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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO LEONARDO SERTÃ REZENDE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

LEONARDO SERTÃ REZENDE

AS TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO E OS PADRÕES DE

ESCOLHA DOS MERCADOS ALVO: Estudo Quantitativo sobre as

Empresas Brasileiras na Década 2002-2011

Rio de Janeiro

2013

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LEONARDO SERTÃ REZENDE

AS TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO E OS PADRÕES DE

ESCOLHA DOS MERCADOS ALVO: Estudo Quantitativo sobre as Empresas

Brasileiras na Década 2002-2011

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração,

Instituto COPPEAD de Administração,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para à obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Luís Antônio da Rocha Dib, D.Sc.

Rio de Janeiro

2013

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Sertã Rezende, Leonardo.

As teorias de internacionalização e os padrões de escolha dos mercados alvo: estudo quantitativo sobre as empresas brasileiras na década 2002-2011. / Leonardo Sertã Rezende. – Rio de Janeiro: UFRJ, 2013.

115 f.: il.; 30 cm.

Orientador: Luis Antônio da Rocha Dib.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, 2013.

1.Internacionalização. 2. Administração – Teses. I. Dib, Luis Antônio da Rocha. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração. III. Título.

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LEONARDO SERTÃ REZENDE

AS TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO E OS PADRÕES DE

ESCOLHA DOS MERCADOS ALVO: Estudo Quantitativo sobre as Empresas

Brasileiras na Década 2002-2011

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração,

Instituto COPPEAD de Administração,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para à obtenção do título de Mestre em Administração.

Aprovada em:

___________________________________________________________ Prof.: Luís Antônio da Rocha Dib, D.Sc. - Orientador (COPPEAD/UFRJ)

___________________________________________________________ Prof.: Otávio Henrique dos Santos Figueiredo, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)

___________________________________________________________ Prof.: Henrique Avila, D.Sc. (BNDES)

Rio de Janeiro 2013

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela vida e pelas oportunidades de buscar conhecimento e desenvolvimento, além da saúde e das condições que possibilitaram alcançar meus objetivos até aqui.

Agradeço a minha família por todo carinho e apoio durante essa caminhada. Seu incentivo, serenidade e suporte foram meu porto seguro nesses dois anos e meio de curso, sem os quais não teria chegado tão longe.

Agradeço aos meus amigos por toda força e energia positiva que me permitiram encarar esse desafio e também pela compreensão por todas as ausências durante esse período.

Agradeço ao amigo e colega Adriano Prado, o primeiro a incentivar e estimular meu ingresso no Mestrado e a Luiz Sergio Costa, pelo aconselhamento na escolha e definição do curso.

Agradeço ao professor Luís Antônio da Rocha Dib pelo empenho e orientação em todas as etapas deste trabalho e também ao professor Otávio Figueiredo, pelas contribuições estatísticas que suportaram esse estudo, além de todo aprendizado e convivência durante o Mestrado. Agradeço também ao professor Victor Almeida pelas lições em diversas oportunidades durante o curso e ao professor Henrique Ávila pelas contribuições na etapa final desta dissertação.

Agradeço ainda a toda equipe da Secretaria e da Biblioteca do COPPEAD, por toda paciência, disponibilidade e simpatia em todos os momentos.

Por fim, agradeço aos meus colegas e grandes amigos da turma 2011, pelo companheirismo e incentivo a buscar novos conhecimentos, além das inesquecíveis experiências que tornaram esses dois anos e meio um período único.

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RESUMO

SERTÃ REZENDE, Leonardo. As teorias de internacionalização e os padrões de escolha dos mercados alvo: estudo quantitativo sobre as empresas brasileiras na década de 2002-2011. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

A literatura sobre negócios internacionais apresenta diferentes abordagens sobre o processo de internacionalização de empresas: uma das correntes teóricas sugere uma orientação econômica, em que as firmas usam critérios objetivos para seleção de mercados externos, como o grau de desenvolvimento e atratividade desses mercados. A segunda explora o tema por uma ótica comportamental, em que as empresas se internacionalizam gradualmente, considerando o aprendizado adquirido e a percepção de riscos associados à distância psíquica. Nesse sentido, quanto mais recursos (econômicos, intelectuais, organizacionais) determinada companhia possuir, maior sua propensão a buscar mercados mais distantes psiquicamente, já que sua sensibilidade a riscos é minimizada. Este trabalho busca verificar como tais teorias se aplicam às empresas brasileiras. Mais especificamente: se a escolha do destino de internacionalização é influenciada pelos fatores distância psíquica e tamanho de mercado do país estrangeiro, assim como possíveis diferenças dessa relação entre companhias de diferentes portes. Para realização do estudo a partir de uma abordagem quantitativa, foram selecionadas como base para a pesquisa as empresas exportadoras do Brasil entre os anos 2002 e 2011 e também critérios objetivos para mensuração da distância psíquica. O método utilizado foi a Regressão Linear Múltipla por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), baseada na equação do Modelo Gravitacional de Comércio Internacional. Os resultados indicam que a distância psíquica apresenta relação significativa apenas com as exportações das firmas menores (micro, pequenas e médias), enquanto o tamanho do mercado do país de destino é significativo para o volume de exportações das empresas brasileiras independentemente do porte.

Palavras-chave: Internacionalização de Empresas. Negócios Internacionais. Distância Psíquica. Exportações. Comércio Internacional. Modelo de Uppsala. Modelo Gravitacional.

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ABSTRACT

SERTÃ REZENDE, Leonardo. Internationalization theories and the patterns of foreign market choice: a quantitative study of Brazilian firms in the decade 2002-2011. Rio de Janeiro, 2013. Master Thesis (Master of Business Administration) – COPPEAD Graduate School of Business, Federal University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

The literature about international business presents different approaches to the internationalization process of firms: one particular theoretical orientation suggests an economic view in which firms use objective criteria for selection of foreign markets, such as the degree of development and attractiveness of these markets. A second orientation presents a behavioral perspective, where companies go abroad gradually considering the learning acquired and perceived risks associated with psychic distance. Thus, the more resources (economic, intellectual, organizational) a company has, the greater its propensity to seek psychically distant markets, since its sensitivity to risk is minimized. This paper aims to ascertain how these theories apply to Brazilian companies. More specifically, it examines if the choice of the international destination is influenced by psychic distance and the market size of the foreign country, as well as possible differences in this relationship between companies of different sizes. To conduct the study using a quantitative approach, a database of exporting companies in Brazil between 2002 and 2011 and also objective criteria to measure psychic distance were selected. The method used was Multiple Linear Regression using Ordinary Least Squares (OLS), based on the equation of the Gravity Model of International Trade. The results indicate that the psychic distance is significantly related to exports only of smaller firms (micro, small and medium), while the market size of the destination country is significantly related to the volume of exports, regardless of firms size.

