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A importância da fisioterapia em pacientes mastectomizadas

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Academic year: 2021

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A importância da fisioterapia

em pacientes mastectomizadas

The importance of the physiotherapy in mastectomized patients

Fernanda Tironi Arrais1, Gabriela Martini2, Lívia Cristina Barbosa França3

1. Graduada em Fisioterapia, Universidade Ca-tólica de Goiás, Pós-Graduanda em Fisiotera-pia Dermato Funcional, Faculdade Cambury (Goiânia-GO).

2. Graduada em Fisioterapia, Universidade Ca-tólica de Goiás, Pós-Graduanda em Fisiotera-pia Dermato Funcional, Faculdade Cambury (Goiânia-GO).

3. Graduada em Fisioterapia, Universidade Ca-tólica de Goiás, Pós-Graduanda em Fisiotera-pia Dermato Funcional, Faculdade Cambury (Goiânia-GO).

Endereço para correspondência:

Fernanda Tironi Arrais. Rua 10 Quadra 19 Lote 11 Conjunto Riviera Cep 74730180 -Goiânia-GO. Tel.: (62) 3877-5061 / 9956-6662. E-mail: fernandatironi@hotmail.com Recebido para publicação em 17/06/2007 e acei-to em 01/07/2007, após revisão.

Resumo

Este artigo trata de um estudo prospectivo, observacional, analítico, da rela-ção estímulo/efeito, realizado na Clínica Escola da Universidade Católica de Goiás. Teve como objetivos caracterizar o grupo de pacientes mastectomizadas atendi-das na Clínica Escola, através de uma avaliação; identificar a prevalência do linfedema pós-mastectomia e analisar os benefícios advindos do tratamento fisioterapêutico para essas pacientes. Participaram do estudo 14 pacientes, que foram submetidas a uma avaliação antes do tratamento e outra no final do trata-mento, o qual teve duração de 3 meses. Dessas 14 pacientes, 8 apresentaram linfedema. Após a avaliação foram realizadas as comparações das médias da Es-cala Visual Analógica, da goniometria e da perimetria, através do teste T pareado, adotando como parâmetro de significância p<0,05. Na Escala Visual Analógica, na perimetria e na goniometria houve uma melhora em quase todos os resultados, no entanto somente alguns resultados foram estatisticamente significantes. A fisi-oterapia trouxe benefícios para essas pacientes e, quanto mais precoce for a sua intervenção, melhor será sua recuperação e haverá uma menor incidência de com-plicações decorrentes da cirurgia.

Palavras-chave: mastectomia, linfedema, benefícios, fisioterapia.

Abstract

This article is a prospective, observational, analytical study, of the relation stimulus/effect, realized in the Clinic School of the Catholic University of Goiás. It had as objective to characterize the group of mastectomized patients who were attended in the Clinical School, through an evaluation; to identify the prevalence of lymphedema after-mastectomy and analyzing the happened benefits of the physiotherapeutic treatment for these patients. In the total, 14 patients had participated of this study and they were submitted to an evaluation before the treatment and another one in the end of the treatment, which had duration of 3 months. Of these 14 patients, 8 had presented lymphedema. After the evaluation had been realized the comparisons of the averages of Analogical Visual Scale, of the goniometry and of the perimetry, through test T, adopting as significance parameter p<0,05. In Analogical Visual Scale, in the perimetry and the goniometry it had an improvement in almost all the results, however only some results were statistically significant. The physiotherapy brought benefits for these patients and as soon as possible happen the intervention better it will be theirs recovery and there will be a lesser incidence of complications arising from surgery.

Key-words: mastectomy, lymphedema, benefits, physiotherapy.

