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O DUPLO EM O MÉDICO E O MONSTRO, DE ROBERT LOUIS STEVENSON

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O DUPLO EM O MÉDICO E O MONSTRO, DE ROBERT LOUIS

STEVENSON

Grazielle Vieira GARCIA (IFTO/Esp.) (grazielle.garcia@ifto.edu.br)

Palavras-chave: Duplo, Stevenson, imortalidade, desdobramento de personalidade

O romance The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde é a obra mais conhecida do escritor escocês Robert Louis Stevenson. A primeira edição surgiu em meados de 1886 e foi traduzida para o português com o título de O médico e o monstro, que trata, principalmente, do tema do desdobramento da personalidade, nas figuras de Dr. Jekyll, funcionando como o eu original e do Sr. Hyde, o seu duplo.

A partir do histórico do duplo relatado por Nicole Bravo, em seu verbete “Duplo” presente no Dicionário de mitos literários, ele pode ser divido em dois momentos: o homogêneo, que vai da Antiguidade até o século XVI (2000, p. 263), e o heterogêneo, que vai do século XIX até o século XX (2000, p. 264), com isso, podemos considerar que a obra O

médico e o monstro de Robert Louis Stevenson está no segundo contexto, pois é nessa

segunda fase que há a “divisão do eu”, quer dizer, o duplo não é representado por duas figuras homogêneas, e sim por duas que se opõem. Assim, a caracterização de Jekyll e Hyde funcionará como um paradoxo, já que um representará a “boa” personalidade enquanto o outro será o lado “ruim”.

Por ser gerado através de uma fórmula, Hyde é um duplo que surge de dentro para fora, o que nos remete a Carla Cunha, em seu verbete “Duplo”, no qual ela faz referência a dois tipos: o exógeno e o endógeno. O duplo exógeno se refere a um “outro eu”, que tem as mesmas características e as mesmas representações do eu originário. São os espelhos de si mesmos, e só através de um “julgamento tridimensional” do primeiro “eu” que pode ser reconhecido o “outro”, havendo uma “identificação (duplo positivo) ou uma oposição (duplo negativo)” (CUNHA, 2014).

O endógeno designa um desdobramento, em que pode ou não haver harmonia entre o “eu” e seu duplo. A negação do duplo pode ocorrer se houver uma oposição ou uma relação “bilateral” entre eles. Tendo em vista que o duplo tem sua gênese determinada em um sujeito, sendo esse uma mimese, ele não pode desfrutar das mesmas leis que são subjacentes ao “eu” do qual se originou. Esse duplo ainda constitui um compromisso entre a exterioridade e a interioridade do sujeito, refletindo o seu interior e admitindo o seu exterior, pois

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independente, já o difere do “eu” original. A criação do duplo obedece ainda um princípio de autoconsciência que tem um papel determinante, já que nenhum duplo surge do nada. O “outro” surge do “eu” que contém um conhecimento satisfatório de sua interioridade, para exteriorizar através de uma imitação. Porém, sendo uma cópia do primeiro, ele não pode ser exatamente o sujeito original. A partir do momento em que é gerado, ganha independência e possui outra essência, o que o faz diferenciar do “eu” passando a ser o “outro” (CUNHA, 2014).

Observamos que a teoria do duplo “endógeno” está ligada ao duplo relatado em O

médico e o monstro, pois Hyde é o outro ser de Jekyll, originou-se dele por meio de uma

fórmula, e assim teve vida própria e características particulares. Jekyll é um homem honrado, que cumpre corretamente seus direitos e deveres de cidadão enquanto Hyde é um assassino que utiliza da mais pura crueldade, não respeita o ser humano e nem as leis da humanidade. Hyde e Jekyll, apesar de serem a mesma pessoa, são criaturas completamente opostas.

