19/7/2016 Garijo de Oliveira, Deutsch y Volp
ATIVIDADE FÍSICA, MÚSICA E ESTADOS DE ÂNIMO
Sandra Regina Garijo de Oliveira, Silvia Deutsch y Catia Mary Volp
Não é preciso procurar muito para encontrar pessoas ouvindo música durante a execução de suas tarefas, em ambientes públicos como restaurantes, escritórios, em casa durante um período de descanso, ou até mesmo enquanto estão dirigindo. Seja para trabalhar, para atrair fregueses ou para descansar muitas pessoas ouvem diversos tipos de música durante o seu dia. A música tem o poder de exercer uma poderosa influência sobre o homem (Leinig 1977).
Também não é difícil encontrar pessoas praticando atividades físicas, principalmente em épocas de total estresse devido à correria do diaadia. O que dizer então das pessoas que praticam suas atividades físicas ouvindo música? Enquanto caminham, enquanto fazem ginástica, musculação, enquanto pedalam, entre tantas outras. O envolvimento regular à atividade física proporciona respostas psicológicas muito desejáveis, como aspectos relacionados à saúde, se sentir melhor, redução da ansiedade, da depressão, e aumento da autoestima (Wankel 1997).
Segundo Radocy e Boyle (1979) algumas músicas podem ser relaxantes, outras podem fazer o indivíduo se sentir mais feliz outras podem causar frustração, agitação, entre outras manifestações.
O que há na música ou na atividade física que as fazem tão atraentes? Uma das possíveis respostas para esta pergunta pode estar no fato de que consciente e/ou instintivamente o ser humano busca satisfazer suas próprias necessidades. Esta busca reflete na melhora da qualidade de vida, que segundo Berger & McInman (1993) está relacionada ao grau percebido de quanto o indivíduo é capaz de satisfazer as suas necessidades psicofisiológicas. A qualidade de vida segundo os autores acima citados se dá por uma satisfação dos objetivos e desejos do indivíduo, enfatizando mais a experiência subjetiva se comparada às condições de vida, com maior número de afetos positivos e a ausência de afetos negativos. Se ambos fenômenos – música e atividade física – são estratégias para se buscar boas experiências subjetivas, perguntase qual a interferência da música e da atividade física sobre os estados de ânimo das pessoas quando são utilizadas de forma conjunta? Para tentar responder a pergunta anterior propôsse este trabalho cujo objetivo foi investigar a interferência da audição de músicas do gênero Rock Heavy Metal, New Age, e uma seleção de músicas de sucesso nos estados de ânimo, acompanhados ou não de atividade física. Método
Participaram deste estudo 60 alunos de graduação em educação física e de pós – graduação em Motricidade Humana da Unesp de Rio Claro – São Paulo.
Os alunos foram distribuídos em 2 grupos GO – Grupo que Ouve e GC – Grupo que Caminha. A composição do
GO foi de 14 mulheres com média de idade de 18,3 anos (DP = 1,15) e 16 homens com média de idade de 19,5 anos (DP = 2,7). O GC foi composto por 18 mulheres com média de idade de 22 anos (DP = 2,36) e 12 homens com média de idade de 21,4 anos (DP = 0,79). Cada grupo foi submetido às seguintes situações experimentais: GO – Ouvir Rock Heavy Metal (OR); Ouvir New Age (ON); Ouvir Sucessos (OS); e, GC – Caminhar ouvindo Rock (CR); Caminhar ouvindo New Age (CN); Caminhar ouvindo Sucessos (CS) e Caminhar Sem Música (CSM) .
Cada atividade, ouvir e caminhar, foi desenvolvida por 20 minutos. Os diferentes estímulos musicais: Rock Heavy Metal; Música New Age e uma seleção das Músicas de Sucesso (Anexo 2), foram escolhidos por terem exercido grande influência no estudo de Oliveira, Deutsch e Volp (1999). As músicas de sucesso foram escolhidas através de um levantamento na Internet, em sites que dispunham de listas das músicas mais tocadas no ano, ou na parada da semana. De todas as listas escolheuse as músicas que eram comum em pelo menos duas listas. Antes e após realizarem a atividade, os participantes preencheram a LEA – RI (Lista de Estados de Ânimo – Reduzida e Ilustrada). Esta lista desenvolvida por Volp (2000), é composta por 14 adjetivos ilustrados de estados de ânimo (Anexo 1). Procedimentos
Assim que o participante chegava ao local da coleta, lhe era solicitado que preenchesse à LEARI. Após preenchimento da mesma, ele ouvia 20 minutos de determinado estímulo musical, sorteado aleatoriamente pelo próprio participante, ou caminhava numa esteira de exercícios por 20 minutos, após a realização da tarefa, o mesmo preenchia à LEARI novamente. Durante as coletas de dados permaneciam na sala o participante e o pesquisador, e após o início da atividade, evitouse ao máximo conversas que não fossem referentes ao protocolo da pesquisa.
