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Centro de Ensino e Desenvolvimento do Autista em Brusque-SC

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Academic year: 2021

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CENTRO DE ENSINO E

DESENVOLVIMENTO DO

AUTISTA EM BRUSQUE-SC

MANOELA LOUISE FISCHER

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ORIENTADORA THÊMIS FAGUNDES

MARÇO DE 2017

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CENTRO DE ENSINO E

DESENVOLVIMENTO DO

AUTISTA EM BRUSQUE-SC

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) - ARQ5692

Graduanda: Manoela Louise Fischer

Orientadora: Prof. Dra. Thêmis da Cruz Fagundes

Florianópolis, março de 2017.

SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO...05 1.1. TEMA...06 1.2. MOTIVAÇÃO...06 1.3. OBJETIVO...07 1.4. METODOLOGIA...07 2. O AUTISMO...09 2.1. DEFINIÇÃO...10 2.2. DIAGNÓSTICO...10 2.3. TRATAMENTOS...11 2.4. ESTUDOS DE CASO...12 2.4.1. ANA JÚLIA...12 2.4.2. YATAN...15

2.4.3. ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO...16

3. A AMA BRUSQUE...17

3.1. A INSTITUIÇÃO...18

3.2. SERVIÇOS E ATENDIMENTOS...19

3.3. INFRAESTRUTURA NECESSÁRIA...20

3.4. PÚBLICO ALVO...21

4. O AUTISMO E O AMBIENTE CONSTRUÍDO...23

4.1. EMBASAMENTO TEÓRICO...24 4.2. REFERENCIAL ARQUITETÔNICO...29 4.3. VISITAS DE ESTUDO...33 5. ESTUDOS PRELIMINARES...35 5.1. ESCOLHA DO LOCAL...36 5.2. ANÁLISE DO TERRENO...37 5.2.1. LOCALIZAÇÃO...37 5.2.2. CLIMA...38 5.2.3. TOPOGRAFIA...38 5.2.4. INSOLAÇÃO...38 5.2.5. VENTILAÇÃO...39 5.2.6. PLANO DIRETOR...40 5.3. DIRETRIZES DE PROJETO...41 6. O PROJETO...43 6.1. CONCEITO...44 6.2. O PROJETO...45 6.3. AMBIÊNCIAS...54 6.4. PLANTAS...55 6.5. CORTES...61

6.6. ESTRATÉGIAS DE CONFORTO AMBIENTAL...65

6.7. ESTRUTURA...66

6.8. DETALHAMENTOS...73

6. BIBLIOGRAFIA...75

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1.2. MOTIVAÇÃO

1.1. TEMA

O espaço construído para o ensino e desenvolvimento do autista. Eu convivo com o autismo diariamente, minha

irmã Ana Júlia de 16 anos é autista. As dificuldades de interação social, comunicação e aprendizado dela sempre preocuparam a minha família, por isso, desde cedo meus pais buscaram vários tipos de profissionais que a ajudassem no seu desenvolvimento cognitivo, comportamental, de habilidades de vida diária, e outras áreas que precisavam ser trabalhadas. Além dessas atividades, minha irmã sempre frequentou escola regular, o que é fundamental para desenvolver a integração social. Porém, a estrutura física e o método pedagógico das escolas tradicionais dificultam a inclusão de crianças com o Transtorno do Espectro Autista. Elas se distraem ou ficam agitadas facilmente em ambientes com muitos estímulos como: barulhos, excesso cores e informações nas paredes das salas de aula, entre outros, além das dificuldades de comunicação e aprendizado.

Além da importância de frequentarem escolas regulares, crianças com autismo devem desde cedo ter

“Se eles não aprendem como nós ensinamos, vamos

ensinar de um modo que eles aprendam”.

Dr. Ivar Lovaas

Criador do método ABA de tratamento para

autistas.

auxílio de uma equipe de profissionais especializados que, por meio de intervenções psico-educacionais, estimulem as habilidades necessárias para que elas possam ter, dentro de suas limitações, uma vida normal e mais independente. Estes serviços, em sua maioria, não são acessíveis a todos, devido ao seu alto custo e nem sempre encontrados, o que dificulta o acesso para muitas famílias com integrantes autistas. Há quase três anos, meu pai e outros pais de crianças autistas e profissionais da área, fundaram a Associação de Pais e Amigos dos Autistas de Brusque (AMA Brusque), com o intuito de levarem a estas famílias informações, e terem acesso aos serviços especializados para seus filhos de forma gratuita. Porém, como a associação não possui um espaço fixo como sede, isso dificulta a realização destes serviços especializados, necessários para o desenvolvimento das crianças com o transtorno, desestimulando os trabalhos dos voluntários da associação.

Segundo Christopher Beaver, o autismo é um tema que se torna cada vez mais comum na mídia, com estudos voltados para a origem do transtorno, como deve ser o ensino e o tratamento destas crianças. No entanto, esses estudos não se dedicam à investigação de como as condições de um ambiente podem influenciar na vida de crianças e adultos, seja em casa, na escola ou no trabalho.

A proximidade com a causa, pela experiência vivida com a minha irmã autista, e percebendo a falta de preparo das escolas regulares para lidarem com esta situação, tanto pela falta de um ensino adequado e de um ambiente apropriado, me motivaram a buscar uma forma adequada de projetar para autistas. Bem como, o modo que o ambiente construído pode influenciar no seu aprendizado, comportamento e integração social e, com isso, elaborar um Centro de Ensino e Desenvolvimento do Autista, tendo como base as necessidades da AMA Brusque e outros centros estudados.

1. APRESENTAÇÃO

Figura 1  – Família. Fonte: acervo próprio.

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1.3 OBJETIVO

1.4. METODOLOGIA

Desenvolver o projeto arquitetônico de um Centro de Ensino e Desenvolvimento do Autista, baseado na AMA Brusque e outras instituições e centros estudados. Seguindo diretrizes de projeto que proporcionem um ambiente adequado para o ensino e tratamento de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro do Autista.

1. ENTENDENDO O TEMA

Ÿ Estudo do Transtorno do Espectro do Autismo. Ÿ Conhecendo a associação e seus trabalhos.

2. ESTUDOS DE CASO

Ÿ Casos de crianças autistas com diferentes quadros de autismo.

3. VISITAS DE ESTUDO

Ÿ Visitas a outras instituições.

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Ÿ Pesquisa sobre o ambiente construído e sua influência no autismo. Ÿ Estudo de referenciais arquitetônicos.

5. ESCOLHA DO LOCAL

Ÿ Pesquisa da localização das escolas da cidade e endereço dos autistas que participam da associação para determinar possíveis bairros adequados para busca de um terreno.

Ÿ Pesquisa na prefeitura por um terreno público disponível. Ÿ Análise do terreno, entorno e relação com a cidade.

Ÿ Busca de arquivos da cidade e dados da legislação. Ÿ Análise das condicionantes bioclimáticas.

6. ENSAIOS PROJETUAIS

Ÿ Criação de diretrizes de projeto. Ÿ Ensaios iniciais.

7. PROJETO

Ÿ Definição do conceito.

Ÿ Lançamento do partido.

Ÿ Estudo da estrutura e materiais a serem utilizados. Ÿ Estudo da conexão com a área verde.

Ÿ Definição de estratégias bioclimáticas.

Ÿ Criação dos espaços e ambiências necessárias. Ÿ Detalhamento do projeto.

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2. O AUTISMO

2.2. DIAGNÓSTICO

2.1. DEFINIÇÃO

O diagnóstico de autismo deve ser feito por uma equipe de profissionais especializados, que irão observar o comportamento da criança, o desenvolvimento de suas relações sociais e sua história de vida (Defensoria Pública do Estado de São Paulo, 2011 e Mello, 2007). Não existem testes laboratoriais específicos para detectar o autismo, porém alguns exames devem ser feitos investigar causas e outras doenças relacionadas, como exames auditivos e visuais, o teste do pezinho, erros inatos do metabolismo, cariótipo com pesquisa do X-frágil, sorologias para sífilis, rubéola e toxoplasmose, testes neuropsicológicos, entre outros (AMA, 2016). Existem vários métodos de diagnóstico do autismo, porém para instrumentalizar e uniformizar, criaram-se escalas, critérios e questionários para avaliação (Mello, 2007). A idade média para se ter um diagnóstico conclusivo é frequentemente superior a 30 meses. É importante um diagnóstico precoce para se iniciar o q u a n t o a n t e s a s i n t e r ve n ç õ e s e d u c a c i o n a i s especializadas, e se obter melhoras no desenvolvimento da criança e auxiliar suas famílias. (Defensoria Pública do Estado de São Paulo, 2011 e Mello, 2007).