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Introdução

O câncer de mama é um importante problema de saúde pública no Brasil. É a neoplasia mais freqüente entre as mu-lheres e corresponde à principal causa de óbitos por câncer neste grupo populacional. No mundo, são diagnosticados 180 mil novos casos por ano e, no Brasil, em 2003, foram registrados 41.610 novos casos, sendo 9.335 o número de óbito esperado. É provavelmente o mais temido pelas mu-lheres, devido à sua alta freqüência e, sobretudo pelos seus efeitos psicológicos, que afetam a percepção da sexualidade e a própria imagem pessoal¹.

O diagnóstico precoce desta patologia é fundamental, pois, além de evitar a disseminação das células malignas pelo corpo, aumenta as opções de tratamento e as chances de re-cuperação completa². Porém, a maioria dos diagnósticos de câncer de mama é realizada, na população brasileira, em es-tádios tumorais mais avançados. Conseqüentemente, os tra-tamentos são mais radicais gerando um aumento da morbidade e pior qualidade de vida desses indivíduos.

O auto-exame das mamas é um dos importantes méto-dos de diagnóstico precoce e é feito pela própria mulher³. A mamografia aumenta ainda mais as chances de diagnóstico precoce e é capaz de detectar uma neoplasia de poucos milí-metros, não palpável mesmo num exame clínico minuncioso4.

O tratamento é planejado de acordo com o estadiamento da doença e a cirurgia é parte importante para o tratamento de câncer localizado5.

As complicações do pós-operatório são proporcionais à agressividade da cirurgia, sendo, portanto, mais freqüentes nas radicais6. As mais comuns são o linfedema de membro

superior homolateral à cirurgia e a diminuição da amplitude de movimento do ombro homolateral. São observadas, ain-da, o seroma, a alteração da dinâmica respiratória, as ade-rências cicatriciais, a deficiência do músculo serrátil anteri-or, a linfocele, a trombose linfática superficial, o edema de parede torácica, a infecção, necrose cutânea, erisipela e os déficits sensoriais7.

O seroma é um acúmulo de líquido no local da cirurgia, originado de pequenas lesões em vasos linfáticos e sanguí-neos. No momento da cirurgia estas pequenas estruturas so-frem lesões, fazendo com que extravase linfa e sangue. Se essa quantidade de sangue e linfa que foi extravasada não for drenada, forma-se um acúmulo (seroma)7. A linfocele é

uma complicação do seroma, caracterizado pelo preenchi-mento, por líquido linfático, do espaço deslocado cirurgica-mente. A evolução de uma linfocele é uma fibrose formando uma massa axilar que pode chegar ao tamanho de uma meia laranja, posicionando o membro superior em ligeira abdução com prejuízo para a função da cintura escapular4.

As alterações da dinâmica respiratória podem ocorrer devido à retirada dos músculos peitoral maior e menor. Há também a chance de lesar o nervo torácico longo levando a uma fraqueza do músculo serrátil anterior. Com a retirada dos músculos peitorais, esses fatores serão alterados, ocasi-onando um maior esforço para respirar7.

A erisipela é uma infecção cutânea, causada por estrepto-cocos beta-hemolíticos do grupo A, que causa edema, eritema, linfangites (inflamação dos vasos linfáticos), linfadenites

(in-flamação dos nódulos linfáticos) e espessamento da pele e pode deixar como seqüela um linfedema crônico4.

A aderência cicatricial caracteriza-se pela fixação anor-mal de tecidos que deveriam deslizar entre si. Trata-se de um tecido fibroso, formado como um processo reparador ou reativo ao estresse dos tecidos moles envolvidos. A lesão cirúrgica acarreta esse processo, traduzido pela fixação da superfície da pele ao tecido subcutâneo, às fáscias e músculos4.

O linfedema de membro superior é a principal compli-cação decorrente do tratamento de câncer de mama e pode ser definido como um acúmulo anormal de proteínas e líqui-do no espaço intersticial, edema e inflamação crônica, estan-do relacionaestan-do principalmente com as extremidades. É cau-sado por distúrbios na drenagem linfática7, também

poden-do ser provocapoden-do pela radioterapia9. A taxa dessa

complica-ção aumenta significativamente nas pacientes mais velhas e o mesmo acontece com as de maior peso, devido a uma pos-sível dificuldade no retorno linfático em pacientes com mai-or quantidade de tecido adiposo8.

