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A geração de energia elétrica de forma distribuída na concretização da sustentabilidade econômica e social

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Academic year: 2021

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DANIEL CORRENTE DE MORAES

A GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DE FORMA DISTRIBUÍDA NA CONCRETIZAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIAL

Orientador: MSc. Marcelo Loeblein dos Santos

Ijuí (RS) 2013

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DANIEL CORRENTE DE MORAES

A GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DE FORMA DISTRIBUÍDA NA CONCRETIZAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIAL

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, apresentado como requisito para a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso. DECJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador: MSc. Marcelo Loeblein dos Santos

Ijuí (RS) 2013

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Dedico este trabalho à minha família, pelo apoio e incentivo a mim dedicados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a toda minha família pelo apoio e paciência, bem como a confiança em mim depositada em todos os momentos de dificuldade. A vontade de dar orgulho às pessoas que amo sempre foi a minha maior força.

Agradeço também ao meu orientador, Professor Marcelo Loeblein dos Santos, por ter sido sempre solícito em atender a todas as duvidas surgidas durante a realização do presente trabalho. Sou grato também por sua paciência, clareza e sabedoria ao ajudar a conduzir minha monografia.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso trata da questão ambiental, que tem ganhado espaço no cenário atual devido a recentes estudos que apontam para a necessidade de mudanças no comportamento humano, com a finalidade de preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as próximas gerações. Neste aspecto, surge o Decreto nº 5.163 de 2004 e a Resolução Normativa 482, da ANEEL, que conceituam e regulamentam a geração de energia elétrica de forma distribuída, utilizando fontes renováveis. Assim, o trabalho se propõe a verificar se a geração de energia elétrica de forma distribuída tem o potencial de funcionar como vetor na concretização do desenvolvimento econômico e social de forma sustentável. Deste modo, são descritas a criação e a evolução do conceito de desenvolvimento sustentável, passando então a descrever o serviço de geração e fornecimento de energia elétrica, para por fim analisar a relação da geração distribuída com a sustentabilidade. Para tanto, buscou-se bibliografias relacionadas ao tema, as quais foram selecionadas e fichadas para, através do método hipotético dedutivo, elaborar o trabalho. Desta maneira, verificou-se que é eminente à necessidade transformação no modo de produção de energia elétrica, principalmente no que diz respeito à implementação de políticas públicas eficazes no combate ao mau uso dos recursos naturais, sendo que neste ponto se enquadra a geração de energia elétrica de forma distribuída.

Palavras-Chave: Desenvolvimento sustentável; direito ambiental; geração distribuída; meio ambiente.

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ABSTRACT

The following conclusion paper deals about the environmental subject which has gained importance in the present scenario because of recent studies which indicates a need for changes in the human behavior in order to preserve the ecologically balanced environment for the next generations. This way there is the Decree Nr 5.163 (2004) and the Normative Resolution Nr 482 from ANEEL, which conceptualize and regulate the eletricity production in a distribuited way, using susteinable sources. Thus the study aims to determine if the eletricity production in a distrbuited way has the potential of working as a vector in the realization of economic and social development in a sustainable manner. Then it is described the creation and evolution of the concept of sustainable development, describing the service of the production and supply of electric power so the relation of distribuited production with sustentability can be analised. Therefore it was researched bibliographies related to the subject which were selected to, through the hypothetical deductive method, elaborate the study. This way it was verified that the need for transformation in the way of producing eletricity is imminent, especially the implementation of effective public policies to combat the misues of natural resources and at this point there is energy production in a distribuited way.

Keywords: sustainable development; environmental law; distributed production; environment.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 12

1.1 Surgimento e evolução do conceito de desenvolvimento sustentável ... 13

1.1.1 Clube de Roma ... 13 1.1.2 Conferência de Estocolmo ... 14 1.1.3 Comissão Brundtland ... 14 1.1.4 Rio 92 ... 15 1.1.5 Protocolo de Quioto ... 17 1.1.6 Rio+10 ... 17 1.1.7 Rio+20 ... 18 1.2 Aspectos contraditórios ... 19

1.2.1 Desenvolvimento sustentável ou crescimento econômico ... 19

1.2.2 Desenvolvimento sustentável como fachada ... 20

1.2.3 Ecocapitalismo ... 21

1.3 O desenvolvimento sustentável no Brasil ... 23

1.3.1 Os primeiros passos do Brasil em busca da sustentabilidade ... 24

1.3.2 Desenvolvimento sustentável e a Constituição de 1988 ... 25

1.3.3 O Brasil e o direito internacional ambiental ... 27

2 PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL ... 30

2.1 Histórico da energia elétrica no Brasil ... 30

2.1.1 Investimentos privados ... 31

2.1.2 Estatizações ... 31

2.1.3 Privatizações ... 33

2.1.4 O período de racionalização ... 34

2.1.5 Tentativa de equilibrar investimentos públicos e privados ... 35

2.2 Panorama atual do setor elétrico brasileiro ... 36

2.2.1 Agência Nacional de Energia Elétrica ... 36

2.2.2 Operador Nacional do Sistema Elétrico ... 37

2.2.3 Câmara de Comercialização de Energia Elétrica ... 38

2.2.4 Matriz energética nacional ... 39

2.3 Energias renováveis... 40 2.3.1 Energia eólica ... 41 2.3.2 Biomassa ... 42 2.3.3 Hidrogênio ... 43 2.3.4 Hidrelétricas ... 44 2.3.5 Energia solar ... 45

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3 A PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DE FORMA DISTRIBUÍDA COMO

FATOR DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 47

3.1 Geração de energia elétrica de forma distribuída ... 48

3.2 Resolução Normativa Nº 482/2012 ... 50

3.2.1 Mudanças inseridas pela Resolução Normativa 517/2012 ... 51

3.2.2 Questão da cobrança de ICMS ... 52

3.2.3 Conceito de microgeração e minigeração ... 53

3.2.4 Iniciativas pós Resolução Normativa 482/2012 ... 54

3.3 Incentivos a sustentabilidade e a geração distribuída ... 55

3.3.1 Lei 10.295/01 – Lei da Eficiência Energética ... 56

3.3.2 Lei 10.438 de 26 de abril de 2002 ... 57

3.3.3 Projetos de lei ... 57

3.3.4 Grupo de trabalho de geração distribuída com sistemas fotovoltaicos ... 57

3.3.5 Plano Brasil maior ... 58

3.4 Acesso a energia elétrica ... 58

3.4.1 Acesso a energia elétrica e o princípio da dignidade humana ... 59

3.4.2 Programa luz para todos ... 60

3.5 Relação da geração distribuída com o desenvolvimento sustentável ... 62

CONCLUSÃO ... 65

REFERÊNCIAS ... 68

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INTRODUÇÃO

Por meio da análise histórica do desenvolvimento humano verifica-se que a descoberta e implementação de novos modelos energéticos impulsionam grandes transformações, quer sejam nos aspectos sociais, econômicos ou mesmo ambientais. De acordo com Farias e Sellito (2012), desde o gênesis da humanidade o homem tem aprimorado a utilização de diversas fontes de energia. Inicialmente, no período paleolítico, por meio da utilização de um vegetal resinoso para o domínio da produção do fogo, posteriormente, já na idade média, com a utilização do vapor, bem como na idade moderna e contemporânea, em que passaram a ser utilizados os combustíveis fósseis como o carvão e o petróleo.

