COM CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Profª Ms. Evanir de Oliveira Pinheiro evanirpinheiro.arte@hotmail.com
BACOR/PPGEd /UFRN
Relato de uma experiência do Projeto Ecopedagógico, com crianças do Ensino Fundamental de Natal/RN. As ações receberam as contribuições dos estudos da BACOR/ PPGEd/UFRN, se fundamentaram no Pensamento Ecossistêmico indicado por Morin e Moraes, na Autopoiese de Maturana e Varela, na Ecopedagogia de Gadotti e nos 4 Pilares da Educação de Delors. O objetivo geral foi favorecer o sentipensar autônomo e criativo das crianças a respeito responsabilidade e cooperação no cuidado e preservação dos bens naturais e culturais de sua comunidade. As atividades com as crianças afetaram o sentimento de co-responsáveis pela biodiversidade e despertaram suas potencialidades criadoras. Os resultados indicam a auto-organização identitária das crianças, um saber-ser cooperativo e solidário, no cuidar de si e do meio circundante.
O presente trabalho trata de uma experiência do Projeto Ecopedagógico: Para que a vida nos dê flor e fruto, desenvolvido no ano de 2005, na Escola Municipal Emília Ramos (EMPER), Instituição da Rede de Ensino Fundamental de Natal/RN. O mesmo é um recorte desse grande projeto transdisciplinar que envolveu 360 crianças do primeiro ciclo do Ensino Fundamental no período de fevereiro de 2004 a dezembro de 2005. Nesse relato daremos ênfase a uma experiência com 32 crianças de 8 a 9 anos, na qual focalizamos especialmente o Saber IV – Ensinar a identidade terrena, pois o consideramos chave nas ações educacionais do Projeto em questão.
O trabalho tem o pensamento ecossistêmico de Edgar Morin e indicado por Cândida Moraes, como base das ações educativas, no qual concebe a criança como parte integrante e co-responsável da biodiversidade circundante e sua aprendizagem como um processo encarnado (MATURANA & VARELA, 2001, 1997) ao longo de sua vida nesse contexto. Elegemos o conceito de Ecopedagogia de Gadotti (2010), que transcende do sentido ecológico, emerge da premissa de que a qualidade de vida está interligada com o saber viver e conviver nas relações que mantemos conosco, com os outros e a natureza.
O projeto surgiu de nossa preocupação com o desconhecimento das crianças a respeito do seu lugar e a crescente insensibilidade aos problemas ambientais e sócio-culturais existentes no mesmo. Moraes (2003) argumenta a necessidade de educar para a vida, para o aprender/conviver como sujeito co-construtor do seu meio.
A Escola Municipal Emília Ramos faz parte do perímetro urbano de Natal, foi fundada em 1988 por iniciativa da própria comunidade. Localiza-se na região oeste da capital, Cidade Nova, Bairro da periferia, cercado por dunas e vegetação bastante devastada pela invasão crescente de favelas; apresenta altos índices de pobreza e violência.
Como professora de Artes da escola em 2004 e Mestranda do PPGEd da UFRN, estávamos desenvolvendo nossa pesquisa voltada para o ensino-aprendizagem das linguagens imagéticas das crianças da EMPER, dentro de uma abordagem transdisciplinar que articulava cultura, meio ambiente e história do bairro. Quando pesquisamos as linhas e formas das casas e da vegetação local, percebemos nas atitudes da maioria, um analfabetismo em relação a identidade de co-autoras responsáveis do meio em que vivem.
Na época tivemos acesso aos estudos da BACOR sobre Fundamentos da Motricidade Humana, que nos fomentaram reflexões importantes sobre nossa inscrição
corporal com a terra e seus elementos e compreender melhor o processo de autoconsciência de pertencimento a terra abordada por Morin (2000, p. 76), como primeira e última pátria, vital para a educação das crianças, tendo em vista que “Somos produto do desenvolvimento da vida da qual a Terra foi matriz e nutriz”.
Decidimos desenvolver um Projeto Ecopedagógico, tendo como objetivo geral: favorecer o sentipensar autônomo e criativo das crianças a respeito de sua responsabilidade e cooperação no cuidado e preservação dos bens naturais e culturais, especialmente da comunidade em que vivem, por meio de diversas ações e linguagens.