Keywords: Firm’s Internationalization. International Business. Psychic Distance. Exports. International Trade. Uppsala Internationalization Model. Gravity Model.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ALICEWeb Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Internet

B2B Business-to-business

B2C Business-to-consumer

BLUE Best Linear Unbiased Estimator

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAGR Compound Annual Growth Rate

ETN Empresa Transnacional

FTA Free trade agreements

GRETL Gnu Regression, Econometrics and Time-series Library

IDE Investimento Direto no Exterior

IDP Índice de Distância Psíquica

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MNE Empresa Multinacional

MQO Mínimos Quadrados Ordinários

POLCON Political Constraint Index

SECEX Secretaria de Comércio Exterior

SISCOMEX Sistema Integrado de Comércio Exterior

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Dimensões do construto distância psíquica e fontes de dados... 68

Quadro 2 Classificação de empresas segundo o porte (SECEX) ... 73

Quadro 3 Sinais hipotéticos esperados de cada variável ... 77

Quadro 4 Localização dos países selecionados para o estudo ... 83

Quadro 5 Resultados dos testes das hipóteses de pesquisa do estudo ... 89

LISTA DE FIGURAS Figura 1 Matriz de Internacionalização do Mercado e da Firma de Johanson e Mattsson ... 30

Figura 2 Dimensões do Construto Distância Psíquica ... 36

Figura 3 Fatores que afetam o modo de entrada ... 42

Figura 4 Evolução do comprometimento e do risco do modo de entrada... 43

Figura 5 Volume de exportações entre 2002 e 2011, por porte de empresa ... 69

Figura 6 Número de empresas exportadoras entre 2002 e 2011, por porte de empresa ... 70

Figura 7 Evolução do destino das exportações entre 2002 e 2011, por continente ... 71

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Principais fatores influenciando IMS ... 46

Tabela 2 Países selecionados para a pesquisa ... 74

Tabela 3 Matriz de correlação das variáveis do modelo ... 80

Tabela 4 Teste dos Fatores de Inflacionamento da Variância ... 80

Tabela 5 Teste de White para verificação de heterocedasticidade ... 81

Tabela 6 Teste de Normalidade dos Resíduos ... 82

Tabela 7 Ranking dos países selecionados segundo Índice de Distância Psíquica ... 84

Tabela 8 Resultados do modelo de regressão para microempresas ... 85

Tabela 9 Resultados do modelo de regressão para pequenas empresas ... 86

Tabela 10 Resultados do modelo de regressão para empresas médias ... 87

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...13 1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ...13 1.2 OBJETIVO DO ESTUDO ...15 1.3 RELEVÂNCIA DO TEMA ...15 1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ...16 2. REFERENCIAL TEÓRICO ...17 2.1 INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS ...17

2.2 POR QUE AS EMPRESAS SE INTERNACIONALIZAM? ...18

2.3 TEORIAS ECONÔMICAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO...19

2.3.1 Poder de Mercado ...20

2.3.2 Ciclo de Vida do Produto ...22

2.3.3 Teoria da Internalização ...23

2.3.4 Paradigma Eclético ...24

2.4 TEORIAS COMPORTAMENTAIS DE INTERNACIONALIZAÇÃO ...25

2.4.1 Modelo de Internacionalização de Uppsala...26

2.4.2 Networks ...28

2.4.3 Empreendedorismo Internacional...30

2.4.4 Born Globals ...32

2.5 O CONCEITO DE DISTÂNCIA PSÍQUICA ...34

2.6 MENSURAÇÃO DA DISTÂNCIA PSÍQUICA ...37

2.7 DECISÃO SOBRE O MODO DE ENTRADA EM MERCADOS INTERNACIONAIS ...40

2.8 SELEÇÃO DE MERCADOS PARA INTERNACIONALIZAÇÃO ...43

2.9 DIFERENÇAS NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS SEGUNDO O PORTE...47

2.10 INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS ...50

3. DISCUSSÃO DO MÉTODO ...55

3.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E DAS PERGUNTAS DE PESQUISA ...55

3.2 HIPÓTESES DE PESQUISA ...56

3.3 NATUREZA DA PESQUISA ...57

3.4 MÉTODO DE PESQUISA ...58

3.5 UNIDADE DE ANÁLISE ...58

3.6 MODELO CONCEITUAL ...58

3.7 EMPRESAS EXPORTADORAS BRASILEIRAS...68

3.8 COLETA DE DADOS ...72

3.9 ESPECIFICAÇÃO DO MODELO ...75

3.10 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ...77

(12)

4.1 VERIFICAÇÃO DA EFICÁCIA DO MODELO ...79

4.2 ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS ...83

4.3 RANKING DOS PAÍSES DE ACORDO COM A DISTÂNCIA PSÍQUICA ...83

4.4 RESULTADOS DO MODELO UTILIZADO ...85

5. CONCLUSÕES ...90

5.1 SUMÁRIO DO ESTUDO ...90

5.2 CONCLUSÕES ...92

5.3 RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ...96

REFERÊNCIAS ...98

(13)

1. INTRODUÇÃO

1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

O processo de internacionalização dos mercados, advindo do movimento de globalização, vem se intensificando nas duas últimas décadas e foi o responsável por grandes mudanças ocorridas nas atividades econômicas, sociais e políticas do mundo nesse período. Se, por um lado, grande parte dessas transformações pode ser atribuída ao progresso tecnológico, principalmente nas áreas de telecomunicações e de transporte, por outro, as políticas governamentais de abertura econômica também se mostraram peças fundamentais dessa nova configuração do comércio.

Uma análise histórica desse processo permite identificar como agente principal a Empresa Transnacional (ETN), que possui e controla ativos produtivos em mais de um país e cuja atuação na economia global é moldada por condicionantes microeconômicos e comportamentais da escolha da entrada em outros mercados.

Este processo de expansão internacional das empresas, que antes era praticamente exclusivo de países desenvolvidos, passou a contar com a participação cada vez maior de firmas de países em desenvolvimento, como o Brasil. A partir dos anos 2000, os efeitos das reformas realizadas na década anterior e a melhoria das condições de infraestrutura econômica, associadas à revisão da legislação tributária sobre produtos exportados, contribuíram para um aumento significativo no desempenho exportador do país. Desde então, o Brasil vem assistindo a um incremento crescente no processo de internacionalização de empresas e dos fluxos de investimento direto no exterior.

Entretanto, é reconhecido que a economia brasileira ainda tem uma baixa relação das exportações em relação ao seu Produto Interno Bruto (PIB), e os investimentos no exterior das empresas brasileiras são relativamente baixos e concentrados. A América Latina ainda é escolhida mais frequentemente pelas empresas domésticas como primeiro destino da internacionalização, que somente após o aprendizado adquirido com as operações no exterior passam a buscar mercados mais distantes psiquicamente (CYRINO; BARCELLOS; TANURE, 2010).

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Esse movimento de concentração de investimentos no exterior em países mais próximos psiquicamente do Brasil encontra respaldo nas principais teorias comportamentais sobre internacionalização de empresas, como o Modelo de Uppsala, que descreve a seleção dos mercados para atuação internacional a partir de uma lógica inversamente relacionada à distância psíquica entre o país de origem e o local de destino das atividades (JOHANSON; VAHLNE, 1977). Assim, quanto maior a distância psíquica, menor a propensão dos exportadores em buscar tais mercados, que exigiriam maior quantidade de recursos e aprendizado corporativo em mercados internacionais para diminuir a percepção do risco envolvido no processo (NUWAGABA; NTAYI; NGOMA, 2013).

Essa lógica seria particularmente válida para empresas de menor porte, que são limitadas pela quantidade insuficiente de recursos, inclusive financeiros, que interferem na capacidade da firma de identificar oportunidades no mercado internacional e de aproveitar oportunidades anteriormente identificadas. Em função do risco percebido, empresas menores preferem se internacionalizar para mais países mais próximos psiquicamente (OJALA; TYRVAINEN, 2009).

Por outro lado, o aumento da participação do comércio entre o Brasil e países como a China (que apresentam crescente poderio econômico e estão geograficamente e psiquicamente distantes do território brasileiro) aponta que critérios econômicos também seriam relevantes para seleção de mercados internacionais em comparação com a distância psíquica. Outros estudos na área de negócios internacionais sugerem que, em alguns mercados altamente atrativos, a distância psíquica pode não ser o fator decisivo na decisão. Os exportadores podem assumir o risco de entrada devido à atratividade e ao potencial de crescimento da operação. Isto é, quando as transações envolvem consideráveis possibilidades de ganhos, os custos marginais crescentes associados à superação da distância psíquica podem ter pouca relevância na preferência pelo investimento em um determinado país (ELLIS, 2008). Nesses casos, abordagens econômicas da internacionalização seriam mais adequadas para explicar a escolha de mercados internacionais do que as abordagens comportamentais.

