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Desenvolvimento e Avaliação de Comprimidos de Captopril de Liberação Prolongada

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PALAVRAS CHAVE: Captopril, Comprimidos, Liberação prolongada. KEY WORDS: Captopril, Tablets, Delayed release.

* Autor a quem a correspondência deverá ser enviada: E-mail: hellen.stulzer@gmail.com Lat. Am. J. Pharm. 26 (2): 259-65 (2007)

Recibido el 14 de octubre de 2006 Aceptado el 25 de diciembre de 2006

Desenvolvimento e Avaliação de Comprimidos

de Captopril de Liberação Prolongada

Hellen Karine STULZER * & Marcos Antonio Segatto SILVA

Laboratório de Controle de Qualidade, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina,

Campus Trindade, 88040-900, Florianópolis, SC, Brasil.

RESUMO. O captopril foi previamente revestido em leito fluidizado com os polímeros etilcelulose, metil-celulose e polivinilpirrolidona. A partir dos grânulos formados foram desenvolvidos comprimidos de libe-ração prolongada e uma formulação de libelibe-ração imediata para compalibe-ração. As distintas formulações se mostraram de acordo com as especificações farmacopeicas. Os ensaios de perfil de dissolução apresenta-ram um tempo de liberação de 4 horas para os comprimidos produzidos a partir dos grânulos revestidos com etilcelulose e de 3,5 horas para os produzidos com os grânulos revestidos com etilcelulose/metilcelulo-se. Dessa maneira, os resultados obtidos apontaram que o revestimento e os polímeros selecionados foram adequados para promover uma liberação prolongada do fármaco, especialmente para as formulações re-vestidas com etilcelulose.

SUMMARY. “Development and Evaluation of Captopril Tablets of Delayed Release”. The captopril was previ-ously coated in fluid bed drier with ethylcellulose, methylcellulose and polivinilpirrolidone polymers. Starting from the produced granules were developed delayed release tablets and one formulation of immediate release in order to compare. The distinct formulations were in accordance with the pharmacopeia specifications. The disso-lution profile of tablets produced with granules coated with ethylcellulose showed a median release time of 4 hours, whereas for tablets produced with granules coated with ethylcellulose/methylcellulose, time was 3.5 hours. In this way, the results indicated that the coated and the polymers selected were adequate to improve a de-layed release of drug, especially for the formulations coated with ethylcellulose.

INTRODUÇÃO

O captopril (D-2-metil-3-mercaptopropanol-L-prolina, Fig. 1), foi o primeiro inibidor da en-zima conversora de angiotensina (ECA) disponí-vel comercialmente, sendo considerado o protó-tipo do grupo ou de primeira geração. Este fár-maco é indicado no tratamento da hipertensão arterial e insuficiência cardíaca congestiva. Na terapia anti-hipertensiva é considerado o medi-camento de escolha devido a eficácia terapêuti-ca e reduzida toxicidade 1-6.

De forma igual a todos os fármacos empre-gados no tratamento da hipertensão arterial, o captopril apresenta vantagens terapêuticas, bem como desvantagens. Assim, a busca por novos fármacos e formulaçoes anti-hipertensivas, que apresentem uma melhor especificidade aliada a

uma diminuição dos efeitos colaterais, é alvo de constantes pesquisas 7.

As formas farmacêuticas de liberação prolon-gada de fármacos com o tempo de meia-vida re-duzido vêm sendo demonstradas extensivamen-te na liextensivamen-teratura farmacêutica, devido aos benefí-cios terapêuticos e farmacológicos em relação às formas farmacêuticas convencionais 8,9.

O fármaco em estudo apresenta uma meia-Figura 1. Estrutura química do captopril.

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vida de eliminação de aproximadamente 2 ho-ras, sendo necessária a sua administração três vezes ao dia. Dessa forma, uma formulação de captopril de liberação prolongada traria muitos benefícios aos pacientes como a diminuição da freqüência de administração, aumento da adesão e eficácia do tratamento, diminuição das flutuações da concentração sanguínea do fárma-co e diminuição dos efeitos fárma-colaterais 10.