O Autismo, também conhecido como TEA (Transtorno do Espectro Autista) é um transtorno global do desenvolvimento, caracterizado por alterações significativas na comunicação, na interação social e no comportamento da criança, como padrões repetitivos e áreas restritas de interesse. Características que se apresentam desde idade muito precoce, tipicamente antes dos três anos de idade. (Defensoria Pública do Estado de São Paulo, 2011 e Mello, 2007). Descreve-se como espectro do autismo, pois há um leque de variações de acordo com o desenvolvimento cognitivo, desde casos extremos de autismo associado à deficiência intelectual grave, sem desenvolvimento de linguagem, com padrões repetitivos de comportamento e déficit considerável na interação social, e no outro extremo os chamados Síndrome Asperger, sem deficiência intelectual, sem atraso significativo na linguagem, com interação social peculiar ou bizarra e sem movimentos repetitivos evidentes (AMA, 2016). A incidência do transtorno é 4 vezes maior no sexo masculino e ocorre aproximadamente 1 caso a cada 150 crianças (Mello, 2007).

Figura 3 - Características do autismo. Disponível em:http://cidadedeitaborai.com.br/loja-virtual/9-noticias-da-cidade-de-itabora%C3%AD/2161-autistas-ter%C3%A3o-clinica-escola.html Acessado em 18 julho 2016.

Figura 2 - O quebra-cabeças da mente autista, representando a diversidade e a complexidade do autismo. Fonte: adaptado pela autora.

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2.3. TRATAMENTO

2.4. ESTUDOS DE CASO

Este estudo de caso foi montado a partir do depoimento do meu pai e da minha experiência pela convivência com a minha irmã, Ana Júlia Fischer, autista de 16 anos.

2.4.1. ANA JÚLIA

Inicialmente diagnosticaram como: Atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor e TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). A partir daí, a Ana passou a ter acompanhamentos com fonoaudióloga para o desenvolvimento da linguagem e psicopedagoga para o estímulo da coordenação motora fina, e trabalhos com psicóloga comportamental e terapeuta ocupacional. A Ana passou a ser acompanhada também por um professor auxiliar na sala de aula e ser medicada com Ritalina para o TDAH, mais tarde substituído por Risperidona, para diminuir a agitação e normalizar o humor.

Com 10 anos, foi realizado o teste VISC, por uma psicóloga para atestar o percentual de QI, onde foi diagnosticanda, como tendo Autismo com Deficiência Mental Leve. Mesmo sabendo das dificuldades da Ana Júlia e de seu comportamento diferente, foi difícil para a família ouvir a aceitar um diagnóstico com este. Porém a Ana continuava sendo a mesma, fazia todas as coisas como sempre, dentro do seu tempo e das suas limitações. Buscou-se então entender o transtorno e o que podia ser feito além de todo apoio que já era dado a ela.

A Ana é uma menina muito amável e adora ter pessoas a sua volta, o que é incomum para um autista. Apesar de todas as dificuldades, principalmente comportamental, ela vai com a família em todos os lugares como viagens, restaurantes, igrejas, cinemas, supermercados. Tem a oportunidade de observar, vivenciar o que se passa nesses locais, possibilitando a melhora da sua autonomia, além de deixa-la feliz por estar participando de tudo com a família.

Quando a Ana Júlia nasceu, tudo transcorreu bem, nenhum problema foi percebido naquele momento, tanto pelos meus pais como pelos médicos. Foi realizado o teste do pezinho com resultado normal. As poucas preocupações dos meus pais nos primeiros meses de vida foi pelo fato de parar de mamar com apenas dois meses e depois não aceitar bem a mamadeira.

Com o passar do tempo percebeu-se que ela tinha dificuldades para sentar, não engatinhava e tinha uma alimentação restrita. Com nove meses, o neuropediatra solicitou vários exames, como teste de i n t o l e r â n c i a a o g l ú t e n e l a c t o s e , r e f l u x o gastroesofágico, eletroencefalograma, cariótipo para aver iguar alguma anor malidade de síndrome cromossômica, tomografia, entre muitos outros, todos com resultados dentro da normalidade. Quanto à dificuldade de não conseguir ficar sentada, o médico observou possuir hipotonia, que é uma diminuição do tônus muscular. Foi então, iniciado um trabalho de estimulação intenso, com fisioterapias, para compensar a incapacidade neuromuscular, até completar cinco anos.

O b s e r v o u - s e t a m b é m q u e o s e u desenvolvimento era mais lento em relação a outras crianças de sua idade, pois começou a andar só com um ano e meio e a falar aos três. Ela também mexia em tudo o que eram objetos, não ficava quieta, não tinha noção de perigo, como pegar em objetos cortantes, fogo, atravessar a rua. Na praia ela não demonstrava medo ou encanto pelas ondas do mar ao baterem em seus pés.

Aos três anos, a Ana começou a frequentar o Jardim de Infância Divina Providência, do Colégio São Luiz, onde percebeu-se que além de não ficar quieta, não conseguia seguir regras e acompanhar as atividades no mesmo ritmo das outras crianças.

D e s d e e n t ã o p r o c u r a m o s p o r v á r i o s profissionais que nos ajudassem a entender os problemas percebidos pela família e professores.

HISTÓRICO

Figura 4 - Ana Júlia na viagem para Fortaleza. Fonte: acervo próprio.

desenvolver habilidades que a criança não possui (AMORIM, 2011; MELLO, 2007). A resposta adequada da criança tem como consequência a ocorrência de algo agradável para ela, o que na prática é uma recompensa. Respostas problemáticas, como negativas ou birras, não são, propositalmente, reforçadas (MELLO, 2007). Com este método de reforçadores, torna-se o aprendizado agradável para a crianças e evitam-se comportamentos indesejados, além de ensinar a criança a identificar diferentes estímulos. A repetição é um ponto importante neste tipo de abordagem, assim como o registro exaustivo de todas as tentativas e seus resultados (MELLO, 2007).

Medicações: O uso de medicamentos deve ser prescrito pelo médico e deve-se primeiramente estar ciente de que até o momento não existe uma medicação específica para o tratamento de autismo (AMORIM, 2011; MELLO, 2007). A medicação é geralmente indicada quando existe alguma comorbidade neurológica e/ou psiquiátrica e quando os sintomas interferem no cotidiano (AMORIM, 2011; MELLO, 2007). É importante o médico informar sobre o que se espera da medicação, qual o prazo esperado para que se perceba os efeitos, bem como os possíveis efeitos colaterais (AMORIM, 2011).

A inclusão: O senso comum sobre a inclusão é de simplesmente colocar uma criança que tem autismo em uma escola regular, esperando assim que ela comece a imitar as crianças normais (MELLO, 2007). Porém a criança com autismo, quando pequena, raramente imita outras crianças, passando a fazer isto apenas após começar a desenvolver a consciência dela mesma, isto é, quando começa a perceber relações de causa e efeito do ambiente em relação a suas próprias ações e vice-versa, o que pode demorar muito ou em algumas crianças jamais vir a desenvolvê-la (MELLO, 2007). Um atendimento especializado, antes da inclusão numa escola regular, pode ajudar a criança a desenvolver a consciência de si mesma, preparando-a para utilizar-se de modelos, posteriormente (MELLO, 2007).

O tratamento do autismo pode ser feito através de trabalhos psicoeducacionais, orientação familiar, desenvolvimento da linguagem e comunicação (AMORIM, 2011). Dentre alguns profissionais que podem ser necessários estão psiquiatras, psicólogos, f o n o a u d i ó l o g o s , t e r a p e u t a s o c u p a c i o n a i s , fisioterapeutas e educadores físicos (AMORIM, 2011). Os métodos de intervenção mais conhecidos e mais utilizados para promover o desenvolvimento da pessoa com autismo e que possuem comprovação científica de eficácia são:

TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handcapped Children): o método é baseado na organização do ambiente físico através de rotinas e sistemas de trabalho, de forma a adaptar o ambiente para tornar mais fácil para a criança compreendê-lo, assim como compreender o que se espera dela (MELLO, 2007; AMORIM, 2011). Visa desenvolver a independência da criança de modo que ela necessite do professor apenas para o aprendizado, podendo passar grande parte de seu tempo ocupando-se de forma independente (MELLO, 2007; AMORIM, 2011). Segundo Ana Maria de Mello, se o método TEACCH for usado adequadamente, pode-se conseguir resultados acima do esperado, frutos de um trabalho demorado e sempre voltado para as características individuais de cada criança.