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1.2 OBJETIVO DO ESTUDO

O objetivo deste estudo é analisar as diferenças entre a seleção de mercados internacionais das micro, pequenas, médias e grandes empresas de acordo com a distância psíquica desses mercados em relação ao Brasil e ao tamanho do mercado estrangeiro, medido pelo seu Produto Interno Bruto. Ou seja, busca-se verificar se a distância psíquica e o potencial de mercado têm relação significativa com o volume de exportações das empresas brasileiras exportadoras entre os anos de 2002 e 2011, de acordo com o porte da firma (micro, pequeno, médio e grande).

Nesse sentido, o presente trabalho adota uma abordagem quantitativa para a pesquisa, que teve por base os dados oficiais de exportações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, para chegar às descobertas relativas ao comportamento de internacionalização das empresas brasileiras de acordo com seu porte.

1.3 RELEVÂNCIA DO TEMA

A temática da relação entre a seleção de mercados internacionais, a distância psíquica e critérios econômicos de decisão vem se tornando popular nas últimas décadas na literatura sobre negócios internacionais. Todavia, são poucos os estudos que utilizaram uma abordagem quantitativa para suportar seus achados e comprovar estatisticamente as conclusões desses trabalhos.

Esta pesquisa é desenvolvida a partir de um modelo econométrico de comércio internacional adaptado especificamente para tratar da distância psíquica e do tamanho de mercado e suas relações com as exportações brasileiras, contribuindo para o enriquecimento do debate nesse campo e trazendo novos insumos para estudos futuros.

Além de colaborar para novas discussões acadêmicas e gerenciais sobre internacionalização de empresas, os resultados desse estudo podem também estimular o desenvolvimento de políticas públicas para o fomento da inserção externa mais consistente das companhias nacionais. Como o tema internacionalização de empresas não engloba apenas

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fatores externos, mas também se insere no contexto mais geral da política econômica e industrial do país, ele desperta cada vez mais a atenção de governos nacionais.

Ao compreender melhor o comportamento de empresas exportadoras de menor e maior porte, é possível estimular essas firmas, que já operam internacionalmente, a buscar novos mercados, como forma de aumentar o coeficiente de exportação das companhias brasileiras, visto que elas já têm experiência exportadora e a diversificação de sua atuação em outras regiões do globo tende a ser mais bem sucedida do que empresas que nunca exportaram (CASTELAR, 2002).

1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Este estudo está organizado da seguinte forma: no capítulo 2, apresenta-se a revisão de literatura sobre expansão internacional das empresas e teorias de internacionalização a partir de abordagens econômicas e comportamentais. Em seguida, é apresentado o conceito de distância psíquica, sua mensuração e as decisões sobre o modo de entrada das empresas nos mercados internacionais. É discutido também o processo de seleção de destinos para internacionalização, além das diferenças na internacionalização segundo o porte das companhias. Por fim, apresenta-se o histórico do processo de internacionalização das empresas brasileiras.

O capítulo 3 descreve a metodologia de pesquisa utilizada no estudo, bem como o desenvolvimento do modelo usado neste trabalho, as variáveis de pesquisa e as características dos dados selecionados. O capítulo 4 apresenta as análises e os resultados obtidos a partir da aplicação do modelo elaborado e o capítulo 5 traz as conclusões resultantes da pesquisa.

(17)

2.

REFERENCIAL TEÓRICO

Esta seção apresenta a revisão de literatura feita com objetivo de embasar a pesquisa descrita nesta dissertação. Inicialmente, o tema de internacionalização de empresas é apresentado pelos fatores que levam uma firma a buscar mercados externos, bem como as duas principais correntes teóricas sobre o assunto: abordagens econômica e comportamental do processo de internacionalização.

Em seguida, são analisados os fatores que influenciam a expansão internacional, como o conceito de distância psíquica, sua mensuração, a decisão sobre o modo de entrada no mercado e a relação do processo com o porte das empresas. Finalmente, é abordado o desenvolvimento da internacionalização das empresas brasileiras a partir da conjuntura interna e desafios do mercado.

2.1 INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

A busca por mercados internacionais pelas empresas é um movimento relativamente antigo. O comércio entre povos tem registros de até mesmo 4.000 a.C. (ROBERTS, 2002), além da formação de empreendimentos como a Companhia das Índias Orientais no século XVII (OVIATT; MCDOUGALL, 1994). Mas nas últimas décadas do século XX essa interação entre países e empresas se intensificou com o crescente desenvolvimento da tecnologia, que elevou a eficiência e a velocidade das comunicações e reduziu o tempo e os custos de transporte e viagens, criando uma nova realidade comercial: a globalização dos mercados (LEVITT, 1983).

A conjuntura ambiental apresentou importantes mudanças que facilitaram a internacionalização das corporações nesse período. Entre elas, pode-se destacar a disseminação da Internet como canal para comunicação e comércio, a consolidação da comunidade de países europeus nos âmbitos político e econômico e a ascensão da China como importante polo consumidor e fornecedor (KATZ; SHEPHERD, 2005).

Nesse mundo globalizado, as indústrias se expandem vez mais internacionalmente, ampliando a competição entre empresas. Isso pode tornar a atuação restrita ao mercado

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doméstico insuficiente para o sucesso de uma firma no longo prazo, incentivando a busca de vantagens competitivas através da expansão das atividades (DAWAR; FROST, 1999). O ganho de escala é um dos principais resultados desse movimento, mas a presença no exterior traz outros importantes benefícios para essas empresas, como o acesso a novas tecnologias e produtos e também o aprendizado (ROCHA; FREITAS, 2005).

Para isso, as corporações procuram conciliar seus objetivos de internacionalização com a seleção do modo de entrada nos mercados estrangeiros entre três macro categorias: exportação, colaboração e investimento, que assumem um continuum entre controle, comprometimento e risco (JONES; YOUNG, 2009).

Paralelamente, diversas teorias sobre a produção internacional e a internacionalização da firma foram elaboradas durante as últimas décadas. Elas concentram suas análises sobre diferentes perspectivas: de um lado, enfatizam a organização da produção, do fluxo de investimentos e das trocas internacionais; do outro, o comportamento organizacional dentro da empresa para expandir ao mercado internacional (ROCHA; FREITAS, 2005). Assim, pode-se classificá-las em duas principais abordagens:

Abordagens a partir de critérios econômicos: estudos que enfatizam as dimensões econômicas do processo de internacionalização, como comércio, investimentos e existência de vantagens comparativas, considerando que as decisões tomadas pelos indivíduos buscam a maximização dos retornos econômicos.

Abordagens a partir de critérios comportamentais: estudos que apresentam

um enfoque organizacional, considerando o processo de aprendizado da firma e os relacionamentos existentes entre diferentes agentes, como outras empresas, indivíduos e fornecedores, direcionados a reduzir os riscos percebidos na decisão de internacionalização.

2.2 POR QUE AS EMPRESAS SE INTERNACIONALIZAM?

A compreensão de por que as empresas se internacionalizam tem sido um desafio para os estudos na área de negócios internacionais. Diversos fatores mercadológicos podem ser apontados como impulsionadores desse movimento, como sugerido por Rocha et al (2007):

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 Desejo de crescimento;

 Acompanhamento de clientes com operações internacionais;

 Acesso a recursos e ativos estratégicos;

 Valorização da marca;

 Acesso a mercados protegidos.

