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PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS NO ENSINO/APRENDIZAGEM DA PSICANÁLISE FRIDA HOIRISCH

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Academic year: 2021

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Fepal - XXIV Congreso Latinoamericano de Psicoanálisis - Montevideo, Uruguay “Permanencias y cambios en la experiencia psicoanalítica" – Setiembre 2002

PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS NO ENSINO/APRENDIZAGEM DA PSICANÁLISE

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PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS NO ENSINO/APRENDIZAGEM DA PSICANÁLISE

FRIDA HOIRISCH “The American Psychoanalytic Association in the last decade has undergone the most extensive organizational changes in its history”

Marvin Margolis, winter 2001, vol. 49/1, JAPA

E nós, como vamos?

Comparar dois modelos de hospitais, um da Era Medieval, quando foram criados nos moldes semelhantes aos atuais e outro de nossos dias, o contraste seria imenso. Já escolas existiram desde sempre, mas se fizéssemos o mesmo entre uma da Antigüidade, das que usavam o método socrático, poderíamos concluir que hoje regredimos.

É que o ensino pouco aproveitou dos avanços da ciência, tecnologia, experimentação e pesquisa, como ocorreu com a medicina – para ao menos, devolver a dúvida aos alunos, para que a repensasse ao invés de receberem a resposta pronta.

Relacionando especificamente com a Psicanálise lemos um Pichon-Rivière que o correto seria utilizar o processo dialético com troca recíproca, quando tratamos de ensino-aprendizagem. Com o que concorda Imre Szecsödy e completa: o resultado é vantajoso para aumentar o conhecimento de parte a parte, além de promover formação profissional. Enid Balint vai além “ o modo como cumprimos tal função terá conseqüências profundas, não somente no futuro de nossa profissão e de nossa ciência, como no destino da Humanidade”.

Procuro neste trabalho dar mais ênfase a este tema, deixando pressupostos metodológicas, conceitos e modelo teórico para outros trabalhos. Sabemos que a formação psicanalítica se dá por meio do Analista Didata, do Supervisor de casos clínicos e elaboração de trabalhos científicos.

Das Análises pouco sabemos, visto que ocorrem com total privacidade na relação a dois. Vou ater-me às Supervisões e Seminários para examinar o que mudou e o que não.

Concordo com Grossman e Molina que “ temos vivido em estado de estagnação em termos de atrativo, renovação e qualidade, graças a uma política interna de

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isolamento, pedantismo e anacronismo científico”. Freud trabalhava com o hoje aconselhável métodos socrático: introduzia questões ao expor teoria e técnica, daí ele e os demais chegavam a dúvidas semelhantes. Trata-se de um antigo-moderno. Desde a primeira discussão sobre Formação, no Congresso de Innsbruck há quem considere o ensino da técnica impossível de transmitir, seria algo nato, produto de intuição e empatia, ignorando-se a contribuição que a didática, metodologia e pedagogia possam dar. Trata-se aqui de permanência.

Já no início do século passado, Freud nas reuniões das quartas-feiras instituiu o grupo de estudos sistemático, embrião dos Seminários. Hoje preconiza-se nas áreas de conhecimento a educação permanente para aumentar e atualizar temas específicos. Apesar da utilidade, nem todos a praticam. Freud considerava que aprendia-se Psicanálise ao analisar-se, mas não desmerecia o ensino formal, informal e a divulgação. Daí ter proferido aulas, conferências em Universidades de diferentes Países. O objetivo então era divulgar algo pioneiro e desconhecido. Não ocorre o mesmo hoje, apesar de recomendável para também apontar as diferenças entre esta ciência e terapias alternativas e outras, que pretendem contestar a Psicanálise de Freud. Não me refiro a psicanalistas que a enriqueceram, como M. Klein, Winnicott, Bion, Kohut, Hartman.

Outro ponto seria a técnica de ministrar Seminários. O pai da Psicanálise era um brilhante intuitivo, ao expor suas descobertas. E o fazia de modo interessante. Mesmo sem redigi-las previamente estavam prontas para serem publicadas, sem correções. Por outro lado, há quem relate haver docentes que ministram Seminários ditados, expositivos ao invés de pedirem que os textos recomendados cheguem previamente estudados para dirimirem dúvidas no grupo sob a orientação do Docente. Podemos considerar além de estagnação, um retrocesso.