Jekyll, que é um homem envolvido com a ciência, tem conhecimento a respeito da dualidade humana, e ele tenta, por meio de uma poção, separar o bem do mal, como ele mesmo diz na sua confissão final: “ia-se cavando em mim, mais do que na maioria dos mortais, esse profundo fosso que separa o mal do bem e divide compõe a dualidade de nossa alma” (STEVENSON, 2005, p. 71). Ele então coloca em prática seu desejo de dividir o lado bom do mal, aplicar na prática a sua teoria da dualidade humana, através de um experimento científico. Ao obter sucesso na experiência, Jekyll conseguiu expor o seu lado negro puro, sem qualquer indício de bondade. A ideia de pureza não significa, necessariamente, estar livre de qualquer mal ou impureza. O dicionário Oxford apresenta o vocábulo pure (puro) como algo não misturado, livre de qualquer substância adicionada. Isso significa que Hyde se tornou o lado mau, na sua essência, pura, da maldade de Jekyll, reconhecida pelo próprio médico:

[A]rriscara-me na experiência enquanto estava sob o império de aspirações generosas e científicas [...] E daí resultou Edward Hyde. Portanto, se tinha dois caracteres e duas aparências, uma dessas era inteiramente inclinada ao mal, a outra era ainda o velho Henry Jekyll. (STEVENSON, 2005, p. 75)

Concordamos com Nicole Bravo (2000, p. 277), em seu verbete sobre o duplo, quando diz que o mal se “desenvolve com pleno vigor” e que a virtude de Jekyll vai se tornando fraca, pois este, limitado entre o “Id = Hyde e o superego = o médico, o ego reduz-se a uma espessura mínima”. Afinal, Hyde é tudo aquilo que o doutor não pode ser, no sentido

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em que este age sem nenhum escrúpulo, age com severidade, enquanto Jekyll é um homem íntegro, e bem relacionado na sociedade. Contudo, não podemos esquecer que, de forma alguma, Jekyll é o lado bom de Hyde. Jekyll é a reunião dessas duas categorias distintas, a soma do bem e do mal.

O mal, de forma alguma, é prejudicial para Jekyll, já que é uma característica inerente ao ser humano. A coexistência de princípios que se opõe é até tido como fator de equilíbrio em algumas religiões, como o caso do símbolo do Yin e Yang, da filosofia do Tai

Chi. O que provocou desequilíbrio foi Jekyll viver plenamente apenas com um dos seus lados.

Fica subentendido que a coexistência dos dois princípios, de forma conflitante no ser humano, de acordo com Jekyll, é que constitui o ser humano:

E aconteceu que o sentido dos meus estudos científicos, que me conduziam à mística e às coisas transcendentes, suscitou e derramou imensa claridade nesse caráter de guerra permanente entre o bem e o mal em que me debatia. Em cada dia, as duas partes da minha inteligência, a moral e a intelectual, atraiam-me mais e mais para essa verdade, cuja descoberta parcial fora em mim condenada a tão pavoroso naufrágio: que o homem não é realmente um, mas duplo. (STEVENSON, 2005, p. 72, grifo nosso)

Para além do conflito entre bem e mal, Otto Rank discute que a ideia de duplo vem pela necessidade do eu de lutar contra o problema ontológico da finitude existencial. Assim, ele (o duplo) apresentará sempre características desenvolvidas para combater, muitas vezes de forma inconsciente, a morte do eu original.

Em O médico e o monstro, Edward Hyde é essa tentativa de Jekyll de se distanciar da morte. O seu outro lado tem aparência mais jovem, com estatura menor e com mais vigor físico, inclusive com mais vontade de viver, mesmo que para isso, cometa alguns crimes. O próprio médico reconhece essas características: “Edward Hyde parecia mais novo, mais ágil, mais leve do que Henry Jekyll” (STEVENSON, 2005, p. 74). O fato de Hyde ser mais novo implica nessa fuga, pois quanto mais jovem, mais tarde chegará a morte. Por esse motivo, o monstro foi aos poucos se tornando mais forte que Jekyll.

A teoria de Rank a respeito do duplo, em que este é a fuga da morte do eu, é criticada por Clément Rosset (1999, p. 77- 78), que defende que a preocupação da criação do duplo está além da fuga da morte, pois o medo da não existência é o fator determinante. Por esse motivo, o pior erro seria matar o outro, pois estaria matando a si mesmo. E a solução para esse problema de desdobramento não está na mortalidade do ser, e sim na sua própria

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existência. O eu é único, não pode se ver, e as coisas do mundo são caracterizadas pela sua unicidade, se o outro morre, não há mais nenhum.