É um incômodo físico e emocional para as mulheres mastectomizadas, pois muitas delas experimentam depres-são, ansiedade, e chegam a necessitar de um seguimento psi-cológico ou psiquiátrico. O membro superior com linfedema vem a ser foco de atenção de outras pessoas, e pode-se fazer necessário mudar o estilo de roupa que usavam, contribuin-do para a perda da auto-estima e dificultancontribuin-do o relaciona-mento interpessoal e sexual³.

A incidência do linfedema varia entre os estudos realiza-dos dependendo de alguns fatores como o tempo de segui-mento, os tratamentos realizados, a classificação e os critérios utilizados para definição de linfedema10. Petreke e Heelan

re-latam que cerca de dois milhões de mulheres no mundo que sobreviveram ao câncer de mama, 15 a 20 % estão vivendo atualmente com o linfedema decorrente do tratamento¹¹.

O linfedema pós-cirurgia de câncer de mama é um linfedema secundário, tendo como fatores predisponentes a radioterapia, a linfadenectomia axilar, a infecção, linfangite, a celulite, a obesidade, o seroma, os nódulos linfáticos posi-tivos, a demora na cicatrização da ferida, o curativo com-pressivo e a imobilização do braço no pós-operatório¹³.

É uma condição crônica que necessita de cuidado con-tínuo. Pode ocorrer de forma insidiosa em qualquer mo-mento após o câncer de mama10, além de acarretar

inúme-ras conseqüências como a diminuição de força muscular e da amplitude de movimento das articulações envolvidas, queixas de tensão muscular, dor e aumento de peso do mem-bro superior acometido14.

O tratamento do linfedema visa a diminuição e controle do volume do membro afetado, não sendo facilmente reali-zado e com resultado nem sempre satisfatório. Os tratamen-tos cirúrgicos e farmacológicos apresentam efeitratamen-tos colaterais indesejáveis e raramente são indicados15.

Atualmente, o tratamento preconizado são as técnicas fisioterapêuticas, que incluem ações terapêuticas mais efici-entes e menos agressivas e a utilização de recursos mecâni-cos locais e cuidados específimecâni-cos. Essas ações conseguem, não só melhorar como manter a funcionalidade da circula-ção linfática, além de prevenir recidivas de infeccircula-ção4.

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A principal técnica utilizada é a Fisioterapia Complexa Descongestiva (FCD)16. A FCD é uma tétrade composta por

drenagem linfática manual, cuidados com a pele, compres-são e cinesioterapia.

A intervenção da fisioterapia, o mais precocemente pos-sível, ajuda a prevenir as complicações pós-cirúrgicas, reabi-lita as pacientes mais cedo para as atividades de vida diária, e ainda permite a elas que possam se valer da colaboração e do incentivo da equipe multidisciplinar para o tratamento.

Sendo assim, este artigo tem como objetivos, através de uma avaliação, caracterizar o grupo das mastectomizadas atendidas na Clínica Escola Vida da Universidade Católica de Goiás, identificar a prevalência do linfedema pós-mastec-tomia e analisar os benefícios advindos do tratamento fisioterapêutico para essas pacientes.

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo prospectivo, observacional, ana-lítico, da relação estímulo/efeito.

Todas as mulheres mastectomizadas, em atendimento fisioterapêutico na Clínica Escola Vida da Universidade Ca-tólica de Goiás (UCG), no período de agosto a dezembro de 2006 e que aceitaram participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, fizeram parte do estudo. Foram excluídas as pacientes que por motivos adversos desistiram do tratamento fisioterapêutico, neste mesmo período.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UCG com o número de protocolo: CAAE-0050.0.168. 000-06. Foram incluídas um total de 14 mulheres, que foram sub-metidas a uma avaliação antes do tratamento fisioterapêutico e outra ao final do tratamento, que teve duração de 3 meses, sendo este o tempo de tratamento para linfedema encontrado na literatura dependente de sua fase e variando de semanas a meses4. As avaliações foram realizadas pelas pesquisadoras

segundo a ficha em anexo (anexo 1).