Constatamos que o assunto Educação em Psicanálise é pouco estudado, que critérios de avaliação de desempenho são vagos e injustos e que raros os Institutos promovem treinamento específico para o Docente. Quando tais propostas são aventadas em geral não são aceitas pelo novo que representam ou com o argumento que não se deve usar aqui o modelo universitário. Na verdade, Fédida na revista Percurso conta que há Universidades que adotam aulas-Seminário e nossos Institutos sob o nome de Seminários praticam métodos retrógados de aulas expositivas e até ditadas. Dr. O. Kernberg crê que “ não há recomendações mágicas, pode-se ministrar Seminários nos

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moldes do ensino das Universidades, permitir-se coexistir métodos diferentes ou mesmo alternativos. Investigar, experimentar”. E usar o ensaio e erro até encontrar seu próprio estilo.

Estou convencida que a adoção de técnicas variadas de motivação, teoria e técnica de elaboração de pesquisa científica para elaborar monografias, relatórios de supervisão e fichas bibliográficas, além de noções de didática e pedagogia seriam úteis para o ensino/aprendizagem da Psicanálise. Neste ponto houve quase nenhum avanço.

Vejamos o que há sobre o critério de avaliação de Postulantes a Candidatos para o Instituto. Seria utópico visar conseguir turmas de altíssimo nível para uma futura clínica ou prever quem, no futuro, tornar-se-ia pesquisador ou Docente com talento e vocação. No entanto, o mínimo seria contar com certa padronização nas entrevistas. Aqui há também certa resistência em sua aceitação. Cada entrevistador adota um modelo próprio, às vezes vago e aleatório.

Tenho sempre a preocupação de evitar usar o termo Corpo Docente, visto que ele caberia se as Sociedades contassem com uma equipe que interagisse, reunindo-se, examinando a coerência do Currículo, a conexão do tema anterior com o que lhe coube. O que há, na verdade são Docentes avulsos, não integrados, que mal se comunicam e até se desconhecem. Chegam às vezes ao extremo, como mostra Prado Galvão, de “conviverem em situações carregadas de tensão e conflito até de colorido neurótico, justo entre Analistas, de quem se deveria esperar relações mais saudáveis”. Valeria, neste sentido, mudanças.

Em relação à Candidatos, está estatisticamente provado que cursos noturnos dão baixo aproveitamento – e é neste período que se dão a maioria deles nas Sociedades, com a justificativa de ser o único tempo disponível.

A propósito, na década de 50, Anna Freud dizia que “ os Candidatos tem pouco tempo para ler ou o estritamente necessário para tomar contato com a bibliografia. Assistem cursos e Seminários teóricos e clínicos à noite, embora estejam cansados, pouco receptivos, e nas horas em que com todo o direito deveriam descansar, viver sua vida pessoal, no seio da família ... Docentes ensinam durante seu tempo de sobra, quase sempre contra suas próprias inclinações e azaradamente quase sempre desprovidos de dons pedagógicos”. Itens que mereceriam mais atenção para mudança.

Outro ponto: Entre nós antes da organização do currículo e distribuição dos temas aos Docentes, costuma-se pedir a cada um que eleja, numa lista de 200 (duzentos)

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títulos, os de sua preferência. A expectativa é que cada um seja especialista de um tema específico. Não seria o caso de mudar o critério e esperar que, com tempo, bibliografia, identificação com determinados temas mais a motivação, cada qual pudesse ministrar muitos dos itens listados? E a Docentes menos experientes deveria caber sempre temas mais simples. Ainda: a avaliação por participação oral nos Seminários, do modo como conhecemos necessita ser repensada. Alguns são em número exíguo, em relação ao assunto, há a preocupação em sair-se bem no ensino-aprendizagem, o dever de julgar a qualidade das intervenções, sem equivocar-se, de pessoa nem cometer injustiças, tornar o subjetivo, objetivo. É algo que pede mudanças, até mesmo no critério de avaliar o Docente pelos Candidatos.

Outra situação difícil de se conviver, mas complicada de mudar, é quanto à superposição de papéis. Cito aqui Marie Langer. “ Não é fácil ser ao mesmo tempo estudante, analisando, futuro Analista e futuro membro da Instituição, como também Professor, Analista Didata, Supervisor, membro de algum sub-comitê e membro ativo da Sociedade, como um todo”.

Finalmente, é bom lembrar que o modelo da década de 20 de Eitingon foi considerado por alguns como excessivamente clássico, autoritário, oligárquico. Na de

50, Balint, no 18º Congresso da IPA viu que o “ sistema atual de treinamento não pode

ser considerado como solução definitiva”. Há muito para focalizar no item teoria psicanalítica, o que certamente será feito por outros. Hoje o foco da muito conhecida Psicanálise é que seu uso está sendo deturpado por religiosos, filósofos, pessoas sem formação adequada para exercer tal prática, mas que se promovem de muitas maneiras, enquanto que nós permanecemos isentos e imunes de contato, acreditando que talvez algo mágico ocorra para que retorne a idade de ouro da prática psicanalítica das décadas de 60-70.

Referências

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