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O PREÇO DA LIBERDADE: QUANTO CUSTA SER LIVRE EM ESCADA NO SÉC.XIX?

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Anais do X Colóquio de História da UNICAP/ 2016 ESCRAVIDÃO, ABOLIÇÃO E PÓS-ABOLIÇÃO

ISSN 2176-9060

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O PREÇO DA LIBERDADE: QUANTO CUSTA SER LIVRE

EM ESCADA NO SÉC.XIX?

Anderson Antônio de Santana Justino

UFPE andersonantonio023@gmail.com

RESUMO

O presente trabalho se desenvolve a partir de uma história do crioulo Raymundo, que teria ganho a sua liberdade, mas esta não fora reconhecida. Essa narrativa se desenvolve nos autos de um processo civil pertencente ao acervo documental do Memorial de Justiça de Pernambuco, no ano de 1873, em Escada, município da então Província de Pernambuco. A partir de seu processo civil, analisamos como o crioulo tenta conquistar o reconhecimento de sua alforria em uma ação de liberdade, porém, ao perceber que poderia retornar ao cativeiro, toma medidas drásticas. Mediante isso, procuramos analisar as dificuldades na obtenção da liberdade entre o escravizada face as estratégias empreendidas por seus senhores para impedir que o mesmo alcançasse a tão sonhada liberdade. Quando o indivíduo alcançava a alforria nem sempre era garantida plena de ‘’liberdade’’, este, poderia ser novamente escravizado. Através dos pressupostos teóricos e metodológicos, utilizamos a análise dos autores Chalhoub (1990), FRAGA (2014), MATTOS (2013), GINZBURG (1991) entre outros que abordam a temática africana e sua diáspora. Discutiremos como era tênue a situação de liberdade entre os escravizados e como esses se utilizavam de mecanismos para garantir o acesso a sua alforria.

PALAVRAS-CHAVE: ESCRAVIDÃO, ESCADA, LIBERDADE.

Através da documentação judicial, a historiografia mais recente tem encontrado uma nova maneira de acessar as sociabilidades e conflitos enfrentados pelos segmentos populares. Este tem sido uma importante fonte para a compreensão não apenas da situação do fato exposto, mas das motivações e razões colocadas pelos envolvidos, antecedentes ao ocorrido. Além disso, cada um elemento envolvido pode apresenta sua perspectiva. Dessa maneira, essas fontes

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proporcionam diferentes olhares de mundo divididas por determinados grupos sociais.

A historiografia que trata da escravidão brasileira nas últimas décadas tem si voltado para estudos mais frequentes a respeito da liberdade. Baseados nos estudos clássicos de ações de liberdade e alforrias, aumentaram o número de trabalhos que dão visibilidade aos libertos e investigam as suas possibilidades de mobilidade social e espacial, suas disputas por direitos e cultura política, bem como a sua situação precária de existência além de uma instabilidade jurídica.

As novas análises a respeito dos libertos, que são baseadas nesses recentes apontamentos da historiografia da escravidão, reiteram o protagonismo e reconhecem os impactos de suas ações particulares ou coletivas. Esses estudos apresentam que não existe mais uma ‘’escravidão’’, mais sim diversas, bem como apenas uma ‘’liberdade’’ entendida como absoluta, mas maneiras de viver em liberdade, de direito e/ou de fato (CHALHOUB, 2012). Ocorre um aprofundamento das pesquisas no entendimento do tema escravidão no Brasil, na descoberta de um sistema multifacetado com relação a questão da liberdade.

A condição de livre foi uma luta travada por muitos indivíduos durante o período escravocrata do Brasil. Entre esses sujeitos podemos destacar Raymundo, um indivíduo que lutou por sua liberdade em um processo civil. Ele viveu no município de Escada no estado de Pernambuco no período de 1873. Essa foi a data em que este moveu o processo civil contra Monoel Antonio dos Santos Dias que alegava que Raymundo era seu escravo e por isso devia obediência. Com o auxílio de um curador chamado Sergio Dinis de Moura Mathos, o possível cativo inicia uma ação de liberdade que reclamava a sua condição de livre, alegando que não poderia ser propriedade mais de nenhum homem.