PECS (Picture Exchange Communication System) é um método de comunicação alternativo através de troca de figuras, não demanda materiais complexos ou caros, é relativamente fácil de aprender, pode ser aplicado em qualquer lugar (MELLO, 2007; AMORIM, 2011). Quando bem aplicado apresenta resultados inquestionáveis na comunicação através de cartões em crianças que não falam, e na organização da linguagem verbal em crianças que falam (MELLO, 2007). O PECS também ajuda a criança a perceber que através da comunicação ela pode conseguir as coisas que deseja muito mais rapidamente, e isso a estimula a se comunicar mais e diminui sensivelmente os problemas comportamentais (MELLO, 2007).

ABA (Applied Behavior Analysis) é a análise comportamental aplicada, que se embasa na aplicação dos princípios fundamentais da teoria do aprendizado baseado no condicionamento operante e reforçadores para incrementar comportamentos socialmente significativos, reduzir comportamentos indesejáveis e

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A ANA JÚLIA, AS DIFICULDADES

E A ESCOLA

Essas tentativas a frustram bastante, fazendo que sua autoestima seja cada vez mais baixa. São constantes suas reclamações sobre isso, principalmente quando tenta conversar com uma colega ou em participar do grupo e não consegue nem ser ouvida.

Quanto aos estudos, a Ana sempre precisou de um ensino e avaliação diferenciada, individualizada, dentro de suas limitações, como através de imagens, brincadeiras, etc. O maior problema é a padronização do ensino das escolas regulares. São frequentes as reclamações dela sobre exigências dos professores de assuntos que ela não se interessa ou não entende.

Sua aula preferida é a Educação Física. Ela adora jogar bola, usar chuteira, shorts e camisa do Brasil, Flamengo ou Barcelona. Gosta de praticamente todos os esportes, porém seu preferido é o futebol. Fala que quando crescer vai ser professora de Educação Física, morar com as irmãs em Florianópolis e estudar na UFSC como elas. Ela possui um gosto particular por filmes e séries de super-heróis, gosta de jogos e tudo que envolve tecnologia e também de cantar músicas sertanejas. Porém tem dificuldades com a leitura e a escrita, o que dificulta o seu aprendizado na escola. Nos últimos anos, ainda no colégio antigo, permitiram que ela usasse um notebook nas aulas, facilitando o desenvolvimento das atividades.

Para complementar o estudo regular dela, muitos trabalhos já foram realizados, alguns dando resultados outros não. Meus pais sempre estão na A parte mais difícil, para a Ana Júlia e para a

família, é a exclusão, muito presente ainda. A falta de atenção das pessoas, a falta de preparo das escolas, de uma formação adequada dos professores, de políticas voltadas à valorização das pessoas com deficiência e de seus familiares, precisam ser muito trabalhada ainda. Percebe-se muito a rejeição ao seu comportamento, por não ser muitas vezes adequado aos padrões impostos pela sociedade. As pessoas logo rejeitam essas diferenças, deixando-a a margem dos demais.

A Ana concluiu o ensino fundamental em escola particular, com a mesma turma desde o 1º ano, que sempre a incluíram bem. Porém nos últimos anos, com a chegada da adolescência, isso foi mudando. Começou a sofrer bullying e ter grandes dificuldades de integração com a turma. Agora está frequentando o 2º ano do Ensino Médio, na rede estadual, perto de casa.

A Ana é uma pessoa que não gosta de ficar sozinha, isto é isolada, que é característica forte da maioria dos autistas. Está sempre tentando fazer um novo amigo e a procura de alguém que lhe dê atenção. Como tem dificuldade de se relacionar, busca a aproximação das pessoas através do abraço, às vezes em excesso, sem se dar conta que seu comportamento é mu i t a s ve z e s n ã o e n t e n d i d o p e l a s p e s s o a s.

correria para levá-la em alguma atividade, seja com profissionais da saúde, com sessões de psicologia comportamental, fonoaudiologia, f i s i o t e r a p i a , mu s i c o t e r a p i a , atividades esportivas no colégio (futebol, basquete, vôlei, judô), e culturais como aula de música, com o objetivo de contribuir a superar as barreiras que lhe apresentam.

A Ana fez a mim e a minha família pessoas melhores, fez entender que as diferenças fazem parte do nosso mundo, nos fez valorizar e lutar mais pelas pessoas que tem as mesmas dificuldades. Ela tem todo o amor de seus pais e i r m ã s e s e m p r e b u s c a m o s acrescentar atividades que venham ajudá-la a crescer cognitivamente para que possa alcançar um d e s e n v o l v i m e n t o m e l h o r e aumentar a sua autonomia na vida diária.

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Figura 5  – Ana Júlia com 6 anos tentando ler no cantinho montado pela irmã Betina, na qual foi a resposta dela para a minha pergunta «Qual lugar que você lembra que gostava de estudar ou ler?». Figura 6 - Ana Júlia com um de seus personagens preferidos.

Figura 7 - Ana Júlia e suas amigas no seu aniversário de 16 anos.

Figura 8 - Ana Júlia com a família.

2.4. ESTUDOS DE CASO

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2.4. ESTUDOS DE CASO

Este estudo de caso foi montado a partir do depoimento da Giselle Zambiazzi, atual presidente da AMA Brusque e mãe do Yatan Zambiazzi Civinski, autista Asperger de 13 anos.

2.4.2. YATAN

O uniforme escolar por ser de tecido sintético cria um barulho de atrito que incomoda o Yatan. “Ele ouvia o barulho do seu uniforme e o do uniforme de todos os outros alunos da escola. Hoje ele tem um uniforme adaptado, feito de helanca, que não tem barulho, mas ele ouve o dos outros alunos”  . O barulho da vassoura é enlouquecedor para ele. A porta da sala de aula precisa ficar fechada quando ele está na sala, segundo Yatan “portas foram feitas para ficarem fechadas, se fossem para ficar abertas, não teria porta, teria um buraco na parede! A única porta que se deixa aberta é a do banheiro pra gente saber que não tem ninguém usando”. Os colegas já sabem e se a porta ficar aberta, alguém sempre a fecha  .

Segundo Giselle, a porta fechada evita os barulhos e principalmente cheiros, que são a parte mais complicada na vida do Yatan, especialmente cheiro de comida, ele não supor ta. Sua alimentação é basicamente industrializada justamente porque “comida de mentira”, como ele mesmo diz, não tem cheiro nem gosto. Outro problema em relação à escola é a hora do recreio, pois o Yatan não consegue estar no mesmo ambiente em que tem outras pessoas comendo, ele não consegue nem sentar nos bancos do pátio, porque pessoas sentaram ali para comer. Além do cheiro, a aparência e a textura das comidas também lhe causam repulsa, como também imaginar um criança se sujando com farelo de comida ou lambuzando a mesa, o faz passar mal. O refeitório e a cozinha são territórios proibidos para o Yatan, quando ele precisa passar por eles, passa correndo, fechando o nariz e os olhos e muitas vezes chorando. Dias de merenda na escola em que o cheiro é mais forte como cachorro-quente ou pão de queijo, ele entra em desespero, implora pra sair de perto, chora muito, vomita, sua, treme, sai correndo, conta Giselle.

A escola é um ambiente difícil para o Yatan, Giselle explica que a rotina escolar dele é entrar na escola apenas cinco minutos depois que bateu o sinal, ele não permanece nas atividades de Educação Física e aguarda durante o recreio e antes do sinal de ir embora, na sala multifuncional da escola que está sempre com a porta fechada quando ele está lá dentro. Giselle afirma que esta sala “é a salvação na vida doY atan na escola”.