O desenvolvimento de uma forma farmacêu-tica de liberação prolongada de captopril tem si-do um tópico de pesquisa estudasi-do por um lon-go período de tempo. Porém, foram encontra-das dificuldades para o seu desenvolvimento pelo fato deste se degradar na presença de água e umidade 4. Estes estudos incluem o uso de

polímeros para revestimento na preparação de cápsulas e comprimidos, algumas formulações diferenciadas como pellets, ciclodextrinas, siste-mas bioadesivos, transdérmicos, bombas osmó-ticas, grânulos e matrizes 10-14.

Estudos preliminares demosntraram que o método de revestimento por leito fluidizado uti-lizando polímeros pode aumentar a estabilidade do captopril. Este método se apresentou apro-priado para o processo de revestimento uma vez que não ocorreu alterações nas caracteristi-cas do fármaco, parâmetros estes observados por técnicas termoanalíticas 15. Dessa forma, o

presente trabalho propõe o desenvolvimento de comprimidos de captopril de liberação prolon-gada a partir de grânulos revestidos em leito fluidizado com polímeros etilcelulose e metilce-lulose, estes atuando como barreira reguladora da velocidade de liberação do fármaco, bem co-mo comprimidos de liberação imediata produzi-dos a partir de grânulos revestiproduzi-dos com polivi-nilpirrolidona solúvel (PVP K30).

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

As matérias primas e reagentes utilizados fo-ram, Captopril proveniente da Shenyang Fine Chemical Co., China, celulose microcristalina

101 e 102, etilcelulose (Ethocel 10STD, Color-con, USA), metilcelulose (15 PR, ColorColor-con, USA), lactose monohidrata, lactose Supertab®, ácido esteárico, dióxido de silício coloidal (Ae-rosil®), polivinilpirrolidone (PVP K30) e etanol 90% (grau analítico).

Desenvolvimento dos grânulos

Os grânulos revestidos de captopril foram produzidos na Colorcon SP, em leito fluidizado marca Narong modelo FBS -1. Onde o polímero ou mistura de polímeros foi previamente diluída em etanol 90 %. Em seguida a solução foi ato-mizada sobre a mistura dos pós formada por quantidades estabelecidas de captopril, lactose monohidratada e celulose microcristalina 101 (Tabela 1). Durante o processo de revestimento foram controlados os parâmetros: temperatura (inlet = 56 °C, produto = 38 °C), volume de ar= 240 m3/h, pressão do atomizador = 2,5 bar e

vazão da bomba peristáltica= 4,5 g/ mL. Ao tér-mino do processo de revestimento os grânulos foram tamisados em tamis malha 20 mesh, para padronização do tamanho.

Desenvolvimento dos comprimidos

Os comprimidos de 50 mg de captopril (Ta-bela 2) foram produzidos a partir dos grânulos revestidos. Os grânulos foram misturados com Aerosil®, ácido esteárico, celulose microcristali-na 102 e lactose Supertab® em mini misturador V marca Lawes durante 15 min. Após a mistura foi efetuada a compressão direta em compresso-ra LAWES modelo 2000 10 PSO, com punção bicôncavo de 7 mm. As três distintas formu-lações de comprimidos produzidas a partir dos grânulos foram denominadas de, formulação A para os comprimidos produzidos a partir de grâ-nulos revestidos com PVP, formulação B para as produzidas com os grânulos revestidos com etil-celulose e formulação C para produzidas a par-tir dos grânulos revestidos com etilcelulose/me-tilcelulose. Durante o processo foi avaliado o peso e a dureza dos comprimidos.