Não discordamos da teoria de Rank, pois o duplo é visto sim como uma tentativa de fuga da morte. Contudo, consideramos a teoria de Rosset, pois na obra O médico e o

monstro, como já foi dito, o Sr. Hyde é uma tentativa de Dr. Jekyll de escapar da morte,

porém com o fim do duplo, o eu original também é extinto.

Jekyll percebe a vitalidade de Hyde é o desejo dele de viver intensamente, o seu amor pela vida:

E se não fosse o seu medo da morte, há muito ter-se-ia destruído para me envolver na sua própria ruína. O amor pela vida, contudo era extraordinário. Direi mais: eu, que adoecia e gelava de horror só em pensar nele, quando compreendi a abjeção e a persistência desse seu amor pelo mundo e quando percebi o receio que tinha de que o inutilizasse pelo suicídio, principiei a sentir compaixão por ele. (STEVENSON, 2005, p. 85)

Essa é a parte pela qual Dr. Jekyll declara o medo que o Sr. Hyde tem em relação à morte. Se pensarmos de acordo com Rank, o medo da morte não é algo exclusivo de Hyde, o reflexo de Jekyll. Estamos querendo dizer que Hyde, sendo a projeção do Id de Jekyll, o medo da morte é inconscientemente representado pelo próprio desdobramento. E, ao pensar no suicídio, automaticamente o médico sabe que os dois morrem, tanto seu eu quanto seu duplo. Daí a unicidade das coisas. Os dois são, portanto, uma só pessoa.

O romance O médico e o monstro tem um desfecho trágico porque Hyde comete suicídio quando percebe que não tem como escapar das investidas do Sr. Utterson e do mordomo Poole, quando estava preso dentro do laboratório. Os dois veem o corpo de Hyde e procuram o médico. Eles ainda não sabiam que os dois eram, na verdade, um. Quem se matou não foi o médico, e sim o monstro. Com a sua morte, morreu também o eu original, quer dizer, o Dr. Jekyll.

Segundo Rosset (1999, p. 83), a relação do eu com o outro pode ocasionar dois itinerários: a aceitação ou a recusa do duplo. No caso da obra de Stevenson, percebemos que, no início da vida independente do duplo, houve aceitação de Dr. Jekyll. O problema da vida independente de Hyde foi o controle que Jekyll provou não ter e que começou a ficar perigoso tanto pra ele quanto para Hyde. Por isso, Jekyll, no momento em que sentiu mais a sua vida ameaçada, optou por si:

Era preciso escolher entre os dois. As minhas duas naturezas possuíam memória comum, mas outras faculdades comportavam-se de forma desigual.

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Jekyll, o ser composto, às vezes com bastante apreensão, às vezes com desejo impetuoso, projetava e compartilhava dos prazeres e das aventuras de Hyde. Mas Hyde era indiferente a Jekyll, ou, se o recordava era como os bandidos das montanhas ao lembrarem-se da caverna em que se refugiam da justiça [...] Muitas vezes os mesmos incitamentos e sobressaltos conduzem à morte um pecador tentado e medroso. E aconteceu-me, como à maioria dos

meus semelhantes, que optei pela parte sã e procurei defendê-la com unhas e dentes. (STEVENSON, 2005, p. 78-79, grifo nosso)

De acordo com Rosset (1999, p. 96- 97), a perda do duplo, iniciada na era dos românticos, representava a morte. Com isso, queremos dizer que, o embate entre Jekyll e Hyde precipitou o fim dos dois, já que a existência apenas de um dos princípios provocaria desequilíbrio. Ao viver como Hyde e experimentar plenamente um dos lados, Jekyll ficou afetado pela influência do seu duplo ao ponto de não mais conseguir vencê-lo. O desequilíbrio foi provocado quando ele experimentou um dos seus lados de forma pura e, ao tentar recompor o “equilíbrio” de sua vida, Hyde passou a assediá-lo insistentemente, ao ponto de o duplo surgir sem que houvesse necessidade de Jekyll tomar a fórmula:

[D]aquele dia em diante, só por um enorme esforço e sob o estímulo imediato do remédio é que eu conseguia conservar a fisionomia de Jekyll. A todas as horas do dia e da noite, sentia o tremor fatal a advertir-me. Sobretudo, se adormecia, ou dormitava por alguns momentos na poltrona, era sempre na forma de Hyde que acordava. (STEVENSON, 2005, p. 84)

A morte de Jekyll/Hyde foi provocada porque, sem os ingredientes necessários para a composição da fórmula, não haveria mais como Hyde se transformar em Jekyll. O médico reconheceu que não iria mais viver. Porém, sabemos que Hyde deixaria de existir de qualquer forma. Hyde toma veneno e se suicida para não ser preso e morto. Mesmo que não tomasse veneno e mesmo que não fosse preso, Hyde estaria fadado a um destino trágico pelo seu caráter maléfico e por ser a manifestação do duplo de Jekyll.

Hyde é o desdobramento de Jekyll, a sua parte escondida, o seu lado mais estranho. O nome Hyde vem do verbo hide que significa esconder. Por isso, o próprio nome dessa personagem denota, em si, algo que estava escondido em Jekyll, mas que é revelado.

A ideia de que algo está escondido e que é revelado provocando o estranhamento foi competentemente estudada por Freud (1976, p. 276) no seu ensaio “O estranho”. O estranho está ligado ao que é assustador, ao que provoca medo, terror, enfim, está relacionado com tudo aquilo que desperta medo em geral. E é essa a impressão que se tem da fisionomia

O romance de Stevenson é de uma época posterior ao Romantismo. Nem por isso, podemos dizer

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de Hyde, como as pessoas que o veem o descrevem. No primeiro capítulo intitulado “A história da porta”, Enfield diz a Utterson que Hyde “não era bem um homem: parecia uma encarnação de algum demônio terrível” (STEVENSON, 2005, p. 19). A sensação de repugnância é aumentada quando Enfield não consegue descrever uma característica em Hyde que mais lhe chama atenção. Enfield não consegue verbalizar algum aspecto presente na fisionomia de Hyde:

Não é fácil descrever. Tinha algo falso na aparência, muito de desagradável,

alguma coisa de profundamente odioso. Nunca vi homem tão antipático, nem sei bem dizer a razão. Parecia ser vítima de alguma deformação: era a sensação que dava, ainda que não possa especificar em que parte do corpo. Uma figura extraordinária, e no entanto não sei precisar de que maneira. Não, meu amigo, de modo nenhum. É-me impossível descrevê-lo. (STEVENSON, 2005, p. 21-22, grifos nossos)

O estranho está ligado ao que é de natureza negativa, o qual traz repulsa. Em O

médico e o monstro, a figura negativa de Hyde está ligada à essa condição de estranho, pois

ele é a oposição do que é belo. Ele é repugnante aos olhos de quem o descreve.

Sendo a teoria de Jekyll a dupla natureza do ser humano e sendo Hyde a prova de que é possível isolar uma das duas faces da mesma moeda, tanto Utterson quanto Enfield, na verdade, ao não conseguirem descrever aquilo que mais lhe provocavam repugnância na aparência de Hyde, estão confirmando a teoria de Jekyll, da natureza ambivalente, presente em todo mundo. Eles estão, também, confirmando o sentido da palavra Unheimlich (estranho, o conceito utilizado por Freud), ou seja, de algo que estava oculto e que foi revelado, e estão reconhecendo que essa característica é familiar e, ao mesmo tempo, estranha para aqueles que não admitem. Estão confirmando, ao mesmo tempo, a palavra Heimlich (familiar). Nenhuma das personagens admite isso. Dr. Lanyon chega a ridicularizar Jekyll. Apenas o médico aceita a sua ambivalência. É por isso que Jekyll diz, ao se ver (Hyde) no espelho: “Pois se era eu também!” (STEVENSON, 2005, p. 74).