O trabalho consistiu na tabulação simples de itens da ficha de avaliação. Os resultados foram apresentados em forma de tabela de freqüência contendo valores absolutos e relativos.

A base da amostra contemplou 14 pacientes, no entanto algumas tabelas apresentam resultados sobre as 8 pacientes que apresentaram o linfedema. Empregou-se para esta fase o aplicativo Sphinx Plus2 versão 4.05.

Em seguida, foram realizadas as comparações das médias da escala visual analógica, da goniometria e da perimetria, con-tidas na ficha de avaliação, através do Teste T Pareado que permite comparar os valores médios dessas variáveis, antes e depois do tratamento fisioterapêutico recebido. Para esta aná-lise, foi utilizado o aplicativo SPSS versão 13.0 para a aplica-ção do teste e o Excel para organizaaplica-ção e criaaplica-ção de gráficos, adotando-se p<0,05 como parâmetro de significância.

Cabe salientar, que embora em muitas situações o teste não tenha apresentado diferenças significativas, isto não significa que os pacientes isoladamente não tivessem apre-sentado melhora.

Resultados e discussão

Ao caracterizar os sujeitos estudados, procurou-se identificá-los de acordo com a idade, a ocupação e a naturalidade.

A média das idades foi de 52,43 anos (± 8,20) , sendo os grupos etários de 45 a 55 anos e 60 anos ou mais os de maior freqüência (74,2%). No Brasil, a faixa etária mais acometida são mulheres de 45 a 50 anos17, o que coincidiu

com o nosso estudo, e que se encontram em pleno vigor físico, profissional e social18.

Ao identificar os aspectos relacionados ao câncer de mama, procurou-se verificar a lateralidade da mama afetada, o tipo de cirurgia, a quantidade de dias que se permaneceu com o dreno, qual a média do tempo para a retirada dos pon-tos, bem como outros tratamentos realizados e o tempo de diagnóstico do câncer.

Em relação à lateralidade da mama afetada, verificou-se uma freqüência de 50 % para a mama esquerda (sete pacien-tes), 42,9% a mama direita (seis pacientes) e 7,1 % as duas mamas (uma paciente).

Quanto ao tipo de cirurgia realizada oito pacientes (57,2%) foram submetidas à mastectomia, sem especificação para o tipo. Quatro mulheres foram submetidas a quadran-dectomia (28,6%), uma (7,1%) à mastectomia bilateral e uma (7,1%) à mastectomia com reconstrução imediata.

O tempo médio para retirada do dreno foi de 7,75 dias, ± 3,47, enquanto a permanência com os pontos foi de 12 dias, ± 5,53.

Estudando pacientes que foram submetidas à cirurgia por câncer de mama, autores observaram que, dos casos com infecção, 66,6% deles permaneceu com o dreno aspirativo por mais de 15 dias. Esta constatação contradiz o que foi encontrado no referente estudo, pois no mesmo apenas uma paciente (7,1%) apresentou infecção, e o tem-po médio de permanência com o dreno não chegou a oito dias. Este pode ter sido um dos motivos da baixa porcenta-gem de incidência de infecção19.

Dentre os tratamentos complementares à cirurgia, estão a quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e linfonodo sentinela (nova técnica que permite um estadiamento linfonodal mais acurado e sem a morbidade de uma linfade-nectomia completa²³). Foram submetidas à quimioterapia onze mulheres (78,6%). O tratamento quimioterápico resul-ta em significante aumento da ocorrência de edema de braço em mulheres submetidas à cirurgia por câncer de mama19.