O ambiente ideal para o Yatan é mais neutro, com cores claras, sem misturar muito, algo mais homogêneo, explica Giselle. A identificação visual das coisas precisa fazer sentido, tudo o que tiver letras (placas, cartazes, etc.) precisa ser padronizado, com fontes que sejam adequadas para esse tipo de uso, senão ele fica muito Segundo Giselle Zambiazzi, mãe do Yatan, “ele

sempre foi uma criança um pouco diferente das outras, muito tímido, cada vez mais isolado e que gostava de brincar de um jeito diferente. Fascinado por tudo o que rodava. Mas de uma inteligência também incomum, o que contribuiu para a demora no diagnóstico”.

Quando moravam em São Paulo, a primeira pessoa de fora da família que percebeu que o desenvolvimento do Yatan era atípico, foi a professora do primeiro ano. Um psicólogo da escola auxiliou Yatan e a família durante cerca de um ano e meio, mas sem falar sobre autismo, focando em características pontuais como a timidez excessiva e a dificuldade em se comunicar .

Já morando em Brusque, Giselle foi chamada pelas duas escolas pelas quais Yatan estudou, para pedir avaliações dele feitas por um profissional. Ela teve muitas dificuldades de encontrar um médico neuropediatra, até conhecer a Dra. Cristina Pozzi, que já na primeira conversa descreveu exatamente como Yatan era e a mãe não teve dúvidas que o diagnóstico era bastante claro: Síndrome de Asperger  .

Naquela época, segundo semestre de 2011, Yatan estava com oito anos de idade. Desde então, ele vem sendo acompanhado, passando por atendimento p s i c o l ó g i c o , a t u a l m e n t e a c o m p a n h a m e n t o psicopedagógico semanalmente, além do auxílio de uma monitora na escola. .

HISTÓRICO

O YATAN, AS DIFICULDADES E A ESCOLA

“Ele é extremamente sensível a muitas coisas, especialmente barulhos e cheiros e como tem dificuldade em se comunicar, em dizer o que está sentindo, por muito tempo eu era chamada na escola para busca-lo porque ele estava passando mal, até que descobrimos o motivo de ele passar sempre tão mal: sensibilidade a barulhos de atrito”, conta Giselle Zambiazzi.

incomodado e se desconcentra. O Yatan gosta de ficar sozinho, com muitos livros e acesso à internet, ele sempre está pesquisando alguma coisa e gosta de questionar tudo. Num ambiente, quanto menos pessoas melhor pra ele e se for vazio aí sim é perfeito.

O Yatan gosta coisas lógicas e que exigem raciocínio, como jogos de todos os tipos, coisas que façam sentido, o que não é o caso da escola na qual não vê sentido

2.4.3. ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO

A partir destes dois estudos de caso, foi possível perceber a grande diferença entre cada indivíduo com autismo e que há várias áreas que devem ser trabalhadas de modo específico para cada um deles, além de atividades que também envolvam mais alunos e ajudem na sua interação social. Um ambiente de ensino para autistas deve proporcionar espaços que permitam o desenvolvimento de atividades diversificadas, e que seja flexível a mudanças e adaptações necessárias para cada aluno. Este ambiente construído também deve ser acolhedor e que incentive alguns sentidos que faltam a essas pessoas, ou ajudem a atenuar incômodos causados pela hipersensibilidade delas.

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EXTROVERTIDO

Ÿ Gosta de estar perto das pessoas e busca por atenção.

Ÿ Dificuldade de se relacionar.

Ÿ Gosto exessivo em determinados temas, como esportes e filmes de super heróis.

Ÿ Pequeno atraso de desenvolvimento e aprendizado.

ANA JÚLIA, 16 ANOS

INTROVERTIDO

Ÿ Timidez excessiva e prefere ficar sozinho.

Ÿ Dificuldade de se relacionar. Ÿ Hipersensibilidade a sons e cheiros.

Ÿ Inteligência incomum, adora coisas lógicas e que exigem raciocínio, gosta de questionar tudo.

Ÿ O sistema de ensino não faz sentido pra ele, vai pra escola por obrigação.

YATAN, 13 ANOS

algum. O sistema de ensino não faz sentido para ele, ele vai para a escola por obrigação e sofre muito com isso, porém ele jamais quebra uma regra e, portanto cumpre com o compromisso assumido. Giselle conta que “Quase todos os dias chega ele em casa chorando porque a escola é ruim: ela tem muito barulho, muitas pessoas, muitos cheiros, muita gente falando, criança gritando e atividades sem sentido.”

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3.2. SERVIÇOS E ATENDIMENTOS

3.1. A INSTITUIÇÃO

A associação surgiu da iniciativa da Dra. Cristina Maria Pozzi, médica neuropediatra em Brusque-SC. Ela percebeu que muitos pais pessoas ao trazerem seus filhos em seu consultório, com suspeita de autismo, eram muito carentes de informações, não sabiam como e onde tratar a doença, sem contar a falta de condições financeiras de muitos (AMA Brusque, 2016).

Atendendo ao convite da médica, alguns familiares e profissionais que trabalhavam com os autistas receberam bem a ideia e começaram a discutir a formalização da associação. No dia 19/09/2013, foi realizado uma assembleia com a presença de aproximadamente 60 pessoas, que por unanimidade aprovaram os estatutos, passando a ter personalidade

3. A AMA BRUSQUE

jurídica e sendo esta a data oficial de criação da AMA Brusque – Associação de Pais, Profissionais e Amigos dos Autistas de Brusque e Região. Em 16/12/2015, obteve a Declaração de Utilidade Pública Municipal (AMA Brusque, 2016).

O objetivo da associação é informar e conscientizar as pessoas sobre o autismo, e oferecer suporte aos envolvidos direta ou indiretamente com o transtorno (AMA Brusque, 2016). A construção de um lugar onde os autistas e suas famílias possam receber todo o atendimento necessário e assim possam viver cada vez melhor, é a principal meta a ser atingida. (AMA Brusque, 2016).

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3.2. SERVIÇOS E ATENDIMENTOS

convívio social do indivíduo (Instituto Priorit, 2016). Além disso a presença de outros profissionais como uma assistente social, professores de educação especial, nutricionista e médico especializado na área de diagnósticos de autismo, são extremamente importantes (AMA Joinville, 2016; AMA Brusque, 2016).

também incluem a formação dos seus pais, professores e colegas. Isto é para ajudar os outros a obter uma melhor compreensão do autista e aprender a ter interações mais bem sucedidas com ele. (Autism Resource Centre Singapore, 2016). Atividades como capoeira, teatro, judô, yoga, aulas de música e de artes, psicomotricidade e habilidade social, são indicadas para incentivar o Atualmente a Ama Brusque realiza encontros

mensais abertos ao público em geral, onde são abordados e discutidos assuntos inerentes ao autismo, como depoimentos, trocas de experiências, palestras, entre outros. (AMA Brusque, 2016). Segundo Giselle Zambiazzi, presidente da AMA Brusque, "Em nossos encontros mensais, a maior reclamação ouvida dos pais, é com relação à escola onde seu filho frequenta. Entendem que muitos profissionais não estão suficientemente capacitados para lidar com o autista." Pensando nisto a AMA Brusque, passou a realizar anualmente, no mês de setembro, a Jornada de Atualização em Transtorno do Espectro Autista, trazendo para o evento profissionais com trabalhos de destaque na área e autistas ou pais para darem testemunho da sua convivência com o autismo. AMA Brusque também realiza palestras em escolas sobre o autismo, sempre que solicitado (AMA Brusque, 2016).

Neste ano (2016), em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, são realizadas mensalmente oficinas práticas com autistas, sempre em uma escola diferente da rede municipal de ensino, que oferecem seus espaços. Sob a coordenação de profissionais voluntários da AMA Brusque, as diversas atividades com autistas, visam melhorar a autonomia, memória, coordenação motora, comunicação, entre outros, promovendo ainda a interação social e o bem estar social do autista e de seus familiares (AMA Brusque, 2016).

Entre outr a s ativida des, a nua l m ente, voluntários da entidade fazem a distribuição de folders, na Praça Barão de Schneeburg, localizada no centro da cidade, divulgando e prestando informações sobre o autismo, geralmente na semana alusiva ao dia Mundial de Conscientização do Autismo (dia 02 de abril) (AMA Brusque, 2016).