Outra consideração a ser feita a respeito do “estranho” na obra de Stevenson é que Hyde é a personalidade reprimida de Jekyll, que está oculta e que veio à tona por meio de uma fórmula. A figura marginalizada de Hyde realiza todos os desejos reprimidos do doutor, assim, nada ali é estranho, porque, de certa forma, esses desejos já se encontravam no inconsciente do médico. Freud, na sua segunda observação a respeito do estranho, defende que a personalidade reprimida está relacionada à sua natureza oculta, pois o estranho não é nada novo ou diferente, mas sim algo familiar já estabelecido na mente e que se alienou desta

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por meio de repressão (FREUD, 1976, p. 301). O que podemos confirmar na obra de Stevenson quando Jekyll faz uma revelação ao seu amigo Utterson:

Os prazeres a que me entregava, sob o disfarce, eram, como disse, indignos; eu não conseguiria fazer uso de um termo mais baixo. Porém, na pele de Edward Hyde esses prazeres atingiam a monstruosidade [...] Por vezes Jekyll ficava horrorizado com os atos praticados por Hyde. Mas a situação estava à margem da lei e fora do alcance da consciência. Afinal, era Hyde e só Hyde o culpado. Jekyll não ficava pior por isso: regressava, íntegro, às suas boas qualidades, e procurava, sempre que possível, desfazer o mal causado por Hyde. Assim, sua consciência ficava adormecida. (STEVENSON, 2005, p. 76)

Observa-se, portanto, que o médico concretiza seus desejos em Hyde, sem levar nenhuma punição moral. O duplo nesse romance também serve para a realização de desejos que ao médico estariam proibidos ou inalcançáveis.

Há uma metáfora literária competentemente usada por Stevenson ao descrever a fórmula que Jekyll usava para se transformar e “destransformar”: o sal, que era impuro. Dessa forma, o sal impuro era o componente necessário para que o lado mal de Jekyll viesse à tona assim como era o mesmo ingrediente que o fazia voltar ao normal. Isso se deve ao fato de que Jekyll não é o representante do bem. Ele, em si, representa também a impureza. É por esse motivo que quando o estoque da primeira amostra de sal se esgota, Jekyll nunca mais conseguiu comprar sal impuro, pois todas as novas amostras sempre eram de sal puro, portanto, impossível obter a “destransformação”:

Mandei comprar outra quantidade e procedi à mistura; produziu-se a efervescência e a primeira mudança de cor, porém não a segunda. Tomei-a, e não senti resultado nenhum. Poole deve ter lhe contado, como o mandei vasculhar Londres. Foi tudo inútil. E estou agora persuadido de que a primeira remessa é que era impura e que foi essa impureza que deu a

eficácia à minha descoberta. (STEVENSON, 2005, p. 85, grifo nosso).

Jekyll, de forma alguma era puro, pois o sentido da palavra significa algo que não foi misturado. Jekyll era um “duplo”, era a mistura do bem e do mal, a coexistência de uma natureza “dupla”.

O médico e o monstro é, sem dúvida, uma das histórias mais intrigantes da

literatura em língua inglesa, motivo de debates e muitas análises. Não pretendemos esgotar o assunto ao analisar o romance. Esta é, sem dúvida, uma narrativa que extrapola qualquer teoria devido a sua complexidade estrutural e a forma como alguns personagens foram

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caracterizados. O romance ocupa e ocupará, sem dúvida, um lugar entre as obras mais discutidas e, com mérito, mais bem realizadas da literatura anglo-saxônica e ocidental.

REFERÊNCIAS:

BRAVO, Nicole. Duplo. In: BRUNEL, Pierre. Dicionários de mitos literários. Rio de Janeiro: José Olympio & UnB, 1997, p. 73-126.

CUNHA, Carla. Duplo. Disponível em: <www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/D/duplo.htm>. Acesso em: 09 de Ago de 2014.

FREUD, Sigmund. “O estranho”. In:______. Obras completas. Tradução sob dir. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1976, Vol. XVIII, p. 275-318.

RANK, Otto. O duplo. Tradução Mary B. Lee. Rio de janeiro: Coed & Brasílica, 1939.

ROSSET, Clément. O real e seu duplo: ensaio sobre a ilusão. Trad. José Thomaz Brum. Porto Alegre: L& PM, 2001.

STEVENSON, Robert Louis. O médico e o monstro. Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo: L&PM, 2005.

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