Porém, a opção humana em utilizar predominantemente combustíveis não renováveis mostra-se claramente equivocada. Isto se deve tanto em razão da óbvia finitude destes recursos, quanto em razão dos efeitos devastadores que causam ao meio ambiente, uma vez que sua exploração resulta em resíduos danosos ao planeta. Com isso, torna-se cada vez mais evidente a preocupação dos governantes e da comunidade científica com as fontes cada vez mais escassas dos combustíveis fósseis, bem como no tocante aos problemas ambientais que surgem.

Consequentemente, cresce de importância à utilização de políticas públicas de incentivo a produção de energia elétrica de forma ecologicamente sustentável. Neste aspecto, buscam-se formas eficazes de produção de energia limpa, a qual segundo Cunha (2006) é aquela que não libera durante seu processo de produção ou consumo, resíduos ou gases poluentes geradores do efeito estufa e do aquecimento global. Neste contexto, o surgimento de soluções simples, como a utilização de fontes renováveis de energia para produção de energia elétrica, tem ganhado espaço no cenário nacional. Como exemplos destas fontes podem ser citadas a energia eólica e a energia solar.

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Seguindo esta linha de raciocínio, tem surgido nos últimos anos uma nova concepção quanto à produção de energia elétrica. Este novo conceito é baseado na produção de energia elétrica em residências e indústrias, em pequena escala. A tal processo dá-se o nome de geração de energia elétrica de forma distribuída. Este método de produção de energia de forma desconcentrada recebeu regulação recente no Brasil por meio da Resolução Normativa nº 482, de abril de 2012, publicada pela Agência Nacional de energia Elétrica, estabelecendo assim as condições para o acesso a microgeração e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica, bem como o sistema de compensação de energia elétrica, os quais trazem a possibilidade de promover o crescimento da matriz energética do país, sem degradar o meio ambiente.

No Brasil, assim como em outros países, as pesquisas e avanços tecnológicos permitem a mudança de antigos hábitos. Um dos exemplos disso é a exploração das potencialidades das fontes renováveis de energia, que surge como um caminho na busca da promoção do desenvolvimento sustentável. Portanto é inegável a abertura de espaço no mercado para ideias como a da geração distribuída de energia elétrica. Em conformidade com este entendimento, já no ano de 2004, o Decreto Nº 5.163, definia o conceito de produção de energia elétrica de forma distribuída. Desta forma, a ANEEL, por meio da já citada Resolução Normativa nº 482/2012, deu as diretrizes para a exploração desta atividade.

Contudo, a regulamentação elaborada pela ANEEL, justamente por ser recente, traz indagações sobre de que forma tal prática funcionará e se realmente incrementará a produção de energia elétrica. Assim, restam dúvidas se a partir de agora ocorrerão avanços socioeconômicos como consequência da utilização da geração distribuída e se tal forma de produção de energia realmente causará impactos mínimos ao meio ambiente.

Deste modo, o presente trabalho é dividido em três capítulos, sendo que no primeiro capítulo é descrita a concepção e a evolução do conceito de desenvolvimento sustentável, abordando as principais convenções realizadas pela Organização das Nações Unidas que trataram do tema. Finalizando este capítulo é narrada a forma como o meio ambiente e a sustentabilidade tiveram enfoque em âmbito nacional.

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Já o segundo capítulo passa a expor o serviço de geração de energia elétrica no Brasil, abordando as fases históricas que levaram a produção de energia elétrica até o atual estágio, no qual a matriz energética nacional é baseada na produção concentrada em grandes hidrelétricas. Deste modo, são expostas as causas dos problemas enfrentados no decorrer da história, verificando-se as escolhas feitas de maneira equivocada, para assim introduzir a geração distribuída como fator de inovação, capaz de superar as dificuldades enfrentadas pelo governo no tocante ao referido serviço.

Por fim, o terceiro capítulo apresenta a geração de energia elétrica de forma distribuída como potencial vetor na concretização do desenvolvimento sustentável. Para tanto, apresenta a Resolução Normativa 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica, regulamentação esta criada em 2012, por meio da qual se espera que se torne rotineiro o emprego de fontes de energia limpa e renovável. Neste sentido, são destacadas as principais iniciativas governamentais em relação ao incentivo às práticas sustentáveis em termos energéticos, bem como o viés de inclusão social da geração distribuída.

Nestes termos, para a elaboração do presente trabalho e consequente obtenção dos resultados, foi analisada a aplicabilidade da geração distribuída em âmbito nacional, utilizando-se para tanto a bibliografia relacionada ao tema, principalmente dentro das áreas de Direito Ambiental e Engenharia Elétrica. Desta forma, o material foi selecionado por meio de uma análise crítica, para que houvesse a abordagem de assuntos realmente pertinentes ao tema do trabalho. Posteriormente, as referências selecionadas foram devidamente fichadas para, através do método hipotético dedutivo, tratar das indagações concernentes à relação da sustentabilidade com a geração distribuída, averiguando as falhas da hipótese inicialmente concebida e buscando soluções para as mesmas, de maneira que fosse gerado um processo de auto renovação do conhecimento.

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1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O estágio de degradação que o planeta se encontra é cada vez mais perceptível em razão das mudanças climáticas, situação esta que vem causando constantes desastres naturais. Diante deste fato cabe não só ao Estado como também a sociedade a busca por soluções para este grave problema. Neste sentido, Milaré (2011, p. 65) tem o seguinte entendimento sobre o tema em questão:

Desta feita, a cada momento, por onde quer que observamos deparamo-nos com inúmeros e variados problemas ambientais á nossa volta. De fato, a problemática ambiental está na ordem do dia. Basta atentar para as fontes de informação e ver que as agressões ao ambiente desfilam diuturnamente nos noticiários, nem sempre sensibilizando a sociedade e os seus dirigentes.

Com isso, a avaliação dos fatores que influenciam o aumento desta degradação é fundamental para estabelecer procedimentos que venham a amenizar o problema. Neste aspecto é visível que a sociedade consumerista por meio do incentivo do sistema capitalista acaba por ser a principal responsável por utilizar de forma descomedida os recursos disponíveis.

Deste modo, surge a necessidade de produzir e consumir de forma consciente, levando em conta as consequências de tais ações. A finitude dos recursos naturais há muito já é sabida e com isso o ser humano vem buscando, por meio da tecnologia, meios para driblar tais problemas, contudo a evolução tecnológica encontra limites, conforme a afirmação de Braga et al. (2005, p. 216):

A tecnologia demonstrou, então, que poderia contribuir de forma efetiva na reversão de situações críticas. Métodos de planejamento, modelos matemáticos, equipamentos para controle de poluição e processos tecnológicos alternativos menos poluentes foram desenvolvidos. Isso possibilitou a correção de problemas existentes, como também a estimativa antecipada de efeitos e impactos de situações hipotéticas futuras por meio de simulações com modelos físicos e matemáticos Passou-se, assim, a admitir que existem limites que devem ser respeitados e que a tecnologia é fundamental, mas não é capaz de resolver todos os problemas quando alguns limites, ás vezes desconhecidos, são alcançados (efeito estufa, depleção .da camada de ozônio).

Ainda no século passado, em busca de caminhos que pudessem levar a uma inversão da tendência de degradação dos recursos naturais, as nações passaram a se movimentar no sentido de encontrar soluções conjuntas, uma vez que há uma interdependência entre os países

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no que diz respeito aos problemas ambientais. Neste período é concebido o conceito de desenvolvimento sustentável ou ecodesenvolvimento, quem vem a ser a base para a construção do presente capítulo.