Utilizouse uma técnica estatística multidimensional de Análise Fatorial de Correspondências. Esta técnica procura tornar clara a proximidade entre perfis linhas, entre perfis colunas e entre perfis linhas versus perfis colunas, de uma dada matriz de dados, através de projeções sobre planos fatoriais. O que nos permitiu verificar se houve ou não alteração nos estados de ânimo, assim como projetálos em um plano fatorial. Tabulação dos dados Após as situações experimentais os dados foram tabulados. Cada um dos adjetivos apresentou uma escala de 4 valores como resposta com a seguinte pontuação: Muito Forte = 4, Forte = 3, Pouco = 2, Muito Pouco = 1. Para verificar se houve alteração ou não das respostas dos participantes à LEARI, utilizouse os valores “4”; “3”; “2” e “1” do pré e do pós teste, em cada situação experimental. Os dados brutos foram transformados em (+1) quando o valor do pós teste era maior do que o do pré teste; (0) quando o valor do pós teste era igual ao
Figura 1. Representação gráfica dos resultados da Análise de Correspondência para o grupo que ouviu Através da leitura dos resultados é possível identificar que o grupo que Ouviu após a situação de audição de Rock ficou mais “desagradável” e mais “pesado”, e menos “cheio de energia”, menos “feliz” e menos “agradável”, após ouvir New Age ficou mais “leve” e mais “espiritual”, e após ouvir Sucessos ficou mais “leve” e mais “calmo”.
Figura 2. Representação gráfica dos resultados da Análise de Correspondência para o Grupo que Caminhou
Podese identificar que o Grupo que Caminhou, após as situações experimentais, parecem ter alterado os seguintes estados de ânimo: após caminharem ouvindo rock os participantes se sentiram mais “desagradáveis” e “agitados” e menos “calmos” e “leves”. Após a caminhada ouvindo New Age eles se sentiram mais “calmos”; “espirituais” e “leves” e menos “tristes” e “pesados”. Quando caminharam ouvindo Sucessos eles se sentiram mais “agradáveis” e “felizes” e menos “inúteis”, “tímidos” e “com menos medo”. Após a caminhada sem música eles se sentiram “mais cheios de energia” e mais “ativos”.
A Figura 3 demonstra os resultados encontrados de forma comparativa
Figura 3. Resultados comparativos Os resultados deixam claro que o Rock Heavy Metal não foi uma música agradável nem para quem ouviu nem para quem praticou atividade física, deixando as participantes com estados de ânimo mais negativos. Quando nos referimos ao New Age, as influências nos estados de ânimo parecem ter sido mais positivos. Parece que este gênero musical auxilia no relaxamento, podendo ser uma ferramenta importante para aliviar o stress. Entretanto, Campbell (2001) afirma que a música New Age pode prolongar nossa sensação de espaço e tempo e pode induzir um estado de alerta descontraído.
As músicas de sucesso mostraram ter efeitos similares ao do New Age, parece também ser um gênero importante quando se quer elevar os estados de ânimo positivos.
Fazer atividade física sem música parece ter deixado os praticantes com mais energia, o que parece lógico, visto que a prática de atividade física pode ser um indicativo de saúde, ou mesmo busca à saúde. È importante salientar, que durante as coletas de dados, alguns participantes declararam verbalmente, que a prática de atividade sem música, fez com que os mesmos prestassem atenção na realização da atividade em si, no corpo enquanto realizando um exercício, o que pode ter contribuído para o aumento dos estados “cheio de energia” e “ativo”.
Os resultados nos permitem concluir que a música realmente tem fortes influências nos estados de ânimo de quem a ouve. Quando acompanhada de outras estratégias como a atividade física, ambas podem se tornar uma forma potencial de aquisição da qualidade de vida. Por outro lado, os próprios resultados demonstram que a mesma música pode deixar o ser humano descontente, ou mesmo, desagradável, pesado, e agitado, caso a música tenha sido utilizada de forma incorreta. Cabe ao ouvinte, e aos pesquisadores da música, identificarem os estilos adequados e menos prejudiciais, para que os efeitos da mesma possam auxiliar no desenvolvimento da qualidade de vida. Referências Bibliográficas Berger, B. G. e McInman, A. (1993). Exercise and the Quality of Life. Em Singer, R.; Murphy, M. e Tennant, L. (Eds.) Handbook of Research on Sport Psychology. New York: MacMillan P.C. Campbell, D. (2001). O efeito Mozart: explorando o poder da música para curar o corpo, fortalecer a mente e liberar a criatividade. Rio de Janeiro: Rocco. Leinig, C. E. (1977). Tratado de Musicoterapia. São Paulo: Sobral. Radocy, R. E. e Boyle, D. (1979). Psychological Foundations of Musical Behavior. Illinois: Charles Th.
Wankel, L. M. (1997). The Social Psychology of Physical Activity. Em Curtis, J. E. e Russell, S. J. (Eds.) Physical Activity in Human Experience Interdisciplinary Perspectives. Canadá: Human Kinetics.