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A luta de libertação sul-africana

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Academic year: 2021

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A luta de libertação sul-africana

http://www.aluka.org/action/showMetadata?doi=10.5555/AL.SFF.DOCUMENT.ae000091

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A luta de libertação sul-africana

Author/Creator Saunders, Christopher

Publisher Aluka

Date 2007-02

Resource type Aluka Essays

Language Portuguese

Subject

Coverage (spatial) South Africa Coverage (temporal) 1912-1994

Source Aluka

http://www.aluka.org/action/showMetadata?doi=10.5555/AL.SFF.DOCUMENT.ae000091

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A luta de libertação sul-africana Christopher Saunders

A luta ativa contra o colonialismo e racismo na África do Sul ocorreu num período mais longo do que nos outros países da África Austral. Como a África do Sul é o país mais populoso da região, sua luta também foi uma das mais complexas. O breve panorama geral apresentado aqui inevitavelmente será parcial e superficial, sendo que várias interpretações apresentadas neste artigo podem ser questionadas. Alguns assuntos sobre os quais não aprofundamos neste texto são explicados em maior pormenor nos artigos que apresentam os cinco principais temas. Esperamos que esses ensaios dêem início a um processo de diálogo com este website que aumente nossa compreensão da luta pela libertação da África do Sul.

O South African National Native Congress (Congresso Nacional Nativo Sul-Africano), estabelecido em 1912 e denominado African National Congress

(Congresso Nacional Africano, ANC) em 1923, contava com a participação de uma pequena elite que acreditava na representação dignificada de queixas ao governo. Apenas no início da década de 1950 o ANC tornou-se um movimento de massas após a introdução do apartheid e depois deste movimento já ter dado início a atos de desobediência civil não violenta. Em junho de 1955, a Aliança Congressista, um grupo multirracial do qual o ANC fazia parte, divulgou sua visão de uma futura África do Sul na Freedom Charter (Carta da Liberdade). O regime de apartheid processou os líderes da Aliança Congressista por traição e reivindicou que a Declaração era um documento socialista porém, no final, todos foram absolvidos. Alguns dos membros do ANC não gostaram da Carta, especialmente devido à

cláusula que ditava que a África do Sul pertencia a todos os que nela viviam, brancos e negros, e esse grupo anti-carta rompeu com o ANC em 1959 para constituir o Pan Africanist Congress (Congresso Pan-Africanista, PAC).

A existência dos dois movimentos foi banida após o Massacre de Sharperville ocorrido em março de 1960. Uma década antes, o Communist Party of South Africa (Partido Comunista da África do Sul), de base não racial, havia sido dissolvido devido ao seu banimento para ressurgir na clandestinidade como o South African Communist Party (Partido Comunista Sul-Africano, SACP), de quem o ANC se tornou aliado próximo a partir da década de 1950. Após os eventos do início de 1960, pessoas das organizações banidas e outros grupos políticos decidiram dar início a uma luta armada. O mais importante dos grupos armados, Umkhonto we Sizwe (MK), começou a operar em dezembro de 1961. Após uma campanha de sabotagem, seus líderes foram presos em 1963 e foram levados ao julgamento. O julgamento de Rivônia terminou em 1964, e Nelson Mandela e outros foram julgados culpados e receberam sentenças perpétuas. Enquanto os réus de Rivônia continuavam presos, o ANC e o MK operavam na clandestinidade e no exílio. No final da década de 1960, as tentativas do ANC e PAC de enviar guerrilheiros armados de volta à África do Sul fracassaram uma vez que os guerrilheiros não conseguiram atravessar os países vizinhos que ainda estavam sob dominação colonial..

Várias formas de resistência continuaram a ocorrer dentro do país nas décadas subseqüentes a 1960. No Parlamento, por exemplo, Helen Suzman, a única representante do Progressive Party (Partido Progressista), que falava sem rodeios,

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desafiou as leis do apartheid e procurou defender valores democráticos liberais. A resistência interna mais importante a partir do final da década de 1960 manifestou-se pelas pessoas que apoiavam o Black Consciousness Movement (Movimento de Consciência Negra), fundado por Steve Biko, assassinado pela polícia em setembro de 1977. O Black Consciousness Movement ajudou a dar aos negros sul-africanos uma nova confiança, proporcionando-lhes a crença que poderiam desafiar o sistema de apartheid.

Os dois principais eventos que demonstraram a nova disposição de ânimo foram a Revolta (dos Jovens) de Soweto,(Soweto Uprising) que começou em 16 de junho de 1976 na maior área urbana reservada aos negros do país, situada nos arredores de Joanesburgo, e espalhou-se a vários outros centros, e a Township (or People's) Uprising (Revolta dos bairros negros ou do Povo) de 1984-1986, que contou com a participação de uma resistência mais ampla e ainda mais determinada. Nessa ocasião, o regime de apartheid havia adotado seu caráter mais repressivo, com o tratamento brutal sendo ordem do dia. Depois da Soweto Uprising, milhares se juntaram ao MK no exílio. A maioria dos novos recrutas permaneceram em acampamentos em Angola e em outros locais até a década de 1990. A Township Uprising teve seu início no dia em que entrou em vigor uma nova constituição que permitia a participação de sul-africanos mestiços e indianos no governo central. Algumas das pessoas que participaram do novo sistema agiram dessa forma para modificar o sistema internamente e, assim, viam-se como contribuintes para a libertação, incluindo o Chefe Mangosotho Buthelezi, líder do Inkatha, que se recusava a aceitar a

independência de KwaZulu-Natal, a Bantustan (Bantustão) no qual ele era o Principal Ministro.