A Ama Brusque espera ter sua sede própria para melhor atender os autistas. O projeto arquitetônico será essencial para materializar essa ideia. A apresentação dele junto à classe empresarial e ao Poder Público, com vistas à obtenção de recursos, será um importante instrumento de convencimento para investirem em n o s s o i d e a l . " ( A M A B r u s q u e , 2 0 1 6 )

C o m b a s e n a s c o nve r s a s c o m a l g u n s profissionais voluntários e pais integrantes da AMA Brusque e em outras instituições que trabalham com o ensino e o desenvolvimento de autistas como o Instituto Priorit (Rio de Janeiro-RJ), AMA Joinville (Joinville-SC), Autism Resource Centre (Singapura) e Center for Autism and the Developing Brain (Nova Iorque), um conjunto de serviços e atendimentos foi montado para criação de um programa de necessidades para o projeto.

Terapias individuais e em grupo deverão abordar diversos aspectos, dependendo da necessidade de cada indivíduo, buscando resultados consistentes nas áreas ligadas à comunicação, desenvolvimento da linguagem oral, comportamento, adaptação e interação social. Alguns aspectos a serem abordados são o autoconhecimento, resolução de problemas, compreender e gerir emoções, trabalhar e brincar com outras pessoas, lidar com bullying, habilidades de vida diária, preparação para vida profissional, entre outros (Autism Resource Centre Singapore, 2016).

Uma equipe de profissionais especializados nas áreas da Fonoaudiologia, Psicologia, Psicopedagogia, Psicomotricidade, Terapia Ocupacional, Integração Sensorial, Reabilitação Cognitiva serão responsáveis pelas terapias necessárias para o desenvolvimento dos aspectos citados (Instituto Priorit, 2016; Center for Autism and the Developing Brain , 2016). Além disso, serviços de apoio para os alunos que frequentam sessões

3.3. INFRAESTRUTURA NECESSÁRIA

Com base nos serviços, atendimentos e atividades desenvolvidas na associação e pelos contatos com os profissionais e voluntários envolvidos e em outras instituições que desenvolvem trabalhos com autistas, é possível montar um modelo de plano de necessidades para o projeto. Os ambientes podem ser divididos em grupos:

Atualmente a associação depende de espaços cedidos gratuitamente pela Secretaria Municipal da Saúde, como o auditório da Policlínica de Brusque, onde ocorrem os encontros mensais da associação, e os espaços que as escolas da rede municipal de ensino cedem para o desenvolvimento das oficinas práticas com os autistas.

* Recepção e administração;

* Salas de atendimento – que poderão servir para o atendimento, instrução ou auxílio de pais, profissionais ou visitantes da instituição, servindo também para a prestação de informações quanto aos direitos legais da pessoa com deficiência;

* Salas de reuniões – feedback de pais, professores e terapeutas, e reuniões internas entre os profissionais da associação;

* Sala de espelhos – ambiente onde pais e profissionais podem observar as atividades e terapias desenvolvidas, observando o comportamento do autista, o modo de ensino, etc, sem que o indivíduo perceba que está sendo observado e com isso tire a atenção da atividade;

* Auditório para realização de cursos, palestras, etc (aproximadamente 100 pessoas); * Biblioteca – estante com livros sobre o autismo.

ATENDIMENTO AOS PAIS E USUÁRIOS DA ASSOCIAÇÃO:

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* Consultórios para diagnóstico do transtorno – através de médico ou psicólogo;

* Consultório para atendimentos – trabalhos dos profissionais especializados nas terapias com autistas;

* Sala de integração sensorial – aparelhos de ginástica, colchonetes, mini cama elásticas, equipamentos necessários para o desenvolvimento de terapias).

SALAS DE TERAPIAS E ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS AOS USUÁRIOS:

3.3. INFRAESTRUTURA NECESSÁRIA

Serão atendidas crianças, adolescentes e adultos portadores do Transtorno do Espectro do Autismo, residentes em Brusque e região. Os serviços e atendimentos serão direcionados para a área educacional, através de trabalhos que trazem resultados progressivos para o autista. Além disso, os serviços também devem dar apoio às famílias e proporcionar a capacitação de profissionais na área.

* Salas de aulas – salas de aula diferenciadas para as várias matérias a serem abordadas, matemática, ciências, artes, música, leitura, etc;

* Sala multiuso – sala flexível para realização de atividades diversas; * Sala de informática;

* Brinquedoteca;

* Academia ou área para aulas de educação física;

* Sala para retiro – local para os autistas se acalmarem em caso de crise; * Biblioteca – específica para desenvolvimento cognitivo do autista; * Sala para oficinas manuais;

SALAS DE TERAPIAS E ATIVIDADES E GRUPO:

* Parque de recreação;

* Jardins e hortas – integração com a natureza, texturas, cheiros, etc; * Quadra poliesportiva (pequena);

ÁREAS EXTERNAS:

* Cozinha industrial e dispensa – preparação de alimentação adequada para os autistas; * Refeitório;

* Banheiros adaptados;

* Área para os funcionários e profissionais descansarem e fazerem suas refeições. * Depósitos; * Lavanderia; * Garagem;

OUTRAS INFRAESTRUTURAS:

3.4. PÚBLICO ALVO

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4. O AUTISMO

E O AMBIENTE

CONSTRUÍDO

4.1. EMBASAMENTO TEÓRICO

Todas as pessoas são afetadas pelos ambientes construídos em que vivem, conscientemente ou inconscientemente. Estes ambientes fazem parte do cotidiano das pessoas, proporcionam abrigo, proteção e espaços para as mais variadas funções do dia a dia (Humphreys, 2005). Para saber como um edifício vai desempenhar, requer um conhecimento profundo de quem vai utilizá-lo e como será utilizado (Beaver, 2006). No caso em estudo, temos de levar em conta as pessoas que serão atendidas no local, no caso as crianças, adolescentes e adultos autistas e suas famílias e também as pessoas que estão fazendo os atendimentos e trabalhando para a associação, como profissionais especializados na área e funcionários da associação.

A partir das literaturas sobre autismo e experiências de professores e escolas que tentam adaptar ambientes, fica claro que o autismo pode ser definido como uma condição que afeta o projeto de ambientes construídos (Khare & Mullick, 2009). Autismo é um transtorno do desenvolvimento que leva a um diferente e característico padrão de percepção, pensamento e aprendizado, as pessoas com autismo têm uma sensibilidade elevada ao que existe fora, bem como dentro de seu corpo físico e de sua mente (Humphreys, 2005; Khare & Mullick, 2009). Na educação e cuidados de crianças autistas, não existe abordagem comum, em vários casos, cada criança aprende de maneira diferente das outras, devido à vasta gama de habilidades e sensibilidades dentro do espectro do transtorno autista (Humphreys, 2005).

Segundo Christopher Beaver, apesar de todos os edifícios e usuários serem diferentes, existe uma vasta lista de necessidades que são comuns a qualquer edifício projetado para este determinado grupo de usuários. Porém a essência do projeto não pode ser descrita por uma lista de necessidades comum, mas deve surgir de um entendimento da mente autista, como espaços reconfortantes e que dão sensação de segurança, espaços onde existem lugares para estar sozinho e para socializar, uma fácil localização espacial sem qualquer característica ameaçadora ou carregada de estímulos (Beaver, 2006). Este entendimento pode-se conseguir apenas com tempo e observação paciente de como as crianças e os profissionais interagem.

As pessoas com limitações cognitivas necessitam ter assegurado ambientes educacionais que apoiem soluções universais aplicáveis a mais ampla gamade condições humanas (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015). O desafio dos arquitetos é quebrar os moldes

atuais, edifícios com grandes corredores dando acesso ás salas, baixos pés direitos e superfícies brilhantes e fáceis de limpar que são ao mesmo tempo são barulhentas e pouco amigáveis (Beaver, 2006). É essencial repensarmos todo o processo de criação de um programa de necessidades para então podermos criar edificações sensíveis às necessidades dos usuários e profissionais (Beaver, 2006). As escolas precisam providenciar adequações arquitetônicas, capazes de dar suporte para a aplicação de práticas pedagógicas diferenciadas (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015).

O espaço escolar, entendido como sua edificação e os usos que são feitos dela, configura-se num importante componente do processo de inclusão dos alunos com necessidades especiais, não apenas ao proporcionar a acessibilidade arquitetônica, mas pelas intenções inscritas em sua arquitetura e organização (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015).