1.1 Surgimento e evolução do conceito de desenvolvimento sustentável

A partir do século XVII, com as mudanças trazidas pela Revolução Industrial, houveram muitas transformações na sociedade. O surgimento de novas fábricas propiciou o aumento da produção e consequentemente o crescimento econômico. Porém, à época, não havia qualquer cuidado com o meio ambiente e nem se tinha noção dos estragos que a humanidade inflingia ao planeta.

Além da destruição ambiental, as mudanças trazidas nesta época foram responsáveis pelo aumento considerável dos problemas sociais, ocorridos em função do êxodo rural que superlotou as cidades, as quais cresceram de forma desorganizada e sem a infraestrutura adequada.

Contudo, conforme relata Lange (2005), somente entre o final do século XIX e início do século XX é que começam a surgir às primeiras concepções de preservação da natureza, com os primeiros acordos internacionais sobre o assunto. Nesta época foram elaborados os seguintes acordos versando sobre a proteção da fauna: Acordo Internacional sobre a Proteção das Focas do Mar de Bering (1883), Convenção Internacional para a Proteção dos Pássaros Benéficos à Agricultura (1895), Congresso Internacional para a Proteção das Paisagens e Congresso Internacional para a Proteção da Natureza (1923).

1.1.1 Clube de Roma

No ano de 1968 ocorreu a primeira reunião do chamado Clube de Roma que era associação informal, constituída por cerca de setenta pesquisadores de diversos segmentos da sociedade, a qual tinha a finalidade de debater sobre os problemas ambientais e sociais do mundo (O CLUBE..., 2011). As discussões centraram-se na busca de soluções para a crescente necessidade de matéria prima e a quantidade alarmante de resíduos que a população mundial produzia. Neste mesmo sentido, Machado; Souza e Brum (2012, p. 5) afirmam o seguinte sobre o Clube de Roma:

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Em sua criação, ele foi responsável pela realização de uma análise que constatou que a sustentabilidade do planeta estava gravemente abalada, pois a demanda por matérias-primas, por recursos naturais, bem como a geração de resíduos provenientes do imenso sistema de produção estariam incompatíveis com a capacidade de recomposição de recursos naturais e de absorção dos resíduos dessa produção pelo planeta.

Inicialmente o Clube de Roma chegou ao consenso da necessidade de uma diminuição da produção. Deste modo, desenvolveu o Projeto Dilema da Humanidade tendo como resultado dois relatórios, o primeiro intitulado de Limites do Crescimento já trazia noções de sustentabilidade sem, contudo, mencionar a expressão “desenvolvimento sustentável”, o segundo relatório apontava para a necessidade da criação de organizações internacionais que viessem a tratar do tema em questão.

1.1.2 Conferência de Estocolmo

Seguindo as ideias lançadas pelo Clube de Roma, em 1972, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo na Suíça. Tal conferência tinha como foco o livro Limites do Crescimento, que foi elaborado com base nas conclusões atingidas pelo Clube de Roma por meio do já mencionado Projeto Dilema da Humanidade, associando o desenvolvimento com as questões ambientais. Deste modo, Guerra (2010, p. 78) faz o seguinte comentário sobre a Conferência de Estocolmo:

Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano foram tratados assuntos relativos à poluição atmosférica, poluição da água, uso inadequado do solo, o fenômeno da industrialização, que avançava de forma galopante, a influência do crescimento demográfico sobre os recursos naturais entre outros.

Ao final da conferência foi elaborada a Declaração de Estocolmo que elenca diversos princípios, os quais, no entendimento de Lange (2005, p. 17), criaram as bases da natureza como bem público, da legislação internacional do meio ambiente, bem como da integração entre desenvolvimento e proteção dos recursos naturais.

1.1.3 Comissão Brundtland

Com o entendimento de que o crescimento econômico ainda se fazia necessário, uma vez que no mundo havia grande discrepância entre os níveis de desenvolvimento dos países, a

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ONU criou, no ano de 1983, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, com a finalidade de formular propostas para enfrentar as questões concernentes ao meio ambiente e desenvolvimento, propondo formas de ajuda mútua entre os países, de modo a orientar políticas e ações neste sentido.

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de acordo com a ONU Brasil (2010), foi presidida pela médica, mestre em saúde pública e ex-primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, que “foi uma escolha natural para este papel, à medida que sua visão de saúde ultrapassa barreiras do mundo médico para os assuntos ambientais e de desenvolvimento humano”. Segundo a referida fonte de pesquisa, a comissão foi composta por representantes de vinte países, sendo metade destes países em desenvolvimento e a outra metade de países desenvolvidos, dentre os quais se destaca um brasileiro, o Professor Paulo Nogueira Neto, naturalista e ex Ministro do Meio Ambiente do Brasil, de 1973 a 1985, nos governo Ernesto Geisel e João Figueiredo.

A comissão reuniu-se em 1984, realizando audiências com líderes de governo e o público em geral, agregando diversas opiniões sobre o tema. Em abril de 1987, a Comissão Brundtland apresentou o relatório que foi posteriormente denominado de Nosso Futuro Comum, o qual faz uma crítica ao modelo de produção e consumo adotado pelos países industrializados, que traz imensos riscos em razão do uso abusivo dos recursos naturais sem levar em conta a capacidade do planeta.

O referido relatório é até hoje uma referência quando se fala em sustentabilidade, pois inovou trazendo em seu texto a primeira conceituação para o termo desenvolvimento sustentável. De acordo com o relatório Nosso Futuro Comum: “O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”. (COMISSÃO..., 1991, p. 7).

1.1.4 Rio 92

De acordo com a ONU Brasil (2010), a Assembleia Geral das Nações Unidas convocou em 1989 a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento e para tanto criou no ano seguinte o Comitê Preparatório da Conferência, o

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qual ficou encarregado de discutir e preparar os termos dos documentos que seriam assinados durante a Conferência.

Finalmente, de 3 a 14 de junho de 1992, foi realizada na cidade do Rio de Janeiro a conferência que ficou conhecida como “Cúpula da Terra”, por ter uma dimensão global e tratar dos mais variados assuntos relacionados ao meio ambiente e ao desenvolvimento. Neste aspecto, Milaré (2012, p. 1531) afirma que:

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD (Rio 92), em que se oficializou a expressão desenvolvimento sustentável, foi convocada para que os países se dessem conta da necessidade de reverter o crescente processo de degradação do Planeta, mediante a consideração da variável ambiental nos processos de elaboração e implementação de políticas públicas e de adoção, em todos os setores, de medidas tendentes a garantir a compatibilização do processo de desenvolvimento com a preservação ambiental.

Assim, segundo a ONU Brasil (2010) , durante a Rio 92 foram assinados os seguintes documentos: A Carta da Terra; três convenções Biodiversidade, Desertificação e Mudanças climáticas; uma declaração de princípios sobre florestas; Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento; e a Agenda 21, os quais influenciaram em muito as políticas públicas adotadas por boa parte dos governantes mundiais nas últimas décadas.

A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento reafirmou a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, elaborada em Estocolmo em 1972, abrindo espaço para uma cooperação global e afirmando a condição de interdependência dos diferentes fatores que influenciam no meio ambiente. Assim, foi estabelecido um total de 27 princípios, abordando diferentes aspectos que influenciam no equilíbrio ambiental, ratificando o compromisso de boa fé e cooperação por parte de todos os signatários.

Outro grande legado da Rio 92 foi a Agenda 21, um documento que consiste num plano de ações com vistas a implementar um modelo racional de desenvolvimento sustentável. O documento elaborado foi assim divido em quatro sessões, que abrangeram as seguintes temáticas: Dimensões sociais e econômicas; Conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento; Fortalecimento do papel dos grupos principais e Meios de execução; as quais buscam ações efetivas para promover a sustebtabilidade.

