacional de São Joaquim Rio Canoas Rio Urubici 0 1 3 5 10Km

N

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 22 18 19 Limite Territorial

Limite Parque Nacional de São Joaquim Estradas Pavimentadas

Estradas não Pavimentadas Rios

Pontos Turísticos

Parque Nacional de São Joaquim

Legenda:

20

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1.

Igreja Matriz

2.

Mirante

3.

Cachoeira da Neve

4.

Inscrições Rupestres

5.

Cascata do Avencal

Fot o: L ucas Zimmer mann Fot o: F abian, blog D esbr av ando Hor iz on tes

Parque Nacional de São Joaquim Rio Canoas Rio Urubici 0 1 3 5 10Km

N

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 22 18 19 Limite Territorial

Limite Parque Nacional de São Joaquim Estradas Pavimentadas

Estradas não Pavimentadas Rios

Pontos Turísticos

Parque Nacional de São Joaquim

Legenda:

20

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6.

Morro do Oderdeng

7.

Rio Sete Quedas

8.

Morro da Cruz

9.

Cachoeira do Vacariano

10.

Gruta Nossa Senhora de Lourdes

Fot o: R ober to de Laur o Fot o: C or vo Br anc o Voo Livr e Fot o: A ut or D esc onhecido Fot o: R ober to de Laur o

(33)

11.

Caverna do Rio dos Bugres

12.

Cascata Véu de Noiva

13.

Morro da Igreja

14.

Serra do Corvo Branco

Fot o: L ucas Zimmer mann Fot o: L ucas Zimmer mann

(34)

15.

Pedra da Águia

16.

Cânion do Espraiado

17.

Campo dos Padres

18.

Cachoeira do Rio dos Bugres

Fot o: R ober to de Laur o Fot o: L ucas Zimmer mann Fot o: A nders D uar te Fot o: L ucas Zimmer mann

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21.

Cachoeira da Bailarina

22.

Campos de Santa Bárbara

20.

Morro da Bela Vista do Ghizoni

19.

Cachoeira do Adão

Fot o: V er tical Ec otur ismo Fot o: C ac o Idiar t Fot o: L ucas Zimmer mann Fot o: R ober to de Laur o

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Urubici é uma pequena cidade da serra catarinense, com cerca de 11000 habitantes (dado retirado do site do IBGE-2017) que se orgulham da prosperidade das terras e da elegância de suas belezas naturais. Em época de baixa temporada, a calmaria reina em suas ruas e avenidas, deixando no ar aquele tom pacífico e nostálgico. Quando o frio começa a gelar as extremidades do corpo e a paisagem se mescla com as fumaças saindo das chaminés das casas, começa a saga do inverno com seus milhares de turistas à espreita de uma neve repentina.

Enquanto a neve não chega, o melhor a se fazer é aproveitar todos os cantos e desbravar to-dos os recantos que o município oferece. Dentre toto-dos os pontos turísticos, apenas um está localiza-do dentro da área urbana, é a Igreja Matriz Nossa Senhora Mãe localiza-dos Homens, uma obra arquitetônica de tamanho monumental para uma cidade pequena do interior. Idealizada pelo pároco da época, Padre José, para ser uma grandiosidade, já que ele mesmo, naquela época, enxergava em Urubici um potencial turístico. A igreja foi projetada pelo engenheiro João Backer, com todos os detalhes ar-quitetônicos repletos de significados exigidos pelo padre, para abrigar 1100 fiéis sentados. A Matriz, inaugurada em novembro de 1973, foi totalmente financiada pelos moradores.

Todos os outros locais de visitação estão fora da zona urbana e se não fosse pela grande oferta de restaurantes e algumas pousadas, muitos turistas traçariam suas rotas sem precisar entrar na cidade. Neste panorama percebe-se que a área urbanizada não possui muitas atividades de lazer, culturais ou esportivas que chamem o interesse dos turistas, deixando a desejar também para a população que não tem opções de lazer nos finais de semana. Dessa forma a própria população sai pouco de casa, ficando cada vez mais introspectiva e sedentária, visto que também as alternativas de turismo de aventura localizadas por perto estão cada vez mais caras devido à alta procura dos visitantes.