Matéria- prima Formulação A Formulação B Formulação C

Captopril 150 g 150 g 150 g Lactose monohidratada 25 g 25 g 25 g Celulose Microcristalina MC-101 25 g 25 g 25 g Ethocel 10STD – 60 g 50 g Methocel E 15 PR – – 10 g Polivinilpirrolidona(PVP) 2 g – – Álcool 90% 100 mL 540 mL 540 mL

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Avaliação dos comprimidos

Do lote piloto de comprimidos produzidos, foi retirado amostras para a realização dos se-guintes ensaios:

Determinação das dimensões dos comprimidos

A espessura e o diâmetro foram determina-dos em vinte comprimidetermina-dos, escolhidetermina-dos aleatoria-mente, através de medições feitas com um pa-químetro digital marca Digemess.

Determinação do peso médio

Pesaram-se, individual e aleatoriamente, vin-te comprimidos, em balança analítica e devin-termi- determi-nou-se a média dos mesmos 16.

Determinação da dureza

A dureza foi determinada através da resistên-cia ao esmagamento radial, utilizando-se durô-metro Off Tec Galileo. O ensaio foi realizado em seis comprimidos 16.

Determinação da friabilidade

A friabilidade foi determinada empregando-se 20 comprimidos, através do cálculo do per-centual de perda de material por queda e erosão, utilizando-se friabilômetro tipo Ética nu-ma velocidade de vinte rotações por minuto du-rante 5 min 16.

Determinação do teor de princípio ativo

O teor do princípio ativo foi determinado através de cromatografia líquida de alta eficiên-cia (CLAE), conforme descrito na monografia do fármaco 17.

Perfil de dissolução

O perfil de dissolução dos comprimidos foi realizado em dissolutor Nova Ética, utilizando-se aparato II, temperatura de 37 ± 0,5 °C e veloci-dade de agitação de 50 rpm, conforme o preco-nizado na United States Pharmacopea 26. O meio de dissolução foi modificado para tampão

Ingredientes Formulação A (mg) Formulação B (mg) Formulação C (mg)

Grânulos revestidos com PVP 50 – –

Grânulos revestidos com etilcelulose – 74,6 –

Grânulos revestidos com etilcelulose/metilcelulose – – 74,6

Dióxido de silício colloidal 0,7 0,7 0,7

Lactose Supertab® 37,5 22,75 22,75

Celulose microcristalina 102 40 30 30

Ácido esteárico 1,80 1,95 1,95

Tabela 2. Formulações dos comprimidos desenvolvidos.

fosfato de sódio 0,05 N pH 7,0 e o volume utili-zado foi de 900 mL. As alíquotas de 10 mL fo-ram retiradas nos intervalos 1, 3, 5, 10, 15 e 20 min para os comprimidos de liberação imediata e até a liberação de 80% da dose inicial para as formulações de liberação prolongada, para a obtenção dos perfis de dissolução. O mesmo volume retirado das cubas para leitura das ab-sorbâncias foi reposto. A quantidade de capto-pril dissolvida foi determinada através da leitura das absorbâncias em espectrofotômetro na re-gião do UV, em 212 nm e comparada com uma curva de calibração previamente construída, ga-rantindo linearidade de 5 a 60 µg. mL–1 (R2 =

0,9997).

Avaliação morfológica

Para a avaliação morfológica, utilizou-se equipamento de Microscopia Eletrônica de Varredura, modelo XL30 da marca PHILIPS. As amostras foram recobertas com ouro (350 Å) sob vácuo com o auxílio do aparelho Polaron modelo E 5000. As fotomicrografias foram obti-das sob magnificação de 200 x e 400 x.

Análise estatística

Os resultados foram analisados através de ANOVA ou teste “t”, considerando-se o nível de significância de 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Espessura e diâmetro, peso médio, dureza, friabilidade e teor de captopril

Os valores referentes aos ensaios de espes-sura e diâmetro, peso médio, dureza, friabilida-de e teor friabilida-de captopril, realizados para os com-primidos desenvolvidos estão expressos na Ta-bela 3.

A Farmacopéia Brasileira permite uma va-riação de ± 7,5 % no peso dos comprimidos com massa entre 80 e 250 mg. Para a dureza o valor mínimo aceitável quando se usa equipa-mento de mola espiral é 3,0 Kgf. O ensaio de friabilidade permite uma perda de peso inferior

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a 1,5%. A faixa de teor de captopril aceitável é de no mínimo 90% e no máximo 110% do fár-maco. Assim, os valores encontrados para todos os parâmetros analisados estão de acordo com os especificados 16,17.