A radioterapia foi realizada em nove mulheres (64,3%) que participaram deste estudo. Esse tratamento está rela-cionado a fatores predisponentes ao linfedema de braço pós mastectomia20.

A hormonioterapia foi realizada em cinco mulheres (35,7%) e o linfonodo sentinela em quatro (28,6%). E, nesse estudo, das quatro pacientes que realizaram apenas linfonodo sentinela sem esvaziamento axilar, duas (50%) apresentaram linfedema. Porém, estudos relatam que a in-trodução da metodologia de biópsia de linfonodo sentine-la no câncer inicial de mama reduziu drasticamente o apa-recimento de um dos principais estigmas dessas pacien-tes: o linfedema23.

A maioria das mulheres apresentou uma cicatriz cirúrgi-ca normal (85,7%), uma (7,1%) possuiu uma cicirúrgi-catriz normal á direita e hipertrófica à esquerda - paciente que realizou mastectomia bilateral - e uma (7,1%) apresentou uma

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cica-triz tardia. Em relação às escápulas 100% se encontravam normais. A lesão do nervo torácico longo causa uma impor-tante complicação denominada “escápula alada”, que evolui com dor e diminuição dos movimentos da cintura escapular e a sua incidência encontrada na literatura foi de aproxima-damente 1,5%24, o que não foi correlacionado a este estudo.

A grande maioria das pacientes não apresentou limita-ções funcionais (71,4%). E, ao avaliar as suas atividades de vida diária, cinco delas (35,7%) não possuíam alterações.

Em relação ao linfedema, 57,1% das mulheres deste estudo o apresentaram (oito pacientes). A incidência des-crita na literatura de linfedema pós mastectomia varia de 5,5% a 80%²², diferença esta que depende de diversos fatores, como o critério de diagnóstico, tipo de cirurgia, uso de radioterapia e fisioterapia pós-operatória8,

estan-do, portanto, a incidência encontrada neste estudo den-tro desta faixa.

Segundo Freitas Jr., estudos prévios também apontaram a associação entre a idade da paciente e a incidência de linfedema, sendo que a taxa desta complicação aumenta sig-nificativamente nas pacientes mais velhas8. Além disso, houve

maior risco para esta complicação nas pacientes com mais de 45 anos8, o que também aconteceu neste estudo, pois a

média de idade das mastectomizadas que apresentaram linfedema foi superior (56,12 anos) à média de idade das pacientes em geral.

Seu início ocorreu com uma maior freqüência de dois a seis meses após a cirurgia (37,5%), tabela I. Panobianco & Mamede citam que, de acordo com as suas práticas profissi-onais o aparecimento do linfedema é mais comum em até três meses após a cirurgia¹³.

Nosso estudo mostrou que 4 (50%) das mulheres que tiveram linfedema foram submetidas à cirurgia no lado não dominante. Estudos relatam que, nesses casos, o aparecimento de edema estaria ligado ao fato de estarem começando mais tardiamente a movimentação do braço. Como o braço do lado dominante, que já é mais usado normalmente, está em me-lhores condições, a tendência é proteger o do lado operado, usando-o com menor freqüência¹³. Outros estudos mostram uma pequena relação entre o aparecimento do edema e a dominância do membro homolateral²¹.

O edema do membro superior homolateral à cirurgia esteve presente em seis mulheres (75%) que se submete-ram ao tratamento por radioterapia e em sete (87,5%) que realizaram a quimioterapia. Essas observações coincidem com as de vários autores que se reportam à quimioterapia e à radioterapia, como fatores predisponentes ao aparecimento do linfedema20,21.

Verificou-se ainda neste estudo, que a maioria das mu-lheres que tiveram linfedema, eram donas-de-casa (seis- 75%) e que iniciaram suas atividades precocemente e sem mode-ração. E, de acordo com Panobianco & Mamede esse fator está relacionado ao aumento da prevalência de linfedema¹³. Quatro pacientes possuíam linfedema na fase I (50%), três na fase II (37,5%) e apenas uma na fase III (12,5%). A pele dessas pacientes se encontrava ressecada em 62,5% (cinco mulheres) e em 37,5% (três mulheres) estava com as-pecto hidratado.