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Para defender essa condição de Raymundo, Sergio Dinis de Moura Mathos apresenta no início do processo uma carta de alforria dada pelo senhor chamado Antonio de Barros Monte Rara. Essa carta foi lida pelo advogado do seu antigo dono que tem por nome José Severino Durval. Nela ficaram explícitas as informações que atestavam a situação do escravizado. Raymundo, como alguns outros ex-cativos, tinham escrito nas suas cartas de alforria uma ressalva quanto aos bons serviços prestados durante o exercício das suas atividades ainda quando era cativo. Esse foi uma das justificativas apresentada pelos senhores para a libertação de suas propriedades. A defesa da doação da carta de alforria fica expressa nesse trecho do processo abaixo:

[..]Raymundo por seu senhor legítimo Antonio de Barros Monte Rara [ilegível] na representação ao presidente da província dirigida pelo mesmo Monte Rara, [ilegível] a bela carta de liberdade, da qual representação [ilegível] que [ilegível] de confiança é que o [ilegível] José Severino Durval de Albuquerque, estando na qualidade de advogado de Monte Raro, de posse do papel em branco pelo mesmo firmado [ilegível] rezo para haver [ilegível] do preto Raymundo que pertencia ao seu cliente ; e não podendo semelhante proceder dar direito ao mesmo José Severino em [ilegível] de Monte Raro, esta [ilegível] em seu direito [ilegível] legitimamente dispondo de sua propriedade alforriava Raymundo. Se o Capitão Santos Dias quer [ilegível] sobre Raymundo seu direito de propriedade, por maioria de razão de poder [ilegível] prevalecer o mesmo Monte Raro, que quando Alforriava Raymundo não faria mais do que exercer o seu direito de propriedade; portanto vista do quanto tem alegado e [ilegível] espera que seja o feito assim julgado, [..]1

1Esse processo pode ser visto no Memorial de Justiça de Pernambuco. Na

Comarca de Escada no ano de 1873. A caixa respectiva ao processo é a 290. Uma ação de liberdade.

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As cartas de alforrias poderiam ser gratuitas, onerosas ou condicionais. No caso de Raymundo no processo não fica claro. O senhor através da concessão da liberdade tentava mostrar a sua benevolência, sua bondade, sua generosidade. Mas, o que devemos entender é que independente da justificativa dada pelo senhor, os trabalhos prestados, a dedicação e as disciplinas dos escravizados tem um preço, que ele como pessoa paga para conseguir essa alforria. É o preço de esconder suas vontades para melhor atender os desejos de seu senhor.

Existiam muitos senhores que não aceitavam a carta de alforria de alguns escravizados. Um dos motivos poderia ser por causa de algum arrependimento após a concessão do documento ou em outras circunstâncias o ex-cativo recebia essa liberdade após a morte de seu antigo senhor e os seus beneficiários no inventário reclamavam a posse desses indivíduos. Para garantir seus direitos, alguns escravizados recorriam para a esfera judicial, solicitando as ações de liberdade. Assim como Raymundo, eles desejavam manter a sua condição de livre. Essas alegações de retorno a escravidão foram chamadas pela historiadora Keila Grinberg de reescravização. Ela analisou as ‘’ ações de manutenção de liberdade’’ que foram empregadas por escravizado na Justiça com o intuito de manterem sua liberdade. De acordo com ela,

‘’Nas ações de liberdade os escravos – ou, ao menos, indivíduos formalmente tidos como cativos – solicitavam a homens livres que assinassem petição por eles, argumentando que possuíam razões suficientes para processar seus senhores e pedir sua liberdade. As ações de manutenção de liberdade eram iniciadas por libertos que pretendiam defender na justiça o direito de manter sua condição jurídica, à qual consideravam ameaçada pela possibilidade de reescravização’’. (GRINBERG, 2006, p. 106).