Por outro lado, até mesmo a simples vontade dos dirigentes de uma empresa ou o surgimento de oportunidades sem que exista nenhum tipo de decisão ou planejamento prévio podem se concretizar como elementos desencadeadores da internacionalização (ROCHA; SILVA; CARNEIRO, 2007). Nesse sentido, o processo de internacionalização pode ser entendido não apenas como uma série de etapas planejadas e deliberadas, com bases em uma análise racional, mas também como uma sequência de passos graduais e incrementais (JOHANSON; VAHLNE, 1977).

Outras motivações como economias de escala, busca de localizações com menor custo de insumos e fuga de barreiras comerciais e incentivos governamentais estrangeiros também fazem parte do conjunto de explicações presentes em publicações de negócios que discutem o tema. Entretanto, em poucos casos somente uma dessas razões é suficiente para justificar a complexidade de fatores envolvidos na decisão (IETTO-GILLIES, 1997).

Portanto, para melhor compreensão desse processo, é necessário analisar as diferentes abordagens teóricas sobre o tema, considerando suas dimensões econômica e comportamental na tomada de decisão sobre a internacionalização.

2.3 TEORIAS ECONÔMICAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO

Os grandes avanços no desenvolvimento do Investimento Direto no Exterior (IDE) em termos de taxa de crescimento, escopo geográfico e padrões industriais nas décadas que seguiram o fim da Segunda Guerra Mundial foram acompanhados pelo simultâneo surgimento de teorias que tentavam explicar essas mudanças (IETTO-GILLES, 2005).

Tais teorias seguiam uma abordagem sistemática sobre a seleção de mercados internacionais, alegadamente estruturada e formalizada, em que os tomadores de decisão agiam racionalmente para definir o problema, seus critérios de escolha e geração de

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alternativas, otimizando essas variáveis ao elaborar suas decisões (ANDERSEN; BUVIK, 2002).

Uma distinção proposta por Cantwell (1991) entre as principais teorias sobre a organização da produção internacional através dessa ótica sistemática sugere quatro arcabouços teóricos alternativos, sendo que cada abordagem compartilha alguns fundamentos teóricos comuns:

 A Teoria sobre o Poder de Mercado de Hymer, sob a ótica da firma e da organização industrial;

 A Teoria do Ciclo de Vida do Produto de Vernon, sob a perspectiva da organização industrial e da macroeconomia;

 A Teoria da Internalização de Buckley e Casson, que se origina em trabalhos anteriores sobre a Teoria da Firma e a Teoria de Custos de Transação;

 O Paradigma Eclético de Dunning, que busca integrar as perspectivas anteriores.

Cada teoria teve como principal nível de análise uma ou mais dimensões econômicas – macroeconômicas, mesoeconômica, microeconômica – o que permite a distinção entre os seus enfoques: macroeconomia, indústria e firma, respectivamente (NEUMANN; HEMAIS, 2005).

A partir desta classificação proposta por Cantwell (1991), foram selecionadas as quatro correntes teóricas para a revisão de literatura deste trabalho.

2.3.1 Poder de Mercado

As teorias mais recentes sobre Empresas Transnacionais iniciaram-se com o trabalho seminal de Stephen Hymer (1976) e sua crítica à abordagem do investimento externo como investimento de portfólio e diversificação de aplicações financeiras. Ao invés da busca por altas taxas de juros em mercados estrangeiros, a principal motivação das empresas residiria nos lucros resultantes do controle das operações no exterior. Se a razão dos investimentos fosse apenas as taxas de juros mais elevadas, os capitais deveriam ser direcionados apenas para alguns países (e todas as suas indústrias) e não somente para algumas indústrias em todos os países (HYMER, 1976).

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As principais contribuições do trabalho de Hymer indicam dois determinantes principais para o Investimento Direto no Exterior, considerando o pressuposto da existência de imperfeições no mercado, ligadas ao desejo das companhias de aumentar cada vez mais sua posição de poder e controle dentro desse mercado (IETTO-GILLIES, 2007).

O primeiro determinante é a eliminação de conflitos. Tais conflitos podem surgir sempre que várias empresas competem num mercado externo pelos mesmos recursos e consumidores, ocasionando a fusão de empresas ou conluios mais informais. Esses movimentos permitem o incremento do lucro e economias de escala, levando ao aumento do poder de uma empresa e ressaltando ainda mais as imperfeições desse mercado (YAMIN, 1991).

O segundo fator determinante é a posse de vantagens específicas que posicionam a firma de forma vantajosa no exterior, especialmente quando as oportunidades de investimento no mercado doméstico já se esgotaram. Essas vantagens também estão ligadas às imperfeições de mercado, visto que a empresa que as possui apresenta uma posição de poder frente às rivais, o que só contribui ainda mais para o aumento de tais imperfeições (YAMIN, 1991).

O foco dessa teoria recai sobre as empresas que criam ou mantém poder através da estrutura oligopolista específica da indústria em que competem. A restrição no número de firmas leva a uma concentração das indústrias em nível mundial, limitando o desenvolvimento da concorrência num dado mercado. Assim, aumentando-se a concentração industrial e o poder de mercado da empresa, os lucros também se elevariam (NEUMANN; HEMAIS, 2005).

Todavia, haveria um determinado ponto em que não seria mais possível aumentar facilmente a concentração em um dado mercado, já que existiriam poucas empresas. Nesse momento, os lucros auferidos pela operação monopolística seriam direcionados para investimento em novos mercados externos, com objetivo de criar uma concentração crescente de maneira similar (CARNEIRO; DIB, 2007).

De forma geral, Hymer considerava que as imperfeições de mercado criavam tanto as vantagens quanto os conflitos, mas eram necessárias para que um IDE pudesse florescer. Com o investimento direto e a redução da competição, a firma buscaria diminuir ou eliminar esses confrontos enquanto explorasse suas próprias vantagens (IETTO-GILLIES, 2007).

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2.3.2 Ciclo de Vida do Produto

A Teoria do Ciclo do Produto de Raymond Vernon buscava explicar os investimentos diretos norte-americanos em países estrangeiros na década de 1960, ressaltando que as inovações surgiam com o estímulo da demanda no mercado doméstico e que os produtos tinham um ciclo de vida marcado por três fases: introdução, crescimento e maturação (HEMAIS; HILAL, 2004).

Segundo Vernon, no estágio inicial de introdução, o produto ainda é pouco padronizado e necessita de flexibilidade para adaptação de suas características, além de uma baixa elasticidade de preço da demanda (que pudesse absorver os custos inicialmente mais altos dos produtos) e da proximidade entre o mercado e a produção, tornando mais efetiva a comunicação entre produtores e consumidores. Países desenvolvidos, nesse caso, os Estados Unidos, seriam então os locais mais propícios para abrigar esse estágio do ciclo de vida do produto (VERNON, 1966).

Com o amadurecimento do produto, a necessidade de flexibilidade e proximidade entre produtores e consumidores diminui e a competição começa a surgir, ocasionando a busca por certo nível de padronização que propicie redução de custos e economia de escala (VERNON, 1966). Além disso, a demanda pelo produto se expande para outros países desenvolvidos, como aqueles da Europa Ocidental, para onde a produção migra em função de fatores como menores custos, competição local iminente e possíveis regulações contra exportações. Como consequência, os Estados Unidos passam eventualmente a importar a produção desses países se os custos da operação forem mais atrativos (IETTO-GILLES, 2005).

No último estágio, o produto torna-se ainda mais padronizado, requerendo intensidade de capital e mão de obra barata em seu processo produtivo. Além disso, a imitação passa a ser cada vez mais fácil, aumentando a competição e a necessidade da redução dos custos. Em função disso, a produção migra para países em desenvolvimento, que oferecem consideráveis vantagens econômicas e passam a abastecer os Estados Unidos de importações (IETTO-GILLES, 2005).