Tabela I. Base pacientes com linfedema.

Início do linfedema nº pac. % pac. De 2 a 6 meses após cirurgia 3 37,5% De 6 a 12 meses após cirurgia 1 12,5% De 12 a 24 meses após cirurgia 2 25,0% Mais de 24 meses 2 25,0% Total OBS. 8 100%

Os itens goniometria, escala visual analógica (EVA) e perimetria foram avaliados antes e depois do tratamento fisioterapêutico, para uma análise dos benefícios advindos da fisioterapia. Os resultados estão nas tabelas II e gráfico 1, tabela III e gráfico 2 e tabela IV e gráfico 3 respectivamente. Na tabela de goniometria a amostra foi de 13 pacien-tes, pois uma não apresentava nenhuma alteração em sua amplitude de movimento. Dentre os movimentos avalia-dos (abdução, flexão anterior, rotação interna e rotação externa), três obtiveram uma melhora, porém não signi-ficante estatisticamente.

Para a EVA houve melhora em todos os aspectos avalia-dos, mas somente no desconforto, movimentação e no conví-vio social essas alterações foram estatisticamente significantes. E, na perimetria houve uma diferença estatisticamente significante na medida realizada no terço médio de antebraço. De acordo com Pícaro & Perloiro, pacientes que inicia-ram o tratamento fisioterapêutico mais tardiamente não con-seguem a recuperação total da amplitude de movimento, po-dendo, este fator, estar também relacionado ao surgimento de complicações pós-cirúrgicas que não permitiram recupe-ração total funcional do ombro25. E, segundo Fernandez, os

últimos graus de amplitude articular são muito importantes para a prevenção de complicações, como o linfedema, uma vez que, a contração muscular é um dos fatores que influen-cia o transporte da linfa, favorecendo a sua aspiração para dentro do vaso. Se a amplitude de movimento não estiver totalmente recuperada, a contração das fibras musculares da cintura escapular não será normal, aumentando o risco de desenvolver o linfedema.

Em estudos realizados a partir da EVA para avaliação da dor25 não foi possível se constatar uma diferença

significati-va estatisticamente, o que também aconteceu neste estudo, embora uma diminuição nos valores tenha ocorrido.

E, para a perimetria, Pícaro & Perloiro, citam em seu estudo uma diminuição das médias de todas as variáveis ana-lisadas e, que, os seus resultados parecem revelar uma corre-lação entre o tempo de início do tratamento fisioterapêutico e a incidência do aparecimento de linfedema, sendo esse mais comum em pacientes que iniciaram um tratamento mais tar-dio25. Porém, independentemente da época do início do

tra-tamento fisioterapêutico todas as pacientes obtiveram uma melhora com o mesmo25.

Pícaro & Perloiro citam que as complicações resultantes da cirurgia e a sua gravidade parecem estar relacionadas com o tempo de início do tratamento fisioterapêutico25. O que vai

de encontro ao descrito na literatura26, considerando-se, por

isso, que a reabilitação do ombro dessas pacientes deve ser iniciada no pós-operatório imediato, ou seja, logo após as 24