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1.1.5 Protocolo de Quioto

Cinco anos mais tarde, outro importante passo foi dado na caminhada do homem em direção as práticas sustentáveis, a assinatura do Protocolo de Quioto, em dezembro de 1997. O referido documento, segundo Milaré (2011), nada mais é do que o protocolo de um tratado internacional, no qual os signatários se comprometem a reduzir paulatinamente a emissão dos gases apontados como causadores do efeito estufa. A condição para entrada em vigor do mesmo era a ratificação por parte de 55 países, o que ocorreu em novembro de 2004, com a ratificação da Rússia. Desta forma, o tratado passou a vigorar em 16 de fevereiro de 2005.

Uma inovação feita no tratado foi a previsão de sanções aos países que descumprissem suas metas. Contudo, cabe salientar, que há uma flexibilização destas metas com a negociação de créditos de carbono. Desta forma, os países com um desenvolvimento modesto e pouca emissão de carbono subsidiam seu desenvolvimento por meio da negociação com países industrializados, que têm dificuldades para atingir suas respectivas metas. Neste mesmo sentido, Takeda (2009, p. 2) afirma que:

Com vistas a este mercado de carbono, o artigo 12 do Protocolo de Quioto prevê um mecanismo flexível, ou seja, uma alternativa, ou forma subsidiária, para que os países desenvolvidos que não tenham condições de promover a necessária redução de gases em seu território possam atingir suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa, estimulando, ao mesmo tempo, o desenvolvimento estruturado daqueles países que não tenham atingido níveis alarmantes de emissão de poluentes.

A ressalva feita em relação ao Protocolo de Quioto diz respeito a não adesão dos Estados Unidos, que é o maior poluidor do mundo. A decisão do país vai à contramão das expectativas geradas com a elaboração do tratado, trazendo dúvidas sobre o quanto será válido o esforço das demais nações em prol da sustentabilidade.

1.1.6 Rio+10

Dez anos depois da Rio 92, entre os dias 26 de agosto e 4 de setembro de 2002, foi realizada, em Johanesburgo na África do Sul, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Conforme a ONU Brasil (2010), seus principais objetivos foram os de renovar e incrementar os compromissos estabelecidos na Cúpula da Terra, bem como encontrar novas maneiras de concretizar as metas estabelecidas na Agenda 21.

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1.1.7 Rio+20

Mais recentemente, em junho de 2012, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ficou conhecida como Rio+20, tendo mais uma vez como sede a cidade do Rio de Janeiro. Os objetivos da Rio+20, segundo a ONU Brasil (2010), foram os de reafirmar o comprometimento político por um desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso já alcançado e abordar os problemas que surgiram nos últimos anos.

Ao final da Conferência os cento e noventa países participantes se comprometeram a investir cerca de quinhentos e treze bilhões de dólares nos treze principais projetos e nos demais programas e ações que serão desenvolvidos nos próximos dez anos nas áreas de energia, economia verde, mudanças no clima, transportes, redução de desastres ambientais e proteção ambiental, desertificação, entre outros temas que visam à promoção do desenvolvimento sustentável.

Com a realização de todas as conferências citadas anteriormente, houve um grande avanço em termos de legislação ambiental. No entanto, com o passar dos anos novos problemas surgem e com eles novos obstáculos a serem superados. Neste sentido, Sparemberger e Kretzmann (2005, p. 119) afirmam que:

Com o aumento do processo de globalização, houve um agravamento da crise ambiental e um retrocesso quanto à noção de bem público e de solidariedade, observando-se o encolhimento das funções sociais e políticas do Estado, com a ampliação da pobreza e agravos à soberania, enquanto se amplia o papel político das empresas na regularização da vida social.

A falta de força dos Estados diante dos interesses econômicos se mostra um fator preocupante na busca da sustentabilidade. Essa inércia dos governantes possibilita o uso desvirtuado do termo desenvolvimento sustentável, o qual acaba sendo conveniente para as grandes empresas, que desvirtuam o verdadeiro significado da sustentabilidade, encontrado neste aspecto mais uma forma de auferir lucros. Diante disso, torna-se relevante a análise de tal assunto, o qual é bordado no próximo item do presente trabalho.

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1.2 Aspectos contraditórios

Em razão de ser relativamente recente e cercado de interesses diversos, o conceito de desenvolvimento sustentável guarda uma série de contradições e ambiguidades. Inicialmente concebido no relatório Nosso Futuro Comum, por uma comissão composta por membros de 21 países, tal conceito traz consigo resquícios das desigualdades presentes no mundo.

1.2.1 Desenvolvimento sustentável ou crescimento econômico

Está arraigado na sociedade o entendimento de que existe uma oposição entre os termos desenvolvimento e sustentabilidade. Isto se deve a fatores históricos, já que há séculos o modelo exploratório capitalista vem destruindo o meio ambiente sobre o pretexto de promover o desenvolvimento, quando na verdade só almeja o lucro. Neste sentido, Machado (2012, p. 75) afirma que:

O antagonismo dos termos – desenvolvimento e sustentabilidade – aparece muitas vezes, e não pode ser escondido e nem objeto de silêncio por parte dos especialistas que atuem no exame de programas, planos e projetos de empreendimentos. De longa data, os aspectos ambientais foram desatendidos. Nos processos de decisões, dando-se um peso muito maior aos aspectos econômicos. A harmonização dos interesdando-ses em jogo não pode ser feita ao preço da desvalorização do meio ambiente ou da desconsideração de fatores que possibilitam o equilíbrio ambiental.

Historicamente o aspecto econômico foi colocado em primeiro plano, em detrimento ao aspecto ambiental, fazendo com que a busca pelo crescimento econômico fosse necessariamente amparada pelo uso desmedido dos recursos naturais. A forma desregrada com que o meio ambiente é explorado é narrada por Lutzemberger (1981, p. 1) da seguinte forma:

Encontramo-nos diante de uma encruzilhada. Enquanto que os sistemas naturais, que sistematicamente demolimos, são sempre homeostáticos, isto é, têm equilíbrio auto-regulador e vivem de recursos eternamente reciclados, sendo, portanto, indefinidamente sustentáveis, as infra-estruturas que hoje montamos nos escombros da demolição são insustentáveis, suicidas. Elas vivem do consumo acelerado de recursos finitos, irrecuperáveis (sic.) e insubstituíveis, ao mesmo tempo em que eles degradam o ambiente para a vida humana. Se quisermos que sobreviva nossa civilização tecnológica, algo teremos que aprender com as tecnologias naturais. Nossa tecnologia terá que se tornar sustentável.

Assim, o que ocorre por muitas vezes é a confusão entre desenvolvimento com mero crescimento econômico, sendo que este último é só uma condição para o estabelecimento do

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primeiro. Neste aspecto, fica o alerta para a necessária diferenciação entre o desenvolvimento, que engloba fatores econômicos, sociais e ambientais, e o crescimento econômico, que só diz respeito à melhoria dos índices econômicos.

Notadamente há um grande interesse por parte dos países desenvolvidos em promover ações globais no sentido de frear a destruição dos recursos naturais do planeta. Porém, estes mesmos países não assumem a responsabilidade que tem em tal degradação, já que foram os protagonistas da exploração feita em seus próprios territórios, como também nas áreas pertencentes aos chamados países em desenvolvimento.