Mudanças políticas e militares nos países vizinhos estavam intimamente ligados à luta sul-africana: a independência de Angola e Moçambique em 1975, por exemplo, e a retirada da força militar sul-africana de Angola no início de 1976, aumentaram o ânimo negro na África do Sul e serviram como incentivo à Revolta de Soweto. O ANC no exílio, sob a liderança de Oliver Tambo, teve capacidade de aumentar o apoio e, na década de 1980, era visto cada vez mais no mundo ocidental como o grupo mais provável de assumir o poder no país após o fim do apartheid.

Até o início da década de 1980, vários simpatizantes da consciência negra, com sua ênfase na raça e na rejeição da participação de brancos na luta de libertação, se haviam tornado defensores das idéias contidas na Carta da Liberdade. Em agosto de 1983, foi constituída a United Democratic Front (Frente Democrática Unida,UDF), como o maior movimento interno de massas a surgir após o banimento do ANC e do PAC. Em seguida, a UDF criou laços com o Congress of South African Trade Unions (Congresso de Sindicatos Sul-Africanos), criado em 1985. Mais do que qualquer outro fator, a resistência de massas da década de 1980 foi responsável pela queda do apartheid. Até a maioria dos membros do governo tomaram consciência de que o apartheid não poderia continuar. Tornou-se considerável a pressão internacional de organizações não-governamentais tais como o Anti-Apartheid Movement

(Movimento Anti-Apartheid) na Grã-Bretanha e de alguns governos, e deu-se o início da aplicação de várias formas de sanções. Apesar de nunca ter sido uma forma

provável de derrubar o regime, a luta armada ameaçava tanto a economia quanto a estabilidade política. Em fevereiro de 1990, F.W. de Klerk (que havia sucedido o

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arrogante e autoritário P.W. Botha como Presidente do Estado há cinco meses) anunciou a legalização do ANC, do PCA, e do SACP como um passo essencial para a negociação de um acordo.

O fato de as negociações terem sido possíveis deveu-se em grande parte a

personalidade de Nelson Mandela e ao pragmático F.W. de Klerk. Mandela tinha se involvido em longas discussões com representantes do governo no final da década de 1980, e em 11 de fevereiro de 1990, foi solto após 27 anos de prisão sem mostrar nenhuma mágoa. A guerra em que a África do Sul estava involvida desde 1966 contra a South West African People's Organisation (Organização do Povo do Sudoeste Africano, SWAPO) finalmente teve o seu fim em 1988, em parte devido ao

relaxamento da Guerra Fria. A guerra contra a SWAPO havia tido lugar com maior incidência no sul de Angola, e havia trazido as Forças de Defesa Sul-Africanas em conflito com o exército angolano e as forças militares cubanas ali sediadas. A transição relativamente pacífica da Namíbia à independência a partir de meados de 1989 tornou possível a transição sul-africana.

Enquanto as negociações se davam entre o governo e as forças de libertação no início da década de 1990, surgiu uma nova violência política, muitas vezes causada por pessoas que desejavam pôr fim ao processo de negociação. Ironicamente, esta violência ajudou o avanço do processo de negociação. No final de 1993 uma constituição interina, que pela primeira vez prometia igualdade legal a todos os sul-africanos, foi aprovada pelo Fórum de Negociação Multipartidária e, em seguida, pelo Parlamento. Com base nessa constituição, as primeiras eleições democráticas sul-africanas foram realizadas em 27 de abril de 1994, organizadas por uma comissão eleitoral independente. Nas eleições, o ANC (que havia absorvido a UDF em 1991) recebeu 62% dos votos. Duas semanas após a eleição, Mandela assumiu o poder como o primeiro presidente democrático do país. A seguir, Mandela liderou um governo de união nacional, parte do compromisso assumido durante as negociações. As duas assembléias do novo Parlamento formaram uma Assembléia Constitucional para redigir a constituição final, que foi adotada em 1996.

Enquanto alguns liberais viam a Constituição como representando o triunfo dos valores liberais pelos quais haviam lutado por várias décadas, outros viam as cláusulas sócio-econômicas presentes na Carta de Direitos como um potencial para drásticas transformações e para tratar das vastas disparidades econômicas que ainda dividiam o país. Muitos argumentavam que as políticas pró-capitalistas do novo governo não fizeram nada para reduzir essas disparidades. A Comissão da Verdade e Reconciliação, liderada pelo arcebispo Desmond Tutu, investigou uma série de infrações contra os direitos humanos cometidas entre 1960 e 1994, e divulgou o seu grande relatório em 1998. Nessa época, algumas pessoas consideravam terminada a luta de libertação uma vez que havia posto fim ao apartheid e dado lugar a

transferência do poder à maioria negra. Para as pessoas que buscavam grandes transformações sociais, econômicas e políticas, a libertação ainda era um processo contínuo.

Sobre o autor:

Christopher Saunders é professor de História da Universidade da Cidade do Cabo e co-presidente do Comitê Nacional Sul-Africano (DISA/Aluka).

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