As ações de liberdade não poderiam ser requeridas pelos próprios escravizados, deveria ter um intermediário que estivesse na condição

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de livre para iniciar o processo, uma vez que esses não tinham representação jurídica. Possivelmente, isso complicou muito na vida dos próprios cativos, porque tudo estava atrelado aos laços de solidariedade que estes haviam feito ao longo de suas vidas. Depois de ter encaminhado o processo ao juiz, este nomeava um curador para ajudar na defesa do escravizado, assim também como um depositário que o acompanhava até que o processo fosse finalizado.

Apesar dessas dificuldades, na última metade do século XIX ocorreu um aumento significativo quanto ao número de alforrias (Falci, 1995, p. 208). Um dos fatores que interferiram nesse aumento de alforrias foi a direção do tráfico interno brasileiro durante a escravidão. Em algumas regiões em que esse sistema atuava no aspecto econômico, as chamadas no-plantation, ocorreu uma baixa significativa no número de cativos. Isso ocorreu antes da década de 1870, sendo possível o aumento das alforrias nas décadas de 1850 e 1860.

Para um outro entendimento quanto a frequência das manumissões podemos verificar o trabalho de Eisenberg (1989, p.260) para Campinas no intervalo de tempo de 1798 – 1888. Na primeira metade do século XIX existia um crescimento do número das alforrias conforme o aumento da produção de açúcar e café; já nas décadas finais do século (1870-1880) as alforrias dispararam devido ao movimento abolicionista e as pressões dos grupos que eram contrários à escravidão. Esse último sistema perdeu o apoio de muitos grupos da sociedade, uma vez que, essa instituição não era mais bem vista. Essa situação pode ter inspirado Raymundo no desejo de buscar a liberdade. Ele pode ter sido influenciado em lutar por sua alforria ao observar outros cativos alcançando a tão sonhada liberdade.

Esses trabalhos que abordam as questões da frequência das manumissões nos ajudam na compreensão dos diferentes lugares e épocas que ocorreram os aumentos. Esses estudos contribuem para o

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entendimento do universo do liberto. Assim como Raymundo, outros indivíduos estavam disputando a sua condição de livre. Seja pelo intermédio do poder judiciário ou outros mecanismos que foram acionados para que fossem garantidos a possibilidade de conquista da liberdade.

Do outro lado do processo civil em que Raymundo fazia parte estava o Capitão Monoel Antonio dos Santos Dias que alegava que este escravizado era sua propriedade e que não era livre. Com seu advogado Tobias Barreto, ele vai tentar provar o seu direito de propriedade sob esse escravizado. Barreto levanta uma suspeita quanto a veracidade da carta de alforria apresentada por Raymundo. Ele investigou que a data de emissão desse documento foi no mesmo ano do processo, no dia sete de abril de mil oitocentos e setenta e três. Além disso, Barreto, na tentativa de invalidar a carta de alforria, mostra um documento de venda que contém dentre outros bens o escravizado em questão. Esse recibo de venda teria sido fornecido por Monte Rara para José Severino Cavalcante de Albuquerque antes da data da confecção da carta de alforria apresentada. Devido a isso, Raymundo não poderia ter recebido a liberdade de Monte Rara no ano de 1873 porque nesse período esse escravizado não mais o pertencia. Barreto por meio dessa prova deixa um questionamento a respeito do por que Monte Rara tinha concedido uma carta de alforria para um escravizado que não mais fazia parte dos seus bens? Qual seria a relação de Raymundo com Monte Rara para fazer com que esse último tomasse essa atitude? Como um senhor poderia ter uma cumplicidade com um escravizado, uma vez que a historiografia tradicional da escravidão brasileira não permitia a existência dessa forma de relacionamento entre esses dois indivíduos nos seus estudos? Quando Tobias Barreto levantou a dúvida quanto a veracidade da carta de alforria, ele propôs um questionamento quanto a relação de Monte Rara para com o escravizado. Temos que mudar essa visão consolidada de que a relação do senhor escravizado era pautada