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Legenda:

0 50 200 400 600m

N

Áreas de lazer Públicas Áreas de lazer Privadas Rua Cesário Amarante Avenida Adolfo Konder

Brasília

Praça

Riacho

Jardim Verde Vale

Fett

Esquina

Traçado

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O perímetro urbano se configura a partir da Avenida Adolfo Konder, a principal da cidade que se estende por três quilômetros e faz parte do bairro chamado Traçado. Os outros dois bairros são a Praça onde fica a Delegacia, o Fórum, a Igreja Matriz, o Hospital e a Prefeitura; e a Esquina onde está o Banco do Brasil, localizados um em cada ponta da avenida principal. Dentro do bairro Praça há a Rua Cesário Amarante, uma continuação da Avenida Adolfo Konder, consideradas as de maior importânc-ia, pois nelas encontram-se as principais casas de comércio, bancos, farmácias, mercados, padarias e restaurantes. São nelas que se organiza a dinâmica diária das relações urbanas de trocas e serviço, são, portanto, as vias arteriais já que também são os acessos principais da cidade.

Dentro da zona urbana ainda há mais quatro bairros, todos localizados nas partes periféricas da grande área ocupada. Todos possuem problemas sociais, alguns são pontos de venda de drogas e outros há registro de abuso infantil. A falta de oportunidade fica evidente nas condições de vida dos moradores, dos quais muitos não têm regularização fundiária. O pouco interesse do poder público que não investe nestes bairros a fim de promover qualquer desenvolvimento, deixa-os a mercê das falácias dos políticos que prometem mil e uma maravilhas nas épocas de campanhas eleitorais. Den-tro da zona rural a situação é ainda é mais omissa, nas localidades rurais a falta de investimento traz a tona aquela velha realidade do agricultor pobre que sacrifica os estudos dos filhos para que todos tenham o que comer em casa. São cerca de 20 localidades rurais e um distrito, nos quais a maioria não possui coleta de lixo. Além do fator climático, pois quando chove muito, várias famílias ficam ilhadas em meio ao nada devido à falta de pontes seguras para cruzar os rios que cortam toda a região.

O abastecimento de água e luz está chegando ao limite. Durante o inverno, a alta temporada, há várias quedas na rede elétrica e no abastecimento de água. Isso quando não chove e compromete qualquer um dos dois por tempo indeterminado. Apesar de possuir muitas nascentes de rios impor-tantes para o estado, não há nenhum tipo de tratamento de esgoto. Não há uma conscientização ge-ral dos moradores sobre o assunto ou medidas inovadoras, que sejam mais baratas para a prefeitura, como o tratamento por zonas de raízes que reduzem ou evitam a contaminação das águas. Há alguns anos a Epagri fez um trabalho juntos com os pequenos agricultores que possuíam nascentes em suas propriedades para a proteção das mesmas. No mesmo programa, chamado Microbacias, houve a conscientização do produtor em relação ao esgoto doméstico e o ensinamento da construção e in-stalação de fossa sépticas patrocinadas por recursos do Projeto Microbacias 2, do governo estadual.

Há um investimento de capital no asfaltamento de ruas desproporcional à criação de ciclovias ou clico faixas, pois a bicicleta que é o principal meio de transporte está aos poucos ficando de lado

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e dando lugar aos automóveis. Acaba se tornando uma questão quando a maior distância a ser per-corrida dentro da área urbana não ultrapassa os quatro quilômetros em terrenos planos e as vagas de estacionamento nas ruas estão cada vez mais concorridas. A praticidade do carro é um fator que deve ser levado em conta, porém não justifica sua utilização em situações simples que poderiam ser feitas em pedaladas, um benefício para a saúde e também para o meio ambiente.

Há poucas áreas de lazer públicas na cidade e se não fossem os campos de futebol e o ginás-io municipal, todas seriam praças. Apenas a Praça Caetano Vieira de Souza, e as praças em frente às igrejas são bem cuidadas. Algumas delas foram reformadas tempos atrás pela iniciativa dos co-merciantes vizinhos que se juntaram para mantê-las mais convidativas para os turistas. Essas são as áreas verdes, tão escassas contrapondo com o verde dos morros que circundam toda a cidade. Uma paisagem ainda intacta em alguns pontos, com araucárias enormes e mata nativa. Em outros pontos, porém, já sofre os avanços do desenvolvimento do turismo que constrói chalés nos morros a fim de atrair mais visitantes pela vista da cidade. Se não houver um planejamento, os morros serão tomados não pela informalidade, mas pela indústria imobiliária e turística que só cresce a cada inverno.