A resistência ao esmagamento e ruptura dos comprimidos revestidos com etilcelulose e etil/metilcelulose (formulações B e C) foi supe-rior aos comprimidos contendo PVP (formu-lação A). Já em re(formu-lação à friabilidade, que pode ser conceituada como a falta de resistência dos comprimidos à abrasão quando submetidos à ação mecânica de aparelhagem específica, a for-mulação A apresentou valores superiores que as formulações B e C, sendo que estes aspectos podem estar relacionados com a natureza do polímero empregado na fabricação destas for-mulações.

Em relação ao ensaio de teor do fármaco apesar de estar descrito na farmacopéia Ameri-cana o mesmo foi validado uma vez que se trata da avaliação de uma nova formulação, sendo apresentados aqui os parâmetros de especifici-dade e exatidão.

Nos estudos de especificidade de métodos para determinação do teor de fármaco, proce-deu-se analisando a solução padrão USP de captopril (99,99% de pureza) e os excipientes utilizados na produção dos comprimidos isola-damente, ambos dissolvidos em fase móvel (Me-tanol: Água: Ácido fosfórico). Os resultados para

Resultado DP CV (%)

Formulação A

Peso médio (mg) 128,15 2,64 2,06

Resistência ao esmagamento e ruptura (kgf) 3,98 0,257 3,45

Friabilidade (%) 0,38 – – Espessura (mm) 3,4 0,02 0,58 Diâmetro (mm) 7 0 0 Teor de captopril (%) 100 0,72 0,65 Formulação B Peso médio (mg) 127,4 2,2 2,47

Resistência ao esmagamento e ruptura (kgf) 4,81 0,40 3,39

Friabilidade (%) 0,1 – – Espessura (mm) 2,88 0,02 0,69 Diâmetro (mm) 7 0 0 Teor de captopril (%) 100 0,36 0,29 Formulação C Peso médio (mg) 129,3 4,19 4,25

Resistência ao esmagamento e ruptura (kgf) 4,7 0,30 4,57

Friabilidade (%) 0,1 – –

Espessura (mm) 2,99 0,04 1,33

Diâmetro (mm) 7 0

Teor de captopril (%) 100 0,57 0,53

Tabela 3. Dados referentes aos ensaios físicos realizados para as diferentes formulações de comprimidos desen-volvidas, onde: (DP) desvio padrão e (CV) coeficiente de variância.

especificidade em relação à influência dos exci-pientes demonstraram que o método é adequa-do em relação ao parâmetro avaliaadequa-do, pois não ocorreu pico de absorção dos excipientes na fai-xa de luz próximo a 220 nm, comprimento de onda de absorção máxima para o captopril.

A exatidão de um método analítico é a pro-ximidade dos resultados obtidos pelo método com o valor verdadeiro. Este parâmetro foi de-terminado através do ensaio de recuperação, onde diluições apropriadas com diferentes con-centrações do padrão foram adicionadas à for-mulação, verificando-se a recuperação. A con-centração em cada balão ficou compreendida no intervalo de linearidade do método. A por-centagem média para o ensaio de recuperação foi de 100, 87 ± 0,31 %, resultado que traduz a concordância com o valor verdadeiro da amos-tra. Através do teste t de Student pode-se afir-mar que o valor de recuperação encontrado é estatisticamente igual a 100 % para nível de sig-nificância α = 0,05.

Perfil de dissolução

Na indústria farmacêutica, testes de disso-lução são rotineiramente executados para deter-minar a qualidade de um produto em desenvol-vimento e/ou, muito freqüentemente, para libe-rar um lote de determinado produto para o mer-cado. O teste de dissolução baseia-se no princí-pio de que, à medida que um comprimido se

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fragmenta em pequenos pedaços, ocorre o au-mento da área de superfície das partículas, faci-litando a dissolução no meio. Portanto está rela-cionado com a biodisponibilidade do fármaco no organismo 18-20.