Em face de suas participações ativas no processo de deterioração ambiental, os países desenvolvidos devem ter uma parcela maior nas ações em prol da reversão da problemática ambiental, já que não há critérios de justiça em obrigar os países em desenvolvimento a pagar a conta da insanidade exploratória infligida ao planeta por parte dos países ricos.

1.2.2 Desenvolvimento sustentável como fachada

O conceito da locução verbal “desenvolvimento sustentável” é muito abrangente e pode ser encarado de muitas formas. Desta maneira, carrega consigo certa complexidade, o que acaba por gerar dúvidas e até a facilitar o uso de tal denominação para práticas que, em sua essência, nada ou muito pouco tem a ver com a sustentabilidade, isto porque, fica sujeito a interesses diversos, conforme afirma Rscheinsky (2004, p. 15):

Sustentabilidade consiste num conceito, a bem da verdade, bastante amplo e admite variações de acordo com interesses e posicionamentos, além do que ainda é recente e por isso mesmo sujeito a ambigüidades (sic.) e dilemas quanto ao seu uso e significado. Entre cientistas e formuladores de políticas públicas costuma ser sinônimo de controvérsia. Antes de arriscar qualquer definição, vale prestar um pouco de atenção ao significado puro e simples da palavra: sustentável é o que sustenta alguém ou alguma coisa. Talvez esteja ai a raiz da leviandade com que ele vem sendo aplicado a todo o tipo de discurso e de projeto, inclusive aos casos mais obscuros ou controvertidos, em que os únicos a serem sustentados são os charlatões travestidos de ambientalistas.

No entanto, no entendimento de Soriano e Silva (2003), para que um projeto seja intitulado de sustentável, deve ser concebido levando em conta, mesmo que minimamente, aspectos ecológicos, econômicos, espaciais, sociais e culturais. Posteriormente, deverá ser implementado de forma ética, fazendo com que todos os seus proponentes tenham consciência

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dos problemas ambientais que assolam a humanidade, desta forma, os referidos autores destacam o seguinte:

Em síntese, pode-se ressaltar também, que a falta de definição unívoca e o

consorciamento de dois conceitos aparentemente antagônicos como

desenvolvimento e sustentabilidade tem facilitado a adoção do termo desenvolvimento sustentável em vários projetos e programas públicos e privados, muito mais pela idéia (sic.) que suscita (de respeito à natureza) do que pela compreensão factual de seu significado. Isto, de um lado, tem despertado o interesse em pesquisas e ações que viabilizem o desenvolvimento sustentável na prática e por outro lado tem oportunizado a existência de vários projetos de desenvolvimento sustentável de “fachada” caracterizando um lamentável “engodo verde” que somente tem espaço pela falta de ética e de percepção ambiental de seus empreendedores e também das sociedades locais e globais, pois as primeiras muito embora vítimas diretas, também podem ser consideradas cúmplices de sua própria inercia e as demais porque queiram ou não vivem num mesmo tempo e no mesmo espaço.

Conclui-se que para existir realmente a prática do desenvolvimento sustentável não basta a simples rotulagem, deve haver um processo criterioso. Assim, o ecodesenvolvimento esta sendo usado de maneira cada vez mais frequente como fachada para ações que visam apenas o lucro de seus idealizadores, sem a mínima preocupação com fatores ambientais e sociais, conforme afirma Milaré (2011, p. 81):

A frequente insistência de empreendedores em invocar apenas formalmente o desenvolvimento sustentável, acrescida da leniência de órgãos ambientais licenciadores e fiscalizadores (que, conscientes ou não, às vezes acabam por ceder a pressões políticas ou econômicas), compõem um quadro preocupante. Nesses casos, “desenvolvimento sustentável” é uma falácia, um engodo ambiental. Em tal contexto, toda a precaução é necessária para não se dar ouvido a sofismas ou falácias, pois um simples enunciado convencional não quer dizer intenção explícita ou implícita de levar a sério um compromisso com o meio ambiente.

Portanto deve haver muito cuidado ao se apontar projetos de órgãos públicos e privados como fomentadores do desenvolvimento sustentável, pois o oportunismo insensato de certos indivíduos busca aproveitar-se da grande aceitação que este tipo de iniciativa tem por parte da sociedade. Então o que acaba ocorrendo é uma ação de marketing falaciosa, que dá um rótulo de sustentável sem o mínimo critério.

1.2.3 Ecocapitalismo

Há muito tempo já se tem a consciência de que a forma com que o homem utilizou os recursos naturais é a responsável pela destruição ambiental verificada atualmente. A fruição dos recursos naturais como se os mesmos fossem infinitos, agregada ao descaso e

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cumplicidade do Estado, trouxe o mundo à situação em que se encontra. Assim, de acordo com o Relatório Planeta Vivo, da WWF Brasil (2008), o planeta demora cerca de um ano e três meses para repor aquilo que a população global consome num único ano.

Apesar da urgência em reverter tal quadro notadamente há uma grande morosidade em se tomar atitudes concretas para sanar a devastação ambiental. Na grande maioria das ações pró desenvolvimento sustentável, o que se verifica são apenas medidas paliativas, que tem como fundo de verdade o amparo ao crescimento capitalista, ignorando a precariedade ambiental e social do planeta.

Deste modo, verifica-se que a incompatibilidade do modelo econômico atual com a manutenção de um meio ambiente saudável, pois o mesmo caminha na direção contrária do que preconiza o conceito de desenvolvimento sustentável. Assim, o discurso passa longe da prática, uma vez que são mantidas as desigualdades sociais existentes e não são colocados limites à exploração feita em nome do “desenvolvimento”. Estes aspectos já são levantados por Herculano (1992, p. 2) que critica o relatório Nosso Futuro Comum da seguinte forma:

A incoerência, todavia, parece-me residir na discrepância entre o pressuposto implícito – que é o da naturalização do sistema econômico capitalista, tido como o processo civilizatório – os dados quantitativos e os depoimentos expostos, que evidenciam a pauperização e a espoliação crescente dos países de um Terceiro Mundo que se insiste chamar de “em desenvolvimento”. Assim é que, embora os dados do relatório atestem com veemência a sangria de recursos drenados em direção aos países ricos, a conclusão “realística” implica a manutenção do sistema, uma vez que os ajustes sugeridos ficam ao sabor das boas intenções e boa vontade de atores sociais poderosos, que outro motivo não teriam para modificar o comportamento senão o temor de uma grande catástrofe ambiental.

Com isso, toma forma o chamado ecocapitalismo, no qual, segundo Herculano (1992, p. 3, grifo nosso): “Seus defensores explicam a deterioração ambiental e a degradação do ser humano pela miséria como frutos do protocapitalismo, ou seja, de um mundo selvagem e

insuficientemente capitalista”.

Apesar de parecerem absurdas, tais ideias são compartilhadas e difundidas por um grande número de pessoas influentes, que defendem as práticas capitalistas como meio de promover o crescimento econômico o que, segundo este pensamento, traria uma diminuição da miséria, a qual seria a responsável pela crise ambiental que vivida.

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Uma simples análise histórica serve para derrubar tal argumento, uma vez que o liberalismo econômico, que reinava até a crise de 1929, é o responsável por grande parte das injustiças sociais e ambientais existentes no planeta, uma vez que a busca ensandecida por lucro, sem o devido controle do Estado levou o planeta a beira do abismo. Assim, fica claro que os defensores do ecocapitalismo têm, na verdade, interesses econômicos em apoiar tal prática.