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exclusivamente naquele que manda porque era proprietário, e no que obedece sem questionar, porque era propriedade. As cartas de liberdade nos apresentam que seja pela sobrevivência ou por outros motivos o relacionamento desses dois indivíduos mudavam dependendo das circunstâncias e nos mostram o quanto essa visão estática está ultrapassada.

Os senhores e os escravizados podiam estabelecer relações de cumplicidade, segredos, amizade, afeição e compadrio. Se assim não fosse, não existiam senhores que aceitavam se tornar padrinhos de seus escravizados, porque a relação de compadrio implicava solidariedades, ou seja, essa forma de relacionamento não caberia na escravidão por essa relação ser divergente a esse princípio. Não podemos pensar a escravidão como algo homogêneo, que regula uma vida cotidiana medida por açoites e correntes diárias.

Raymundo através de seu curador contesta o que foi exposto por Barreto, alegando que o documento apresentado é legítimo e reconhecido em cartório. Apesar da contestação feita por Barreto em relação a veracidade da carta de alforria apresentada por Raymundo, essa sua contestação não provava que esse indivíduo pertencia ao seu cliente e por tanto não poderia ser reclamado o direito de propriedade. Para isso, Barreto expõe um outro documente que tenta atestar a posse do seu cliente. Essa nova prova apresentada foi um inventário de José Severino Cavalcante de Albuquerque que consta entre outros bens o nome de Raymundo.

Devido à suspeita de ser escravizado de Santos Dias, Raymundo foi preso no processo, para maiores esclarecimentos. Essa situação de prender um suspeito do cativeiro deixou de ser comum a partir da década de 1871, mas ainda era praticada. Segundo Sidney Chalhoub na sua obra Precariedade estrutural: o problema da liberdade no Brasil escravista (século XIX), o indivíduo que tivesse a acusação de ser escravo, que era esse o objetivo de Tobias Barreto ao apresentar provas que comprovasse a situação de Raymundo, não mais ficaria

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preso para investigação. Isso acontecia entre outras razões pela influência da lei de 28 de setembro de 1871, a chamada lei do ventre livre. Conforme Chalhoub,

‘’Até a década de 1860, ainda parecia vigorar com força o pressuposto de que alguém detido por suspeição de ser escravo, e de andar fugido, permanecia escravo até prova em contrário. Na década de 1870, sem dúvida por influência da lei de 28 de setembro de 1871, a tendência passava a ser considerar livre a quem não se podia provar escravo. Em tese, só a certidão de matrícula realizada segundo a lei de 1871 tornara-se evidência legal do cativeiro de alguém. Por conseguinte, é provável que os escribas da polícia e da Casa de Detenção tenham passado a adotar o alvitre de anotar em livros de livres as informações referentes a pessoas que se declaravam livres, mas haviam sido presas porque as autoridades suspeitavam que eram escravas. Há aqui duas histórias entrelaçadas, que se nutrem de um nexo estrutural comum, qual seja, a existência de zonas amplas de incerteza social sobre as fronteiras entre escravidão e liberdade na sociedade brasileira oitocentista. A doutrina de Eusébio de Queiróz ampliava a abrangência da escravidão para muito além da própria legalidade, para ver em todo negro livre um suspeito potencial de cativeiro, gente que precisava aprender a evitar movimentos e práticas culturais que colocassem em perigo a liberdade limitada que lhe cabia’’. (CHALHOUB, 2010. p54).