De acordo com a monografia de comprimi-dos de captopril de liberação imediata, a quanti-dade de fármaco dissolvido em 20 min não de-ve ser inferior a 80% da dose declarada 17.

Assim, os comprimidos da formulação A estão de acordo com as especificações farmaco-peicas, uma vez que durante os primeiros 5 min houve uma liberação acima de 80% da dose ini-cial (Fig. 2).

Figura 2. Gráfico do perfil de liberação da formu-lação A.

Para o desenvolvimento farmacotécnico de um produto, conhecer apenas o tempo de dis-solução é insuficiente. Nesse sentido, torna-se útil avaliar o perfil de dissolução do fármaco, ferramenta essencial principalmente no planeja-mento de formulações de liberação modificada

18,20.

O perfil de dissolução é obtido determinan-do-se a quantidade de fármaco dissolvido em amostras seriadas do meio de dissolução coleta-das em intervalos previamente estabelecidos. A partir dos dados obtidos, é construída uma cur-va de porcentagem de fármaco dissolvido em função do tempo 23.

Observando os gráficos dos perfis de disso-lução dos comprimidos de liberação prolongada desenvolvidos (Fig. 3), pode-se observar que es-tas formulações promoveram uma liberação di-ferenciada do fármaco. A formulação B apresen-tou uma liberação do fármaco por um período de até 240 min e a formulação C liberou o fár-maco por um período de aproximadamente 180 min.

O estabelecimento do perfil de dissolução permite caracterizar a ordem cinética do proces-so e sua constante de velocidade, além do tem-po necessário para que determinadas tem- porcenta-gens de fármaco se dissolvam. Permite ainda quantificar o tempo para que o fármaco comece a se dissolver e detectar alterações cinéticas du-rante o processo 22. Neste estudo, foram

aplica-dos 3 modelos matemáticos para interpretação da cinética de dissolução das formulações, vi-sando à determinação da ordem do processo, sendo eles: 1) cinética de zero ordem: foram traçados, para cada produto, gráficos de tempo versus quantidade total (Q∞) menos quantidade dissolvida do fármaco (Q), (t x Q∞ - Q), 2) ciné-tica de primeira ordem: foram traçados, para ca-da produto, gráficos de tempo versus log nepe-riano da porcentagem não dissolvida (t x ln %ND) e Modelo de Higuchi: foram traçadas, para cada produto, gráficos da raiz quadrada do tem-po versus tem-porcentagem dissolvida (√t x %D) 22.

O modelo matemático que melhor descreve a cinética de dissolução das formulações, foi se-lecionado após a construção das curvas dos mo-delos citados acima e análise da regressão line-ar, tomando-se apenas os pontos que corres-pondiam à fase ascendente das mesmas.

Uma formulação de liberação prolongada ideal é aquela em que o fármaco é liberado constantemente do início ao fim, seguindo um modelo cinético de ordem zero. Porém, na prá-tica nem sempre se alcança uma cinéprá-tica de li-beração de ordem zero. Muitas vezes as formu-lações de liberação prolongada seguem o mode-lo cinético proposto por Higuchi, que descreve o mecanismo de liberação dos fármacos como um processo de difusão baseado na lei de Fick, estando dependente da raiz quadrada do tem-Figura 3. Gráfico dos perfis de liberação das formu-lações B e C.

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po, já as formulações de liberação imediata na maioria dos casos seguem o modelo de primeira ordem 24-26.

O tratamento matemático das curvas de dis-solução demonstraram que o modelo que me-lhor descreve a cinética de dissolução das for-mulações de liberação prolongada desenvolvi-das foi o de Higuchi e o de primeira ordem pa-ra a formulação de libepa-ração imediata condizen-do com o descrito na literatura. Os coeficientes de correlação obtidos estão representados na Tabela 4.