Posteriormente, Vernon reconheceu que sua teoria sobre o ciclo de vida do produto estava sendo menos útil para explicar as mudanças na localização da produção num ambiente

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em que as inovações diminuíam cada vez mais o tempo entre a fabricação nos países desenvolvidos e em desenvolvimento (HEMAIS; HILAL, 2004). Giddy (1978), por sua vez, observou que essa teoria deixava de ser consistente, pois diversas multinacionais passaram a adotar a estratégia de lançar um produto simultaneamente em diversos países e as indústrias de matéria-prima não seguiam mais a trajetória de investimentos proposta pelo trabalho de Vernon.

2.3.3 Teoria da Internalização

A Teoria da Internalização foi substancialmente influenciada trabalho de Ronald Coase (1937) sobre custos de transação, em que o autor aborda a firma como uma maneira de controlar os custos envolvidos no mecanismo de preços, além de diminuir a incerteza no sistema econômico e também contribuir para divisão do trabalho através da supervisão qualificada (NEUMANN; HEMAIS, 2005).

Nesse sentido, a essência da teoria da internalização é o reconhecimento explícito dessas imperfeições no mercado mundial que prejudicam a operação eficiente do comércio e investimento internacional – conceito que já havia sido exposto no trabalho de Hymer (1976). Assim, o processo de internalização permite que a gestão das empresas multinacionais (MNEs) supere essas externalidades e também as regulações e controles governamentais (RUGMAN, 1981).

As principais contribuições para Teoria da Internalização advêm do trabalho de Buckley e Casson (1976), que utilizaram os estudos de Coase para desenvolver sua própria teoria sobre por que a produção direta é superior a outras modalidades de negócios internacionais, especialmente para aquelas empresas envolvidas com altos níveis de investimento em pesquisa e desenvolvimento. Tal superioridade da produção interna se caracteriza pelos menores custos de transação, em comparação com o uso do mercado para realização dessas operações (IETTO-GILLIES, 2007).

Através do uso de suas operações internas, as empresas podem reter controle sobre suas vantagens proprietárias de informação. A produção através de subsidiárias seria então preferível ao licenciamento, pois ele envolveria a perda de controle sobre essas informações

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que foram desenvolvidas ao custo de consideráveis investimentos pelas MNEs (RUGMAN, 1981).

A superioridade com a internalização existiria até o ponto em que se conseguisse o tamanho ótimo da firma em função do equilíbrio de custos e benefícios na margem das operações da empresa, gerados pela superação das imperfeições de mercado de acordo com a natureza do produto e a estrutura do ambiente externo em que compete (NEUMANN; HEMAIS, 2005).

2.3.4 Paradigma Eclético

As pesquisas de John Dunning sobre Investimento Direto no Exterior datam da década de 1950, coincidindo com um período de grandes investimentos dos Estados Unidos na Grã-Bretanha. Seu trabalho contribuiu para a disseminação do tema e culminou com o desenvolvimento de um framework eclético em 1977, que buscava explicar o porquê, onde e quando da produção internacional e do comércio em função de um sistema de classificação e análise das vantagens de uma empresa relativas às decisões sobre o tipo de atividade internacional empreendida, assim como o país e os padrões da indústria (IETTO-GILLIES, 1997).

Essa abordagem é considerada eclética porque combina elementos de várias teorias anteriores em um framework de classificação amplo, permitindo a percepção de diversas influências sobre os determinantes das variadas atividades internacionais (IETTO-GILLIES, 1997).

De forma geral, o paradigma explica a extensão e o padrão das atividades internacionais que, em qualquer momento do tempo, serão determinados pela configuração de três conjuntos de forças (DUNNING, 2001).

1. As vantagens líquidas que uma firma possui sobre outra de nacionalidade diferente em servir um mercado particular ou um conjunto de mercados. Essas vantagens podem surgir de características proprietárias (ownership) da empresa ou acesso privilegiado a ativos geradores de renda, ou de sua habilidade em

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coordenar tais ativos através das fronteiras de modo a se beneficiar em comparação a competidores ou potenciais competidores;

2. A extensão em que a firma internaliza suas operações para uso ou geração desses ativos e, dessa maneira, adicionando valor a eles;

3. A extensão em que a empresa escolhe localizar essas atividades geradoras de valor fora de suas fronteiras nacionais.

Assumindo que a empresa possua tais vantagens de ownership e realize a internalização das atividades para aproveitamento dessas vantagens, deve ser rentável para ela utilizar suas vantagens em conjunto com alguns fatores (como recursos naturais) fora de seu país. Caso contrário, os mercados estrangeiros seriam totalmente servidos por exportações e os mercados domésticos pela produção local (IETTO-GILLIES, 1997).

Também conhecidas como vantagens O.L.I. (Ownership, Location e Internalization), sua importância e a configuração na qual aparecem em conjunto dependem e se modificam de acordo com as indústrias, os países e as firmas (NEUMANN; HEMAIS, 2005).

Segundo Dunning, seu paradigma deve ser mais bem compreendido como um framework sobre os determinantes da produção internacional, ao invés de uma teoria prescritiva sobre as MNEs. Além disso, é importante destacar seu valor como um arcabouço conceitual que engloba diferentes perspectivas, já que nenhuma teoria isolada sobre as atividades de comércio internacional pode explicar de maneira satisfatória todas as formas de transações de produtos e serviços através das fronteiras (DUNNING, 2001).

2.4 TEORIAS COMPORTAMENTAIS DE INTERNACIONALIZAÇÃO

A partir de meados da década de 1970, uma série de trabalhos sobre internacionalização de empresas estabeleceu uma alternativa à abordagem das relações econômicas desse processo. Iniciadas com os estudos de Johanson e Vahlne (1977), essas teorias reconheciam o papel dos recursos humanos e das decisões tomadas por eles dentro das organizações. Elas também negavam a existência da perfeita informação de mercado pregada pelos neoclássicos e teorizavam sobre o nível de casualidade presente nas decisões sobre internacionalização das empresas (NEUMANN; HEMAIS, 2005).

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De maneira geral, a contribuição mais importante trazida por essa linha de pensamento foi fazer com que os estudos de Negócios Internacionais não fossem tratados apenas pela ótica econômica, mas também sob a perspectiva da Teoria do Comportamento Organizacional (HILAL; HEMAIS, 2003).

2.4.1 Modelo de Internacionalização de Uppsala

A base desse modelo de internacionalização está nas observações empíricas dos pesquisadores de negócios internacionais da Universidade de Uppsala (Suécia) sobre como as firmas suecas costumavam desenvolver suas operações internacionais. Em geral, esse processo se dava a partir de estágios pequenos e graduais, ao invés de grandes investimentos em atividades produtivas em momentos específicos do tempo. Inicialmente, as empresas realizavam exportações para determinado país através de um agente, em seguida estabeleciam uma subsidiária de vendas e, eventualmente, poderiam começar a produzir diretamente no país (JOHANSON; VAHLNE, 1977).

No desenvolvimento desse modelo, as pesquisas da escola foram influenciadas por autores que estudaram a importância dos recursos e dos comportamentos nas organizações (NEUMANN; HEMAIS, 2005):

 Edith Penrose, que desenvolveu em 1959 uma teoria sobre a firma explicando seu crescimento em função da utilização produtiva dos recursos disponíveis a partir do estímulo recebido dos recursos humanos;

 Richard Cyert e James March, com seu trabalho A Teoria de Comportamento

da Firma (1963, 2001), que abordava a empresa como um grupo de coalizões de interesses múltiplos e conflitantes e que utilizava regras e procedimentos para tentativa de resolução de conflitos, fuga da incerteza e aprendizagem;

 Yair Aharoni, com sua tese de 1966 sobre o plano de internacionalização da firma, estudando o comportamento oportunista na busca do momento certo para internacionalizar as operações da empresa.