Voltando para o inventário apresentado por Barreto, o senhor Cavalcante de Albuquerque tinha falecido e deixado nesse seu documento como herdeira de suas propriedades sua irmã Marianna Joaquina dos Prazeres. Esta por sua vez não pode assumir seus bens porque o marido era considerado o ‘’cabeça’’ do casamento, devido a isso ele é quem poderiam administrar sua herança. Este tem por nome Joaquim Melitão. Após o falecimento de seu cunhado, Melitão recebe Raymundo como sua propriedade. No inventário constava a relação de todas as propriedades de Cavalcante de Albuquerque inclusive outros cativos. Cada um escravizado era listado por nome e tinha uma matrícula que o identificava.

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Monte Rara tinha vendido Raymundo para Cavalcante de Albuquerque por setenta contos de reis. Com essa prova do inventário e o documento de venda, Tobias Barreto conseguiu atestar que o escravizado em questão não pertencia de fato à Monte Rara e que a carta de alforria tinha uma irregularidade quanto ao proprietário emissor. Isso ainda não aproximava Raymundo de Santos Dias. Mas através das provas que foram expostas ao longo do processo, Tobias Barreto construiu uma argumentação pautada em evidências comprovadas de que Raymundo ainda continuava na condição de escravizado e que dessa maneira não respondia pelos seus atos. Ele tinha um senhor que o conduzia. Alguém em quem ele devia obediência.

Ao apresentar essa documentação, Tobias Barreto tentava estabelecer uma aproximação do seu cliente com Raymundo. Nesse inventário, são apresentadas características do escravizado. Ele foi descrito como um crioulo com idade de quarenta anos e filiação desconhecida. Apesar dessa prova, o advogado de Santos Dias não conseguiu atestar a ligação do escravizado com o seu cliente. Devido a isso, Barreto chama algumas testemunhas como Manuel Joaquim dos Santos Vascocellos para comprovar a condição de Raymundo. Esse depoente era morador na mesma freguesia que o escravo, tinha quarenta e dois anos de idade e era casado.

Quanto ao inventário. De posse de Raymundo, Joaquim Melitão do Amaral vende o cativo para o Capitão Manoel Antonio dos Santos Dias. Apesar da afirmação de que as provas apresentadas por Tobias Barreto eram infundadas, Sergio Dinis de Moura Mathos, o curador do escravizado, não conseguiu sustentar a defesa após o testemunho do senhor Melitão para o tabelião, alegando que tinha vendido o cativo em questão para Santos Dias. Isso pode ser visto no processo quando:

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[..]Joaquim Melitão do Amaral o que lhe era senhor e procurador por título legítimo dos escravos Antonio, crioulo, com idade de vinte e cinco anos solteiro do serviço de campo, Antonio, crioulo, com idade quarenta e cinco anos solteiro, do serviço de campo e Raymundo, crioulo, cor preta, com idade de trinta e cinco anos, solteiro de serviço do campo. Todos naturais desta províncias, as quais se achão livres [ilegível]de todo e qualquer ônus tem pelo presente instrumento [ilegítimo] contratado vender como de fato vendido tem os ditos escravos ao comprador Capitão Manoel Antonio dos Santos Dias por preço de um conto e quinhentos mil reis que declarou o vendedor perante mim tabelião e as mesmas testemunhas a ter reconhecido do comprador a dita quantia, da qual dar a quitação na forma [ilegítimo] faz a presente versão na forma de direito boa fissão e [ilegítimo] entrega real dos escravos acima vendidos ao comprador que por alteridade [..].2

Raymundo percebendo que a sua situação dentro do processo não estava sendo favorável à sua petição, temia voltar a escravidão. Ele possivelmente já estava apreensivo porque no começo do processo civil, Santos Dias tinha mandado prendê-lo. Ele foi preso para maiores esclarecimentos. Santos alegava que esse escravizado era seu e que estava na condição de fugitivo. Mas no intuito de defender seu cliente, Sergio Dinis, o curador, questionou afirmando que Raymundo foi detido na sua casa e não era um foragido pois tinha moradia estabelecida e fixa, descontruindo esse discurso de Santos Dias.