Com a criação da segunda ligação entre os bairros Praça e Esquina, a Avenida Antônio Franci-sco Ghizoni, a área antes considerada rural ou pelo menos em transição sofreu uma mudança brusca. A especulação imobiliária cresceu antes mesmo de a rua ser asfaltada. Foram feitos loteamentos e novas casas surgiram. Contudo ainda há muitos terrenos vazios dentro da cidade. Os vazios urbanos também contemplam áreas abandonadas como o antigo Mercado do Produtor. A falta de técnica junto ao poder público imprime um crescimento desordenado pela cidade, com o abandono das áreas públicas de lazer e a falta de investimento em novas áreas.

Não existem, pelo Plano Diretor de 2009, novas implantações de Zeis, Zonas de Interesse So-cial, importante instrumento que delimita áreas às moradias populares, previsto no Estatuto da Ci-dade. Todas as zonas destinadas as Zeis são bairros onde hoje são considerados carentes, apesar de muitos moradores não estarem regularizados, possuem suas habitações. Há casos em que a Zeis está localizado em zonas de risco como no bairro Brasília. Muito desses vazios dentro da área central po-deriam ser destinados, em uma nova revisão do Plano Diretor, para essa população de área de risco, contudo isso depende exclusivamente do ConCidades, órgão formado por membros da sociedade civil e do poder público, encarregado desse tipo de discussão.

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Em menos de dez anos Urubici teve um crescimento impulsionado principalmente por mi-grantes atraídos pelo sossego da cidade pequena ou das oportunidades geradas pelo turismo. “O pessoal de fora” como muitos chamam, vem em busca, em sua maioria, de terrenos rurais a fim de construir pousadas em meio à mata nativa. Na corrida pelas melhores áreas, as terras ficaram cada vez mais caras, contrapondo com a pouca melhoria salarial da população. Dessa forma, viu-se cre-scer um mercado imobiliário através de corretores de imóveis que trazem consequências, antes só vistas nos grandes centros urbanos. Sendo assim, em alguns anos muitos moradores acabarão sendo “expulsos” se não houver qualquer tipo de proteção municipal contra o capitalismo imobiliário.

O Plano Diretor de Dezembro de 2009 expõe muitos objetivos detalhados para o fu-turo da cidade. Fala-se muito em zoneamento, partilhamento dos vazios urbanos, diretrizes de ocu-pação do solo. Está prevista sua atualização num período de quatro anos, mas nada foi feito desde então. Muitos pontos do Estatuto da Cidade são postos como objetivos, mas permanecem apenas na teoria, isso se deve a falta de técnicos capacitados para atuarem a favor dos moradores e não dos políticos locais ou dos grandes fazendeiros, que costumam mandar em cidades pequenas como os antigos coronéis. Dentro da área rural, onde são feitos os maiores investimentos, a situação é ainda pior, pois mesmo os projetos que passam pela prefeitura e se dizem ter estudos de impactos ambien-tais são aprovados e construídos a qualquer custo, deixando evidente a fragilidade do poder público frente os possíveis desastres ambientais, pois os ideais de sustentabilidade permanecem apenas no papel.

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Em meio à natureza, turismo, desenvolvimento, existe uma parcela considerável da popu-lação catarinense que ainda vive na pobreza ou extrema pobreza. Apesar de todos os investimentos em ecoturismo, pomares de maçã e criações de gado, a região serrana é considerada a mais pobre de Santa Catarina. Analisando o Caderno de Indicadores – 2016, o Índice de Competividade Regional – ICR-SC publicado pelo Governo de Santa Catarina, página 156, apresenta os dados da região de São Joaquim, na qual se encontra a cidade de Urubici. Dentro dos retratos regionais percebe-se que o indicador mercado de trabalho aparece com a pior colocação do estado, ficando em último lugar. Isso se deve a má distribuição de renda, pois mesmo os trabalhadores com carteiras assinadas, poucos ganham mais que dois salários mínimos.

O índice também mostra que a maioria da economia da região vem do setor agropecuário e de serviços, o mesmo vale para Urubici. A maioria do emprego nos campos é sazonal, na época de colheitas. Já o setor de serviços vem crescendo nos últimos dez anos, com o aumento significativo do turismo. Na Audiência Pública para a nova elaboração do Plano de Turismo Sustentável-PLATS, foi constatado que das 124 pousadas cadastradas nos município, apenas 56 são consideradas formais e passíveis do recolhimento da nova taxa de estadia proposta pela prefeitura. Essa Taxa de Turismo, segundo a Secretária de Turismo, Indústria e Comércio seriam pagas pelos hóspedes e serviria prin-cipalmente para a manutenção da infraestrutura tanto dos pontos turísticos como da própria cidade. Aumentando a circulação de dinheiro e possivelmente gerando mais empregos.