A partir dessas observações e das contribuições dos trabalhos anteriores, Johanson e Vahlne (1977) delinearam um modelo de internacionalização que tinha a firma como foco individual e, particularmente, a gradual aquisição, integração e uso do conhecimento sobre

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operações e mercados estrangeiros. Esse processo levava a um aumento sucessivo do comprometimento com tais mercados, de acordo o nível de informação e conscientização de seu funcionamento.

O processo de internacionalização, portanto, seria fruto de uma série de decisões incrementais (JOHANSON; VAHLNE, 1977). Ou seja, a alocação de recursos no exterior não seguiria uma estratégia de otimização, mas resultaria de uma série de ajustes adicionais das condições em mudança da firma e do ambiente (AHARONI, 1966).

Essa natureza incremental das decisões é interpretada como uma consequência da escassez de informações sobre o mercado e da incerteza daí derivada. Nesse sentido, um pressuposto básico é que tal escassez de conhecimento torna-se uma barreira relevante ao desenvolvimento das operações estrangeiras e que a principal forma de adquirir o conhecimento necessário é através do aprendizado com as atividades externas (JOHANSON; VAHLNE, 1977).

Esse conhecimento específico de mercado reflete características específicas, como clima de negócios, padrões culturais, a estrutura do sistema de mercado e também as características das firmas clientes e seus empregados. A aquisição dessas informações por experiência é especialmente importante, já que dificilmente pode ser transferido por outro mercado ou outros indivíduos (NEUMANN; HEMAIS, 2005).

Todavia, o fluxo de informações entre o mercado e o país de origem também pode ser prejudicado por uma soma de fatores denominada distância psíquica, que pode ser representada pelas diferenças culturais, educacionais, práticas de negócios, desenvolvimento industrial e barreiras de idioma (O'GRADY; LANE, 1996).

Dessa forma, a seleção dos mercados para atuação internacional estaria relacionada inversamente com a distância psíquica entre o país de origem e o local de destino das atividades (JOHANSON; VAHLNE, 1977). Isto é, quanto maior a diferença entre o país de origem e o país estrangeiro no que tange ao desenvolvimento, nível e conteúdo educacional, idioma, cultura, sistema político, maior o nível de incerteza e, consequentemente, menor o comprometimento (HILAL; HEMAIS, 2003).

Segundo Johanson e Vahlne (1977), a superação dessas diferenças percebidas advém do aumento da experiência com as operações estrangeiras, quando a empresa começa a entrar

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em mercados cada vez mais distantes psiquicamente, seguindo uma sucessão de modos de operação que vão desde o envolvimento mais superficial (como a exportação) até o estabelecimento de unidades produtivas próprias. Entretanto, é importante ressaltar que os próprios autores consideravam que seu modelo sobre o processo de internacionalização trazia importante contribuição para explicação do fenômeno, mas tinha valor de predição limitado (NEUMANN; HEMAIS, 2005).

2.4.2 Networks

O termo networks (redes de relacionamento) no campo da internacionalização de empresas foi incorporado do contexto do marketing industrial e do estudo de sistemas de distribuição, adaptando-se conceitos da teoria de trocas sociais aplicadas a redes sociais para as redes de negócios (CHETTY; HOLM, 2000). Entretanto, ao invés de enfocar fatores econômicos para explicar a internacionalização da firma, a teoria das networks concentra-se nos laços cognitivos e sociais desenvolvidos entre os agentes que mantêm relacionamentos de negócios (BJÖRKMAN; FORSGREN, 2000). Nesse sentido, a internacionalização de empresas passa a ser compreendida também como a exploração de relacionamentos potenciais com o exterior e não apenas a questão da localização da produção em outro país (ANDERSSON; JOHANSON, 1997).

Em um dos principais trabalhos sobre esse modelo, Johanson e Mattsson (1988) indicam que os fatores e forças competitivas em indústrias altamente internacionalizadas geram padrões heterodoxos de oportunidades de entrada, que motivarão a firma a selecionar mercados e estratégias de entrada que deverão ser distintos daqueles que seriam previstos pelo Modelo de Uppsala. Entretanto, para poder explorá-las, seria necessário o estabelecimento de redes de relacionamento nos novos mercados a serem atendidos.

Essas redes funcionam como redutores da percepção de riscos quando a empresa se lança em atividades no exterior, diminuindo a distância psíquica em relação ao mercado, o que é fundamental no estágio inicial de operação (SANTOS; FERREIRA; REIS, 2012). Para formá-las, é preciso investir tempo e esforços no desenvolvimento de processos de troca, o que aumenta seu comprometimento (JOHANSON; MATTSSON, 1988).

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Cada empresa de uma network tem relacionamentos com clientes, distribuidores, fornecedores e, em certas ocasiões, com competidores. É dentro desse sistema de contatos já estabelecidos que ocorrem as transações comerciais entre firmas individuais, sendo que, ocasionalmente, novas ligações podem ser criadas e outras rompidas (JOHANSON; MATTSSON, 1988).

Esses relacionamentos são inicialmente desenvolvidos através de relações bem pessoais, que podem posteriormente ser substituídas por sistemas e rotinas (JOHANSON; VAHLNE, 1990). Nesse sentido, as empresas se tornam cada vez mais interdependentes, reduzindo as possibilidades de escolhas e as decisões unilaterais de uma firma (MATTSON, 1989). De forma geral, de acordo com o modelo de networks, internacionalização de empresas significa que elas estabeleceram e desenvolveram posições em relação aos seus contatos dentro de redes internacionais, que podem ser formadas de três maneiras (MADSEN; SERVAIS, 1997):

Extensão internacional das networks;

Penetração das networks;

Integração internacional das networks.

Assim, o grau de internacionalização da organização não reflete apenas os recursos alocados no exterior, mas também em que medida a firma ocupa determinadas posições dentro de diferentes redes e quão importantes e integradas são essas posições (JOHANSON; MATTSSON, 1988), além de refletir o grau de internacionalização da própria network em que está inserida. Portanto, o processo de internacionalização deixa de ser apenas a mudança da produção para o exterior e passa a ser entendida mais como a exploração de relacionamentos potenciais além das fronteiras do país (HILAL; HEMAIS, 2003).

Johanson e Mattsson (1988) também desenvolveram uma matriz para classificar a empresa a partir desse grau de internacionalização do mercado e da firma e também da função das redes neste processo.

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Figura 1 Matriz de Internacionalização do Mercado e da Firma de Johanson e Mattsson

Fonte: Johanson e Mattsson (1988)

Essas categorias podem ser descritas da seguinte maneira:

Pioneira: poucas relações internacionais, assim como outros players na indústria; usa agentes para entrar no mercado externo, para superar riscos e incerteza.

Internacional solitária: só ela é altamente internacionalizada. Tem o papel de promover a internacionalização da rede, podendo servir de modelo às concorrentes.

Entrante tardia: ainda não saiu do país de origem, em um setor

internacionalizado. É levada à internacionalização pelas relações que estabelece com redes externas.

Internacional entre outras: atua em ambiente muito internacionalizado. Está conectada a várias redes internacionais que lhe dão acesso a recursos externos.

2.4.3 Empreendedorismo Internacional

A globalização dos mercados e o desenvolvimento de novas tecnologias nas últimas décadas contribuíram para o surgimento acelerado de novos empreendimentos internacionais no ambiente econômico mundial (ANDERSSON; WICTOR, 2003). Esse tipo de empreendimento foi caracterizado por Oviatt e McDougall (1994) como empresas que desde

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sua origem buscam a obtenção de vantagens competitivas através da utilização de recursos e da venda de produtos em vários países.

Esse novo movimento, que passou a ser chamado de Empreendedorismo Internacional, questionava a literatura existente, que considerava a internacionalização de empresas um processo incremental regulado pela acumulação de experiências oriundas da organização do conhecimento no exterior. Essa visão destacava a inércia e reatividade das companhias na busca por mercados externos e restringia a influência da decisão estratégica dos empreendedores em si (AUTIO; SAPIENZA; ALMEIDA, 2000).