A forte influência de organizações e empresas, dentre elas muitas multinacionais, que detêm grande poderio econômico, acaba por ditar os rumos das ações dos governos e isto nem sem sempre é favorável ao chamado eco desenvolvimento. Apesar do liberalismo desenfreado já ter se mostrado prejudicial à economia, cada vez mais os Estados perdem a capacidade de estabelecer as normas necessárias para a correta utilização dos recursos naturais. Desta forma, no entendimento de Sparemberger e Paviani (2006, p.85):

A dificuldade reside no fato de que, diante do processo de globalização da economia, os Estados nacionais perderam sua soberania, tornando-se reféns das regras impostas pelas grandes organizações transnacionais que comandam o sistema de mercado, a exemplo da Organização Mundial do Comércio (OMC) e sua lógica neoliberal. O princípio do desenvolvimento sustentável, por sua vez está a reclamar novos pressupostos epistemológicos diante da crise, ou mesmo da falência, do paradigma da modernidade. Mais que isso, a crise do modelo racional-legal que marcou o (des)caminho dos tempos modernos extrapola os limites da epistemologia para desvelar, de forma contundente, a perda das referências é ticas que norteiam o processo global de construção da vida planetária

Assim, para que haja uma mudança aos padrões atuais de degradação é preciso que a economia se adapte as condições exigidas para a promoção do desenvolvimento sustentável, e não que ocorra o contrário, com o meio ambiente se dobrando a práticas exploratórias, em nome de um capitalismo verde.

1.3 O desenvolvimento sustentável no Brasil

O Brasil é um país com dimensões continentais que dispõe de uma imensa gama de recursos naturais ainda inexplorados possuindo, segundo Butzke; Ziembowicz e Cervi (2006) cerca de 20% das plantas do mundo, além de possuir 13% de todos os vertebrados da Terra, sendo o segundo país em espécies de anfíbios, o terceiro em espécie de aves e o quinto em répteis. Esta imensa biodiversidade, aliada a uma enorme disponibilidade de recursos

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minerais, há muito tempo desperta interesses de investidores nacionais e internacionais, que enxergam em terras brasileiras uma ótima oportunidade para explorar e lucrar.

Com isso, cresce a importância da maneira com que as questões ambientais são regradas uma vez que a legislação vigente é que servirá de parâmetro para a exploração de tais recursos. Durante muito tempo as questões ambientais foram negligenciadas pelos governantes, sendo a exploração predatória vista como sinal de progresso.

1.3.1 Os primeiros passos do Brasil em busca da sustentabilidade

Segundo Franco e Drummond (2010) uma das primeiras ações feitas no Brasil, tendo como foco o ambientalíssimo, foi a criação da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN), em agosto de 1958, na cidade do Rio de Janeiro, a partir da iniciativa de um grupo de idealistas que buscava criar uma instituição com a finalidade de proteger e conservar a natureza em razão do uso descontrolado dos recursos naturais. Assim, o principal objetivo da FBCN foi o de fomentar, em âmbito nacional, a conservação dos recursos naturais e a implantação de áreas reservadas de proteção à natureza.

Contudo, segundo Santos e Cagliari (2011), a humanidade só despertou realmente para os problemas ambientais a partir das décadas de 70 e 80, período em que surgiram diversas legislações que abordavam a temática, dentre as quais se destaca a Declaração do Meio Ambiente, elaborada durante a Conferência de Estocolmo, em 1972, que elevou o meio ambiente de qualidade ao patamar de direito humano fundamental, servindo de inspiração para o regramento ambiental em todo o planeta.

No entanto, quando se fala em desenvolvimento sustentável, o assunto só veio à baila no ordenamento jurídico pátrio em 1980, com a Lei 6.803, de 02 de julho daquele ano. A referida Lei estabelecia as diretrizes para o zoneamento industrial, demonstrando em seu teor uma clara preocupação com os aspectos relativos à sustentabilidade, conforme se verifica em seu art. 1º:

Art.. 1º Nas áreas críticas de poluição a que se refere o art. 4º do Decreto-lei nº 1.413, de 14 de agosto de 1975, as zonas destinadas à instalação de indústrias serão definidas em esquema de zoneamento urbano, aprovado por lei, que compatibilize as atividades industriais com a proteção ambiental.

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Esta tentativa de compatibilizar a produção industrial com a proteção ambiental é importante, pois os países em desenvolvimento, como o Brasil, ainda buscam espaço para a criação de novas indústrias. Neste aspecto, toda a legislação que visa resguardar o meio ambiente contra qualquer prática abusiva destas empresas é bem vinda, pois há muito tempo as empresas já utilizam práticas capitalistas, se valendo da falta de regulamentação ambiental nos países pobres para utilizar recursos naturais sem qualquer restrição.

Posteriormente, a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), surgindo como uma grande inovação à época, pois, segundo Braga et al. (2005), é tida como um marco na área ambiental no Brasil, uma vez que reconheceu o meio ambiente como um bem jurídico autônomo, definindo-o em seu art. 3º como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Antes da referida lei o que se encontrava no ordenamento jurídico pátrio eram leis esparsas que tratavam de forma individualizada de elementos naturais específicos. Neste sentido Marchesan, Steigleder e Capelli (2004, p. 15) afirmam que:

Em razão disto, o meio ambiente deve ser interpretado como um bem jurídico unitário, a partir de uma visão sistêmica e globalizada que abarca os elementos naturais, o ambiente artificial (meio ambiente construído) e o patrimônio histórico-cultural, pressupondo-se uma interdependência entre todos os elementos que integram o conceito, inclusive o homem, valorizando-se a preponderância da complementariedade recíproca entre o ser humano e o meio ambiente sobre a ultrapassada relação de sujeição e instrumentalidade.

Como consequência de tal entendimento o meio ambiente passa a ter um novo enfoque, sendo encarado de forma autônoma e, assim, pertence a toda a coletividade, devendo ser necessariamente protegido, com o objetivo de garantir o uso comum. Assim, esta visão mais ampla acaba por beneficiar o meio ambiente, uma vez que novas leis começam a surgir, tendo como enfoque principal a proteção ambiental.

1.3.2 Desenvolvimento sustentável e a Constituição de 1988

A nova perspectiva que a Lei 6938 de 1981 deu ao meio ambiente foi acolhida pela Constituição Federal de 1988, que diferentemente das constituições anteriores, passou a

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tratá-lo de forma específica e gtratá-lobal. Deste modo, Milaré (2011) afirma que antes de 88 o legislador constitucional jamais havia se preocupado em proteger o meio ambiente de forma específica e global, referindo-se apenas a elementos pontuais como a água, florestas, minérios, caça e pesca.

Esta importância destinada ao meio ambiente na Constituição de 1988 já é reflexo dos movimentos ambientais surgidos à época, sendo vista com muita clareza no artigo 225 da Carta Magna, que em seu caput estabelece:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

Analisando tal dispositivo verifica-se que há uma clara preocupação do constituinte com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e com a manutenção deste estado de equilíbrio, evidenciando-se neste ponto a busca pela sustentabilidade. Na sequência torna ainda mais abrangente a questão ambiental, conforme se verifica nas palavras de Freitas (2010, p. 136):

O artigo 225 da Lei Fundamental brasileira, dividido em parágrafos e incisos, foi inovador ao dar a todos, poder público e particulares, a responsabilidade pela preservação do meio ambiente. Inclusive adotou o princípio intergeneracional, ou seja, a responsabilidade de todos alcança a proteção daqueles que ainda estão por vir, as futuras gerações. E mais, no § 3º estabeleceu que o dano ambiental gera a responsabilidade administrativa, civil e penal, na linha de posicionamento que vem sendo adotada nos países mais adiantados. O art.225 deu dignidade constitucional ao estudo de impacto ambiental e preocupou-se em estabelecer a obrigatoriedade da educação ambiental.