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Tabela III

Teste T Pareado para EVA

Inicial Final

Amostra média desvio- média desvio- t

signifi-padrão padrão cância

Estado Geral 14 2,36 1,50 1,93 1,14 1,03 0,32 Peso do Braço 14 3,21 1,81 3,57 1,55 -1,05 0,31 Desconforto 14 3,71 1,64 2,93 1,27 2,62 0,02 Cansaço 14 3,43 1,83 2,79 1,76 1,80 0,10 Movimentação 14 3,21 1,31 2,00 1,11 2,88 0,01 AVD’s 14 2,79 1,97 2,29 1,82 1,29 0,22 Social 14 2,43 1,83 1,36 0,84 2,52 0,03 Sexual 14 3,29 2,05 2,50 1,95 1,76 0,10 Dor 14 3,00 1,57 2,57 1,40 1,47 0,16 Qualidade de Vida 14 2,50 1,61 2,57 1,28 -0,43 0,67 Humor/Emocional 14 2,57 1,79 2,14 1,79 1,38 0,19 Saúde Geral 14 2,14 1,46 2,21 1,53 -0,19 0,85 Gráfico 2 Tabela IV

Teste T Pareado para Perimetria

Inicial Final

Amostra média desvio- média desvio- t

signifi-padrão padrão cância

1/3 Sup Braço 14 33,86 4,92 33,25 5,02 1,85 0,09 1/3 Médio Braço 14 32,36 5,44 31,36 4,57 1,99 0,07 1/3 Inf. Braço 14 29,99 5,07 29,68 4,59 0,84 0,41 Cotovelo 14 28,36 4,38 27,79 3,71 1,75 0,10 1/3 Sup. Antebraço 14 27,27 4,50 25,68 2,86 1,80 0,10 1/3 Méd. Antebraço 14 23,79 5,43 22,68 4,48 2,18 0,05 1/3 Inf. Antebraço 14 19,79 5,51 19,46 5,53 0,69 0,50 Gráfico 3

Conclusão

Apesar de os dados deste trabalho se mostrarem pouco representativos numericamente, devido ao tamanho amostral (14 mulheres), ele nos permitiu obter dados a respeito da amos-tra populacional atendida na Clínica Escola Vida da UCG.

Os resultados obtidos no presente estudo confirmam não só os benefícios do tratamento fisioterapêutico, mas também demonstram a importância da precocidade da intervenção, indo este ao encontro de estudos realizados por outros autores26,27.

Encontra-se como limitação do estudo o fato deste não apresentar um grupo controle, não se podendo, assim, garantir se as pacientes que melhoraram com a fisioterapia não teriam os mesmos resultados sem a intervenção da mesma. No entan-to, tal não seria possível por razões éticas que impedem natu-ralmente que se exclua alguém de um tratamento.

Pensa-se que outra limitação encontrada possa estar re-lacionada com o fato de não ter ocorrido um controle de to-das as variáveis relacionato-das com a caracterização da amos-horas de cirurgia. É neste momento que o fisioterapeuta en-sina a execução apropriada de exercícios e sua orientação, facilitando a recuperação gradual da amplitude de movimento articular e função do ombro, assim como alerta as pacientes para o linfedema, sua prevenção e detecção precoce27.

A fisioterapia tem um papel fundamental na recupera-ção funcional do membro superior de mulheres mastectomi-zadas, atuando sobretudo na prevenção do linfedema, na di-minuição da dor e manutenção das amplitudes articulares25,

fazendo com que estas retornem precocemente às suas ativi-dades de vida diárias, melhorando o aspecto psicológico e tendo estímulos para continuarem a luta pela vida17.

Tabela II

Teste T Pareado para Goniometria

Inicial Final

Amostra média desvio-padrão média desvio-padrão t signifi-cância

Abdução 13 119,31 33,73 120,77 31,28 -0,32 0,75 Flexão 13 138,69 23,72 140,00 25,33 -1,20 0,26 RI 13 62,62 20,37 62,31 21,57 0,22 0,83 RE 13 72,54 16,65 75,69 15,32 -1,85 0,09

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tra, uma vez que esta é heterogênea e que isto possa ter, de algum modo, influenciado na variação dos resultados.

O tratamento fisioterapêutico colabora de maneira im-portante na recuperação funcional e na reintegração dessas mulheres ao meio familiar, emocional, social e cultural, bem como na ajuda de seu reconhecimento pessoal, resgatando a sua imagem e integridade corporal.

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Referências

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