Nas escolas regulares encontramos dificuldades em arranjo espacial, tanto no layout e flexibilidade de mobiliário, como o espaçamento entre as carteiras, a visibilidade do quadro, ou o peso dos mobiliários; tanto nos sanitários sem qualquer possibilidade de acesso autônomo dos deficientes físicos, entre outros (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015). Além disso, as salas multifuncionais, local onde geralmente é oferecido atendimento educacional especializado aos alunos com dificuldades de aprendizagem, são muitas vezes, espaços adaptados e mal localizados setorialmente dentro da escola. Ainda o grande número de alunos por sala dificulta o atendimento individualizado aos alunos com necessidades especiais (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015). Percebe-se então, que um ambiente construído mal concebido vai potencializar situações de incapacidade, ou deficiência, e aumentar as situações de desvantagens e de exclusão (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015).

A partir das literaturas utilizadas, pôde-se encontrar, alguns critérios a serem considerados na criação de um projeto arquitetônico, que definem um ambiente favorável para o autismo.

AC Ú S T I C A , é u m d o s a s p e c t o s m a i s importantes que se deve acertar no projeto, um bom tratamento acústico é indispensável para que se controle e evite as distrações causadas por ruídos externos, criando ambientes mais calmos (Beaver, 2006; Khare & Mullic k, 2009). Para muitos autistas com hipersensibilidade a sons, devido a uma disfunção sensorial, como sons do ar condicionado ou

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incorporar informações visuais concretas nos a m b i e n t e s , p a r a u t i l i z a r a c a p a c i d a d e d e reconhecimento visual dos indivíduos como forma de torná-los mais independentes (Khare & Mullick, 2009; Cruz, Abdala, & Antunes, 2015). Pode-se fazer isso através da criação de caminhos evidentes, portas e acessos identificados e nomeados, zonas com códigos de cores, limites definidos, formas simples, numerações, sinalizações claras, entre outros (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015). As cores podem desempenhar um papel importante nas sensações do edifício, existem cores neutras, cores calmas, cores perturbadoras e cores e s t i m u l a n t e s , e l a s d e v e m s e r e s c o l h i d a s cuidadosamente, para assegurar um equilíbrio, principalmente entre espaços comuns e privados (Beaver, 2006). Também é importante fornecer aos usuários informações sobre o ambiente por meio dos outros sentidos (olfato, audição e tato) (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015). Um ambiente sem distrações e de fácil compreensão da ordem espacial deve ser desprovido dos elementos visuais não essenciais, como pôsteres e outras imagens, as sinalizações não devem ser desordenadas e nem deve haver excesso de objetos nos caminhos, tais como estantes com materiais expostos (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015). Fornecer instruções visuais é uma maneira de dar orientações necessárias ou sequencias de passos a serem seguidos em determinadas atividades, de modo visual. Dependendo da habilidade de cada pessoa, pode ser dada uma instrução de forma escrita, com fotografias, imagens, desenhos simples nos espaços onde serão desenvolvidas as atividades (Khare & Mullick, 2009).

SIMPLICIDADE E CLAREZA são princípios que potencializam a compreensão dos ambientes, com isso menos esforço é necessário para entender, usar e desfrutar do edifício. Um layout claro, zoneamento claro, formas simples, sem poluição visual, podem auxiliar crianças com autismo a perceber o espaço construído mais facilmente (Khare & Mullick, 2009). Qualquer coisa muito complexa irá confundir os usuários. Um fácil reconhecimento dos espaços e salas é essencial e pode ser determinado por pisos coloridos ou na forma que um espaço se conduz a outro (Beaver, 2006).

O PLANEJAMENTO dos ambientes e do layout irão ditar como o edifício funciona e como será usado (Beaver, 2006). Ao fornecer uma estrutura física, cria-se um claro limite físico e visual, com isso cada atividade é claramente associada com um espaço físico,

4.1. EMBASAMENTO TEÓRICO

ventiladores, sons de passos ou crianças brincando, de um caminhão de lixo passando ou mesmo o zumbido aparentemente normal de luzes fluorescentes, podem causar extrema agitação (Brownlee, 2016). Um sentimento de tranquilidade gerado por um tratamento acústico adequado, certamente trará uma sensação de bem estar entre autistas e os profissionais e encorajará um melhor comportamento e maior capacidade de concentração nas crianças, melhorando assim seu aprendizado. Outro ponto importante na acústica é que ela influencia na escolha de materiais e assim na aparência e aconchego do edifício (Beaver, 2006). Segundo Christopher Beaver, o uso de carpete no piso irá reduzir o impacto dos passos das pessoas e também a b s o r ve r s o n s , a s s i m c o m o p r o p o r c i o n a r á oportunidades para tratamentos decorativos. Em áreas onde não se pode acarpetar como áreas molhadas, pode ser utilizado um piso de borracha macia para conseguir um efeito similar, assim como pisos de cortiça para os sons de passos em espaços públicos da edificação, como foi utilizado por DaSilva Architects no projeto "Center of Autism and the Developing Brain" em Nova Iorque. Beaver também sugere que o uso de paredes com acabamentos ásperos ou rugosos como tijolos a vista podem ser bem sucedidas na quebra de ondas sonoras refletidas e com isso reduzindo níveis de ruídos no ambiente. Para o tratamento acústico do teto dos uma boa solução é o uso de lâminas de madeira colocadas com um afastamento de 10mm do teto, juntamente com uma manta de absorção acústica, além disso a madeira pode ser bastante utilizada pois traz uma sensação de aconchego ao ambiente (Beaver, 2006).

I L U M I N A Ç Ã O, é u m a c o n s i d e r a ç ã o importante em qualquer espaço, que pode melhorar ou piorar um ambiente (Beaver, 2006; Brownlee, 2016). Segundo John Brownlee, "para algumas pessoas com autismo, a luz é um problema, não pode ser muito quente, nem muito frio, muito brilhante ou fraca, dura ou artificial, nem mesmo muito natural, ela precisa apenas ser correta". A iluminação deve ser uma mistura de natural e artificial. Indica-se o uso de janela localizadas num nível mais alto ou uma iluminação zenital, pois traz a sensação suave de ar livre, sem expor o que está acontecendo fora do ambiente, evitando assim possíveis distrações (Brownlee, 2016). Para a iluminação artificial, deve-se utilizar fontes de luz diversificadas, não apenas as luzes de teto como encontradas em muitos escritórios, e também a utilização de dimmers e controladores de intensidade

(Brownlee, 2016). A questão chave é a flexibilidade, criação de ambiências diferenciadas, possibilidade de trocas de layout e controle do nível de luz nos ambientes, conforme a necessidade de alguns usuários (Beaver, 2006).

VENTILAÇÃO, não é um aspecto que exija uma adaptação específica para pessoas com autismo, contudo é um ponto importante a se considerar em qualquer tipo de projeto, pois um o edifício tenha ar fresco e ventilação natural é essencial para o bem estar dos usuários (Beaver, 2006). Porém deve-se levar em conta que para crianças em geral, e principalmente algumas com autismo, janelas abertas são um convite aos que têm tendência a escapar. Deve-se então utilizar janelas mais altas que possam ser abertas e fechadas apenas por funcionários, ficando fora do alcance das crianças. Janelas mais altas podem ser também uma forma de estimular a ventilação cruzada (Beaver, 2006).

IDENTIDADE VISUAL E LEGIBILIDADE são estratégias essenciais na criação de espaços que estimulem a independência dos autistas em localizarem e conviverem melhor na edificação proposta. Deve-se

Figura 9 - Exemplo de iluminação natural com janelas mais altas. Fonte: E4H Architecture, 2016. Disponível em:

http://www.e4harchitecture.com/portfolio/mental_health/166-Center_for_Autism_and_the_Developing_Brain Acessado em: 27/07/2016.

Figura 10 - Exemplo de instrução visual para descrever a atividade desenvolvida em determinado espaço. Fonte: acervo próprio.

Figura 11 - Exemplo de instrução visual como sequência de passos a serem seguidos pelo autista. Fonte: acervo próprio.