Em um trabalho seminal sobre o tema, Oviatt e McDougall (1994) apontaram diferenças entre o processo de internacionalização de novos empreendimentos e a multinacionalização tradicional das firmas, destacando a pouca capacidade dos modelos teóricos dominantes para entender o novo fenômeno. Para os autores, o surgimento e comportamento desses novos negócios internacionais deveriam ser tratados pela perspectiva do empreendedorismo.

Posteriormente, eles estabeleceram uma definição para o processo, tratando o Empreendedorismo Internacional como a descoberta, a determinação, a avaliação e a exploração de oportunidades em mercados externos para criar bens e serviços futuros (OVIATT; MCDOUGALL, 2005).

Nesse sentido, o capital social do empreendedor seria preponderante para a internacionalização das empresas, visto que a abrangência e consistência das redes sociais dariam velocidade à busca de mercados internacionais (OVIATT; MCDOUGALL, 2005).

As oportunidades de crescimento internacional seriam então aproveitadas através de um conjunto de competências, percepções e visões desses empreendedores e o sucesso dependeria da capacidade de se adaptar rapidamente a ambientes dinâmicos novos (AUTIO; SAPIENZA; ALMEIDA, 2000).

De forma geral, Oviatt e McDougall tiveram destaque na literatura sobre internacionalização de empresas porque questionaram a postura de aversão ao risco, afirmando que os novos empreendimentos internacionais são possíveis porque seus empreendedores possuem um conjunto de competências e fazem escolhas estratégicas, assim como aceitam os riscos associados a uma expansão internacional agressiva (AUTIO, 2005).

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Para eles, são necessários quatro elementos para a existência dos novos empreendimentos internacionais (OVIATT; MCDOUGALL, 1994):

Internalização: para redução dos custos de transação na elaboração e execução de contratos e monitoramento do desempenho do contrato de terceiros.

Estruturas alternativas de governança: em função da escassez de recursos, opta-se por outras formas de controle das atividades, como licenciamento,

franchising e redes.

Vantagens de localização no exterior: vantagens da combinação de recursos

móveis da firma (no caso de pequenos empreendimentos, o conhecimento seria o principal elemento) e algum recurso imobilizado ou menos móvel no país estrangeiro.

Recursos proprietários: proteção dos conhecimentos proprietários nos países de atuação, como uso de licenciamentos, redes e segredo industrial.

2.4.4 Born Globals

Um estudo conduzido por Rennie (1993) sobre empresas australianas exportadoras de produtos de elevado valor agregado identificou que sua internacionalização não ocorreu através de um processo lento e gradual de envolvimento e comprometimento. Tais empresas, em geral de pequeno e médio porte, mostravam-se globais desde o início de suas operações e conseguiam atuar competitivamente contra concorrentes de maior porte e já estabelecidos na arena global. Tendo como referência essa rápida velocidade de internacionalização das operações dessas companhias, usou-se o termo born global para caracterizá-las. Mesmo não havendo unanimidade na literatura acadêmica sobre o tema, a alcunha born global acabou se tornando a mais empregada em negócios internacionais (DIB; ROCHA; SILVA, 2010).

De forma geral, essas organizações consideram a escala mundial como sua abrangência de mercado desde o início de suas atividades e, portanto, não ficam restritas a um único país. Ao vislumbrar esses mercados internacionais como oportunidades e tendo como principal objetivo o aumento das vendas ao exterior, essas firmas reduziriam sua percepção de riscos na atuação fora do país. Nesse sentido, as empresas usariam o acesso a redes e

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mercados financeiros internacionais, com foco no oferecimento de produtos e serviços especializados para um nicho do mercado (MADSEN; SERVAIS, 1997).

Em parte, esse fenômeno foi impulsionado pelo avanço da globalização e da intensificação do desenvolvimento tecnológico, especialmente nos campos de transporte, telecomunicações e informática, além da homogeneização crescente de mercados e facilitação do acesso a mercados internacionais (MADSEN; SERVAIS, 1997). Tais movimentos trouxeram oportunidades para empresas menores – já que até então a grande maioria das organizações nesse processo eram multinacionais –, diminuindo a importância do porte da firma como barreira à inserção internacional (OVIATT; MCDOUGALL, 1994).

Além disso, a crescente especialização dos mercados e o surgimento de nichos globais que podiam ser explorados por empresas menores também favoreceram o surgimento das

born globals. Em função do desenvolvimento de novas tecnologias de produção, que

tornaram economicamente viáveis operações de pequena escala, esses nichos podiam agora ser atendidos (RIALP; RIALP; KNIGHT, 2005).

A essas modificações ocorridas no ambiente econômico somam-se algumas mudanças dentro das próprias organizações. Com a crescente globalização, aumentou o número de executivos com experiência internacional e com um conjunto de habilidades específicas para trabalhar em ambientes multiculturais, além da maior disponibilidade de movimentação geográfica. Esses empreendedores, dotados de maior grau de instrução e conhecimentos culturais, como idiomas, são uma das chaves para o entendimento do fenômeno das empresas nascidas globais (MADSEN; SERVAIS, 1997).

É importante considerar que existem distinções entre a teoria sobre essas empresas nascidas globais (born globals) e a teoria de Empreendedorismo Internacional, que estudam o mesmo fenômeno e ocasionalmente são confundidas. A segunda explica as empresas como firmas que, desde o seu surgimento, buscam obter significativas vantagens competitivas através do uso de recursos e do resultado das vendas em múltiplos países (OVIATT; MCDOUGALL, 1994). Já a perspectiva de born globals conceitualiza tais empresas como pequenas, advindas (geralmente) do setor de tecnologia e que operam em mercados internacionais desde os primeiros dias de seu estabelecimento (KNIGHT; CAVUSGIL, 1996).

A maior diferença entre a as duas perspectivas pode residir no papel atribuído ao empreendedor, que nos estudos sobre Empreendedorismo Internacional é o foco de atenção

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dos autores, enquanto nos trabalhos sobre born globals sua importância é menos salientada. Nesse sentido, as born globals podem ser compreendidas como um subconjunto dentro do campo de estudos de empreendedorismo internacional, visto que este considera o processo de internacionalização de pequenos empreendimentos, ocorrendo ou não nos primeiros anos de sua criação (MELLO; ROCHA; MACULAN, 2009).

2.5 O CONCEITO DE DISTÂNCIA PSÍQUICA

O termo distância psíquica foi usado inicialmente por Beckerman (1956) que sugeria a existência de um fator comportamental associado ao modo como se mantinham e estabeleciam os relacionamentos entre compradores e fornecedores. Segundo ele, além de critérios objetivos como distância geográfica e modais de transporte utilizados, os compradores executariam uma avaliação psíquica da distância entre seus fornecedores, considerando as limitações de entendimento e de idioma.

Linnemann (1966) acrescentou que esse conceito incluiria ainda as percepções de risco, as imperfeições nas informações e as barreiras culturais. Posteriormente, Sousa e Bradley (2005) definiriam a distância psíquica como “a percepção individual das diferenças entre o país de origem e o país estrangeiro”.

De forma geral, foi a partir das pesquisas da Escola de Uppsala sobre a internacionalização de empresas suecas que o termo distância psíquica tornou-se difundido na literatura. Ao propor um modelo comportamental para explicar esse movimento das empresas rumo ao exterior, os pesquisadores utilizaram o conceito como um dos principais fatores para a explicação do fenômeno (FIGUEIREDO; ROCHA; SILVA, 2009).