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Fon

te: sef

.sc

.go

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Mesmo que a Taxa seja implantada com sucesso, parte da população não seria beneficiada diretamente com esses recursos já que não fazem parte das rotas turísticas. Quase um terço da po-pulação ainda precisa e vive com auxílio do governo. Dos pouco mais de 11000 habitantes (Dados do IBGE), 3.526 são cadastradas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal que atende famílias com renda mensal de até meio salário mínimo. Abaixo uma tabela retirada do site do Ministério do Desenvolvimento Social onde contêm informações sobre a quantidade de famílias e pessoas registradas no Cadastro, divididos por bairros. Vale ressaltar que grande parte dos bairros cadastrados encontra-se na zona rural do município. Eles são localidades rurais onde vivem pou-cas famílias, em alguns pou-casos, e que geralmente são desprovidos de infraestrutura básica na sua vi-zinhança, além da precariedade das estradas.

Lista de Territórios (bairros, distritos) de moradia das famílias registradas no CADUNICO e lista revisada

N° BAIRRO N° de famílias/

domicílio Qtde de pessoas Ordem de vulne-rabilidade

1 Águas Brancas 88 363 4 2 Água Fria 3 9 3 Aparecida/ Riacho 48 189 5 4 Brasília 42 181 8 5 Campestre 18 64 6 Canudo 4 17 7 Cascalheira 13 57 8 Centro/ Praça 131 456 1 9 Consolação 12 39 10 Espinilho 2 7 11 Esquina 115 446 2 12 Feti 45 164 6

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13 Invernador 4 11

14 Jararaca 4 16

15 Jardim Verde Vale 89 283 3

16 Lajeado Liso 10 42

17 Morro Azul 1 3

18 Nossa Senhora de Fatima/ Baiano 21 70

19 Panelão/ Kiriri Ete 1 6

20 Pericó 1 5

21 Rio Capoeiras 5 20

22 Rio Caximbo 2 7

23 Rio Crioulas 4 15

24 Rio do Engano 27 101 9

25 Rio dos Bugres 14 53

26 Rio Vacariano 26 102 10 27 Santa Tereza 43 164 7 28 Santo Antônio 12 39 29 São Cristovão 1 5 30 São Francisco 15 64 31 São José 10 35 32 São Pedro 5 19 33 Toca Ruim 1 3 34 Traçado 89 404 3 35 Vacas Gordas 20 67

Total 926 3.526 Fonte: mds

.go

(45)

A distribuição de renda em Urubici sempre foi desigual e não há uma valorização monetária do trabalhador. O que há de diferente e moderno na cidade, em sua maioria, é devido aos migrantes que decidiram se instalar nas terras do vale, são os novos investidores, e também o serão eles que no futuro deterão boa parte das riquezas do município. Enquanto isso, a população nativa segue mal remunerada e em muitos casos explorado. Por falta de conhecimento e até mesmo medo de perder o vínculo empregatício, esse círculo vicioso entre explorador e explorado vai adiante, como se fizesse parte da cultura local.

Apesar de uma das premissas dos programas de auxílio do Governo Federal seja a frequênc-ia escolar, ainda há muita evasão. Alguns bairros já sofrem com o tráfico de drogas e sua alienação infantil. Se o desenvolvimento humano fosse prioridade nas gestões políticas, problemas como esse seriam menos rotineiros. Entretanto, as crianças e jovens tem poucas oportunidades de atividades extracurriculares que poderiam mantê-las longe das zonas de risco, além de ser um complemento para a educação básica. Somado a isso, ainda existe a falta de interesse dos jovens alunos, conforma-dos com suas realidades sociais que os obriga a trabalhar cedo, muitas vezes no campo, para ajudar na renda da família.

Quando essa outra realidade vem à tona, fica claro onde é gasto a maioria dos investimentos feitos pela prefeitura. A imagem da cidade torna-se mais preocupante do que a qualidade de vida de seus moradores que ainda vivem com pouca infraestrutura urbana, em bairros relativamente peri-gosos para o contexto da cidade. Além de tudo isso, o único hospital da cidade esteve em greve nos anos de 2016 e 2017 devido à falta de pagamentos dos salários dos funcionários. Porém, enquanto tudo está indo de mal a pior, o setor hoteleiro cresce e vem se destacando como uma das principais fontes de renda do município e da região.

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Referências

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