Figura 12 - Exemplo de um zoneamento simples e claro, sem poluição visual. Fonte: Carlson, 2015. Disponível em:

http://portfolios.risd.edu/gallery/30726051/Storage-Maze-Autism-Sensory-Classroom Acessado em: 27/07/2016.

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variavelmente controlados. Salas de baixo estímulo sensorial, calmas e com distrações controláveis para ajudar a focar no ensino individualizado (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015). São importantes também as salas com estímulos sensoriais específicos, utilizando-se de luz e som com técnicas interativas que podem ajudar as crianças com dificuldades de aprendizagem a melhorar sua coordenação, desenvolver a compreensão de causa e efeito ou promover o relaxamento (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015).

DURABILIDADE E MANUTENÇÃO são problemas constantes em locais onde se predomina um comportamento desafiador o autismo (Beaver, 2006). O uso de materiais mais robustos e praticamente indestrutíveis tem a tendência de não serem muito agradáveis e custam bastante para reparar se por acaso forem danificados. Enquanto o uso de materiais mais simples e aconchegantes, apesar de ser preciso um reparo mais constante, são fáceis e baratos de reparar e podem ser a melhor escolha para se proporcionar um ambiente que façam as pessoas se sentirem em casa. A limpeza também é um elemento chave num local que se está cuidando de crianças, o uso de materiais fáceis de limpar e previsão de uma boa lavanderia industrial são indispensáveis (Beaver, 2006).

Segundo uma pesquisa feita por Rachna Khare e Abir Mullick, levantando dezoito parâmetros de projeto, a partir dos critérios já mencionados, que foram analisados por professores e profissionais de educação regular e de educação especializada em autistas, confirmando que os critérios de projeto estudados são favoráveis não apenas para crianças autistas, mas também para o ensino de qualquer criança em escolas regulares. Apenas os critérios de integração

4.1. EMBASAMENTO TEÓRICO

no currículo educacional (Khare & Mullick, 2009). A participação da família é essencial para um sucesso a longo prazo. A presença dos pais é necessária para a orientação e criação de planos individualizados, segundo a necessidade educacional de seus filhos, assim como reuniões de pais e professores para feedbacks. A possibilidade de observar seus filhos sem distraí-los é útil para aprender a lidar com as dificuldades apresentadas juntamente com os professores e terapeutas (Khare & Mullick, 2009). Oferecer oportunidades para a participação junto à comunidade é muito importante, pois para muitas pessoas com autismo o currículo educacional deve incluir atividades de vida diária, como fazer compras, atravessar ruas, ir a igreja, usar o transporte público, por isso, uma localização perto de atividades da comunidade é uma vantagem pra ambientes educacionais. Assim como atividades que espontaneamente levem a integração com a comunidade, como a criação de treinamento e e m p r e g o s p a r a p e s s o a s c o m a u t i s m o .

SEGURANÇA E PROTEÇÃO devem ser priorizadas em ambientes com crianças com autismo. Elas são vulneráveis ao meio ambiente, devido a sua d i s f u n ç ã o s e n s o r i a l , c o m p r o m e t i m e n t o n a comunicação e a falta de consciência de perigos. Deve-se evitar criar espaços muito abertos ou que Deve-seja possível uma fuga, além de arestas pontiagudas e materiais tóxicos (Khare & Mullick, 2009). Ambientes não ameaçadores também são necessários para essas crianças, pois o medo pode paralisá-las completamente e até bloquear as interações sociais, ficam fisicamente estagnadas, sem comunicação com o mundo exterior. Inversamente a isso, os ambientes devem ser acolhedores e oferecerem uma sensação de segurança (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015).

A INTEGRAÇÃO SENSORIAL é uma forma de trabalhar as disfunções sensoriais presentes em muitas das crianças autistas. As disfunções sensoriais fazem com que os autistas sejam muito ou pouco sensíveis à recepção de sensações, afetando sua percepção e entendimento do ambiente a sua volta (Khare & Mullick, 2009). Salas de integração sensorial promovem oportunidade multissensoriais no ambiente que ajudam as crianças a integrar seus sentidos para um melhor entendimento, este tipo de terapia também ajuda os autistas a desenvolverem tolerância aos sentidos que os incomodam e os deixam mais calmos (Khare & Mullick, 2009). Pode-se criar uma variedade de configurações de sala de aula com estímulos

por exemplo, ao colocar estrategicamente mobiliários podemos definir áreas para atividades individuais e em grupo, áreas de diversão, leitura, lanche e outras áreas da sala de aula (Khare & Mullick, 2009). Um espaço que deve ser banido de uma arquitetura para autistas são os corredores. Segundo John Brownlee, corredores institucionais intermináveis como de muitos hospitais e clínicas, que se estendem por uma fileira de portas indistinguíveis, podem provocar confusão e mesmo terror em pacientes jovens. Os espaços de circulação devem ser espaços interessantes e multifuncionais, como um espaço para brincar, ler, assistir TV, espaços de socialização ou realização de atividades, podem ser chamados também de pontos focais do edifício (Brownlee, 2016; Beaver, 2006). Não há dúvidas que as crianças se sentem mais livres nestes tipos de espaços. Paredes curvas ajudam algumas crianças a se moverem pelo edifício, pois gostam de seguir a curva e evitar esquinas repentinas (Beaver, 2006). Devemos levar em conta também as alturas de pé direito, formatos dos ambientes, etc, e como estes elementos influenciam na criação de espaços públicos ou espaços mais privados (Beaver, 2006). São variadas as atitudes das pessoas para a perda de espaço pessoal, pessoas com autismo podem ser muito sensíveis a isso, se sentem ameaçadas por aglomerações de pessoas, e reagem a isso. Espaços generosos ajudarão pessoas com autismo a lidar mais confortavelmente em locais com muito estímulo social (Khare & Mullick, 2009).

FLEXIBILIDADE é considerado um dos critérios mais importantes de projeto para escolas inclusivas (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015). Pela diversidade que é o espectro autista, devemos ter em

mente que além de tudo que foi citado, o layout deve ser bastante flexível, para que possa se adaptar as mais diferentes atividades e necessidades individuais de cada autista (Khare & Mullick, 2009). Além disso a flexibilidade dos ambientes pode-se dar por meio de mobiliário, arranjos espaciais e iluminação, que permitam a adaptação de programas de ensino, o rearranjo e subdivisão dos espaços (Cruz, Abdala, & Antunes, 2015).

ESPAÇOS DE RETIRADA ajudam as pessoas com autismo a evitarem estresse e ansiedade gerados por situações ou locais que demandam socialização, muitos deles tem dificuldade de lidar em situações como esta e preferem ficar afastados de grupos de pessoas. Nestes espaços, eles podem se livrar de distrações e estímulos e retomar seu autocontrole (Khare & Mullick, 2009).

AMBIENTES INCLUSIVOS são locais em que se apresentam oportunidades de inclusão de todos os tipos. Não somente seguindo padrões e normas de acessibilidade universal, mas também proporcionando oportunidades no ambiente educacional em que as crianças com autismo possam interagir com outros colegas fisicamente capazes, devem ser colocados num cenário inclusivo, com um professor ajudante, currículo e estrutura modificados para apoiar e se adaptar a suas necessidades específicas (Khare & Mullick, 2009). Um ambiente que apoie a autossuficiência doméstica e profissional, através de treinamentos de independência que ajudarão as crianças com autismo a viver com dignidade no futuro. Muitas crianças com autismo não desenvolvem estas habilidades como os colegas com desenvolvimento normal, ele precisam destes objetivos

Figura 13 - Exemplo de layout para uma sala de aula para autistas. Fonte:Kerner, 2012, disponível em:

http://www.dewberry.com/news/blog/post/blog/2012/12/06/classroom-design-for-students-with-autism-spectrum-disorders, acessado em:

27/07/2016.

Figura 14 - Mobiliários criativos e flexíveis para salas de aula para autistas. Fonte: Albanese, 2015. Disponível em:

http://www.risd.edu/about/news/2015/sensible-and-sensitive-solutions/ Acessado em: 27/07/2016.

Figura 15 - Mobiliários criativos e flexíveis para salas de aula para autistas. Fonte: Albanese, 2015. Disponível em:

http://www.risd.edu/about/news/2015/sensible-and-sensitive-solutions/ Acessado em: 27/07/2016.