Entre as definições elaboradas pelos teóricos da Escola está a ideia de Johanson e Wiedersheim-Paul (1975), que consideravam distância psíquica como “a soma de fatores que impedem ou perturbam o fluxo de informações entre a empresa e os mercados”. Para Hallén e Wiedersheim-Paul (1993), isso poderia ocorrer nos níveis nacional (afinidade cultural), organizacional (com o estabelecimento da confiança) e individual (a partir da experiência individual).

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Outra contribuição foi trazida por Nördstrom e Vahlne (1994) que acrescentaram a aprendizagem com um aspecto central da distância psíquica que, para eles, era formada por “fatores que impedem ou perturbam o aprendizado das empresas e o entendimento do ambiente externo”.

A essas definições foi adicionada a dimensão “distância de negócios” por O’Grady e Lane (1996), que definiram o conceito como o nível de incerteza da organização sobre o mercado externo, oriunda das diferenças culturais e outras dificuldades de negócios que se transformam em barreiras para o entendimento do mercado e sua operação.

Segundo Evans, Treadgold e Mavondo (2000), tal incerteza seria fruto de percepções individuais, isto é, um processo mental de compreensão das diferenças de cultura e de negócios. A distância psíquica seria, portanto, “a distância entre o mercado de origem e o mercado externo resultante da percepção dessas diferenças culturais e de negócios” (EVANS; TREADGOLD; MAVONDO, 2000).

Nesse sentido, o conceito de distância cultural aproxima-se da distância psíquica, sendo vistos eventualmente como parcialmente distintos e parcialmente intercambiáveis (FIGUEIREDO; ROCHA; SILVA, 2009). Para Nördstrom e Vahlne (1994), a distância cultural estaria incluída na ideia de distância psíquica que, para O’Grady e Lane (1996), incluiria ainda outros fatores de negócios tais como estrutura industrial e ambiente competitivo. Para Dow e Karunaratna (2006), a distância cultural seria apenas uma dimensão relativa à distância psíquica.

Evans, Treadgold e Mavondo (2000) acrescentam ainda que as diferenças entre os países de origem e destino incluem idioma, organização política, práticas comerciais, sistema legal e infraestrutura de mercado, numa tentativa de chegar a uma definição mais ampla de distância psíquica.

Para sintetizar as diferentes visões da literatura de negócios internacionais sobre distância psíquica, Figueiredo (2009) propôs um modelo conceitual com diferentes dimensões para o construto distância psíquica, ilustrado pela Figura 2.

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Figura 2 Dimensões do Construto Distância Psíquica

Adaptado de Figueiredo (2009)

Para Zhu e Yang (2008), a composição da distância psíquica em dimensões como essas a torna uma variável para medir o grau de similaridade entre diversos países. Esse nível de semelhança e dessemelhança entre os mercados é justamente o que define a distância psíquica segundo Stöttinger & Schlegelmilch (1998) e influencia a atratividade de cada país como destino das exportações.

O pressuposto dessa ideia é que os exportadores são menos inclinados a iniciar ou manter relações comerciais com países percebidos como pouco similares (ou seja, distantes psiquicamente), enquanto o sentimento de maior proximidade cultural pode encorajá-los a empreender em determinados mercados (STÖTTINGER; SCHLEGELMILCH, 1998).

Essa influência da distância psíquica nas decisões sobre internacionalização pode ser alterada com o tempo, conforme a empresa ganhe experiência internacional. Como um importante componente da distância psicológica é baseado no conhecimento oriundo do aprendizado, quanto mais experiência a firma obtiver sobre determinado mercado, menor será a influência da distância psíquica (JOHANSON; VAHLNE, 1990).

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2.6 MENSURAÇÃO DA DISTÂNCIA PSÍQUICA

Apesar do crescente aumento de popularidade do conceito de distância psíquica nas últimas décadas, poucos esforços mostraram-se significativos na tentativa de mensurá-la (DOW, 2000). Um dos pontos centrais sobre a criação de meios para medir essa distância refere-se ao debate sobre a utilização de critérios subjetivos ou objetivos de aferição. A seguir são apresentados os principais argumentos dessa discussão.

Medidas objetivas x subjetivas

Estudos iniciais na área de comércio internacional, como o de Linnerman (1966), usaram a distância geográfica como proxy para a distância psíquica, enquanto Vahlne e Wiedersheim-Paul (1977) operacionalizaram o conceito através de indicadores de estatísticas oficiais e dados a respeito de empresas exportadoras suecas.

Stöttinger e Schlegelmilch (1998) propuseram um modelo de mapeamento cognitivo para medir a distância psíquica a partir do ponto de vista dos principais tomadores de decisão envolvidos no processo já que, segundo eles, não seria adequado aferir a distância psíquica a partir de medidas objetivas. Na sua visão, o conceito expressaria a distância individualmente percebida pelo sujeito entre os mercados de origem e destino.

Para Dow e Karunaratna (2006), a conclusão é de que a maneira ideal de mensurar a distância psíquica seria através das percepções individuais dos tomadores de decisão no momento em que ela acontece.

Entretanto, essa abordagem apresenta limitações, pois raramente é possível avaliar tais percepções no momento imediatamente anterior à tomada de decisão, já que isso restringiria a pesquisa a uma série complexa de estudos longitudinais. Como resultado, o uso de mapas cognitivos torna-se basicamente uma ferramenta para medir as percepções ex-post facto, isto é, após a decisão ter sido tomada. Isso gera um problema para identificação se as percepções influenciaram a decisão ou se a experiência após a decisão influenciaram as novas percepções Dichtl et al (1984).

Uma solução proposta por Dow e Karunaratna (2006) para esse problema é a separação do conceito de distância psíquica em dois construtos distintos: estímulos da

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distância psíquica, que são fatores em nível macro, como idioma, cultura e religião, conforme identificados por Evans et al (2000); e distância psíquica percebida, que é a percepção do tomador de decisão como uma função desses estímulos, moderada pela sua sensibilidade, experiências, nível educacional e personalidade, que influenciam suas escolhas sobre destinos de internacionalização.

Uma grande vantagem em mudar o objeto de mensuração das percepções em si para os fatores que direcionam tais percepções é que eles são mais estáveis, acessíveis e fáceis de medir, diminuindo a subjetividade e tornando a pesquisa mais valiosa para gestores e formuladores de políticas públicas (DOW; KARUNARATNA, 2006).

Nível nacional x individual de distância psíquica

Outra importante questão sobre a mensuração da distância psíquica é o nível de avaliação do fenômeno. Para Hallén e Wiedersheim-Paul (1993), existem diferentes níveis de abordagem e ela pode ser medida partindo-se de uma perspectiva individual, organizacional ou nacional.

Entre os autores que suportam a mensuração da distância psíquica como um fenômeno individual estão Fletcher e Bohn (1998), que destacam que o conceito está relacionado à forma como o indivíduo vê o mundo. Nesse sentido, é um processo subjetivo e está sujeito a vieses cognitivos e perceptuais.

Segundo Rocha (2004), tais percepções podem variar entre indivíduos de acordo com características específicas, como viagens ao exterior, bagagem cultural e outros fatores. Além disso, em função de filtros culturais e estereótipos compartilhados, pessoas pertencentes a mesma cultura provavelmente apresentariam percepções semelhantes de proximidade ou distanciamento cultural em relação a outros países, tornando a distância psíquica um fenômeno também coletivo (ROCHA, 2004).

Já outros pesquisadores sugerem que o mais adequado seria a utilização de uma medida nacional para distância psíquica, mais abrangente, supondo homogeneidade cultural dentro de um país ou região geográfica (KOGUT; SINGH, 1988). Para O’Grady e Lane (1996), tal suposição não seria consistente, visto que uma ampla gama de países é composta por grupos étnicos diversos, com valores culturais diferentes. Dessa forma, não seria possível

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