Apesar da tentativa de defesa de Sergio Dinis, Raymundo começou a perceber que os fatos e circunstâncias no processo não estavam a seu favor. Ele começou a temer em perder e voltar para a sua condição de escravizado. Vendo isso, Raimundo no desespero de retornar para a sua condição de escravo, comete suicídio. Ele se lança em um taxo de caldo de cana fervente. Após a sua morte o processo foi arquivado no ano de 1874.

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O estudo sobre o suicídio entre os cativos é trabalhado por muitos autores. Entre esses podemos destacar Roger Bastide (1943), quando era professor da cadeira de sociologia da Universidade de São Paulo. Embora o seu objetivo principal fosse particularizar a análise das relações entre cor e suicídio em São Paulo, faz, no começo do trabalho uma revisão histórica quanto o suicídio entre escravos no Brasil, utilizando os relatos dos viajantes e da literatura antropológica a respeito da África.

Esse autor trabalha com a província de São Paulo, utiliza principalmente os dados no período de 1870 a 1904, selecionados por Alcântara Machado, que extraiu dos relatórios dos chefes de polícia. Segundo Bastide, o suicídio dos escravizados tinha como objetivo principal promover um protesto contra a escravidão, através da liberdade de uma vida de castigos; ou seria decorrente das saudades da terra natal (1943, p.2). Ele ainda pontua que, a respeito das concordâncias de diversos povos do continente africano no repúdio moral do suicídio, no caso da escravidão a crença em reencarnação com retorno à terra de origem poderia explicar a morte voluntária, aspecto que recuperará no livro O candomblé da Bahia (BASTIDE, 2001, p.73).

Outro autor que reitera o aspecto a respeito do suicídio dos escravizados é o Clóvis Moura(2004). Em Dicionário da escravidão negra no Brasil, o suicídio é explicado como sendo "uma das reações extremas de protesto do escravo" (2004, p.381). Além desses, existe um estudo sobre a vida escrava no Rio de janeiro da historiadora Marv Karsch para a primeira metade do XIX em que esta dedica uma seção do capítulo sobre '' fugitivos e rebeldes'' para o tema suicídio.

Ela usa como fontes os relatos de viajantes, estatísticas hospitalares e policiais, além do compêndio a respeito das doenças do Brasil escritos pelo médico francês, radicado no Rio, Dr. Sigaud. Karsch. Esta ainda pontua e comenta o que considera as principais razões para o suicídio: como a vontade de retornar à África, a revolta

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contra a condição cativa e decorrente de maus-tratos; nostalgia/ banzo e outros distúrbios mentais graves. Quanto a África, ela tenta fazer relações entre os credos religiosos de alguns grupos étnicos africanos e a utilização de métodos de suicídio como enforcamento ou afogamento, que ajudaria no desejo de retorno espiritual para a terra natal.

O suicídio ganha maior notoriedade na sociedade brasileira a partir do momento em que o papel do escravo passou a ser questionado. No caso do Recife, o suicídio de escravos ganha maior destaque na imprensa a partir da década de 1870, tendo maior ênfase na década 1880 devido a efervescência do movimento abolicionista. Essa prática por sua vez representava mais um desses espetáculos empreendidos pela escravidão que sofreu duras críticas da imprensa e dos adeptos do movimento abolicionista.

O escravo e a escravidão nesse momento representavam para a cidade do Recife um símbolo de atraso. Como pontuou Raimundo Arrais, a utilização dos termos ‘’ cena’’ ou ‘’espetáculo’’ fizeram parte do vocabulário da imprensa recifense na tentativa de mostra os atos que envergonhavam e desapontavam o espaço público pensado pelas elites recifenses (ARRAIS, 2004). Esse símbolo de atraso refletia o processo de desestruturação que passava o sistema escravista na sociedade oitocentista.