Formulação Ordem Primeira Higuchi

zero ordem

A 0,9477 0,9999 0,9990

B 0,9216 0,9469 0,9822

C 0,9621 0,9538 0,9840

Tabela 4. valores dos coeficientes de correlação obti-dos para os três modelos matemáticos.

Estes resultados estão diretamente relaciona-dos com a natureza do polímero utilizado, uma vez que as propriedades de dissolução do polí-mero afetam significativamente a liberação de princípios ativos. A etilcelulose apresenta caráter hidrófobo o que implica na difusão do captopril através dos poros dos comprimidos, já a metil-celulose é um polímero com características hi-drofílicas apresentando intumescimento e rela-xação dos monômeros da cadeia polimérica em solução e a polivilnilpirrolidona é um polímero solúvel em meios aquosos 27-30.

Na formulação B que continha somente o polímero etilcelulose ocorreu o processo de di-fusão do captopril através dos poros. Para a for-mulação C que foi produzida com 16,67 % de metilcelulose e 83,34 % de etilcelulose apesar da cinética de liberação ser fundamentalmente de Higuchi, provavelmente também esteja ocorren-do um leve intumescimento da matriz em função da presença da metilcelulose, facilitando a liberação do fármaco, uma vez que o tempo de liberação foi menor em relação à formulação B. A formulação A produzida com os grânulos revestidos com polivinipirrolidona solúvel foi dissolvida imediatamente, como o esperado.

Os métodos de fabricação podem provocar grandes variações no processo de dissolução. Algumas etapas da fabricação de medicamentos, principalmente no caso de formas farmacêuticas sólidas, como o tempo de mistura, tempo de se-cagem, temperatura e a força de compressão,

podem influenciar na dissolução do fármaco a partir de sua forma farmacêutica 19,23. Através

dos resultados obtidos, pode-se confirmar que o processo de revestimento e compressão não fo-ram os responsáveis pela liberação diferenciada do captopril e sim a natureza e a quantidade do polímero empregado, uma vez que todas as for-mulações sofreram os mesmos procedimentos. Apesar da técnica de leito fluidizado se mostrar adequada para o revestimento de pós com a fi-nalidade de se modificar a liberação dos mes-mos, está não é a responsável pela modificação da liberação.

Avaliação morfológica dos comprimidos desenvolvidos

A análise de MEV foi realizada através de imagens produzidas pelos elétrons secundários. A grande vantagem da análise feita pela emissão dos elétrons secundários é que ela fornece uma análise da topografia (morfologia e porosidade) do material.

As fotomicrografias da secção transversal (Fi-gura 4) da formulação B que foi produzida a partir dos grânulos revestidos com etilcelulose sugerem uma maior porosidade em relação às demais formulações A e C. Este fato é de consi-derável importância no que se refere às caracte-rísticas de liberação do fármaco, uma vez que se pode observar que esta formulação apresentou um maior tempo de liberação. A presença des-tes poros permite que o fármaco se difunda da matriz do comprimido, já nas demais formu-lações pode estar ocorrendo o processo de erosão da matriz. Assim, estes resultados vão de acordo com os encontrados para o perfil de dis-solução e modelos cinéticos aplicados nas dife-rentes formulações.

CONCLUSÕES

Existem várias estratégias para delinear uma forma farmacêutica de liberação prolongada. De acordo com os resultados apresentados neste trabalho foi possível confirmar que a metodolo-gia de revestimento por leito fluidizado foi ade-quada para promover uma liberação diferencia-da do captopril, uma vez que houve um aumen-to no tempo de liberação do fármaco. Porém, um fator de extrema significância no delinea-mento de uma formulação de liberação prolon-gada são as características dos polímeros e a quantidade dos mesmos presentes na formu-lação, sendo estes os requisitos essenciais para modificar a liberação de fármacos.

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Agradecimentos. Os autores agradecem o apoio fi-nanceiro do CNPq, bem como a colaboração da Co-lorcon do Brasil, Universidade Federal de Santa Cata-rina e Universidade do Vale do Itajaí.

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