Deste modo, ao dar este status constitucional à proteção ao meio ambiente, a Constituição Pátria se alinhou, conforme Freitas (2010), a textos constitucionais de vários outros países, como Portugal, Grécia e Espanha, que já tinham este tipo de previsão assegurada desde os anos 70.

Assim, a Carta Magna brasileira passou a ser umas das mais avançadas, em termos de garantias ambientais, dispostos não só em seu artigo 225, mas também em vários outros dispositivos, conforme afirma Milaré (2011, p. 184):

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Na verdade, o Texto Supremo, captou como indisputável oportunidade o que está na alma nacional – a consciência de que é preciso aprender a conviver harmoniosamente com a natureza -, traduzindo em vários dispositivos aquilo que pode ser considerado um dos sistemas mais abrangentes e atuais do mundo sobre a tutela do meio ambiente. A dimensão conferida ao tema não se resume, a bem ver, aos dispositivos concentrados especialmente no Capítulo VI do Título VIII, dirigido À Ordem Social – alcança da mesma forma inúmeros outros regramentos insertos ao longo do texto nos mais diversos títulos e capítulos, decorrentes do conteúdo multidisciplinar da matéria.

Esta característica de direito difuso dado ao meio ambiente traz uma série de garantias ao cidadão, como a manutenção de um ambiente ecologicamente equilibrado, mas também agrega muitas responsabilidades ao indivíduo, que deve zelar por este equilíbrio, atuando em sua comunidade para que o consumo seja realizado de forma consciente, dando assim, a oportunidade para o planeta regenerar seus recursos naturais, ora devastados pelo homem.

1.3.3 O Brasil e o direito internacional ambiental

O Brasil vem tendo um papel atuante no cenário internacional quando o assunto é meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Isto se deve não só ao fato de ser a sétima maior economia do mundo, mas também ao grande interesse do governo brasileiro em conter a degradação ambiental provocada por outros países, pois há uma interdependência ecológica que acaba por ter gerar reflexos em todo o mundo.

Contudo, é sabido que os fatores econômicos também influenciam nesta postura, uma vez que o Brasil é considerado um país emergente, com grandes possibilidades de crescimento. Sendo assim, a escassez de recursos naturais é um grande empecilho às ambições dos governantes de uma maneira geral. Assim, o Brasil ao longo dos anos tem sido signatário de vários tratados internacionais propostos pela Organização das Nações Unidas, os quais têm por finalidade a proteção do meio ambiente e a busca pelo desenvolvimento sustentável.

A celebração de tais tratados, conforme o artigo 49 da Constituição Federal de 1988 fica sujeita a posterior apreciação e aprovação do Congresso Nacional, para que tenha validade no Brasil. Desta forma, Milaré (2011) explica que os tratados atingem os indivíduos por meio do direito interno, isto é, somente após terem sido incorporados ao direito pátrio em decorrência dos atos formais realizados.

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Além de incorporar tais tratados ao seu ordenamento jurídico interno, o Brasil tem acolhido as disposições internacionais sobre o meio ambiente. Exemplo disto é a Declaração das Nações Unidas para o Meio Ambiente, elaborada durante a Conferência de Estocolmo, em 1972, que foi um dos alicerces para a elaboração do texto constante no artigo 225 da Carta Magna.

Neste sentido, cabe salientar a importância do Direito Internacional Público, por meio do qual se estabelecem as relações entre os Estados, que são os principais interessados na problemática ambiental. Isto se deve a já mencionada interdependência que existe entre os países no cenário atual, conforme descreve Milaré (2011, p. 1551):

Como pudemos observar a partir do estudo dos diversos tratados existentes em matéria de Direito Internacional do Ambiente, a cooperação internacional é um tema revestido de especial relevância. Com efeito, ele perpassa praticamente todos os textos oficiais formalizados em âmbito mundial, precisamente porque a ação isolada de um ou de alguns países em defesa do patrimônio ambiental – que, afinal, pertence à humanidade, de hoje e de amanhã – pouco resultado produzirá na contenção de problemas transfronteiriços, como a poluição atmosférica, a contaminação de ecossistemas aquáticos, a degradação do solo e da vegetação, a extinção de espécies animais e vegetais. É por isso que a afirmação “o meio ambiente não conhece fronteiras” tornou-se bastante comum, tanto nos meios científicos como dentro das próprias comunidades nacionais, malgrado os pruridos nacionalistas ainda frequentes, pela falta de visão holística, sistêmica e planetária.

Deste modo a atuação em conjunto de países e organizações internacionais, se mostra necessária na resolução das questões referentes ao meio ambiente. Assim, por meio da cooperação e solidariedade a humanidade há de encontrar meios para enfrentar os problemas sociais e econômicos de modo sustentável, dando as condições de manutenção de um meio ambiente saudável para as próximas gerações.

Com isso, a implementação de políticas públicas que sejam baseadas na sustentabilidade é um caminho viável que deve ser seguido pelo governo brasileiro. Contudo o direcionamento dos investimentos em tais políticas devem ser planejados de forma que venham a unir as necessidades nacionais com a busca pelo “meio ambiente ecologicamente equilibrado”, citado no Texto Constitucional.

Assim, áreas estratégicas devem ser privilegiadas pelo governo, que deve levar em conta o bem coletivo para empenhar os seus recursos, deixando de lado interesses clientelistas de grandes investidores que tem como objetivo apenas usurpar os recursos naturais. Neste

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sentido, é imperiosa a participação de toda a sociedade no tocante a mudança de rumo das atitudes humanas, com o fim de beneficiar o meio ambiente.

Levando em conta os aspectos supramencionados, um dos setores que mais necessita de investimentos atualmente no Brasil é o de energia elétrica, pois o governo busca aumentar as fontes de geração de energia, o que geralmente tem altos custos econômicos e ambientais. Como alternativa para amenizar o problema surge à geração de energia de forma distribuída, que, por meio da utilização de fontes renováveis de energia, promete contribuir no desenvolvimento sustentável do Brasil, tema este abordado no próximo capítulo.

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2 PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL

A geração de energia elétrica é um serviço público, sendo incumbência do Poder Público oferecê-lo diretamente à população ou, observando o princípio de adequação do serviço, oferecê-lo indiretamente, por meio de concessão ou permissão a produtores independentes. Existe ainda a possibilidade de autoprodução, modalidade na qual a produção de eletricidade destina-se integralmente ao uso próprio produtor.

Desta forma, de acordo com Campos (2010), ao entregar a execução dos serviços relacionados à produção e transmissão de energia elétrica a iniciativa privada, o Estado impõe as concessionárias ou permissionárias a aplicação de parte de seus ganhos na forma de investimento no setor. Por sua vez, a iniciativa privada irá cobrar as taxas pelo serviço prestado, surgindo dai uma relação de consumo. Neste sentido, o autor supracitado salienta que a titularidade do serviço continua sendo do Poder Concedente, que por sua vez utiliza-se das agências reguladoras para manter o equilíbrio das relações entre o interesse público e o particular.

Porém, até chegar ao estágio atual o serviço de fornecimento de energia elétrica no Brasil passou por diferentes fases, nas quais a geração, distribuição e fiscalização mudaram de mãos conforme o contexto político, econômico e social de cada época. Consequentemente torna-se indispensável verificar de que forma ocorreu a evolução no setor elétrico brasileiro para que, deste modo, se posso fazer uma avaliação correta do panorama atual.