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influência muito nas sensações passadas as pessoas dentro deste espaço, e que um ambiente bem projetado pode melhorar a capacidade de concentração, aprendizado, comportamento e desenvolvimento de crianças, adolescentes e até mesmo adultos num ambiente de ensino.

4.1. EMBASAMENTO TEÓRICO

sensorial e participação da comunidade foram menos relevantes nas análises apontadas pelos profissionais de educação regular, apesar de recomendarem também para as crianças do ensino regular (Khare & Mullick, 2009).

Percebe-se então que o ambiente construído

Gráfico 1 - Recomendações de especialistas em autismo para crianças autistas e de profissionais da educação regular para crianças com desenvolvimento normal. Fonte: Khare & Mullick, 2009, p.57.

passos, e em áreas molhadas onde não se pode usar o carpete, foi utilizado um piso emborrachado macio para conseguir um efeito similar (Brownlee, 2016). Equipamentos barulhentos como ar condicionado e sistema de ventilação foram instalados em um anexo à parte, eliminando assim seus ruídos (Brownlee, 2016). A iluminação foi trabalhada com fontes mistas de luz natural e artificial. As grandes janelas já existentes no ginásio se mostraram vantajosas, pois estavam l o c a l i z a d a s a d o i s m e t r o s a c i m a d o c h ã o, proporcionando a sensação suave de ar livre, sem fornecer distrações do ambiente externo (Brownlee, 2016). Na iluminação artificial utilizou-se não apenas luzes de teto, mas também a iluminação lateral, diversificando assim as fontes de luz. Todas as lâmpadas com possibilidade a ser reguladas caso seja a necessidade de algum paciente (Brownlee, 2016).

crianças apresentam, foram utilizados elementos de design familiares como pequenas casas e pavilhões entre ruas abertas, caminhos e outros espaços de encontros centrais (Brownlee, 2016). Os espaços de atividade foram organizados em grupos de casas com formas distintas, onde suas portas e janelas se abrem para as zonas de encontros das circulações onde há os maiores espaços iluminados por luz natural (E4H Architecture, 2016). Cor, tamanho, forma, textura e luz são usadas para criar espaços ativos e como uma ferramenta de sinalização para pacientes e familiares (E4H Architecture, 2016). O próprio teto do ginásio foi transformado num céu artificial com nuvens, e pequenos parques e jardins internos com bancos também foram criados (Brownlee, 2016). Essa versão de uma pequena cidade com detalhes familiares e caminhos diferenciados, cria um ambiente em que as crianças se sentem confortáveis, e se distinguem dos corredores institucionais presentes em clínicas e hospitais que causam confusão e desorientam estas crianças (Brownlee, 2016).

O tratamento acústico do ginásio e dos ambientes foi concebido para ser tão à prova de som quanto possível, com carpete de absorção para amortecer ruídos e painéis de amortecimento de som nas paredes (Brownlee, 2016). Nas áreas públicas foi utilizado um piso de cortiça para amortecer o som de

4.2. REFERENCIAL ARQUITETÔNICO

4.2. REFERENCIAL ARQUITETÔNICO

CENTRE FOR AUTISM AND THE DEVELOPING BRAIN - NOVA IORQUE

O projeto do Centro para o Autismo e o Cérebro em Desenvolvimento feito pelo escritório E4H Architecture em Nova Iorque, incluiu a renovação de um antigo ginásio existente para uma nova instalação onde seriam feitas avaliações, diagnósticos e tratamentos de pacientes com autismo (E4H Architecture, 2016).

Um dos grandes desafios foi transformar um

ginásio com tendência de ser bastante ecoante num local agradável para o tratamento de crianças ultrassensíveis aos seus ambientes. A solução foi a criação de uma vila toda colorida no interior deste ginásio, com salas de atividades e de consulta equipadas de modo flexível, que podem ser usados por crianças e também por adolescentes e adultos (E4H Architecture, 2016; Brownlee, 2016). Dada a sensibilidade que estas

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principais de todas as edificações, o uso da transparência e visualização dos jardins, com cores durante o ano todo e que fazem uma calma transição, afastando-se dos hospitais localizados sempre por perto dos centros (Maggie's Edinburgh, 2016). Os jardins devem ser espaços para apreciar as qualidades terapêuticas da natureza, que proporcionam sentimentos tanto energizantes como de repouso. O objetivo dos projetos é transmitir a partir da edificação e do jardim, de seu espaço e forma, o sentimento de um abraço de carinho e segurança. O efeito geral é sempre de tranquilidade e paz (Maggie's Edinburgh, 2016).

Os centros ao contrário dos hospitais, não possuem recepção e os ambientes dão sensação de ser um lar para as pessoas que serão acolhidas neles, a ideia que eles querem passar é "você como pessoa e não como paciente" (Maggie's Edinburgh, 2016). A planta livre e os espaços amplos permitem uma abertura emocional, para alegria e tristeza, enquanto os espaços mais íntimos permitem a reflexão e tranquilidade (Maggie's Edinburgh, 2016). Os materiais mais utilizados são a madeira e o vidro, porém o aço e o concreto estão bastante presentes em alguns projetos.

4.2. REFERENCIAL ARQUITETÔNICO

São centros de apoio prático, emocional e social para pessoas com câncer e seus familiares e amigos. A ideia da criação destes centros partiu de Maggie Keswick Jencks, que após seu diagnóstico de câncer de mama, escreveu um artigo para uma revista médica na perspectiva de um paciente em que está sendo tratado de câncer. O artigo "A View from the Front Line" deu-lhe a oportunidade de descobrir as necessidades de pessoas afetadas pelo câncer (Maggie's Cancer Caring Centre, 2016). A fim de não ser uma "vítima de câncer", ela acreditava que a pessoa precisava de ajuda com informações, que lhe permitiria ser um participante informado no seu tratamento médico, ajudar com estratégias de redução do estresse, apoio psicológico e a oportunidade de se encontrar e compartilhar com outras pessoas em circunstâncias semelhantes em uma tranquila atmosfera doméstica (Maggie's Cancer Caring Centre, 2016).

Com base em alguns centros analisados (Edinburgh, Manchester, West London, Nottingham, Oxford e Highlands), alguns aspectos comuns das arquiteturas foram levantadas: o contato com a natureza e uso de iluminação natural é um dos elementos É um exemplo de como a arquitetura pode

influenciar na educação. O jardim de infância "Fuji Kindergarten" localizado em Tóquio foi projetado pelo escritório Tezuka Architects, que inspirados pelos próprios filhos, criaram um local mágico projetado para as crianças (Ha, 2015). É um playground infinito, que incorpora ao edifício as árvores já existentes no terreno, que crescem de dentro das salas de aula e atravessam a cobertura do edifício (Ha, 2015).

A escola foi projetada em círculo, sua cobertura é baixa e larga, forrada com placas de madeira e pontilhada de claraboias que iluminam os ambientes do edifício (Reissman, 2014). Sua forma circular cria uma espécie de circulação infinita para as crianças brincarem. Os arquitetos explicam que o jardim de infância foi projetado para complementar a curiosidade natural dos alunos, a energia e o desejo de explorar os arredores, liberdade é a palavra chave do projeto (Tezuka, 2014; Reissman, 2014). O objetivo era criar um espaço onde as crianças seriam encorajadas a serem curiosas, para correr, fazer barulho, escalar, saltar, caminhar, num espaço seguro, mas em que possam se envolver com o mundo natural e construído ao mesmo tempo (Reissman, 2014).

O pátio central integra os ambientes da escola, é

FUJI KINDERGARTEN - TÓQUIO

um local para atividades em grupo, reflexões e momentos de fuga dos alunos que não querem ficar em sala de aula (Tezuka, 2014). Não há razão para os alunos ficarem nervosos ou ansiosos nesta escola, pois não há limites nas salas de aula, o layout é livre e as salas são abertas ao pátio central, não são caixas silenciosas como em outras escolas (Tezuka, 2014). Os espaços são flexíveis, prioriza-se o contato das crianças com o exterior, com o sol, a chuva e o vento. O mobiliário é diferenciado, são módulos de caixas feitas numa madeira muito leve, em que o layout pode ser construído e desconstruído pelas crianças e professores, que modificam frequentemente as salas de aula (Tezuka, 2014).

MAGGIES CENTRE - REINO UNIDO

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Referências

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