Os objetivos específicos foram os seguintes:
1.Ampliar o autoconhecimento de si como co-responsável de seu meio;
2.Desenvolver sua auto-organização conceitual e atitudinal, refletindo o viver/conviver como cidadão participante e agente de transformação social de sua comunidade;
3.Promover a autofruição estética do sentimento de pertencimento com a natureza, por meio de diversas linguagens artísticas.
Em conjunto com os professores, organizamos os conteúdos curriculares de forma entrelaçada com o foco principal: a ecoformação das crianças e sua identidade planetária. Assim, articulamos com o 4 pilares (DELOR, 2005) os seguintes conteúdos:
1.Autoconsciência de sua responsabilidade nos estilos de vida auto-sustentáveis como integrante da biodiversidade circundante;
2.Autofruição estética e artística de sua consciência ecológica com a natureza, por meio de diversas linguagens plásticas;
3.Auto-organização conceitual de sua cidadania, como agente de transformação social no viver/conviver cooperativo em prol de sua comunidade.
Por se tratar de crianças muito novas e cheias de energia e curiosidades, buscamos criar estratégias que provocassem desafios, desejos e descobertas. As mais importantes foram:
Planejamentos em conjunto, utilizando o gravador para registros das idéias e combinados das funções e responsabilidades de cada uma ao longo dos trabalhos;
Diversas ecovivências nos morros e canteiros do bairro, como espaço de brincar e de pesquisar as belezas naturais e as marcas das ações do homem;
Produções artísticas ao ar livre, instigando as crianças a observar e criar imagens das paisagens na areia em papéis cartões e fotografias daquilo que mais a tocaram na exploração ambiental;
Entrevistas com moradores antigos para obter mais dados sobre os modos de vidas das pessoas da comunidade e suas implicações na degradação da paisagem local.
Ampliação das informações, por meio de leituras em jornais, documentos e vídeos sobre o bairro;
Apreciação de uma palestra com a Dra. Inácia do Posto de Saúde do bairro, sobre as relações entre inundações e a devastação das dunas e das árvores do bairro;
Adesão da turma ao projeto de rearborização da Dra. Inácia com ações de distribuindo de mudas no bairro.
Exposição artística e cultural para a comunidade das produções coletivas e individuais.
As ações das crianças nas apresentações de suas produções manifestaram auto-satisfação plena, orgulho em compartilhar saberes em forma de arte. Estados de autofruição estética, que Schiller (2009) enfatiza essenciais á vida humana na sua liberdade criativa de transformar em arte e beleza a vida e o mundo circundante.
Outras competências que mais percebemos: autoconhecimento da história local e onde situa sua participação no presente, sentimento de empatia pela comunidade, um ardente interesse de pertencimento e co-participação em sua organização. Maturana e Varela (2001) nos permitem entender que esses processos autopoiéticos das crianças manifestaram a inteireza humana singular de cada uma, na busca do saber-conviver e no saber-conhecer em sintonia solidária com o outro.
Essas manifestações das crianças também indicam a autogerência na construção dos novos conhecimentos e nas dificuldades de adaptalidade de novos conceitos e no empenho da utilização destes. Autoconsciência move o ser, se revela no saber-fazer e como enfatiza Delors (2005), proporciona uma relação dialógica do aluno com o conhecimento, o envolve num processo auto-aprendizagem que o conduz a assumir compromissos com uma nova prática de vida social. Isto é, uma co-responsabilidade no seu processo de aprendizagem
.
Avaliamos continuamente o projeto, buscando atender as prioridades principais das crianças em relação as suas dúvidas e interesses sobre sua comunidade, observando florescer o desejo de irem mais além de seus conceitos e atitudes, dentro dos objetivos
traçados. Percebemos pouco a pouco, amadurecimento de suas colocações nas rodas de conversas, posicionando com autonomia comentários e idéias para lidar com os problemas ambientais estudados.