2.1 Histórico da energia elétrica no Brasil

De acordo com Gonçalves (2009), a história da energia elétrica no Brasil remete ao século XIX, com a instalação das primeiras hidrelétricas de pequeno porte. Desde então houveram profundas transformações no modo de organização do setor elétrico brasileiro, dividindo este histórico em diferentes fases, as quais, conforme já mencionado, relacionam-se diretamente com o contexto sócio econômico e político vivido ao longo da história brasileira. Deste modo, é de fundamental importância verificar de que forma ocorreu o desenvolvimento da indústria de energia elétrica, avaliando os erros e acertos do passado, para que estes sirvam de base para o planejamento das ações futuras, no que concerne aos investimentos na área.

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2.1.1 Investimentos privados

Conforme Camargo (2006), a indústria da eletricidade teve início no Brasil em 1889, com a construção da primeira hidrelétrica da América do Sul, empreendimento realizado pela Cia. Mineira de Eletricidade, em Juiz de Fora/MG. De acordo com Gonçalves (2009), a partir da Constituição Federal de 1891, surgiram os primeiros preceitos jurídico legais da indústria brasileira de eletricidade. Assim, por iniciativa de produtores agrícolas, que visavam atender suas propriedades, foram instaladas usinas hidrelétricas de pequeno porte no país, que acabaram por se expandir, passando a atender também os serviços públicos.

2.1.2 Estatizações

A partir de 1930, com o início da era Vargas, Wottrich (2007) salienta que se iniciou uma nova forma de administrar os recursos hidrelétricos, os quais passaram a ser considerados de interesse nacional. Neste contexto, foi criado em 1934 o Código de Águas que, segundo Camargo (2006), trouxe importantes modificações legais como a incorporação das terras com queda d'água ao patrimônio da União, a qual também passou a ser responsável pela outorga de concessão ou autorização para o aproveitamento da energia elétrica.

Conforme destaca Gonçalves (2009), o ano de 1945 marca o início das estatizações no setor energético brasileiro, sendo criada neste ano a Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Posteriormente, em 1954, quando Vargas retorna ao poder, são constituídas as empresas públicas estaduais de energia, sendo proposta a criação das Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás), dando novo fomento as estatizações. Jucelino Kubitscheck seguiu a mesma política de estatizações, criando a Central Elétrica de Furnas e o Ministério de Minas e Energia.

Faria (2011) relata que em 1961, o Governo Federal criou a Centrais Elétricas Brasileiras S.A., conhecida como Eletrobras, a qual ficou responsável, a partir daquele ano, pela coordenação do sistema elétrico nacional, tendo também como incumbência funcionar como um banco de investimentos para o setor. Deste modo, a Eletrobras e suas subsidiárias controlavam de forma verticalizada toda a cadeia do setor, enquanto o Estado adotava uma política de expansão baseada em aproveitamentos de grande porte com ampla escala de produção centralizada e longos períodos de amortização de empreendimentos.

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Seguindo a tendência dos administradores anteriores, os governos militares que se seguiram continuaram a fomentar as atividades do setor elétrico. Assim, o período da Ditadura Militar foi marcado por pesados investimento na construção de usinas hidrelétricas e linhas de transmissão, proporcionando um extraordinário desenvolvimento no tocante a infraestrutura energética.

Porém, Campos (2010) destaca que a partir de 1981, a situação econômica do país se agrava, principalmente em decorrência de dois fatores: o choque do petróleo e a alta da inflação, contaminando as finanças do setor elétrico. Neste mesmo sentido, Gomes e Vieira (2009; p. 310-311) afirmam que:

As transformações ocorridas no cenário mundial, com o primeiro e o segundo choque do petróleo, respectivamente, em 1973 e 1979, tiveram como consequência, entre outras, a maxidesvalorização do cruzeiro (moeda da época), em 1979, e a elevação das taxas de juros no mercado internacional, no início de 1980, que contribuíram para que o Brasil revertesse a sua curva ascendente de crescimento econômico, afetando fortemente as empresas do setor elétrico nacional.

Segundo Gonçalves (2009), com o cenário de crise, as concessionárias necessitavam de recursos para investimentos e desta forma o Governo Federal instituiu, em novembro de 1982, o Grupo Coordenador de Planejamento do Sistema Elétrico. Tal órgão agia sob a coordenação da Eletrobras e tinha como finalidade a racionalização e a integração do setor elétrico, por meio dos planos de energia, que definiam de forma clara os investimentos que seriam realizados.

Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, com a redemocratização do país, Gomes e Vieira (2009) afirmam que e a legitimação dos governos estaduais fez com que suas empresas de distribuição inicialmente adiassem o pagamento de tributos federais, e posteriormente, deixassem de honrar o pagamento da energia fornecida pelas empresas geradoras federais. Ocorre então o início de um grave processo de inadimplência, agravando ainda mais a crise no setor elétrico nacional, atingindo principalmente as empresas geradoras federais e fazendo com que o governo federal buscasse ações que transformassem de maneira significativa a forma como era organizado o setor de energia elétrica no Brasil, conforme verificado a seguir.

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2.1.3 Privatizações

Entre o final da década de 80 e início da década de 90, com a crise instaurada, Faria (2011) relata que o setor energético brasileiro aparentava inúmeras incertezas, fazendo-se necessária a tomada de medidas urgentes para alavancar o crescimento da indústria energética nacional. Somavam-se às dúvidas supramencionadas, a falta de regras e mecanismos que fomentassem investimentos privados na área, uma vez que havia uma crescente demanda por energia elétrica.

No tocante a regulamentação do setor elétrico, Campos (2010) destaca que a Constituição de 1988, o Código de Defesa do Consumidor, a Legislação de Proteção ao meio ambiente e a Legislação de Privatização e da Desregulamentação do Setor Elétrico, deram novos contornos jurídicos ao Direito da Energia Elétrica. Esta época ficou marcada pela eleição do primeiro Governo Federal eleito diretamente pelo voto popular após os anos de Regime Militar, desta forma, o Relatório ANEEL 10 Anos (2007, p. 19) descreve este período da seguinte maneira:

No início da década de 90, a capacidade geradora do país é de 53 mil MW. Com a posse de Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente eleito após a abertura do regime militar, em abril de 1990, o Ministério das Minas e Energia é absorvido pelo Ministério da Infra-Estrutura, que incorpora as atividades das pastas dos Transportes e das Comunicações. Outro instrumento legal do mesmo ano, a Lei nº 8.031 (12/04), lança o Programa Nacional de Desestatização (PND) e introduz a liberalização da economia no país. Dois anos depois, o Ministério da Infra-estrutura é dissolvido e a pasta, recriada, desta vez chamada de Ministério de Minas e Energia.

Neste sentido, Gonçalves (2009) enfatiza que durante o governo de Fernando Collor deu-se início as privatizações no setor, por meio do Plano Nacional de Desestatização. De igual modo, o governo Itamar Franco deu continuidade a esta política, autorizando a formação de consórcios entre empresas privadas e estatais para a exploração da geração de energia elétrica. Este processo de privatização é visto com desconfiança pelos doutrinadores, pois ainda não existia uma regulamentação clara sobre a forma que aconteceria tal mudança, conforme afirma Gonçalves (2009, p. 31):

Encerrava-se aqui o período estatizante da IBE e inaugurava-se uma nova era privatizante, coberta de incertezas e, até hoje, motivo de enormes controvérsias, pois o processo de privatização da indústria da de eletricidade foi implementado antes mesmo que o Estado tivesse criado os mecanismos necessários para a nova regulamentação.

Referências

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