Os jornais que circulavam no Recife não fizeram uso dos casos de suicídio apenas para questionar o sistema escravista, mas alguns desses impressos encontravam nesses casos de morte uma maneira de pressionar as autoridades locais, como delegados e subdelegados, chefe de polícia, e até mesmo senhores cruéis. Isso pode ser verificado em uma denúncia de suicídio de um escravo apresentado pelo periódico ‘’ O Seis de Março’’ quando este faz um alerta para uma autoridade local, apresentada pelo nome de Sr. Peixoto:

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Cenas da Escravidão- Em um dos dias dessa semana apareceu enforcado na Boa Vista um pobre escravo que segundo nos consta foi levado a isto em consequência de maus tratos e castigos que sofria de seus senhores. Somos informados que é o terceiro caso que se dá nessa casa. O que fará a polícia a este Bom senhor? Diga-nos o Sr. Peixoto! (Grifo do autor). (FUNDAJ, O Seis de Março, 1872).

O escravo no final da segunda metade do século XIX representava cada vez mais um símbolo de um sistema fadado ao atraso que ainda permanecia marcado por uma herança colonial. Esse fardo deveria ser apagado para que a cidade pudesse alcançar a modernidade e a civilização. É nesse momento de empasse que o suicídio de escravos representava para muitas cidades brasileiras, em especial para o Recife, uma dificuldade na busca por uma modernização urbana.

No caso de Raymundo, ao tomar essa decisão de retirar a sua vida, este provavelmente temia que entre outras restrições que poderiam o acometer retornando a escravidão seria a possibilidade de perder possíveis direitos civis. Quanto a esses segundo Perdigão Malheiro, a manumissão proporcionava ao liberto a condição de pessoa, “podendo exercer livremente, nos termos das leis, como os outros cidadãos, os seus direitos, a sua atividade, criar-se uma família, adquirir plenamente para si” etc., “praticar enfim todos os atos da vida civil, à semelhança do menor que se emancipa plenamente”. (MALHEIRO, 1976, vol.1: 141).

As resistências escravas ao cativeiro não estão expressas só nos momentos explícitos de revolta como assassinato, roubo, a fuga e etc.; mas também na forma como se comportavam. Segundo Reis e Silva:

‘’impertinente em negar-se como coisa. A própria sociedade escravista reconhecia a capacidade que os escravos tinham em reivindicar, negociar e opor-se aos planos do senhor, porque como elemento ativo desta

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sociedade esses tinham uma concepção própria da vida e da liberdade que almejava’’. (1989, pp. 13-31).

A atitude de Raymundo em acionar o judiciário por meio de uma ação de liberdade contribui para o entendimento de que este estava tentando resistir ao sistema escravista e todas as sanções nele existente. Esse escravizado assim como outros que estiveram nessa mesma condição agiam de acordo com seus sentimentos e as possibilidades fornecidas pelo próprio sistema em que viviam. Conforme Chalhoub (1990, p. 42), “esses negros agiam de acordo com lógicas ou racionalidades próprias, e que seus sentimentos estão firmemente vinculados à experiência e tradições particulares e originais”.

Esses são os indivíduos que fazem parte das cartas de liberdade. A maneira como eles lutam para conquistá-las demonstra o quanto fica nítido as relações de negociações e resistência. Por meio dessa análise dessa documentação pode-se descontruir a ideia de passividade e inoperância do escravizado, sustentada por uma historiografia tradicional da escravidão brasileira.

FONTE

Memorial da Justiça de Pernambuco, Caixa 290, Ação de Liberdade, Raymundo, S/N, Ano1873.

FONTES IMPRESSAS

Fundação Joaquim Nabuco, Divisão de Microfilmagem (FUNDAJ), O Seis de Março, 1872;

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