Quanto as nossas considerações sobre os Sete Saberes apontados por Morin (2000) e suas relações com o projeto apresentado, destacamos alguns dos macroconceitos que Moraes (2008) enfatiza como implícitos no pensamento ecossistêmico. São eles: auto-eco-organização, complexidade, autonomia e emergência.
A auto-eco-organização traduz o autorrefazimento de cada criança nas suas ações e produções revelam seus processos mentais e emocionais, suas relações no contexto em que vive, a singularidade auto-organizadora como ser co-construtor do meio. Os modos como aprendem, emergem desses processos reflexivos internos, na dinâmica dos seus entrelaçamentos com o meio. Suas ações e conceitos manifestam sua corporeidade, seus saberes encarnados, dentro das possibilidades e limites de sua estrutura auto-organizadora (MORAES, 2003).
Esse processo auto-eco-organizador da criança está atrelado ao mundo exterior, o que consiste numa auto-eco-organização, considerando para isso, os princípios de ordem, desordem e organização constante. O papel da educação nesse contexto? A nosso ver, se funda no pensamento ecológico que traduz a ligação vital de todos os sistemas vivos, ao seu ambiente com a conscientização da entre a comunidade humana e o cosmo (MORIN, 2001).
Cavalcanti (2004, p.1) indica que o sentido da educação é o sentido da vida e destaca a pertinência de uma Pedagogia que deseja verdadeiramente o bem-viver e que se empenhe [...] “na busca do sentido para sua vida e para a educação, procurando assim pedagogizar a vida para dar mais vida à educação”. Essa atitude educativa pode nos faz perceber o que Morin (2001) acentua a necessidade de assumir que vivemos numa era planetária em agonia, na qual somos responsáveis pela transformação da Terra-Pátria.
Investir numa eco-formação é um projeto valioso para atender a natureza complexa da condição humana, para além da ética e da cidadania ambiental. Implica educar para a formação da identidade e a consciência terrena. Uma Ecopedagogia de fato, requer a ação de educar as crianças para a compreensão e para esperança da solidariedade e do amor. Acreditamos que a educação ecopedagógica firmada a partir desses princípios, pode promover a auto-eco-organização incessante dos alunos, em prol de um aprender/conviver para a vida e para a paz.
Referências:
CAVALCANTI, Katia Brandão.Corporeidade e a ética do sentido da vida na
educação: para florescer as sementes da pedagogia vivencial. Revista “Nova Atenas”
de educação tecnológica. Revista eletrônica do departamento acadêmico de ciências da saúde - educação física e esportes – biologia - segurança do trabalho. Volume 07, Número 02, jul/dez/2004. (Disponibilizado em dezembro de 2006).
DELORS, Jacques (Coord.). Os quatro pilares da educação. In: Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortezo, 2005.
GADOTTI, Moacir. A Ecopedagogia como pedagogia apropriada ao processo da Carta da Terra..http://www.ufmt.br/revista/arquivo/rev21/moacir_gadotti.htm Acesso em junho de 25 de 2010.
MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento. As bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001.
_____. De máquinas a seres vivos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997
MORAES. Maria Cândida Educar na biologia do amor e da solidariedade Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2003.
MORAES. Maria Cândida. Ecologia dos saberes: complexidade, transdisciplinaridade e educação. Novos fundamentos para iluminar novas praticas educacionais. São Paulo: amatakarana/WHH – Willis Harman House, 2008.
MORIN, Edgar. KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria. 2. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à Educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva; Jeanne Sawaya. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
____. O método 5: a humanidade da humanidade. Tradução Juremir Machado da Silva. 4ª edição, Porto Alegre: Sulina, 2007.
SCHILLER, Friedrich. A educação estética do homem: numa série de cartas. São Paulo: Iluminuras, 1990.
ANEXOS
ECOVIVÊNCIAS NOS MORROS REGISTROS DAS OBSERVAÇÕES
DESENHOS NAS AREIAS PAINEL:
AS DUNAS PRECISAM DE NÓS
PARA QUE A VIDA NOS DÊ FLOR E FRUTOS: UMA EXPERIÊNCIA DE ECOPEDAGOGIA COM CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Profª Ms. Evanir de Oliveira Pinheiro evanirpinheiro.arte@hotmail.com
BACOR/PPGEd /UFRN
INTRODUÇÃO
Relato de uma experiência do Projeto Ecopedagógico, com crianças do Ensino Fundamental de Natal/RN. As ações receberam as contribuições dos estudos da BACOR/ PPGEd/UFRN, se fundamentaram no Pensamento Ecossistêmico indicado por Morin e Moraes, na Autopoiese de Maturana e Varela, na Ecopedagogia de Gadotti e nos 4 Pilares da Educação de Delors.
CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA Período: fevereiro de 2004 a dezembro de 2005
Local: Escola Municipal Emília Ramos (EMPER) - Natal/RN, fundada em 1988, localizada região oeste da capital – região periférica, cercada por dunas e vegetação devastada por crescente invasão de favelas, com altos índices de pobreza e violência.
Público Alvo: 32 crianças de 8 a 9 anos (Fig.1)
Saber: focalizamos especialmente o Saber IV – Ensinar a identidade terrena, pois o consideramos chave nas ações
educacionais do Projeto em questão.
Objetivo geral: Favorecer o sentipensar autônomo e criativo das
crianças a respeito de sua responsabilidade e cooperação no cuidado e preservação dos bens naturais e culturais, especialmente da comunidade em que vivem, por meio de diversas ações e linguagens.
Objetivos específicos: - Ampliar o autoconhecimento de si como
co-responsável de seu meio; - Desenvolver sua auto-organização conceitual e atitudinal, refletindo o viver/conviver como cidadão participante e agente de transformação social de sua comunidade; - Promover a autofruição estética do sentimento de pertencimento com a natureza, por meio de diversas linguagens artísticas.
ESTRATÉGIAS UTILIZADAS
- Planejamentos em conjunto;
- Ecovivências nos morros e cants do bairro; - Produções artísticas ao ar livre (Fig. 3)
- Entrevistas com moradores antigos; - Ampliação das informações, por meio de leituras em jornais, documentos e vídeos sobre o bairro;
- Apreciação de uma palestra com a Dra. Inácia do Posto de Saúde do bairro;
- Adesão da turma ao projeto de rearborização da Dra. Inácia;
- Exposição artística e cultural para a comunidade
AVALIAÇÃO
Avaliamos continuamente o projeto, buscando atender as prioridades principais das crianças em relação as suas dúvidas e interesses sobre sua comunidade, observando florescer o desejo de irem mais além de seus conceitos e atitudes, dentro dos objetivos traçados. Percebemos pouco a pouco, amadurecimento de suas colocações nas rodas de conversas, posicionando com autonomia comentários e idéias para lidar com os problemas ambientais estudados.
CONSIDERAÇÕES SOBRE OS SETE SABERES - auto-eco-organização,
- complexidade,
- autonomia e emergência.
CONTEÚDOS CURRICULARES
Autoconsciência de sua responsabilidade nos estilos de vida auto-sustentáveis como integrante da biodiversidade circundante;
Autofruição estética e artística de sua consciência ecológica com a natureza, por meio de diversas linguagens plásticas (Fig.2);
Fig. 2 - Desenhos nas areias
Auto-organização de sua cidadania, como agente de transformação social no viver/conviver cooperativo em prol de sua comunidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTI, Katia Brandão.Corporeidade e a ética do sentido
da vida na educação: para florescer as sementes da pedagogia
vivencial. Revista “Nova Atenas” de educação tecnológica. Revista eletrônica do departamento acadêmico de ciências da saúde - educação física e esportes – biologia - segurança do trabalho. Volume 07, Número 02, jul/dez/2004. (Disponibilizado em dezembro de 2006).
DELORS, Jacques (Coord.). Os quatro pilares da educação. In:
Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortezo, 2005.
GADOTTI, Moacir. A Ecopedagogia como pedagogia apropriada ao
processo da Carta da Terra
.http://www.ufmt.br/revista/arquivo/rev21/moacir_gadotti.htm Acesso em junho de 25 de 2010.
MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco. A árvore do
conhecimento. As bases biológicas da compreensão humana. São
Paulo: Palas Athena, 2001.
_____. De máquinas a seres vivos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997
MORAES. Maria Cândida Educar na biologia do amor e da